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11-TGC – Módulo VII - Prof

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Direito Penal I 
Profº. Paulo Eduardo Sabio 
Ensino Jurídico à Distância 
213
Direito Penal I – Aula 11 
 
Teoria Geral do Crime – Módulo VII 
 
 
 Culpa ( 2ª Parte) 
 
 
1. Considerações Iniciais 
 
Convém, na presente aula, abordarmos alguns aspectos da teoria geral dos crimes culposos 
que não foram vistos na aula anterior. 
 
Sendo que: após termos falado sobre tais aspectos se poderá compreender melhor o mecanismo de 
funcionamento dos crimes culposos. 
 
Pois bem: comecemos, então, falando da necessidade de previsibilidade ( objetiva e subjetiva) 
do resultado oriundo da conduta violadora do dever de cuidado, para depois falarmos de outros 
aspectos, como por exemplo: a função do resultado nos crimes culposos, as espécies de culpa, a 
compensação de culpas e as hipóteses de ausência de culpa. 
 
2. Previsibilidade do Resultado 
 
2.1. Esclarecimentos Preliminares 
 
Tal como expusemos na aula anterior, um dos principais elementos dos crimes culposos, ao 
lado da violação do dever objetivo de cuidado, é a imprevisão do previsível. 
 
Sendo que: A imprevisão do resultado, que caracteriza os crimes culposos, pode ser encarada tanto sob 
o aspecto objetivo quanto sob o aspecto subjetivo. Daí falar-se em previsibilidade objetiva e 
previsibilidade subjetiva. Comecemos então falando desta tal de previsibilidade objetiva. 
 
2.2. Previsibilidade Objetiva 
 
Por previsibilidade objetiva do resultado devemos entender aquele grau de previsibilidade que 
deve ser auferido de acordo com o grau de atenção do homem médio, ou, como gostam de dizer os 
doutrinadores, é aquela que deve ser auferida de acordo com o grau de atenção do homo medius. 
 
Sendo que: tal como ensina-nos o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros há previsibilidade objetiva 
quando o homem médio, nas circunstâncias em que se encontrava o agente, teria antevisto o resultado. 
 
Você pode estar se perguntando: quem é este tal de homem médio ? Em linhas gerais, pode-se afirmar 
que “homem médio” é uma expressão usada para definir o representante hipotético do homem comum. 
Sendo que, tal como no ensina Silva Pinto, o homo medius é um imprescindível ponto de referência para 
o Direito Penal. 
 
Direito Penal I 
Profº. Paulo Eduardo Sabio 
Ensino Jurídico à Distância 
214
A propósito: ainda no que toca à expressão “homem médio”, entendemos ser oportuno que se atente ao 
conceito que nos é fornecido pelo Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros. Conceito este que é exposto 
de maneira extremamente didática e, inquestionavelmente, auxiliará na compreensão do tema. A referida 
conceituação pode assim ser transcrita: 
 
“O homo medius é uma figura hipotética que o juiz 
imagina reunir a inteligência e perspicácia 
inerentes à maioria das pessoas que integram a 
comunidade social. É pois o representante hipotético 
do homem comum.” 
( Grifo Nosso) 
 
Tenha em mente, portanto, que: o termo previsibilidade objetiva se refere à capacidade de antever o 
resultado oriunda da conduta, inerente à maioria das pessoas. 
 
Sendo que: se o juiz, ao analisar um caso concreto, chegar à conclusão de que o “homem médio” , 
aquele ser fictício que representa o homem comum, não teria, nas circunstâncias em que se encontrava o 
agente, condições de prever o resultado, a conduta não poderá ser considerada típica. 
 
Em outras palavras: a tipicidade ( lembra dela ?) dos crimes culposos depende da previsibilidade 
objetiva do resultado ocasionado pela conduta violadora do dever objetivo de cuidado. E por 
previsibilidade objetiva devemos entender aquela capacidade de antever o resultado inerente à maioria 
das pessoas. 
 
Ou seja: quando o agente, mesmo agindo com o grau de atenção inerente ao “homem médio”, não 
conseguir evitar que sua conduta lesione um bem penalmente tutelado, não poderá ser punido á título de 
culpa. 
 
Sendo assim: quando o resultado ocasionado pela conduta do agente for absolutamente imprevisível, 
sobre ele não recairá nenhuma espécie de reprovação penal. Tal como já expusemos anteriormente, a 
punição à título de culpa pressupõe a imprevisão do previsível. 
 
A propósito: acerca da imprevisibilidade, se faz oportuno, neste momento, que atentemos para as 
sempre elucidativas lições dos Mestres Eugenio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli, que podem 
assim ser transcritas: 
 
“É imprevisível o resultado para o pedreiro, que não 
pode prever que, passados vinte anos, o tijolo que 
coloca cairá, afundando o crânio de um 
transeunte...” 
 
Não se esqueça que: a previsibilidade objetiva, é decisiva para a tipicidade dos crimes culposo, uma vez 
que o agente só terá agido culposamente se o resultado da conduta pudesse ter sido evitado mediante 
um grau de atenção inerente ao homem comum. 
 
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215
Em contrapartida: se o resultado for objetivamente imprevisível, não há que se falar em tipicidade da 
conduta, não há que se atribuir o resultado ao agente à título de culpa. 
 
Em suma: a ausência de previsibilidade objetiva do resultado impede que se possa falar em tipicidade da 
conduta. E sem tipicidade o crime não subsiste, pois, tal como já dissemos em uma aula anterior, a 
tipicidade é um dos elementos estruturais do delito. Objetivamente, portanto, podemos concluir que: 
 
 A ausência de previsibilidade objetiva exclui a tipicidade da conduta. 
 
 Sem tipicidade o crime não pode subsistir. 
 
 
2.3. Previsibilidade Subjetiva 
 
Ao contrário da previsibilidade objetiva, que leva em consideração a capacidade de previsão 
do resultado inerente ao homem médio, a previsibilidade subjetiva é auferida levando-se em consideração 
as condições pessoais do agente. Tal como leciona o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, na 
previsibilidade subjetiva é questionada a possibilidade de o sujeito, segundo suas aptidões pessoais, e na 
medida de seu poder individual, prever o resultado. 
 
Preste muita atenção: diferentemente da previsibilidade objetiva, que influi na tipicidade dos crimes 
culposos, a previsibilidade subjetiva influi na culpabilidade, na reprovação da conduta. 
 
Isto porque: se o agente, em virtude de suas condições pessoais, não conseguiu prever o previsível, não 
poderá ser responsabilizado penalmente. Acerca da previsibilidade subjetiva, o Profº. Flávio Augusto 
Monteiro de Barros assim leciona: 
 
“Se o perfil subjetivo do agente, mesmo empregando 
carga razoável de atenção, não conseguir captar o 
resultado previsível ao comum dos homens, excluir-
se-á a culpabilidade, por falta da potencial 
consciência da ilicitude do fato. O homem rústico, 
de parcas instruções, que adquire mercadoria 
criminosa, pagando preço desproporcional ao seu 
valor, realiza a conduta típica de receptação 
culposa, desde que a natureza criminosa da coisa 
pudesse ter sido antevista pelo homem médio. Nem por 
isso, porém, estará fadado à sujeição de uma 
sentença penal condenatória. Se os seus atributos 
individuais, por mais que se acionem os neurônios da 
prudência, não conseguirem captar a previsão do 
resultado, a culpabilidade é excluída.” 
( Grifo Nosso) 
A propósito: nas lições do Profº Flávio Augusto Monteiro de Barros supra transcritas, falou-se de uma tal 
de receptação culposa, que nada mais é do que a modalidade culposa do crime de receptação, descrito 
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216
no artigo 180 do Código Penal. A modalidade culposa desta infração, da qual falou o doutrinador supra, é 
descrita pelo § 3º do dispositivo legal em comento. Vamos dar uma olhada no referido dispositivo: 
 
Receptação ( dolosa ) 
Art. 180. Adquirir, receber, transportar, conduzir 
ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que 
sabe ser produto de crime, ou influir para que 
terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte. 
 
