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Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 5: ENERGIAS DE ORDEM FÍSICA E QUÍMICA 1 1. Introdução Casos criminais reais de repercussão regional, nacional e internacional propalam a existência de uma vanguarda em conhecimento científico e tecnológico que é usado para investigar e desvendar crimes. Além disso, filmes, seriados televisivos como o CSI e a internet também cumprem o papel de popularizar a ciência forense. Esses meios, entre outros, vêm disseminando de forma crescente, na sociedade em geral, a noção de que os resultados das perícias têm implicações diretas no futuro veredito dos envolvidos em um suposto crime. Segundo Capez (2005), a perícia está colocada em nossa legislação como um meio de prova, à qual se atribui um valor especial (está em uma posição intermediária entre a prova e a sentença). Como o próprio nome indica, a química forense é a utilização ou aplicação dos conhecimentos da ciência química aos problemas de natureza forense. Segundo Zarzuela (1995), denomina-se Química Forense o ramo da Química que se ocupa da investigação forense no campo da química especializada, a fim de atender aspectos de interesse judiciário. A Traumatologia Forense pode apresentar diversas definições entre elas: “é o capítulo da Medicina Legal no qual se estudam as lesões corporais resultantes de traumatismos de ordem material ou moral, danosos ao corpo, a saúde física ou mental” (CROCE; CROCE JUNIOR, 1998). A traumatologia é dividida em energias de ordem mecânica, física, química, físico-química e biodinâmica. (DEL CAMPO, 2009). Segundo França “Nas energias de ordem química, estudam-se todas as substâncias que, por ação física, química ou biológica, são capazes de, entrando em reação com os tecidos vivos, causar danos à vida ou à saúde”. Dentre as substâncias químicas, encontram-se os cáusticos, que agem na parte externa do organismo e os venenos que agem internamente. São energias de ordem física, a temperatura, a pressão atmosférica, eletricidade, radioatividade, luz e som. São modalidades da temperatura como o frio, o calor e as oscilações da temperatura. 2. Conceito Ordem física → Ação capaz de modificar o estado físico dos corpos causando ofensa corporal, danos à saúde ou morte. Energias de ordem química → Substâncias que por ação química física ou biológica podem causar danos à vida ou à saúde. 3. Energias de ordem física mais comuns Temperatura → Calor, frio e temperatura oscilante Pressão atmosférica Eletricidade Radioatividade Luz Som 4. Temperatura – frio Ausência de lesão típica. Influência de fatores individuais → Alcoolismo; idade; condição física prévia. Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 5: ENERGIAS DE ORDEM FÍSICA E QUÍMICA 2 Causa → Sonolência; convulsão; isquemia tecidual. Sinais no cadáver → Sangue com pouca coagulabilidade; rigidez cadavérica precoce; flictenas na pele. Ação localizada → geladura ❖ 1º grau → Palidez ou rubefação na pele ❖ 2º grau → Bolhas; flictenas ❖ 3º grau → Necrose de tecidos e crostas enegrecidas ❖ 4º grau → Gangrena ou desarticulação 5. Temperatura – calor Calor difuso ❖ Insolação → Mais comum em locais abertos ❖ Intermação → Mais comum em locais confinados ❖ Sinais no cadáver → Rigidez cadavérica precoce; putrefação antecipada; congestão; hemorragia visceral. Calor direto → Queimaduras ❖ Ação de chama, calor irradiante, líquidos, sólidos, raios solares ❖ Classificação mais utilizada em Medicina Legal: de acordo com a profundidade (classificação de Hoffmann) ➢ 1º grau → Eritema, não será identificada no cadáver ➢ 2º grau → Flictenas; se houver ruptura das bolhas a derma apresenta se escura e apergaminhada ➢ 3º