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1 DISCIPLINA: DIREITO PROCESSUAL PENAL III ANO: 2021.2. (8º Semestre) PROFESSORA ME. KARINE CORDAZZO Aula 1 TEMA: PROCEDIMENTO COMUM 1. Processo e Procedimento O Código de Processo Penal, nesse ponto, peca pela falta de técnica, já que, muitas vezes, utiliza o termo “processo” quando deveria utilizar “procedimento”. Conceitos: Processo: instrumento por meio do qual o Estado exerce a jurisdição, o autor exerce o direito de ação e o acusado exerce o direito de defesa, havendo entre seus sujeitos uma relação jurídica diversa da relação jurídica de direito material, qual seja, a relação jurídica processual, que impõe a todos deveres, direitos, ônus e sujeições. Procedimento: é o modo pelo qual os diversos atos se relacionam na série constitutiva do processo, representando o modo do processo atuar em juízo. ✓ O procedimento traduz-se na sequência de atos processuais que devem ser praticados até o final do processo. Exemplo: Oferecimento de denúncia - Juízo de admissibilidade – Recebimento da denúncia e citação do acusado – Resposta à acusação etc. 1.1. Fases procedimentais: O procedimento é composto de quatro fases distintas: a) Fase postulatória: abrange a acusação oferecida pelo Ministério Público ou a queixa- crime oferecida pelo querelante, e também, alguns atos praticados pela defesa antes do recebimento da denúncia (defesa preliminar). ✓ A defesa preliminar existe apenas em alguns procedimentos e ocorre quando a defesa tem a oportunidade de ser ouvida pelo juiz antes do recebimento da peça acusatória. ✓ A investigação preliminar não faz parte da fase postulatória e, portanto, não integra o processo. A fase postulatória tem início com o oferecimento da acusação e não abrange a fase investigatória. b) Fase instrutória: nessa fase, há a produção das provas requeridas pelas partes ou determinadas pelo juiz. Obs.: conforme o art. 400 do CPP1, a audiência una de instrução e julgamento deveria concentrar todos os atos instrutórios, mas, na prática, raramente isso ocorre. 1 CPP, Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder- se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, 2 As provas são produzidas na fase instrutória, entretanto, em algumas situações, elas já podem ter sido produzidas na fase postulatória. Isso porque, em alguns casos, a acusação já vem acompanhada de provas: provas cautelares, provas antecipadas e provas não repetíveis. -A provas cautelares são aquelas em que há um risco de desaparecimento do objeto da prova por decurso do tempo. Se não forem produzidas logo perdem sua razão de produção, depende de autorização judicial, mas tem seu contraditório postergado/diferido - ex: interceptações telefônicas. - A provas não repetíveis são aquelas que quando produzidas não tem como serem produzidas novamente, o exemplo mais citado é o exame de corpo de delito, não dependem de autorização judicial e seu contraditório também é diferido. - As provas antecipadas possuem contraditório real, exemplo clássico da testemunha que está hospital em fase terminal, nesse caso, depende de autorização judicial. Sua colheita é feita em momento processual distinto daquele legalmente previsto, por isso a classificação. c) Fase decisória: a fase decisória não se restringe à sentença. Essa fase abrange também as alegações orais/memoriais. ✓ Com o objetivo de formar a convicção do juiz, as partes têm a oportunidade de se pronunciar quanto ao material probatório constante dos autos do processo e isso é feito por meio das alegações orais/memoriais. (art. 403, §3º, CPP) d) Fase recursal: é a fase por meio da qual as partes podem se valer de instrumentos para impugnar decisões judiciais desfavoráveis aos seus interesses (princípio do duplo grau de jurisdição). 2. Violação às regras procedimentais Questão: Qual é a consequência da violação das regras procedimentais? Neste ponto, há duas posições: 1ª Corrente: Parte da doutrina afirma que, no caso de inobservância das regras procedimentais, ter-se-ia uma nulidade absoluta por violação ao princípio do devido processo legal. Essa posição é minoritária. 2ª Corrente: Esta posição, por sua vez, defende que a nulidade em questão é relativa.* ✓ No caso de nulidade relativa, o prejuízo deve ser comprovado e a arguição deve ser feita oportunamente, sob pena de preclusão. Esta corrente é a que prevalece e tem como fundamento o princípio da instrumentalidade das formas. A ideia é que cada ato procedimental existe como instrumento para a consecução de determinada finalidade. Assim, se um ato procedimental não foi observado, mas a finalidade dele foi atingida, não seria razoável declarar a nulidade do feito. Dessa forma, o processo não pode ser um fim em si mesmo. ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado. § 1º As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. § 2º Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimento das partes. 3 Exemplo: a citação defeituosa é vício gravíssimo. Entretanto, o próprio CPP preceitua, no art. 5702, que eventual vício inerente à citação poderá ser suprido diante do comparecimento da vítima. ✓ *Essa segunda corrente é amplamente dominante nos tribunais superiores. 3. Persecução penal de crimes conexos e/ou continentes sujeitos a procedimentos distintos Questão: Em caso de crimes conexos e/ou continentes sujeitos a procedimentos diversos, o que se deve fazer? Exemplo: Há um crime que tem o procedimento “A” e um crime que tem o procedimento “B”. ✓ Diante da conexão e da continência, será formado um simultaneus processos, ou seja, haverá processo e julgamento único e, portanto, é necessário estabelecer qual será o procedimento adequado (“A”,“B” ou “C”, sendo este resultante da fusão dos dois anteriores). Observações: 1ª) Diante de procedimentos diversos relativos a crimes conexos e/ou continentes, não é possível realizar a combinação/fusão de procedimentos diversos. ✓ Se o juiz faz tal fusão, ele está atuando como legislador positivo e está violando o princípio da separação dos poderes. 2ª) Atenção para eventual força atrativa exercida pelo júri. Quando estiver presente a conexão/continência, deve-se analisar qual dos dois juízos exercerá a força atrativa. Lembre-se do exemplo do Tribunal do Júri que exerce força atrativa, trazendo para si o julgamento dos crimes conexos e continentes (salvo se forem militares ou eleitorais). Exemplo: crime de homicídio doloso praticado em conexão/continência com o crime de ocultação de cadáver. Neste caso, há uma espécie de conexão probatória e, portanto, os dois crimes serão reunidos no Tribunal do Júri para julgamento. Nesta situação, o procedimento a ser aplicado a estes crimes será o procedimento especial do júri. 3ª) Se ambos os delitos forem da competência do juiz singular, qual será o procedimento adequado? O melhor exemplo disso é o crime de tráfico de drogas em conexão com o crime de furto, pois há o procedimento especial da lei de drogas em cotejo com o procedimento comum ordinário. O aluno deve ter cuidado porque a antiga lei de drogas (Lei n. 6.368/76) afirmava o seguinte: Revogada Lei n. 6.368/76. “Art. 28. Nos casos de conexão e continência entre os crimes definidos nesta Lei o outras infrações penais, o processo será o previsto para a infração mais grave, ressalvados os da competência do júri e das jurisdições especiais.” Assim sendo, pela antiga lei de drogas, aplicava-se o procedimento para a infração mais grave e, portanto, no exemplo dado, o procedimento aplicado seria o do crime de tráfico de drogas. 2 CPP,Art. 570. A falta ou a nulidade da citação, da intimação ou notificação estará sanada, desde que o interessado compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o faz para o único fim de argüi-la. O juiz ordenará, todavia, a suspensão ou o adiamento do ato, quando reconhecer que a irregularidade poderá prejudicar direito da parte. 4 Entretanto, mesmo antes da revogação da referida lei, o critério da gravidade do delito como fator para a definição do procedimento já era criticado pela doutrina. Alguns doutrinadores já defendiam que, nesses casos, o critério deveria ser a amplitude do procedimento. Esta sempre foi a orientação dominante na doutrina. ✓ O regramento do art. 28 da antiga lei de drogas não foi reproduzido na Lei 11.343/06. Obs.: Procedimento mais amplo não é o procedimento mais demorado. Trata-se do procedimento que melhor assegura às partes o exercício de suas faculdades processuais. Nesse caso específico (exemplo do tráfico de drogas e furto), seria possível pensar que a lei de drogas possui maior amplitude de procedimento, pois prevê a denominada defesa preliminar, conferindo ao acusado a oportunidade de se manifestar antes de o juiz receber a peça acusatória. Entretanto, esse é a única vantagem da referida lei em comparação ao procedimento comum, senão vejamos: • O número de testemunhas no procedimento comum ordinário é maior (8 testemunhas); • No procedimento comum ordinário, a lei prevê a possibilidade de requerimento de diligências no final da audiência de instrução. • No procedimento comum ordinário, a lei prevê a possibilidade de substituição das alegações orais por memoriais. Assim sendo, o procedimento comum ordinário é mais amplo do que o procedimento especial da lei de drogas. STJ: “(...) Configurado o concurso material de crimes, alguns previstos na Lei Antitóxicos e outros cujo rito é o estabelecido no Código de Processo Penal, este deve prevalecer, haja vista a maior amplitude à defesa no procedimento nele preconizado (Precedentes STJ). Ainda que se considerasse que o rito a ser adotado fosse o previsto na Lei no 10.409/02, a sua inobservância implicaria em nulidade relativa do processo. (...)”