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REVISÃO PROPEDÊUTICA DE GASTROLOGIA O exame físico, dentro da gastrologia, é fundamental para o diagnóstico. Para isso, seguimos aquele processo semiológico de inspeção, ausculta, percussão e palpação. Inspeção: Na inspeção busca-se por formas, contornos, simetria, cicatrizes, estrias, veias superficiais, circulação colateral, cicatriz umbilical, tumorações, movimentos peristálticos, respiração e pulsações visíveis. É importante diferenciar pelo menos os quatro quadrantes principais: Superior direito e esquerdo, e Inferior direito e esquerdo. A identificação das 9 regiões, entretanto, é mais saliente para uma precisão em relação ao diangóstico. São elas: (1) Epigástrio, (2) Mesogástrio, (3) Hipogástrio, (4) Hipocôndrio direito, (5) Hipocôndrio esquerdo, (6) Flanco direito, (7) Flanco esquerdo, (8) Fossa ilíaca direita e (9) Fossa ilíaca esquerda, conforme pode ser evidenciado na imagem ao lado. É importante analisar o paciente em um lugar calmo, bem iluminado, em decúbito dorsal, com os membros superiores e inferiores estendidos, com o médico se posicionando à direita do paciente. A manobra de valsalva é relevante para aumentar a pressão abdominal e evidenciar uma possível hérnia (paciente pode assoprar ou fazer força de evacuação). Forma do abdome Globoso Obesos e ascite volumosa Em avental Flacidez abdominal Escavado Emagrecimento ou síndrome consuptiva Ventre de batráquio Ascite e obesos Além dessas formas, uma característica marcante na inspeção é a circulação colateral, que se estabelece para aliviar a hipertensão venosa portal. Um impedimento do fluxo sanguíneo ao fígado, como na cirrose, gera um aumento da pressão venosa, acarretando a circulação colateral. Hérnias abdominais, ademais, também podem ser vistas num primeiro momento (imagem ao lado). •Ausculta É fundamental que para a ausculta o ambiente seja tranquilo e sem ruídos. Deve-se permanecer ao menos 2 minutos nesse processo. O aumento do peristaltismo atrapalha na ausculta, por isso deve ser feita antes da percussão e da palpação. O que iremos tentar reconhecer na ausculta são os ruídos hidroaéreos (5 a 35 “sons de água” por minuto). Se houver diarreia, os ruídos estarão aumentados, na constipação o oposto. Borborigmos também podem ser audíveis, são os roncos cuja ocorrência se dá quando há muito gás dentro do tubo digestivo. As artérias também devem ser ouvidas a fim de se identificar algum sopro (aorta, renais, ilíacas e femorais). •Percussão Trata-se de uma técnica digito-digital. Percurtir todos os quadrantes. Normalmente três batidas em cada local é o suficiente. Os sons devem ser timpânicos (se houver hipertimpanismo suspeitar de pneumoperitônio e obstrução intestinal; se houver sons maciços, se preocupar com massas e ascite). Percutir também o fígado e realizar as manobras para a ascite. Os livros preconizam fazer um trajeto no qual se inicie no hipocôndrio direito e termine na fossa ilíaca direita, cujo trajeto é horário do ponto de vista do examinador. Além disso, inicia-se a percussão, sempre, no local oposto ao da dor referida. Objetivo de pesquisa dentro da percussão: hepatimetria, esplenomegalia, distensão abdominal (hipertimpanismo), ascite e massas abdominais. Percurtir o baço também é importante: se prepocupar se houver macicez. Na ascite, a percussão tem uma característica peculiar: com o paciente na posição ortostática, o líquido escorrega para as laterais do abdome, ficando, esse lugar, com sons maciços; já em decúbito lateral, o líquido vai todo para o lado do decúbito, gerando um timpanismo na região oposta. O sinal de piparote também é importante: pede- se ao paciente, em decúbito dorsal, para colocar a face ulnar de sua mão no centro do abdome, abaixo à cicatriz umbilical. O médico deve descansar sua mão sobre um dos flancos e golpear rapidamente, como num “peteleco”, o outro flanco. A positividade da manobra acontece quando há a sensação de líquido, por parte do examinador, na mão espalmada. •Palpação O decúbito dorsal do paciente favorece o relaxamento do abdome. Deve-se evitar, na situação, ambiente ou mãos frias (tensão na parede abdominal), pernas cruzadas ou braços elevados. A palpação superficial tem por finalidade avaliar a tonicidade da musculatura, a sensibilidade à pressão, alertar quanto à presença de hérnias e, é claro, ganhar a confiança e estabelecer uma conexão com o paciente. Já na palpação profunda, que pode ser uni ou bimanual, busca-se por massas profundas e identificação de órgãos. A mão, nesta última, deve deslizar pela pele no paciente, e não deve ser feita com força, mas sim com intensidade. Inicia-se, sempre, no local oposto ao da dor. Fletir os membros inferiores, muitas vezes, ajuda no relaxamento da musculatura abdominal. A palpação do fígado é fundamental. Usa-se, para isso, as mãos em garra, abaixo do rebordo costal (2 a 3cm), a fim de localizar a margem do órgão. A borda superior é plotada por percussão (submacicez). Se o fígado for avaliado em mais de 14cm, deve ser considerado hepatomegalia. A consistência do fígado é importante: se estiver pétreo, pode ser neoplasia ou cirrose; se sua superfície for nodular, pode se suspeitar de implante metastático. Há, ainda, a condição de fígado em cartão de visita (bordas finas), que também é patológico. Por fim, se o fígado for doloroso, há indicativo de hepatite aguda ou congestão. O baço também deve ser averiguado. Se for palpável, significa que há esplenomegalia. •Caso clínico Detalharemos um caso clínico para retomar alguns sintomas e instigar o raciocínio semiológico. A.T. 40 anos, branco, gari, viúvo, natural e procedente de porto alegre. Queixa principal: dor epigástrica. HDA: -Dor em abdome superior – início há 8 dias, contínua e de média intensidade, início em epigástrio e irradiação para HD, piora após alimentação e sem fator de alívio -Associação com anorexia e astenia -Colúria e icterícia/febre: faz procurar atendimento -Associado a náuseas e um quadro de diarreia -Nega prurido e acolia -Nega perda ponderal, viagens recentes e acidentes pérfuro-cortantes HMP: -HAS, sem tratamento -Nega DM, dislipidemia e outras comorbidades -Refere etilismo (2 copos de cachaça ao dia por 20 anos) -Nega tabagismo e outras drogas -Nega cirurgias prévias e alergias -Nega uso de medicação contínua Exame Fìsico: -Geral: BEG, LOC, MUC, escleras levemente ictéricas -SV: Tax 36,2ºC FR19 FC79bpm PA 140x90mmHg -AC: RR 2T BNF sem sopros audíveis -AP: MVUD, sem RA -Abd: RHA+, globoso, depressível, com dor à palpação de epigastro e hipogastro, sem peritonismo, fígado doloroso e palpável, sem esplenomegalia ou ascite evidente -Extremidades aquecidas e perfundidas, com pulsos palpáveis e simétricos, com eritema palmar -Neuro: tremor bilateral em membros superiores (ausência de flapping). A principal suspeita deve ser hepatite alcoólica (pela dor à palpação no HD e por toda história clínica do paciente) •Patologias das vias biliares Os cálculos biliares são os responsáveis por essas patologias. São formados pelo desiquilíbrio de bilirrubinas e colesterol. Fatores de risco para essas doenças incluem: sexo feminino, obesidade, genética e idade acima de 40 anos. Os cálculos de colesterol têm maior incidência e são claros. Os cálculos pretos (pigmentados) são formados por bilirrubinas. Litíase é o termo usado à doença que consiste em formação de pedras. -Colelitíase: são cálculos dentro da vesícula biliar, e 90% são assintomáticos. Dentro dos sintómáticos, há dor em cólica no HD e quadro de náusea. Na ultrassonografia há sombra acústica posterior. -Colecistite: Inflamação da vesícula biliar. Geralmente causada por cálculos biliares que impactam os ductos císticos. A parede da vesícula se torna distendida. Pode perfuraro órgão. É mais séria do que a colelitíase. Sintomas clássicos são dor intensa em pontada (HD), febre e sinal de Murphy positivo. A ultrassonografia revela o cálculo e as alterações na vesícula (espessamento da parede e líquido inflamatório). -Coledocolitíase: presença de cálculo no colédoco. A obstrução é causada por pequenos cálculos. Sintomas incluem: icterícia colestática (estagnação da bile), acolia fecal (fezes claras), colúria (hidrossolubilidade da bilirrubina direta) e dor no HD. A ultrassonografia é ineficaz. Quem mostra a dilatação do colédoco é a colângio ressonância magnética. Porém a ultrassonografia endoscópica é o exame mais indicado: a câmera vai até o duodeno e constroi a imagem da patologia. A resolução inclui a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica, que drena as vias acometidas. -Colangite: processo infeccioso + processo obstrutivo. Provoca colestase (estagnação do fluxo biliar). Possível evolução para quadro séptico. Escherichia coli, Klebisiela e Enterobacter são os micro-organismos envolvidos na infecção. A sintomatologia é a tríade de Charcot (icterícia, dor no HD e febre com calafrios). Pode chegar à Pentade de reynolds (charcot + hipotensão arterial + confusão mental). A resolução é drenagem endoscópica, drenagem percutânea ou drenagem cirúrgica (coledocotomia). Referências: Bates - Propedêutica Médica - Lynn S. Bickley. 11ª Edição. 