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centro de memoria e ciencia da informação

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SILVANA APARECIDA FONTANELLI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Centro de Memória e Ciência da Informação: 
uma interação necessária. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2005 
 
SILVANA APARECIDA FONTANELLI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Centro de Memória e Ciência da Informação: 
uma interação necessária. 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso (TCC) apresentado 
ao Departamento de Biblioteconomia e 
Documentação da Escola de Comunicações e Artes 
da Universidade de São Paulo para obter o grau de 
Bacharel em Biblioteconomia. 
 
 
 
Orientadora: Profª Drª Johanna W. Smit 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2005 
 
Fontanelli, Silvana Aparecida 
Centro de memória e ciência da informação: uma interação 
necessária / Silvana Aparecida Fontanelli. – São Paulo: S.A. 
Fontanelli, 2005. 
105p. 
 
Monografia (Trabalho de Conclusão do Curso de 
Biblioteconomia) – Escola de Comunicações e Artes – 
Universidade de São Paulo, 2005. 
 Orientadora: Profª Drª Johanna W. Smit 
 
 
1. Centro de Memória. 2. Instituição-memória. 3. Ciência da 
Informação. 4. Memória. I. Autor. II. Título. 
 
 
Termos de Aprovação 
 
 
 
 
 
 
 
Nome do autor: Silvana Aparecida Fontanelli 
Título da Monografia: Centro de Memória e Ciência da Informação: uma interação necessária. 
 
Presidente da Banca: Profª Drª Johanna W. Smit 
Banca Examinadora: 
Profª Drª Maria Christina Barbosa de Almeida Instituição: ECA/USP 
Profª Drª Maria de Fátima G. M. Tálamo Instituição: ECA/USP 
 
 
 
 
 
Aprovada em: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para o João pelo apoio incontestável e pelo amor imensurável. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
À professora Johanna pelo apoio, pela paciência e pelas importantes observações 
durante a realização deste trabalho. Às professoras Asa e Maria Christina pelas palavras de 
apoio num momento delicado da minha vida. E a todo o pessoal do CBD que dividiu comigo 
muitas inquietações, mas também muitas alegrias que ficarão na minha memória. Em especial 
ao Zé (José Estorniolo) e à Juliétti, que me acompanharam durante boa parte dessa trajetória e 
que sempre me apoiaram e me estimularam. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Guardar 
 
Guardar uma coisa não é escondê-la ou 
trancá-la. Em cofre não se guarda nada. 
Em cofre, perde-se a coisa à vista. 
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por 
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. 
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer 
vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é estar 
acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela. 
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro. 
do que um pássaro sem vôos; 
por isso se escreve, por isso se diz, por isso se 
publica, por isso se declama e declara um poema: 
para guardá-lo; 
para que ele, por sua vez, guarde o que se guarda, 
guarde o que quer que guarde um poema. 
Por isso o lance do poema: 
Por guardar-se o que se quer guardar. 
 
 Antonio Cícero 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FONTANELLI, Silvana A. Centro de Memória e Ciência da Informação: uma interação 
necessária. São Paulo, 2005. 105f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – 
Departamento de Biblioteconomia e Documentação. Escola de Comunicações e Artes. 
Universidade de São Paulo. 
 
 
Resumo 
 
As instituições-memória, consideradas como serviços de informação, são comparadas e 
analisadas para auxiliar o estudo da delimitação da atuação do centro de memória, entendido 
como instituição fundamental para a preservação da memória das organizações e do 
patrimônio cultural e histórico da humanidade. Enfatiza-se o papel do profissional da 
informação na administração e gestão dos documentos e informações que compõem o acervo 
do centro de memória. A análise engloba a relação entre memória e história; a definição dos 
lugares da memória e sua importância; o estudo das similaridades e especificidades dos 
serviços de informação (arquivo, biblioteca e museu), tendo como base a relação intrínseca e 
interdisciplinar que mantêm com a Ciência da Informação; e a apuração do papel do 
profissional da informação na transformação do centro de memória em um serviço cujo 
objetivo seja não só a preservação da memória da instituição, como também, e 
principalmente, a disponibilização dos dados de forma clara e eficaz, contribuindo para a 
produção de conhecimento, para o desenvolvimento da instituição e, quem sabe, para a 
transformação do indivíduo e da sociedade. 
 
 
Palavras-chave 
 
memória; história; centro de memória; instituição-memória, ciência da informação; 
informação; documento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lista de Abreviaturas 
 
 
 
ALA American Library Association 
CI Ciência da Informação 
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 
FID Federação Internacional de Documentação 
ICOM Conselho Internacional de Museus 
IIB Instituto Internacional de Bibliografia 
IID Instituto Internacional de Documentação 
Natis National Information System 
VINITI Instituto para a Informação Científica 
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura 
UNISIST Sistema Mundial de Informação Científica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
Resumo 
Lista de Abreviaturas 
Apresentação ....................................................................................................................... 10 
1. Introdução .................................................................................................................. 13 
1.1 Objetivo geral .................................................................................................... 15 
1.1.1 Objetivos específicos ................................................................................... 15 
1.2 Procedimentos metodológicos .......................................................................... 15 
2. A relação entre memória e história ............................................................................ 17 
3. Os lugares da memória e sua importância na preservação da memória coletiva ....... 25 
4. A Ciência da informação............................................................................................ 29 
4.1 Ciência da informação: sua história e conceituação .......................................... 29 
4.2 Informação e documento ................................................................................... 36 
4.3 Arquivologia, biblioteconomia, documentação e museologia: ciências da 
informação? ....................................................................................................... 45 
4.3.1 Arquivologia e arquivo ................................................................................ 46 
4.3.2 Biblioteconomia e biblioteca ....................................................................... 53 
4.3.3 Documentação e centro de documentação e informação............................. 60 
4.3.4 Museologia e museu .................................................................................... 65 
5. Do paradigma do acervo ao paradigma da informação/usuário: as ciências da 
informação e suas interfaces ...................................................................................... 74 
6. Centro de memória..................................................................................................... 80 
6.1 Um pouco de história......................................................................................... 81 
6.2 O centro de memória como serviço de informação ........................................... 83 
6.3 A constituição do centro de memória ................................................................ 88 
6.4 O centro de memória e o profissional da informação........................................93 
7. Considerações Finais.................................................................................................. 96 
Referências 
 
 
 
 
10
Apresentação 
“É pela memória que se puxam os fios da história. Ela envolve 
a lembrança e o esquecimento, a obsessão e a amnésia, o 
sofrimento e o deslumbramento [...] Sim, a memória é o 
segredo da história, do modo pelo qual se articulam o presente 
e o passado, o indivíduo e a coletividade. O que parecia 
esquecido e perdido logo se revela presente, vivo, 
indispensável. Na memória escondem-se segredos e 
significados inócuos e indispensáveis, prosaicos e memoráveis, 
aterradores e deslumbrantes.” 
Octavio Ianni 
Este trabalho se deve a fatores estritamente pessoais. Durante onze anos trabalhamos 
no Centro Pró-Memória do Club Athletico Paulistano (até outubro de 2002 denominado como 
Museu), sempre procurando manter uma postura crítica em relação às atividades ali 
desenvolvidas, no intuito de resgatar a importância quase perdida da memória do clube e, 
assim, recuperar seu próprio significado, dentro e fora da instituição. Para nossa satisfação, os 
produtos e serviços oferecidos demonstravam a importância do centro tanto para os 
associados quanto para os pesquisadores externos. 
 Entretanto, apesar da reconhecida importância desse tipo de trabalho, verificamos que 
não havia uma delimitação das atividades e da missão do Centro Pró-Memória, e que isso 
acontece não apenas no Paulistano, mas também em outras instituições que mantêm um setor 
responsável pela preservação e divulgação de sua memória. Nem sempre é fácil definir a 
missão de um setor desses e, principalmente, quais as suas responsabilidades. Percebe-se que 
algumas instituições confundem centro de memória com arquivo central ou centro de 
documentação. 
Em face dessa realidade, traçaremos breve histórico do surgimento e evolução dos 
estudos e trabalhos que enfocam a memória empresarial, além das iniciativas de criação de 
centros de memória em empresas e afins, mostrando que, a partir de meados dos anos de 
1970, surgiu uma maior preocupação com a coleta, organização e disponibilização da 
memória institucional. No início, restritos às instituições maiores, tais trabalhos, atualmente, 
alcançam instituições das mais variadas áreas, de portes variados e missões das mais 
específicas. Multinacionais, ONGs, Prestadoras de Serviços, Empresas do Terceiro Setor, 
enfim, tornou-se uma coqueluche a preocupação com a memória. Muitos acreditam que a 
realização de um bom trabalho no centro de memória da empresa trará benefícios e fortalecerá 
a imagem interna e externa da entidade. A questão da identidade da empresa tem sido um 
fator essencial a justificar o trabalho de valorização da memória empresarial, questão que se 
 