. (STJ, 5a Turma, HC 170.379/PR, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 13/12/2011, Dje 01/02/2012). *CONEXÃO E CONTINÊNCIA Em regra, são causas modificativas de competência. Conexão: Pode ser compreendida como o nexo, a dependência recíproca que dois ou mais fatos delituosos guardam entre si, recomendando a união de todos eles em um mesmo processo penal, perante o mesmo órgão jurisdicional, a fim de que este tenha uma perfeita visão do quadro probatório. CPP, art. 76: “A competência será determinada pela conexão: I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras; II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas; III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração.” 5 Continência: Configura-se quando uma demanda, em face de seus elementos (partes, pedido e causa de pedir) estiver contida em outra. CPP, art. 77: “A competência será determinada pela continência quando: I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração; II - no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1º, 53, segunda parte, e 54 do Código Penal.” Efeitos da Conexão e da Continência a) Processo e julgamento único (“simultaneus processus”): em regra, havendo conexão e continência, haverá simultâneos processos (reunião de processos). CPP, art. 79: “A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo: I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar; *deve separar os processos II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores. §1º Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum corréu, sobrevier o caso previsto no art. 152. §2º A unidade do processo não importará a do julgamento, se houver corréu foragido que não possa ser julgado à revelia,ou ocorrer a hipótese do art. 461.”* hoje não existe mais essa hipótese Obs. 1: o art. 152 do CPP trata da doença mental superveniente à infração. CPP, art. 152: “Se se verificar que a doença mental sobreveio à infração o processo continuará suspenso até que o acusado se restabeleça, observado o § 2º do art. 149. §1º O juiz poderá, nesse caso, ordenar a internação do acusado em manicômio judiciário ou em outro estabelecimento adequado. §2º O processo retomará o seu curso, desde que se restabeleça o acusado, ficando-lhe assegurada a faculdade de reinquirir as testemunhas que houverem prestado depoimento sem a sua presença.” Exemplo: “A” e “B” matam “C”. Se “B”, durante o curso do processo, ficar doente, o Código de Processo Penal prevê que o processo ficará sobrestado em relação a “B” e prosseguirá em relação a “A”. Obs. 2: a hipótese do §2º do art. 79 do CPP não existe mais, pois hoje, no Tribunal do Júri, independentemente da natureza do crime, o indivíduo pode ser julgado à revelia. b) Um foro ou um ou um juízo exercerá força atrativa (“forum attractionis” ou “vis attractiva”): CPP, art. 82: “Se, não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos diferentes, a autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade dos processos só se dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação das penas.” Obs.: esse artigo traz a “avocatória”, ou seja, quando o juízo com força atrativa chama para si os demais processos que devem ser reunidos devido à conexão e à continência. ***Se tais juízos negarem o envio de processos, haverá um conflito positivo de competência, o qual será dirimido pelo respectivo tribunal. 6 Exemplo: roubo em Dourados e receptação em Campo Grande. Neste caso, o juízo de Dourados tem força atrativa e vai avocar o processo. Se o juiz de Campo Grande se recusar, haverá conflito positivo de competência. Neste caso, o conflito será resolvido pelo TJMS. Súmula 235 do STJ: “a conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado”. Obs.: como visto, a decisão citada pode ser a decisão recorrível. Não precisa ser, necessariamente, a transitada em julgado. Foro Prevalente: a) Competência prevalente do Tribunal do Júri: O Tribunal do Júri exerce força atrativa, salvo se forem crimes militares ou crimes eleitorais. CPP, art. 78: “Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948) I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri; (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948) (...)”. CPP, art.79: “A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo: I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar; II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores. (...)” b) Jurisdições distintas: ✓Concurso entre jurisdição comum e especial: a justiça especial deve prevalecer. Entretanto, a doutrina entende que esse “comum” é válido apenas para a justiça estadual. O STF entendeu que a justiça eleitoral também absorve crimes da competência da justiça federal. CPP, art. 78: “Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948) (...) IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta. (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)” ✓Concurso entre órgãos de jurisdição superior e inferior: Exemplo:há um crime que deve ser julgado por um tribunal e um crime que deve ser julgado por um juízo de 1ª instância. Neste caso, prevalece a competência do tribunal de maior graduação. CPP, art. 78: “Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948) (...) III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação; (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)” 7 CPP, art. 80: “Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.” ✓Concurso entre justiça federal e estadual: Súmula 122 do STJ: “compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do Art. 78, II, "a", do Código de Processo Penal”. Questão: E se forem juízes de igual categoria? CPP, art. 78: “Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948) (...) Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948) (...) a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; (Redação dada pela Lei nº 263, de23.2.1948)” ➢Regras de fixação: 1. Prevalece o juízo da comarca em que tiver sido praticado o delito mais grave (CPP, art. 78, II, “a”). ✓Consideram-se penas mais graves, nesta ordem: privativas, restritivas e pecuniárias. Entre as penas privativas de liberdade, a mais grave é a de reclusão e, depois, a detenção e prisão (respectivamente). ✓No caso das penas privativas de liberdade, deve-se considerar a pena máxima cominada a um delito. 2. Local do maior número de infrações, se as penas forem de igual gravidade (CPP, art. 78, II, “b”); 3.Não havendo as distinções acima, o critério é o da prevenção (CPP, art. 78, II, “c”). 4. Classificação dos procedimentos penais Há duas espécies de procedimentos: a) Procedimentos especiais: estão previstos no CPP e na legislação especial. Os procedimentos especiais podem ser definidos por conta da natureza do delito ou da pessoa do acusado. No CPP, também há vários exemplos de procedimentos especiais, tais como: • O procedimento especial dos crimes dolosos contra a vida; • O procedimento especial dos crimes de responsabilidade de funcionário público; • O procedimento especial dos crimes contra a honra; • O procedimento especial dos crimes contra a propriedade material. Também há procedimentos especiais na legislação especial. Exemplos: • Lei de drogas (Lei 11.343/06); 8 • Lei 8.038/90 (procedimento originário dos Tribunais); etc. b) Procedimento comum: o procedimento comum tem natureza residual, ou seja, ele somente será utilizado quando não houver procedimento especial para o delito em questão. O procedimento comum se subdivide em: • Ordinário; • Sumário; e • Sumaríssimo. 