2015. Editora Guanabara Koogan. Aula de medicina na UFCSPA, quinto semestre. •Fatos aleatórios, mas importantes!!!! -Lembrar que a cirrose é um estágio pré-neoplásico, mas o vírus B é capaz de “pular” a etapa cirrótica. A cirrose, pelo aumento de estrógeno, causa ginecomastia. -Na icterícia hemolítica não há colúria! Em todas as outras há! -Cólica biliar (que não tem nada a ver com a dor em cólica) acontece pois a vesícula se contrai em função de um cálculo (colelitíase) -Para rememorar, dor em cólica é aquela intermitente, que vai e volta, vai e volta -Muco, pus e sangue nas fezes são, invariavelmente, elementos patológicos! - Veias visíveis não significam, sempre, circulação colateral! - Eritema palmar, aranhas vasculares, distribuição dos pelos pubianos, atrofia mamária ou testicular, ginecomastia são sintomas que acompanham hepatopatias crônicas -Dor em hipocôndrio direito geralmente NÃO É fígado -A dor na vesícula é mais epigástrica do que em HD -A pancreatite se caracteriza em dor em faixa de intensidade muito alta -Ascite de menos de 1L é de difícil reconhecimento no exame físico -A respiração mais fisiológica é quando o abdome enche (o pulmão recebe mais ar, que se expande e empurra o diafragma para baixo) -Vitamina K é necessária para que o exame de tempo de protrombina seja válido Se houver icterícia, colúria e prurido, há, provavelmente, colestase. CIRROSE HEPÁTICA – MEDICINA UFCSPA Há por volta de 1,5 bilhão de pessoas com Doença Hepática Crônica no mundo, sendo estas doenças responsáveis por 2 milhões de morte/ano. A doença hepática alcoólica (DHA) representa 3,5% da causa dessas mortes. A maior em número de pacientes, dentro das doenças hepáticas crônicas, é a doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), atrelada à epidemia de obesidade ao redor de todo o mundo. As doenças hepáticas contemplam 8% das mortes no Brasil. Os quadros de DHGNA vão de esteatose, passam por esteato-hepatite e cirrose, podendo levar à carcinoma hepatocelular e à morte. •Contexto anatomopatológico: a cirrose se caracteriza por uma mudança na arquitetura do fígado, na qual os lóbulos hepáticos são substituídos por lóbulos anormais, entremeados por gordura. A escala METAVIR classifica a doença em 4 fases: F0, F1, F2, F3 e F4. O nível F0 seria sem cirrose e F4 com cirrose. A elastografia é o principal meio de se identificar a cirrose, podendo ocorrer por ressonância magnética ou ultrassom. Mas, a principal forma, muito utilizada, é a elastografia por FibroScan, muito sensível e específica para cirrose. •Contexto Clínico -Cirrose compensada: há os escores Child-Pugh e MELD que medem o nível de disfunção e prognóstico. A sobrevida é maior que 12 anos. -Cirrose descompensada: quando há complicações da hipertensão portal (ascite, hemorragia digestiva), ou complicações da insuficiência hepática (icterícia). Na fase avançada, as complicações ficam exacerbadas (ascite refratária, hiponatremia, síndrome hepato-renal, sangramento recorrente). A sobrevida aqui é 2 anos. •Fisiopatologia: as células de Kupffer, ao sofrerem dano de muitas substâncias (álcool, drogas, medicamentos), secretam citocinas inflamatórias. Essas moléculas agem nas células de Ito (produtoras de Vitamina K) que passam a sintetizar colágeno. Esse colágeno, então bloqueia as fenestras dos capilares, que, dessa forma, passam a não mais permitir a passagem de O2 para os hepatócitos. As células estreladas, ainda, acabam se diferenciando em miofibroblastos se contraindo e diminuindo o diâmetro dos sinusóides – explica a possível hipertensão porta intra-hepática. Como não chega, plenamente, o sangue aos hepátócitos, estes morrem, formando nódulos no fígado. Esses mecanismos, desse modo, causam a fibrose, que será reversível apenas se detectada nos estágios iniciais. •Classificação da cirrose A mortalidade no estágio 3 é 20% em 5 anos; no estágio 4 é 55-80% em 5 anos; no estágio 5 é 90% em 5 anos; no estágio 6 é 60-80% em 1 ano; e, por fim, no estágio de ACLF é variável, mas pode chegar a 96% em 6 meses. •Contexto hemodinâmico: hipertensão porta é uma consequência precoce e uma das decorrências mais problemáticas da cirrose. Para medi-la de forma indireta, usa-se a determinação GPVC, método invasivo cujo valor normal deve ser de 3 a 5 mmHg. Estabelecer o diagnóstico da hipertensão porta é relevante enquanto preditor de complicações (como carcinoma hepatocelular – CHC), e na resposta ao tratamento farmacológico. •Contexto biológico: a cirrose, ao contrário do que se acreditava antes, pode ser um processo reversível, a depender da etiologia e da duração do processo. Há proteases celulares que podem degradar a fibrose hepática (já citada nesse resumo). •Etiologia: Etiologia Detalhes Virais VHC (quase 60%), VHB, VHD, VHE Alcoólica 24% dos cirróticos Fármacos Metotrexato, isoniazida, alfametildopa, outros Metabólitos I EHNA Metabólitos II Hemocromatose, doença de Wilson, deficiência de alfa-1-antitripsina Autoimune Hepatite autoimune, colangite biliar primária, colangite esclerosante primária Biliar Cirrose biliar secundária Vascular Síndrome de Budd-Chiari, doença veno-oclusiva, pericardite constritiva Criptogênica 5 a 10% dos casos de cirrose permanecem obscuros Estágio 0 Sem varizes; EH >15 e <20 ou GPVH >5 e <10 mmHg Estágio 1 Sem varizes; HPCS; EH >20 ou GPVH > 10 mmHg Estágio 2 Com varizes; HPCS Estágio 3 Sangramento Estágio 4 1ª descompensação sem sangramento Estágio 5 2ª descompensação Estágio 6 Descompensação tardia ACLF Cirrose compensada Cirrose descompensada EH: esteatose hepática GPVH: gradiente de pressão venosa hepática HPCS: hipertensão porta clinicamente significativa ACLF: Acute-on-chronic liver failure As principais complicações no início do acompanhamento, que muitas vezes são a QP do paciente perante o médico são, nessa ordem: ascite, HDA, encefalopatia hepática (EH), peritonite e CHC. Porém, no final do acompanhamento, as queixas que se mantém são, também nessa ordem de frequência: ascite, CHC, EH, peritonite e HDA. •Tratamento da ascite: a dieta com restrição de sódio é essencial durante todo o quadro. No primeiro episódio de ascite, tratar apenas com espironolactona; na ascite recorrente recorrer à terapia combinada. Se a ascite for intensa ou refratária, iniciar com paracentese terapêutica (reposição de albumina). Por fim, indicartransplante de fígado se a ascite for severa e refratária. Não utilizar AINE’s, inibidores de ECA, antagonista de angiotensina II e bloqueadores de receptores adrenérgicos alfa I. •Hemorragia digestiva alta (HDA): a profilaxia se dá com duração de 7 dias (com antibiótico). Pode ser feita, também, a profilaxia da encefalopatia hepática, mas mais estudos são necessários. Considerar eritromicina antes da EDA (endoscopia digestiva alta). TIPS precoce pode ser considerado em pacientes com Child-Pugh classe C (<14). Por fim, stent autoexpansivo pode ser considerado no sangramento refratário. •Encefalopatia hepática: nos estágios iniciais os pacientes são passíveis de serem tratados com lactulose, mas é importante a singularização do tratamento. Em episódios agudos de encefalopatia, é importante identificar e tratar o fator precipitante (lactulose é a primeira escolha). Na prevenção de recorrência, lactulose e rifaximina devem ser administrados. Nesse perfil de paciente, suplementação de BCAA pode ser considerado, além de evitar restrição de proteínas. A alimentação deve ser frequente, sem grandes períodos de jejum. •Peritonite bacteriana espontânea (PBE): qualquer paciente cirrótico com ascite deve fazer paracentese; em pacientes com mais de 250 polimorfonucleares/mm³, é feita uma segunda paracentese após 48 horas. No caso de PBE comunitária, cefotaxime 2g de 8/8hr é indicado. Antibiótico terapia empírica também pode ser usada, a depender da suscetibilidade bacteriana (se não forem resistentes). A administração de albumina também é considerada. Caso o paciente tenha HDA, usar norfloxacina ou ceftriaxone. Em pacientes com baixas proteínas na ascite e sinal de gravidade, norfloxacina 400mg/dia. •Síndrome hepatorrenal: a prevenção é utilização de albumina na PBE e norfloxacina na cirrose avançada com ascite. O tratamento consiste em terlipressina + albumina. O transplante de fígado acaba sendo a melhor terapia. •ACFL (doença hepática crônica agudizada): deterioração aguda da função hepática, geralmente com fator precipitante (álcool ou infecção bacteriana), com falha extra-hepática e mortalidade acentuada em 28 dias. É a maior causa de morte na cirrose. Deve-se tratar o fator desencadeante, e tratamento de suporte na dependência de falha orgânica. A ACFL por álcool normalmente está relacionada a pior prognóstico. O grau I prevê mortalidade de 22% em 28 dias; o grau III tem mortalidade em 28 dias de 78%. O aplicativo Ef Clif, através de alguns dados, pode estimar a grade de ACFL. •Carcinoma Hepatocelular (CHC): quinta e sexta neoplasia mais frequente no mundo. É a principal causa de morte em pacientes cirróticos. No Brasil, as principais etiologias são álcool e HCV. Os casos de EHNA vêm aumentando nos últimos anos. -Algoritmo de conduta: caso detectado um nódulo na ecografia em pacientes cirróticos, observar o tamanho (< 1 cm requer acompanhamento em relação ao crescimento); caso for maior que 1cm, proceder com CT ou RM e verificar o padrão vascular de CHC. Se não tiver o padrão, fazer biópsia. Se esta ainda for negativa para CHC, acompanhar o paciente de 4 em 4 meses com exame de imagem. O estadiamento e algoritmo dessa neoplasia são ilustrados abaixo. Em transplantados hepáticos a sobrevida em 5 anos pode chegar a 70%. A TACE (transcatheter arterial chemoembolization) também é útil e conclui uma sobrevida interessante. Em pacientes mais avançados se faz sorafenib como quimioterapia sistêmica. •Hepatite C: doença descoberta há 30 anos, por isso um fator de risco é transfusão até 93, ano no qual o vírus foi descoberto. Outro risco envolve uso de drogas, injetáveis ou não (cocaína ou craque), manicure, injeções, etc. Transmissão sexual não é comum, mas existe. A população com hepatite C geralmente é mais velha. A maioria dos pacientes são assintomáticos ou apresentam sintomas inespecíficos. Os antivirais diretos são usados em todos pacientes com anti-HCV positivo: 95% dos casos se resolvem – evolução do tratamento a partir de 2015. Poucos efeitos colaterais são relatados. As complicações da doença envolvem fibrose ou cirrose hepática, e CHC. Após o anti-HCV positivo, o PCR quantitativo é feito para confirmação (é mais sensível que o antigo qualitativo). A estimativa, devido à grande eficácia do tratamento, é que a partir de 2030 haverá a erradicação da Hepatite C no Brasil. CÂNCER COLORRETAL É um dos cânceres que, epidemiologicamente, mais mata pessoas ao redor do mundo. A incidência praticamente dobrou nos últimos 20 anos (por conta da expectativa de vida). A morte por câncer de intestino, entretanto, pode ser evitada se houvessem exames de rotina, como a colonoscopia. Ser de população urbana (EUA, Canadá, Austrália) e ter idade acima de 60 anos são as principais características desses doentes neoplásicos. A evolução do câncer é lenta (fase assintomática prolongada), por isso é fundamental o screening para reduzir significativamente o risco de óbito. Mais de 90% dos carcinomas colorretais surgem do crescimento e transformação maligna de pólipos adenomatosos benignos. 