 
11
resolve à medida que os integrantes da corporação se sentem parte dela, se sentem os 
protagonistas de sua história e de seu desenvolvimento, e não apenas seus “funcionários”. 
Trabalhar com a memória de uma empresa é trabalhar com as memórias de cada um de seus 
integrantes, que se reconhecem como tais e, assim, constroem as identidades individuais e a 
coletiva — imprescindíveis para o desenvolvimento da instituição. 
Pretendemos também avaliar a importância da preservação e divulgação da memória e 
da história institucional como elemento de afirmação e projeção de uma imagem positiva da 
empresa perante o público. Em muitas instituições, há algum tempo, a memória entra como 
ingrediente estratégico. O que nos faz lembrar as palavras de Nassar (2004, p. 21): “[...] 
Recuperar, organizar, dar a conhecer a memória da empresa não é juntar em álbuns velhos 
fotografias amareladas, papéis envelhecidos. É usá-la a favor do futuro da organização e seus 
objetivos presentes. É tratar de um de seus maiores patrimônios. Depois com a memória na 
cabeça, é preciso contar as histórias”. 
A partir dessa análise, demonstraremos a importância dos centros de memória para as 
instituições, para isso tendo de delimitar mais claramente seu campo de atuação, de modo a 
não mais confundi-lo com o da biblioteca, o do arquivo, o do museu ou o do centro de 
documentação. O estudo teórico permitirá uma visão melhor dos pontos comuns e dos 
divergentes, bem como das particularidades da missão de um centro de memória. Desta 
forma, mostrar-se-á que o trabalho desenvolvido nesses centros também pode e deve ser 
responsabilidade dos profissionais da informação, em parceria com historiadores, 
conservadores e restauradores, etc., buscando "disponibilizar a informação certa, da fonte 
certa, para o usuário certo, no prazo certo, numa forma considerada adequada para o uso e a 
um custo justificado pelo uso", conforme Mason, citado por Smit (2001, p. 14). 
O trabalho será dividido em capítulos. Primeiramente analisaremos a relação, às vezes, 
um tanto conflituosa, entre história e memória. Em seguida, analisaremos a questão dos 
Lugares de Memória — expressão cunhada pelo historiador Pierre Nora. Partiremos da 
concepção de Lugares de Memória, mas enfatizaremos as instituições-memória mais 
conhecidas e ainda hoje importantes no tocante à preservação e à divulgação das várias 
memórias, a saber: arquivo, biblioteca, centro de documentação e museu. Nosso objetivo é, 
após a discussão sobre memória e história, inserir nessa problemática a questão das 
instituições que guardam e disponibilizam a memória. Em seguida, trataremos da Ciência da 
Informação, definindo-a, demarcando seu campo de ação e explicitando sua relação com a 
 
 
12
biblioteconomia, a arquivologia e a museologia. Nosso pressuposto é que todas essas áreas 
compõem a Ciência da Informação, embora muitos autores as estudem separadamente. A 
meta deste trabalho, entretanto (e sem perder de vista o fato de que são partes de algo maior), 
é traçar o perfil de cada uma delas, procurando valorizar as semelhanças e mostrar que as 
diferenças, quando existem, são fruto muito mais da técnica e metodologia de trabalho que 
propriamente das idéias e objetivos buscados. Para que fique mais claro, faremos um breve 
resumo histórico das origens de cada uma das instituições-memória. Concluídos os históricos 
e o exame comparativo e analítico das instituições-memória, passaremos a estudar os centros 
de memória, a partir dos resultados do estudo anterior. Analisando as características 
convergentes e divergentes dessa instituição-memória em relação às demais, esperamos 
demonstrar que ela também exige cuidados e mão-de-obra de profissionais especializados e 
das mais diversas áreas. Assim, o profissional da informação aparece como figura principal, 
uma vez que ficará responsável pela coleta, organização e disponibilização de dados, além da 
produção de conhecimento novo a partir de pesquisa no próprio acervo. 
Em suma, o trabalho objetiva demonstrar a importância do centro de memória como 
instituição-memória, ressaltando seu papel para o desenvolvimento de uma organização ou 
comunidade e para a construção de sua imagem social. 
 
 
 
13
1. Introdução 
“Diante da perda iminente, vive-se uma ‘fome de memória’ 
que se materializa, entre outros, na constituição de museus, 
centros de memória, de documentação e arquivo que 
possam preservar experiência de um cotidiano em vias de 
extinção.” 
Zilda Kessel 
No Brasil, há mais de vinte anos, muitas instituições começaram a criar setor ou 
departamento específico para a preservação da memória institucional. Antigamente, apenas 
algumas instituições — e, obrigatoriamente, os órgãos públicos de todas as esferas — se 
preocupavam com a alimentação e organização de seus arquivos. De uns tempos para cá, no 
entanto, a necessidade de guardar documentos pessoais, objetos, fotografias, etc., disseminou-
se largamente. Esta mudança de comportamento deveu-se à própria alteração ou dilatação dos 
objetos da História, principalmente após a fundação da Escola dos Annales, cujos 
historiadores passarama valorizar a pluralidade de fontes documentais, procurando as 
informações não somente nas tão privilegiadas fontes primárias dos arquivos históricos e 
oficiais. O próprio campo temático ampliou-se, tendo como conseqüência redefinições 
teóricas e metodológicas. Atualmente, faz-se história de temas tão diversos quanto, por 
exemplo, o estudo das flores e sua importância nas diferentes culturas, realizado pelo 
historiador e antropólogo Jack Goody, citado por Pallares-Burke (2000, p. 55); ou ainda a 
História das coisas banais, do renomado historiador Daniel Roche. Temas assim, muito 
provavelmente, eram até mesmo inconcebíveis durante a maior parte da história. 
Esta riqueza, resultado da evolução ou transformação da historiografia mundial, 
provocou alterações nas instituições-memória. Bibliotecas, arquivos, museus, centros de 
documentação e os centros de memória, tornaram-se locais de guarda das memórias do 
homem, por meio de informações registradas em diferentes suportes — desde um ofício até o 
depoimento oral de um trabalhador. 
Segundo a historiadora Heloisa Bellotto (1991, p. 183): 
A informação administrativa contida, enquanto validade jurídico-funcional, nos 
arquivos correntes e, posteriormente, como testemunho em fase intermediária ou 
como fonte histórica custodiada nos arquivos permanentes, não se restringe a si 
mesma. Se a considerarmos com maior abrangência, analisando-a como transmissão 
cultural, lançada para o futuro através de diferentes documentos grafados em 
diferentes suportes, ela pode significar muito mais, quando aliada a outros 
dados/informações oriundos de campos não-arquivísticos. 
Trata-se de algo em que vai muito além do próprio conteúdo do documento. Os 
conjuntos informacionais que se geram não podem ser definidos 
 
 
14
compartimentadamente como material de arquivo, de biblioteca ou de centro de 
documentação, por serem atípicos, como totalidade, a qualquer um deles. Estes 
conjuntos de dados constituem a memória. 
Enfim, o trabalho com a memória institucional utiliza documentos variados que não 
podem ser caracterizados apenas como documentos de arquivo. Os centros de memória 
desenvolvem trabalhos com especificidades relacionadas às “3 Marias”1 (arquivos, bibliotecas 
e museus), responsáveis pela guarda, preservação, organização e disponibilização da memória 
do homem. São nestas instituições que as descobertas e as experiências da humanidade são 
preservadas e, geralmente, estão disponíveis a quem interessar. 
Com base nas missões das instituições-memória da humanidade, o centro de memória, 
na maioria das vezes, é criado com a finalidade de preservar, organizar, disponibilizar e 
divulgar informações e documentos relativos à vida da instituição que os mantém. A partir de 
sua missão, concluímos o grau de importância que desempenha dentro da empresa, sindicato, 
clube, etc. Para Goulart (2002, p. 34) “[...] o papel mais importante dos documentalistas que 
concebem e organizam os centros de memória é o de ser intermediário entre as organizações e 
os pesquisadores, sendo sua principal responsabilidade, depois dos arquivos organizados, a 
interface entre as instituições detentoras dos arquivos e o mundo da pesquisa”. 
A cada dia surgem novos centros de memória e os trabalhos desenvolvidos pela equipe 
dos centros possibilitam que a troca de informações entre os profissionais da instituição 
contribua com o desenvolvimento da empresa e com a otimização de tarefas. Segundo a 
historiadora Silvana Goulart (2005, p. 17), “Os centros de memória hoje, apesar de 
comumente não serem concebidos como arquivos centrais, guardam documentos ligados às 
atividades-fim, [...] o que resulta na acumulação de registros de caráter substantivo para o seu 
funcionamento”. Entretanto, verificamos que a constituição do acervo dos centros de memória 
varia bastante. Algumas vezes, chegam a ser confundidos com o arquivo central da instituição 
ou então se tornam responsáveis por toda a documentação gerada pela empresa. A missão do 
centro de memória e a função que os documentos preservados e organizados representam são 
questões fundamentais a se levar em conta durante o processo de constituição do setor, para 
que as atividades e o valor atribuído aos documentos ou mesmo sua missão não sejam 
desvirtuados. 
 
 
1 Expressão criada por Johanna W. Smit e que será explicada de forma mais detalhada no decorrer do trabalho. 
 
 
15
1.1. Objetivo Geral 
Identificar o campo de atuação de um centro de memória e demonstrar sua 
importância na preservação, organização e disponibilização de seu acervo por meio de 
instrumentos de pesquisa, exposições e outros. 
 
1.1.1. Objetivos Específicos 
Relacionar história e memória coletiva e individual, inserindo os conceitos no trabalho 
das instituições-memória; 
Conceituar Ciência da Informação traçando sua interface com a arquivologia, 
biblioteconomia, documentação e museologia; 
Contextualizar o surgimento das instituições-memória — arquivo, biblioteca, centro 
de documentação e museu — e analisar as transformações das disciplinas relacionadas a elas 
e a relação com a Ciência da Informação; 
Contextualizar o momento histórico da criação dos centros de memória, relacionando-
o às alterações no estudo da história, ao surgimento e valorização de novas fontes 
documentais e também à valorização da informação na produção do conhecimento; 
Demonstrar a importância do trabalho desenvolvido no centro de memória e sua 
relação com o desenvolvimento da organização que o mantém; 
Demonstrar a importância e o papel desempenhado pelo profissional da informação no 
gerenciamento de um centro de memória. 
 
