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apostila processo penal III

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1 
DISCIPLINA: DIREITO PROCESSUAL PENAL III 
ANO: 2021.2. (8º Semestre) 
PROFESSORA ME. KARINE CORDAZZO 
 
Aula 1 
 
TEMA: PROCEDIMENTO COMUM 
 
1. Processo e Procedimento 
 
O Código de Processo Penal, nesse ponto, peca pela falta de técnica, já que, muitas vezes, 
utiliza o termo “processo” quando deveria utilizar “procedimento”. 
 
Conceitos: 
 
Processo: instrumento por meio do qual o Estado exerce a jurisdição, o autor exerce o direito 
de ação e o acusado exerce o direito de defesa, havendo entre seus sujeitos uma relação 
jurídica diversa da relação jurídica de direito material, qual seja, a relação jurídica 
processual, que impõe a todos deveres, direitos, ônus e sujeições. 
 
Procedimento: é o modo pelo qual os diversos atos se relacionam na série constitutiva do 
processo, representando o modo do processo atuar em juízo. 
✓ O procedimento traduz-se na sequência de atos processuais que devem ser praticados até 
o final do processo. 
Exemplo: Oferecimento de denúncia - Juízo de admissibilidade – Recebimento da denúncia 
e citação do acusado – Resposta à acusação etc. 
 
1.1. Fases procedimentais: 
 
O procedimento é composto de quatro fases distintas: 
 
a) Fase postulatória: abrange a acusação oferecida pelo Ministério Público ou a queixa-
crime oferecida pelo querelante, e também, alguns atos praticados pela defesa antes do 
recebimento da denúncia (defesa preliminar). 
 
✓ A defesa preliminar existe apenas em alguns procedimentos e ocorre quando a defesa tem 
a oportunidade de ser ouvida pelo juiz antes do recebimento da peça acusatória. 
✓ A investigação preliminar não faz parte da fase postulatória e, portanto, não integra o 
processo. 
A fase postulatória tem início com o oferecimento da acusação e não abrange a fase 
investigatória. 
 
b) Fase instrutória: nessa fase, há a produção das provas requeridas pelas partes ou 
determinadas pelo juiz. 
Obs.: conforme o art. 400 do CPP1, a audiência una de instrução e julgamento deveria 
concentrar todos os atos instrutórios, mas, na prática, raramente isso ocorre. 
 
1 CPP, Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-
se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, 
 
 2 
As provas são produzidas na fase instrutória, entretanto, em algumas situações, elas já 
podem ter sido produzidas na fase postulatória. Isso porque, em alguns casos, a acusação já 
vem acompanhada de provas: provas cautelares, provas antecipadas e provas não 
repetíveis. 
 
-A provas cautelares são aquelas em que há um risco de desaparecimento do objeto da 
prova por decurso do tempo. Se não forem produzidas logo perdem sua razão de produção, 
depende de autorização judicial, mas tem seu contraditório postergado/diferido - ex: 
interceptações telefônicas. 
- A provas não repetíveis são aquelas que quando produzidas não tem como serem 
produzidas novamente, o exemplo mais citado é o exame de corpo de delito, não dependem 
de autorização judicial e seu contraditório também é diferido. 
- As provas antecipadas possuem contraditório real, exemplo clássico da testemunha que 
está hospital em fase terminal, nesse caso, depende de autorização judicial. Sua colheita é 
feita em momento processual distinto daquele legalmente previsto, por isso a classificação. 
 
c) Fase decisória: a fase decisória não se restringe à sentença. Essa fase abrange também as 
alegações orais/memoriais. 
✓ Com o objetivo de formar a convicção do juiz, as partes têm a oportunidade de se 
pronunciar quanto ao material probatório constante dos autos do processo e isso é feito por 
meio das alegações orais/memoriais. (art. 403, §3º, CPP) 
 
d) Fase recursal: é a fase por meio da qual as partes podem se valer de instrumentos para 
impugnar decisões judiciais desfavoráveis aos seus interesses (princípio do duplo grau de 
jurisdição). 
 
2. Violação às regras procedimentais 
 
Questão: Qual é a consequência da violação das regras procedimentais? Neste ponto, há 
duas posições: 
1ª Corrente: Parte da doutrina afirma que, no caso de inobservância das regras 
procedimentais, ter-se-ia uma nulidade absoluta por violação ao princípio do devido 
processo legal. Essa posição é minoritária. 
2ª Corrente: Esta posição, por sua vez, defende que a nulidade em questão é relativa.* 
 
✓ No caso de nulidade relativa, o prejuízo deve ser comprovado e a arguição deve ser feita 
oportunamente, sob pena de preclusão. 
Esta corrente é a que prevalece e tem como fundamento o princípio da instrumentalidade 
das formas. A ideia é que cada ato procedimental existe como instrumento para a 
consecução de determinada finalidade. 
Assim, se um ato procedimental não foi observado, mas a finalidade dele foi atingida, não 
seria razoável declarar a nulidade do feito. Dessa forma, o processo não pode ser um fim 
em si mesmo. 
 
ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao 
reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado. 
§ 1º As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as consideradas irrelevantes, impertinentes 
ou protelatórias. 
§ 2º Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimento das partes. 
 
 3 
Exemplo: a citação defeituosa é vício gravíssimo. Entretanto, o próprio CPP preceitua, no 
art. 5702, que eventual vício inerente à citação poderá ser suprido diante do comparecimento 
da vítima. 
✓ *Essa segunda corrente é amplamente dominante nos tribunais superiores. 
 
3. Persecução penal de crimes conexos e/ou continentes sujeitos a procedimentos distintos 
 
Questão: Em caso de crimes conexos e/ou continentes sujeitos a procedimentos diversos, 
o que se deve fazer? 
Exemplo: Há um crime que tem o procedimento “A” e um crime que tem o procedimento 
“B”. 
✓ Diante da conexão e da continência, será formado um simultaneus processos, ou seja, haverá 
processo e julgamento único e, portanto, é necessário estabelecer qual será o procedimento 
adequado (“A”,“B” ou “C”, sendo este resultante da fusão dos dois anteriores). 
 
Observações: 
1ª) Diante de procedimentos diversos relativos a crimes conexos e/ou continentes, não é 
possível realizar a combinação/fusão de procedimentos diversos. 
✓ Se o juiz faz tal fusão, ele está atuando como legislador positivo e está violando o princípio 
da separação dos poderes. 
 