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa. 
 
Receptação Culposa§ 3º. Adquirir ou receber coisa que, por sua 
natureza ou pela desproporção entre o valor e o 
preço, ou pela condição de quem a oferece, deve 
presumir-se obtida por meio criminoso: 
 
Pena – detenção de 1 (um) mês a 1 (um) ano ou multa, 
ou ambas as penas. 
 
OBS: como se pode perceber, quando o legislador 
descreve a receptação dolosa, usa a expressão “coisa 
que sabe ser produto de crime”. E quando descreve a 
receptação culposa, usa a expressão “deve presumir-
se”. Na receptação culposa, o agente não sabe que a 
coisa é produto de crime, mas deveria saber. 
 
Tenha em mente que: se o resultado for objetivamente previsível, mas “subjetivamente imprevisível”, ou 
seja, se o agente não conseguir prever o resultado em virtude de suas particulares condições, a conduta 
será típica, mas não será culpável. 
 
Isto porque: a tipicidade dos crimes culposos se contenta com a previsibilidade objetiva. Quando houver 
previsibilidade objetiva e não houver previsibilidade subjetiva do resultado, tal como leciona o Profº. 
Fernando Capez, o fato será típico, porque houve uma conduta culposa, mas o agente não será punido 
pelo crime cometido, ante a falta de culpabilidade. 
 
Saiba que: a ausência de previsibilidade subjetiva exclui a culpabilidade, impede que o agente sofra as 
conseqüências do ato praticado, por um motivo muito simples: o direito não deve exigir o inexigível . 
 
Sendo assim, é de se concluir que: a ausência de previsibilidade subjetiva impõe o reconhecimento, por 
parte do julgador, da inexigibilidade de conduta diversa, da impossibilidade de se exigir que o agente 
tivesse agido de outra maneira. 
 
A propósito: temos por oportuno, no presente momento, que se atente para os elucidativos 
ensinamentos do Profº. Rui Stocco , acerca da reprovabilidade da conduta e de inexigibilidade de conduta 
diversa. Tais ensinamentos podem assim serem transcritos: 
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217
 
“É reprovável a conduta do agente quando, nas 
circunstâncias concretas de seu atuar, ser-lhe-ia 
exigível um comportamento conforme ao direito. 
Exclui-se a reprovação e ,portanto, a culpabilidade, 
se ocorrem circunstâncias em face das quais não se 
pode exigir de quem atua um comportamento ajustado 
ao dever.” 
( Grifo Nosso) 
 
Tenha em mente que: se o resultado era subjetivamente imprevisível, não se pode exigir que o agente 
tenha procedido de maneira diversa, logo, ele não poderá ser responsabilizado penalmente. Sobre sua 
conduta não há que incidir qualquer espécie de reprovação. 
 
A propósito: sobre o tema “culpabilidade” mais se estudará no momento oportuno. Por enquanto, basta 
que tenhamos em mente que: 
 
 A ausência de previsibilidade objetiva exclui a tipicidade dos crimes culposos. 
 
 A ausência de previsibilidade subjetiva exclui a “culpabilidade” , uma vez que não se pode “reprovar” 
a conduta daquele que deixou de prever algo que lhe era particularmente imprevisível. 
 
Pois bem: para finalizarmos nossas explanações acerca da previsibilidade (objetiva e subjetiva),convém 
atentarmos para as elucidativas lições dos mestres Eugenio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli, 
que, em breves linhas nos ajudam a compreender a essência da previsibilidade, e por isso merecem, 
serem postas em destaque: 
 
Preste muita atenção: É por bem que se fixe que a previsibilidade ( objetiva e subjetiva) é elemento 
indispensável à configuração dos crimes culposos. Tal como nos lembra o mestre Giuseppe Bettiol, a 
previsibilidade é sempre um critério para qualificar como imprudente ou negligente o comportamento da 
pessoa, um elemento para formular um diagnóstico da culpa. 
 
3. Resultado e nexo de causalidade nos crimes culposos 
 
O resultado, aqui entendido como sendo a lesão ou ameaça de lesão aos bens penalmente 
tutelados1 tem função essencial na incriminação das condutas culposas, tal como se verá. Antes, porém, 
de falarmos da importância do resultado nos crimes culposos, convém dissertarmos, em breves linhas, 
sobre sua relação com crimes dolosos, dada a importância de tal diferenciação. 
 
Pois bem: no que toca aos crimes dolosos, que como já se sabe, são aqueles crimes onde o agente 
prevê e quer o resultado, ausência do resultado não os descaracteriza, uma vez que estes ( crimes 
dolosos), mesmo sem o resultado, podem subsistir, embora na sua forma tentada. 
Ou seja: no caso dos crimes dolosos, se o resultado não ocorrer por circunstâncias alheias à vontade do 
agente, ele será punido por tentativa, pela forma tentada do crime cujo resultado não ocorreu. 
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A propósito: sobre os “crimes tentados” , sobre a “tentativa” mais se falará no momento oportuno. 
 
Entretanto: convém darmos uma olhada, desde já, no dispositivo legal que disciplina a matéria, qual seja, 
o artigo 14 do Código Penal, que define os crimes consumados e os crimes tentados. Vamos ao 
dispositivo: 
 
Art. 14. Diz-se o crime: 
 
I – consumado, quando nele se reúnem todos os 
elementos de sua definição legal. 
 
II – tentado, quando, iniciada a execução, não se 
consuma por circunstâncias alheias à vontade do 
agente. 
 
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, 
pune-se a tentativa com a pena correspondente ao 
crime consumado, diminuída de uma dois terços. 
 
Preste muita atenção: é importante que se fixe que no caso dos crimes dolosos a ausência do resultado 
não obsta a responsabilização penal do agente, se este ( resultado) não ocorreu por circunstâncias 
alheias à vontade do agente. Tal como se pode constatar da leitura do dispositivo supra. 
 
Continue prestando atenção: já no caso dos crimes culposos, estes não subsistem sem o resultado. Tal 
como enfatiza o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, o crime culposo não tem existência real sem o resultado. 
 
Sendo assim: devemos ter em mente que não basta que o agente, deixando de prever previsível, viole 
um dever objetivo de cuidado. Imprescindível se faz, para a configuração dos crimes culposos, que a 
violação do dever de cuidado produza um resultado. 
 
Em outros termos: no caso dos crimes dolosos, a ausência do resultado não impede a incriminação do 
agente, tal como já se expôs., pela forma “tentada” do crime, pois não há que se discutir acerca da 
reprovabilidade das intenções do agente . 
 
Em contrapartida: nos crimes culposos, ao contrário, se atribui importância capital ao resultado por 
serem, as intenções do agente, por si só, totalmente despidas de reprovabilidade. 
 
Pare e pense: a “desatenção” do agente, em si mesma, não é penalmente relevante até que produza 
uma lesão ou ameaça de lesão à um bem penalmente tutelado. 
 
Sendo que: no que toca à imprescindibilidade do resultado, no caso dos crimes culposos, temos por bem 
que se atente para as elucidativas lições dos mestres Eugenio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli, 
que podem assim ser transcritas: 
 
1 - Ou seja: o resultado, segundo sua concepção normativa ou jurídica. 
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“Quando uma pessoa circula por uma estrada em 
excesso de velocidade, realiza exatamente a mesma 
conduta violadora do dever de cuidado que quando 
circula pela mesma estrada e a igual velocidade, mas 
com a diferença de que causa uma lesão ou uma morte. 
Sem embargo, no primeiro caso a conduta será atípica 
e no segundo será típica.” 
( Grifo Nosso) 
 
A propósito: também não há que se questionar, no caso dos crimes culposos, sobre a importância do já 
conhecido nexo de causalidade , que como já dissemos, é o elo de ligação entre a conduta do agente e o 
resultado. O nexo de causalidade também é elemento estrutural dos delitos culposos pois não basta que 
estejam presentesa violação do dever objetivo de cuidado e o resultado oriundo de tal violação. 
Imprescindível, também, que o resultado seja conseqüência da conduta violadora do dever objetivo de 
cuidado. 
 