1.2.Procedimentos Metodológicos 
Este estudo teve como base literatura das áreas de história e memória, arquivologia, 
biblioteconomia, documentação, ciência da informação e museologia. Durante a pesquisa 
bibliográfica evidenciamos a dificuldade em localizar textos específicos sobre centro de 
memória. Então, optamos por trabalhar com textos sobre as outras instituições-memória e, a 
partir da análise de cada uma delas, com base na definição de seu acervo, sua missão, suas 
 
 
16
atividades (serviços e produtos) e seu público, destacar as similaridades e especificidades de 
cada uma, com o objetivo de definir o que é um centro de memória, instituição que, na 
maioria das vezes, desempenha papel que mescla um pouco de cada uma das demais 
instituições, mas que possui especificidades que o diferenciam. 
Com relação especificamente ao uso de textos em língua estrangeira, optamos por 
assumir a autoria das traduções. 
 
 
17
2. A Relação entre Memória e História 
"Nossa memória é nossa coerência, nossa 
razão, nossa ação, nosso sentimento. Sem 
ela, somos nada [...]” 
Luis Buñuel, cineasta 
 
“Se a memória se dissolve, o homem se 
dissolve.” 
Jorge Luis Borges 
O estudo das instituições-memória nos leva a pensar na própria definição de memória 
e na importância que estas instituições, a partir dos documentos que preservam, representam 
para o estudo e produção histórica, pois são, com freqüência, as principais fontes para os 
historiadores e demais pesquisadores. 
Há tempos, desde o surgimento da Escola dos Annales, os estudiosos utilizam, além 
dos documentos mais convencionais, depoimentos orais, obras de arte, monumentos, enfim, 
outros “Lugares de Memória”, que foram criados com o objetivo de perpetuar eventos, 
homenagear personagens ou mesmo criticar ou enaltecer algum acontecimento histórico, 
enfim constituir a memória nacional. 
O estudo da memória é antigo. Já no fim do século XIX, conforme Pinto (1998, p. 
209), surgiram trabalhos sobre o tema em vários campos de reflexão, em virtude, das 
alterações nas relações humanas advindas da urbanização, que tentava dissipar as lembranças 
individuais e designar um presente absoluto, rompendo com o passado. Podemos citar, os 
trabalhosde Henri Bergson, de Sigmund Freud e de Marcel Proust. Mas, para nossa análise, 
utilizaremos principalmente os trabalhos realizados por Maurice Halbwachs2 e Walter 
Benjamin3 que, desde os anos de 1920, se preocupavam com este assunto tão caro a toda a 
sociedade, pois os seres humanos possuem e preservam, das mais variadas formas, memórias 
e lembranças que permitem o processo de reconstrução do passado e lhes dão a possibilidade 
de perceber a própria existência e se reconhecer como indivíduos (WORCMAN, 1999). 
 
2 Principal estudioso das relações entre memória e história pública, segundo Bosi (1994, p. 53). 
3 Pensador da Escola de Frankfurt que se suicidou durante a II Guerra Mundial. Um de seus principais trabalhos é Sobre o 
Conceito de História no qual diz que há duas formas de memória: o monumento, feito para durar e significar, e o documento, 
aquilo que fica aos pedaços. Ao historiador cabe juntar os pedaços, atribuir-lhes significados e escrever a história, a partir de 
sua experiência presente (MATTOS, 1992, p. 151-4). Em outro trabalho exalta o fim da narração, demonstrando que as 
péssimas relações entre os homens prejudicam a realização da narração, e que com isso a troca de informações entre gerações 
torna-se quase que inexistente, o que atrapalha também a transmissão da memória, da experiência. Benjamin acreditava que 
narrar e ouvir são fundamentais para possibilitar a reflexão sobre o passado e sobre a transformação do presente. 
(GAGNEBIN, 2004 p. 85-91). 
 
 
18
É importante frisar que há maneiras diferentes de estudar a memória. Existem, por 
exemplo, os estudos de filósofos, psicólogos e psiquiatras que a estudam de forma isolada4. 
Enquanto que autores como Halbwachs relacionam a memória com as instituições sociais, 
considerando-a como um fenômeno social. Neste trabalho, analisaremos a memória, tanto a 
individual, quanto a coletiva e a subterrânea, além dos esquecimentos e silêncios5, seguindo o 
pressuposto de Halbwachs sobre a necessidade de que a memória deve ser estudada, tendo 
como ponto de referência os quadros sociais reais. 
Maurice Halbwachs salienta a importância da existência da memória individual, mas 
deixa claro que é comum prevalecer a memória coletiva, pois todos nós estamos inseridos em 
grupos sociais, ou seja, sofremos a influência das pessoas e do contexto dos quais fazemos 
parte. Sempre que lembramos, na verdade, estamos refazendo, reconstruindo, repensando 
“com imagens e idéias de hoje, as experiências do passado”. (BOSI, 1994, p. 55). 
Para entender melhor esta questão, Halbwachs (1990, p. 21 e 23) cita Durkheim, 
[...] não podemos pensar nada, não podemos pensar em nós mesmos, senão pelos 
outros e para os outros, e sob a condição desse acordo substancial, que através do 
coletivo, persegue o universal e distingue, o sonho da realidade, a loucura individual 
da razão comum. [e acrescenta] que, apesar de algum equívoco de expressão, ele nos 
faz compreender profundamente que não é o indivíduo em si nem nenhuma entidade 
social que se recorda; mas que ninguém pode lembrar-se efetivamente, senão da 
sociedade, pela presença ou a evocação e, portanto, pela assistência dos outros ou de 
suas obras; [...] Um homem que se lembra sozinho daquilo que os outros não se 
lembram assemelha-se a alguém que vê o que os outros não vêem. 
Halbwachs (1990, p. 51) acrescenta também que “cada memória individual é um ponto 
de vista sobre a memória coletiva” e que esta muda conforme o local, o contexto, as pessoas e 
as relações mantidas com o meio. Por isso, muitas vezes, nossas lembranças podem ser 
modificadas quando as relembramos com aqueles que delas participaram, já que eles também 
possuem lembranças que podem ou não coincidir com as nossas, confirmando o caráter 
familiar, grupal e social da memória. Este é um dos motivos também da necessidade de se 
 
4 Conforme Bosi (1994, p. 54), o filósofo Henri Bergson, um dos pioneiros do estudo da memória, considerava 
que sua análise deveria se basear apenas na relação entre o corpo e o espírito. Para Kessel (2003, p. 22), Bergson 
distinguia dois tipos de memória: a memória hábito (conquistada por meio da repetição) e a memória pura 
(aquela evocada em circunstâncias específicas), tão valorizada por Marcel Proust e por ele denominada, memória 
involuntária — sua madeleine umedecida no chá de ervas tornou-se ícone da literatura francesa e muitos utilizam 
a expressão “experiências proustianas” ao tratar de lembranças súbitas. 
5 Pollak é pesquisador do Centre National de Recherches Scientifiques (CNRS) e estuda as relações entre 
política e ciências sociais. No texto Memória, Esquecimento, Silêncio apresenta a importância das memórias 
subterrâneas, dos esquecimentos e do silêncio, considerados por ele essenciais para a manutenção da memória. 
Confronta a existência da memória coletiva organizada pela sociedade majoritária da memória subterrânea, 
aquela que existe, mas é impedida de ser divulgada por delatar episódios que possam denegrir a imagem 
daqueles que estão no poder. 
 
 
19
diferenciar a memória individual da coletiva. Segundo Bosi (1994, p. 65), considerando um 
estudo de Bartlett6, “a nitidez da memória não deve ser avaliada isoladamente, mas posta em 
relação com toda a experiência social do grupo”. Então, ao analisarmos os acervos e as 
informações disponíveis nas instituições-memória, estamos estudando a memória coletiva, a 
produção e a escolha de um determinado grupo. 
Halbwachs (1990, p. 51) novamente nos auxilia com relação à construção da memória 
ao dizer que 
a sucessão de lembranças, mesmo daquelas que são mais pessoais, explica-se sempre 
pelas mudanças que se produzem em nossas relações com os diversos meios 
coletivos, isto é, em definitivo, pelas transformações desses meios, cada um tomado 
à parte e em seu conjunto. 
O que significa que a relação com o grupo é fundamental para a perpetuação da 
memória. A falta de convívio e de troca é um dos elementos que podem levar ao 
esquecimento, além, é claro, do esquecimento proposital estudado por Michel Pollak (1989). 
Com base na afirmação da filósofa Marilena Chauí, na apresentação do livro de Ecléa Bosi 
(1994, p. 17-33), as pessoas recordam aquilo que para elas é significativo e ao recordar elas 
sofrem a influência do tempo, de suas vivências e experiências e até mesmo da história oficial 
que, muitas vezes, privilegia pessoas e acontecimentos em detrimento de outros, com o intuito 
de “construir” uma memória. Chauí afirma que o tempo da memória é social, pois influencia 
na forma de lembrar. 
O historiador Jacques Le Goff (2004, p. 469), nos apresenta o valor e a importância 
que a memória coletiva representa, pois 
Exorbitando a história como ciência e como culto público, ao mesmo tempo a 
montante, enquanto reservatório (móvel) da história, rico em arquivos e em 
documentos/monumentos, e aval, eco sonoro (e vivo) do trabalho histórico, a 
memória coletiva faz parte das grandes questões das sociedades desenvolvidas e das 
sociedades em vias de desenvolvimento, das classes dominantes e das classes 
dominadas, lutando, todas, pelo poder ou pela vida, pela sobrevivência e pela 
promoção [...] A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar 
identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos 
indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia. Mas a memória coletiva 
é não somente uma conquista, é também um instrumento e um objeto de poder. 
 