grau → Comprometimento até plano muscular; coagulação necrótica dos tecidos ➢ 4º grau → Carbonização 6. Carbonização Posição de boxeador (contratura muscular decorrente ao processo de carbonização); fraturas ósseas; lesões extensas em cavidades; pele enegrecida; disjunções articulares; amputação de extremidades ósseas. Identificação do cadáver → DNA ou dentes Pesquisa de lesões decorrentes do calor Pesquisa de óxido de carbono no sangue Pesquisa de fuligem em vias respiratórias → Sinal de Montalti Hiperemia e edema em laringe; faringe; esôfago; região traqueobrônquica com aumento de muco Diferenciar flictenas vivo X morto Fenômenos confundidores → Bolhas de putrefação, soluções de continuidade da pele e tecido subcutâneo 7. Pressão atmosférica Barotraumas Diminuição da pressão atmosférica ❖ Aumento de altitude, ar mais rarefeito ❖ Diminuição de oxigênio e gás carbônico com alteração na hematose ❖ “Mal das Montanhas” → Cefaleia; dispneia; anorexia; fadiga; insônia; tontura; vômitos ❖ Outras complicações → Edema agudo de pulmão; edema cerebral; hemorragia retiniana; embolia pulmonar. Aumento da pressão atmosférica ❖ Risco pelo aumento da pressão e pela oscilação da pressão ❖ Patologia de compressão Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 5: ENERGIAS DE ORDEM FÍSICA E QUÍMICA 3 ❖ Patologia de descompressão 8. Eletricidade Fatores que irão influenciar a ação → Corrente contínua; resistência do corpo; tensão elétrica (voltagem); duração do contato da vítima com a corrente; trajeto da corrente no corpo da vítima. Causas de morte mais comuns → Paralisia respiratória e asfixia por inibição dos centros respiratórios (fadiga muscular); fibrilação ventricular. Possibilidade de causa por traumatismo. Outras lesões → Queimaduras; hemorragias musculares; rupturas vasculares; fraturas ósseas; fluidez sanguínea; lesões visuais e auditivas. Lesões de entrada e saída Ação ❖ Direta ❖ Indireta Eletricidade natural ❖ Ação letal no homem (fulminação) ❖ Ação não letal no homem (fulguração) ❖ Sinal de Lichtenberg → Lesão arboriforme feita pela vasodilatação por onde o raio passou com duração máxima de 24 horas; normalmente presente em fulguração Eletricidade artificial ou industrial ❖ Eletroplessão ❖ Marca elétrica de Jellinek → Patognomônico; lesão de entrada elétrica artificial ❖ Lesões pele; couro cabeludo; pelos, ossos ❖ Sinal de Piacentino → Petéquias na região do tórax ❖ Eletricidade de alta tensão → Lesões mistas (queimaduras e marca) ❖ Lesões mais graves podem causar secções de partes do corpo ❖ Eletrocussão → Potencializa a lesão elétrica que se distribui por todo o corpo; lesões cerebrais intensas. ❖ Morte → Pulmonar, cardíaca ou cerebral ❖ Lesões de tortura ❖ Pistolas elétricas (pistolas de choque) 9. Radioatividade Raio X ❖ Radiodermites ❖ Aguda ➢ 1º grau → Depilatória e eritematosa; dura cerca de 60 dias, mancha escura que desaparece ➢ 2º grau → Forma papuloeritematosa; ulceração dolorosa coberta com crosta purulenta. Cicatrização difícil ➢ 3º grau → Forma ulcerosa; áreas de necrose; úlceras de Roentgen ❖ Crônica ➢ Forma úlcero atrófica, teleangiectásica ou neoplásica (câncer roentgeniano) ➢ Alterações → Digestivas; oculares; cardíacas; sanguíneas; gonadais Rádio Energia atômica ❖ Ação térmica, traumática e radioativa ➢ Lesões mecânicas decorrentes de lesões Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 5: ENERGIAS DE ORDEM FÍSICA E QUÍMICA 4 ➢ Lesões térmicas de queimaduras a carbonização ➢ Lesões radioativas → Efeitos de longo prazo com repercussão reprodutiva; neoplásica e cutânea 10. Luz e som Luz ❖ Lesões visuais ❖ Radiações não ionizantes → Infravermelho e ultravioleta ❖ Raio laser → Córnea; cristalino; pele Som ❖ Som