2ª) Atenção para eventual força atrativa exercida pelo júri. 
Quando estiver presente a conexão/continência, deve-se analisar qual dos dois juízos 
exercerá a força atrativa. Lembre-se do exemplo do Tribunal do Júri que exerce força 
atrativa, trazendo para si o julgamento dos crimes conexos e continentes (salvo se forem 
militares ou eleitorais). 
Exemplo: crime de homicídio doloso praticado em conexão/continência com o crime de 
ocultação de cadáver. Neste caso, há uma espécie de conexão probatória e, portanto, os dois 
crimes serão reunidos no Tribunal do Júri para julgamento. Nesta situação, o procedimento 
a ser aplicado a estes crimes será o procedimento especial do júri. 
 
3ª) Se ambos os delitos forem da competência do juiz singular, qual será o procedimento 
adequado? 
O melhor exemplo disso é o crime de tráfico de drogas em conexão com o crime de furto, 
pois há o procedimento especial da lei de drogas em cotejo com o procedimento comum 
ordinário. 
O aluno deve ter cuidado porque a antiga lei de drogas (Lei n. 6.368/76) afirmava o seguinte: 
 
Revogada Lei n. 6.368/76. 
“Art. 28. Nos casos de conexão e continência entre os crimes definidos nesta Lei o outras infrações 
penais, o processo será o previsto para a infração mais grave, ressalvados os da competência do júri e 
das jurisdições especiais.” 
 
Assim sendo, pela antiga lei de drogas, aplicava-se o procedimento para a infração mais 
grave e, portanto, no exemplo dado, o procedimento aplicado seria o do crime de tráfico de 
drogas. 
 
2 CPP,Art. 570. A falta ou a nulidade da citação, da intimação ou notificação estará sanada, desde que o interessado 
compareça, antes de o ato consumar-se, embora declare que o faz para o único fim de argüi-la. O juiz ordenará, todavia, a 
suspensão ou o adiamento do ato, quando reconhecer que a irregularidade poderá prejudicar direito da parte. 
 
 4 
 
Entretanto, mesmo antes da revogação da referida lei, o critério da gravidade do delito como 
fator para a definição do procedimento já era criticado pela doutrina. Alguns doutrinadores 
já defendiam que, nesses casos, o critério deveria ser a amplitude do procedimento. Esta 
sempre foi a orientação dominante na doutrina. 
✓ O regramento do art. 28 da antiga lei de drogas não foi reproduzido na Lei 11.343/06. 
 
Obs.: Procedimento mais amplo não é o procedimento mais demorado. Trata-se do 
procedimento que melhor assegura às partes o exercício de suas faculdades processuais. 
 
Nesse caso específico (exemplo do tráfico de drogas e furto), seria possível pensar que a lei 
de drogas possui maior amplitude de procedimento, pois prevê a denominada defesa 
preliminar, conferindo ao acusado a oportunidade de se manifestar antes de o juiz receber 
a peça acusatória. Entretanto, esse é a única vantagem da referida lei em comparação ao 
procedimento comum, senão vejamos: 
• O número de testemunhas no procedimento comum ordinário é maior (8 testemunhas); 
• No procedimento comum ordinário, a lei prevê a possibilidade de requerimento de 
diligências no final da audiência de instrução. 
• No procedimento comum ordinário, a lei prevê a possibilidade de substituição das 
alegações orais por memoriais. 
 
Assim sendo, o procedimento comum ordinário é mais amplo do que o procedimento 
especial da lei de drogas. 
 
STJ: “(...) Configurado o concurso material de crimes, alguns previstos na Lei Antitóxicos e 
outros cujo rito é o estabelecido no Código de Processo Penal, este deve prevalecer, haja 
vista a maior amplitude à defesa no procedimento nele preconizado (Precedentes STJ). 
Ainda que se considerasse que o rito a ser adotado fosse o previsto na Lei no 10.409/02, a 
sua inobservância implicaria em nulidade relativa do processo. (...)”. (STJ, 5a Turma, HC 
170.379/PR, Rel. Min. Jorge Mussi, j. 13/12/2011, Dje 01/02/2012). 
 
*CONEXÃO E CONTINÊNCIA 
 
Em regra, são causas modificativas de competência. 
 
Conexão: Pode ser compreendida como o nexo, a dependência recíproca que dois ou mais 
fatos delituosos guardam entre si, recomendando a união de todos eles em um mesmo 
processo penal, perante o mesmo órgão jurisdicional, a fim de que este tenha uma perfeita 
visão do quadro probatório. 
 
CPP, art. 76: “A competência será determinada pela conexão: 
I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias 
pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias 
pessoas, umas contra as outras; 
II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para 
conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas; 
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na 
prova de outra infração.” 
 
 
 5 
Continência: Configura-se quando uma demanda, em face de seus elementos (partes, 
pedido e causa de pedir) estiver contida em outra. 
 
CPP, art. 77: “A competência será determinada pela continência quando: 
I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração; 
II - no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1º, 53, segunda parte, e 54 do 
Código Penal.” 
 
Efeitos da Conexão e da Continência 
 
a) Processo e julgamento único (“simultaneus processus”): em regra, havendo conexão e 
continência, haverá simultâneos processos (reunião de processos). 
 
CPP, art. 79: “A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo: 
I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar; *deve separar os processos 
II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores. 
§1º Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum corréu, sobrevier o caso 
previsto no art. 152. 
§2º A unidade do processo não importará a do julgamento, se houver corréu foragido que não possa 
ser julgado à revelia,ou ocorrer a hipótese do art. 461.”* hoje não existe mais essa hipótese 
 
Obs. 1: o art. 152 do CPP trata da doença mental superveniente à infração. 
 
CPP, art. 152: “Se se verificar que a doença mental sobreveio à infração o processo continuará 
suspenso até que o acusado se restabeleça, observado o § 2º do art. 149. 
§1º O juiz poderá, nesse caso, ordenar a internação do acusado em manicômio judiciário ou em outro 
estabelecimento adequado. 
§2º O processo retomará o seu curso, desde que se restabeleça o acusado, ficando-lhe assegurada a 
faculdade de reinquirir as testemunhas que houverem prestado depoimento sem a sua presença.” 
 
