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HISTORIA - SOLDADO PM - POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO HISTORIA - LEI 5.810/94 2 O inteiro teor desta apostila está sujeito à proteção de direitos autorais. Copyright © 2016 Loja do Concurseiro. Todos os direitos reservados. O conteúdo desta apostila não pode ser copiado de forma diferente da referência individual comercial com todos os direitos autorais ou outras notas de propriedade retidas, e depois, não pode ser reproduzido ou de outra forma distribuído. Exceto quando expressamente autorizado, você não deve de outra forma copiar, mostrar, baixar, distribuir, modificar, reproduzir, republicar ou retransmitir qualquer informação, texto e/ou documentos contidos nesta apostila ou qualquer parte desta em qualquer meio eletrônico ou em disco rígido, ou criar qualquer trabalho derivado com base nessas imagens, texto ou documentos, sem o consentimento expresso por escrito da Loja do Concurseiro. Nenhum conteúdo aqui mencionado deve ser interpretado como a concessão de licença ou direito de qualquer patente, direito autoral ou marca comercial da Loja do Concurseiro. POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO HISTORIA 3 PROGRAMA: HISTÓRIA GERAL 1. Primeira Guerra Mundial. 2. O nazi-fascismo e a Segunda Guerra Mundial. 3. A Guerra Fria. 4. Globalização e as políticas neoliberais. HISTÓRIA DO BRASIL 1. A Revolução de 1930 e a Era Vargas. 2. As Constituições Republicanas. 3. A estrutura política e os movimentos sociais no período militar. 4. A abertura política e a redemocratização do Brasil. 5. Canudos. 6. Cabanagem. HISTÓRIA DO BRASIL A ERA VARGAS ANTECEDENTES: A CRISE DOS ANOS 20 E A REVOLUÇÃO DE 1930 O período da República Velha que vai de 1919 a 1930, foi marcado pela crise da dominação oligárquica: O país passou por grandes transformações econômicas e sociais, com a crise do café e o desenvolvimento da industrialização. Novas camadas sociais despontaram, demonstrando sua insatisfação com o predomínio da oligarquia cafeeira, que usava o governo para defender seus interesses particulares. As classes médias urbanas estavam insatisfeitas com sua exclusão do poder político e reivindicavam voto secreto e moralização eleitoral. O proletariado lutava por melhores condições de vida e por garantias trabalhistas. A burguesia industrial pleiteava políticas para o desenvolvimento industrial. E até mesmo alguns setores da oligarquia rural estavam insatisfeitos, constituindo grupos dissidentes, unindo-se à oposição no combate ao monopólio cafeicultor sobre a vida política nacional. Esse quadro de insatisfação manifestou-se, em termos políticos, na irrupção do tenentismo e, em termos culturais, na Semana de Arte Moderna, desembocando na Revolução de 1930, que pôs fim à República Velha. O TENENTISMO A década de 20 no Brasil foi marcada por uma crise política, assinalada pela revolta da oficialidade jovem (cadetes, tenentes e capitães do exército), genericamente chamados de tenentes, daí o nome dado a seu movimento – tenentismo. Os militares estavam afastados do poder desde o final do governo de Floriano. Reapareceram na cena política por ocasião da eleição de Hermes da Fonseca (1910), mas subordinados as oligarquias mineira e gaúcha, que lançaram a candidatura do marechal. No pleito seguinte, São Paulo e Minas Gerais voltaram a ter a hegemonia sobre a política nacional (política do café- com-leite). Os militares estavam insatisfeitos com o abandono do exército e com o papel subalterno exercido nos esquemas de poder. Segundo Boris Fausto, o comportamento rebelde dos tenentes guarda também alguma relação com o descontentamento das classes médias, pois eram em sua maioria oriundos das camadas médias urbanas. Influenciados por ideais nacionalistas e industrialistas, os tenentes desenvolveram um programa de ação que continha elementos progressistas e conservadores, pois se de um lado lutavam contra a corrupção eleitoral, pregando o voto secreto e reformas no ensino; de outro lado, eram elitistas e autoritários, fazendo um movimento desvinculado das camadas populares, pois para eles o povo "era despreparado e inculto". A campanha sucessória de Epitácio Pessoa foi particularmente agitada, pois o candidato situacionista, Artur Bernardes, contou com a forte oposição civil e militar. Os Estados do Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro organizaram a Reação Republicana, lançando Nilo Peçanha como candidato. HISTORIA POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO HISTORIA - LEI 5.810/94 4 Mas, Artur Bernardes saiu vencedor, fazendo eclodir uma revolta dos jovens oficiais do Forte de Copacabana, com o apoio de guarnições do Mato Grosso. A rebelião, que pretendia impedir a posse do presidente eleito, fracassou e os "18 do forte", isolados e cercados, decidiram abandonar o forte e marchar pela praia de Copacabana, para combater as forças legalistas. Nesta luta suicida, sobreviveram apenas dois dos 18 revoltosos, Siqueira Campos e Eduardo Gomes. O governo de Artur Bernardes, iniciado em 15 de novembro de 1922, foi marcado por permanente estado de sítio, constantes agitações e revoltas políticas. Suas medidas autoritárias, restringindo as liberdades individuais e estabelecendo censura para a imprensa, além das frequentes transferências de oficiais, provocaram novos levantes tenentistas. A 5 de julho de 1924 eclodiu o segundo movimento tenentista, em São Paulo, recebendo as denominações de Revolução Tenentista de 1924 ou Revolução Paulista de 1924, sob o comando do general Isidoro Dias Lopes. Os revoltosos ocuparam a cidade por 23 dias, apresentando um programa de reivindicações que incluía o voto secreto e a obrigatoriedade do ensino primário. Bombardeados pelos exércitos legalistas, os revoltosos retiraram-se para o sul, onde uniram-se às tropas gaúchas lideradas por Luís Carlos Prestes e Mário Fagundes Varela. Surgia aí, em 1925, a organização da "guerra em movimento", que ficou conhecida historicamente como Coluna Prestes. A Coluna Prestes percorreu mais de 24 mil quilômetros, contando com cerca de 1500 guerrilheiros. Enfrentaram as tropas legalistas em mais de cem combates, durante dois anos e meio. Seu objetivo de sublevar as populações do interior contra o governo de Artur Bernardes e o poder das oligarquias não foi alcançado. Em 1927, com a posse do novo presidente, Washington Luís, a Coluna entrou na Bolívia, onde dissolveu-se. O Golpe de 1930 Na década de 20 a economia brasileira estava assentada basicamente na monocultura cafeeira, produzido cerca de 60% do café mundial. Os Estados maiores produtores de café, São Paulo, Minas Gerais, também controlavam a vida política nacional, garantindo uma política de valorização do café baseada no financiamento e na retenção dos estoques excedentes de café, mantendo assim os preços estabilizados. O ônus desta política de defesa do café era de toda a sociedade, pois o governo emitia mais moedas e contraía cada vez mais empréstimos do exterior. em 1929, o Brasil contava com quase 19 milhões de sacas de café estocadas, subindo para cerca de 28 milhões em 1930. Para as indústrias brasileiras a década de 20 também foi um período sombrio. Este quadro agravou-se com a crise mundial do capitalismo liberal, cuja explosão foi assinalada pelo craque da Bolsa de Nova York, em outubro de 1929. Os EUA despontaram como potência mundial, a partir da Primeira Guerra Mundial, sendo, em 1929, responsáveis por 44,8% da produção industrial mundial. Sua produção mundial cresceu nos anos 20, superando em muito o crescimento da capacidade de consumo da sociedade.Apesar da saturação do mercado, as indústrias continuaram a aumentar sua capacidade produtiva, provocando a queda dos preços. Foi na Quinta-feira, 29 de Outubro de 1929. Que a dúvida sobre o real valor das ações comercializadas na Bolsa gerou o pânico, fazendo com que cerca de 16 milhões de títulos fossem lançados no mercado ao mesmo tempo, provocando a quebra da bolsa de Nova York. Seus reflexos foram terríveis para a economia mundial, por falta dos laços de dependência dos demais países para com o capital norte americano. No Brasil, por exemplo, milhões de sacas de café foram queimadas, pois os EUA eram nossos principal consumidor e financiador. As importações norte americanas diminuíram, os financiamentos foram suspensos e as dívidas foram cobradas. O preço do café caiu 57% e a valorização do café se inviabilizou. Os cafeicultores foram arruinados a política paulista enfraqueceu. O GOVERNO DE WASHINGTON LUÍS Washington Luís era indicado pela elite paulista, portanto continuador da tradicional política do café- com-leite. Seu governo, iniciado em Novembro de 1926, pôs fim ao permanente estado de sitio que marcou o governo de seu antecessor, libertou presos políticos e deu maior liberdade à imprensa, construiu estradas e reformou as finanças. O Partido Comunista, na ilegalidade desde 1922, ano de sua fundação, passou a atuar com maior liberdade, enquanto surgiam outras forças políticas, como o Partido democrático Nacional, fundado por dissidentes paulistas e gaúchos, em 1927. POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO HISTORIA 5 Foi no processo sucessório de Washington Luís que a crise da política do café-com-leite se evidenciou. Sendo paulista, o presidente deveria lançar um candidato mineiro à sua sucessão. Mas, Washington Luís, preocupado com a continuidade de sua política financeira e de valorização do café, preferiu lançar outro candidato paulista, Júlio Prestes, rompendo o acordo político com Minas Gerais. O Governo de Minas Gerais reagiu, unindo-se ao Rio Grade do Sul e à Paraíba na Aliança Liberal, que lançou a candidatura do então governador gaúcho, Getúlio Vargas, para a presidência da República, tendo como vice o paraibano João Pessoa. A Aliança Liberal apresentou