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Podemos iniciar pelo que compreendemos sobre memória, a memória não é a mesma coisa que lembrança, pois a lembrança é uma experiência individual de um evento. Memória, por sua vez, não é necessariamente uma experiência individual, pois pode reproduzir uma visão do passado compartilhada/coletiva e que nem todos que partilham dela vivenciaram. Dessa forma, a memória é uma construção que pode ser transmitida para gerações a frente. Uma vez esclarecida essa questão, é importante definir que a memória é uma reconstrução do passado feita sem o processo crítico pelo qual a história é feita e isso acontece porque a memória não passa por uma análise crítica das fontes e não utiliza de metodologias científicas pois, como dito anteriormente, a memória é uma reconstrução do passado, que é feita de acordo com interesses políticos, econômicos ou ideológicos do presente. Então a falta de embasamento crítico da memória faz ela ser instrumento para mitificar ou demonizar acontecimentos ou personalidades do passado. A construção do conhecimento histórico não segue o mesmo caminho que o da memória. Isso porque a história passa por um longo processo de análise científica e esse processo inclui a análise científica das fontes e o uso de uma metodologia. Importante ressaltar que a memória é objeto de pesquisa do historiador, ela pode ser usada para análise do processo de construção de uma memória específica e dos interesses que estão por trás dela. Um exemplo é a memória da ditadura militar, período que o brasil foi governado por militares entre 1964 e 1985. A primeira construção da memória exalta o golpe de 1964 como “revolução de 1964”. Os estudos feitos pelos historiadores concluíram que os ocorridos entre os dias 31 de março e 2 de abril de 1964 foram um golpe, a justificativa de que ele foi feito para “evitar uma ditadura comunista” também é evocada pelos apoiadores da ditadura. Outras memórias da ditadura militar podem ser analisadas, como a ideia de que essa forma de governo foi “benéfica para o brasil economicamente”. O contraponto são as análises na historiografia que a gestão econômica ruim desse período que deixou como saldo o aumento da inflação, da desigualdade social e da dívida externa, por exemplo. A criação de heróis também é uma marca da memória e não deixa de acontecer por interesses políticos, econômicos ou ideológicos. Alguns personagens históricos que a memória pode glorificar ou demonizar de acordo com os diferentes interesses: brilhante ustra: ex-chefe do DOI-CODI e condenado por tortura durante a ditadura militar, ustra é defendido por aqueles que ignoram, negam ou apoiam todos os seus crimes e exaltam-no como um grande “herói” nacional. A mitificação de personagens históricos pode acontecer também pelo próprio estado, quando este possuir interesses em construir uma certa memória histórica. Um dos debates mais importantes que acontecem nos meios acadêmicos envolve os conceitos de memória e história. Os historiadores discutem sobre questões do que é memória, memória coletiva, do papel dela na construção do saber histórico ou da "história oficial”. Essas reflexões são de extrema importância na formação de um historiador e na produção de conhecimento sobre história. A função deste debate é fornecer ferramentas necessárias para que conseguimos desenvolver habilidades cognitivas afim de diferenciar o que é memória do que é história. Assim que se desenvolve essas habilidades, terá capacidade crítica para ver as diferenças e será capaz de identificar interesses por trás de construções de memória. https://brasilescola.uol.com.br/historiab/ditadura-militar.htm https://brasilescola.uol.com.br/historiab/golpe-militar.htm https://brasilescola.uol.com.br/historiab/golpe-militar.htm