Exemplo: “A” e “B” matam “C”. Se “B”, durante o curso do processo, ficar doente, o Código 
de Processo Penal prevê que o processo ficará sobrestado em relação a “B” e prosseguirá em 
relação a “A”. 
 
Obs. 2: a hipótese do §2º do art. 79 do CPP não existe mais, pois hoje, no Tribunal do Júri, 
independentemente da natureza do crime, o indivíduo pode ser julgado à revelia. 
 
b) Um foro ou um ou um juízo exercerá força atrativa (“forum attractionis” ou “vis 
attractiva”): 
 
CPP, art. 82: “Se, não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos diferentes, a 
autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros juízes, 
salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade dos processos só se dará, 
ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação das penas.” 
 
Obs.: esse artigo traz a “avocatória”, ou seja, quando o juízo com força atrativa chama para 
si os demais processos que devem ser reunidos devido à conexão e à continência. ***Se tais 
juízos negarem o envio de processos, haverá um conflito positivo de competência, o qual 
será dirimido pelo respectivo tribunal. 
 
 6 
Exemplo: roubo em Dourados e receptação em Campo Grande. Neste caso, o juízo de 
Dourados tem força atrativa e vai avocar o processo. Se o juiz de Campo Grande se recusar, 
haverá conflito positivo de competência. Neste caso, o conflito será resolvido pelo TJMS. 
 
Súmula 235 do STJ: “a conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi 
julgado”. 
Obs.: como visto, a decisão citada pode ser a decisão recorrível. Não precisa ser, 
necessariamente, a transitada em julgado. 
 
Foro Prevalente: 
 
a) Competência prevalente do Tribunal do Júri: 
O Tribunal do Júri exerce força atrativa, salvo se forem crimes militares ou crimes eleitorais. 
 
CPP, art. 78: “Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as 
seguintes regras: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948) 
I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a 
competência do júri; (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948) 
(...)”. 
 
CPP, art.79: “A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo: 
I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar; 
II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores. 
(...)” 
 
b) Jurisdições distintas: 
 
✓Concurso entre jurisdição comum e especial: a justiça especial deve prevalecer. 
Entretanto, a doutrina entende que esse “comum” é válido apenas para a justiça estadual. 
O STF entendeu que a justiça eleitoral também absorve crimes da competência da justiça 
federal. 
 
CPP, art. 78: “Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as 
seguintes regras: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948) 
(...) 
IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta. (Redação dada pela Lei nº 
263, de 23.2.1948)” 
 
✓Concurso entre órgãos de jurisdição superior e inferior: 
Exemplo:há um crime que deve ser julgado por um tribunal e um crime que deve ser 
julgado por um juízo de 1ª instância. Neste caso, prevalece a competência do tribunal de 
maior graduação. 
 
CPP, art. 78: “Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as 
seguintes regras: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948) 
(...) 
III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação; (Redação 
dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)” 
 
 
 7 
CPP, art. 80: “Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas 
em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e 
para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente 
a separação.” 
 
✓Concurso entre justiça federal e estadual: 
Súmula 122 do STJ: “compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes 
conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do Art. 78, II, "a", do 
Código de Processo Penal”. 
 
Questão: E se forem juízes de igual categoria? 
 
CPP, art. 78: “Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as 
seguintes regras: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948) 
(...) 
Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948) 
(...) 
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; (Redação dada pela 
Lei nº 263, de23.2.1948)” 
 
➢Regras de fixação: 
1. Prevalece o juízo da comarca em que tiver sido praticado o delito mais grave (CPP, art. 
78, II, “a”). 
✓Consideram-se penas mais graves, nesta ordem: privativas, restritivas e pecuniárias. Entre 
as penas privativas de liberdade, a mais grave é a de reclusão e, depois, a detenção e prisão 
(respectivamente). 
✓No caso das penas privativas de liberdade, deve-se considerar a pena máxima cominada 
a um delito. 
2. Local do maior número de infrações, se as penas forem de igual gravidade (CPP, art. 78, 
II, “b”); 
3.Não havendo as distinções acima, o critério é o da prevenção (CPP, art. 78, II, “c”). 
 
4. Classificação dos procedimentos penais 
 
Há duas espécies de procedimentos: 
 
a) Procedimentos especiais: estão previstos no CPP e na legislação especial. 
 
Os procedimentos especiais podem ser definidos por conta da natureza do delito ou da 
pessoa do acusado. 
 
No CPP, também há vários exemplos de procedimentos especiais, tais como: 
• O procedimento especial dos crimes dolosos contra a vida; 
• O procedimento especial dos crimes de responsabilidade de funcionário público; 
• O procedimento especial dos crimes contra a honra; 
• O procedimento especial dos crimes contra a propriedade material. 
 
Também há procedimentos especiais na legislação especial. Exemplos: 
• Lei de drogas (Lei 11.343/06); 
 
 8 
• Lei 8.038/90 (procedimento originário dos Tribunais); etc. 
 
b) Procedimento comum: o procedimento comum tem natureza residual, ou seja, ele 
somente será utilizado quando não houver procedimento especial para o delito em questão. 
 
O procedimento comum se subdivide em: 
• Ordinário; 
• Sumário; e 
• Sumaríssimo. 
 
4.1. Classificação do Procedimento Comum 
 
Questão: Qual é o critério adotado para fazer tal classificação? 
Antes da Lei 11.719/08, o critério utilizado para definir se o procedimento seria ordinário 
ou sumário era a espécie de pena cominada. 
Assim sendo, se o crime fosse punido com pena de reclusão, aplicar-se-ia o procedimento 
comum ordinário. Por outro lado, se o crime fosse punido com pena de detenção, aplicar-
se-ia o procedimento sumário. 
 
Após a Lei 11.719/08, o critério anterior foi abandonado e adotou-se o critério do quantum 
de pena. 
 
CPP, art. 394: “O procedimento será comum ou especial. (Redação dada pela Lei no 11.719, de 2008). 
§ 1º O procedimento comum será ordinário, sumário ou sumaríssimo: (Incluído pela Lei no 11.719, 
de 2008). 
I - ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou superior a 4 
(quatro) anos de pena privativa de liberdade; (Incluído pela Lei no 11.719, de 2008). 
II - sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) 
anos de pena privativa de liberdade; (Incluído pela Lei no 11.719, de 2008). 
III - sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma da lei. (Incluído pela 
Lei no 11.719, de 2008). (...)” (Trata-se do procedimento da Lei 9.099/95 – Infrações de menor 
potencial ofensivo). 
 