um programa político capaz de sensibilizar a massa urbana, inclusive os tenentes, por defender o voto secreto, a anistia política, a criação de leis trabalhistas e a redução da jornada de trabalho. Mas, o candidato paulista, Júlio Prestes, saiu vencedor, graças à atuação da máquina eleitoral oligárquica e às pressões econômicas que o governo federal exerceu contra os Estados opositores. Esta vitória foi duramente contestada e a insatisfação nacional se acentuou. Vargas Chega ao Poder A questão sucessória do Presidente Washington Luís provocou a cisão da oligarquia dominante e foi o estopim de uma revolução, que derrubou a República Velha. A partir dessa revolução, o governo passou a ser exercido por outro bloco de poder, do qual participaram as mais diversas frações da classe dominante: burguesia industrial, comercial, financeira, aristocracia agrária, etc. Pode-se afirmar que nenhuma dessas frações conseguiu impor a sua hegemonia sobre o processo político. Para as eleições presidenciais que escolheria o sucessor de Washington Luís, era a vez de Minas Gerais indicar o candidato, mas o presidente, ligado à oligarquia de São Paulo, indicou o paulista Júlio Prestes, que garantia a continuidade da política de valorização do café. A crise mundial de 1929 afetou sobremaneira a cafeicultura paulista, pois houve queda do preço do café. Os mineiros, que esperavam a indicação de Antônio Carlos, presidente de Minas Gerais, romperam sua aliança com São Paulo e, juntamente com o Rio Grande do Sul e a Paraíba, criaram um novo partido, a Aliança Liberal, que lançou a candidatura de Getúlio Vargas, ex- ministro da Fazenda e presidente do Rio Grande do Sul. O candidato a . vice-presidente era o paraibano João Pessoa. A Aliança Liberal, em sua campanha política, concentrou suas forças nos grandes centros urbanos, buscando, assim, a adesão : das novas classes sociais emergentes: a burguesia industrial e o operariado. Aos operários prometia satisfazer suas reivindicações, tais como: férias remuneradas, regulamentação do trabalho da mulher e da criança e ampliação do direito de aposentadoria. Além disso, suas propostas de anistia aos presos políticos e de instituição do voto secreto trouxeram-lhe o apoio dos líderes tenentistas. Realizada as eleições, em março de 1930, Júlio Prestes foi declarado vencedor, mas a ala mais radical da oposição, alegando fraude eleitoral, iniciou a organização de um movimento para derrubar Washington Luís pelas armas. Em julho do mesmo ano, o assassinato de João Pessoa, no Recife, por um adversário político, contribuiu para dar mais força à oposição. Tropas do Rio Grande do Sul marcharam em direção ao Rio de Janeiro. No Nordeste, a rebelião teve à frente Juarez Távora que liderou o início da rebelião, que abrangeu vários estados (Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão, Alagoas, Sergipe e Piauí). São Paulo, Rio, Pará e Bahia continuaram ao lado do governo. No decorrer dos quinze anos em que governou o Brasil, Getúlio foi chefe do Governo Provisório (1930-1934); presidente constitucional, eleito por via indireta (1934- 1937), e ditador de uma ordem autoritária conhecida como Estado Novo (1937-1945). O Governo Provisório (1930- 34) Logo que assumiu o poder, Getúlio Vargas dissolveu o Congresso Nacional, as Assembleias Estaduais e as Câmaras Municipais e nomeou interventores para os estados, com amplos poderes. Dois novos ministérios foram criados, o do Trabalho, Indústria e Comércio e o da Educação e Saúde. Demonstrando o seu autoritarismo, desde o início, Vargas controlou os meios de comunicação e os sindicatos. Estes, para funcionar, precisavam da autorização do Ministério do Trabalho e a sua atividade política ficou proibida. No seu governo foram aprovadas algumas leis trabalhistas: regulamentação do trabalho feminino e infantil; descanso semanal remunerado; férias remuneradas; e jornada de trabalho de oito horas diárias. POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO HISTORIA - LEI 5.810/94 6 A Revolução Constitucionalista Com a Revolução de 30, São Paulo perdeu sua hegemonia na política nacional e até mesmo o governo do estado passou para o controle de Getúlio Vargas. Em 1932, tentando retomar o poder, os paulistas desencadearam um movimento revolucionário. São Paulo enfrentava também, além da crise do café, a falência de várias indústrias, desemprego e greves operárias, que exigiam a aplicação das leis trabalhistas. Quando Getúlio nomeou como interventor de São Paulo o militar pernambucano João Alberto Lins de Barros, os ânimos se acirraram contra o governo federal. Os Partidos Democrático e Republicano Paulista se uniram, formando a Frente Única, que exigia, a autonomia política para São Paulo e a reconstitucionalização do país, com a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, já que a Revolução havia declarado extinta a Constituição de 1891. A Frente recebeu adesão de militares e industriais. Devido à pressão que sofreu, Vargas nomeou um novo interventor para São Paulo, agora civil e paulista, Pedro de Toledo, e marcou o dia para as eleições dos membros da Assembleia Constituinte. Apesar dessas concessões, a oligarquia paulista continuou reagindo, pois queria controlar o poder e fazer uma política efetivamente favorável ao café. O preço desse produto continuava em queda, o que levou o governo a adquirir e queimar os estoques desse produto. Os conflitos ganharam as ruas não só da capital do estado como de muitas cidades do interior. Em uma das manifestações contra o governo de Getúlio, foram mortos na cidade de São Paulo os estudantes Martins, Miragaia, Dráuzio e Camargo, o que deu origem à siglaMMDC, que foi usa; da para denominar um grupo radical contra Getúlio. Em 9 de julho eclodiu a Revolução Constitucionalista. As forças paulistas foram comandadas pelo general Isidoro Dias Lopes. Depois de cerca de três meses de revolução, os paulistas foram derrotados pelas tropas federais. A Constituição de 1934 Em maio de 1933, foi eleita a Assembleia Constituinte e, em 1934, foi promulgada uma nova Constituição que tinha como características principais: garantia da autonomia dos estados, mandato presidencial de quatro anos, sendo o primeiro eleito por via indireta, voto universal secreto, direito de voto à mulher, instituição do salário mínimo, jornada de oito horas de trabalho, descanso semanal e férias remuneradas, proibição do trabalho de menores de 14 anos de idade, indenização por dispensas sem justa causa, e deputados classistas. A Assembleia Constituinte também elegeu o presidente da República e Getúlio foi confirmado no cargo, agora como presidente constitucional. O Governo Constitucional (1934/37) Esse período foi marcado peio surgimento de duas correntes político-ideológicas antagônicas: • Ação Integralista Brasileira, de inspiração fascista, que tinha como líder Plínio Salgado. Contou com o apoio dos setores conservadores da sociedade. • Aliança Nacional Libertadora, que agregava os elementos de esquerda, com orientação marxista, liderada por Luís Carlos Prestes, chefe do Partido Comunista e, como frente antifascista, contava com o apoio dos liberais. O declínio do tenentismo. Desde a constituinte (1933) e a promulgação da constituição (1934), o tenentismo estava em declínio. Esse movimento, um dos mais radicais e reformistas da República Velha, foi também a mais séria tentativa de superar o domínio das oligarquias estaduais. Todavia, ideologicamente, o tenentismo era desprovido de coerência; da mesma forma não tinha nenhum programa político suficientemente claro, que mobilizasse setores significativos da sociedade para a reorganização do país. Em 1934, o tenentismo já tinha deixado de existir como movimento organizado. Em seu lugar, novas organizações políticas começaram a surgir, influenciadas pelos acontecimentos europeus. A Conjuntura Internacional. Após o término da primeira guerra mundial (1914 – 1918) começaram a se fortalecer na Europa as tendências políticas contrárias aos ideais burgueses nascidos no século XVIII: o liberalismo e a democracia. A ideologia burguesa passou a ser criticada tanto pela direita (fascismo e nazismo) como pela esquerda (marxismo). A primeira crítica não era revolucionária e buscava, através de um regime ultranacionalista, belicoso e ditatorial, uma saída para a crise do capitalismo, sem contudo o destruir. A segunda, revolucionária, preconizava a superação do capitalismo, com a tomada do poder pela classe operária e a transformação da sociedade. Em outras palavras, o fim da propriedade privada dos meios de produção e da exploração do trabalho assalariado. POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO HISTORIA 7 Essas duas tendências políticas (ultra-reacionária e revolucionária) estavam em luta acirrada durante o período entre guerras e refletiram-se no Brasil com a formação da Ação Integralista Brasileira (tendência fascista) e da Aliança Nacional Libertadora (tendência esquerdista). Esses dois partidos eram bem diferentes daqueles até então existentes, pois tinham um programa político bem delineado e haviam superado os antagonismos de regionais, substituindo-os pelos antagonismos de classes. Portanto, já não eram agrupamento político de defesa de um estado ou outro, de uma região ou outra. Ao contrário, defendiam claramente os pontos de vista de uma classe, independentemente da área geográfica. O INTEGRALISMO O integralismo surgiu no bojo dos acontecimentos europeus e era tributário do fascismo italiano. Doutrinariamente, o integralismo preconizava o governo ditatorial ultranacionalista, com base na hegemonia de um único partido, a Ação Integralista Brasileira (AIB), obediente a um único chefe. Os fundamentos doutrinais da AIB encontravam-se no manifesto à Nação Brasileira (1932), de autoria de Plínio Salgado, ex-integrante do PRP. Nele, o autor fazia