Avaliada também como instrumento de poder, a memória está relacionada à história 
das sociedades. Walter Benjamin7, nos anos 30, afirmava a importância da memória e dizia 
 
6Frederic Charles Bartlett, autor do clássico Remembering, primeiro livro de psicologia social que trata da 
memória e suas relações com ocontexto. Bartlett foi fortemente influenciado por Halbwachs. 
7 As reflexões de Walter Benjamin analisada aqui foram retiradas do texto de Olgária Mattos (1992, p. 153-4). 
 
 
20
que sua transmissão devia se dar por meio da narração e o historiador deveria ser o narrador, 
aquele que contaria a história e desta forma impediria o desaparecimento da memória, mesmo 
que esta fosse apenas representada pela história. 
Halbwachs, antes mesmo de Benjamin, já refletira sobre esta questão e separou as 
duas áreas, considerando a memória como instrumento de trabalho do historiador. Para ele, o 
historiador precisa manter certo distanciamento temporal dos acontecimentos para poder 
escrever sobre eles de forma crítica. Enquanto que a memória é imediata e, com a ação do 
tempo ou o distanciamento do grupo, pode ser enfraquecida ou mesmo alterada, em virtude 
das influências e da alteração do próprio repertório cultural do indivíduo. Assim, 
diferentemente da memória/lembrança que só pode existir a partir daquele que realmente 
viveu o fato, a história pode ser contata por alguém que nem ao menos era nascido na época, 
mas que, a partir das lembranças de outros, registradas em documentos escritos ou orais, além 
de artísticos e arquitetônicos, tem condições de escrever e refletir sobre o ocorrido. 
Para entendermos melhor a relação entre história e memória é necessário compreender 
o que seja história. 
Tanto quanto a memória, a definição de história também é complexa. Segundo Le 
Goff , a Escola dos Annales8 promoveu uma nova concepção de tempo histórico, permitindo o 
desenvolvimento de trabalhos que enfatizavam a longa duração e que buscavam manter 
relação entre as várias ciências humanas, considerando que história tem como objeto de 
estudo as sociedades humanas, ou seja, “a história é a ciência da evolução das sociedades 
humanas” (LE GOFF , 2004. p. 16). 
Para Marc Bloch9(1976, p. 24), a história é difícil de ser conceituada, mas ele a resume 
como investigação livre, podendo ser de um indivíduo ou de uma sociedade. Afirma também 
que a história “é a ciência dos homens, no tempo” (2001, p. 55). Já para a filósofa Agnes 
 
8A Escola dos Annales, nova forma de escrever e fazer história, resultou dos trabalhos de um pequeno grupo 
associado à revista Annales, organizada em 1929 e que teve como fundadores Lucien Febvre e Marc Bloch. O 
objetivo da revista era promover um novo fazer historiográfico, com uma história mais abrangente, totalizante e 
mais próxima das demais ciências humanas. Seus trabalhos foram tão importantes que influenciaram e ainda 
influenciam historiadores de várias nacionalidades, mas principalmente os franceses. Suas idéias foram 
aprimoradas ou mesmo modificadas e resultaram no que há tempos denominamos de “Nova História” e que tem 
entre seus expoentes, Jacques Le Goff, Georges Duby, Philippe Ariès e Michel Vovelle. A importância dos 
Annales é indiscutível, tanto que o historiador inglês, Peter Burke (1997), a considera a Revolução Francesa da 
historiografia. 
9 Sofreu grande influência dos estudos sobre a estrutura da memória social realizados por Maurice Halbwachs e 
também do sociólogo Émile Durkheim. 
 
 
21
Heller, citada por Hobsbawn (2002, p. 12), a história “trata do que acontece visto de fora, e as 
memórias tratam do que acontece visto de dentro”. 
Apesar de não se tratar de uma conceituação, consideramos interessantes as palavras 
do historiador marxista, Eric Hobsbawn (2002, p. 311) 
Não se pode escapar ao passado, isto é, àqueles que o registram, interpretam, 
discutem e reconstroem. [...] O que entra para os livros escolares e para os 
discursos dos políticos a respeito do passado, a matéria para os escritores de 
ficção, de programas de televisão ou de vídeos vem, em última análise, dos 
historiadores. Mais do que isso, a maioria dos historiadores, inclusive todos os 
competentes, sabe que ao investigar o passado, até mesmo o passado remoto, estão 
igualmente pensando e expressando opiniões a respeito do presente e suas questões, 
e falando a respeito delas. Compreender a história é importante tanto para os 
cidadãos como para os especialistas. 
O próprio Le Goff (2004, p. 26) apresenta a história como a ciência do passado em 
constante reconstrução. E para Lucien Febvre, citado por Le Goff (2004, p. 26), “a história 
recolhe sistematicamente, classificando e agrupando os fatos passados, em função das suas 
necessidades atuais. É em função da vida que ela interroga a morte. Organizar o passado em 
função do presente: assim se poderia definir a função social da história”. 
Dessas análises, percebe-se que a complexidade do assunto é notória e discutida por 
vários estudiosos. Mas, o que nos interessa é demonstrar que memória e história são 
diferentes, cada uma tem suas características, e que a segunda necessita muito da primeira 
para poder ser construída, ou mesmo para poder reconstruir ou representar o passado com 
base no presente. 
Para finalizar, apresentamos a análise de David Lowenthal que se dedicou ao assunto e 
de forma clara diferencia a memória da história, considerando a primeira subjetiva e um 
processo por meio do qual lê-se o passado com base no presente. Nas palavras de Lowenthal 
(1998, p. 66), “a memória é inevitável e indubitável prima-facie; a história é contingente e 
empiricamente verificável”, ou seja, é um conhecimento intencionalmente produzido. 
Esclarece também que 
a função fundamental da memória, por conseguinte, não é preservar o passado, mas 
sim adaptá-lo a fim de enriquecer e manipular o presente. Longe de simplesmente 
prender-se a experiências anteriores, a memória nos ajuda a entendê-las. 
Lembranças não são reflexões prontas do passado, mas reconstruções ecléticas, 
seletivas, baseadas em ações e percepções posteriores e em códigos que são 
constantemente alterados através dos quais delineamos, simbolizamos e 
classificamos o mundo à nossa volta [...] (1998, p. 103). 
Com relação à história, Lowenthal (1998, p. 104 e 107) acredita que esta 
 
 
22
expande e elabora a memória ao interpretar fragmentos e sintetizar relatos de 
testemunhas oculares do passado [...] A história difere da memória não apenas no 
modo como o conhecimento do passado é adquirido e corroborado, mas também no 
modo como é transmitido, preservado e alterado. 
A percepção histórica pressupõe atividades em grupo e a produção histórica tem como 
missão preservar o conhecimento do passado, lutando contra os lapsos de memória 
(esquecimentos) e o “tempo devorador” (LOWENTHAL, 1998, p. 113). Produz novos 
conhecimentos que têm um caráter subjetivo, já que o conhecimento histórico é 
invariavelmente subjetivo. 
Os registros nos diversos suportes, desde a caverna de Lascaux aos atuais DVDs só 
poderão ser utilizados pelo historiador se forem preservados e devidamente conservados. A 
importância da criação da imprensa por Gutenberg está no fato de tornar mais fácil e até 
mesmo palpável a produção da humanidade, mas esse contato só se torna possível e viável, 
porque há tempos existe a preocupação com a organização da produção humana no que tange 
à produção intelectual, artística e mesmo cotidiana, pois não devemos desconsiderar a cultura 
material que é uma fonte primordial para os estudos e a compreensão do passado. 
Lowenthal (1998, p. 166) confirma a importância da preservação dos fragmentos e 
vestígios da cultura material 
[...] Memória, história e fragmentos oferecem caminhos para o passado que se 
percorrem melhor quando combinados. Cada caminho exige os outros para que a 
jornada seja significativa e confiável. As relíquias dão início às recordações que a 
história confirma e expande recuando no tempo. A história em isolamento é estéril e 
desprovida de vida, fragmentos significam apenas o que a história e memória 
transmitem. De fato, muitos artefatos surgiram como testemunhas da história ou da 
memória. 
Assim,compreendemos que a memória é considerada um dos objetos da história e um 
nível elementar de seu desenvolvimento, e que a história tem, entre outras, a missão de 
construir a representação crítica do passado, mantendo vínculo com a modernidade, sendo 
“um campo de produção de conhecimento, espaço de problematização e de crítica” (Pinto, 
1998, p. 209). A história é um saber científico que procura analisar de forma crítica a 
memória voluntária e coletiva. Existe uma relação de dependência entre elas, mas ao mesmo 
tempo uma dicotomia. A história necessita da memória e esta é perpetuada e registrada, por 
meio da primeira, entretanto ao ser apropriada pelo historiador e analisada de forma crítica e a 
partir do contexto e dos valores daquele profissional, a memória deixa de ser memória e 
torna-se história; fruto de operação laicizante e intelectual, sem um proprietário definido, pois 
 