Ou seja: nos crimes culposos, tem-se por indispensável, além da ocorrência do resultado, que este seja 
causado pela conduta violadora do dever de cuidado 
 
4. Espécies de Culpa 
 
Via de regra, a doutrina classifica a culpa em 4 (quatro) espécies, a saber: 
 
 
 Culpa Inconsciente ou Comum 
 Culpa Consciente ou com previsão 
 Culpa Própria 
 Culpa Imprópria 
 
Falemos então sobre cada uma destas espécies de culpa: 
 
Culpa inconsciente ou comum: tal espécie de culpa caracteriza-se pela total ausência de previsão do 
resultado previsível. Ou seja: o agente não prevê o previsível. 
 
Sendo que: via de regra, nos crimes culposos, a “imprevisão” se faz presente, tanto que esta 
modalidade de culpa também é denominada de culpa comum. 
 
No entanto: não se pode afirmar que a punição à título de culpa pressupõe, sempre, a “imprevisão”, do 
resultado. 
 
Vamos explicar: em alguns casos, a conduta do agente que age com previsão do resultado não poderá 
ser taxada de dolosa pois apesar da previsibilidade, este ( resultado) ocorre contra a vontade do 
agente. Assim, não obstante a previsão do resultado, o agente será responsabilizado à título de culpa. 
A propósito: melhor se entenderá o que estamos dizendo quando tratarmos da culpa consciente ou com 
previsão, logo adiante. 
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Culpa consciente ou com previsão: nesta modalidade de culpa, o agente prevê o resultado, mas crê 
sinceramente que ele não irá ocorrer. E esta “previsão”, inerente ao conceito de culpa consciente, por 
mais que vá de encontro à natureza dos crimes culposos, não é suficiente para qualificar a conduta como 
dolosa. 
 
Isto porque: não obstante a previsão do resultado, este se consuma contra a vontade do agente, que 
acreditava sinceramente que este não ocorreria. Para ilustrar nossa exposição acerca da culpa 
consciente, cremos ser pertinente transcrever um exemplo prático, que nos é fornecido por Damásio 
Evangelista de Jesus. Vamos ao exemplo: 
 
“Numa caçada, o sujeito percebe que um animal se 
encontra nas proximidades de seu companheiro. 
Percebe que, atirando na caça, poderá acertar o 
companheiro. Confia, porém, em sua pontaria, 
acreditando que não virá a matá-lo. Atira e mata o 
companheiro. Não responde por homicídio doloso, mas 
sim por homicídio culposo...Note-se que o agente 
previu o resultado, mas levianamente acreditou que 
ele não ocorresse.” 
( Grifo Nosso) 
 
Preste muita atenção: por muitas vezes se confunde o conceito de culpa consciente com o de dolo 
eventual, estudado na aula passada. 
 
Só para que lembrar: no dolo eventual, o agente não quer diretamente o resultado, mas aceita a 
possibilidade de produzi-lo. 
Sendo que: o traço em comum dos dois conceitos ( culpa consciente e dolo eventual), e que muitas 
vezes dificulta a necessária distinção entre eles é a involuntariedade do resultado, pois tanto na culpa 
consciente como dolo eventual, o resultado não é querido pelo agente. 
 
Entretanto: a diferença entre os dois institutos, cuja compreensão se faz imprescindível para a 
compreensão devida do tema reside na aceitação do risco de produzir o resultado. 
 
Isto porque: na culpa consciente, o sujeito age prevendo o resultado, mas acreditando sinceramente que 
esta não irá ocorrer, ao contrário do dolo eventual, onde o agente, também prevendo o resultado, não se 
importa que ele ocorra, é indiferente à ele. 
 
Em outros termos: tal como leciona Damásio Evangelista de Jesus, no dolo eventual o agente tolera a 
produção do resultado, o evento lhe é indiferente, tanto faz que ocorra ou não...Na culpa consciente, ao 
contrário, o agente não quer o resultado, não assume o risco, nem lhe é tolerável ou indiferente. 
 
A propósito: no que toca à distinção entre culpa consciente e culpa inconsciente, extremamente 
conveniente que atentemos para as elucidativas lições do Profº. Giuseppe Bettiol, que podem assim ser 
transcritas: 
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Profº. Paulo Eduardo Sabio 
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221
“Se o agente previa o resultado como possível 
conseqüência da própria conduta imprudente, estamos 
no campo da chamada culpa consciente ou com 
previsão...Se, por seu turno, o evento não é 
previsto, estamos no campo da culpa inconsciente, a 
qual sempre pressupõe, porém, a previsibilidade do 
evento.” 
 
Culpa Própria: esta pode ser conceituada de maneira simples e objetiva, pois representa a culpa comum, 
onde o resultado imprevisto era previsível. Tal como leciona o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, na 
culpa própria o agente não quer o resultado, e nem assumiu o risco de produzi-lo, embora este ( 
resultado) fosse previsível. 
 
Culpa imprópria: de maneira objetiva, pode-se afirmar que na culpa imprópria, o agente prevê e quer o 
resultado, ou, como enfatiza o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, o resultado é previsto e querido pelo 
agente. 
 
Pare e pense: tais afirmações podem chocar quem pela primeira vez está tendo contato com o tema pois 
até agora dissemos que quando o agente prevê e quer o resultado, está agindo dolosamente. 
 
Pois bem: como pode, então, agora, afirmarmos que quando o resultado for previsto e querido pelo 
agente poderá este ser punido à título de culpa ? 
 
Vamos explicar. em primeiro lugar, é de se atentar que a denominação culpa imprópria é perfeitamente 
compreensível, pois tal como leciona o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, só impropriamente se pode falar 
de culpa em uma conduta que prevê e quer o resultado produzido, sob pena de se violentar os conceitos 
dogmáticos da teoria do crime. 
 
Sendo que: feita esta primeira observação, cumpre, agora sim, explicarmos como pode um resultado 
previsto e querido ser atribuído ao agente à título de culpa. Nos casos de culpa imprópria o resultado, 
apesar de previsto e querido pelo agente, ocorre em virtude de uma errônea valoração por parte deste ( 
agente) acerca de determinadas circunstâncias. 
 
Em outros termos: realmente há, por parte do agente, nos casos da culpa imprópria, a vontade de 
produzir o resultado, entretanto, esta vontade é viciada por um erro de valoração. 
 
Saiba que: esta modalidade de culpa está ligada ao chamado erro de tipo, (que será abordado em uma 
aula posterior), uma vez que na culpa imprópria a conduta, em si mesma, é dolosa, mas foi determinada 
por um erro de tipo vencível ou inescusável, o que faz com ela ( conduta) seja punida à título de culpa. 
 
A propósito: cremos ser necessário explicar, em breves linhas, alguns conceitos que ainda não foram 
abordados, e apesar de guardarem, tais conceitos, relação com uma aula posterior, temos por certo que 
sem uma breve explanação sobre eles, não se poderá compreender o cerne, a razão de ser desta 
modalidade de culpa. 
 
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Isto porque: você pode estar se perguntando, por exemplo, o que é um erro de tipo ? E mais, você pode 
estar se perguntando também o que é um erro de tipo vencível ou inescusável ? 
 
Pois bem: Vamos cuidar, agora, de fazer as elucidações tão necessárias no presente momento. 
 
Sendo que: cumpre esclarecer, de início, o que é o erro de tipo. 
 
Preste muita atenção: o erro que vicia a vontade do agente, tanto pode incidir sobre os elementos do 
fato típico, quanto sobre a ilicitude, a antijuridicidade da conduta. E quando o erro versar sobre os 
elementos contidos no tipo penal, será denominado erro de tipo, e quando incidir, o erro, sobre a ilicitude 
da conduta, será denominado erro de proibição, sendo que, deste último, nos eximiremos de falar na 
presente aula, por não guardar relação com a matéria em estudo no momento. 
 