Classificação do procedimento comum: Art. 394, CPP. 
 
• O procedimento ordinário será utilizado para crimes com pena máxima igual ou superior 
a 4 anos (não importa se a pena é de reclusão ou de detenção); 
Obs.: cuidado para não confundir com a prisão preventiva (art. 313, I, CPP3), a qual, em 
regra, para ser decretada, necessita que o crime seja punido com pena privativa de liberdade 
máxima superior a 4 anos. 
• O procedimento sumário será utilizado para crimes com pena máxima inferior a 4 anos e 
superior a 2 anos. 
Obs.: cuidado com a leitura do art. 394, II do CPP, pois o legislador não citou expressamente 
que a pena deve ser superior a 2 anos. Essa informação, entretanto, consta no art. 394, III do 
CPP. 
Exemplo: homicídio culposo do CP (pena de 1 a 3 anos) – art. 121, §3º do CP4. 
 
3 CPP, art. 313, I: “Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: 
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos;” 
4 CP, art. 121, §3º: “Se o homicídio é culposo: 
Pena - detenção, de um a três anos.” 
 
 9 
• O procedimento sumaríssimo é utilizado no âmbito do JECRIM para infrações de menor 
potencial ofensivo, ou seja, é utilizado para contravenções penais e crimes com pena 
máxima não superior a 2 anos, cumulada ou não com multa, sujeitos ou não a procedimento 
especial (ressalvados os casos envolvendo violência doméstica e familiar contra a mulher). 
 
4.1.1. Concurso de crimes, qualificadoras, privilégios, causas de aumento e de diminuição 
de pena, agravantes e atenuantes 
 
Observação: 
 
Concurso de crimes, qualificadoras, privilégios, causas de aumento e de diminuição de 
pena: são levados em consideração para fins de definição do procedimento adequado, pois, 
em todos eles, é possível saber qual é a pena mínima e qual é a pena máxima. 
Exemplo: o homicídio qualificado possui pena de 12 a 30 anos, ou seja, a própria lei define 
a pena mínima e a pena máxima. 
 
Em relação à causa de aumento ou de diminuição, sempre há um quantum variável. 
Exemplo: a tentativa diminui a pena de 1/3 a 2/3. 
 
Na hora de estabelecer o procedimento comum adequado, é sempre necessário olhar para a 
pena máxima cominada ao delito. Assim sendo, ter-se-á: 
• Quando se tratar de causa de aumento de pena, o critério a ser utilizado é o quantum que 
mais aumenta a pena. 
• Quando se tratar de causa de diminuição de pena, utiliza-se o quantum que menos 
diminui a pena. 
 
As agravantes e atenuantes não são levadas em consideração para fins de fixação do 
procedimento adequado. Isso porque não há um quantum legalmente definido para as 
agravantes e para as atenuantes. 
✓ O critério de 1/6 para agravantes e atenuantes é construção jurisprudencial. Não há base 
legal para tal critério. 
 
Obs. 1: Infrações penais praticadas no contexto da violência doméstica e familiar contra a 
mulher: 
 
Lei n. 11.340/06 
“Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, 
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei n. 9.099/95.” 
 
✓ Não se aplica a Lei 9.099/95 aos crimes e contravenções praticados no contexto da Lei 
Maria da Penha, ou seja, nesses casos, não é possível aplicar o procedimento comum 
sumaríssimo. 
✓ O STF entende que o disposto no art. 41 da Lei 9.099/95 abrange as contravenções penais 
praticadas com violência doméstica e familiar contra a mulher (Exemplo: vias de fato 
praticadas com violênciadoméstica e familiar contra a mulher). 
 
A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) não indicou o rito procedimental para os 
processos criminais de sua competência, a determinação do procedimento dependerá do 
crime cometido aplicando-se a regra do Código de Processo Penal: 
 
 10 
procedimento ordinário para os crimes cuja sanção máxima seja igual ou superior a 4 anos 
e procedimento sumário para os crimes cuja sanção máxima seja inferior a 4 anos (Art. 394 
do CPP). 
 
Obs. 2: crimes tipificados no Estatuto do Idoso cuja pena máxima não ultrapasse 4 (quatro) 
anos: 
 
Lei n. 10.741/03 
Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 
anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei 9.099/95, e, subsidiariamente, no que couber, as 
disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal. (ADI 3.096) 
 
✓ Quando a Lei 10.741/03 foi criada, alguns afirmaram (1ª corrente) que o art. 94 teria 
criado um novo conceito de infração de menor potencial ofensivo, pois a pena máxima não 
poderia ultrapassar 4 anos (e não 2 anos como na Lei 9.099/95). Entretanto, o Estatuto do 
Idoso foi criado para proteger o idoso e não conferir ao autor de crime contra o idoso um 
tratamento mais benigno. 
✓ 2ª Corrente: O art. 94 da Lei no 10.741/03 não criou novo conceito de infração de menor 
potencial ofensivo. O Estatuto do Idoso, no art. 94, apenas manda aplicar o procedimento 
comum sumaríssimo aos crimes cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 
anos. A justificativa para o procedimento mais célere é a menor expectativa de vida do 
idoso. 
*Essa conclusão foi firmada pelo STF no julgamento da ADI 3.096. 
 
Questão 1: Cabe a aplicação da Lei 9.099/95 na Lei Maria da Penha? Não. 
Lei n. 11.340/06, art. 41: “Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, 
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei n. 9.099/95.” 
 
Questão 2: Cabe a aplicação da Lei 9.099/95 no Estatuto do idoso? 
Não há vedação à aplicação da Lei 9.099/95 no Estatuto do idoso. 
 
Crimes previstos no Estatuto do Idoso: 
• Pena máxima superior a quatro anos: a competência é do juiz singular e o procedimento 
a ser utilizado será o comum ordinário. Neste caso, em tese, não é possível aplicar a Lei 
9.099/95. 
• Pena máxima superior a dois anos, porém que não ultrapassa quatro anos: esse crime não 
é considerado infração de menor potencial ofensivo. Desse modo, é de competência do juiz 
singular, mas será regido pelo procedimento comum sumaríssimo (Lei 9.099/95) por força 
do art. 94 da Lei 10.741/03. 
• Pena máxima não superior a dois anos: é infração de menor potencial ofensivo, assim, é 
de competência do JECRIM (procedimento sumaríssimo). Nesse caso, o acusado terá 
direito aos institutos despenalizadores da Lei 9.099/95, como a transação penal, a suspensão 
condicional do processo etc. 
 