4.1. Classificação do Procedimento Comum Questão: Qual é o critério adotado para fazer tal classificação? Antes da Lei 11.719/08, o critério utilizado para definir se o procedimento seria ordinário ou sumário era a espécie de pena cominada. Assim sendo, se o crime fosse punido com pena de reclusão, aplicar-se-ia o procedimento comum ordinário. Por outro lado, se o crime fosse punido com pena de detenção, aplicar- se-ia o procedimento sumário. Após a Lei 11.719/08, o critério anterior foi abandonado e adotou-se o critério do quantum de pena. CPP, art. 394: “O procedimento será comum ou especial. (Redação dada pela Lei no 11.719, de 2008). § 1º O procedimento comum será ordinário, sumário ou sumaríssimo: (Incluído pela Lei no 11.719, de 2008). I - ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade; (Incluído pela Lei no 11.719, de 2008). II - sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade; (Incluído pela Lei no 11.719, de 2008). III - sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma da lei. (Incluído pela Lei no 11.719, de 2008). (...)” (Trata-se do procedimento da Lei 9.099/95 – Infrações de menor potencial ofensivo). Classificação do procedimento comum: Art. 394, CPP. • O procedimento ordinário será utilizado para crimes com pena máxima igual ou superior a 4 anos (não importa se a pena é de reclusão ou de detenção); Obs.: cuidado para não confundir com a prisão preventiva (art. 313, I, CPP3), a qual, em regra, para ser decretada, necessita que o crime seja punido com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 anos. • O procedimento sumário será utilizado para crimes com pena máxima inferior a 4 anos e superior a 2 anos. Obs.: cuidado com a leitura do art. 394, II do CPP, pois o legislador não citou expressamente que a pena deve ser superior a 2 anos. Essa informação, entretanto, consta no art. 394, III do CPP. Exemplo: homicídio culposo do CP (pena de 1 a 3 anos) – art. 121, §3º do CP4. 3 CPP, art. 313, I: “Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos;” 4 CP, art. 121, §3º: “Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de um a três anos.” 9 • O procedimento sumaríssimo é utilizado no âmbito do JECRIM para infrações de menor potencial ofensivo, ou seja, é utilizado para contravenções penais e crimes com pena máxima não superior a 2 anos, cumulada ou não com multa, sujeitos ou não a procedimento especial (ressalvados os casos envolvendo violência doméstica e familiar contra a mulher). 4.1.1. Concurso de crimes, qualificadoras, privilégios, causas de aumento e de diminuição de pena, agravantes e atenuantes Observação: Concurso de crimes, qualificadoras, privilégios, causas de aumento e de diminuição de pena: são levados em consideração para fins de definição do procedimento adequado, pois, em todos eles, é possível saber qual é a pena mínima e qual é a pena máxima. Exemplo: o homicídio qualificado possui pena de 12 a 30 anos, ou seja, a própria lei define a pena mínima e a pena máxima. Em relação à causa de aumento ou de diminuição, sempre há um quantum variável. Exemplo: a tentativa diminui a pena de 1/3 a 2/3. Na hora de estabelecer o procedimento comum adequado, é sempre necessário olhar para a pena máxima cominada ao delito. Assim sendo, ter-se-á: • Quando se tratar de causa de aumento de pena, o critério a ser utilizado é o quantum que mais aumenta a pena. • Quando se tratar de causa de diminuição de pena, utiliza-se o quantum que menos diminui a pena. As agravantes e atenuantes não são levadas em consideração para fins de fixação do procedimento adequado. Isso porque não há um quantum legalmente definido para as agravantes e para as atenuantes. ✓ O critério de 1/6 para agravantes e atenuantes é construção jurisprudencial. Não há base legal para tal critério. Obs. 1: Infrações penais praticadas no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher: Lei n. 11.340/06 “Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei n. 9.099/95.” ✓ Não se aplica a Lei 9.099/95 aos crimes e contravenções praticados no contexto da Lei Maria da Penha, ou seja, nesses casos, não é possível aplicar o procedimento comum sumaríssimo. ✓ O STF entende que o disposto no art. 41 da Lei 9.099/95 abrange as contravenções penais praticadas com violência doméstica e familiar contra a mulher (Exemplo: vias de fato praticadas com violênciadoméstica e familiar contra a mulher). A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) não indicou o rito procedimental para os processos criminais de sua competência, a determinação do procedimento dependerá do crime cometido aplicando-se a regra do Código de Processo Penal: 10 procedimento ordinário para os crimes cuja sanção máxima seja igual ou superior a 4 anos e procedimento sumário para os crimes cuja sanção máxima seja inferior a 4 anos (Art. 394 do CPP). Obs. 2: crimes tipificados no Estatuto do Idoso cuja pena máxima não ultrapasse 4 (quatro) anos: Lei n. 10.741/03 Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei 9.099/95, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal. (ADI 3.096) ✓ Quando a Lei 10.741/03 foi criada, alguns afirmaram (1ª corrente) que o art. 94 teria criado um novo conceito de infração de menor potencial ofensivo, pois a pena máxima não poderia ultrapassar 4 anos (e não 2 anos como na Lei 9.099/95). Entretanto, o Estatuto do Idoso foi criado para proteger o idoso e não conferir ao autor de crime contra o idoso um tratamento mais benigno. ✓ 2ª Corrente: O art. 94 da Lei no 10.741/03 não criou novo conceito de infração de menor potencial ofensivo. O Estatuto do Idoso, no art. 94, apenas manda aplicar o procedimento comum sumaríssimo aos crimes cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 anos. A justificativa para o procedimento mais célere é a menor expectativa de vida do idoso. *Essa conclusão foi firmada pelo STF no julgamento da ADI 3.096. Questão 1: Cabe a aplicação da Lei 9.099/95 na Lei Maria da Penha? Não. Lei n. 11.340/06, art. 41: “Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei n. 9.099/95.” Questão 2: Cabe a aplicação da Lei 9.099/95 no Estatuto do idoso? Não há vedação à aplicação da Lei 9.099/95 no Estatuto do idoso. Crimes previstos no Estatuto do Idoso: • Pena máxima superior a quatro anos: a competência é do juiz singular e o procedimento a ser utilizado será o comum ordinário. Neste caso, em tese, não é possível aplicar a Lei 9.099/95. • Pena máxima superior a dois anos, porém que não ultrapassa quatro anos: esse crime não é considerado infração de menor potencial ofensivo. Desse modo, é de competência do juiz singular, mas será regido pelo procedimento comum sumaríssimo (Lei 9.099/95) por força do art. 94 da Lei 10.741/03. • Pena máxima não superior a dois anos: é infração de menor potencial ofensivo, assim, é de competência do JECRIM (procedimento sumaríssimo). Nesse caso, o acusado terá direito aos institutos despenalizadores da Lei 9.099/95, como a transação penal, a suspensão condicional do processo etc. Obs. 3: crimes previstos na nova Lei das Organizações Criminosas e infrações conexas: Lei n. 12.850/13 “Art. 22. Os crimes previstos nesta Lei e as infrações penais conexas serão apurados mediante procedimento ordinário previsto no Código de Processo Penal, observado o disposto no parágrafo único deste artigo. 11 Parágrafo único. A instrução criminal deverá ser encerrada em prazo razoável, o qual não poderá exceder a 120 dias quando o réu estiver preso, prorrogáveis por igual período, por decisão fundamentada, devidamente motivada pela complexidade da causa ou por fato procrastinatório atribuível ao réu.” ✓ O art. 22 da Lei 12.850/13 preceitua a aplicação do procedimento ordinário, mas não faz referência à quantidade de pena. Diante disso, a doutrina conclui que, independentemente do quantum de pena, o procedimento a ser seguido nos crimes previstos nessa lei é o ordinário. 4.1.2. Infrações de menor potencial ofensivo e conexão (e/ou continência) com outros delitos sujeitos ao procedimento comum (ou do júri). Desacato (pena de 6 meses a 2 anos) + Roubo simples (pena de 4 a 10 anos) Infração de menor potencial ofensivo Competência do juízo comum Questão: se há conexão e/ou continência entre esses dois crimes, onde os crimes serão julgados? Qual o procedimento será aplicado neste caso? • 1ª corrente: impõe-se, obrigatoriamente, a separação dos processos. - A infração de menor potencial ofensivo iria para o JECRIM. - O crime de roubo simples seria julgado pelo juiz singular. Aplica-se o procedimento comum ordinário, pois a pena máxima é superior a 4 anos. Essa posição entende que a competência do Jecrim é absoluta, pois está prevista no art. 98, I da CF e, portanto, ela deve ser observada, não podendo ser colocada em segundo plano por ocasião de conexão/continência. Trata-se de posição minoritária. • 2ª corrente (majoritária): a competência dos juizados não é absoluta, pois a própria CF/19885 manda a lei definir o que é uma infração de menor potencial ofensivo. - Assim sendo, prevalece a orientação de que, no exemplo dado, o crime de desacato e o de roubo (praticados em conexão/continência) serão reunidos e levados ao juiz singular e lá será aplicado o procedimento comum ordinário, pois este é mais amplo. - Pelo menos em tese, ainda que tramitando perante o juiz singular, os institutos despenalizadores da Lei 9.099/95, por exemplo, a transação penal e a composição dos danos civis, poderão ser negociados quanto à infração de menor potencial ofensivo. - Ainda que o crime de menor potencial ofensivo seja levado a julgamento perante o juiz singular, isso não será obstáculo quanto à negociação dos institutos despenalizadores (no exemplo, em relação ao crime de desacato apenas). 5 CF, art. 98, I: “A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo , permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;” 12 Lei n. 9.099/95 “Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência. (Redação dada pela Lei n. 11.313/06). Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição dos danos civis.” (Incluído pela Lei n. 11.313/06). 5. Análise do antigo procedimento comum ordinário O procedimento comum ordinário foi alterado pela Lei 11.719/08 e podia ser verificado pelas seguintes etapas: a) Oferecimento da peça acusatória; b) Recebimento/rejeição da peça acusatória; c) Citação: a citação ocorria para que houvesse o interrogatório. d) Interrogatório; e) Defesa Prévia (antiga redação do art. 395 do CPP); f) Oitiva das testemunhas de acusação; g) Oitiva das testemunhas da defesa; h) Diligências (revogado art. 499 do CPP); i) Alegações finais (revogado art. 500 do CPP) eram apresentadas por escrito. j) Diligências determinadas de ofício pelo juiz(revogado art. 502 do CPP); k) Sentença. 6. Análise do novo procedimento comum ordinário (Lei 11.719/08) Destaca-se que essa lei foi extremamente positiva, principalmente em relação a uma maior celeridade processual, a qual é decorrente da previsão de audiência una de instrução e julgamento. O grande problema é que, além das mudanças produzidas pela Lei 11.719/2008, deveriam ter ocorrido também alterações no capítulo relativo aos recursos. 7. Oferecimento da Peça Acusatória Obs.: essa matéria já foi estudada nas aulas de ação penal. CPP, art. 41: “A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, comtodas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.” 8. Juízo de Admissibilidade da Peça Acusatória: rejeição ou recebimento Procedimento comum ordinário (fluxograma) 13 Considerações sobre o fluxograma: Após o oferecimento da peça acusatória (no procedimento comum ordinário), há o juízo de admissibilidade. ✓ Destaca-se que em alguns procedimentos especiais, existe a defesa preliminar. Durante o juízo de admissibilidade da peça acusatória, o juiz pode rejeitar a peça acusatória, caso presente uma das hipóteses do art. 395 do CPP, ou pode determinar o recebimento da peça acusatória, com a subsequente citação do acusado, nos termos do art. 396 do CPP. Questão: Será que o juiz, diante do recebimento da peça acusatória, possui outras possibilidades além da rejeição ou do recebimento da peça acusatória? ✓ Atenção: o juiz não pode determinar diligências de ofício antes do processo penal, pois isso viola o próprio sistema acusatório. ✓ Não se pode admitir que, na fase investigatória, o juiz determine diligências de ofício, sob pena de colocar em risco a sua própria imparcialidade. Veja o art. 3º-A do CPP. CPP, art. 3º-A: “O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação. (Incluído pela Lei no 13.964, de 2019)” ✓ Obs.: Se o juiz determinar diligências de ofício na fase investigatória, a parte deve interpor uma correição parcial, afirmando que houve um error in procedendo, pois ocorreu uma inversão tumultuária dos atos procedimentais, para a qual não há recurso adequado. Questão: Qual é o juiz competente para realizar o juízo de admissibilidade? Com o advento do Pacote Anticrime, esta competência foi outorgada ao juiz das garantias. CPP, art. 3º-B: O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente: (Incluído pela Lei n. 13.964/19) (...) XIV – decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, nos termos do art. 399 deste Código; (Incluído pela Lei n. 13.964/19) (...)” 14 Destaca-se que o art. 3º-B cita a competência do juiz das garantias para o recebimento da denúncia ou queixa, mas também é possível afirmar que o mesmo juiz é responsável pela rejeição da peça acusatória. ✓ A competência do juiz das garantias vai do início da investigação até o recebimento da denúncia. A partir do recebimento da denúncia, a competência será do juiz de instrução e julgamento. ✓ Atenção: é necessário lembrar que, no momento, o art. 3º-B do CPP está com a eficácia suspensa por decisão do Min. Fux. 8.1. Momento do Juízo de Admissibilidade Com o advento da Lei 11.719/08, surgiram controvérsias sobre o momento do juízo de admissibilidade. Isso ocorreu porque o legislador passou a prever o juízo de admissibilidade em dois dispositivos diversos (art. 396 e art. 399 do CPP). CPP, art. 396: “Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.” ✓ O art. 396 do CPP estabelece o momento para o juízo de admissibilidade, ressaltando o recebimento logo após o oferecimento da peça acusatória. ✓ Veja como seria o fluxograma no caso de o juízo de admissibilidade ocorrer de acordo com o art. 396 do CPP 15 Entretanto, o art. 399 do CPP também fala do momento do recebimento da denúncia. Veja o dispositivo legal: CPP, art. 399: “Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e do assistente.” ✓ Se se adotar a posição que defende o recebimento da denúncia de acordo com o art. 399 do CPP, o fluxograma anterior deve ser esquecido. ✓ Veja o fluxograma de acordo com o art. 399 do CPP: Lei 11.719/2008 1ª Posição: o juízo de admissibilidade seria o previsto no art. 396, CPP. Assim sendo, seria logo após o oferecimento da peça acusatória. (posição majoritária) 2ª Posição: o juízo de admissibilidade seria o previsto no art. 399, CPP. Desse modo, o juízo de admissibilidade ocorreria depois de rejeitada a absolvição sumária. Destaca-se que o previsto no art. 399 do CPP não pode ser concebido, pois, neste caso, haveria uma decisão de mérito (absolvição sumária) antes mesmo do recebimento da peça acusatória. Além disso, a lei diz, no art. 396 do CPP, que o juiz ordenará a citação do acusado. Entretanto, nos moldes do art. 399 do CPP, não seria concebível citar o acusado quando a peça acusatória ainda nem foi recebida. ✓ Não é possível conceber que seria ordenada a citação sem um prévio juízo de admissibilidade. A primeira posição é a majoritária tanto na doutrina quanto na jurisprudência e, portanto, conforme o art. 396 do CPP, se o juiz não rejeitar liminarmente a peça acusatória, recebê-la- á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação. ✓ O disposto no art. 399 do CPP deve ser interpretado como situação aplicável “caso o acusado não seja absolvido sumariamente”. STJ: “(...) De acordo com a melhor doutrina, após a reforma legislativa operada pela Lei n. 11.719/08, o momento adequado ao recebimento da denúncia é o imediato ao oferecimento da acusação e anterior à apresentação de resposta à acusação, nos termos do art. 396 do 16 Código de Processo Penal, razão pela qual tem-se como este o marco interruptivo prescricional previsto no art. 117, inciso I, do Código Penal para efeitos de contagem do lapso temporal da prescrição da pretensão punitiva estatal." (STJ, 5a Turma, HC 144.104/SP, Rel. Min. JORGE MUSSI, DJe de 02/08/2010.) ✓ A partir do momento em que se define que o art. 396 do CPP marca o recebimento da denúncia, é ele que estabelecerá o momento da interrupção da prescrição. Com o Pacote Anticrime, o tema voltou à tona: CPP, art. 3º-C: “A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais, exceto as de menor potencial ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia ou queixa, na forma do art. 399 deste Código. (Incluído pela Lei n. 13.964/19). §1º Recebida a denúncia ou queixa, as questões pendentes serão decididas pelo juiz da instrução e julgamento. (...)” Observação: Há quem diga que o Pacote Anticrime alterou toda a controvérsia analisada anteriormente, pois o art. 3º-C disse que o recebimento da denúncia dar-se-ia no art. 399 do CPP. ✓ O professor Renato Brasileiro, entretanto, não concorda com esse entendimento, pois, se o Pacote Anticrime quisesse alterar o momento adequado para o juízo de admissibilidade, essa mudança seria feita no capítulo que trata do procedimento comum ordinário. Assim sendo, a menção ao art. 399 do CPP teria sido um equívoco do legislador. 9. Rejeição da Peça Acusatória 9.1. Causas de rejeição: trata-se de juízo negativo de admissibilidade A expressão “rejeição” deve ser compreendida como sinônimo de “não recebimento”. Antes de 2008, esses vocábulos eram entendidos como coisas diferentes por alguns: rejeição era defeito de ordem material (mérito) na peça acusatória. O não recebimento, por sua vez, era defeito de ordem processual. Atualmente, não existe mais distinção entre os termos “rejeição” e “não recebimento”, pois ambos os termos estão relacionados a questões processuais. Previsão legal das causas de rejeição da peça acusatória: CPP, art. 395: “A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei no 11.719, de 2008). I - for manifestamente inepta; II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício daação penal; ou III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. Parágrafo único. (Revogado). (Incluído pela Lei no 11.719, de 2008).” 