Ou seja: apenas teceremosalguns comentários acerca do erro de tipo, pois este sim, guarda pertinência 
com o tema da presente aula. 
 
Continue prestando atenção: tal como nos esclarece o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, ocorre 
o “erro de tipo” quando o agente se engana sobre os elementos da figura típica. No caso do crime de 
furto, por exemplo ( art. 157 do Código Penal), em que o tipo penal descreve a conduta de subtrair coisa 
alheia , incidirá o agente em erro de tipo se subtrair um objeto que pensa ser seu, e na verdade não é. 
 
Perceba que: no exemplo supracitado, o agente se enganou acerca de um dos elementos da figura típica 
do furto. Isso porque subtraiu o objeto, sem saber que não lhe pertencia. Ele não tinha consciência de 
estar se apossando de coisa alheia. Incidiu portanto em erro de tipo, pois a “coisa alheia” é um dos 
elementos do tipo penal que incrimina o furto. 
 
A propósito: uma vez compreendido o que é um “erro de tipo”, resta saber o que é um erro de tipo 
vencível ou inescusável. 
 
Saiba que: o erro jurídico penal ( de tipo ou de proibição) possui duas modalidades, a saber: vencível ou 
inescusável e invencível ou escusável. Falemos destas duas modalidades de erro então: 
 
Erro de Tipo Vencível ou Inescusável : este é o erro que poderia ter sido evitado se o agente tivesse 
agido com o grau de atenção inerente ao homem médio. Com um mínimo de atenção o agente não teria 
incorrido em erro. 
 
Sendo que: Diz-se vencível pois poderia ter sido evitado. A expressão “vencível” , portanto, traduz a idéia 
de um erro evitável. 
 
A propósito: a expressão “inescusável” traduz a idéia de não poder, o agente, com base nesta espécie 
de erro, se eximir da devida responsabilização penal. Tal como preceitua o artigo 20, § 1º, quando o erro 
derivar de “culpa”, ou seja, quando se tratar de erro “vencível”, o agente não ficará o agente, isento de 
pena, se o fato for previsto como crime culposo. 
 
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Erro de Tipo Invencível ou Escusável: é aquele erro que não deriva de culpa. Nesta modalidade de 
erro, tal como nos ensina Flávio Augusto Monteiro de Barros, ainda que o agente empregasse a atenção 
do “homem médio”, o erro ter-se-ia verificado, por isso diz-se invencível. 
 
Sendo que: enfatiza ainda, o doutrinador supra, que é a análise do caso concreto que irá concluir pelo 
caráter escusável ou inescusável do erro. 
 
A propósito: é por bem que se fixe que, quando o agente incorrer em invencível, se eximirá de pena, tal 
como preceitua o já citado artigo 20, § 1º. 
 
Preste muita atenção: o dispositivo legal em comento ( art. 20, § 1º), cuida das denominadas 
descriminantes putativas, que são uma das modalidades de erro de tipo, e se traduzem em sendo aquelas 
hipóteses nas quais o agente, por errônea compreensão da realidade, pensa estar agindo ao abrigo de 
uma causa de exclusão de antijuridicidade ( legítima defesa, por exemplo), quando, na verdade, não está. 
 
Continue prestando atenção: para que se possa melhor compreender o que estamos dizendo, convém 
darmos uma lida no referido dispositivo legal: 
Erro Sobre Elementos do Tipo 
 
Art. 20. O erro sobre elemento constitutivo do tipo 
legal do crime exclui o dolo, mas permite a punição 
por crime culposo, se previsto em lei. 
 
Descriminantes Putativas 
 
§ 1º. É isento de pena quem, por erro plenamente 
justificado pelas circunstâncias, supõe situação de 
fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. 
Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa 
e o fato é punível como crime culposo 
 
Pois bem: voltando a falar do tema que mais nos interessa na presente aula, qual seja, a culpa imprópria, 
cremos que agora se pôde compreender a razão de ser punida à título de culpa um conduta em si mesma 
dolosa, onde resultado era previsto e querido 
 
Em outros termos: temos por certo que se pôde compreender que, no caso da culpa imprópria, apesar 
de o resultado ser “previsto e desejado” , o agente será incriminado à título de culpa, porque sua vontade 
estava viciada por um erro de tipo invencível ou inescusável que fez com ele ( agente) imaginasse existir 
uma situação de fato que, se existisse efetivamente tornaria a ação legítima. 
 
A propósito: acerca deste particular aspecto, assim leciona o Profº. Cezar Roberto Bitencourt: 
 
“A chamada culpa imprópria só pode decorrer de erro, 
e de erro culposo sobre a legitimidade, a legalidade 
da ação realizada.” 
( Grifo Nosso) 
 
Direito Penal I 
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224
É de se concluir, portanto, que: na culpa imprópria, tal como ensina-nos o Profº. Fernando Capez, o 
agente, por erro de tipo inescusável supõe estar diante de uma causa de justificação2 que lhe permita 
praticar um fato típico licitamente, legalmente. 
 
Pois bem: para encerrar nossa explanações da culpa imprópria, cremos ser de inquestionável utilidade 
que se atente para um elucidativo exemplo que nos é fornecido pelo Profº. Damásio Evangelista de 
Jesus, que podem assim ser transcrito: 
“Suponha-se que o sujeito seja vítima de crime de 
furto em sua residência em dias seguidos. Em 
determinada noite, arma-se com um revólver e se 
posta de atalaia (tocaia), à espera do ladrão. Vendo 
penetrar um vulto em seu jardim, levianamente ( 
imprudentemente, negligentemente)supõe tratar-se do 
ladrão. Acreditando estar agindo em legítima defesa 
de sua propriedade, atira na direção do vulto, 
matando a vítima. Prova-se, posteriormente, que não 
se tratava de ladrão contumaz, mas de terceiro 
inocente. O agente não responde por homicídio 
doloso, mas sim por homicídio culposo. Note-se que o 
resultado ( morte da vítima) foi querido. O agente, 
porém, realizou a conduta por erro de tipo, pois as 
circunstâncias indicavam que o vulto era do ladrão. 
Trata-se de erro de tipo vencível ou inescusável, 
pois se ele fosse mais atento e diligente, teria 
percebido que não era o ladrão, mas terceiro 
inocente ( um parente, por exemplo). 
( Grifo Nosso) 
 
Culpa Presumida ou “In Re Ipsa”: ainda dentro do tópico “espécies de culpa”, cabe fazer alguns 
comentários acerca desta da “culpa presumida”. 
 
Sendo que: inicialmente , cumpre expor que tal espécie de culpa não é mais admitida pelo nosso 
ordenamento jurídico, e o último Código Penal que a contemplou foi o de 1890, e por conta disso a 
maioria dos autores modernos se exime de comentá-la. 
 
Em contrapartida: nós cremos ser importante que se façam algumas breves explanações acerca desta 
espécie desta tal de culpa presumida, pois assim procedendo acreditamos estar abordando de uma 
maneira mais satisfatória o instituto da “culpa”. 
 
A propósito: esta modalidade de culpa pode ser conceituada como sendo a culpa derivada da simples 
inobservância de disposição regulamentar. 
 
Em outros termos: nesta modalidade de culpa , responsabiliza-se penalmente uma pessoa que causou 
um resultado danoso, ainda que tenha agido com a prudência devida, sem violar um dever objetivo de 
cuidado, se ela não cumpriu uma disposição regulamentar, 
 
2 - Legítima Defesa, por exemplo. 
Direito Penal I 
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225
 
Ou seja: o descumprimento de uma disposição regulamentar fazia com que se presumisse a culpa. 
 
Preste muita atenção: presumia-se a culpa pois o agente, mesmo agindo com a prudência devida e sem 
violar nenhum dever objetivo de cuidado, havia descumprido uma disposição regulamentar. 
 