a defesa da “Pátria, Deus, Família”, isto é, do “chauvinismo”, da “civilização cristã” e do “patriarcalismo”. A AIB encontrava apoio na oligarquia tradicional, na alta hierarquia militar, no alto clero, em suma, nos setores mais conservadores da sociedade. Tal como seu modelo europeu, a AIB utilizava-se do ódio aos comunistas para elevar a tenção emocional de seus partidários. O “perigo vermelho” era visto por toda a parte, o que mantinha a permanente vigilância e o fervor partidário. Entre 1932 e 1935, quando os efeitos da crise de 1929 se faziam sentir com intensidade e as agitações esquerdistas começavam a tomar corpo, os integralistas formaram, como na Itália, grupos paramilitares que agiam com violência para dissolver as manifestações esquerdistas. A ALIANÇA NACIONAL LIBERTADORA A ascensão dos totalitarismos de direita, quase por toda a parte, motivou a formação de frentes antifascistas, com predomínio dos partidos comunistas em todos os países. Alias, a Terceira Internacional (Komintern) – reunião dos partidos comunistas de todo o mundo – havia preconizado essa tática na luta antifascista: aglutinar todos aqueles que, por uma razão ou outra, eram contrários ao fascismo. O Partido comunista do Brasil, fundado no início dos anos 20, adotou essa linha. A formação da frente anti-integralista resultou na Aliança Nacional Libertadora. Como presidente de honra da ANL foi eleito Luís Carlos Prestes, que rompera com o tenentismo para converter-se ao marxismo, passando rapidamente à cúpula dirigente do PCB. A ANL desde então cresceu vertiginosamente, despertando, em consequência o receio das camadas dirigentes. O próprio Getúlio Vargas, a fim de fortalecer o seu poder, serviu-se da ANL. Depois, através da intervenção policial, invadiu suas sedes e mandou prender seus líderes. Enfim, impediu a atuação da ANL na legalidade, forçando-a a passar para a clandestinidade. Por causa da repressão política, o PCB, movido pela alta radical, acabou optando pelo método insurrecional, dando origem à intentona comunista. A rebelião eclodiu prematuramente (23/11/1935) em Natal, no Rio grande do Norte, onde o batalhão em levante se uniu a populares, organizando o Comitê Popular Revolucionário. A repressão foi imediata, com o apoio da Polícia Militar e de fortes contingentes armados enviados pelos fazendeiros. Dois dias depois a insurreição foi esmagada. No dia 25, em Recife e Olinda, guarnições militares sob domínio comunista se sublevaram e também foram reprimidas em maiores dificuldades. O mesmo aconteceu no Rio de janeiro no dia 27 de novembro. Destacaram-se na época, como representantes das forças repressoras, Eduardo Gomes (um dos sobreviventes dos 18 do forte, 1922) e Eurico Gaspar Dutra. O Estado Novo Para combater os levantes comunistas, Getúlio Vargas decretou o estado de sítio em novembro, que se prolongou até o ano seguinte. Era o pretexto de que necessitava para conduzir o país à ditadura. Era um pretexto, porque Vargas sabia de antemão dos planos insurrecionais do PCB através de elementos da polícia infiltrados no partido. E serviu-se do levante comunista- mal concebido, mal planejado e mal executado, sem a mínima chance de vitória- para atingir objetivos pessoais. Utilizando o argumento da “ameaça comunista”, preparou, pacientemente, seu próprio caminho. POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO HISTORIA - LEI 5.810/94 8 Quando se iniciou a campanha para a sucessão presidencial, a oligarquia paulista lançou o seu candidato, Armando de Sales Oliveira; os Getulistas defendiam a candidatura de José Américo de Almeida. Porém, nem um nem outro estava nos planos de Getúlio Vargas, pois ele pretendiacontinuar no poder. E tinha fortes argumentos para isso; contava com o apoio do general Góis Monteiro, chefe do estado-maior do Exército, e do general Dutra, seu ministro da guerra. O Plano Cohen (1937). Contudo, o Congresso Nacional, sentindo as manobras golpistas de Vargas, o impediu de renovar o estado de sítio. Para forçar a situação, Vargas simulou a farsa do Plano Cohen, de autoria duvidosa: tratava-se de um plano supostamente comunista, que visava ao assassinato de personalidades importantes, a fim de tomar o poder. Segundo a versão dos interessados na farsa, o documento fora “descoberto” e entregue a Góis Monteiro pelo Capitão Olímpio Mourão Filho, membro integralista. O nome plano Cohen foi dado por Góis Monteiro, responsável pela divulgação alarmista por toda a imprensa. Diante da “ameaça vermelha”, o governo pediu o estado de guerra, e o congresso concedeu. Criaram-se assim as condições para o golpe. Getúlio buscou e conseguiu o apoio do governador de Minas, Benedito Valadares; no nordeste, a missão Negrão de Lima consegui a adesão de vários estados. No dia 9 de novembro de 1937, Armando de Sales Oliveira apelou para as forças armadas, pedindo a manutenção da legalidade. Inutilmente, pois Francisco Campos, de tendência integralista e futuro ministro da justiça, já tinha sido encarregado de redigir a nova Constituição. Em 2 de dezembro de 1937, os partidos foram dissolvidos. Era o inicio do Estado Novo. A CONSTITUIÇÃO DE 1937 A Ditadura Vargas . Apesar da inegável afinidade entre o novo regime, instituído pelo golpe de 1937, o regime dos Estados Fascistas europeus, certas características peculiares destes não apareceram na formação do Estado Novo. Nesse sentido, o decreto de 2 de dezembro de 1937, que dissolveu todos os partidos, é bem elucidativo. Comecemos com as razões do decreto. Segundo ele, os partidos, políticos eram “artificiosas combinações de caráter jurídico e formal” e tinham, “objetivos meramente eleitorais”. A crítica dirigia-se claramente aos partidos tradicionais herdados da República velha – expressões dos interesses locais e incapazes, portanto, de formar a “nação”. Por isso no decerto se afirmou que os partidos não correspondiam “aos reais sentimentos do povo”, pois “não possuem conteúdo programático nacional”. Essa última denuncia não era aplicável, no entanto, à AIB e à ANL, pois ambas haviam superado os partidos até então existentes por trazerem “conteúdo programático nacional”. Entretanto, contra a AIB e a ANL, as acusações seriam outras: elas espelhavam ideologias e doutrinas contrárias aos postulados do novo regime. Assim, uma vez que todos os partidos eram inadequados, a instauração do novo regime foi a solução ideal pois fora afundado em nome da nação para atender às suas aspirações e necessidade, devendo estar em contato direto com o povo. Portanto, o pano de fundo da ideologia do Estado Novo foi o mito da nação e do povo, duas entidades abstratas que por si sós não significam absolutamente nada. Na realidade, esse foi o momento em que, através da ditadura se procurou cumprir os localismos e viabilizar um projeto realmente nacional. Identificando nação e povo, e ambos com o ditador, sem a distancia interposta dos partidos, o Estado Novo tinha a ilusão de que finalmente o povo governaria a si próprio e a nação se reencontraria. O ditador era então a encarnação viva do povo e da nação. A carta outorgada de 1937 teve como principal autor Francisco Campos e caracterizou-se pelo predomínio do poder executivo, considerado o “órgão supremo do estado”, usurpando até as prerrogativas do legislativo. O presidente foi definido como a “autoridade suprema do estado, coordena os órgãos representativos de grau superior, dirige a política interna e externa, promove e orienta a política legislativa de interesse nacional e superintende a administração do país”, conforme o texto constitucional. Passou ater completo controle sobre os estados, podendo a qualquer tempo nomear interventores. Instituiu-se ainda o estado de emergência, que permitia o presidente suspender as imunidades parlamentares, prender, exilar e invadir domicílios; para completar, instaurou-se novamente a pena de morte e legalizou-se a censura para os meios de comunicação – jornais, rádio e cinema. O poder legislativo seria composto pelo presidente da República, pelo Conselho Nacional (que substituiu o Senado) e pelo Parlamento Nacional (Câmara dos Deputados). O Parlamento Nacional, com 3 a 10 representantes por estado, seria eleito por voto indireto (vereadores das Câmaras Municipais e 10 eleitores por voto direto). O Conselho Nacional seria composto por um representante de cada estado, eleito pelas Assembleias Estaduais, e por 10 membros nomeados pelo presidente, com mandatos de 6 anos. POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO HISTORIA 9 Sob a aspiração do estado corporativo do regime fascista italiano, a nova Constituição criou o Conselho da Economia Nacional, composto pelos representantes da produção – indicados por associações profissionais e sindicatos reconhecidos por lei – com representação paritária de empregados e sob a presidência de um ministro de Estado. O Conselho da Economia Nacional tinha função de assessoria técnica, visando obter a colaboração das classes, a racionalização da economia e a promoção do desenvolvimento técnico. Tudo isso significava também que o Estado iria intervir e dirigir a economia nacional. A carta outorgada de 1937 deveria ter sido submetida a um plebiscito, como determinava o seu texto, mais o ditador fez por esquecer esse compromisso. Vargas criou O Departamento administrativo do serviço público (DASP) em 1938 com a finalidade de dar ao Estado um aparato burocrático racionalizador da administração pública em suma, tratava–se de modernizar a burocracia. CONTROLE E REPRESSÃO DA SOCIEDADE Para garantir o funcionamento do novo regime, foram criados vários instrumentos de controle e repressão. Inicialmente, destacou-se o Departamento de Impressa e Propaganda (DIP), encarregado do controle ideológico. Para tanto, exercia a censura total dos meios de comunicação – imprensa, rádio e cinema – ,através dos quais, inoculando na