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Medicina | Larissa Marzagão Ferreira AGUDA CALCULOSA É um processo inflamatório da vesícula geralmente decorrente da obstrução do ducto cístico por um cálculo. Pode ser uma complicação da colelitíase. NEM TODO PACIENTE COM COLELITÍSE IRÁ TER COLECISTITE! Até a faixa etária dos 50 anos, as mulheres são 3 vezes mais acometidas. Depois dessa idade, as taxas entre os sexos praticamente se igualam. Na colelitíase crônica, a implantação persistente do cálculo provoca estase da bile com consequente dano à mucosa vesicular. • Liberação de fosfolipase A2 que converte a lecitina da bile em lisolecitina, a qual é um irritante químico, desenvolvendo uma reação inflamatória na parede vesicular. • Aumento da pressão intraluminal da vesícula; obstrução venosa e linfática; edema; isquemia; ulceração; infecção bacteriana. Esse processo inflamatório pode resultar em perfuração da vesícula, principalmente em seu fundo (local menos perfundido). Tal perfuração pode acarretar coleperitônio, abcesso pericolecístico e/ou extensão do processo inflamatório para uma víscera próxima, formando uma fístula (especialmente no duodeno). Na colecistite crônica, há fibrose da parede, infiltrado inflamatório crônico e seios de Rokitansky Aschoff (que nada mais são do que invaginações do epitélio da mucosa para o interior da camada muscular). Bactérias podem ser encontradas em cerca de 50% dos pacientes, principalmente os bastonetes gram- negativos, enterococo e anaeróbios (E.coli e Klebsiella, por exemplo). A infecção é um evento secundário, mas com graves consequências: empiema (vesícula cheia de pus – sepse/choque séptico), perfuração, abcesso pericolecístico, fístula biloentérica. Dor abdominal de intensidade crescente, que pode se iniciar no epigástrio e termina localizando-se no quadrante superior direito (gradil costal direito). Pode irradiar para região infraescapular. A dor persiste por mais de 6h, diferente da dor biliar na colelitíase crônica. • O paciente muitas vezes, já acostumado com a dor biliar, procura atendimento pela dor não estar passando como costuma fazer ou por ter esperado alguns dias acreditando que ela iria regredir de forma espontânea. Pode haver anorexia, náuseas, vômitos, febre baixa a moderada. Medicina | Larissa Marzagão Ferreira • Vômito não é grave como na pancreatite e na obstrução intestinal. • Febre com calafrios sugere colecistite supurativa ou colangite associada. A região subcostal direita está hipersensível à palpação, com defesa muscular e, ocasionalmente, contratura involuntária local. Sinal de Murphy: pede-se ao paciente que inspire profundamente, e palpa-se a região subcostal direita – se o paciente interromper uma inspiração profunda quando da palpação, o sinal é positivo, sendo fortemente preditivo de colecistite aguda. Em 15% dos pacientes, a vesícula distendida e hipersensível torna-se palpável. Laboratório: 1. 12.000-15.000 leucócitos/mm3 (se leucometria muito alta, suspeitar de perfuração); 2. Aumento discreto de bilirrubina (se mais que 4 mg/dl, suspeitar de coledocolitíase associada); 3. Aumento discreto de FA e AST (TGO); 4. Aumento da amilase sérica, que não necessariamente indica pancreatite aguda. USG: exame de escolha. Apendicite aguda; pancreatite (pode coexistir com a colecistite aguda); úlcera péptica perfurada; pielonefrite, litíase renal, gastrite, abscesso hepático, diverticulite (do ângulo hepático) e hérnia de hiato. Pode ser confundida com hepatite aguda (atentar para o histórico de abuso de álcool, elevação de aminotransferases e de bilirrubina). Medidas de suporte: internação hospitalar; hidratação venosa; analgesia; dieta zero e antibioticoterapia parenteral. Antibioticoterapia: a monoterapia com drogas de amplo espectro, como betalactâmicos + inibidores de betalactamase (ex.: amoxicilina-clavulanato, ampicilina-sulbactam) ou a combinação de uma cefalosporina de 3ª geração (ex.: ceftriaxone) ou uma quinolona (ex.: ciprofloxacina, levofloxacina) com metronidazol. • Por 7 a 10 dias ou suspenso 24h após cirurgia se colecistite aguda não complicada. Tratamento definitivo: colecistectomia. Preferencialmente por via laparoscópica. • Contraindicações: coagulopatia não controlada, cirrose hepática terminal, DPOC grave e ICC com FE < 20%. Pacientes com risco cirúrgico proibitivo podem se beneficiar de uma colecistostomia (punção percutânea guiada por imagem) com possibilidade de colecistectomia tardia. Medicina | Larissa Marzagão Ferreira AGUDA ACALCULOSA Menos comum e mais frequente em homens. Geralmente são pacientes que necessitam de cuidados intensivos, como os politraumatizados graves, grandes queimados, ou em pós-operatório de grande porte. Outros fatores de risco: jejum prolongado com nutrição parenteral e doenças sistêmicas como sarcoidose e lúpus eritematoso sistêmico. Há formação de lama biliar devido à estase biliar promovida pela falta de contração da vesícula (jejum prolongado, inflamação sistêmica). • Esta lama leva à liberação de mediadores inflamatórios ao lesar a mucosa vesicular pela presença de sais biliares em altas concentrações. O processo inflamatório localizado leva à congestão da parede, colonização bacteriana e necrose. • Também há isquemia decorrente de episódios de hipotensão sistêmica. O quadro clínico é semelhante ao descrito para a colecistite aguda calculosa, mas pode ser mascarado pelo estado crítico do paciente, tornando o diagnóstico mais tardio (maior risco de gangrena e perfuração). • Febre e leucocitose em um paciente grave podem ser sinais de colecistite alitiásica • Solicite uma USG em todo quadro febril de paciente crítico que não se justifique por pneumonia, ITU ou infecção associada a cateter. O tratamento é sempre cirúrgico através de colecistectomia em caráter emergencial ou, nos mais instáveis, colecistostomia, não cabendo a possibilidade da opção pela cirurgia tardia, pelo alto índice de gangrena e perfuração encontrado nestes pacientes. Antibioticoterapia de amplo espectro também está indicada.