Saiba que: acerca deste particular aspecto, temos como sendo oportuno que se atente para as 
elucidativas lições do Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, que podem assim ser transcritas: 
 
“Do atropelamento provocado pelo condutor de veículo 
que dirigisse sem habilitação legal, presumia-se a 
sua culpa, ainda que no caso concreto a culpa tenha 
sido exclusiva da vítima.” 
( Grifo Nosso) 
 
Percebaque: no exemplo fornecido pelo Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, falou-se do agente 
que dirigia sem habilitação legal , sem a popularmente conhecida carta de motorista. 
 
Sendo assim: no exemplo supra, mesmo o resultado sendo totalmente imprevisível, mesmo tendo o 
agente agido com a prudência devida, sem violar nenhum dever objetivo de cuidado ( uma vez que a 
culpa foi exclusiva da vítima), a sua culpa (do motorista) será presumida pois ele não obedeceu a 
disposição regulamentar que determina que, para dirigir veículos o motorista deverá ter habilitação legal, 
ou, carta de motorista. 
 
Continue prestando muita atenção: tal como se expôs anteriormente, a culpa presumida não é mais 
admitida pelo nosso Estatuto Repressor ( Código Penal). 
 
Ou seja: é inadmissível, diante do Código Penal vigente, que se presuma a culpa de alguém. E tal como 
nos ensina Flávio Augusto Monteiro de Barros, esse sistema de presunção de culpa, que consagrava a 
monstruosa responsabilidade objetiva (lembra dela ?), atentava contra o princípio da presunção de 
inocência. 
 
A propósito: tal princípio ( presunção de inocência) consagra a máxima de que ninguém pode ser 
considerado culpado até que se prove o contrário. Nenhum cidadão, segundo este princípio, pode ser 
considerado culpado antes de uma sentença penal condenatória, antes do pronunciamento definitivo do 
Poder Judiciário que assim o declarar. 
 
Saiba ainda que: este princípio é previsto constitucionalmente, no artigo 5º, inciso VXII da Constituição 
Federal de 1988. Vamos dar uma olhada no dispositivo em questão: 
 
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem 
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito á vida, á liberdade, á 
igualdade, á segurança e a á propriedade, nos termos 
seguintes: 
Direito Penal I 
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226
 
( ... ) 
 
LVII – Ninguém será considerado culpado até o 
trânsito em julgado de sentença penal condenatória. 
 
Sendo que: nossos Tribunais, acertadamente, também repudiam da maneira enfática a existência desta 
tal de “culpa presumida”. O Tribunal de Alçada Criminal, por exemplo, ao julgar uma apelação decidiu 
que não se pode condenar por presunção, a culpa tem que ser provada. A odiosa responsabilidade 
objetiva está abolida em nosso Direito Penal. 
 
Pois bem: para finalizar nossas explanações acerca da “culpa presumida”, cumpre expor que, acerca da 
impropriedade da culpa presumida, o Profº Nelson Hungria, com a maestria que lhe é peculiar, assim nos 
ensina: 
“Não vingará a presunção de culpa, se se provar que 
a inobservância de disposição regulamentar não foi 
causa, mas simples ocasião ao evento lesivo. 
Figuremos um exemplo: certo indivíduo, guiando uma 
automóvel, em que não está matriculado e cuja 
direção lhe foi momentaneamente confiada pelo 
respectivo motorista, atropela e mata um transeunte: 
presume-se a culpa, não só do indivíduo que estava 
no volante, como a do motorista matriculado no 
carro, porque ambos estavam infringindo disposições 
regulamentares; mas se vier a ser plenamente provado 
que o primeiro é um hábil chauffeur3, tendo sido o 
fato inteiramente causal, é forçoso reconhecer-se a 
ausência de culpa. 
( Grifo Nosso) 
 
5. Graus de Culpa 
 
De acordo com a intensidade, a doutrina costuma classificar a culpa em grave, leve e 
levíssima, e acerca destes “graus de culpa”, o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros , em apertada 
síntese, assim leciona: 
 
a – Grave: quando qualquer pessoa pudesse prever o evento. 
 
b – Leve: quando apenas o homem médio ( lembra dele ?) pudesse prever o resultado. 
 
c – Levíssima: quando o resultado fosse previsível apenas ao homem de excepcional cautela. 
 
Saiba que: os penalistas, em geral, ao nosso ver acertadamente, menosprezam, a importância desta 
divisão. Sendo que, apenas a culpa levíssima, em alguns casos, poderá se equiparar ao caso fortuito, que 
como adiante se verá, acaba por excluir a culpa. 
 
3 - Motorista 
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227
 
A propósito: acerca deste particular aspecto, importante que se atente para as elucidativas lições de 
Alberto Silva Franco, que é Desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo: 
 
“O grau de culpa não interessa para efeito de 
configuração do crime culposo, tendo relevo, apenas, 
para efeito de gradação da pena. Há no entanto, 
julgados4 no sentido de que a culpa levíssima não 
basta para o reconhecimento do ilícito penal.” 
( Grifo Nosso) 
 
6. Concorrência e Compensação de Culpas 
 
No que toca à compensação de culpas, de início cumpre expor que ela ocorrerá quando a 
culpa do acusado é anulada pela presença de culpa da vítima. 
 
Sendo assim: tal como leciona o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, o motorista que culposamente 
provocasse o atropelamento não poderia ser punido na hipótese de culpa concorrente da vítima. 
 
Preste muita atenção: no Direito Penal não se admite a compensação de culpas, ou seja, as culpas 
recíprocas do ofensor e do ofendido não se extinguem. 
 
Continue prestando atenção: segundo a melhor doutrina, admitir a compensação de culpas afrontaria a 
teoria da equivalência dos antecedentes causais ( conditio sine Qua non ), uma vez que, se tanto a 
conduta do ofensor quanto a conduta do ofendido deram causa ao resultado, nenhuma delas (conduta) 
poderá ser desconsiderada em favor da outra. 
 
A propósito: acerca da inadmissibilidade da compensação de culpas , o Tribunal de Alçada Criminal do 
Estado de São Paulo, ao julgar uma apelação, assim se posicionou: 
 
“Inexiste, em nosso Direito Penal, compensação de 
culpas. Não se exonera, assim, de responsabilidade, 
o motorista que, culposamente, se envolve em 
colisão, pelo fato de haver contribuído para 
eventual culpa concorrente do ofendido.” 
( Grifo Nosso) 
 
No entanto: apesar de não ter, uma eventual culpa concorrente da vítima, o condão de excluir a do 
agente, ela ( culpa concorrente da vítima) dever ser levada em consideração quando da fixação da pena, 
podendo, eventualmente, vir a favorecer o agente, sendo que, isto se afirma com base no que dispõe o 
artigo 59 do Código Penal, que disciplina a “fixação da pena”. É o dispositivo: 
 
Art. 59. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos 
antecedentes, à conduta social, à personalidade do 
agente, aos motivos, às circunstâncias e 
 
4 - Decisões Judiciais 
Direito Penal I 
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228
conseqüências do crime, bem como ao comportamento da 
vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e 
suficiente para a reprovação e prevenção do crime: 
I – as penas aplicáveis dentre as cominadas; 
 
II – a quantidade de pena aplicável, dentro dos 
limites previstos; 
 
III – o regime inicial de cumprimento da pena 
privativa de liberdade; 
 
IV – a substituição da pena privativa de liberdade 
aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. 
 
Cuidado: é de se atentar para o fato de que, apesar de a culpa concorrente da vítima não anular a do 
ofensor, a culpa exclusiva da vítima, ao contrário, pode anular a do ofensor. 
 
Pare e pense: tal como leciona o Profº. Fernando Capez, se a culpa foi exclusiva da vítima, é porque não 
houve culpa alguma do outro. 
 
Ou seja: nos casos de culpa exclusiva da vítima, o resultado não poderá ser atribuído ao ofensor à título 
de “culpa”, pois este ( resultado) , com relação ao ofensor, ocorreu em virtude de um caso fortuito , o que 
impede que se possa qualificar uma determinada conduta como culposa. 
 
Em outros termos: tal como se verá adiante o caso fortuito é uma das hipóteses de exclusão de culpa. 
 