 
23
a história normalmente pretende-se universal, enquanto que a memória preconiza o ato de 
lembrar, dando continuidade ao passado. 
Os trabalhos a partir da memória auxiliam na construção de identidades pessoais, de 
grupos e de nações, afirmam o direito à cidadania e advertem para determinados fatos 
ocorridos que não foram benéficos e poderão ser evitados no futuro. O fato de lembrar, de 
analisar e escrever sobre determinado acontecimento histórico é importante para manter viva 
a memória e para manter as pessoas “alertas sobre situações novas e, no entanto, análogas”, 
segundo Habermas e Todorov, citados por Seixas (2004, p. 54). A tão conhecida frase 
“devemos aprender com o passado” ilustra bem a importância da preservação da memória 
coletiva e da apropriação desta pelo historiador que, ao analisar e escrever sobre os 
acontecimentos, se torna o divulgador daquela memória que, mesmo sendo uma 
representação, possui valor e, com certeza, auxiliará as pessoas em suas atitudes futuras. 
Um dos mais significativos exemplos da questão de perpetuação ou não da memória, 
isto é, do direito e do dever à memória, foi citado por Seixas (2004, p. 54) e relaciona-se às 
discussões recentes sobre a construção de um memorial às vítimas do holocausto no centro da 
“nova Berlim”. Segundo Seixas, o escritor Martin Walser considerou inoportuna a idéia da 
construção, por acreditar que as novas gerações têm o direito de esquecer episódio tão 
medonho da história nacional. Entretanto, a maioria das pessoas, acredita que a memória deve 
ser mantida e que devemos aprender com ela, pois, segundo Chauí (1992, p. 43), 
uma política cultural que idolatre a memória enquanto memória ou que oculte as 
memórias sob uma única memória oficial está irremediavelmente comprometida 
com as formas presentes de dominação, herdadas de um passado ignorado. Fadada à 
repetição e impedida de inovação, tal política cultural é cúmplice do status quo. 
Por isso, devemos conhecer o passado, para entender o presente e construir o futuro. 
Precisamos manter a tradição e desta forma a relação de pertencimento com o grupo e sua 
coesão, mas sempre de forma crítica. 
 Assim, percebemos o valor da memória e também da história. A história depende da 
memória coletiva e também das fontes nas quais esta memória está registrada. Mas, não 
adianta apenas preservar, pois os vestígios da memória deverão ser armazenados, 
acondicionados e organizados para possibilitar sua disponibilização e apropriação por 
pesquisadores que, a partir deles, produzirão novos conhecimentos. Estas tarefas são 
responsabilidades dos profissionais da informação e das instituições-memória. Além disso, o 
trabalho de preservação deverá prever a manutenção das referências de grupo, possibilitando 
 
 
24
que o passado tenha seu significado de “experiência coletiva de formação da cultura e da 
sociedade” (PAOLI, 1992, p. 26). Não devemos retirar os documentos de seu contexto 
histórico, social e político, pois é a partir deles que conferimos sentido aos testemunhos 
preservados. 
 
 
 
25
3. Os Lugares de Memória e sua importância na preservação da memória 
coletiva 
“Assim como Teseu, na passagem da informação 
para o conhecimento, devemos percorrer 
infindáveis labirintos de informação estocada, 
labirintos físicos, labirintos digitais, labirintos 
da nossa memória.” 
 Aldo Barreto 
A memória não é apenas aquela que está com e nas pessoas, mas também nos 
documentos preservados nas instituições que, por isso mesmo, podem ser denominadas 
instituições-memória ou lugares de memória, expressão cunhada pelo historiador Pierre Nora 
e por ele definida como “lugares que contribuam para o estreitamento dos laços entre história, 
memória e experiência, permitindo a articulação entre passado, presente e futuro”, segundo 
Kessel (2003, p. 11). Para Nora, esses lugares vão além dos museus, arquivos e bibliotecas, 
por acreditar que os monumentos, as festas, os dicionários, os calendários, santuários, 
tratados, enfim os símbolos e suportes da memória coletiva, são a única forma de perpetuação 
de ritos não mais praticados. O historiador critica a necessidade da existência desses lugares, e 
afirma que eles acabam com a necessidade da memória espontânea, isto é, os lugares seriam 
desnecessários se “vivêssemos verdadeiramente as lembranças que eles envolvem” (NORA, 
1993, p. 13). Segundo Pinto (1998, p. 208), ao citar Nora, “Há lugares de memória porque não 
há mais meios de memória”. 
Desde a criação da imprensa por Gutenberg, o mundo vem sofrendo significativa 
perda da prática da memória (mnemotécnica). Antes da escrita, prevalecia a oralidade e a 
produção do conhecimento só era possível com a preservação das informações transmitidas e 
repassadas oralmente. Conforme nos relata Eloy Martínez (2004), “as histórias se 
perpetuavam por meio da voz dos arautos, que cantavam e improvisavam enquanto os demais 
ouviam e modificavam o que ouviam com lembranças da memória”.Com o surgimento da 
escrita, a importância da prática de memorizar enfraqueceu, mesmo assim, ainda era 
realizada. Mas foi com a invenção da imprensa que a situação mudou drasticamente e, desde 
então, as pessoas, atentas e ansiosas por novas descobertas, não se preocupam em memorizar, 
já que “tudo”10 estará registrado. 
 
10 Pretendemos apenas ser enfáticos ao utilizar a idéia de que tudo é preservado, pois estamos conscientes de que seria 
humanamente impossível que isso ocorresse, além de sabermos que existem políticas e mecanismos para esquecer ou 
simplesmente apagar determinados acontecimentos. A existência da memória pressupõe o esquecimento. Segundo Barreto 
(2000), “O esquecimento é uma qualidade da memória, que a preserva e a mantém saudável. Nossa memória funciona, e só 
funciona, porque nos é dada a capacidade do esquecimento”. 
 
 
26
Em meados do século XX, com a explosão bibliográfica e o aumento vertiginoso da 
produção de informação, ficou praticamente impossível, além de desnecessário, memorizar as 
informações. O conhecimento também se tornou mais acessível e ao mesmo tempo muito 
mais volátil e fluído. No fim desse século, com o incremento dos meios de comunicação, 
Internet e os documentos eletrônicos, a realidade se transfigurou ainda mais e o volume de 
informação produzido atingiu tal monta que, definitivamente, não há meios de memorizar o 
que está sendo produzido, tal o caráter efêmero das informações. Essa nova realidade apenas 
reitera a necessidade da constituição de gigantescos e vertiginosos estoques de documentos 
que poderão ser utilizados algum dia. Pierre Nora (1993, p. 14) salienta a necessidade de 
“suportes exteriores e de referências tangíveis” para a memória que, cada vez mais, é pouco 
vivida em seu interior. Segundo Nora (1993, p. 13) “os lugares de memória nascem e vivem 
do sentimento que não há memória espontânea, que é preciso criar arquivos [...]”. 
Para entender melhor a questão dos lugares de memória retomamos a questãodas 
diferenças entre memória e história, sob o ponto de vista de Nora (1993, p. 9) que considera 
que 
[...] a memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido, ela está 
em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento, [...] A 
história é a reconstrução sempre problemática e incompleta do que não existe mais. 
A memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente; a 
história, uma representação do passado [...] A memória emerge de um grupo que ela 
une, o que quer dizer, como Halbwachs o fez, que há tantas memórias quantos 
grupos existem; que ela é, por natureza, múltipla e desacelerada, coletiva, plural e 
individualizada. A história ao contrário, pertence a todos e a ninguém, o que lhe dá 
uma vocação para o universal. A memória se enraíza no concreto, no espaço, no 
gesto, na imagem, no objeto. A história só se liga às continuidades temporais, às 
evoluções e às relações das coisas. A memória é um absoluto e a história só conhece 
o relativo. 
Nora demonstra a relevância da memória, mas enfatiza também o trabalho do 
historiador e sua importância na representação da memória realizada com a colaboração dos 
lugares de memória, que preservam a continuidade do passado e do presente, apesar das 
dificuldades oriunda da globalização, da massificação e também da aceleração da história, que 
leva a transformações e destruições, segundo o historiador De Decca (1992, p. 130). 
Para nós o que mais interessa é demonstrar que a relação da história com a memória 
nem sempre é feita de forma harmoniosa e que as instituições-memória são, segundo Nora 
(1993, p. 27), “um lugar duplo; um lugar de excesso, fechado sobre si mesmo, fechado sobre 
sua identidade; e recolhido sobre seu nome, mas constantemente aberto sobre a extensão de 
suas significações”. O autor acredita que estas instituições preservam a memória documental, 
 
