Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Milena Barbosa – Medicina IX Julho (Turma VI - SBC) Bases Celulares e Moleculares II 14/09/2021 Metabolismo da Frutose e da Galactose ↠ A partir dos monossacarídeos da dieta a frutose e galactose são transportados do lúmen do intestino delgado para o enterócito. A frutose é transportada pela GLUT5, e a galactose e glicose passa do lúmen para o enterócito a partir do SGLT1. O transportador que realiza o transporte desses monossacarídeos do enterócito para o sangue a partir do GLUT2. Frutose ↠ A frutose é uma cetohexose, que pode ser obtida de duas maneiras: 1- A partir do dissacarídeo sacarose (que é sua principal fonte) que ao ser hidrolisado/clivado no intestino libera frutose e glicose; 2- De forma livre como um monossacarídeo a partir da ingestão de frutas, mel e no xarope do de milho. • Ela é absorvida pelo GLUT5, presente nas microvilosidades de enterócito, não tendo sua entrada dependente de insulina (diferentemente da glicose em certos tecidos) e ao contrário da glicose ela não promove a secreção de insulina. • A frutose pode ser metabolizada por duas enzimas, pela Hexoquinase (tecido extra-hepático) e pela Frutoquinase (nos hepatócitos). A Hexoquinase adiciona um fosfato ao carbono 6 da frutose transformando-a em Frutose-6-fosfato, já a Frutoquinase adiciona um fosfato ao carbono 1 da frutose transformando-a em Frutose-1-fosfato. Metabolismo da frutose no hepatócito • É onde a maior parte da frutose é metabolizada (pulando 2 pontos de controle da via glicolítica). 1º A frutose será fosforilada pela Frutoquinase, que transfere um fosfato de um ATP (convertendo-o em ADP) para o carbono 1 da frutose, transformando-a em frutose - 1 – fosfato. 2º Logo em seguida a frutose – 1 – fosfato será convertida pela Aldolase B em Di- hidroxiacetona fosfato e Gliceraldeído. 3º O Gliceraldeído será convertido em Gliceraldeido- 3 – fosfato a partir da fosforilação que é feita pela enzima Gliceraldeido quinase (que pega o fosforo de um ATP o transformando em ADP). Frutose vs. hipertriacilglicerolemia A frutose entra no metabolismo diretamente como Di- hidroxiacetona fosfato e o Gliceraldeido- 3 – fosfato, o que faz com que ela entre depois de 2 pontos de controle da via glicolítica (que são feitos por enzimas marcapasso irreversíveis) sendo esses pontos a Glicoquinase e a Fosfofrutoquinase PFK (principal marcapasso). Logo, o excesso de frutose pode ser prejudicial, pois o fluxo desses carboidratos será muito mais intenso gerando precursores de lipogêneses, como o Gliceraldeido - 3 – fosfato que pode ser direcionado para síntese de Glicerol que é precursor de triacilglicerol e gerando esse triacilglicerol, será produzido mais VLDL para fazer seu transporte pela corrente sanguínea e consequentemente mais LDL, gerando assim a hipertriacilglicerolemia. O consumo excessivo de frutose terá relação direto com casos de esteatose hepática não alcoólica. Metabolismo da frutose em tecido extra-hepático • Fora do tecido hepático o metabolismo da frutose se dá pela enzima Hexoquinase. • O Km da Hexoquinase pela glicose é muito alto, ou seja, tem menor afinidade por ela, sendo assim essa não é a principal via de metabolização da frutose. 1º A Hexoquinase fosforiza a frutose retirando o fósforo de um ATP (convertendo-o em ADP) e o adicionando ao carbono 6 da frutose, transformando- a em Frutose-6-fosfato. Entrando assim na via glicolítica como Frutose-6-fosfato sendo convertida em frutose-1,6-fosfato e procede a via glicolítica. Sendo assim, ao contrário do metabolismo da frutose no tecido hepático, ela ainda é regulada pela enzima marcapasso Fosfrutoquinase (PFK). Erros inatos do metabolismo da frutose Frutosúria Essencial • É a ausência/deficiência da Frutoquinase, o que fará com que a frutose não seja metabolizada no tecido hepático gerando um acúmulo da frutose na circulação; • É uma doença autossômica recessiva (1 em 130.000 nascimentos); • Metabolismo de frutose fica restrito aos tecidos extra-hepáticos; • Condição benigna, pois não leva a morte; • Sem sinais e/ou sintomas visíveis; • Frutose acumula na urina. Intolerância hereditária à frutose (“envenenamento por frutose”) • Intolerância hereditária a frutose é causada pela deficiência Aldose; • O portador dessa condição consegue converter frutose em frutose-1-fosfato pela ação da enzima Frutoquinase, porém essa molécula não conseguirá prosseguir na via metabólica, pois eu não consigo transformar a frutose-1-fosfato em Di- hidroxiacetona fosfato e o Gliceraldeido, isso fará com que toda reserva de fosfato da célula acabe aprisionado nessa molécula; • Acontece então o esgotamento das reservas de fosfato da célula, porque os fosfatos ficam presos, ou