A propósito: no que toca à culpa exclusiva da vítima, o Tribunal de Alçada Criminal,ao julgar uma 
apelação, assim se posicionou: 
“É sabido que, em Direito Penal, as culpas não se 
compensam; entretanto, quando a culpa de uma parte 
prepondera, não se trata de compensação, mas sim de 
que se ela não tivesse ocorrido o evento não teria 
acontecido.” 
( Grifo Nosso) 
 
No que toca à concorrência de culpas, esta, tal como nos ensina Cezar Roberto Bitencourt, 
ocorrerá quando dois indivíduos, um ignorando a presença do outro, concorrerem culposamente para a 
produção de um resultado definido como crime. 
 
Preste muita atenção: não se deve confundir a concorrência de culpas com a compensação de culpas, 
onde se fala em “culpa do ofensor e da vítima”. 
 
Em outros termos: no caso da concorrência de culpas, tal como se pôde perceber, as culpas 
concorrentes são de dois agentes, de dois ofensores, duas pessoas que “agem”, que contribuem 
culposamente para a produção do resultado. 
 
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229
A propósito: as culpas que concorrem são de dois ou mais ofensores, como, aliás, já se disse. Sendo 
que nestes casos, tal como leciona o Profº. Flávio Augusto Monteiro de Barros, todos responderão pelo 
resultado, por força da “teoria da equivalência dos antecedentes causais” ( lembra dela ?). E isso porque, 
se os dois deram causa ao resultado, deverão por ele ser responsabilizados. 
 
Continue Prestando Atenção: a “concorrência de culpas” não se confunde com a chamada “co-
autoria”, que será estudada em uma aula posterior, quando tratarmos do tema “concurso de pessoas”. 
 
Isto porque: na co-autoria, os agentes contribuem para o resultado de comum acordo, ao contrário da 
concorrência de culpas, onde um agente ignora a presença do outro, 
 
Ou seja: não têm eles ( agentes), na concorrência de culpas, consciência de que estão se auxiliando 
mutuamente na produção do resultado. 
 
A propósito: no que toca à concorrência de culpas , cumpre transcrever mais um julgado do Tribunal de 
Alçada Criminal do Estado São Paulo que auxiliará na compreensão do tema em estudo: 
 
“Agem com culpas concorrentes, e portanto, devem ser 
responsabilizados, os motoristas que colidem seus 
veículos, causando o atropelamento e morte de um 
transeunte sobre a calçada; um efetuando conversão à 
esquerda sem observar norma de trânsito e a 
preferência de passagem do outro, que vinha em 
sentido contrário; e o outro imprimindo velocidade 
excessiva, incompatível com local, ao seu 
conduzido.” 
 
7. Causas de Exclusão da Culpa 
 
Via de regra a doutrina costuma citar três casos de exclusão de culpa, quais sejam: 
 
 Caso Fortuito ou Força Maior 
 Erro Profissional 
 Princípio da Confiança 
 
Antes de mais nada, saiba que: nestes três casos, o resultado era totalmente imprevisível, e não há 
uma violação do dever objetivo de cuidado, por isso a culpa será excluída. 
 
A propósito: falemos, então, em apertada síntese, desses tais casos de exclusão de culpa: 
 
Caso Fortuito e Força Maior: tal como leciona Flávio Augusto Monteiro de Barros, o caso fortuito e a 
força maior são os acontecimentos imprevisíveis e inevitáveis, que escapam do domínio da vontade do 
homem. E justamente por serem imprevisíveis e inevitáveis acabam por excluir a culpa, uma vez que, tal 
como já dissemos anteriormente, a “previsibilidade” do resultado é elemento indispensável à 
configuração dos crimes culposos. 
Direito Penal I 
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230
 
Sendo que: pode-se, inclusive, dizer que o caso fortuito e a força maior excluem a culpa, pois tal como já 
fora dito, o direito não deve exigir o inexigível. 
 
Preste atenção: alguns doutrinadores dizem que não há diferença entre o caso fortuito e a força maior, 
sendo que outros se ocupam de fazer uma distinção, que é digna de ser exposta. E os que diferenciam o 
caso fortuito da força maior dizem que esta ( força maior) é o acontecimento que resulta de eventos 
físicos ou naturais, como as tempestades, as enchentes, etc...e que aquele ( caso fortuito) deriva de fatos 
humanos, como a greve, o motim, ou outros fatos insuperáveis, como o rompimento de barra de direção 
do automóvel5. 
 
A propósito: tal como já expusemos, para efeitos penais, equipara-se ao caso fortuito a chamada culpa 
levíssima. 
 
Erro Profissional: de maneira objetiva este pode ser conceituado como sendo o erro originário da 
falibilidade das regras da ciência. 
 
Sendo que: tal como leciona Flávio Augusto Monteiro de Barros, o erro profissional exclui a culpa pois a 
falha não é do agente e sim da própria ciência. 
 
Preste muita atenção: o “erro profissional” não se confunde com a imperícia, pois neste, o agente, por 
sua conta e risco, deixa de observar regra recomendada pela profissão. Tal como nos ensina o penalista 
supra, na imperícia, a falha não deriva da ciência, mas do próprio agente. 
 
Em suma: no caso da imperícia, a falha é do agente, que deixa de observar regras recomendadas pela 
sua profissão, ao passo que no erro profissional, a culpa é das regras do ofício, que se mostram 
ineficientes em determinados casos concretos . 
 
A propósito: Acerca do erro profissional, oportuno lembrar as lições de Nelson Hungria, que podem 
assim ser transcritas: 
“O médico que, por erro grosseiro, causa a morte do 
paciente, é criminoso. Ninguém duvida, por exemplo, 
da punibilidade do médico que, por ignorância, 
cloroformiza um cardíaco ou ministra ao doente uma 
dose excessiva de estricnina, ocasionando-lhe a 
morte. Não há um direito erro; mas este será 
desculpável, quando invencível à mediana cultura 
médica e tendo em vista as circunstâncias do caso 
concreto.” 
( Grifo Nosso) 
 
Princípio da Confiança: um dos maiores problemas atinentes à dogmática dos crimes culposos, refere-
se, especificamente, à violação do dever objetivo de cuidado. 
 
 
5 - Tal como nos ensina Flávio Augusto Monteiro de Barros. 
Direito Penal I 
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231
Isto porque: em alguns casos, o autor causa o resultado porque outro violou o dever objetivo de cuidado. 
 
A propósito: para que se possa compreender melhor o que estamos a expor, temos por oportuno que se 
atente para as elucidativas lições do Profº. André Luís Callegari, que podem assim serem transcritas: 
 
“Em determinados âmbitos sociais o perigo ou a 
lesividade de certas condutas assumidas pelo 
ordenamento jurídico depende não só da pessoa que as 
realiza, senão também do comportamento de outras 
pessoas.” 
( Grifo Nosso) 
 
Diante de tais afirmações, é de se perguntar: será que apenas porque o agente não percebeu que 
outra pessoa, que com ele compartilha uma determinada atividade, estava violando um dever objetivo de 
cuidado, poderá ser punido á título de culpa ? 
 
Saiba que: tal como lecionam os mestres Eugenio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli, tal 
problemática pode ser resolvida pelo princípio da confiança, segundo o qual desenvolve-se de acordo 
com o dever objetivo de cuidado a conduta daquele que, em qualquer atividade compartilhada, mantém a 
confiança em que o outro se comportará conforme ao dever de cuidado, enquanto não tenha razão 
suficiente para duvidar ou acreditar no contrário. 
 