75% dessas neoplasias, no Brasil, ocorrem em até 30 cm da margem anal (partindo do reto). A maioria, portanto, é no reto e cólon sigmoide. •Fatores de risco: além da idade, que é o principal, retocolite ulcerativa, doença de Crohn, pólipos adenomatosos e pólipo adenomatoso familiar se configuram como importantes fatores de risco. Outros atributos relevantes, que estão associados ao desenvolvimento de câncer colorretal, são dieta (proteína e gordura animal – dieta rica em fibras é fator de proteção), atividade físicas (a falta delas), obesidade, radiação, imunossupressão, ureterosigmoidostomia e neoplasias extra-colônicas. Outros fatores de proteção, além da dieta rica em fibras e diminuição de carnes, é a suplementação de cálcio e vitamina D, além do uso de aspirina e AINE’s de forma crônica. Além disso, o ressecamento de pólipos durante o processo de colonoscopia é fundamental para evitar possível desenvolvimento de célula neoplásica. •Síndrome de Lynch: é o HNPCC (hereditary nonpolyposis colorectal câncer), que constitui de 5-10% dos cânceres colorretais. Tem um fator genético forte associado, e a principal faixa etária é 40 anos. Ocorre principalmente no cólon proximal e pode gerar tumores sincrônicos. •PAF (polipose adenomatosa familiar): é raro (menos de 1% dos cânceres de cólon) e prevê fator genético associado. Se houver mais de 100 adenomas colônicos lá pelos 20 anos, com 100% de certeza o paciente desenvolverá CCR por volta dos 40 anos. Nesse caso, esses pacientes precisam retirar todo o cólon cirurgicamente. O íleo, nessas situações, acaba tomando pra si a função do cólon (absorção de água). •Rastreamento de pólipos e CCR: deve ser feito em todos pacientes assintomáticos com mais de 50 anos. Naqueles com histórico familiar, já a partir dos 40, a recomendação é rastrear. Em pacientes com PAF a vigilância é necessária a partir dos 10 anos. Pesquisa de sangue oculto nas fezes e colonoscopia (com ressecamento de possíveis pólipos) são, principalmente, os melhores métodos de rastreio. •Sinais e sintomas: o pólipo, a princípio, é assintomático. Sintomas clássicos do CCR são: alteração do hábito intestinal, mucorreia, sangramento, dor, massa palpável, emagrecimento, astenia, anemia e tenesmo (sensação de evacuação incompleta). •Diagnóstico: no exame físico abdominal e toque retal podem ser identificados alguns indícios. Como exames complementares, há o enema opaco (raio x), RSC, colonoscopia e colografia TC. •Estadiamento: Rx de tórax, ecografia abdominal e TC abdominal total e pélvica são importantes. Caso o tumor seja no reto, ecografia endorretal é relevante. O antígeno carcioembriônico não é diagnóstico, mas pode ser usado em prognóstico e em seguimento pós tratamento (podeidentificar recidivas). •Tratamento: cirurgia (muitos tipos diferentes, depende da singularidade do caso), quimioterapia e radioterapia (tumor de reto distal) •Metástases: pelo sangue, o fígado é o sítio mais recorrente, mas pode se disseminar para pulmão, SNC e outros sistemas. Pela via linfática, assim, pode acontecer metástase em linfonodos peritumorais e à distância. Já por contiguidade, bexiga, útero, vagina, ovários, próstata, estômago, pâncreas, baço e ureteres são sempre suscetíveis. Para tratar, é necessário ressecção cirúrgica ou quimioterapia. A sobrevida global de 5 anos do CCR é de 50%; se for T1/T2 esta chega a 90%. Tudo depende do estágio no qual o câncer foi diagnosticado. HEPATITES VIRAIS AGUDAS E CRÔNICAS – MEDICINA / UFCSPA As principais causas de hepatite aguda são os vírus hepatotrópicos (A, B, C, D, E), álcool, doenças autoimune, outros vírus (rubéola, febre amarela, CMV, Epstein Barr, sarampo, varicela, etc) e drogas. Os principais vírus hepatotrópicos agudos no nosso meio são VHA, VHB e VHC; enquanto que os crônicos são VHB e VHC. VHE ocorre apenas no Norte do país. Recentemente houveram casos em países que nunca haviam tido, como a Alemanha (migrações). Pode evoluir para insuficiência hepática em gestantes. •VHA: ocorre majoritariamente no mundo subdesenvolvido – relação com nível socioeconômico e más condições sanitárias. Crianças, assim, são mais afetadas em áreas de alta endemicidade (houve surtos importantes na Índia). -Diagnóstico: ALT e AST precisam estar aumentados em pelo menos 10x ao limite superior de normalidade (LSN), caracterizando, então, o dano severo aos hepatócitos. Anti-HVA IgM é um importante marcador sorológico, indicativo de infecção aguda. Ele identifica anticorpos que reagem contra proteínas do vírus A, e permanece por 3-6 meses no indivíduo. Já o Anti-HVA IgG/total, confere imunidade e perdura por toda a vida do paciente. -Manifestações clínicas: início abrupto, considerando o período de incubação de 2 a 6 semanas. A via de transmissão é fecal-oral, acontecendo, portanto, através de vários tipos de contato (sexual, indireto, alimentos). O paciente com infecção aguda, assim, precisa ter seus objetos bem higienizados. A viremia é curta e o pico de infectividade é antes do aparecimento da icterícia. A doença não se torna crônica. -Sinais e sintomas: febre (não alta), mal-estar, anorexia, náuseas, dor vaga no HP (distensão da cápsula pela hepatomegalia), hepatomegalia dolorosa (85%), esplenomegalia (15%), colúria e icterícia. Em 0,1-0,35% dos casos há insuficiência hepática – é a hepatite fulminante, que se caracteriza pela progressão da icterícia mesmo com as transaminases baixando. A recuperação espontânea é a regra da Hepatite A. Em crianças, a doença é assintomática em 70% dos casos, enquanto que nos adultos é 70% sintomática (colestase prolongada – prurido e icterícia prolongada). -Profilaxia: a vacina é bastante efetiva, sendo um único sorotipo com baixo grau de variações antigênicas. As vacinas inativadas são as mais utilizadas (conferem excelente perfil de eficácia e segurança). Todo paciente com hepatopatia crônica, como cirrose, deve ser vacinado contra Hepatite A. •VHB: é um vírus DNA, com uma dupla camada. É esférico e possui o HBsAg (antígeno de superfície da hepatite B) na superfície, que pode ser plotado no exame de sangue. Se permanecer alterado por 6 meses significa que o paciente possui hepatite B crônica. -Transmissão: é essencialmente parenteral. Acontece por via sexual, agulhas contaminadas, profissional da área da saúde e transfusão sanguínea. A transmissão vertical também pode ocorrer (perinatal). Dependerá, claro, da carga viral da mãe. Nesse caso o RN deverá receber profilaxia ao nascer. É importante destacar que em 20-30% dos pacientes infectados não há um fator de risco óbvio detectável. -Diagnóstico: depende da relação de 3 antígenos/anticorpos. O primeiro é o HBsAg, como já dito, que indica a presença do VHB. Ele não esclarece se a infecção é aguda ou crônica. O Anti-HBs (anticorpo para o antígeno “s”) indica a cura e imunização em relação à hepatite B. Surge espontaneamente após o desaparecimento do HBsAg (ou após vacinação). Já o HBeAg (antígeno “e” da HB) é um marcador de replicação viral – todos pacientes na fase aguda o terão. Na fase crônica é importante para verificar se o paciente está ou não com a doença ativa. O Anti-HBe, portanto, sugere final de replicação e surge, logicamente, após o desaparecimento do HBeAg. Além desses, há o HBcAg (antígeno do core da HB), que também se relaciona com a doença ativa. É encontrado no tecido hepático. Por fim, o anti-HBc é o mais importante para fim de acompanhamento da doença. O anti-HBc IgM indica hepatite aguda B, que deve declinar após 3 meses; já o anti HBc IgG permanece por toda a vida, mesmo após a cura (não positiva em caso de vacinação). Enquanto diagnóstico molecular, existe o HBV-DNA (carga viral), o seu desaparecimento representa fim da replicação. Não é importante em hepatite aguda, mas tem sim sua utilidade na avaliação de hepatites crônicas. O desenho ao lado mostra a linha do tempo da doença, relacionada a seus marcadores sorológicos. O período de incubação do VHB é um pouco alto: 30-150 dias. Para firmar diagnóstico precisa haver HBsAg positivo em pacientes com quadro clínico compatível. Para diferenciar da HB crônica, pedir anti-HBc IgM. -Manifestações clínicas (fase aguda): o paciente é assintomático em 70% dos casos. Sintomas incluem fadiga, náuseas/vômitos, dor HD, icterícia, hepatoesplenomegalia, manifestações extra-hepáticas (dores articulares, adenomegalias, rash cutâneo). Uma pequena porcentagem pode evoluir para hepatite fulminante. -Tratamento: é o mesmo da HA (suporte e sintomático). Evitar bebidas alcoólicas e dieta conforme tolerância. Não precisa repousar, mas evitar esforços físicos excessivos na fase aguda. Não há evidências sobre a eficácia de drogas antivirais e imunomoduladoras na fase aguda do