 
27
ou seja, guardam aquilo que foi produzido e que nos é impossível lembrar, tentam parar ou 
limitar a ação do tempo e bloquear o esquecimento. 
Alguns autores são enfáticos ao criticar a necessidade da existência desses lugares de 
memória, por acreditarem que a memória deveria ser habitada por cada um de nós, sem 
termos a necessidade constante de consagrá-la em lugares definidos e também de perpetuá-la 
por meio da história que, muitas vezes, anula ou congela a memória. 
Consideramos que, se estas instituições não existissem, boa parte dos fatos históricos e 
da própria formação e desenvolvimento da sociedade humana teria se perdido e estaríamos 
constantemente reinventando a roda, para exemplificar de forma simplificada. O que quer 
dizer que estas instituições-memória têm como missão preservar traços e vestígios da 
memória social e das experiências da humanidade de forma que possam ser acessados. 
Os monumentos, entendendo aqui não apenas os arcos, memoriais, etc., mas também 
os registros escritos nos mais variados suportes, são a comprovação daquilo que foi escolhido 
por determinado grupo para ficar de suas vidas ou então daquilo que restou, para perpetuar 
sua memória, que passa por um filtro, já que é impossível guardar e preservar tudo. Todos 
esses registros, produzidos desde a Antigüidade, foram e ainda são guardados em instituições 
criadas, naquela época, com o intuito principal de preservar a produção humana. 
Após a explosão da produção de informação, estes antigos palácios dos saberes 
transformaram-se em verdadeiros laboratórios, onde as informações são armazenadas, 
processadas e disponibilizadas para diferentes fins. Estas instituições, independentemente do 
nome que recebam: para Homulos (1990, p. 11) são instituições coletoras de cultura; Smit 
(2000, p.130) as denominam instituições disponibilizadoras de cultura; já o grupo Ultragaz 
escolheu o nome de Espaço do Conhecimento, segundo Ricci (2004, p. 85), e Bearman (1994, 
p. 156) as considera como repositórios culturais, são responsáveis pela preservação do 
patrimônio histórico e cultural e devemos nos manter atentos para não transformá-las em 
locais onde se faça a musealização do mundo, valorizando qualquer tipo de vestígio do 
passado. 
 
 
 
 
28
Mesmo com a ampliação dos objetos da história, devemos manter critérios na escolha 
do que preservar, já que, segundo Walter Benjamin11, Michel Pollak12 e Jorge Luis Borges, 
precisamos ter a capacidade de lembrar e também de esquecer. A relação entre memória e 
esquecimento pode ser exemplificada pela história do personagem de Borges no conto 
“Funes, o memorioso”. Seu protagonista, Funes, após um acidente, adquire a capacidade de 
tudo perceber e desenvolve uma prodigiosa memória. Tudo observado ou vivido por ele 
automaticamente transforma-se em lembrança e uma percepção rapidamente se transmuta em 
outra, impedindo que ele compreenda o mundo no qual está inserido. Borges (1989, p. 97) 
afirma no conto que, “pensar é esquecer diferenças, é generalizar, abstrair”, e Funes não tinha 
esta capacidade, pois tudo lhe era conhecido, sua memória era como um depósito, onde não 
havia seleção do que preservar, simplesmente lembrava de tudo e guardava percepções 
diversas de uma mesma coisa, o que o impedia até mesmo de dormir, pois os pormenores da 
realidade imediata o perseguiam dia e noite, não permitindo que ele distinguisse a memória da 
consciência. 
Segundo Creus (2002), “O esquecimento é imprescindível para a evocação da 
lembrança e para a própria constituição da memória. Somente lembramos porque somos 
capazes de esquecer”. Compreendemos que não há como guardar tudo e isso nem ao menos é 
aconselhável, devemos manter políticas que evidenciem os critérios de o que, como e para 
que preservamos e também estar atentos para não permitir a “especularização da memória que 
transforma o passado em bem de consumo”, como afirma Kessel (2003, p. 7). 
Acreditamos que os lugares de memória, frente à crise da memória analisada por Nora 
e também devido à transformação ocorrida no mundo e nas relações humanas, fruto do 
surgimento e avanço tecnológico, são necessários e devem ser geridos de forma responsável, 
por profissionais preparados que analisem muitas das questões acima apresentadas e 
compreendam o que é memória e qual o papel que ela desempenha na nossa sociedade, 
permitindo que seja preservada e se torne instrumento de reflexão crítica e de recriação do 
presente, conforme afirmou Rodrigues (2000, p. 144). Sua administração deverá permitir que 
seu acervo esteja à disposição de qualquer pessoa, pois o acesso à memória é direito e dever 
de todos os cidadãos. 
 
11 As observações feitas sobre o pensamento de Walter Benjamin se basearam nos textos Bolle (1984), Gagnebin (1998 e 
2004), Kessel (2003) e Mattos (1992).Com relação ao esquecimento, Benjamin apresenta-se preocupado com o fato de a 
memória e as tradições serem esquecidas, mas ao mesmo tempo considera necessário o esquecimento para valorizar a 
narração, tão preconizada por ele como meio de transmissão da memória de geração a geração. 
12 Michel Pollak (1992) afirma que “a memória é seletiva. Nem tudo fica gravado. Nem tudo fica registrado”. 
 
 
29
4. A Ciência da Informação 
“O progresso técnico deve-se, principalmente, à 
utilização, por indivíduos criativos, de 
conhecimento, facilmente acessível e 
disseminado amplamente, visando à criação e ao 
desenvolvimento de novos produtos, métodos e 
processos.” 
E. A. Haeffner 
Para continuar o estudo das instituições-memória, suas especificidades e suas 
interfaces, será essencial refletir sobre o conceito, a abrangência e o objeto de estudo da 
Ciência da Informação13, e para isso será interessante abordar as características gerais 
relacionadas a suas origens e às condições e contexto que a transformaram em ciência. Por 
acreditarmos que a preocupação com o tratamento e assimilação da informação, enfatizando 
principalmente a primeira,vem de muito tempo, traçaremos breve histórico, que terá como 
foco a história social do conhecimento e as instituições guardiãs da memória. Na seqüência, 
exporemos algumas definições de autores que estudaram a CI, com o intuito de demonstrar a 
polissemia que a área apresenta e as diferentes opiniões, principalmente, com relação às 
interfaces com a biblioteconomia, arquivologia e, talvez museologia. Enfatizamos a dúvida 
com relação à museologia, porque, apesar de a considerarmos inserida no contexto e até 
mesmo nas práticas da CI, encontramos poucos autores que fazem sua argumentação desse 
ponto de vista. 
Em seguida, trataremos de dois termos totalmente relacionados à CI — informação e 
documento e que também são difíceis de ser conceituados. Segundo Belkin, citado por Jardim 
e Fonseca (2002), não devemos conceituar informação, mas sim “identificar as maneiras de 
olhar e interpretar o fenômeno informação”. Procuraremos estabelecer requisitos mínimos 
para mostrar como interpretamos o conceito informação e documento. 
 
4.1. Ciência da Informação: sua história e conceituação 
A CI passou a ser desenvolvida e conceituada a partir do fim dos anos de 1950, com o 
aumento vertiginoso da produção de informações. Esta explosão de informação vinha desde o 
fim da II Guerra Mundial e era conseqüência da necessidade de novas descobertas e das 
próprias disputas entre as duas grandes potências, Estados Unidos e União Soviética. Ambas 
 
13 Utilizaremos a abreviatura CI para designar Ciência da Informação. 
 
 
30
buscavam desenvolver seus conhecimentos nas mais variadas áreas, vide o exemplo da 
disputa pela conquista do espaço14 e também a corrida armamentista. Segundo Jardim e 
Fonseca (2002), a informação transformou-se em “recurso estratégico a ser gerenciado”. 
Todas essas novas descobertas, novos conhecimentos produzidos, transformavam-se 
em informação para os pesquisadores que necessitavam de mecanismos sofisticados para 
acessá-la e produzir novos conhecimentos. Este ciclo15 (informação gerando conhecimento 
que se transforma em informação para a produção de novo conhecimento), salutar, necessário 
e ao mesmo tempo fatigante, mostrou quão importante seria a disponibilização de forma clara, 
objetiva, eficaz e rápida das informações. Foi nesse cenário que surgiu então a CI. Entretanto, 
sabemos que há séculos o homem já se preocupava com a organização e disponibilização da 
informação. 
No livro, Uma história social do conhecimento, o historiador Peter Burke traçou a 
gênese da história do conhecimento, mostrando que seu desenvolvimento sempre esteve 
atrelado às atividades de apoio ou ciências auxiliares16, tais como as tarefas dos arquivistas e 
dos bibliotecários. A produção bibliográfica, a partir da criação da tipografia por Gutenberg, 
no século XVI, passou por transformações imensuráveis e trouxe muitos benefícios para os 
estudiosos. Entretanto, estas transformações também geraram problemas. No início, ficou 
difícil controlar ou mesmo conhecer o que estava sendo produzido, devido à rapidez e ao 
aumento vertiginoso do número de publicações. Para responder a tal dificuldade, surgiram as 
primeiras bibliografias e, a partir daí, passou-se a desenvolver o estudo sobre como organizar 
e disponibilizar a informação. O bibliotecário passou a desempenhar atividades diferentes a 
partir da criação de Gutenberg. Além das bibliografias, pensadores, como Bacon e Diderot, 
desenvolveram trabalhos voltados para a organização das informações e do conhecimento, 
como a enciclopédia. 
 Desse resumo histórico, percebermos que já é antiga a preocupação com a 
organização e transferência de informação. E todos os estudos desenvolvidos ao longo dos 
séculos contribuíram para o desenvolvimento da CI no século XX. 
 
14 O Sputnik foi lançado em 1957 pela União Soviética. Segundo Hayes, citado por Fonseca (2005, p. 17), “esse 
evento sacudiu as instituições militares, industriais e científicas dos Estados Unidos”. 
15 Para exemplificar esta questão podemos também citar Paul Otlet (1937) que considera o ciclo como “um 
movimento desenvolvido de espiral em espiral: novo pensamento, nova descrição, novo projetar”. 
16 Conforme Silva (2002, p. 576) no século XIX com o desenvolvimento positivista e científico da História, a 
biblioteconomia, arquivologia e museologia foram consideradas ciências auxiliares. 
 