17 I – Inépcia da peça acusatória Trata-se da inobservância das formalidades essenciais da peça acusatória (art. 41, CPP6). Exemplo: oferecimento de denúncia por crime culposo sem a descrição da modalidade da culpa, dizendo apenas que um determinado condutor estava dirigindo um carro de maneira imprudente quando perdeu o controle, atropelou e matou a vítima. Neste caso, há uma peça acusatória inepta, pois o promotor deixou de expor o fato com todas as circunstâncias. A inépcia da peça acusatória pode ser formal ou material. • Inépcia formal ocorre quando a peça acusatória não preenche as formalidades essenciais do art. 41 do CPP. • Há também a inépcia material, que seria a falta de justa causa. Atenção: apesar de alguns doutrinadores fazerem tal diferenciação e citarem a existência da inépcia material, é necessário observar que a ausência de justa causa é hipótese autônoma de rejeição da peça acusatória (art. 395, III, CPP). Assim sendo, não faz muito sentido chamá- la de inépcia material. A inépcia da peça acusatória deve ser arguida até o momento da sentença, sob pena de preclusão. ✓ Os tribunais superiores entendem que, se a parte ficou calada, pelo menos em tese ela teria conseguido se defender e, portanto, não haveria motivos para arguir a inépcia após a sentença. STF: “(...) A arguição de inépcia da denúncia está coberta pela preclusão quando, como na espécie, aventada após a sentença penal condenatória, o que somente não ocorre quando a sentença vem a ser proferida na pendência de habeas corpus já em curso”. (STF, 1ª Turma, RHC 98.091/PB, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 16/03/2010, Dje 67 15/04/2010). II – Ausência dos pressupostos processuais ou das condições da ação. O tema “condições da ação” já foi estudado nos semestres passados. Tais condições podem ser genéricas ou específicas. A ausência das condições da ação penal, sejam elas genéricas ou específicas, enseja a rejeição da peça acusatória. a) Genéricas: é aquela que deve estar presente em toda e qualquer demanda. • Possibilidade jurídica do pedido - Era condição da ação até bem pouco tempo. Atualmente, à luz do novo CPC, prevalece a orientação de que a possibilidade jurídica do pedido se confunde com o mérito da demanda. • Legitimidade ad causam; • Interesse de agir; e • Justa causa* - Há controvérsias sobre essa condição. Destaca-se que a melhor doutrina sustenta que não se trata de condição da ação, mas de pressuposto processual de validade. b) Específicas (condições de procedibilidade): essas condições só serão necessárias em alguns casos (dependendo da pessoa do acusado, do crime, do procedimento). Exemplos: 6 CPP, art. 41: “A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.” 18 *da pessoa do acusado: autorização do Congresso Nacional para processar o Presidente da República; *a depender do crime: representação do ofendido (por exemplo, no crime de estelionato); requisição do Ministro da Justiça. *a depender do procedimento em questão, o legislador impõe o implemento de determinada condição. Exemplo: nos crimes contra a propriedade imaterial, o legislador exige a realização do exame pericial se o crime tiver deixado vestígios – art. 525 do CPP. III – Falta de justa causa para o exercício da ação penal. Observação: STF, HC 129.6787 – Nesse julgado, o Ministro Alexandre de Moraes citou que a justa causa do art. 395, III do CPP seria composta por três componentes essenciais: • Presença de tipicidade; • Punibilidade; e • Viabilidade (presença de fundados indícios de autoria). Esse julgado, no entanto, representa um precedente isolado. A justa causa é conceituada pela doutrina majoritária como o lastro probatório mínimo indispensável para a instauração de um processo penal. ✓ Esse conceito parte da premissa de que a pessoa não pode ser objeto de uma acusação infundada/temerária. ✓ Para a instauração de um processo penal, é necessário um mínimo de indícios quanto à autoria do fato delituoso e provas quanto à existência do delito. ✓ A justa causa é o fumus comissi delicti (fumaça do cometimento do delito). Cite-se como exemplo, um caso apreciado pelo STF, o qual envolveu um possível assédio sexual praticado contra uma servidora do STJ. A servidora acusava o Ministro de ter praticado o crime. Entretanto, a única prova existente era a palavra da vítima. Neste caso, o STF entendeu que não havia justa causa e não recebeu a peça acusatória. Informativo 352 STF: O Tribunal, por maioria, rejeitou queixa-crime apresentada por servidora do STJ na qual imputava a Ministro dessa Corte suposta prática do crime de assédio sexual (CP, art. 216-A: 7 HABEAS CORPUS. “CRIME ACHADO”. ILICITUDE DA PROVA. REQUISITOS LEGAIS E CONSTITUCIONAIS ATENDIDOS. IMPROCEDÊNCIA. JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL. ALEGADA INEXISTÊNCIA DE INDÍCIOS MÍNIMOS DE AUTORIA. IMPROCEDÊNCIA. 1. O “crime achado”, ou seja, a infração penal desconhecida e, portanto, até aquele momento não investigada, sempre deve ser cuidadosamente analisada para que não se relativize em excesso o inciso XII do art. 5o da Constituição Federal. A prova obtida mediante interceptação telefônica, quando referente a infração penal diversa da investigada, deve ser considerada lícita se presentes os requisitos constitucionais e legais. 2. A justa causa é exigência legal para o recebimento da denúncia, instauração e processamento da ação penal, nos termos do artigo 395, III, do Código de Processo Penal, e consubstancia-se pela somatória de três componentes essenciais: (a) TIPICIDADE (adequação de uma conduta fática a um tipo penal); (b) PUNIBILIDADE (além de típica, a conduta precisa ser punível, ou seja, não existir quaisquer das causas extintivas da punibilidade); e (c) VIABILIDADE (existência de fundados indícios de autoria). 3 . Esses três componentes estão presentes na denúncia ofertada pelo Ministério Público, que, nos termos do artigo 41 do CPP, apontou a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e a classificação do crime. 4. Habeas corpus denegado.(EMB .DECL. NO HABEAS CORPUS 129.678, Relator Ministro Alexandre de Moraes). 19 "Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função."). Entendeu-se temerário o recebimento da queixa-crime, em razão da inconsistência das provas apresentadas com a inicial e da falta de perspectiva da eventual ação penal. Ressaltou-se que não basta a narração dos fatos ou circunstâncias criminosas que se atribuem ao querelado para o recebimento da queixa- crime, sendo necessário que as alegações estejam minimamente embasadas em provas ou, ao menos, indícios da efetiva ocorrência dos fatos, o que não teria ocorrido na espécie. Vencido o Min. Marco Aurélio que recebia a queixa-crime por considerar que os fatos narrados, em tese, estariam enquadrados na figura descrita no art. 216-A, do CP. (Inq 2033, Relator(a): NELSON JOBIM, Tribunal Pleno, julgado em 16/06/2004). Referências bibliográficas: LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal (volume único). 10. ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Juspodivm, 2021. 1 DISCIPLINA: DIREITO PROCESSUAL PENAL III ANO: 2021.2. (8º Semestre) PROFESSORA ME. KARINE CORDAZZO Aula 2 PROCEDIMENTO COMUM 9.2. Rejeição Parcial da Peça Acusatória Questão: É possível a rejeição parcial da peça acusatória? Imagine que o promotor de justiça ofereceu uma denúncia pelo crime de roubo (art. 157 do CP) e de calúnia (art.138 do CP). Como a calúnia é crime de ação penal privada, o promotor não tem legitimidade ad causam para oferecer denúncia em relação a este crime. Neste caso, a solução a ser dada pelo juiz é a rejeição parcial da peça acusatória, ou seja, o juiz receberia a denúncia relativa ao crime de roubo e rejeitaria a parte que versa sobre a calúnia, com base no art. 395, II do CPP (ausência das condições da ação). CPP, art. 395, II: “A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (...) II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (...)” 9.3. (Im)possibilidade de rejeição da peça acusatória após prévio recebimento Questão: Após o oferecimento da denúncia pelo MP e o recebimento da peça acusatória pelo juiz, é possível que o juiz, após o recebimento da resposta à acusação, em nova decisão, rejeite a denúncia? 2 1ª Corrente (majoritária): não é possível a rejeição da denúncia após o seu prévio recebimento. O fundamento é que teria havido a preclusão pro judicato. Essa posição ainda é a majoritária, principalmente na doutrina. 