VHB. Em caso de hepatite grave (muito sintomático), análogos nucleotídeos (entecavir ou tenofovir) devem ser usados. -Portadores crônicos: norte do Brasil e África são expressivos na quantidade de pacientes com essa patologia. Estima-se que a doença engloba 5% da população mundial, causando 250 mil mortes/ano. Populações de risco incluem: nascidos em áreas de risco, não vacinados, familiares de pessoas HBsAg+, usuários de drogas injetáveis, pessoas com múltiplos parceiros sexuais, homens que transam com homens, presidiários, indivíduos com HIV+ ou HCV+, pacientes em hemodiálise, gestantes e imunossuprimidos. A hepatite B cronifica em 5-10% dos casos, e quanto mais jovem o paciente, maiores suas chances de cronificar. Como visto no mapa ao lado, dos pacientes crônicos de HB, 5-10% desenvolve CHC e 30% desenvolve cirrose. As manifestações clínicas são geralmente silenciosas, mas, dentro dos sintomáticos, em 10- 20% manifestações extra-hepáticas são relatadas: glomerulonefrite membranosa, crioglobulinemia mista essencial, anemia aplástica, poliarterite nodosa, adenomegalias e rash cutâneo. Muitas vezes, na prática, pegamos pacientes com manifestações já de cirrose, pois não houve sintomas prévios. Seriam estes: encefalopatia hepática, varizes esofágicas, icterícia, ascite, aranhas vasculares e eritema palmar. A linha do tempo da fase crônica da doença é representada abaixo. O diagnóstico consiste, basicamente, em identificar o HBsAg no sangue por mais de 6 meses. O tratamento da hepatite B não é muito efetivo, poucos alcançam uma resposta sustentada (30% no caso da soroconversão dos HbeAg+ e 10% naqueles com HBeAg-). O controle é feito, dessa forma, em relação aos sintomas. O paciente pode sofrer uma supressão espontânea, na qual ele tem o vírus, mas este não está replicando. IFN pode ser administrado,também, para causar essa supressão (restrito a algumas situações pois tem fortes efeitos colaterais). Também há a supressão por análogos, são os nucleosídeos e os nucleotídeos. O entecavir é um medicamento do grupo dos nucleosídeos bastante usado; já o tenofovir e o TAF são os nucleotídeos empregados com efetividade. São 3 os critérios para inclusão de tratamento da hepatite B sem agente delta: 1)HBeAg+ AND Alt > 10x LSN; 2) HBeAG-, HBV-DNA >2000 Ul/ml AND Alt > 2x LSN; e 3) HBeAg+ e maior de 30 anos de idade. Outras manifestações como histórico de tumor, história de cirrose e outras variações também devem ser levadas em consideração ao preconizar o tratamento ao paciente. Importante consultar, mesmo no campo de atuação, o PCDT para Hepatite B Crônica e Coinfecções. -Vacinação: estão no calendário de imunização. A passiva é a gamaglobulina hiperimune – HBIG (Anti- HBs); e a ativa corresponde a de DNA recombinante. Persistência do HBsAg •VHC: é da família dos flaviridae, RNA, com hélice única. Seu tempo de meia vida é de 2,7 horas, por isso se replica muito (10¹² virions). A hepatite C crônica acomete 3% da população mundial. Os principais riscos de contaminação são uso de drogas injetáveis e transfusão de sangue antes de 1993. Outros fatores de risco menos importantes podem incluir transmissão perinatal, piercing/tatuagem, hemodiálise, uso de cocaína intranasal e contato sexual. -Hepatite aguda por VHC: soroconversão recente para o Anti-HCV ou surgimento de RNA-VHC em indivíduos previamente negativados. A biópsia hepática não é indicada para diagnóstico. Para afirmar que a hepatite não é crônica, a carga viral deve desaparecer em até 6 meses. O Anti-HCV vai permanecer por toda a vida, mesmo nos pacientes curados. O anti-HCV é um exame ELISA de baixo custo, usado nos bancos de sangue, que pode representar, dessa forma, infecção passada ou atual. O período de latência no sangue é de 1 a 3 meses. A PCR, de outro jeito, detecta o RNA viral e é muito sensível (detecta a partir de 12 Ul/ml), e positiva a partir da primeira semana após o contato. Sempre pedir esses dois exames em pacientes com exposição parenteral e cenário clínico típico. -Manifestações clínicas: tipicamente branda, sem icterícia. Alguns sintomas aparecem em apenas 30% dos casos. A insuficiência hepática fulminante pode ocorrer, mas é muito rara. Não vá vacinas feitas, devido a mutações e às altas multiplicações do vírus (heterogeneidade genômica). O tratamento varia conforme o genótipo. -Hepatite C crônica: se caracteriza pela viremia positiva por mais de 6 meses. Após o diagnóstico da presença do vírus, é importante analisar a fibrose hepática dos pacientes. Geralmente se usa métodos não invasivos, mas a biópsia também pode ser feita. A tabela representativa dos resultados da biópsia pode ser vista abaixo. Alternativas às biópsias são biomarcadores, cuja lista é enorme. Alguns exemplos são o APRI, FIB4 e FIBROTESTE. A elastografia hepática também é efetiva para analisar o grau de fibrose dos pacientes. As manifestações clínicas da hepatite crônica são brandas e não correspondem à atividade da doença. O que mais se identifica são as manifestações da cirrose. 1/3 dos pacientes podem ter aminotransferases aumentadas. Outras patologias associadas, não tão frequentes, são: crioglobulinemia mista, vasculites sistêmicas, porfiria cutânea tardia, linfoma esplênico e síndrome sicca. -Tratamento: o objetivo é a cura, funciona em mais de 90% dos casos. Pode ser tratado na fase aguda ou crônica. Os antivirais utilizados dependem do genótipo do vírus: A recomendação final é que todo paciente com hepatite C crônica deve ser vacinado para hepatite A e B. SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL Distúrbios do eixo cérebro-visceral são manifestações gastroenterológicas sem componente orgânico conhecido. Representam 1/3 de todas consultas ao especialista. A síndrome do intestino irritável (SII) faz parte desse grupo. Ela se caracteriza por dor abdominal + distúrbios na evacuação (os sintomas isolados não a caracterizam). •Manifestações clínicas: -Dor abdominal: é mandatório para o diagnóstico de SII. Tem relação com a frequência de evacuação ou com a morfologia das fezes. Ela pode ocorrer em qualquer parte do abdome, mas é mais frequente no baixo ventre. A dor é intermitente e pode piorar com alimentação ou estresse. Critérios de Roma IV Dor abdominal recorrente, mais de um dia por semana nos últimos 3 meses, com início há 6 meses, e com associação a pelo menos 2 dos critérios ao lado 1- Relação com evacuação 2- Mudança na frequência evacuatória 3- Mudança no formato das fezes Em termos mais simplificadores, ¼ dos pacientes apresenta diarreia, ¼ apresenta constipação, ¼ apresenta diarreia e constipação, e ¼ não possuem outras manifestações além de diarreia ou constipação. O formato das fezes é relevante para se tecer um diagnóstico (a escala de Bristol define). A SII frequentemente está associada a outras condições patológicas, como dispepsia funcional (8x mais frequente nesses pacientes), DRGE (4x mais frequente), cefaleia, lombalgia, fibromialgia, desordem do sono e fadiga crônica, dor pélvica crônica, dispareunia entre outras. •Exame físico: com muita frequência é normal, no máximo haverá um desconforto à palpação profunda na região do cólon. •Epidemiologia: mais de 10% da população mundial, maiores em jovens do que em adultos. Maior acometimento em mulheres. A frequência considerada normal de evacuação vai de 3x por semana até 3x ao dia. •Fisiopatologia: envolve uma trama de fatores que se comunicam, são eles: fatores psicossociais + fatores genéticos + fatores fisiológicos (motilidade, sensibilidade, inflamação, microbiota). 40-94% dos pacientes possuem algum distúrbio psiquiátrico associado (depressão, ansiedade, somatização), o que evidencia a relação entre as duas coisas. História de abuso e estresse na infância também possuem um índice maior de associação. •Diagnóstico: é soberanamente clínico. Sinais de alarme, entretanto, demandam uma investigação maior. Alguns sinais que exigiriam preocupação seriam sangramento digestivo, anemia, perda de peso, vômitos, disfagia, história familiar para neoplasias digestivas, início dos sintomas na velhice, entre outros. -Algoritmo: 1) Roma IV positivo e sem sinais de alarme → exames simples (hemograma, PCR, parasitológico de fezes, coprocultura). Se negativos → tratamento empírico para SII. Caso haja falha no tratamento, pedir Anti-TTG IgA (doença celíaca) + EDA. 2) Roma IV positivo + sinais de alarme → exames de sangue (anti-TTG IgA), fezes, colonoscopia e outros. •Tratamento: para promover a adesão, deverá haver uma boa relação médico-paciente – são pessoas que já estiveram em vários médicos e fizeram inúmeros exames. Assim, é fundamental acreditar e validar os sintomas do paciente (deixar claro que a doença é benigna). A dieta rica em fibras (muciloide de psyllium) e pobre em FODMAPS (frutas, adoçantes, legumes, vegetais verdes) podem ajudar sintomaticamente o caso em pacientes refratários, pois é uma dieta de difícil adesão. Exercício físico também é de alto valor (liberação de endorfinas). -Paciente constipado: fibras e polietilenoglicol -Paciente diarreico: antidiarreicos (loperamida) -Paciente com distensão abdominal: ajustar dieta e tratar a possível constipação. Antibioticoterapia e antidepressivos podem ser pensados. -Paciente com dor: antiespasmódicos anticolinérgicos (hioscina) e anticolinérgicos (otilônio e pinavério) podem ser administrados. Em pacientes refratários, pode-se usar antidepressivos tricíclicos, inibidores seletivos da recaptação de serotonina ou psicoterapia. •Prognóstico: doença crônica, com sintomas recorrentese intermitentes. Não há evidência de aumento de mortalidade associada. É importante destacar isso ao paciente, que muitas vezes se encontra preocupado com sua situação. Alimentos que levam à distensão gasosa: feijão, lentilha, ervilha, couve, repolho, brócolis, cebola e alho. Comer rápido, mascar chicle, bebidas gaseificadas, falar e beber simultaneamente (aerofagia) também têm relação com produção de gases. ASCITE – MEDICINA UFCSPA A cirrose é a principal causa (80%), mas a ascite não é uma manifestação exclusiva desses pacientes. Outras causas possíveis incluem carcinomatose peritoneal, insuficiência cardíaca congestiva (mais importante no passado), tuberculose peritoneal (teve um pico na época na qual AIDS não havia cura) e doença pancreática, nessa ordem de frequência. •Ascite e cirrose A tabela mostra os níveis de cirrose, e a ascite refratária (estágio 6 da cirrose) tem mortalidade altíssima: 75% em 1 ano. Ascite é a causa mais importante de descompensação em cirróticos: 50% dos pacientes a desenvolverão em 10 anos. Na clínica, 1/3 dos pacientes cirróticos chegam com ascite. Ela pode causar, assim, complicações menores (como hérnias) e complicações maiores, como peritonite bacteriana espontânea (PBE). A mortalidade associada à presença de ascite (não refratária) é de 50% em 2 anos. O mecanismo, então, envolve a fórmula das forças de Starling Pressão Hidrostática x Pressão Oncótica. A primeira é aumentada, pois o paciente possui um prejuízo em relação à entrada de sangue no fígado; a segunda, de forma oposta, é diminuída em 60-80%, pois notabiliza-se a perda de função hepática. Desse modo, as duas variações das forças hidrodinâmicas favorecem a saída de líquido do plasma para o espaço peritoneal, causando, por conseguinte, a ascite. Estudos mostraram, além disso, que o gradiente de pressão venosa hepática, embora aumentado em cirróticos em relação a não cirróticos, permanecia relativamente igual entre aqueles com ascite e sem ascite, nos ensinando que há outros fatores envolvidos no desenvolvimento de líquido no abdome. A teoria mais aceita é a de vasodilatação arterial periférica, conferida abaixo. Adicionada a essa teoria há a cardiomiopatia cirrótica (agravamento da hipovolemia efetiva). Mais recentemente, houve uma nova abordagem integrativa, que pressupõe que a liberação de PAMP e DAMP (translocação bacteriana) induz substâncias inflamatórias que antecedem, como adjuvantes, as comorbidades decorrentes da cirrose. Em pacientes cirróticos com ascite, a conduta é: fazer anamnese, exame físico (piparote é o sinal mais específico e a curva de macicez o mais sensível), pedir ecografia abdominal (fígado irregular, hepatoesplenomegalia) e exames de laboratório gerais (hemograma, PCR) e específicos (função hepática, renal, eletrólitos no soro e urina). É de muita relevância fazer a análise do fluido da ascite (paracentese). -Provas de função hepática → bilirrubinas, albumina e TP (tempo de protrombina) -Prova de dano hepático → transaminases (TGP/TGO), fosfatase alcalina e Gama GT. -Paracentese diagnóstica → sempre fazer em caso de cirrótico com ascite. Fazê-la, também, quando há sinais de infecção (locais ou sistêmicos), na presença de hemorragia ou na presença de encefalopatia ou IR sem fator conhecido associado. Deve ser realizada em local de pouca circulação venosa (um terço da linha que vai da crista ilíaca à cicatriz umbilical). O fundamental é fazer a contagem das células, albumina e proteínas totais. O nível de proteína permite classifica-la em transudativa (líquido extravasa pelas forças de Starling) e exsudativa, que ocorre quando há lesão da membrana peritoneal (tuberculose peritoneal e carcinomatose). Na ascite por insuficiência cardíaca os níveis de proteína estão elevados. O exame mais útil é o GASA (gradiente de albumina soro-ascite). A diferença da albumina do soro e a albumina da ascite é o que representará esse valor. GASA > 1,1 sugere hipertensão portal na gênese da ascite (correlação do GASA com o GVHP). Cirrose Proteínas < 3g/dL e GASA > 1,1 Insuficiência cardíaca congestiva Proteínas > 3g/dL e GASA > 1,1 Carcinomatose peritoneal e tuberculose Proteínas > 3g/dL e GASA < 1,1 Síndrome nefrótica Proteínas < 3g/dL e GASA < 1,1 -Infecção na cirrose: 30-50% dos pacientes apresentarão infecção, e, das mortes por cirrose, 25% são por infecção. As principais são: ITU (31,1%), PBE (25,9%, é exclusiva do cirrótico) e broncopneumonia (25,2%). A mortalidade aumentou recentemente devido à resistência bacteriana em pacientes com ou sem cirrose. Sinal de Piparote Macicez móvel -Peritonite bacteriana espontânea (PBE): o paciente cirrótico possui alteração na permeabilidade da mucosa e também alteração da flora intestinal, além de hemorragias digestivas. Dessa forma, acontece uma translocação bacteriana, que passa a ocupar gânglios linfáticos mesentéricos e depois o sangue, caracterizando uma bacteremia. Essas bactérias no sangue, na passagem pelo fígado, acabam sendo fagocitadas pelo sistema retículo endotelial (macrófagos); porém, em pacientes cirróticos, nos quais se forma uma circulação colateral, há uma bacteremia permanente. Destarte, essas bactérias acabam parando dentro do líquido peritoneal e causando bacterioascite. Se a atividade opsônica for adequada, o corpo mesmo resolve o processo; se não o for, entretanto, haverá PBE. A inflamação poderá levar a ACFL. Em geral o quadro clínico não é tão característico, e os sintomas envolvem dor abdominal (manifestação mais frequente), febre, ascite refratária, piora do estado geral e encefalopatia. Um dado importante é que em pacientes com PBE, as proteínas ficam em quantidades menores que 1 g/dL, quando analisado o líquido através da paracentese. A população de bactérias nesse líquido é baixa, dificultando o exame bacteriológico. O principal achado, muito indicativo de PBE, é a celularidade indicando polimorfonucleares > 250 células mm³. A bactéria mais frequente em líquido de ascite é a E. Coli. •Peritonite secundária: a causa mais comum de peritonite é, realmente, a espontânea. Contudo, nada impede que o paciente cirrótico também tenha peritonite vindo de outra fonte, como apendicite ou diverticulite. Para se caracterizar essa peritonite, seguimos o quadro abaixo. Não necessários 2 dos 3 critérios abaixo para que se caracterize peritonite secundária Proteínas > 1g/dL Na PBE as proteínas ficam abaixo de 1 Glicose < 50 g/dL As bactérias utilizam a glicose como fonte de energia DHL asc. : DHL soro A glicólise anaeróbica gera esse subproduto •Ascite pancreática: determina-se o nível da amilase, que está aumentada nesses pacientes. •Carcinomatose peritoneal: o exame citopatológico é o mais adequado para esse diagnóstico, mas é preciso fazer paracentese e análise mais de uma vez para adquirir boa sensibilidade e especificidade. O antígeno carcinoembriogênico no líquido de ascite também possui boa sensibilidade. •Tuberculose peritoneal: em regra se faz PCR para mycobacteria ou laparostomia com biópsia. Indagações finais: -Todo paciente com ascite deve realizar paracentese diagnóstica; -Na investigação inicial da ascite devemos incluir: GASA, citológico e proteínas -Se houver suspeita de PBE, realizar exame líquido de frasco de hemocultura (beira do leito). LITÍASE BILIAR – COLELITÍASE – MEDICINA UFCSPA Cálculo de vesícula é uma das doenças mais comuns do mundo ocidental. Estima-se que 10-15% da população adulta tem essa patologia, e esses números aumentam se pegarmos amostras com mais de 50 anos, especialmente mulheres (proporção 3:1). No Brasil, por exemplo, 30% das mulheres acima dos 50 anos tem litíase biliar. A maioria dos pacientes, entretanto, é assintomática, descobrindo a condição em exames de ecografia de rotina. A incidência é maior em familiares de primeiro grau de doentes, evidenciandoo aspecto genético. •Fisiopatologia: trata-se de eventos genéticos, bioquímicos e metabólicos que alteram quimicamente a bile, a deixando litogênica, isto é, supersaturada de colesterol. Formam-se, assim, cristais dessa molécula, que se congregam formando cálculos macroscópicos. Outros eventos como secreção de muco e motilidade da vesícula também podem antecipar essa condição. •Bile: é composta por 5 substâncias: 1) Sais biliares: hidrossolúveis, têm função detergente ao solubilizar o colesterol e formar micelas. Nessa categoria se encontram os ácidos biliares (cólico, quenodesoxicólico, desoxicólico, ursodesoxicólico e litocólico) 2) Fosfolipídeos: são pouco hidrossolúveis e formam vesículas. A maioria deles é a lecitina. 3) Colesterol: insolúvel em água. Na bile, o colesterol consegue se solubilizar a lecitinas e sais biliares, até uma certa quantia. Se a concentração aumentar demais e saturar o sistema, microcristais de colesterol passam a ser formados (bile litogênica – supersaturada de colesterol). 