sociedade o medo do “perigo comunista”, sustentava o clima de segurança que justificara o novo regime. Além disso, trabalhava na propaganda do presidente, formando dele uma imagem sempre favorável. Com esse fim foi instituída a Hora do Brasil, emissão radiofônica obrigatória. Naturalmente, a intolerância pela diversificação da informação era a base do novo regime. E qualquer oposição ideológica era duramente reprimida, a exemplo do confisco do jornal O Estado de São Paulo, fundado por Júlio de Mesquita. Ao mesmo tempo que a repressão ideológica alargou seus horizontes através da oficialização, avultou o papel da Polícia Secreta, chefiada por Filinto Müller. Tal como nos regimes totalitários europeus, a Polícia Secreta se especializou em práticas violentas, reprimindo, com torturas e assassinatos, os indivíduos considerados nocivos à ordem pública. A preocupação do novo regime era neutralizar e anular a influência política do operariado fazendo os trabalhadores ligarem-se aos sindicatos. O princípio norteador dessa política trabalhista foi a concepção corporativa do fascismo que consistia na negação de luta de classes e na afirmação da colaboração entre elas. Esse princípio não reconhecia, portanto, as diferenças de interesses entre patrões e empregados, colocando acima das contradições de classe o suposto interesse, mais geral. Da, “nação”. Por isso, pela constituição de 1937, as greves e o lock-out foram proibidos, por serem “recursos anti-sociais, nocivos ao trabalho e ao capital, incompatíveis com os superiores interesses nacionais”. A autonomia sindical foi finalmente liquidada com a instituição do imposto sindical, cobrado compulsória e anualmente de todos os trabalhadorese equivalentes a um dia de trabalho. Esse imposto – destinado a remunerar pessoal encastelado no aparato burocrático sindical – era recolhido pelo Ministério do Trabalho, que então fazia a redistribuição entre os sindicatos. Assim, os sindicatos tornaram-se entidades dependentes do estado e, portanto, facilmente manipuláveis por ele. Uma das consequências para os sindicatos foi o surgimento dos “pelegos”, trabalhadores que não representam autenticamente os interesses de sua classe; beneficiados pelo sistema sindical identificam-se com o governo. AS MUDANÇAS ECONÔMICAS A eclosão da segunda guerra mundial teve efeitos favoráveis à política de industrialização em curso no Brasil, pois, “além de passarem ater um mercado interno a seu inteiro dispor, muitas indústrias brasileiras viram-se chamadas a preencher o vácuo deixado, em outros países pela perda de contato com os seus fornecedores tradicionais de produtos manufaturados. Assim, a exportação de tais artigos tornou-se, pela primeira vez, um item ponderável na pauta exportadora do país”. Consequentemente, os industriais, sobretudo do Rio de Janeiro e de São Paulo, puderam ampliar suas funções. O Estado encarregou-se de criar a infra-estrutura necessária. Através de empréstimos do Eximbank (Banco Semi Oficial Norte Americano), Vargas obteve o empréstimo desejado para construir a usina de volta redonda (1941). Os meios de transportes para alimentar a usina foram viabilizados: incrementou-se o transporte marítimo para trazer o carvão do sul (Santa Catarina); equipou-se a estrada de ferro Central do Brasil para transportar o minério extraído em Minas Gerais, onde foi criada a Companhia Vale do Rio Doce (1942). De acordo com o mesmo espírito nacionalista que presidiu a formação da indústria pesada no Brasil, o POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO HISTORIA - LEI 5.810/94 10 Estado interveio na formação do Conselho Nacional do Petróleo (1938), a fim de controlar o refinamento e a distribuição do combustível, essencial para assegurar o desenvolvimento dos transportes. Desde a primeira guerra (1914 a 1918), passando pela crise de 1929 até a segunda guerra (1939 a 1945), havia no Brasil uma conjuntura favorável à industrialização, que, não obstante, se efetivou associado à economia cafeeira e não em oposição a ela. Na realidade, os capitais investidos nas indústrias eram provenientes da acumulação do setor agrícola, donde se conclui que a exploração da grande massa rural era a chave daquela acumulação por isso, apesar de sua aparência antioligárquica, o Estado Novo manteve intocado o sistema de dominação do campo. Daí, para Lourdes Sola “as características contraditórias do Estado Novo, combinando aspectos progressistas, como o impulso à industrialização, e conservadores, como a repressão aos movimentos de coerção apoiado nos grupos militares (...)”. tomado em conjunto, na era de Vargas, particularmente no período do Estado Novo o estado funcionou efetivamente, como o mais poderoso instrumento de promoção da acumulação de capitais, colocando o Brasil nos trilhos do capitalismo. À medida que o estado autoritário getulista criou condições para o deslanche da industrialização, inevitavelmente criou também, condições para a ampliação do debate em torno da forma do desenvolvimento. A burguesia passou a exigir uma participação maior nas decisões, e isso implicava a passagem do Estado para segundo plano, apagando sua pesada incomoda presença no campo econômico. Em outros termos, o Estado Novo foi “adequado” para promover a “acumulação primitiva” de capital. Uma vez cumprida essa etapa a própria forma do Estado passou a ser obstáculo a superar, e a “redemocratização” tornou - se um caminho inevitável, selando o destino de Vargas O BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL Embora identificados com os regimes totalitários europeus. O Estado Novo getulista conservava-se neutro em relação ao conflito que eclodira em 1939. Entre os Estados liberais e o nazi-fascismo europeus. Apesar das pressões Norte Americanas, o governo continuava indeciso. E essa indecisão era reflexo das tendências contraditórias dos homens do governo: enquanto Filinto Muller, chefe da polícia do Rio e Francisco Campos eram favoráveis as potências fascistas do eixo Berlim- Roma- Tóquio, Osvaldo Aranha colocava-se contra entre as duas tendências oscilavam os generais Gois Monteiro e Dutra A inclinação a favor das potências aliadas desse a partir do sucesso das negociações de empréstimos entre o Brasil e o Eximbank, em 1941. Já na II Conferencia de Consulta dos Chanceleres no Rio de Janeiro, em meados de janeiro de 1942, a aliança política entre Brasil e Estados Unidos foi efetivada. Tornou-se inevitável o rompimento das relações diplomáticas com o eixo. Em março do mesmo ano, o comprometimento do Brasil se aprofundou, com a assinatura de um acordo que permitia aos Estados Unidos a utilização das costas nordestinas como bases aeronavais. O Brasil na Segunda Guerra. A participação direta do Brasil no conflito mundial aconteceu após repetidos ataques de navios brasileiros por parte da força submarina alemã. Cerca de18 navios foram perdidos nesses ataques, realizados até em águas brasileira. Além das perdas materiais, 607 brasileiros foram mortos. Evidentemente, isso provocou reações espontâneas que resultaram em manifestações populares exigindo a entrada do Brasil na guerra. E 21 de agosto de 1942, finalmente, Osvaldo Aranha, ministro das Relações Exteriores, declarou oficialmente guerra contra Itália e a Alemanha. A participação do Brasil limitou-se de inicio ao fornecimento de matérias primas estratégicas e ao auxílio do policiamento do atlântico Sul. Somente em 1944 foi enviado à Itália um contingente de 23.334 soldados, que formaram a Força Expedicionária Brasileira (FEB), sob o comando do general Mascarenhas de Morais. Na Itália, incorporada ao 5º exército Norte Americano, chefiado pelo general Clark, a FEB obteve algumas vitórias contra as tropas fascistas destacando-se as batalhas de Monte Castelo e Montese. No entanto, o triunfo das forças democráticas do mundo contra a barbárie fascista pôs o Estado Novo em posição extremamente incomoda. No dia seguinte ao final da guerra, a ditadura de Vargas já não tinha lugar, pois havia sido ultrapassada pelos acontecimentos. Reflexos políticos da Segunda Guerra. A partir de 1942, quando a posição do Brasil se definiu claramente a favor das potências liberais, o engajamento, no grande conflito não pode deixar de repercutir na conjuntura política interna. Como resolver a contradição de um Estado inspirado no fascismo italiano que se empenhara na luta antifascista, em defesa dos ideais antiautoritários? É claro que as repercussões da Segunda Guerra, por si sós, não explicam as transformações políticas no Brasil. Na verdade, elas se entrelaçaram à crise política interna, formando uma complexa rede de contradições que resultou na criação de conjunturas favoráveis ao desmantelamento do Estado Novo. POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO HISTORIA 11 Em 1943, esgotou-se o limite que o Estado Novo impusera “para a legitimação, por meio de um plebiscito, da constituição outorgada em 1937. Nessa conjuntura surgiu o manifesto dos Mineiros (outubro de 1943), assinado por Virgílio de Melo Franco, Afonso Arinos, Milton Campos, Magalhães Pinto, Adauto Lúcio Cardoso, Odilon Braga, Pedro Aleixo e Bilac Pinto, futuros líderes da União Democrática Nacional (UDN). O citado documento, reconhecendo “que o Brasil esta em fase de progresso material e tem sabido mobilizar muitas das suas riquezas naturais, aproveitando inteligentemente as realizações do passado e as eventualidades favoráveis do presente”, criticava a “ilusória tranquilidade e a paz superficial que se obtém pelo banimento das atividades cívicas, (que) podem parecer propícias aos negócios e ao comércio, ao ganho e à própriaprosperidade, mas nunca benéficas ao revigoramento dos povos”. Em síntese, o manifesto exigia a participação política dos agentes do progresso econômico, isto é, um desenvolvimento político correspondente e compatível com a