constante acima de 20.00 ciclos e 85 decibéis/s: lesões auditivas e psíquicas ❖ Infrassom → Alterações no labirinto ❖ Ultrassom → Destruição celular Ruído X Barulho ❖ Ruído → Fenômeno físico vibratório, audível, com frequência desarmônica e característicasindefinidas. ❖ Barulho → Qualquer som indesejável e inútil Perda auditiva ❖ Temporária ❖ Permanente Outros distúrbios auditivos → Zumbidos; otalgia; perda de discriminação da fala Epilepsia acustogênica 11. Energias de ordem química Ação externa (cáusticos) ❖ Efeitos coagulantes ➢ Lesões → Escaras endurecidas de tonalidade diversa ➢ Agentes → Nitrato de prata; cloridrato de zinco ❖ Efeitos liquefacientes ➢ Lesões → Escaras translúcidas e amolecidas ➢ Agentes → Amônia; soda ❖ Fatores que influenciam na gravidade → Tipo; concentração; quantidade ❖ Vitriolagem → Lesão desfigurante causada pelo ácido sulfúrico ❖ Diferenciação entre lesões produzidas in vitam ou post mortem Ação interna (venenos) ❖ Substância que introduzida pelas mais diversas vias no organismo danifica a vida ou a saúde. Classificação ❖ Quanto ao estado físico → Líquido, sólido ou gasoso ❖ Quanto à origem → Animal; vegetal; mineral; sintético ❖ Quanto às funções químicas → Óxidos, ácidos, bases e sais (funções inorgânicas); hidrocarbonetos, álcoois, acetonas e aldeídos, ésteres, aminas, aminoácidos, carboidratos e alcaloides (funções orgânicas) ❖ Quanto ao uso → Doméstico; agrícola; industrial; medicinal; cosmético; venenos propriamente ditos. 12. Venenos Midriatização → Elevada resistência orgânica aos efeitos tóxicos dos venenos; causada por ingestão frequente e repetida de substâncias com alto teor venenoso. Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 5: ENERGIAS DE ORDEM FÍSICA E QUÍMICA 5 Toxicidade → Propriedade da substância de causar internamente, por ação química, dano no organismo vivo. Intolerância → Sensibilidade de algumas pessoas a pequenas doses de veneno. Sinergismo → Ação potencializadora dos efeitos tóxicos decorrentes da ingestão simultânea de várias substâncias venenosas. Equivalente tóxico → Relação da quantidade mínima de veneno (via intravenosa) por quilo do animal considerado para matar. Fisiopatologia Manifestações ❖ Aguda ❖ Crônica ❖ Inespecíficas ❖ Específicas Diagnóstico → Critérios ❖ Clínico ❖ Circunstancial ❖ Anatomopatológico ❖ Físico químico ou toxicológico ❖ Experimental ❖ Médico legal Síndrome de Body packer” ❖ Overdose ❖ Obstrução intestinal ❖ Body pusher → Quando a pessoa insere na cavidade Exame geral interno e externo Observar secreções Coleta de material ❖ Conteúdo estomacal (enviar estômago fechado) ❖ Sangue ❖ Urina ❖ Bile Marina Ribeiro Portugal MARINA RIBEIRO PORTUGAL AULA 5: ENERGIAS DE ORDEM FÍSICA E QUÍMICA 6 ❖ Tecidos → Rins; fígado; cérebro; pulmão; rins. ❖ Envenenamento crônico por metais pesados → Cabelo; unha; ossos ❖ Cocaína → Muco nasal ❖ Necropsias tardias ou exumação → Tecidos do vestuário do cadáver e do caixão; terra abaixo do corpo; material de putrilagem; ossos Referências bibliográficas Aula de Dra. Adriana Mello (16/09/2021) Sabes, A. F., Girardi, A. M., & de Oliveira Vasconcelos, R. (2016). Traumatologia forense–revisão de literatura. Nucleus Animalium, 8(2), 2. Lima, A. S., Santos, L. G. P., Lima, A. A., Arçari, D. P., & Zanin, C. I. C. B. (2011). Química Forense. Revista Eletrônica-UNISEP. Disponível em: http://unifia. edu. br/revista_eletronica/revistas/gestao_foco/artigos/ano2011/qui_forense. pdf.(Acessado em 19 set. 2014). Kuss, J. C., Lipka, R., Bridi, C. N., Colaço, M. R., & Sanches, C. (2017). A IMPORTÂNCIA DA TRAUMATOLOGIA NA ELUCIDAÇÃO DO CRIME. Extensão em Foco (ISSN: 2317-9791), 5(1).
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