4) Bilirrubina 5) Proteínas e eletrólitos •Tipos de Litíase: os mais frequentes são os cálculos de colesterol (80 a 90%). São raramente puros, todavia, sendo a maioria misto. Geralmente 70% da composição é colesterol e os outros 30% representados por sais de cálcio, sais biliares, pigmento biliar, ácidos graxos e fosfolipídios. O fígado, dessa forma, possui 3 mecanismos para metabolizar o colesterol: a) esterificação do colesterol; b) conversão dessa molécula em sais biliares; e c) eliminação do colesterol na bile livre. É importante ressaltar que a supersaturação de colesterol é necessária para formar o cálculo, mas não é suficiente: há outros fatores. Um desses fatores é o tempo de nucleação, ou seja, a taxa de formação dos cristais, que é mais rápida em pacientes que desenvolvem essa condição. Glicoproteínas do muco da parede da vesícula são moléculas promotoras da taxa de nucleação. A hipomotilidade da vesícula, da mesma forma, acelera o processo. Um dos fatores que inibem a nucleação é a apoproteína A. Fatores de risco para o cálculo de colesterol incluem: idade avançada, sexo feminino, fator genético, obesidade, hipertrigliceridemia, emagrecimento rápido, gravidez e estrógenos. Outros fatores mais adjuvantes, mas que também estão relacionados com uma maior incidência desse cálculo são: ressecção íleo-terminal (alteração da circulação entero-hepática), cirurgia gástrica, fumo, sedentarismo e alguns medicamentos (tiazídicos, clofibrato, octreotide e ceftriaxone). Outro cálculo importante, que representa de 10-30% das litíases, são os cálculos pigmentares. Formados basicamente por bilirrubinato de cálcio, possuem menos de 25% de colesterol em sua composição. Podem ser pretos, marrons ou castanhos. Os negros são formados na própria vesícula, e geralmente são pequenos, irregulares e múltiplos. Ocorrem em grande parte nos pacientes com cirrose ou hemoglobinopatias (anemia falciforme). Já os marrons são formados nos ductos biliares, e estão mais relacionados com estase (dilatação crônica de colédoco) e infecção da bile. Comum em pacientes com nutrição parenteral total. Os fatores de risco para o cálculo biliar, então, contemplam: infecção e estase biliar, divertículo do duodeno justa papilar, cirrose, hemólise crônica e nutrição parenteral total. •Função da vesícula: absorção de água, armazenamento da bile, secreção de muco, que altera sua fluidez e contração por estímulo hormonal para esvaziamento adequando (especialmente no período pós-prandial). •Clínica: 60 a 80% dos pacientes com litíase biliar são assintomáticos (não são candidatos a tratamento). O risco anual de desenvolver sintomas é de 1 a 2%, ocorrendo principalmente nos primeiros 5 anos após o diagnóstico. Um importante diagnóstico diferencial é a dispepsia funcional. A dor na colelitíase acontece, basicamente, quando um desses cálculos, na tentativa de sair da bolsa, obstrui (parcial ou totalmente) o ducto cístico. Essa dor é em HP ou epigástrio, com irradiação pro dorso ou ombro direito. Raramente pode irradiar para HE ou retroesterno. Ela acontece de 15 minutos a 2 horas após a alimentação (pior se esta for copiosa). A dor pode durar até 2 horas e os episódios podem acontecer até mesmo com anos de intervalo entre os mesmos. Quando a dor surge à noite, ela acorda o paciente, é intensa. Pode gerar náuseas e vômitos. O exame físico desses pacientes pode ser normal, talvez com leve dor no HP. Assim que o cálculo deixar o ducto cístico e regressar à vesícula, o indivíduo para de sentir dor. •Diagnóstico: a anamnese é muito importante no diagnóstico, clarificando a natureza da dor. A confirmação da litíase, assim, é dada pelo ultrassom, com uma sensibilidade muito boa (é melhor que tomografia e ressonância). O achado típico é um foco ecogênico com sombra acústica (móvel). Se houver líquido peri-vesicular, o raciocínio deve ser direcionado para a possibilidade de colecistite aguda. A coledocolitíase, complicação da colelitíase, pode sim ser vista na ecografia, mas a sensibilidade cai para 50% (será visto como dilatação da via biliar comum). A colângio ressonância também é útil no diagnóstico da doença, alcançando mais de 90% de sensibilidade. •Diagnóstico diferencial: seriam patologias cuja sintomatologia circunda a “cólica biliar”. Algumas delas são: doença péptica (não é pós-prandial), DRGE (acompanhada de pirose e regurgitação), dispepsia (não tão intensa), espasmo esofagiano (dor torácica) e nefrolitíase sintomática (mais em flanco). •Tratamento: -Colelitíase assintomática: o tratamento é a colecistectomia, mas é indicada apenas em pacientes com DM, anemia falciforme, vesícula em porcelana ou imunossuprimidos em uso de quimioterápicos (ciclosporina e tacrolimos). Em pacientes sem essas patologias, geralmente não se faz nada. -Colelitíase sintomática: a cirurgia é o tratamento padrão-ouro. A colecistectomia, assim, é feita de forma videolaparoscópica (apenas 5% tem intercorrência e precisam migrar para a laparotomia). Algumas outras alternativas, mais paliativas, seriam a administração do ácido ursodesoxicólico (reduzir saturação do colesterol e dissolver cálculos) e litotripsia extracorpórea por ondas de choque, que resolve, mas que gera alta recidiva do quadro. Em paciente cirrótico descompensado há contraindicação da colecistectomia, assim como alguns outros casos que merecem análise antes da operação. •Complicações: colecistite aguda, coledocolitíase e colangite são descritas nesse momento. Para ciência, pancreatite aguda, colecistite crônica, vesícula calcificada e neoplasia de vesícula também são decorrentes dos processos da litíase biliar. -Colecistite aguda: acontece quando o cálculo obstrui o ducto cístico e ali fica travado, sem conseguir ir à frente ou retroceder. Essa obstrução causa dilatação da vesícula (aumento da pressão), inflamação e infecção bacteriana secundária. A dor é em HD com intensidade maior e mais duradoura (às vezes o paciente chega com 3 dias de dor). Náuseas e vômitos são frequentes, e ocorre febre. No exame físico, dor no HD e epigástrio e sinal de Murphy positivo (para de inspirar quando HD palpado). Há uma massa palpável, além disso, em 20% dos casos. A icterícia também se faz presente, mas, se a bilirrubina total for acima de 4, desconfiar de coledocolitíase. Na colecistite aguda, as bactérias comuns que causam a infecção são E. Coli, Klebsiela, strepto e proteus. O tratamento é ficar em NPO (sem ingerir nada), fazendo hidratação intravenosa. É usada, então, antibioticoterapia empírica. Depois, programar a cirurgia (colecistectomia muitas vezes é feita no mesmo dia). A colecistite aguda, em raros casos, pode complicar, causando perfuração, abscesso, fístula ou síndrome de Mirizzi (cálculo obstruindo o ducto cístico e o ducto comum adjacente). -Coledocolitíase: é examinador-dependente (na ecografia).O cálculo fica impactado no colédoco. 10 a 15% dos pacientes cursam com cálculo na via biliar principal, e na maioria das vezes é causada pela migração desses cálculos (em casos raros a litíase pode se formar no próprio colédoco). Dor é um sintoma comum (é menor que na colecistite, acontecendo também em HD e epigástrio) e, nesse caso, haverá icterícia. Enzimas hepáticas alteradas também são comuns. Se houver febre, ficar atento ao possível desenvolvimento para colangite. A diferença pra hepatite é que aqui a dor é intensa no abdome (dor em “cólica”). Para diagnóstico, fazer os exames laboratoriais (aminotransferases, fosfatase alcalina, GGT, bilirrubinas) e ecografia (medida de colédoco e presença de cálculo). O ultrassom tem, em média, 40% de sensibilidade e 80% de especificidade em cálculos no colédoco. A tomografia aqui não é útil, mas a colangioressonância, bem como a eco-endoscopia, é muito sensível e específica. O tratamento é, então, a CPRE (colangiopancreatografia retrógrada endoscópica), cuja função é invasivamente retirar o cálculo do colédoco. O risco é o desenvolvimento de pancreatite aguda por causa do contraste. Esses pacientes não podem manter a vesícula, porque o espaço dilatado se torna propício à ascendência de bactérias através do intestino. -Colangite: consequência da coledocolitíase (infecção). Característica pela tríade de Charcot (dor em HD, febre e icterícia) ou, significando mais gravidade, a pêntade de Reynolds (charcot + choque hipovolêmico e alteração de consciência). A febre geralmente é alta, e é acompanhada de bacteremia. Leucograma e enzimas hepáticas estão alterados nessa patologia. O tratamento consiste em controlar os sintomas, fazendo hidratação endovenosa. Além disso, antibioticoterapia empírica e fazer CPRE e colecistectomia em seguida. Existe, ademais, a colecistite acalculosa, que é mais rara e acomete pacientes de UTI. Ocorre uma isquemia, estase biliar e distensão da parede da vesícula biliar. AIDS é um fator de risco. A clínica envolve febre, leucograma infeccioso, e dor abdominal de menor intensidade. O tratamento é o mesmo da colecistite aguda. PANCREATITE AGUDA – MEDICINA UFCSPA A incidência é crescente no mundo, devido à epidemia de obesidade (fator de risco para colelitíase, que é o principal causador da pancreatite aguda). A mortalidade, entretanto, decaiu nos últimos anos (evolução da medicina), mas ainda é em torno de 5%. A pancreatite aguda, então, é o processo inflamatório agudo do pâncreas, com envolvimento ou não de outros órgãos. A definição clínica respeita a tabela abaixo. Para configurar diagnóstico, são necessários pelo menos 2 dos critérios abaixo 1- Sintomas de pancreatite Dor em faixa no abdome superior 2- Elevação de lipase e amilase >3x LSN 3- Achados radiológicos Pâncreas edemaciado ou com necrose A pancreatite pode ser aguda, crônica (com agudizações ou não). A pancreatite alcoólica é, conceitualmente falando, uma pancreatite crônica, mas é tratada como aguda, devido às agudizações. •Pancreatite aguda: pode ser classificada conforme o índice atlanta, exibido abaixo. A forma leve é a mais comum, a resolução se dá em 1 semana e ela não envolve falências orgânicas. Ranson de 0 a 2. Na forma moderada já há falência orgânica transitória (em menos de 48 horas) ou complicações locais. Ranson 3. Na grave a falência orgânica persiste por mais de 48 horas. Outra classificação possível, em relação à pancreatite aguda, é intersticial (pâncreas com impregnação normal por contraste) e necrosante (má perfusão em mais de 30% do órgão). A necrosante se relaciona com os quadros graves. -Complicações locais: 1) Coleções peripancreáticas → coleções líquidas não delimitadas por parede. Ocorrem em 30-50% dos casos de pancreatite, e já aparecem nas fases iniciais. A resolução, na maior parte dos casos, é espontânea. 2) Pseudocistos → são persistentes (4 a 6 semanas). Configuram-se como cápsulas de parede fibrosa ou tecido de granulação. 