prosperidade material. A crise interna acompanhou o progressivo avanço dos aliados na Segunda Guerra. E, aliás, a coincidência desse avanço com as etapas de redemocratização no Brasil, como afirma Weffort, “não é simples fruto do acaso”. O próprio Vargas, sentindo o comprometimento de seu poder, assumiu, ambiguamente, uma posição mais flexível. No seu discurso de novembro de 1943 declarou: “Quando terminar a guerra, em ambiente próprio de paz e ordem, com as garantias máximas à liberdade de opinião, reajustaremos a estrutura política da nação, faremos de forma ampla e segura as necessárias consultas ao povo brasileiro”. Apesar dessa declaração, as forças de oposição que estavam emergindo não acolheram com entusiasmo a promessa de Vargas. Em 1945, quando a guerra chegou ao fim, essas forças se manifestaram, levando o Estado Novo à inelutável desagregação. As agitações. As agitações pela redemocratização iniciaram-se com o I Congresso Brasileiro de Escritores, em janeiro de 1945, que se manifestou favoravelmente ao restabelecimento da democracia. As declarações de José Américo de Almeida, no jornal Correio da Manhã, tiveram um grande impacto. Francisco Weffort assim vê o momento: “Da parte do governo há o ato adicional prometendo a realização para o dia 2 de dezembro. Quase ao mesmo tempo rompe-se o dique da censura à imprensa. Logo depois, aparece a candidatura do Brigadeiro Eduardo Gomes, articulada pela oposição liberal, que, por sua vez, passa a constituir-se em partido: união Democrática Nacional (UDN). E em março surge a candidatura do General Eurico Dutra, que fora Ministro da Guerra do Estado Novo. À sua volta articulavam-se as forças governistas, que logo dariam origem ao Partido social Democrático (PSD); a segunda agrupação governista deveria surgir depois e para aderir igualmente à candidatura de Dutra”. A descompressão da vida política promoveu a formação de agremiações partidárias que exprimiam os anseios até então represados. Para Lourdes Sola, o “Partido Social Democrático, que tinha Dutra por candidato, era integrado pelas oligarquias rurais, por industriais e banqueiros habituados a negociações com o governo central”. Todavia, esse partido não possuía unidade ideológica, embora controlasse uma poderosa máquina eleitoral. “O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) mobilizava a burocracia sindical ligada ao trabalhismo, sob a direção de seus criadores, Marcondes Filho, Hugo Borghi, e de seu principal ideólogo, Alberto Pasqualini. O governo procurava organizar assim, agora sob forma partidária, um dos outros pólos em que se baseara seu prestígio, as camadas populares urbanas, que passaram a representar um conjunto significativo de votos. A ideologia populista desse partido mantinha e reforçava a tradição inaugurada por Vargas”. “a União Democrática Nacional (UDN), fundada em 1944, reunia os elementos antigetulistas: antigos liberais constitucionais como Armando Sales, Júlio de Mesquita Filho, proprietários de uma cadeia de jornais como Assis Chateaubriand, o dono do Correio da Manhã, Paulo Bittencourt, e a burguesia comercial urbana, ligada aos interesses exportadores e importadores prejudicados em seus lucros pelo intervencionismo econômico do Estado Novo. Contava também com a adesão das classes médias urbanas, assustadas com a retomada do processo inflacionário que se acentuara a partir de 1942. A ideologia da UDN, politicamente liberal no plano econômico se manifestava também liberal, reivindicando a liquidação do protecionismo, identificado como causa principal do aumento dos preços. Isso conquistava a simpatia daquelas camadas médias, cujas perspectivas econômicas se orientavam pelo ponto de vista do consumidor. Uma ala da UDN, a Esquerda Democrática, mais tarde se desdobraria numa nova organização, o Partido Socialista Brasileiro (PSB)." A Anistia. Diante das pressões crescentes da opinião pública, Getúlio decretou anistia aos presos políticos, inclusive ao líder comunista Luís Carlos Prestes, que estava preso POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO HISTORIA - LEI 5.810/94 12 desde 1936, com o fracasso da intentona comunista de 1935. Depois de nove anos na prisão do Estado Novo, Prestes voltou a atuar, organizando no dia 23 de maio de 1945 uma gigantesca manifestação popular no Rio de Janeiro. Curiosamente, nessa manifestação o Partido Comunista, legalizado desde maio, expressou seu apoio ao governo de Getúlio. A pesar de estranha, tal atitude do PCB estava de apoio com sua linha política, baseada no anti-imperialismo e na aliança com as forças progressistas nacionais. Além disso, o apoio a Getúlio expressava também a presença da diretriz, fixada pela União Soviética, de formação de uma frente popular nos países que lutaram contra o eixo. . No segundo semestre de 1945, a tônica das movimentações políticas mudou a ênfase. Até o primeiro semestre do mesmo ano a campanha eleitoral absorvera as energias políticas. A partir do semestre seguinte, a tônica recaiu sobre a questão da Constituinte, que deveria reunir-se somente depois da eleição presidencial, marcada para 2 de dezembro daquele ano. Foi quando se expandiu a pregação do “queremismo” (“Queremos Getúlio”), orientada pelos trabalhistas e apoiada pelos comunistas. Vargas discretamente alimentou esses movimentos populares urbanos, propondo a “lei malaia” (junho de 1945), como ficou conhecida a lei antitruste, que tinha um caráter nitidamente nacionalista e anti-imperialista. A queda de Vargas. O queremismo representou, portanto, o respaldo – ainda que indefinido – de que Getúlio necessitava para continuar no poder. E isso despertou na UDN uma desconfiança extrema a qualquer ação de Getúlio. A situação se tornou mais clara a partir de agosto de 1945, quando a manobra continuísta se evidenciou com a evolução do queremismo para o grito de “constituinte com Getúlio”. Isso veio inquietar a oposição udenista pois a Constituinte antes das eleições presidenciais significaria a preservação do poder nas mãos de Vargas, segundo Weffort, “pelo menos até o momento em que estivesse estabelecida uma nova ordem institucional, assegurando-se a possibilidade de uma influência decisiva sobre a sua elaboração”. No inicio do mês de outubro, o partido comunista estava inteiramente disposto a apoiar Vargas. Mas “é precisamente nesse momento, em que as forças getulistas e seus aliados estão no máximo de sua capacidade de ação, que se desencadeia o Golpe de Estado”. Um grande comício pró-getulista, marcado para o dia 27, foi proibido pelo chefe de polícia do Distrito Federal. Getúlio reagiu, substituindo-o pelo seu irmão, Benjamim Vargas. Contudo a derradeira manobra encontrou forte resistência em Góis Monteiro. Dois dias depois, em 29 de outubro de 1945, Getúlio foi obrigado a abandonar o poder, transmitindo-o ao Judiciário. Terminou ai o Estado Novo. A DEMOCRACIA POPULISTA (1946-1964) O processo de redemocratização comportou pelo menos duas etapas distintas: a primeira vai de 1943, data do manifesto dos mineiros, até 29 de outubro de 1945; a segunda começa com a presidência transitória de Linhares (29 de outubro de 1945 à 1 de fevereiro de 1946) e vai até setembro de 1946, com o enceramento dos trabalhos da constituinte. A primeira fase correspondeu às agitações democráticas que culminaram com a queda de Vargas. A segunda – que Weffort considera “a fase da colheita” – correspondeu à reorganização do país segundo as determinações da fase anterior.. Com o golpe de 9 de outubro de 1945 e a deposição de Vargas, a UDN aparentemente tinha sido vitoriosa. Visto mais de perto, o golpe desencadeado pela UDN limitou-se à mera conspiração, com caráter palaciano,sem o concurso da mobilização popular. De modo que a derrubada de Vargas não teve, como se esperava a devida repercussão política e popular. Ao contrário, a forma como Getúlio caiu fez com que ele desaparecesse, aos olhos da opinião pública, como vítima do “partido dos ricos”. O prestigio do ditador não diminuiu e inversamente ao que se poderia supor, o queremismo não fora motivado apenas por forças oficiais. Surpreendentemente, a popularidade de Getúlio, “pai dos pobres”, mostrou-se bem acima das expectativas criadas nas eleições presidenciais que levaram o general Dutra ao poder. O PCB, por sua vez, manteve-se dentro da orientação anterior à queda de Vargas. Para preservar a “frente” e a aliança com as “forças progressistas”, ofereceu apoio a Linhares e, posteriormente, a Dutra. Afastou-se de Getúlio, acusando-o de ter traído o povo. Estranhamente, a esquerda tinha como linha política apoiar sempre a situação, evitando – parece – a qualquer custo passar para a oposição. A redemocratização ambicionada por toda a oposição antigetulista estava limitada desde o inicio, pois as forças políticas em jogo tinham sido formadas no seio do Estado Novo e não se haviam libertado do passado recente. Basta referir aqui o fato de o próprio Dutra ter sido ministro da guerra de Getúlio. Dutra dependia de Vargas, uma vez que não podia governar senão com o apoio dos grandes partidos (PSD e PTB) formados por Getúlio no fim do Estado Novo. A persistência do Estado Novo foi favorecida ainda pela emergência do movimento operário, que retomou seu vigor no principio do ano de 1946, sem todavia POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO HISTORIA 13 encontrar ressonância nos partidos políticos organizados. Estes não possuíam a sabedoria de compreender que a verdadeira democracia tinha que passar pelo teste da incorporação das forças operárias. A cisão entre as elites políticas e a massa popular facilitou a adoção de medidas repressivas, próprias do Estado Novo: intervenções nos sindicatos, dispositivos legais que permitiam o controle e a repressão do operariado. Mesmo o PCB não soube canalizar as forças operárias, pois era adepto da “ordem e