Obs. 3: crimes previstos na nova Lei das Organizações Criminosas e infrações conexas: 
 
Lei n. 12.850/13 
“Art. 22. Os crimes previstos nesta Lei e as infrações penais conexas serão apurados mediante 
procedimento ordinário previsto no Código de Processo Penal, observado o disposto no parágrafo 
único deste artigo. 
 
 11 
Parágrafo único. A instrução criminal deverá ser encerrada em prazo razoável, o qual não poderá 
exceder a 120 dias quando o réu estiver preso, prorrogáveis por igual período, por decisão 
fundamentada, devidamente motivada pela complexidade da causa ou por fato procrastinatório 
atribuível ao réu.” 
 
✓ O art. 22 da Lei 12.850/13 preceitua a aplicação do procedimento ordinário, mas não faz 
referência à quantidade de pena. Diante disso, a doutrina conclui que, independentemente 
do quantum de pena, o procedimento a ser seguido nos crimes previstos nessa lei é o 
ordinário. 
 
4.1.2. Infrações de menor potencial ofensivo e conexão (e/ou continência) com outros 
delitos sujeitos ao procedimento comum (ou do júri). 
 
Desacato (pena de 6 meses a 2 
anos) 
+ Roubo simples (pena de 4 a 10 anos) 
Infração de menor potencial 
ofensivo 
 Competência do juízo comum 
 
Questão: se há conexão e/ou continência entre esses dois crimes, onde os crimes serão 
julgados? Qual o procedimento será aplicado neste caso? 
 
• 1ª corrente: impõe-se, obrigatoriamente, a separação dos processos. 
- A infração de menor potencial ofensivo iria para o JECRIM. 
- O crime de roubo simples seria julgado pelo juiz singular. Aplica-se o procedimento 
comum ordinário, pois a pena máxima é superior a 4 anos. 
Essa posição entende que a competência do Jecrim é absoluta, pois está prevista no art. 98, 
I da CF e, portanto, ela deve ser observada, não podendo ser colocada em segundo plano 
por ocasião de conexão/continência. 
Trata-se de posição minoritária. 
 
• 2ª corrente (majoritária): a competência dos juizados não é absoluta, pois a própria 
CF/19885 manda a lei definir o que é uma infração de menor potencial ofensivo. 
- Assim sendo, prevalece a orientação de que, no exemplo dado, o crime de desacato e o de 
roubo (praticados em conexão/continência) serão reunidos e levados ao juiz singular e lá 
será aplicado o procedimento comum ordinário, pois este é mais amplo. 
- Pelo menos em tese, ainda que tramitando perante o juiz singular, os institutos 
despenalizadores da Lei 9.099/95, por exemplo, a transação penal e a composição dos danos 
civis, poderão ser negociados quanto à infração de menor potencial ofensivo. 
- Ainda que o crime de menor potencial ofensivo seja levado a julgamento perante o juiz 
singular, isso não será obstáculo quanto à negociação dos institutos despenalizadores (no 
exemplo, em relação ao crime de desacato apenas). 
 
 
 
 
 
5 CF, art. 98, I: “A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: 
I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a 
execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os 
procedimentos oral e sumaríssimo , permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por 
turmas de juízes de primeiro grau;” 
 
 12 
Lei n. 9.099/95 
“Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem 
competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial 
ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência. (Redação dada pela Lei n. 11.313/06). 
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes 
da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da 
composição dos danos civis.” (Incluído pela Lei n. 11.313/06). 
 
5. Análise do antigo procedimento comum ordinário 
 
O procedimento comum ordinário foi alterado pela Lei 11.719/08 e podia ser verificado 
pelas seguintes etapas: 
a) Oferecimento da peça acusatória; 
b) Recebimento/rejeição da peça acusatória; 
c) Citação: a citação ocorria para que houvesse o interrogatório. 
d) Interrogatório; 
e) Defesa Prévia (antiga redação do art. 395 do CPP); 
f) Oitiva das testemunhas de acusação; 
g) Oitiva das testemunhas da defesa; 
h) Diligências (revogado art. 499 do CPP); 
i) Alegações finais (revogado art. 500 do CPP) eram apresentadas por escrito. 
j) Diligências determinadas de ofício pelo juiz(revogado art. 502 do CPP); 
k) Sentença. 
 
6. Análise do novo procedimento comum ordinário (Lei 11.719/08) 
 
Destaca-se que essa lei foi extremamente positiva, principalmente em relação a uma maior 
celeridade processual, a qual é decorrente da previsão de audiência una de instrução e 
julgamento. 
O grande problema é que, além das mudanças produzidas pela Lei 11.719/2008, deveriam 
ter ocorrido também alterações no capítulo relativo aos recursos. 
 
7. Oferecimento da Peça Acusatória 
 
Obs.: essa matéria já foi estudada nas aulas de ação penal. 
 
CPP, art. 41: “A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, comtodas as suas 
circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a 
classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.” 
 
8. Juízo de Admissibilidade da Peça Acusatória: rejeição ou recebimento 
 
Procedimento comum ordinário (fluxograma) 
 
 
 13 
 
 
Considerações sobre o fluxograma: 
 
Após o oferecimento da peça acusatória (no procedimento comum ordinário), há o juízo de 
admissibilidade. 
✓ Destaca-se que em alguns procedimentos especiais, existe a defesa preliminar. 
 
Durante o juízo de admissibilidade da peça acusatória, o juiz pode rejeitar a peça acusatória, 
caso presente uma das hipóteses do art. 395 do CPP, ou pode determinar o recebimento da 
peça acusatória, com a subsequente citação do acusado, nos termos do art. 396 do CPP. 
 
Questão: Será que o juiz, diante do recebimento da peça acusatória, possui outras 
possibilidades além da rejeição ou do recebimento da peça acusatória? 
✓ Atenção: o juiz não pode determinar diligências de ofício antes do processo penal, pois 
isso viola o próprio sistema acusatório. 
✓ Não se pode admitir que, na fase investigatória, o juiz determine diligências de ofício, sob 
pena de colocar em risco a sua própria imparcialidade. Veja o art. 3º-A do CPP. 
 