 
31
Iniciamos o estudo do desenvolvimento da CI, citando a criação, em 1952, do VINITI 
(Instituto para a Informação Científica) pelo Comitê Central do Partido Comunista da União 
Soviética. O instituto colocou em prática um complexo sistema de importação e tratamento da 
informação de periódicos científicos do Ocidente para responder às demandas de seus 
pesquisadores. Seis anos depois, foi realizada a Conferência Internacional de Informação 
Científica de Washington, considerada como o evento fundador da CI. Nela foi explicitado o 
caráter político-estratégico da informação. Entretanto, muitos autores, inclusive Fonseca 
(2005, p. 19), consideram que foi em 1962, na conferência realizada no Georgia Institute of 
Technology, que nasceu formalmente a CI, entendida como a “ciência do armazenamento e 
recuperação da informação”. Nessa mesma década, os estudos para desenvolver tecnologia 
voltada para a documentação e recuperação da informação cresceram de forma exponencial. 
No âmbito internacional destacamos a iniciativa da UNESCO, fundada em 1945, de 
criar o UNISIST (Sistema Mundial de Informação Científica) que tinha como concepção 
principal a idéia de que o conhecimento é um bem comum de toda a humanidade e deve ser 
utilizado para superar os desequilíbrios internacionais. O sistema enfatizava a cooperação 
voluntária internacional, buscando melhorar o acesso e o uso da informação, que tinha muito 
mais uma função social, e não econômica ou estratégica, como preconizavam os Estados 
Unidos.17 
As duas iniciativas vieram acompanhadas do desenvolvimento tecnológico e 
permitiram a criação de sistemas automatizados e o armazenamento de um número cada vez 
maior de informação processada. Apesar de há tempos haver a necessidade do acesso à 
informação, o que impulsionou o desenvolvimento da CI foi muito mais a questão da 
tecnologia surgida e aplicada, a partir dos anos 60, no processo de produção, armazenamento 
e disseminação da informação, do que alterações no campo da documentação. Pois esta, até 
então, havia criado condições para que seus profissionais produzissem publicações, catálogos 
manuais, índices, resumos, enfim, outras formas de organizar as informações, mas sempre em 
suporte papel. Durante muito tempo, estes instrumentos de pesquisa foram suficientes para 
suprir as demandas dos usuários/pesquisadores, mas a explosão da produção de informação 
trouxe consigo a necessidade de ferramentas mais rápidas e eficazes que contribuíram para o 
surgimento e o desenvolvimento da CI, literal e oficialmente, definida na Conferência da 
Georgia em 1962, conforme Shera e Cleveland, como 
 
17 Segundo Pinheiro (2002, p.80) o ideal difundido pelo UNISIST, frente à realidade mundial e às dificuldades 
que interferem no fluxo da informação, pode ser considerado como romântico e utópico. 
 
 
32
Ciência que investiga as propriedades e o comportamento da informação, as forças 
que governam o fluxo da informação e os meios de processar a informação para 
ótima acessibilidade e uso. O processo inclui a origem, a disseminação, a coleta, a 
organização, o armazenamento, a recuperação, a interpretação e o uso da 
informação. O campo está relacionado com matemática, lógica, lingüística, 
psicologia, tecnologia da computação, pesquisa operacional, artes gráficas, 
comunicação, biblioteconomia, administração e muitas outras. (apud FONSECA, 
2005, p. 19).Para entender melhor a CI, elencaremos outras definições desenvolvidas ao longo do 
tempo e que especificam ou desmistificam esta ciência, pois, como afirma Dias (2002, p.87), 
“qualquer área ou campo do conhecimento está em permanente definição”. Nossa intenção é 
entender como a CI é considerada pelos autores apresentados e, a partir da análise de suas 
considerações, mostrar se há a possibilidade de traçarmos as interfaces com as demais áreas 
do conhecimento, que também têm como objeto de análise a informação, no caso a 
biblioteconomia, a arquivologia e a museologia, embora não tenhamos a pretensão de 
desenvolver uma análise mais aprofundada sobre a definição e interpretação da CI, por não 
ser esse o foco central de nosso trabalho. 
Muitos autores consideram que a CI está mais relacionada à teoria e ao 
desenvolvimento do estudo sobre o tratamento, disponibilização e assimilação da informação, 
mas devemos considerar que ela também está vinculada às aplicações práticas, enquanto que a 
biblioteconomia, arquivologia e museologia não devem ser consideradas apenas como 
ciências aplicadas, pois desenvolvem pesquisas para a produção de novos conhecimentos em 
cada uma das áreas (COSTA, 1990, p. 142). Miranda (2002, p. 11) considera que a CI, devido 
a sua origem pragmática, está muito mais relacionada à documentação do que à informação. 
Conforme Deschâtelet (1990), citado por Jardim e Fonseca (2002), “a Ciência da Informação 
seria uma área em gestação constituída por várias ciências da informação como, por exemplo, 
a Arquivística, a Biblioteconomia, a Informática, o Jornalismo e a Comunicação, as quais têm 
como objeto de pesquisa imediato a transferência da informação”. A CI pode ser 
compreendida como um “guarda-chuva” sob o qual estão muitas outras ciências ou 
disciplinas, que têm, de uma forma ou de outra, a informação e sua transferência como objeto 
de estudo. A partir desse ponto de vista a museologia também pode ser incorporada a ela, bem 
como tantas outras ciências (contabilidade, administração, psicologia, etc.). 
São muitas as definições para CI. Segundo Harold Borko é uma disciplina que 
 
investiga as propriedades e comportamento da informação, as forças que regem o 
fluxo informacional e o sentido do processamento de informação com vista a um 
máximo de acessibilidade e uso. Diz, assim, respeito a um corpus de conhecimento 
 
 
33
sobre a origem, colecção, organização, armazenamento, recuperação, interpretação, 
transmissão, transformação e uso da informação. [...] Trata-se de uma ciência 
interdisciplinar derivada de e relacionada com os seguintes campos: matemática, [...] 
comunicações, biblioteconomia, gestão e outros campos similares. Possui, por fim, 
uma componente de ciência pura na medida em que explora o tema sem olhar às 
suas aplicações práticas e uma componente de ciência que desenvolve serviços e 
produtos. A biblioteconomia e o documentalismo constituíam, por isso, aspectos 
aplicados da ciência da informação. (apud SILVA, 2002, p. 593). 
 
Esta conceituação novamente apresenta a relação entre a CI e a documentação 
conceituada e desenvolvida por Paul Otlet, que também é exposta na definição de Oddone, 
citada por Miranda (2002, p. 21), 
A ciência da informação, enquanto campo do saber humano, ocupa-se tanto do fluxo 
da comunicação como de seus atores e dos registros que transportam a informação e 
o conhecimento. Não estuda a natureza propriamente física ou social da 
comunicação, nem investiga os estatutos políticos e antropológicos que a fundam, 
mas identifica sua mecânica processual e as instituições que dela participam, seus 
produtos, seus especialistas e usuários, as ferramentas e as técnicas de que se utiliza, 
procurando compreendê-los enquanto componentes do vasto organismo sistêmico 
que garante ao homem a satisfação de seu anseio e de sua necessidade de produzir, 
transformar, utilizar, comunicar, transmitir, enfim, perpetuar o conhecimento. 
 
Para Oddone a CI vai além do tratamento da informação, está inserida num processo 
de comunicação inerente a todas as instituições-memória, processo esse que representa papel 
imprescindível na assimilação, produção e perpetuação do conhecimento, tão caro e 
necessário a toda a humanidade. Odonne acredita que, para o processo de comunicação ser 
realizado, o profissional da informação deve considerar o conjunto de atividades e demais 
elementos relacionados à informação, buscando inseri-los num contexto maior que permita 
que a informação ocupe papel estratégico na produção de novos saberes. A definição de 
Oddone não apenas insere a CI nas várias áreas que têm a informação como objeto de estudo, 
mas também cita todas elas nominalmente em seu texto18, afirmando que, a CI abrange as 
áreas da museologia, biblioteconomia e arquivologia, desde que estas trabalhem a informação 
de forma a inseri-la num contexto maior, valorizando sua a função social e sua importância na 
produção e disseminação de conhecimento. Não devemos manter o foco apenas nos acervos, 
como foi feito durante muito tempo. 
 
 
 
 
18 Para evitar que a citação ficasse muito longa, apresentamos aqui o trecho do texto de Oddone, citado por 
Miranda (2002, p. 23): A CI “não deve restringir seu escopo epistemológico a essa ou aquela atividade 
profissional — biblioteconomia, arquivologia, museologia — a essa ou aquela competência técnica — 
bibliotecários, arquivistas, museólogos, gestores da informação [...]. 
 