tranquilidade” e estava aquém da proposta do operariado. A alteração da conjuntura das relações internações, logo após o término da segunda guerra mundial, também contribuiu para manutenção de traços de Estado Novo. Com efeito, depois da derrota do nazi- fascismo, o declínio da Europa – antes, o centro hegemônico mundial – era evidente. O eixo das relações internacionais deslocou-se para as duas superpotências em ascensão: Estados Unidos e União Soviética. A relação bipolar que se impôs daria origem ao principal fenômeno do pós-guerra: guerra fria. Governo Dutra No governo Dutra, foram mantidos alguns aspectos autoritários e corporativistas, como a preservação de um executivo forte o suficiente para manter o corporativismo sindical. A característica marcante de seu mandato foi a promulgação de uma nova Constituição (1946), tendo como principais destaques: República presidencialista; voto direto e universal; três poderes: legislativo, executivo e judiciário; mandato presidencial: 5 anos; senadores: 3 por Estado (mandato de 8 anos); deputados: proporcionais ao número de eleitores (mandato de 4 anos). No plano econômico, o novo presidente reduziu a intervenção do Estado na economia, adotou uma política econômica liberal, manteve as condições favoráveis para a acumulação de capital e abriu o país ao capital estrangeiro. Com a liberação das importações, a indústria nacional sofreu grande concorrência estrangeira. Houve o crescimento da dívida externa e da inflação. O governo passou a controlar as importações e dirigir os investimentos para as áreas de saúde, alimentação, transporte e energia - Plano Salte. Houve a construção da hidrelétrica de São Francisco e a pavimentação da rodovia Rio - São Paulo (Via Dutra). No plano político, o novo governo caracterizou-se pela aproximação com os Estados Unidos, alinhando-se com o bloco capitalista, e pelo rompimento de relações diplomáticas com a União Soviética. Como reflexo da Guerra Fria, o PCB foi fechado e cassado o mandato de seus parlamentares (1947). SEGUNDO GOVERNO DE VARGAS No final dos anos 40, a expansão capitalista e urbana aumentava a importância das classes sociais mais novas: a burguesia industrial e financeira, o proletariado urbano e as camadas médias ligadas à burocracia estatal, às empresas privadas e ao setor de serviços. A burguesia concentrava-se cada vez mais no Sudeste do país e mantinha-se dependente dos favores do Estado. Por isso, apoiava o PSD e era a classe mais interessada no retorno de Vargas à presidência. Esperava que, com ele, retomasse o crescimento industrial e o controle das massas urbanas. O apoio a Vargas provinha ainda de setores nacionalistas das Forças Armadas, as facções oligárquicas estaduais representadas no PSD, a nova camada de tecnocratas do governo e as massas urbanas. Juntas, essas forças sociais constituíram uma "aliança" que foi chamada de populista, cuja meta principal era o prosseguimento, sem maiores transtornos, da expansão capitalista e industrial, em bases nacionais. Combinavam, assim, um estilo político, o populismo, e uma ideologia que os unificava, o nacionalismo. A mobilização das massas em comícios e campanhas políticas, o uso dos sindicatos e a atuação do PTB tornavam-se o mais vigoroso meio de pressão dos populistas contra a oposição conservadora. A VOLTA DO VELHO Em 1950, Getúlio Vargas foi eleito para a presidência da República, derrotando os candidatos da UDN (Eduardo Gomes) e o PSD (Cristiano Machado). Nessa época, a indústria já representava 22% da produção nacional. Para manter o ritmo do crescimento da economia, sobretudo da indústria, o governo nacionalista de Vargas teria de continuar a política de confisco cambial, conciliar a política de massas com uma redução relativa dos salários e conseguir maior nacionalização dos lucros. O declínio da receita externa intensificou. A disputa pelas divisas entre os diferentes setores da classe dominante, sendo esta uma das razões da crise política dos anos 53-54. POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO HISTORIA - LEI 5.810/94 14 Nesse mandato, Vargas criou, em 1953, a Petrobrás, que passou a ter o monopólio da extração e da refinação do petróleo no Brasil. Essa medida gerou uma forte oposição ao seu governo, tanto por parte dos Estados Unidos quanto da UDN, cujo porta-voz era Carlos Lacerda. Esse jornalista carioca, sabendo que poderia sofrer atentados, tomara suas providências. Era guardado, dia e noite, por jovens oficiais da Aeronáutica. Em 5 de agosto de 1954, um pistoleiro atirou em Lacerda, matando um dos seus acompanhantes, o major Rubens Florentino Vaz, sendo acusado Gregório Fortunato, elemento da guarda pessoal de Vargas. Após o crime da rua Toneleiros, a situação tornou-se insustentável para Vargas. A 24 de agosto de 1954, o presidente suicidou; se, deixando surpresa a Nação. GOLPE E CONTRAGOLPE Com a morte de Getúlio, assumiu o poder o vice- presidente João Café Filho. Durante seu mandato, realizaram-se as eleições (3-1055) para o novo período presidencial, saindo vitorioso o candidato do PSD, Juscelino Kubitschek de Oliveira, que derrotou seus adversários: Ademar de Barros (PSP) e Plínio Salgado (PRP). Em novembro, Café Filho afastou-se do governo por motivos de saúde, assumindo, então, o presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz. Devido à derrota nas eleições presidenciais, alguns políticos udenistas passaram a advogar um golpe de Estado que impedisse a posse do candidato eleito. Em seu jornal, Carlos Lacerda escreveu no editorial de 9 de novembro: "Esses homens não podem tomar posse, não devem tomar posse, nem tomarão posse". No entender do Ministro da Guerra, General Lott, Carlos Luz estava de acordo com ogolpe planejado pela UDN. No dia 11 de novembro de 1955, apoiado nas forças militares, depôs o presidente, assumindo o cargo o presidente do Senado, Nereu Ramos, que permaneceu no poder até a posse de Juscelino, em 31 de janeiro de 1956. O Governo JK O mandato de Juscelino Kubitschek (1956-1961) caracterizou-se por um grande desenvolvimento econômico. Nesse período, a produção industrial cresceu cerca de 80%. Destacou-se nesse processo a criação da indústria automobilística na região do ABC, no estado de São Paulo. A grande obra de seu governo foi, sem dúvida alguma, a transferência da capital, federal para Brasília. A mudança da capital do Brasil já era cogitada desde o início do século XIX, sendo incluída na primeira Constituição republicana (1891). Para realizá-la, Juscelino criou um organismo governamental, a Novacap, dirigida por Israel Pinheiro. O plano geral da cidade é de autoria de Lúcio Costa e foi executado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. A inauguração oficial da nova capital deu-se no final do mandato de Juscelino Kubitschek, a 21 de abril de 1960. Além da transferência da capital, outros fatores marcaram o mandato de Juscelino: construção de rodovias: Belém-Brasília; novas usinas hidrelétricas: Furnas e Três Marias; Criação da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste). O período juscelinista, contudo, foi marcado por um grande processo inflacionário. Juscelino lançou um plano de metas realizando a substituição de importações nos setores de bens de capital e de consumo duráveis. Também promoveu a isenção de cobertura cambial, que ajudava a economia brasileira, mas prejudicava o seu caráter nacionalista, pois ela levava os empresários a se associarem ao capital estrangeiro. No fim do governo Juscelino, a dependência ao capital estrangeiro já se evidenciava. Pressionado pelos setores que se beneficiavam com o crescimento industrial e pela situação, JK optou pelo prosseguimento do programa desenvolvimentista (os 50 anos em 5) com inflação, rompendo com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Com a maior votação já dada a um candidato até então, foi eleito, para a sucessão de Juscelino, Jânio Quadros. Esse tentou uma política externa independente e procurou combater a inflação, pois recebeu de herança do governo Juscelino uma volumosa e crescente dívida externa, o que resultava numa inflação galopante, gerando, assim, a instabilidade social. Para você ter ideia, a dívida brasileira ultrapassava a dois bilhões de dólares e deveria ser paga no governo de Jânio, que iria até 1965. Além disso, o presidente pensava em constituir um bloco independente liderado por Brasil e Argentina, afastando-se um pouco da dependência em relação aos EUA. Tal política era execrada por norte-americanos e europeus. POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO HISTORIA 15 A condecoração com a Ordem do Cruzeiro do Sul, do ministro das Relações Exteriores de Cuba, Ernesto Guevara, um dos líderes da Revolução Cubana, foi mais um dos motivos para a investida conservadora. Para desapontamento de seus eleitores, todavia, Jânio renunciou em 25 de agosto de 1961, alegando que "forças terríveis" obrigavam-no a proceder dessa forma. Uma Época de Agitação Como, após a renúncia de Jânio Quadros, os militares não aceitavam a posse do vice-presidente João Goulart, havia ameaça de guerra civil. Abriu-se uma profunda crise de sucessão. As forças conservadoras queriam que o vice desistisse do cargo ou que realizasse uma reforma na Constituição. Contra essa atitude, formou-se a Campanha da Legalidade, liderada pelo governador gaúcho Leonel Brizola, onde as emissoras de rádio do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná formaram uma rede que conclamava o povo a resistir. O movimento da legalidade exigia o cumprimento da Constituição, a qual determinava que o vice-presidente, João Goulart, assumisse o cargo de presidente que estava vacante. A solução encontrada pelas forças conservadoras foi implantar o Parlamentarismo para diminuir o poder de Jango. Assim, ficou mais difícil para ele pôr em prática suas reformas de base, que