CPP, art. 3º-A: “O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de 
investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação. (Incluído pela Lei no 13.964, 
de 2019)” 
 
✓ Obs.: Se o juiz determinar diligências de ofício na fase investigatória, a parte deve interpor 
uma correição parcial, afirmando que houve um error in procedendo, pois ocorreu uma 
inversão tumultuária dos atos procedimentais, para a qual não há recurso adequado. 
 
Questão: Qual é o juiz competente para realizar o juízo de admissibilidade? 
Com o advento do Pacote Anticrime, esta competência foi outorgada ao juiz das garantias. 
 
CPP, art. 3º-B: O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal 
e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do 
Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente: (Incluído pela Lei n. 13.964/19) 
(...) 
XIV – decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, nos termos do art. 399 deste Código; 
(Incluído pela Lei n. 13.964/19) 
(...)” 
 
 14 
 
Destaca-se que o art. 3º-B cita a competência do juiz das garantias para o recebimento da 
denúncia ou queixa, mas também é possível afirmar que o mesmo juiz é responsável pela 
rejeição da peça acusatória. 
 
✓ A competência do juiz das garantias vai do início da investigação até o recebimento da 
denúncia. A partir do recebimento da denúncia, a competência será do juiz de instrução e 
julgamento. 
 
✓ Atenção: é necessário lembrar que, no momento, o art. 3º-B do CPP está com a eficácia 
suspensa por decisão do Min. Fux. 
 
8.1. Momento do Juízo de Admissibilidade 
 
Com o advento da Lei 11.719/08, surgiram controvérsias sobre o momento do juízo de 
admissibilidade. Isso ocorreu porque o legislador passou a prever o juízo de 
admissibilidade em dois dispositivos diversos (art. 396 e art. 399 do CPP). 
 
CPP, art. 396: “Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se 
não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, 
por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.” 
 
✓ O art. 396 do CPP estabelece o momento para o juízo de admissibilidade, ressaltando o 
recebimento logo após o oferecimento da peça acusatória. 
✓ Veja como seria o fluxograma no caso de o juízo de admissibilidade ocorrer de acordo 
com o art. 396 do CPP 
 
 
 
 
 
 15 
 
Entretanto, o art. 399 do CPP também fala do momento do recebimento da denúncia. Veja 
o dispositivo legal: 
 
CPP, art. 399: “Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a audiência, 
ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do 
querelante e do assistente.” 
 
✓ Se se adotar a posição que defende o recebimento da denúncia de acordo com o art. 399 
do CPP, o fluxograma anterior deve ser esquecido. 
✓ Veja o fluxograma de acordo com o art. 399 do CPP: 
 
 
 
Lei 11.719/2008 
1ª Posição: o juízo de admissibilidade seria 
o previsto no art. 396, CPP. Assim sendo, 
seria logo após o oferecimento da peça 
acusatória. 
(posição majoritária) 
2ª Posição: o juízo de admissibilidade seria 
o previsto no art. 399, CPP. Desse modo, o 
juízo de admissibilidade ocorreria depois 
de rejeitada a absolvição sumária. 
 
Destaca-se que o previsto no art. 399 do CPP não pode ser concebido, pois, neste caso, 
haveria uma decisão de mérito (absolvição sumária) antes mesmo do recebimento da peça 
acusatória. 
Além disso, a lei diz, no art. 396 do CPP, que o juiz ordenará a citação do acusado. 
Entretanto, nos moldes do art. 399 do CPP, não seria concebível citar o acusado quando a 
peça acusatória ainda nem foi recebida. 
✓ Não é possível conceber que seria ordenada a citação sem um prévio juízo de 
admissibilidade. 
 
A primeira posição é a majoritária tanto na doutrina quanto na jurisprudência e, portanto, 
conforme o art. 396 do CPP, se o juiz não rejeitar liminarmente a peça acusatória, recebê-la-
á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação. 
✓ O disposto no art. 399 do CPP deve ser interpretado como situação aplicável “caso o 
acusado não seja absolvido sumariamente”. 
 
STJ: “(...) De acordo com a melhor doutrina, após a reforma legislativa operada pela Lei n. 
11.719/08, o momento adequado ao recebimento da denúncia é o imediato ao oferecimento 
da acusação e anterior à apresentação de resposta à acusação, nos termos do art. 396 do 
 
 16 
Código de Processo Penal, razão pela qual tem-se como este o marco interruptivo 
prescricional previsto no art. 117, inciso I, do Código Penal para efeitos de contagem do 
lapso temporal da prescrição da pretensão punitiva estatal." (STJ, 5a Turma, HC 144.104/SP, 
Rel. Min. JORGE MUSSI, DJe de 02/08/2010.) 
 
✓ A partir do momento em que se define que o art. 396 do CPP marca o recebimento da 
denúncia, é ele que estabelecerá o momento da interrupção da prescrição. 
 
Com o Pacote Anticrime, o tema voltou à tona: 
 
CPP, art. 3º-C: “A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais, exceto as de 
menor potencial ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia ou queixa, na forma do art. 399 
deste Código. (Incluído pela Lei n. 13.964/19). 
§1º Recebida a denúncia ou queixa, as questões pendentes serão decididas pelo juiz da instrução e 
julgamento. 
(...)” 
 
Observação: Há quem diga que o Pacote Anticrime alterou toda a controvérsia analisada 
anteriormente, pois o art. 3º-C disse que o recebimento da denúncia dar-se-ia no art. 399 do 
CPP. 
✓ O professor Renato Brasileiro, entretanto, não concorda com esse entendimento, pois, se 
o Pacote Anticrime quisesse alterar o momento adequado para o juízo de admissibilidade, 
essa mudança seria feita no capítulo que trata do procedimento comum ordinário. Assim 
sendo, a menção ao art. 399 do CPP teria sido um equívoco do legislador. 
 
9. Rejeição da Peça Acusatória 
 
9.1. Causas de rejeição: trata-se de juízo negativo de admissibilidade 
 
A expressão “rejeição” deve ser compreendida como sinônimo de “não recebimento”. Antes 
de 2008, esses vocábulos eram entendidos como coisas diferentes por alguns: rejeição era 
defeito de ordem material (mérito) na peça acusatória. O não recebimento, por sua vez, era 
defeito de ordem processual. 
 