 
34
Com base em mais um dos clássicos estudos sobre a CI, apresentamos a definição de 
Le Coadic (1996, p.26) que considera a CI como 
 
ciência social rigorosa que se apóia em uma tecnologia também rigorosa. Tem por 
objeto o estudo das propriedades gerais da informação (natureza, gênese, efeitos), ou 
seja, mais precisamente: a análise dos processos de construção, comunicação e uso 
da informação; e a concepção dos produtos e sistemas que permitem sua construção, 
comunicação, armazenamento e uso. 
O autor enfatiza a importância da informação em todo o seu contexto, desde a 
produção até a assimilação pelo usuário, e procura mostrar que o profissional da informação 
não deve ter como missão apenas a preservação do documento, como foi preconizado e 
praticado pelos bibliotecários, arquivistas e museólogos, durante longo período. Agora o foco 
deve ser o usuário e sua relação com a informação, afinal, as instituições existem para atender 
seu público. 
Podemos citar também o pensamento de Saracevic, apresentado em Fonseca (2005, 
p.27), no qual “a ciência da informação tem três principais características, que são vetores de 
seu desenvolvimento e evolução: é interdisciplinar; está inevitavelmente ligada à tecnologia 
da informação; e tem sua evolução marcada pelo desenvolvimento da chamada sociedade da 
informação”. O autor considera também que “as áreas com as quais a ciência da informação 
tem as mais significativas e desenvolvidas relações interdisciplinares são a biblioteconomia, a 
ciência da computação, a ciência cognitiva e a comunicação”. 
As transformações históricas, econômicas, sociais, culturais e tecnológicas que 
resultaram na denominada “sociedade da informação” exigem uma nova postura dos 
profissionais da informação, que têm como objeto de estudo e de trabalho a informação, 
preservada nos mais variados suportes documentais, que simboliza e comunica a memória da 
nação, do grupo, de uma empresa, enfim, da área à qual a instituição está vinculada. 
Nesse novo cenário, onde predomina o uso intenso da tecnologia, o objeto de estudo 
da CI é definido por Smit e Barreto (2002, p. 17) “como campo que se ocupa e se preocupa 
com os princípios e práticas da criação, organização e distribuição da informação, bem como 
com o estudo dos fluxos da informação desde sua criação até a sua utilização, e sua 
transmissão ao receptor em uma variedade de formas, por meio de uma variedade de canais”.Novamente fala-se da preocupação com a informação em seus vários estados e enfatiza-se a 
questão da variedade de canais por meio dos quais a informação poderá ser transmitida. 
Além dos canais de transmissão da informação que, com o avanço tecnológico, sofrem 
alterações, devemos considerar também que a CI, lembrando Buckland, citado por Pinheiro 
 
 
35
(2004), não se deve prender a estudar apenas os fenômenos representados em textos, já que 
existem outros tipos documentais como objetos, depoimentos, imagens, etc., que igualmente 
representam a produção do homem e são imprescindíveis para a perpetuação da ação humana 
e para novas ações que resultarão na produção de novos saberes. 
Percebemos então que a CI é uma ciência em constante construção, que tem como 
objeto de estudo a informação atrelada aos seus meios de transferência ou comunicação e ao 
seu uso e forma de assimilação pelo usuário, receptor da mensagem. As definições de CI, 
muitas vezes, salientam a questão e a necessidade da interdisciplinaridade, a partir da qual 
serão delimitadas as fronteiras entre as disciplinas relacionadas às instituições-memória, 
evitando que a interdisciplinaridade, tão preconizada por muitos autores, transforme-se em 
indisciplinaridade, conforme Boulding, citado por Pinheiro (2002, p. 82). 
Concluímos, com base na argumentação dos autores19 que valorizam a 
interdisciplinaridade, que a CI é uma ciência que pode ou mesmo deve ser aplicada às várias 
disciplinas (arquivologia, biblioteconomia e museologia) relacionadas às instituições-
memória, permitindo, por meio de seus procedimentos de organização e de disponibilização 
da informação, que as disciplinas acima citadas possam alcançar suas missões de forma mais 
estruturada, não dependendo das práticas e procedimentos restritos aos locais 
institucionalizados. Ou seja, a informação de um documento de arquivo poderá ser tratada e 
disponibilizada de forma muito semelhante a de um objeto de museu ou a de uma publicação 
numa biblioteca, pois os procedimentos terão como base os pressupostos da CI e não estarão 
vinculados diretamente a algumas práticas e métodos preconizados em cada uma das 
instituições, entretanto salientamos que algumas especificidades deverão ser mantidas, como a 
organicidade dos fundos arquivísticos, o que não impede que a informação retirada dos 
documentos que o compõem possam ser tratadas com base nos procedimentos da CI. 
A incorporação dos pressupostos da CI a algumas práticas da arquivologia, 
biblioteconomia e museologia de forma alguma tornam essas disciplinas iguais, pois cada 
uma delas continuará tendo suas missões específicas e se preocuparão em manter a função 
definida para o documento dentro do espaço institucionalizado. 
A apropriação dos procedimentos da CI é fundamental para o desenvolvimento, 
valorização e perpetuação das instituições-memória, que deverão utilizá-los para realizar 
 
19 Nesse caso estamos enfatizando as teorias dos autores europeus que consideram a CI como decorrência da 
Documentação e mantêm um vínculo mais próximo com as instituições-memória, enquanto que os autores norte-
americanos, valorizam muito mais a importância da tecnologia para o desenvolvimento e aplicação da CI, isso 
porque os estudos voltados à CI ficaram atrelados ao desenvolvimento de mecanismos tecnológicos aplicados à 
documentação e à recuperação da informação. 
 
 
36
trabalhos que tenham como foco, muito mais que a preservação e a disseminação da 
informação, o usuário e suas necessidades. Salientamos que os profissionais da informação, a 
partir do momento que estabelecem as teorias, os parâmetros e os paradigmas para suas 
atividades e mantém domínio sobre a base conceitual da CI, tornam-se completos e não 
necessitam necessariamente estar atrelados aos espaços nos quais exercem suas funções e 
saberes (SMIT e BARRETO, 2002, p.22). Ou seja, o bibliotecário não terá, obrigatoriamente, 
que exercer suas funções em uma biblioteca e assim por diante. Aliás, a questão do espaço 
físico tem sofrido transformações, principalmente com o advento da Nova Museologia e o 
Ecomuseu, no que tange especificamente a museologia, mas também com o surgimento dos 
espaços virtuais, como as bibliotecas, museus e arquivos virtuais tão comuns hoje em dia. A 
atual realidade, fruto principalmente do avanço tecnológico e das facilidades de transmissão 
de dados e de comunicação, torna cada vez mais difícil delimitarmos o campo de atuação dos 
profissionais de cada uma dessas instituições, pois todos devem trabalhar de forma conjunta 
para desenvolver teorias e princípios gerais comuns a todas elas, com vistas à gestão da 
memória, ao tratamento da informação e sua disponibilização de forma rápida e eficaz para o 
usuário. 
 
4.2. Informação e documento20 
“A informação se qualifica como um instrumento 
modificador da consciência do indivíduo e de 
seu grupo social, pois sintoniza o homem com a 
memória de seu passado e com as perspectivas 
de seu futuro.” 
Aldo Barreto 
 
O estudo da CI nos remete a duas questões cruciais, também relacionadas ao centro de 
memória e às demais instituições-memória: a definição de documento e de informação21. Para 
estudar o termo documento, tomamos como base as definições mais gerais advindas da área 
da história e da cultura apresentadas principalmente no texto Documento/Monumento do 
historiador Jacques Le Goff (2004). 
 
20 Na verdade poderíamos considerar como três se acrescentássemos também a questão do conhecimento, mas 
preferimos centrar nossa análise apenas na informação e documento, por considerar que há muito ainda para se 
estudar sobre a gestão do conhecimento, apesar de estarmos conscientes de que as mudanças na sociedade pós-
industrial alteraram bastante a produção do conhecimento e sua relação com a sociedade, e que tanto o 
conhecimento como a informação têm importância fundamental neste novo cenário. 
21 Salientamos que trataremos especificamente da informação, não a considerando como sinônimo de 
conhecimento, pois como conhecimento é o produto gerado pelo receptor da informação a partir da compreensão 
e assimilação desta com base em seu repertório cultural e intelectual, ou seja, enquanto a informação é recebida, 
o conhecimento é produzido internamente, conforme Hayes, citado por Pinheiro (2004). 
 
 
37
Ao tratarmos do termo informação, nos detivemos às definições no âmbito da CI e 
suas áreas integradas, como a biblioteconomia. No entanto, consideramos necessário 
apresentar, para introduzir a discussão, algumas definições apresentadas por McGarry (1984) 
e que estão relacionadas a várias áreas do conhecimento. 
McGarry (1984, p. 14-6) começa sua análise pela etimologia da palavra. Informação 
vem do latim: formatio e forma que exprimem a idéia de dar forma a alguma coisa, de formar 
um padrão, representar. Segundo o dicionário Concise Oxford English Dictionary, informação 
que dizer: “informar, dizer, coisa dita, conhecimento, (os almejados) dados de conhecimento, 
notícia, (acerca de)”. Podemos também considerar que informação é aquilo que recebemos do 
exterior e que forma a base dos julgamentos que fazemos e das decisões que tomamos durante 
a nossa vida. Com base nos pensamentos de alguns estudiosos, McGarry cita: 
• “Nobert Wiener: informação é o nome dado ao conteúdo do que é trocado com o mundo do exterior 
quando nos ajustamos a ele e nele fazemos sentir o nosso ajustamento. Viver de facto é viver com 
informação. 
• Jesse Shera: informação, tanto no sentido em que é usada pelo biólogo como no sentido em que nós 
bibliotecários a usamos, é um ‘facto’. É o estímulo que recebemos através dos nossos sentidos; mas 
é sempre uma unidade, é uma unidade de pensamento. 
• Marshall Mcluhan: o meio é a mensagem. 
• George Miller: informação é algo de que temos necessidade quando enfrentamos