A propósito: acerca do Princípio da Confiança, os insignes mestres assim exemplificam: 
 
“O médico terá violado o dever de cuidado se a falta 
de esterilização do instrumental era de tal natureza 
que devia tê-la percebido ao utilizá-lo, mas, 
excluído isso, não teria motivos para supor que a 
enfermeira violara o dever objetivo de cuidado.” 
( grifo nosso) 
 
Perceba que: o princípio da confiança exclui a culpa do agente que causa o resultado pois este ( 
resultado), ocorreu em virtude da violação do dever de cuidado por parte de outra pessoa. Sendo que, tal 
como leciona o Profº. André Luís Callegari, nos casos em que o autor atua dentro dos limitesimpostos 
pelo ordenamento vigente, é dizer, com a diligência exigida, ainda que se produza um resultado, este não 
poderá ser-lhe imputado. 
 
8. Crimes Preterdolosos ou Preterintencionais 
 
Até agora vimos que o Código Penal, reconhece expressamente duas espécies de crime, 
quais sejam: os dolosos e os culposos, tal como preceitua o já transcrito artigo 18 do Código Penal. 
 
No entanto: tal como leciona o Profº. Cezar Roberto Bitencourt, a doutrina e a jurisprudência 
reconhecem a existência de uma terceira categoria de crimes, que costumam designar crimes 
preterdolosos. 
 
Direito Penal I 
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A propósito: de início é por bem que se tenha em mente que, nesta modalidade de crimes, o resultado 
vai além da intenção do agente. 
 
Em outros termos: nestes casos, tal como ensina-nos o penalista supracitado, a ação voluntária inicia 
dolosamente e termina culposamente, porque, a final, o resultado efetivamente produzido estava fora da 
abrangência do dolo. 
 
Por isso: a doutrina costuma dizer que nos crimes preterdolosos há dolo no antecedente e culpa no 
conseqüente. 
 
Saiba que: antes de continuarmos falando dos crimes preterdolosos, convém fazermos algumas breves 
explanações acerca dos crimes qualificados pelo resultado, uma vez que, tal como leciona a melhor 
doutrina, os crimes preterdolosos se configuram em sendo uma das hipóteses de crime qualificado pelo 
resultado. 
 
Lembre-se que: tal como já dissemos em uma aula anterior, os crimes qualificados pelo resultado são 
aqueles nos quais o legislador, após descrever a figura típica, acrescenta-lhe um resultado, com a 
finalidade de aumentar abstratamente a pena. Vejamos um exemplo de crime qualificado pelo resultado, 
para que assim se possa melhor compreender o que estamos a expor: 
 
Rixa 
Art. 137. Participar de rixa, salvo para separar os 
contendores: 
 
Pena – detenção de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses 
ou multa. 
 
Parágrafo único: Se ocorre morte ou lesão corporal 
de natureza grave, aplica-se, pelo fato da 
participação na rixa, a pena de detenção de 6 (seis) 
meses a 2 (dois) anos. 
 
Como se pôde perceber: no caput do artigo supracitado o legislador descreve a forma simples do crime, 
para logo após, no parágrafo único, descrever a forma qualificada, mais gravosa, do crime em questão. 
 
A propósito: de acordo com o Profº. Fernando Capez, os crimes qualificados pelo resultado podem ser 
praticados de três maneiras distintas, a saber: 
 
 Conduta Inicial Dolosa + Resultado Agravador Doloso: nesses casos o agente quer praticar a 
conduta inicial, o “crime simples” e também o resultado mais gravoso. Seria o caso, por exemplo, do 
marido que espanca a sua mulher até provocar-lhe deformidade permanente6. 
 
Saiba que: a conduta do marido covarde é descrita pelo artigo 129, § 2º, inciso IV do Código Penal. 
Vamos dar uma olhada no referido dispositivo: 
 
6 - Exemplo do Profº. Fernando Capez 
Direito Penal I 
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233
 
Lesão Corporal 
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde 
de outrem. 
 
Pena – detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano. 
( ...) 
 
Lesão corporal de natureza grave 
 
§ 1º ( ...) 
 
§ 2º Se resulta: 
( ... ) 
 
IV – deformidade permanente; 
( ... ) 
 
Pena – reclusão de 2 ( dois ) a 8 ( oito) anos. 
 
 Conduta Inicial Culposa + Resultado Agravador Doloso: nestes casos o agente, inicialmente, 
produz um resultado por imprudência, negligência ou imperícia, e depois realiza uma conduta “dolosa” 
que ocasiona um resultado agravador. 
 
A propósito: sobre esta modalidade de crime qualificado pelo resultado o Profº. Fernando Capez assim 
exemplifica: 
“Motorista que, após atropelar uma pessoa, ferindo-
a, foge, se omitindo de prestar socorro. 
 
Saiba que: tal exemplo encontra enquadramento legal no artigo 121, § 4º. Vamos dar uma olhada no 
dispositivo: 
 
§ 4º. No homicídio culposo7, a pena é aumentada de um 
terço, se o crime resulta de inobservância de regra 
técnica de profissão, arte ou ofício,ou se o agente 
deixa de prestar imediato socorro à vítima, não 
procura diminuir as conseqüências do seu ato ou foge 
para evitar a prisão em flagrante. Sendo doloso o 
homicídio, a pena é aumentada de um terço, se o 
crime é praticado contra pessoa menor de 14 ( 
catorze) anos. 
( Grifo Nosso) 
 
 Conduta Inicial Dolosa + Resultado Agravador Culposo: esta modalidade de “crime qualificado 
pelo resultado” é a que se denomina “crime preterdoloso”. 
 
 
7 - Que como já se lecionou é descrito no § 3º do artigo 121 
Direito Penal I 
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234
Sendo que: nesta modalidade de crime qualificado pelo resultado, tal como já se expôs, o agente quer 
praticar um crime, mas acaba se excedendo e produzindo um resultado mais grave culposamente . 
 
A propósito: podemos pegar como exemplo de dispositivo legal que descreve um crime desta espécie o 
§ 3º do supra transcrito artigo 129 do Código Penal, que assim preceitua: 
 
Lesão corporal seguida de morte 
§ 3º. Se resulta morte e as circunstâncias 
evidenciam que o agente não quis o resultado, nem 
assumiu o risco de produzi-lo8: 
 
Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. 
 
Preste muita atenção: acerca dos crimes preterdolosos, cumpre expor, ainda, que o resultado posterior 
não desejado, que agrava a pena, só é imputável ao agente quando previsível. 
 
Isto se afirma pois: o artigo 19 do Código Penal preceitua que “o resultado que agrava especialmente a 
pena só é imputado ao agente que o houver causado ao menos culposamente”. 
 
É de se concluir, portanto, que: se o resultado posterior for decorrente de caso fortuito ou força maior, 
se for, este ( resultado) “imprevisível”, não poderá ser imputado ao agente. 
 
Pois bem: por fim, convém darmos uma olhada no referido artigo 19 do Código Penal. É o dispositivo: 
 
Art. 19. Pelo resultado que agrava especialmente a 
pena, só responde o agente que o houver causado ao 
menos culposamente. 
 
 
 
 
 
Questão-Problema 
 
 
Seu professor, durante a aula que tratava da culpa, chega e lhe pergunta: 
 
- Sempre que o resultado for “previsto e desejado” o agente estará agindo dolosamente ? Porque ? 
 
E pergunta-lhe, ainda, o referido professor: 
 
- Qual a diferença entre culpa consciente e culpa inconsciente ? 
 
Qual seria sua resposta à tais indagações ? 
 
8 - Agindo, portanto, sem dolo 
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Quadro Sinóptico 
 
1. Um dos principais elementos dos crimes culposos, ao lado da violação do 
dever objetivo de cuidado, é a imprevisibilidade do previsível. 
 
2. A imprevisão do resultado que caracteriza os crimes culposos pode ser 
encarada tanto sob o aspecto objetivo quanto sob o aspecto subjetivo, daí 
falar-se em previsibilidade objetiva e previsibilidade subjetiva. 
 
 Previsibilidade Objetiva: o termo previsibilidade objetiva se refere à 
capacidade de antever o resultado oriunda da conduta, inerente à maioria 
das pessoas. 
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Lembre-se que: se o juiz, ao analisar um caso concreto, chegar à conclusão de 
que o “homem médio” , aquele ser fictício que representa o homem comum, não 
teria, nas circunstâncias em que se encontrava o agente, condições de prever o 
resultado, a conduta não poderá ser considerada típica. 
 