2ª Corrente: é possível a rejeição da denúncia após prévio recebimento. Segundo essa corrente, não há falar em preclusão, já que as causas de rejeição são matérias de ordem pública e, portanto, não estão sujeitas à preclusão. De acordo com essa corrente, ainda que o juiz já tivesse recebido a peça acusatória, não haveria nenhum problema se ele decidisse, mais adiante, rejeitá-la. Observação: há alguns precedentes do STJ nesse sentido. STJ: “(...) O fato de a denúncia já ter sido recebida não impede o Juízo de primeiro grau de, logo após o oferecimento da resposta do acusado, prevista nos arts. 396 e 396-A do Código de Processo Penal, reconsiderar a anterior decisão e rejeitar a peça acusatória, ao constatar a presença de uma das hipóteses elencadas nos incisos do art. 395 do Código de Processo Penal, suscitada pela defesa. As matérias numeradas no art. 395 do Código de Processo Penal dizem respeito a condições da ação e pressupostos processuais, cuja aferição não está sujeita à preclusão (art. 267, § 3º, do CPC, c/c o art. 3º do CPP). Hipótese concreta em que, após o recebimento da denúncia, o Juízo de primeiro grau, ao analisar a resposta preliminar do acusado, reconheceu a ausência de justa causa para a ação penal, em razão da ilicitude da prova que lhe dera suporte”. (STJ, 6a Turma, Resp 1.318.180/DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Dje 29/05/2013). Observação: Em reforço à segunda corrente, cite-se que, de acordo com o que foi visto anteriormente, com o Pacote Anticrime, o juiz competente para realizar a admissibilidade da peça acusatória é o juiz das garantias (art. 3º-B, XIV do CPP - Dispositivo com a eficácia suspensa). Supondo que o art. 3º-B tenha a eficácia restabelecida, é necessário lembrar que a competência do juiz das garantias cessa a partir do recebimento da peça acusatória (art. 3º- C do CPP). Assim sendo, a partir da citação, a competência passa a ser do juiz de instrução e julgamento. Como se trata de pessoas diversas (juiz das garantias e juiz da instrução e julgamento), muitas decisões de recebimento de peça acusatória (dadas por juízes das garantias) serão revertidas por juízes da instrução e julgamento. 3 CPP, art. 3º-B, XV: “O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente: (Incluído pela Lei no 13.964, de 2019) (...) XIV - decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, nos termos do art. 399 deste Código; (Incluído pela Lei no 13.964, de 2019)” CPP, art. 3º-C: “A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais, exceto as de menor potencial ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia ou queixa na forma do art. 399 deste Código. (Incluído pela Lei no 13.964, de 2019) § 1º Recebida a denúncia ou queixa, as questões pendentes serão decididas pelo juiz da instrução e julgamento. (Incluído pela Lei no 13.964, de 2019) § 2º As decisões proferidas pelo juiz das garantias não vinculam o juiz da instrução e julgamento, que, após o recebimento da denúncia ou queixa, deverá reexaminar a necessidade das medidas cautelares em curso, no prazo máximo de 10 (dez) dias. (Incluído pela Lei no 13.964, de 2019) § 3º Os autos que compõem as matérias de competência do juiz das garantias ficarão acautelados na secretaria desse juízo, à disposição do Ministério Público e da defesa, e não serão apensados aos autos do processo enviados ao juiz da instrução e julgamento, ressalvados os documentos relativos às provas irrepetíveis, medidas de obtenção de provas ou de antecipação de provas, que deverão ser remetidos para apensamento em apartado. (Incluído pela Lei no 13.964, de 2019) § 4º Fica assegurado às partes o amplo acesso aos autos acautelados na secretaria do juízo das garantias. (Incluído pela Lei no 13.964, de 2019)” 9.4. Recurso Cabível contra a rejeição da peça acusatória Em regra, o recurso adequado contra a rejeição da peça acusatória é o RESE (recurso em sentido estrito). CPP, art. 581: “Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: I - que não receber a denúncia ou a queixa” ✓ À luz do art. 581, I do CPP, quando o juiz rejeitar (ou não receber) a peça acusatória, caberá RESE. A exceção está prevista na Lei 9.099/95, em que o recurso cabível no caso de rejeição da peça acusatória é a apelação. Lei 9.099/95, art. 82: “Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação, que poderá ser julgada por turma composta de três Juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.” Súmula 707 do STF: constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de defensor dativo. Questão: Imagine que o promotor ofereça a denúncia e esta seja rejeitada por falta de justa causa. O promotor interpõe um RESE. Diante disso, o RESE sobe diretamente para o Tribunal ou a defesa deve ser ouvida? Após a interposição de recurso diante da rejeição da denúncia, será necessária a intimação do denunciado para apresentar contrarrazões, pois o interessado tem interesse em participar dessa relação processual. 4 Observações: 1ª) O acusado deve ser intimado para apresentar contrarrazões. 2ª) A nomeação imediata de advogado dativo (caso o acusado não tenha defensor constituído) viola a ampla defesa. ✓ Caso o acusado não tenha defensor constituído, antes de enviar os autos à Defensoria Pública, é necessário intimar o acusado para que este constitua um defensor com a intenção de oferecer contrarrazões ao recurso interposto. O juiz só pode nomear defensor dativo caso o acusado, após intimação, permaneça inerte. 3ª) Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para constituir defensor de modo a apresentar contrarrazões. Súmula 709 do STF: salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela. Observações sobre a Súmula 709 do STF: 1ª) O acórdão que dá provimento ao recurso interposto contra a rejeição vale, desde já, como seu recebimento, interrompendo-se assim a prescrição. ✓ Após a interposição de recurso em face da rejeição da denúncia (e a apresentação de contrarrazões pela defesa), o recurso é enviado ao tribunal competente. Caso o tribunal dê provimento ao recurso interposto, tal provimento é equiparado ao recebimento da peça acusatória e, portanto, interrompe a prescrição. ✓ É o acórdão, portanto, que interrompe a prescrição. 2ª) Na eventualidade de anulação da decisão de 1º grau, os autos deverão retornar à instância de origem quando, então, deverá haver o recebimento pelo juiz de primeiro grau. ✓ Conformea Súmula 709 do STF, quando o tribunal reconhece algum tipo de nulidade no 1º grau, ele deve devolver os autos ao juiz de 1ª instância. Nesse caso, não há o recebimento da peça acusatória pelo Tribunal. Súmula 709, STF: “Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela.” 10. Recebimento da Peça acusatória O recebimento da peça acusatória representa um juízo positivo de admissibilidade. À luz do art. 3º-B, XIV do CPP, a competência para o recebimento da peça acusatória é do juiz das garantias. Entretanto, é necessário lembrar que, no momento, a eficácia desse dispositivo está suspensa. 10.1. (Des)necessidade de Fundamentação do Recebimento da Peça Acusatória Questão: Quando o juiz recebe a peça acusatória, ele é obrigado a fundamentar? • 1ª Corrente (doutrina): O recebimento da peça acusatória deve ser fundamentado, sob pena de nulidade. Como o recebimento da peça acusatória é ato decisório, deve ser fundamentado, nos termos do art. 93, IX, CF. 5 Atenção: Mesmo para os que seguem essa corrente, no momento da fundamentação, não deve haver excessos (deve haver moderação), de forma a evitar possível pré-julgamento do acusado. CF, art. 93, IX: “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;” Na fundamentação, o juiz deve se manifestar quanto à regularidade da peça acusatória, quanto à presença dos pressupostos processuais e das condições da ação, apontando a ausência das causas de rejeição (hipóteses do art. 395, CPP). CPP, art. 395: “A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei no 11.719, de 2008). I - for manifestamente inepta; (Incluído pela Lei no 11.719, de 2008). II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (Incluído pela Lei no 11.719, de 2008). III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.” • 2ª Corrente (dominante na jurisprudência): não há necessidade de fundamentação, salvo nos procedimentos em que há previsão legal de defesa preliminar. Observação 1: os tribunais superiores têm decisões admitindo o recebimento implícito da peça acusatória. STF: “(...) NÃO SE EXIGE QUE O ATO DE RECEBIMENTO DA DENÚNCIA SEJA FUNDAMENTADO. O ato judicial que formaliza o recebimento da denúncia oferecida pelo Ministério Público não se qualifica nem se equipara, para os fins a que se refere o art. 93, inciso IX, da Constituição, a ato de caráter decisório. O juízo positivo de admissibilidade da acusação penal, ainda que desejável e conveniente a sua motivação, não reclama, contudo, fundamentação”. (STF, 2ª Turma, HC 93.056/SP, Rel. Min. Celso de Mello, Dje 89 14/05/2009). Observação 2: alguns procedimentos especiais dão a oportunidade de o acusado ser ouvido antes do juízo de admissibilidade da peça acusatória. ✓ A defesa preliminar está prevista em procedimentos como o constante na Lei de Drogas. Nestes casos, a defesa é ouvida antes do juízo de admissibilidade. Nesta hipótese, o promotor oferece a denúncia, o juiz manda notificar o acusado para ele constituir advogado e apresentar a defesa preliminar. Somente após esse procedimento, o juiz procede ao juízo de admissibilidade. ✓ Se há defesa preliminar, é necessário fundamentar a decisão de recebimento da peça acusatória. STF: “(...) AÇÃO PENAL. Funcionário público. Defesa preliminar. Oferecimento. Denúncia. Recebimento. Decisão não motivada. Nulidade. Ocorrência. Habeas corpus concedido para anular o processo desde o recebimento da denúncia. Oferecida defesa preliminar, é nula a decisão que, ao receber a denúncia, desconsidera as alegações apresentadas”. (STF, 2a Turma, HC 84.919/SP, Rel. Min. Cezar Peluso, Dje 55 25/03/2010). 