Atualmente, não existe mais distinção entre os termos “rejeição” e “não recebimento”, pois 
ambos os termos estão relacionados a questões processuais. 
 
Previsão legal das causas de rejeição da peça acusatória: 
 
CPP, art. 395: “A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei no 11.719, de 
2008). 
I - for manifestamente inepta; 
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício daação penal; ou 
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. 
Parágrafo único. (Revogado). (Incluído pela Lei no 11.719, de 2008).” 
 
 
 
 
 
 17 
I – Inépcia da peça acusatória 
Trata-se da inobservância das formalidades essenciais da peça acusatória (art. 41, CPP6). 
Exemplo: oferecimento de denúncia por crime culposo sem a descrição da modalidade da 
culpa, dizendo apenas que um determinado condutor estava dirigindo um carro de maneira 
imprudente quando perdeu o controle, atropelou e matou a vítima. Neste caso, há uma peça 
acusatória inepta, pois o promotor deixou de expor o fato com todas as circunstâncias. 
 
A inépcia da peça acusatória pode ser formal ou material. 
• Inépcia formal ocorre quando a peça acusatória não preenche as formalidades essenciais 
do art. 41 do CPP. 
• Há também a inépcia material, que seria a falta de justa causa. 
 
Atenção: apesar de alguns doutrinadores fazerem tal diferenciação e citarem a existência da 
inépcia material, é necessário observar que a ausência de justa causa é hipótese autônoma 
de rejeição da peça acusatória (art. 395, III, CPP). Assim sendo, não faz muito sentido chamá-
la de inépcia material. 
 
A inépcia da peça acusatória deve ser arguida até o momento da sentença, sob pena de 
preclusão. 
✓ Os tribunais superiores entendem que, se a parte ficou calada, pelo menos em tese ela 
teria conseguido se defender e, portanto, não haveria motivos para arguir a inépcia após a 
sentença. 
 
STF: “(...) A arguição de inépcia da denúncia está coberta pela preclusão quando, como na 
espécie, aventada após a sentença penal condenatória, o que somente não ocorre quando a 
sentença vem a ser proferida na pendência de habeas corpus já em curso”. (STF, 1ª Turma, 
RHC 98.091/PB, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 16/03/2010, Dje 67 15/04/2010). 
 
II – Ausência dos pressupostos processuais ou das condições da ação. 
O tema “condições da ação” já foi estudado nos semestres passados. Tais condições podem 
ser genéricas ou específicas. 
A ausência das condições da ação penal, sejam elas genéricas ou específicas, enseja a rejeição 
da peça acusatória. 
 
a) Genéricas: é aquela que deve estar presente em toda e qualquer demanda. 
• Possibilidade jurídica do pedido - Era condição da ação até bem pouco tempo. 
Atualmente, à luz do novo CPC, prevalece a orientação de que a possibilidade jurídica do 
pedido se confunde com o mérito da demanda. 
• Legitimidade ad causam; 
• Interesse de agir; e 
• Justa causa* - Há controvérsias sobre essa condição. Destaca-se que a melhor doutrina 
sustenta que não se trata de condição da ação, mas de pressuposto processual de validade. 
 
b) Específicas (condições de procedibilidade): essas condições só serão necessárias em 
alguns casos (dependendo da pessoa do acusado, do crime, do procedimento). 
Exemplos: 
 
6 CPP, art. 41: “A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, 
a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, 
quando necessário, o rol das testemunhas.” 
 
 18 
*da pessoa do acusado: autorização do Congresso Nacional para processar o Presidente da 
República; 
*a depender do crime: representação do ofendido (por exemplo, no crime de estelionato); 
requisição do Ministro da Justiça. 
*a depender do procedimento em questão, o legislador impõe o implemento de determinada 
condição. Exemplo: nos crimes contra a propriedade imaterial, o legislador exige a 
realização do exame pericial se o crime tiver deixado vestígios – art. 525 do CPP. 
 
III – Falta de justa causa para o exercício da ação penal. 
 
Observação: 
 
STF, HC 129.6787 – Nesse julgado, o Ministro Alexandre de Moraes citou que a justa causa 
do art. 395, III do CPP seria composta por três componentes essenciais: 
• Presença de tipicidade; 
• Punibilidade; e 
• Viabilidade (presença de fundados indícios de autoria). 
 
Esse julgado, no entanto, representa um precedente isolado. 
 
A justa causa é conceituada pela doutrina majoritária como o lastro probatório mínimo 
indispensável para a instauração de um processo penal. 
✓ Esse conceito parte da premissa de que a pessoa não pode ser objeto de uma acusação 
infundada/temerária. 
✓ Para a instauração de um processo penal, é necessário um mínimo de indícios quanto à 
autoria do fato delituoso e provas quanto à existência do delito. 
✓ A justa causa é o fumus comissi delicti (fumaça do cometimento do delito). 
 
Cite-se como exemplo, um caso apreciado pelo STF, o qual envolveu um possível assédio 
sexual praticado contra uma servidora do STJ. A servidora acusava o Ministro de ter 
praticado o crime. Entretanto, a única prova existente era a palavra da vítima. Neste caso, o 
STF entendeu que não havia justa causa e não recebeu a peça acusatória. 
 
Informativo 352 STF: 
O Tribunal, por maioria, rejeitou queixa-crime apresentada por servidora do STJ na qual 
imputava a Ministro dessa Corte suposta prática do crime de assédio sexual (CP, art. 216-A: 
 
7 HABEAS CORPUS. “CRIME ACHADO”. ILICITUDE DA PROVA. REQUISITOS LEGAIS E 
CONSTITUCIONAIS ATENDIDOS. IMPROCEDÊNCIA. JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL. 
ALEGADA INEXISTÊNCIA DE INDÍCIOS MÍNIMOS DE AUTORIA. IMPROCEDÊNCIA. 1. O “crime 
achado”, ou seja, a infração penal desconhecida e, portanto, até aquele momento não investigada, sempre deve 
ser cuidadosamente analisada para que não se relativize em excesso o inciso XII do art. 5o da Constituição 
Federal. A prova obtida mediante interceptação telefônica, quando referente a infração penal diversa da 
investigada, deve ser considerada lícita se presentes os requisitos constitucionais e legais. 2. A justa causa é 
exigência legal para o recebimento da denúncia, instauração e processamento da ação penal, nos termos do 
artigo 395, III, do Código de Processo Penal, e consubstancia-se pela somatória de três componentes essenciais: 
(a) TIPICIDADE (adequação de uma conduta fática a um tipo penal); (b) PUNIBILIDADE (além de típica, a 
conduta precisa ser punível, ou seja, não existir quaisquer das causas extintivas da punibilidade); e (c) 
VIABILIDADE (existência de fundados indícios de autoria). 3 . Esses três componentes estão presentes na 
denúncia ofertada pelo Ministério Público, que, nos termos do artigo 41 do CPP, apontou a exposição do fato 
criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e a classificação do crime. 4. Habeas 
corpus denegado.(EMB .DECL. NO HABEAS CORPUS 129.678, Relator Ministro Alexandre de Moraes). 
 