3) Necrose pancreática → pode ser estéril ou infectada. A necrose pancreática delimitada (walled-off necrosis) tem estrutura semelhante ao pseudocisto, mas com localização intrapancreática. Além disso, ela provém da liquefação da necrose, que ocorre cerca de 2 meses após o início da necrose. O conteúdo é mais espesso no início – não drenar precocemente (esperar pelo menos 4 semanas caso for necessária a drenagem). 4) Abcesso pancreático → reunião de pus intra-abdominal, ocorrendo após quadro de pancreatite. 5) Hemorragia → ocorre por formação de pseudoaneurisma (erosão de vasos peripancreáticos). -História natural: a mortalidade atinge um pico logo no início, sendo que 1/3 das mortes ocorrem nas primeiras 48 horas (cascata de inflamação e falência orgânica). Todo caso de pancreatite, dessa forma, deve ser considerado potencialmente grave. O segundo pico de mortalidade ocorre devido a infecções. As sequelas da pancreatite grave envolvem estenose de ducto pancreático (que leva à pancreatite crônica obstrutiva), DM (insuficiência endócrina) e má absorção intestinal. Há duas fases na história natural da doença: 1ª fase → cascata inflamatória intensa, com gravidade relacionada às falências orgânicas extra-hepáticas. Nesse quadro infecções são incomuns (SIRS decorrente da pancreatite causa quadro de febre, taquicardia, hipotensão, disfunção respiratória e leucocitose). Dura em média 1 semana. 2ª fase → ocorre em menos de 20% dos casos, mas dura semanas e até meses. Uma complicação anatômica é a necrose pancreática. Os quadros infecciosos são mais comuns aqui. -Fisiopatologia: a tripsina nas células acinares, proveniente da conversão do tripsinogênio, cataliza a transformação de proenzimas em enzimas ativas. Estas autodigerem o pâncreas, liberando ainda mais enzimas, num círculo vicioso. A tripsina, ademais, ativa o sistema complemento e cininas. A patogênese da pancreatite biliar não é clara, a melhor hipótese é que ocorre um refluxo biliar pelo ducto pancreático após obstrução do colédoco. A patogênese da pancreatite alcoólica, da mesma forma, também não está completamente explicada, mas se espera que seja em decorrência da disfunção exócrina do pâncreas, além de mudanças no metabolismo de lipídios, estresse oxidativo e ativação de células estreladas no pâncreas (tudo levando à fibrose). -Condições predisponente: são duas as principais situações que subsidiam o aparecimento da pancreatite: a) litíase biliar → 40% dos casos de pancreatite aguda. Mais em mulheres do que em homens, por volta dos 40 anos. De forma alguma se deve dar alta sem CCT (recidiva altíssima nos próximos meses). b) álcool etílico → 30% dos casos de pancreatite “aguda” (é pancreatite crônica agudizada). Em países desenvolvidos é a causa mais importante. Ocorre mais em homens, com 40 anos, cujo consumo de álcool é abusivo e acontece por mais de 5 anos. Há, ainda, centenas de outras causas de pancreatite aguda, desde neoplasias, infecções e condições pós-operatórias. -Apresentação clínica: dor em faixa no abdome superior, irradiada para o dorso, desencadeada por alimentação (pacientes ficam com medo de comer) e aliviada por posição de “prece maometana”. Náuseas e vômitos também são comuns. Se houver icterícia, favorece o diagnóstico de pancreatite por obstrução de via biliar. Nos casos graves haverá uma série de outras manifestações: SIRS, distensão abdominal, derrame pleural (mais à esquerda), SARA, equimose nos flancos (sinal de Grey Turner) ou em região periumbilical (sinal de Cullen), paniculite (nódulos subcutâneos avermelhados distribuídos pelo corpo, relacionados à necrose da gordura), poliartrite e tromboflebite (membros inferiores). -Diagnóstico: o aumento da amilase e/ou lipase em 3x o LSN indica com bom grau de certeza a pancreatite. A amilase se eleva em 6 a 12 horas do início do processo e ficará aumentada por 3-5 dias (se não houver complicações).Sua sensibilidade é de acima de 85%, mas passados alguns dias ela já perde a importância. A especificidade não é tão saliente. Ela pode se relacionar, ainda, à pancreatite por hipertrigliceridemia. A amilase, além disso, pode estar relacionada a casos de insuficiência renal, comprometimento de vísceras, hiperamilasemia familiar, macroamilasemia, doenças de glândulas salivares, doenças das tubas uterinas, cistoadenocarcinomas papilares de ovário, cistos de ovários benignos, e em carcinomas de pulmão. A lipase, por outro lado, tem elevação precoce também, entretanto permanece elevada por mais tempo, favorecendo a sensibilidade. Ademais, possui alta especificidade, podendo estar alterada, no entanto, em casos de insuficiência renal e comprometimento de vísceras. Outras alterações laboratoriais também se fazem evidentes, como a leucocitose (não necessariamente atrelada à infecção), hiperglicemia e hipertrigliceridemia, ASL/ALT/FA/BT/BD em pancreatites biliares, e hipocalcemia (associada à hipoalbuminemia). Em relação aos exames de imagem, o Rx simples de abdome já teve mais valor do que o é atribuído atualmente, mas as alterações visíveis de pancreatite seriam sinal da alça sentinela e sinal da amputação do cólon. O Rx de tórax é importante para averiguar alterações pulmonares (1/3 dos pacientes desenvolvem). Já o US de abdome é o mais relevante de início (colelitíase). Em alguns pacientes pode ser empregado a TC de abdome contrastada (avaliação de complicações e descarte de outras doenças intra-abdominais), o RM com gadolíneo (pode substituir TC), a colangioRM (alta acurácia na coledocolitíase), a ecoendoscopia e o CPER (remoção de cálculos no colédoco se houver colangite simultânea). -Avaliação prognóstica: nas primeiras 48 horas, como já dito, todo paciente é considerado potencialmente grave. Quanto a sinais de falência orgânica, se persistirem por mais de 48 horas, a mortalidade é em torno de 36%. Caso esses permaneçam por menos de dois dias, a mortalidade é praticamente nula. Em caso de SIRS, assim, quando os sintomas duram mais que 48 horas, a mortalidade é de 25%; menos de dois dias, então, a mortalidade baixa significativamente: 8%. Se SIRS for ausente o risco de morte é menor que 1%. A escala de Ranson avalia com mais precisão o prognóstico. ◘Ranson < 2 → pancreatite leve (mortalidade de 2,5%) ◘Ranson >3 → pancreatite grave (mortalidade de 62%) *BUN = nitrogênio ureico sanguíneo Outro parâmetro importante é a PCR acima de 150 mg/L, denotando pior prognóstico ao caso. -Tratamento: é calcado essencialmente em 3 pilares. O primeiro é a expansão volêmica vigorosa, feita com soro fisiológico ou Ringer lactato, para corrigir a hipovolemia que esses pacientes sofrem (o líquido desses pacientes migra para o terceiro espaço, por conta da cascata inflamatória que acomete os tecidos). O segundo pilar consiste no controle da dor por opioides, sendo a morfina a melhor opção. O terceiro é o NPO (jejum absoluto), num período inicial e o mais breve possível, até que o paciente pare de ter náuseas, vômitos e dor abdominal. O uso da sonda nasogástrica geralmente não é usado, e é reservado a pacientes específicos. Tão logo o paciente volte a ter função intestinal, com parada dos sintomas da pancreatite, deve- se repor a nutrição via oral, de maneira gradual. É sempre importante a monitorização dos sinais vitais, incluindo oximetria e controle da diurese. Em caso de sinais precoce de falência orgânica, encaminhar à UTI. Em relação à antibioticoterapia, se reserva para fins de tratamento de infecções, e não profilaxia. Se houver necrose pancreática infectada, usar ciprofloxacina + metronidazol, pela penetração. O imipenem também deve ser considerado, em caso de suspeita de bactérias resistentes. A CPER deve ser usada em caso de pancreatite com coledocolitíase persistente. A necrosectomia é controversa pela evolução pós-operatória. Reservada a pacientes com necrose infectada não responsivos a antibióticos. DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA – MEDICINA UFCSPA A DHGNA ou, também chamada, esteatose associada a função metabólica é o acúmulo de triglicerídeos no tecido hepático (mais que 5% de esteatose nos hepatócitos), geralmente gerada por excesso de açúcares e carboidratos. Ela compreende a esteatose simples, que significa apenas gordura e não há dano aos hepatócitos; e a esteato-hepatite (NASH), que se refere à injúria hepatocelular (balonização + infiltrado) ou fibrose. A última pode evoluir para cirrose (9 a 20%) ou CHC. É a doença hepática mais frequente, abarcando de 17 a 46% de todos adultos (com mais frequência em obesos e pessoas com síndrome metabólica). Estudos mostraram que 90% dos obesos possuem esteatose. A prevalência mundial da NASH é de 3 a 5%. A DHGNA é a causa mais comum de elevação inexplicável de TGP. É também uma das causas de cirrose criptogênica, além de ser uma das primeiras causas em lista de transplante hepático. A mortalidade é significativa, sendo o prognóstico de NASH pior que de DHGNA, alcançando 26x mais chances de morte do que em pacientes sem doença hepática (a causa da morte em si, embora se origine na doença do fígado, na maior parte, é cardíaca). O pior risco, entretanto, é quando há fibrose, piorando o quadro de mortalidade. •Síndrome metabólica: é um conjunto de situações que tem como base a resistência à ação da insulina. Se caracteriza por pelo menos 3 dos critérios abaixo. Representa 70% dos pacientes com NASH. 1) Obesidade → IMC > 30 kg/m² ou circunferência abdominal > 88cm na mulher e 102 cm no homem 2) HAS → sistólica > 130; ou diastólica > 85 3) DM2 4) Triglicérides → > 150 mg/dL 5) HDL → < 40 em homens e < 50 em mulheres. Todos os pacientes com esteatose hepática devem ser rastreados quanto à síndrome metabólica, pois têm risco aumentado de DM, evento cardiovascular e HAS. •Patogênese: a causa é multifatorial. O polimorfismo PNPLA3 está relacionado, assim como a resistência insulínica, além