6 10.2. Consequências do Recebimento da Peça Acusatória ➢ A primeira consequência importante é a possível causa de fixação da competência por prevenção (leia-se: desde que não tenha havido prévio ato de caráter decisório praticado pelo juiz durante a investigação preliminar). ✓ A prevenção é critério residual de fixação de competência. Tal critério residual trabalha com a premissa de que é necessário verificar qual foi primeiro juiz a praticar um ato decisório, de modo que isso estabelecerá a competência deste para o feito. ✓ Se se entender que o recebimento da peça acusatória é ato decisório, é possível concluir que ele pode levar à fixação de competência com base na prevenção. É necessário atentar, entretanto, que o juiz somente terá sua competência fixada com base na prevenção se, por acaso, nenhum outro juiz igualmente competente tiver se antecedido a ele na prática de outro ato decisório. (exemplo: antes do recebimento da peça acusatória, outro juiz determina a prisão preventiva do acusado). Obs.: É necessário lembrar que, se o STF restabelecer a eficácia dos dispositivos que preveem o juiz das garantias, o juiz que praticar ato decisório na fase investigatória fica impedido de atuar no processo (art. 3º-D, CPP). Neste caso, a prevenção (na fase investigatória) deixa de funcionar como critério de fixação e passa a ser critério de exclusão da competência. CPP, art. 3º-D: “O juiz que, na fase de investigação, praticar qualquer ato incluído nas competências dos arts. 4º e 5º deste Código ficará impedido de funcionar no processo. (Incluído pela Lei no 13.964, de 2019) Parágrafo único. Nas comarcas em que funcionar apenas um juiz, os tribunais criarão um sistema de rodízio de magistrados, a fim de atender às disposições deste Capítulo. (Incluído pela Lei no 13.964, de 2019)” CPP, art. 83: “Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (arts. 70, § 3º, 71, 72, § 2º, e 78, II, c).” ➢ A segunda consequência é a interrupção da prescrição. CP, art. 117, I: “O curso da prescrição interrompe-se: (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984) I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984) (...)” Atenção: Para haver a interrupção da prescrição, o recebimento da peça acusatória deve ser feito por juízo competente. ✓ O recebimento da denúncia por órgão judiciário incompetente acarreta nulidade, a qual terá o condão de anular todos os atos decisórios e, portanto, não causará a interrupção da prescrição. STF: “(...) O recebimento da denúncia, quando efetuado por órgão judiciário absolutamente incompetente, não se reveste de eficácia interruptiva da prescrição penal, eis que decisão 7 nula não pode gerar a consequência jurídica a que se refere o art. 117, I, do Código Penal”. (STF, Pleno, Inq. 1.544 QO/PI, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 14/12/2001). ➢ A última consequência é o início do processo penal (controvérsia): • 1ª Corrente: entende que o início do processo penal ocorre desde o oferecimento da peça acusatória. O principal argumento dessa corrente é que, ainda que a denúncia oferecida pelo MP seja rejeitada, se eventual recurso for interposto, o indivíduo será intimado para apresentar contrarrazões (Súmula 707 do STF). Assim sendo, se a pessoa está apresentando contrarrazões, é porque já há processo. • 2ª Corrente (majoritária): o início do processo penal ocorre com o recebimento da peça acusatória. CPPM, art. 35: “O processo inicia-se com o recebimento da denúncia pelo juiz, efetiva-se com a citação do acusado e extingue-se no momento em que a sentença definitiva se torna irrecorrível,quer resolva o mérito, quer não.” 10.3. Recurso adequado Não há previsão legal de recurso para o ato judicial que recebe a peça acusatória. ✓ Não se admite interpretação extensiva do art. 581, I do CPP com a finalidade de admitir RESE nos casos de recebimento da denúncia. A jurisprudência, em situações excepcionais, tem admitido o trancamento da “ação penal”. ✓ Apesar de a expressão trancamento da “ação penal” ser muito usada pela jurisprudência, na verdade, o trancamento é do processo. Questão: Qual é o instrumento utilizado para o trancamento do processo? O trancamento do processo pode ser efetuado por meio da impetração de habeas corpus (quando houver risco à liberdade de locomoção) ou por meio do mandado de segurança (nos demais casos). ✓ O trancamento do processo é uma medida excepcional, que só pode ser admitido quando evidente o constrangimento ilegal sofrido pelo acusado. Hipóteses que autorizam o trancamento do processo penal: a) manifesta atipicidade formal ou material da conduta; b) presença de causa extintiva da punibilidade; c) ausência dos pressupostos processuais ou das condições da ação penal; d) falta de justa causa. Exemplo: trancamento de processo penal ocorrido por manifesta atipicidade material decorrente do princípio da insignificância. 11. Citação do acusado Recebida a peça acusatória, o juiz deve determinar a citação do acusado. 12. Reação Defensiva à Peça Acusatória O acusado é citado para apresentar a resposta à acusação (art. 396-A, CPP). 8 Nesse tópico, serão trabalhados: • Resposta à acusação: prevista para o procedimento comum ordinário e sumário. • Defesa preliminar: prevista em alguns procedimentos especiais. • Extinta defesa prévia: prevista no revogado art. 395 do CPP (2008). É necessário distinguir os três procedimentos abaixo, pois eles não são sinônimos: 12.1. Extinta Defesa Prévia A defesa prévia era a peça de defesa apresentada logo após o interrogatório (ou no prazo de 3 dias). Estava prevista na antiga redação do art. 395 do Código de Processo Penal. CPP - Antiga redação do art. 395: “O réu ou seu defensor poderá, logo após o interrogatório ou no prazo de três dias, oferecer alegações escritas e arrolar testemunhas.” ✓ A defesa prévia era apresentada depois do interrogatório. ✓ Essa peça podia ser apresentada pelo réu ou por seu defensor. Assim sendo, tratava-se de um peça simples, que não exigia capacidade postulatória. ✓ O principal objetivo dessa peça era arrolar testemunhas. ✓ A defesa prévia não era uma peça de apresentação obrigatória e, portanto, sua não apresentação não era causa de nulidade. 12.2. Defesa Preliminar ✓ A defesa preliminar é chamada por alguns de resposta preliminar. A defesa preliminar funciona como uma espécie de contraditório prévio ao juízo de admissibilidade da peça acusatória, de modo a evitar a instauração de processos temerários. ✓ O objetivo precípuo da defesa preliminar é tentar convencer o juiz quanto à rejeição da peça acusatória e, portanto, deve ser apontada uma das hipóteses do art. 395 do CPP. Momento procedimental: a defesa preliminar é apresentada entre o oferecimento e o juízo de admissibilidade da peça acusatória. ✓ O momento é a principal característica que diferencia a defesa preliminar das outras reações defensivas. A defesa preliminar exige capacidade postulatória, ou seja, trata-se de reação defensiva que somente pode ser apresentada por profissional da advocacia. Esta peça processual não está prevista no procedimento comum ordinário nem no procedimento comum sumário. A defesa preliminar está prevista apenas em alguns procedimentos especiais. 9 Obs.: procedimentos especiais em que há previsão legal de defesa preliminar: São procedimentos especiais em que há necessidade de defesa preliminar: Lei 11.343/06 (Lei de Drogas). “Art. 55. Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a notificação do acusado para oferecer defesa prévia, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. § 1º Na resposta, consistente em defesa preliminar e exceções, o acusado poderá arguir preliminares e invocar todas as razões de defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas que pretende produzir e, até o número de 5 (cinco), arrolar testemunhas. (...)” Lei 8.038/90 (Procedimento Originário dos Tribunais). “Art. 4º - Apresentada a denúncia ou a queixa ao Tribunal, far-se-á a notificação do acusado para oferecer resposta no prazo de quinze dias. (Vide Lei no 8.658, de 1993)” Lei 9.099/95 (JECRIM). “Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder à acusação, após o que o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se imediatamente aos debates orais e à prolação da sentença.” ✓ No JECRIM, é possível que a defesa prévia seja apresentada de maneira verbal. CPP. Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de quinze dias. - Procedimento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos. Observação: (im) possibilidade de fase instrutória prévia ao recebimento da denúncia: Imagine que houve o oferecimento de denúncia em um dos procedimentos que comportam a defesa prévia. Diante disso, o juiz manda notificar o acusado para ele apresentar a defesa preliminar. Na sequência, deveria ocorrer o juízo de admissibilidade, mas o advogado de defesa pleiteou, na defesa preliminar, que houvesse uma instrução prévia anterior ao juízo de admissibilidade. Neste caso, questiona-se: é cabível a instrução prévia? Não. Veja o esquema abaixo: 10 A ideia da doutrina e da jurisprudência é que, ao apresentar a defesa preliminar, as provas do acusado devem ser pré-constituídas. Assim sendo, os tribunais superiores entendem que a fase instrutória prévia não é possível. Obs.: Espécie de nulidade decorrente da inobservância da defesa preliminar: Prevalece o entendimento de que a eventual violação às regras procedimentais pode ensejar, no máximo, uma nulidade relativa. A nulidade relativa tem duas principais características: arguição no momento oportuno e comprovação do prejuízo. STJ: “(...) Eventual nulidade decorrente de não aplicação do disposto no artigo 514 do Código de Processo Penal é relativa e, como tal, só pode ser reconhecida mediante demonstração de prejuízo, o que não ocorreu na espécie. 3. Ordem denegada”. (STJ, 6a Turma, HC 173.384/SC, Rel. Min. Celso Limongi, Dje 21/03/2011). Obs.: defesa preliminar e (des)necessidade de apresentação concomitante da resposta à acusação: Questão: Imagine que se está diante de um crime funcional afiançável (art. 514 do CPP). Após a citação do acusado, há necessidade de ser apresentada resposta à acusação? 1ª Corrente: afirma que há necessidade de ser apresentada resposta à acusação, pois existe previsão legal neste sentido. Trata-se de interpretação literal do art. 394, §4º do CPP: CPP, art. 394: “(...) §4º As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código.” ✓ Pela leitura do art. 394, §4º, CPP, tem-se a sensação de que, nos procedimentos que preveem defesa preliminar, também seria necessária a apresentação de resposta à acusação. Isso porque a resposta à acusação se encontra no art. 396-A do CPP, ou seja, está entre os “arts. 395 a 398 deste Código”, conforme preceitua o art. 394 do CPP. ✓ Assim sendo, segundo essa posição, a defesa preliminar seria apresentada antes do recebimento da peça acusatória e a resposta à acusação seria apresentada depois do juízo positivo de admissibilidade da inicial. 11 ✓ Entretanto, destaca-se que esse entendimento não é o mais adequado, poisele não privilegia a celeridade processual e a razoável duração do processo. 2ª Corrente: Entende que, quando houver defesa preliminar, não haverá necessidade de ulterior resposta à acusação. ✓ Apesar do disposto no art. 394, §4º do CPP, a melhor interpretação é no sentido de que, se houver previsão de defesa preliminar, não será necessária a apresentação subsequente de resposta à acusação e isso não trará nenhum prejuízo à defesa. ✓ Neste caso, as eventuais teses que seriam apresentadas na resposta à acusação serão antecipadas para o momento da defesa preliminar. Tais teses serão trabalhadas com base no princípio da subsidiariedade. ✓ Essa segunda corrente é encampada pela jurisprudência. STF: Por ocasião do recebimento da denúncia oferecida em face do então Senador A. N. pela prática dos crimes de corrupção passiva (CP, art. 317) e tentativa de obstrução à justiça (Lei n. 12.850/13, art. 2º, §1º, c/c art. 14, II, do CP), concluiu a 1ª Turma que, viabilizada a apresentação da defesa preliminar, caberia ao denunciado, com base no princípio da eventualidade, trazer, nesse momento procedimental, todos os argumentos e documentos de que dispunha de modo a se opor à imputação. Por isso, negou provimento a agravo regimental interposto de decisão que teria indeferido pedido de devolução do prazo de resposta para juntada de documentos complementares pela defesa. (STF, 1a Turma, Inq. 4.506/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 17/04/2018). 12.3. Resposta à acusação A resposta à acusação está prevista no art. 396-A do CPP, ou seja, funciona como regra no procedimento comum ordinário e no sumário. Momento procedimental: a resposta à acusação é apresentada depois do recebimento da peça acusatória e da citação do acusado. Este é o ponto crucial para diferenciar a defesa preliminar da resposta à acusação. ✓ A defesa preliminar, conforme já visto, é apresentada antes do juízo de admissibilidade. O objetivo precípuo de resposta à acusação é convencer o juiz no sentido da absolvição sumária do acusado, com base em uma das hipóteses do art. 397, CPP. CPP, art. 397: “Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou IV - extinta a punibilidade do agente. ” Questão: O advogado sempre deve pedir a absolvição sumária na resposta à acusação? Não. Destaca-se que o pedido de absolvição sumária é uma estratégia defensiva e vai depender muito do caso concreto. Exemplo: uma determinada pessoa, com 3 filhos, é denunciada pelo MP pela subtração de uma lata de leite infantil. A denúncia foi recebida pelo juiz do caso e a pessoa procura um advogado para defendê-la. Neste caso, o advogado deve pedir a absolvição sumária do 12 cliente com base no princípio da insignificância, pois, no caso concreto, é possível verificar que é muito grande a perspectiva de êxito no pedido. Por outro lado, destaca-se que não vale a pena antecipar a tese defensiva se você percebe que a perspectiva de êxito não é muito grande. ✓ Em suma: O grau de aprofundamento dos argumentos da peça dependerá do caso em concreto. Assim, só se deve antecipar a tese na resposta à acusação se for possível antever grande chance de êxito. ✓ Obs.: além do pedido de absolvição sumária, a parte também deve opor exceções, juntar documentos, arrolar testemunhas, apresentar justificações (princípio da eventualidade.). CPP, art. 396-A: “Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário. (Incluído pela Lei no 11.719, de 2008). § 1º A exceção será processada em apartado, nos termos dos arts. 95 a 112 deste Código. (Incluído pela Lei no 11.719, de 2008). § 2º Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias. (Incluído pela Lei no 11.719, de 2008).” ✓ Justificações são procedimentos cautelares não contenciosos regulamentados pelo CPC. Exemplo: justificação prévia à propositura de uma demanda. Apresentação do rol de testemunhas: quando a resposta à acusação é apresentada pela Defensoria Pública, este órgão, muitas vezes, tem grande dificuldade de arrolar testemunhas, já que nem sempre tem contato com o acusado. Diante dessa dificuldade, ele sugere a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil (art. 186, §2º), ou seja, o defensor, em sua peça, solicita ao juiz que intime o acusado para que ele apresente o rol de testemunhas. Novo CPC “Art. 186. (...) §2º A requerimento da Defensoria Pública, o juiz determinará a intimação pessoal da parte patrocinada quando o ato processual depender de providência ou informação que somente por ela possa ser realizada ou prestada.” A resposta à acusação exige capacidade postulatória, ou seja, ela somente pode ser apresentada por profissionais da advocacia. ✓ Assim sendo, o acusado não pode apresentar tal peça sozinho (exceto se for advogado). (In) dispensabilidade da resposta à acusação (CPP, art. 396-A, §2º): a resposta à acusação é uma peça de apresentação obrigatória. Assim, o processo não pode ter continuidade se a resposta à acusação não for apresentada, sob pena de violação à ampla defesa. Se o acusado, devidamente citado, não a apresentar, deve ser feita a nomeação de defensor dativo. 13 CPP, art. 396-A, §2º: “Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias. (Incluído pela Lei no 11.719, de 2008).” REAÇÃO DEFENSIVA (DISTINÇÕES): 13. Revelia Há revelia no processo penal e ela ocorre em duas hipóteses: • Quando o indivíduo é citado ou intimado pessoalmente e não apresenta resposta à acusação; ou • Quando o indivíduo é citado por hora certa e não apresenta resposta à acusação. CPP, art. 367: “O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado pessoalmente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou, no caso de mudança de residência, não comunicar o novo endereço ao juízo.” CPP, art. 362: “Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a 229 do Código de Processo Civil. Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer, ser-lhe-á nomeado defensor dativo.” 14 Consequências da revelia no processo penal: ✓ Não há que se falar em presunção de veracidade dos fatos narrados na inicial (cuidado para não confundir com o processo civil). ✓ Se a presunção da veracidade fosse trazida para o processo penal, haveria violação à regra probatória, a qual deriva do princípio da presunção de inocência. • Mesmo o acusado revel continua sendo considerado inocente. Lembrando que é ônus da acusação comprovar a culpabilidade do acusado. ✓ Como efeito concreto da revelia, há a desnecessidade de intimação do acusado para os demais atos processuais, salvo no caso de sentença condenatória ou absolutória imprópria. • Observação: sempre é necessário intimar o advogado (defensor público ou defensor constituído). ✓ No caso de sentença condenatória ou absolutória imprópria, ainda que revel, o acusado possui capacidade postulatória autônoma para recorrer. Dessa forma, é necessária a intimação do acusado para que, querendo, possa recorrer (por termo) de sentença condenatória ou absolutória imprópria. Referências bibliográficas:
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