seja, você gastou todo seu ATP para formar essa molécula e como você não consegue dar prosseguimento o fosfato fica ali, o que resultará na baixa concentração de ATP; • Sem ATP o hepatócito não sobrevive, levando a uma lesão hepática e não conseguimos realizar a neoglicogênese (produção de glicose durante o jejum), levando a um processo de hipoglicemia grave e severa; • A deficiência de aldolase não impede o metabolismo de hepático da glicose, que passará a ser oxidada pela via das pentoses; • Causa: hipoglicemia grave (se dá pelo esgotamento da reserva de ATP) náuseas e vômitos (está relacionado com a questão de hipoglicemia), icterícia, hemorragia, hepatomegalia, disfunção renal, hiperuricemia e acidemia láctica; • Terapia: detecção rápida e remoção imediata da frutose e da sacarose da dieta. Galactose ↠ A Galactose é um carboidrato que tem como sua principal fonte a lactose, porém uma quantidade de galactose pode também ser obtida por degradação lisossomal de carboidratos complexos, como glicoproteínas e glicolipídeos, que são componentes importantes da membrana; • A lactose é em dissacarídeo formado por uma molécula de galactosil-beta-1,4- glicose e é obtida através do leite e dos seus derivados. Ao chegar no intestino delgado, a lactose sofre ação da lactase que hidrolisa a molécula de galactose em Glicose e Galactose; • A entrada da galactose nas células não depende da insulina, assim como na frutose; • A galactose passa do lúmen para o enterócito a partir do SGLT1; • A alfa glicose e a alfa galactose são epímeros, pois são diferentes na posição de apenas uma das hidroxilas da molécula. Metabolismo de Galactose 1º ocorre a conversão da Galactose em Glicose. No tecido hepático a galactose é fosforilada pela enzima Galactoquinase (Galk) que transfere um fosfato do ATP para o carbono 1 da galactose, transformando-a em Galactose-1-fosfato. 2º Galactose-1-fosfato é convertida em UDP- Galactose (UDP: uridina difosfato), pela enzima Galactose-1-fosfato uridil transferase (GALT), a partir de uma UDP-glicose da qual é retirada de uma molécula de UDP e adicionada na molécula de galactose-1-fosfato e o fosfato presente na molécula é retirado e transferido para glicose da qual retiramos o UDP, transformando-a em glicose-1- fosfato. Essa glicose-1-fosfato pode seguir 2 caminhos: ser transformada em glicose-6-fosfato e seguir na via glicolítica ou ela pode ser utilizada para síntese de uma nova UDP-glicose. 3º A UDP-galactose pode ser convertida em UDP- glicose e quem faz essa conversão é a enzima Epimerase (GALE). Resumo ↠ Galactoquinase (GALK) Galactose + ATP -----> Galactose-1-fosfato + ADP ↠ Galactose-1-fosfato uridil transferase (GALT) Galactose-1-fosfato + UDP-glicose <-----> UDP- galactose + Glicose-1-fosfato ↠Epimerase (GALE) UDP- galactose <-----> UDP-glicose Erros inatos do metabolismo da galactose Deficiência de Galactoquinase • É uma doença autossômica recessiva rara; • É causada pela deficiência da enzima Galactoquinase e causa aumento da galactoseno sangue (galactosemia) e na urina (galactosúria), pois não conseguimos converter Galactose em Galactose-1-fosfato, o que resultará na formação de galactitol; • Provoca acúmulo de galactitol se houver galactose na dieta e um nível elevado de galactitol pode causar catarata; • O tratamento para essa doença é a restrição na dieta. Galactosemia clássica • É ocasionada pela deficiência da enzima galactose- 1-fosfato- uridil transferase (GALT), fazendo com que a galactose-1-fosfato não seja convertida em UDP- galactose, gerando acúmulo de galactose-1-fosfato; É uma doença autossômica recessiva (1 em cada 30.000 nascimentos); • Gera baixa concentração de ATP, pois é gasta uma molécula de ATP para formar a galactose-1- fosfato, e essa molécula fica inutilizada, o que ocasionara uma lesão hepática, pois a galactose-1- fosfato inibe a fosfoglicomutase o que gerará uma menor concentração de UDP-glicose; • A diminuição da concentração de UDP-glicose, também diminuirá a concentração de ácido glicurônico, que é necessário para conjugação de bilirrubina, levando a icterícia por conta do excesso de bilirrubina indireta; • Causa galactosemia e galactosúria, vômitos, diarreia e icterícia; • Acúmulo de galactose-1-fosfato e galactitol em nervos, cristalino, fígado e rins causa lesão hepática, retardo mental grave e catarata; • Diagnóstico pré-natal possível por meio de amostras de vilosidades coriônicas. Possibilidade de triagens neonatais (teste do pezinho); • Terapia: diagnóstico rápido e remoção da galactose, e portanto, também da lactose da dieta; • Apesar da utilização de tratamento adequado, há risco de retardos no desenvolvimento e, em mulheres, falência ovariana precoce.
Compartilhar