objetivavam reforçar a participação de capitais nacionais e estatais em setores estratégicos da economia, reservando ao capital estrangeiro um papel secundário. Foi adotado o Parlamentarismo como forma de conciliação. Em janeiro de 1963, João Goulart realizou um plebiscito, em força do qual o Brasil voltou a ser governado pelo regime presidencialista. O populismo estava entrando em colapso. Outro motivo que se somou foi a ascensão de movimentos reivindicatórios dos trabalhadores rurais, os quais, aos poucos, vinham adquirindo conteúdos políticos. Enfraquecido pela crise econômica, a resistência do Congresso e as forças conservadoras, Jango aproximava-se gradualmente das correntes reformistas radicais, da qual fazia parte Leonel Brizola, Miguel Arraes e organizações nacionalistas de esquerda. Dentre os acontecimentos que marcaram esse período, podemos citar: a criação do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT); a lei que limitava a remessa de lucros para o exterior; o comício de 13 de março de 1964, em frente à estação da Central do Brasil, no qual o presidente assinou publicamente dois decretos: a encampação de todas as refinarias particulares de petróleo e a criação da Supra (Superintendência da República Agrária). Tivemos durante o governo de João Goulart grandes agitações sociais, uma elevada taxa de inflação e grande alta do custo de vida. No início de 64, a crise dominava o Estado populista. O governo não tinha mais o apoio de toda a burguesia, cujos investimentos diminuíam abruptamente, levando a economia à crise. Os integrantes do Estado populista não sabiam se seguiam o rumo da moderação ou do radicalismo. Nesse contexto é que devemos entender os episódios da nacionalização das refinarias particulares de petróleo por parte do governo e outros acontecimentos protagonizados por opositores, como a "Marcha da Família com Deus e pela Liberdade", organizada por setores conservadores da Igreja e do empresariado. Em 31 de março de 1964, o golpe militar é posto em prática e os principais líderes reformistas são obrigados a deixar o país. A ESTRUTURA POLÍTICA E OS MOVIMENTOS SOCIAIS NO PERÍODO MILITAR. Governo Castelo Branco: Logo após a queda de João Goulart formaram-se dois poderes paralelos: um civil, representado pelo Congresso, e outro militar, representado pelo comando revolucionário, integrado pelo general Costa e Silva, pelo brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo e pelo almirante Augusto Rademaker. Os lideres civis, como Amaral Peixoto e Ulisses Guimarães do PSD (Partido Social Democrático) e Pedro Aleixo, Bilac Pinto e Adauto Lúcio Cardoso da UDN (União Democrática Nacional), esforçavam-se no sentido de dar ao Congresso a direção política da situação. Nos planos desses lideres constava também a edição de um ato constitucional que daria ao Congresso o direito de eleger o novo presidente, além de instrumentos excepcionais para afastar as pessoas indesejáveis. Os esforços dos civis foram inúteis. O comando revolucionário adiantou-se, promulgando o Ato Institucional nº 1, que transferiu o poder político aos militares. Imediatamente, o comando realizou as cassações de mandato e coagiu o Congresso, mutilado, a eleger como presidente o chefe do estado-maior do Exército, general Castelo Branco. Essas providências, logo denominadas "revolucionárias", rapidamente se estenderam a todos os setores sociais. As organizações POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO HISTORIA - LEI 5.810/94 16 classificadas de "subversivas", como o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), as Ligas Camponesas e a UNE (União Nacional dos Estudantes), foram dissolvidas em nome da “revolução”. Os lideres tidos como "subversivos" foram presos e submetidos aos IPMs (Inquéritos Policiais Militares), provocando os primeirosexílios. Apesar dos excessos da repressão, os políticos do PSD e da UDN aguardavam passivamente, com grandes esperanças, a rápida normalização da vida política do país. Juscelino Kubitschek (PSD) e Carlos Lacerda (LTDN) esperavam concorrer à presidência com o fim do mandato de Castelo Branco. Inutilmente, pois, em seguida - em junho de 1964, o próprio Juscelino foi cassado e teve seus direitos políticos suspensos por dez anos. Quanto a Lacerda, foi paulatinamente marginalizado. Por trás dessas ações repressivas ocultava-se a "jovem oficialidade" (coronéis do Exército), que defendia a pureza dos princípios "revolucionários" e estava disposta a excluir todo e qualquer vestígio do regime deposto. Essa intransigência foi logo batizada de "linha dura". Seu poder de pressão era tal, que nas eleições para governadores, em 1965, conseguiu fazer com que o Congresso aprovasse a "emenda das inelegibilidades", afastando das disputas eleitorais as pessoas visadas pelos militares. Outro episódio que representou vitória da linha dura foi a permissão dada à Justiça Militar de julgar civis por "crimes políticos". Essa concessão aos linhas-duras feriu profundamente a consciência liberal, e o ministro da Justiça, Milton Campos, preferiu exonerar-se a ter que compactuar com uma decisão contrária a seus princípios. A incompatibilização de alguns importantes setores civis da "revolução" com o poder militar deu-se, de forma muito clara, em 27 de outubro de 1965, com a edição -2), que dissolveu os partidos políticos existentes e estabeleceu a eleição indireta para a presidência da República. Além disso, conferiu ao Executivo poderes excepcionais, como cassar mandatos e decretar o estado de sítio sem previa autorização do Congresso. Nesse momento, Carlos Lacerda (Rio), Magalhães Pinto (Minas) e Ademar de Barros (São Paulo) romperam com Castelo Branco. No lugar dos antigos partidos nasceram então, com permissão do Executivo, apenas dois: Arena (Aliança Renovadora Nacional), de apoio ao governo, e MDB (Movimento Democrático Brasileiro), de oposição. À medida que se aproximava o fim do mandato de Castelo Branco, o problema da sucessão dividia os próprios militares. De um lado, o Grupo Escola Superior de Guerra, também denominado Grupo Sorbonne (tecnocratas), favorável ao governo; de outro, a linha dura, que conseguiu impor o seu candidato: o ministro da Guerra, general Costa e Silva. No dia 3 de outubro de 1966, Costa e Silva foi eleito pelo Congresso, composto apenas por fiéis arenistas. Quanto ao MDB, justificou sua abstenção para não "coonestar uma farsa". Antes de fundar o seu governo, Castelo Branco ainda teve tempo para cassar seis deputados (evidentemente, da oposição) e criar um sério incidente. O presidente da Câmara, Adauto Lúcio Cardoso, apesar de arenista, preferiu não tomar conhecimento das cassações, provocando, com isso, o fechamento do Congresso, por uma força militar chefiada pelo coronel Meira Matos. Humilhado e sem poder reagir; o Congresso, que esperava ser renovado com as eleições de novembro de 66, ainda foi forçado a aprovar a nova Constituição, que entrou em vigor com o presidente Costa e Silva. A Constituição de 1967. Além das prerrogativas autoritárias conferidas ao Executivo pelo AI-2, a nova Constituição incluiu também a Lei de Imprensa (fevereiro de 67) e a Lei de Segurança Nacional. Essas leis garantiram ao novo presidente poderes praticamente ilimitados, o que levou a oposição a denunciar a "institucionalização da ditadura". Costa e Silva e o AI-5 A completa destruição da vida política pelo governo Castelo Branco provocou reações de todo tipo contra o regime militar. Costa e Silva, logo no início de seu governo, teve de enfrentar uma onda de protestos em todo o país. Antigos líderes políticos de grande expressão uniram-se na Frente Ampla, órgão de oposição extraparlamentar. Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek e João Goulart foram os seus chefes mais destacados. Em fins de 1967, Lacerda fez pronunciamentos agressivos contra o regime militar No ano seguinte, os estudantes saíram às ruas, nas principais cidades do país, protestando contra a ditadura. Os confrontos entre a policia e os estudantes se multiplicaram, culminando com o assassinato do estudante Édson Luís, ainda menor de idade, no Rio de Janeiro. O brutal assassinato não intimidou os estudantes, que promoveram, no Rio, a célebre Passeata dos Cem Mil, a maior demonstração pública de repúdio ao regime militar A violência policial, entretanto, crescia na POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO HISTORIA 17 mesma proporção. A invasão das universidades e a prisão de estudantes tornaram-se rotineiras. Inutilmente, os protestos continuaram a ecoar por todo o país. A necessidade de organizar a luta levou os estudantes a realizarem, em Ibiúna (São Paulo), no mês de outubro de 1968, um congresso para reorganização da extinta UNE. Os órgãos de repressão, todavia, mostraram sua eficiência ao descobrir e desmantelar o congresso, prendendo os seus participantes. O clima de agitação que intranquilizava o país levou a linha dura ao desespero, como bem revelou a tentativa do brigadeiro João Paulo Burnier de transformar o Para- Sar, uma unidade de salvamento da Aeronáutica, num instrumento "terrorista" para eliminar a oposição. Nesse ambiente de extrema exaltação, ocorreu o "caso Márcio", que funcionou como gota d'água para que o governo tomasse medidas enérgicas no sentido de silenciar toda a oposição. O fato passou-se do seguinte modo: o deputado federal Márcio Moreira Alves, do MDB, fez um discurso na Câmara pedindo ao povo que não comparecesse às festividades do Dia da Independência, em sinal de protesto ao regime militar Os militares, sentindo-se ofendidos, pressionaram o governo para processar o deputado, mas o direito de fazê-lo foi negado pelo Congresso, em 12 de dezembro de 1968. No dia seguinte, o ministro da Justiça, Gama e Silva - conhecido por suas convicções ultraconservadoras - apresentou ao Conselho de Segurança