da liberação de adipocinas (ação tóxica e inflamatória), famílias específicas de bactérias e excesso de gorduras. •NASH: além da esteatose, para confirmação desse quadro, é necessária a presença de balonização hepatocitária e infiltrado inflamatório (vistos na biópsia). A história natural prevê que, em 10 anos, 20% evoluem para cirrose e 8% morrem por causa hepática. Os fatores de risco para evoluir para fibrose ou para cirrose são: idade acima de 50 anos, DM (maior risco de progressão e agressividade, além de ser um fator de risco para CH e CHC), síndrome metabólica e relação AST/ALT > 1. Em geral, a ALT é mais elevada na esteato hepatite não alcoólica, diferentemente da alcoólica. Mas, quando isso se inverte, e AST fica maior que ALT, temos um cenário mais propício para o desenvolvimento, então, de fibrose e cirrose. Diagnóstico de DM II •DHGNA – História clínica e diagnóstico A maioria dos pacientes é assintomática. É importante excluir doença hepática alcoólica (consumo de homens deve ser menor que 30g e mulheres 20g/dia), além de outras causas secundárias, como medicamentos. O estilo de vida, assim como hábitos alimentares e de atividade física, é determinante no desenvolvimento da doença e na progressão ao NASH. Infiltrado inflamatório Em relação ao diagnóstico, a esteatose hepática pode ser plotada na ecografia, RM ou biópsia (em casos com menos de 20% de esteatose, pode resultar falso negativo). Se der positivo, e o paciente for obeso (pelo IMC) ou tiver DM 2, já se configura o diagnóstico de MAFDL (nova nomenclatura, que significa: doença hepática gordurosa associada à disfunção metabólica – antigo DHGNA, mas ainda em discussão). Entretanto, se o paciente for magro e não tiver diabetes, precisa ter pelo menos 2 riscos metabólicos, que seriam: HAS, triglicerídeo > 150, HDL <40, pré-diabete e outros parâmetros colocadosna imagem abaixo. Em relação ao ultrassom, ele tem sensibilidade de 60- 94%, a depender do grau de esteatose. Causa um aumento da ecogenicidade, cuja principal causa é a esteatose. A especificidade e sensibilidade ficam prejudicadas em pacientes obesos ou pessoas com doenças adjacentes. É operador dependente e não diferencia esteatose de NASH. Já a ressonância é mais acurada que o ultrassom, mas não se faz de rotina. A elastografia (fibroscan) geralmente é usada quando já há o diagnóstico de gordura e deseja-se avaliar o nível de fibrose (mede a rigidez hepática). Ao que cabe à biópsia hepática, ela é o melhor exame para diferenciar NASH de esteatose. Também consegue mensurar a esteatose e identificar a inflamação. A biópsia é indicada em casos de: risco de NASH ou fibrose avançada; suspeita de NAFLD quando outras etiologias de NASH não podem ser excluídas; e em caso de indicação de tratamento medicamentoso, cujo grau de fibrose precisa ser 2 ou mais. Esteatose na fibrose → mais que 5% na amostra Grau leve 5 a 33% Grau moderado 33 a 66% Grau acentuado Maior que 66% Esteatose importante (cerca de 70%) •Tratamento: completamente correlacionado à dieta, com sugestão de redução do aporte calórico (600 a 800 kcal a menos por dia). A ingestão de proteínas deve ficar entre 1 a 1,5 g/kg/dia. Carboidratos simples (pão e bolacha) devem ser evitados. A perda de peso, entretanto, deve ser gradual com no máximo 0,5kg por semana. Alterações bruscas de peso podem se associar com inflamação portal e fibrose. No entanto, para que ocorra benefício clínico, o paciente deve perder em torno de 5 a 10% do peso total. A dieta e estilo de vida, dessa forma, reduzem as aminotransferases, melhoram a esteatose e inflamação e, ainda, melhoram a fibrose. O exercício físico também se faz útil, ao melhorar a resposta à insulina e reduzir a esteatose hepática. O ideal seria 30 minutos de aeróbico, de moderado a intenso, 3 a 5 vezes por semana (o exercício deve ser mais frequente/intenso se o paciente não aderir à dieta). Importante negociar com o paciente. -Pioglitazona: droga que melhora o padrão histológico, normaliza ALT e resistência à insulina. É aprovado para uso no DM2. Possui efeitos colaterais, como ganho de peso, fratura óssea e ICC. É usada em pacientes selecionados (geralmente com grau 2 de fibrose). -Vitamina E: melhora esteatose, inflamação e balonização. Tem resolução de NASH melhor que placebo. A dose é de 800 Ul/dia. Há evidências que a longo prazo a vitamina pode aumentar o risco para AVC hemorrágico e câncer de próstata, em homens acima de 50 anos. A recomendação é uso em não cirróticos e não diabéticos. A associação das duas drogas acima descritas é possível, a depender da análise do paciente. DRGE E ÚLCERA PÉPTICA – MEDICINA UFCSPA ÚLCERA PÉPTICA Úlcera é uma solução de continuidade que ultrapassa a mucosa e atinge a submucosa. Diz-se “péptica” por causa da zona com secreção cloridropéptica: estômago e duodeno. É muito prevalente na população geral, 5 a 10% das pessoas terá em algum momento da vida. A incidência cresce em idosos, por causa do uso crônico de AINE’s. A complicação mais frequente é a hemorragia. A principal etiologia da úlcera é a bactéria Helicobacter pylori. Ela está presente em 1/3 da população, e a lesão provocada por ela é a gastrite crônica. A transmissão é fecal-oral, e associada à pobreza e ao convívio íntimo. 80% das transmissões ocorrem até os 15 anos de idade (falta de higiene ao ir ao banheiro). -Dispepsia: dor ou desconforto no abdome superior. Pode ser relatada como indigestão, gases, saciedade precoce, queimação, sensação de corrosão interna, etc. -Úlcera gástrica sem H. Pylori é por AINE! A duodenal, diferentemente tem outras causas -Gastrite aguda produz sintomas, a gastrite crônica é assintomática. Há alguns fatores que são agressivos à mucosa gastroduodenal. Os exógenos, já citados, referem-se ao uso de AINE e à bactéria H. Pylori; já os endógenos incluem HCl, pepsina (para formar o ácido), ácidos biliares e lisolecitina. •Helicobacter pylori Se posiciona junto às células antrais gástricas, sob a camada de muco. O pH no estômago é, normalmente, de 2-3, mas a H. Pylori excreta a urease, que transforma a ureia em amônia e gás carbônico. Isso alcaliniza o muco ao redor do sítio da bactéria, subindo os valores de pH para 4-5. As células G, produtoras de gastrina, percebem que o pH está mais elevado nessa região e produzem mais gastrina para produzir mais ácido para baixar esse pH. Acontece, então, a hipercloridria, que, por sua vez, gera alterações no duodeno (metaplasia gástrica), para se adequar ao novo pH. Como se forma um tecido parecido ao gástrico, o H. Pylori migra também ao duodeno, com a camada de muco que se desloca com a peristalse, e lá se instala. Isso já pode causar inflamação no duodeno (duodenite). Há um fator genético associado, entretanto, para o desenvolvimento, de fato, da úlcera, que seria o cagA. H. Pylori → gastrite antral → aumenta gastrina → aumenta HCl → metaplasia gástrica no duodeno → gastrite antral / duodenite (cagA) → úlcera duodenal •Clínica: dor epigástrica em queimação (pode ser em pontada), que pode se irradiar para os hipocôndrios ou para as costas (dor em cluster). A periodicidade é marcante: 2 a 3 semanas com episódios de dor, depois cessa, voltando os mesmos episódios apenas meses depois. Durante os dias de crise, também, a dor é intermitente. •Diagnóstico: a forma mais prática e usualmente usada é a endoscopia, exame no qual a úlcera pode ser vista e deve ser biopsiada. Toda úlcera gástrica precisa ser biopsiada, a úlcera duodenal é benigna, a priori. O diagnóstico diferencial pode ser colelitíase, esofagite, SII, dispepsia funcional e câncer. •Tratamento: se a causa for AINE’s, afastar a droga (se não puder afastá-la, usar IBP). Se o paciente tiver H. Pylori positivo, erradicar (após retirar a dor do paciente com IBP). Se os dois marcadores estiverem negativos, pesquisar Zollinger Ellison (gastrinoma). A terapia mais efetiva consiste em: IBP (60mg) + claritromicina (1g) + amoxicilina (2g) // ao dia, durante 14 dias, para cura e erradicação da bactéria. •DRGE É a queixa mais frequente dos ambulatórios e consultórios de gastroenterologia (cerca de 13% dos brasileiros), porém cerca de 70% das pessoas com refluxo nunca foram ao médico por conta dessa condição. O fator definidor é o retorno de conteúdo gástrico do estômago para o esôfago. Apresenta uma variedade de sintomas (com ou sem lesão) que diminuem a qualidade de vida do paciente. A regurgitação é frequente. Por definição, a DRGE envolve a apresentação de azia ou regurgitação em pelo menos 2 episódios por semana. À medida que o tempo avança, o H. Pylori dos pacientes acaba servindo como fator de proteção para refluxo, pois ocorre uma atrofia gástrica, diminuindo a acidez. Em outras palavras, H. Pylori protege para refluxo, mas é fator de risco para úlcera e câncer. Um fator de risco para o refluxo é obesidade. •Mecanismo da DRGE: consiste, basicamente, no relaxamento transitório do esfíncter esofagiano inferior (EEI). Esse esfíncter relaxa fisiologicamente quando ocorre a alimentação. Nos pacientes com refluxo, no entanto, há um relaxamento entre as refeições, que não é fisiológico. Assim, considerando que a pressão abdominal é positiva e a pressão torácica é negativa (em relação à gravidade), quando o esfíncter abre, o material do estômago naturalmente sobe para o esôfago, para equiparar a pressão, gerando esofagite. Por isso, gestação e obesidade são grupos de risco, pois têm a pressão abdominal, nesses grupos, é ainda maior. •Fatores determinantes: alguns fatores regem a intensidade do quadro, como volume gástrico (quantidade de comida), potência do material refluído (ácido é pior), depuração esofágica (capacidade do esôfago de empurrar de volta) e a resistência
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