 Previsibilidade Subjetiva: ao contrário da previsibilidade objetiva, que 
leva em consideração a capacidade de previsão do resultado inerente ao 
homem médio, a previsibilidade subjetiva é auferida levando-se em 
consideração as condiçõespessoais do agente. Tal como leciona o Profº. 
Damásio Evangelista de Jesus, na previsibilidade subjetiva é questionada a 
possibilidade de o sujeito, segundo suas aptidões pessoais, e na medida de 
seu poder individual, prever o resultado. 
 
Não se esqueça que: a ausência de previsibilidade objetiva exclui a tipicidade 
da conduta, ao passo que a ausência de previsibilidade subjetiva exclui a 
culpabilidade do agente. 
 
3. O resultado, nos crimes culposos, tem função essencial. Os crimes culposos 
não têm existência real sem o resultado. Ou seja: a “desatenção” do agente, em 
si mesma, não é penalmente relevante até que produza uma lesão ou ameaça de 
lesão à um bem penalmente tutelado. 
 
Lembre-se que: no que toca aos crimes dolosos, que como já se sabe, são 
aqueles crimes onde o agente prevê e quer o resultado, a ausência do resultado 
não os descaracteriza, uma vez que estes ( crimes dolosos), mesmo sem o 
resultado, podem subsistir, embora na sua forma tentada. No caso dos crimes 
dolosos, se o resultado não ocorrer por circunstâncias alheias à vontade do 
agente, ele será punido por tentativa, pela forma tentada do crime cujo 
resultado não ocorreu. 
 
4. O nexo de causalidade também tem importância inquestionável nos crimes 
culposos, uma vez que não basta que estejam presentes a violação do dever 
objetivo de cuidado e o resultado oriundo de tal violação. Imprescindível, 
também, que o resultado seja conseqüência da conduta violadora do dever 
objetivo de cuidado. 
 
5. Espécies de culpa: quando falamos das “espécies” de culpa, vimos que ela se 
subdivide em: 
 
Culpa inconsciente ou comum: tal espécie de culpa caracteriza-se pela total 
ausência de previsão do resultado previsível. Ou seja: o agente não prevê o 
previsível. 
 
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Culpa consciente ou com previsão: nesta modalidade de culpa, o agente prevê o 
resultado, mas crê sinceramente que ele não irá ocorrer. 
 
Culpa Própria: esta pode ser conceituada de maneira simples e objetiva, pois 
representa a culpa comum, onde o resultado imprevisto era previsível. Tal como 
leciona o Profº. Damásio Evangelista de Jesus, na culpa própria o agente não 
quer o resultado, e nem assumiu o risco de produzi-lo, embora este ( 
resultado) fosse previsível. 
 
Culpa imprópria: de maneira objetiva, pode-se afirmar que na culpa imprópria, 
o agente prevê e quer o resultado, ou, como enfatiza o Profº. Damásio 
Evangelista de Jesus, o resultado é previsto e querido pelo agente. Nos casos 
de culpa imprópria o resultado, apesar de previsto e querido pelo agente, 
ocorre em virtude de uma errônea valoração por parte deste (agente) acerca de 
determinadas circunstâncias. 
 
Em outros termos: realmente há, por parte do agente, nos casos da culpa 
imprópria, a vontade de produzir o resultado, entretanto, esta vontade é 
viciada por um erro de valoração. 
 
Culpa Presumida ou “In Re Ipsa”: esta modalidade de culpa, que foi abolida de 
nosso ordenamento jurídico, pode ser conceituada como sendo a culpa derivada 
da simples inobservância de disposição regulamentar. 
 
6. Compensação de culpas: esta ocorrerá quando a culpa do acusado é anulada 
pela presença de culpa da vítima. 
 
Lembre-se que: no Direito Penal não se admite a compensação de culpas, ou 
seja, as culpas recíprocas do ofensor e do ofendido não se extinguem. 
 
No entanto: apesar de não ter, uma eventual culpa concorrente da vítima, o 
condão de excluir a do agente, ela ( culpa concorrente da vítima) dever ser 
levada em consideração quando da fixação da pena, podendo, eventualmente, vir 
a favorecer o agente, sendo que, isto se afirma com base no que dispõe o 
artigo 59 do Código Penal. 
 
Não se esqueça que: apesar de a culpa concorrente da vítima não anular a do 
ofensor, a culpa exclusiva da vítima, ao contrário, pode anular a do ofensor. 
Tal como leciona o Profº. Fernando Capez, se a culpa foi exclusiva da vítima, 
é porque não houve culpa alguma do outro. 
 
7. Concorrência de culpas: esta, tal como nos ensina Cezar Roberto Bitencourt, 
ocorrerá quando dois indivíduos, um ignorando a presença do outro, concorrerem 
culposamente para a produção de um resultado definido como crime. 
 
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Lembre-se que: não se deve confundir a concorrência de culpas com a 
compensação de culpas, onde se fala em “culpa do ofensor e da vítima”. No 
caso da concorrência de culpas, tal como se pôde perceber, as culpas 
concorrentes são de dois agentes, de dois ofensores, duas pessoas que “agem”, 
que contribuem culposamente para a produção do resultado. 
 
9. Vamos relembrar algumas situações que acabam por excluir a culpa: 
 
Caso Fortuito e Força Maior: o caso fortuito e a força maior são os 
acontecimentos imprevisíveis e inevitáveis, que escapam do domínio da vontade 
do homem. E justamente por serem imprevisíveis e inevitáveis acabam por 
excluir a culpa, uma vez que, tal como já dissemos anteriormente, a 
“previsibilidade” do resultado é elemento indispensável à configuração dos 
crimes culposos. O caso fortuito e a força maior excluem a culpa, pois tal 
como já fora dito, o direito não deve exigir o inexigível. 
 
Erro Profissional: de maneira objetiva este pode ser conceituado como sendo o 
erro originário da falibilidade das regras da ciência. Tal como leciona Flávio 
Augusto Monteiro de Barros, o erro profissional exclui a culpa pois a falha 
não é do agente e sim da própria ciência. 
 
Lembre-se que: o “erro profissional” não se confunde com a imperícia, pois 
neste caso ( imperícia), o agente, por sua conta e risco, deixa de observar 
regra recomendada pela profissão. 
 
Princípio da Confiança: em alguns casos, o autor causa o resultado porque 
outro violou o dever objetivo de cuidado. Tal como nos ensinam os mestres 
Eugênio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli, segundo o princípio da 
confiança, desenvolve-se de acordo com o dever objetivo de cuidado a conduta 
daquele que, em qualquer atividade compartilhada, mantém a confiança em que o 
outro se comportará conforme ao dever de cuidado, enquanto não tenha razão 
suficiente para duvidar ou acreditar no contrário. 
 
Não se esqueça que: o princípio da confiança exclui a culpa do agente que 
causa o resultado pois este ( resultado), ocorreu em virtude da violação do 
dever de cuidado por parte de outra pessoa. 
 
10. Além dos crimes culposos e dos crimes dolosos, a doutrina e a 
jurisprudência costuma citar a existência de uma terceira espécie de crimes, 
qual seja: os crimes preterdolosos. 
 
11. Nesta modalidade de crimes, o resultado vai além das intenções do agente. 
A doutrina costuma dizer que no caso dos crimes preterdolosos há dolo no 
antecedente e culpa no conseqüente. 
 
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Lembre-se que: nos crimes preterdolosos, o resultado posterior, não 
desejado, que agrava a pena, só é imputável ao agente quando previsível, e 
isto se afirma pois o artigo 19 do Código Penal preceitua que “o resultado que 
agrava especialmente a pena só é imputado ao agente que o houver causado ao 
menos culposamente”. 
 
Em outros termos: se o resultado posterior for decorrente de caso fortuito ou 
força maior, se for, este ( resultado) “imprevisível”, não poderá ser imputado 
ao agente.

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