Nacional o texto do Ato Institucional no 5, o conhecido AI-5, que entregou o país às forças mais retrógradas, violentas e obscurantistas* de nossa história recente. Os colaboradores mais íntimos de Costa e Silva declararam, inúmeras vezes, que o presidente se mostrou contrariado em ter sido forçado pelas circunstâncias a assinar o AI-5. Disseram seus partidários, ou simples defensores, que ele era, no fundo, uma alma democrática. Verdadeira ou não, essa versão não pôde ser confirmada, pois Costa e Silva adoeceu gravemente em fins de agosto de 1969 e o poder foi assumido por uma Junta Militar das três Armas, sob chefia do general Lira Tavares. Pedro Aleixo, vice-presidente, foi impedido de assumir, tal a desconfiança dos militares em relação aos civis. Esse impedimento tornou-se oficial com o AI-16, de 14 de outubro de 1969, que estabeleceu para o dia 25 do mesmo mês a eleição do novo presidente, cujo mandato deveria ir de 30 de outubro de 1969 a 15 de março de 1974. A fim de preparar a transição, a Junta Militar realizou uma reforma constitucional, incorporando ao texto da Constituição o AI-5 e os demais atos, no Artigo 182. Outras medidas drásticas foram adotadas: o fim das imunidades parlamentares e a instituição da prisão perpétua e da pena de morte. O MILAGRE ECONÔMICO E O FECHAMENTO POLÍTICO Apesar das medidas tomadas pela Junta Militar, a escolha do sucessor de Costa e Silva provocou atritos no setor militar. A escolha do general Emílio Garrastazu Médici só se viabilizou com a neutralização de outro candidato, general Albuquerque Lima, tido como fervoroso nacionalista. Médici assumiu o poder exatamente no momento em que as manifestações públicas da oposição estudantil haviam sido contidas pela repressão policial e os políticos do MDB silenciados pelo AI-5. Em suma: a oposição ao regime militar não era mais permitida em nenhum grau,quer radical, quer moderada. Esse total fechamento lia vida política para a oposição e o bloqueio de toda e qualquer possibilidade de sua manifestação geraram, na esquerda radical, um gravíssimo erro de avaliação política da situação. A inexistência de canais que permitissem fluir, sem problemas, as várias correntes de opinião do país, induziu alguns setores da esquerda a optarem por um caminho extremo: o da luta armada. Para isso contribuiu muito certa visão romântica da revolução cubana (1959), que cercara o guerrilheiro de uma aura mística. Os escritos de Ernesto "Che" Guevara e de um jovem marxista francês, Régis Debray, foram amplamente difundidos. Surgiram então as primeiras organizações de guerrilha urbana: a ALN (Aliança Libertadora Nacional), chefiada por Carlos Marighela (dissidente do PCB); o MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro - dia da morte de Guevara na Bolívia); a VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária), liderada por Carlos Lamarca, ex-capitão do Exército. Segundo essa nova liderança, que arrastou consigo centenas de jovens, principalmente estudantes, só havia um caminho para derrubar a “ditadura militar”: a luta armada. Em 1969, a primeira ação de importância da guerrilha urbana assombrou o país: o sequestro do embaixador norte-americano, Charles Elbrick, pela ALN, que, em troca da sua vida, exigiu a soltura dos presos políticos apresentados numa lista que fizera publicar pelos jornais. A agressividade e a ousadia dos grupos guerrilheiros tomaram de surpresa os órgãos de repressão. Sequestros, assaltos a bancos e até "justiçamentos políticos" (execuções) foram a resposta POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO HISTORIA - LEI 5.810/94 18 que os guerrilheiros deram à anulação da vida política pelo regime militar. Não tardou para que os detentores do poder percebessem como atuar contra a guerrilha urbana. Os órgãos de repressão foram amparados com enormes recursos e passaram a atuar sem restrições. Os presos políticos começaram a ser tratados com a mais extrema severidade, inibindo-se mesmo os pronunciamentos mais moderados. Qualquer oposição ao regime passou a ser classificada, invariavelmente, de "comunista" ou "terrorista" - e tratada como tal pela policia política. A inusitada violência da repressão bastou para pôr fim à luta armada contra o regime. Os principais chefes começaram a ser caçados e mortos. Carlos Marighela foi morto em 1969, em circunstâncias até hoje não muito claras. No ano seguinte, seu sucessor, Joaquim Câmara Ferreira, o Velho, também foi morto em São Paulo. Em setembro de 1971, no sertão baiano, tombou o último líder guerrilheiro de expressão nacional, Carlos Lamarca. Com o declínio da guerrilha urbana, decaiu também a participação política estudantil, que originara o contingente guerrilheiro. O decreto-lei 477 (1969) enquadrou as universidades, proibindo estudantes, professores e funcionários de realizar qualquer manifestação política. Em 1970, sem perturbações, Médici escolheu os governadores de 21 estados, adotando critérios que excluíram os políticos. O poder militar e tecnocrático estava consolidado. Sem nenhum exagero, é possível afirmar que, no governo Médici, fazer oposição era correr sério risco de vida. A situação política do país era de extrema gravidade, embora não tenha sido percebida pela maioria como tal, pois, em grande parte, foi mascarada pelo chamado "milagre econômico", cujo principal artífice foi o então ministro da Fazenda, Delfim Netto. A ilusão de prosperidade encobria a tragédia da oposição e conferia grande prestígio aos tecnocratas, dos quais Delfim Netto foi talvez o mais expressivo. No governo Médici, ele teve um papel de superministro. O clima de euforia foi reforçado até pelo futebol - paixão nacional -, cuja seleção conquistou o título mundial em 1970. Para capitalizar esse êxito a seu favor o governo lançou uma campanha publicitária ufanista: "Ninguém segura este país". O êxito na luta contra a guerrilha contribuiu para outro slogan, revelador da profunda intolerância reinante no país: "Brasil, ame-o ou deixe-o", que, aliás, fora traduzido do inglês "Love me or leave me". Repressão e "milagre econômico" foram dois traços marcantes do governo Médici, e equivalem a dois níveis da estratégia do regime militar: a "doutrina da segurança nacional", aliás, importada dos Estados Unidos - e o “desenvolvimento a qualquer preço”. A ABERTURA POLITICA E A REDEMOCRATIZAÇÃO Num artigo publicado pela revista Isto É (14/3/79), o historiador Bóris Fausto escreveu que "na sucessão de governos militares e autoritários posteriores a 1904, o período Geisel coincide com o momento de abertura de uma crise. O fim do chamado milagre, determinado por seus próprios limites internos, pela mudança da conjuntura internacional é, secundariamente, pela crise do petróleo, provocou uma inflexão". Mas é preciso dizer que essa inflexão ocorreu sob controle absoluto do presidente Geisel, cujo estilo, no dizer de José Honório Rodrigues, foi "autoritário, personalista, duro, alemão demais para um povo tão pouco germânico" como o brasileiro. Apesar disso, o governo Geisel - ao contrário de seu antecessor - não foi marcado pelas atitudes ultra-reacionárias, nem pela impiedosa repressão policial. Isso não quer dizer, entretanto, que para os democratas sinceros ele trouxe menos angústia. Ao contrário, sua distância e seu silêncio - raramente Geisel falava com a imprensa - , além das frequentes medidas arbitrárias de que lançou mão, geraram a mesma insegurança. Embora reunisse e exercesse de fato um poder que jamais outro presidente antes dele teve, suas realizações foram medíocres. O sociólogo Michel Debrun disse, com acerto, que "a Administração foi medíocre, mas o Poder ficou incontrastado". Já na sua posse como quarto general presidente do regime militar, falava-se na sua disposição de quebrar a rigidez do sistema político - coisa que o próprio presidente declarou textualmente em seu discurso de posse. Começou-se a falar em projeto de "distensão", o que lançou grandes esperanças nos meios políticos. Mas seu governo não se definiu tão claramente nessa direção como fizeram crer suas primeiras declarações. Geisel seguiu um caminho sinuoso e ambíguo: se por um lado iniciou a distensão, por outro foi o presidente mais autoritário do regime militar. Os assessores mais próximos do presidente justificavam essa ambiguidade, argumentando que o projeto de distensão só teria viabilidade se fossem feitas concessões, em momentos adequados, aos “duros”. Pode-se acreditar na sinceridade dos seus defensores, mas é preciso salientar que os limites da atuação do presidente Geisel eram dados também pela crescente insatisfação da base social, isto é, dos trabalhadores. É preciso notar, além do mais, que o período Geisel se iniciou numa conjuntura de crise econômica, e que não POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO HISTORIA 19 era possível continuar atirando sobre os ombros da maioria da nação o custo de um estilo de desenvolvimento econômico que enriquecia cada vez mais uma minoria e empobrecia cada vez mais a maioria. De qualquer modo, diminuíram os excessos da repressão, dissipando a longa noite do período Médici. Todavia, para aqueles que encararam com otimismo a ascensão de Geisel, não tardou muito a desilusão. Logo nos primeiros dias de governo foi cassado, por decisão presidencial, o mandato do deputado federal baiano Francisco Pinto (27/3/74), por causa de um pronunciamento considerado ofensivo à ditadura chilena presidida pelo general Augusto Pinochet. Essa primeira concessão aos "duros" não foi, entretanto, suficiente para contê-los. As eleições legislativas de 1974, que deram ampla vitória ao MDB, mostraram que a oposição começava a crescer de forma ameaçadora para o regime militar A suspensão parcial da censura à imprensa, no ano seguinte (segundo semestre de 1975), inquietou
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