 19 
"Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, 
prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes 
ao exercício de emprego, cargo ou função."). Entendeu-se temerário o recebimento da 
queixa-crime, em razão da inconsistência das provas apresentadas com a inicial e da falta 
de perspectiva da eventual ação penal. Ressaltou-se que não basta a narração dos fatos ou 
circunstâncias criminosas que se atribuem ao querelado para o recebimento da queixa-
crime, sendo necessário que as alegações estejam minimamente embasadas em provas ou, 
ao menos, indícios da efetiva ocorrência dos fatos, o que não teria ocorrido na espécie. 
Vencido o Min. Marco Aurélio que recebia a queixa-crime por considerar que os fatos 
narrados, em tese, estariam enquadrados na figura descrita no art. 216-A, do CP. (Inq 2033, 
Relator(a): NELSON JOBIM, Tribunal Pleno, julgado em 16/06/2004). 
 
Referências bibliográficas: 
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal (volume único). 10. ed. rev., ampl. e 
atual. Salvador: Juspodivm, 2021. 
 
 
 1 
DISCIPLINA: DIREITO PROCESSUAL PENAL III 
ANO: 2021.2. (8º Semestre) 
PROFESSORA ME. KARINE CORDAZZO 
 
Aula 2 
 
 
PROCEDIMENTO COMUM 
 
 
9.2. Rejeição Parcial da Peça Acusatória 
 
Questão: É possível a rejeição parcial da peça acusatória? 
 
Imagine que o promotor de justiça ofereceu uma denúncia pelo crime de roubo (art. 157 do 
CP) e de calúnia (art.138 do CP). 
 
 
 
Como a calúnia é crime de ação penal privada, o promotor não tem legitimidade ad causam 
para oferecer denúncia em relação a este crime. 
Neste caso, a solução a ser dada pelo juiz é a rejeição parcial da peça acusatória, ou seja, o 
juiz receberia a denúncia relativa ao crime de roubo e rejeitaria a parte que versa sobre a 
calúnia, com base no art. 395, II do CPP (ausência das condições da ação). 
 
CPP, art. 395, II: “A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (...) 
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (...)” 
 
9.3. (Im)possibilidade de rejeição da peça acusatória após prévio recebimento 
 
Questão: Após o oferecimento da denúncia pelo MP e o recebimento da peça acusatória 
pelo juiz, é possível que o juiz, após o recebimento da resposta à acusação, em nova 
decisão, rejeite a denúncia? 
 
 
 2 
 
 
1ª Corrente (majoritária): não é possível a rejeição da denúncia após o seu prévio 
recebimento. O fundamento é que teria havido a preclusão pro judicato. 
Essa posição ainda é a majoritária, principalmente na doutrina. 
2ª Corrente: é possível a rejeição da denúncia após prévio recebimento. Segundo essa 
corrente, não há falar em preclusão, já que as causas de rejeição são matérias de ordem 
pública e, portanto, não estão sujeitas à preclusão. De acordo com essa corrente, ainda que 
o juiz já tivesse recebido a peça acusatória, não haveria nenhum problema se ele decidisse, 
mais adiante, rejeitá-la. 
 
Observação: há alguns precedentes do STJ nesse sentido. 
 
STJ: “(...) O fato de a denúncia já ter sido recebida não impede o Juízo de primeiro grau de, 
logo após o oferecimento da resposta do acusado, prevista nos arts. 396 e 396-A do Código 
de Processo Penal, reconsiderar a anterior decisão e rejeitar a peça acusatória, ao constatar 
a presença de uma das hipóteses elencadas nos incisos do art. 395 do Código de Processo 
Penal, suscitada pela defesa. As matérias numeradas no art. 395 do Código de Processo 
Penal dizem respeito a condições da ação e pressupostos processuais, cuja aferição não está 
sujeita à preclusão (art. 267, § 3º, do CPC, c/c o art. 3º do CPP). Hipótese concreta em que, 
após o recebimento da denúncia, o Juízo de primeiro grau, ao analisar a resposta preliminar 
do acusado, reconheceu a ausência de justa causa para a ação penal, em razão da ilicitude 
da prova que lhe dera suporte”. (STJ, 6a Turma, Resp 1.318.180/DF, Rel. Min. Sebastião Reis 
Júnior, Dje 29/05/2013). 
 
Observação: 
Em reforço à segunda corrente, cite-se que, de acordo com o que foi visto anteriormente, 
com o Pacote Anticrime, o juiz competente para realizar a admissibilidade da peça 
acusatória é o juiz das garantias (art. 3º-B, XIV do CPP - Dispositivo com a eficácia suspensa). 
Supondo que o art. 3º-B tenha a eficácia restabelecida, é necessário lembrar que a 
competência do juiz das garantias cessa a partir do recebimento da peça acusatória (art. 3º-
C do CPP). Assim sendo, a partir da citação, a competência passa a ser do juiz de instrução 
e julgamento. Como se trata de pessoas diversas (juiz das garantias e juiz da instrução e 
julgamento), muitas decisões de recebimento de peça acusatória (dadas por juízes das 
garantias) serão revertidas por juízes da instrução e julgamento. 
 
 
 3 
CPP, art. 3º-B, XV: “O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação 
criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização 
prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente: (Incluído pela Lei no 13.964, de 2019) (...) 
XIV - decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, nos termos do art. 399 deste Código; 
(Incluído pela Lei no 13.964, de 2019)” 
 
CPP, art. 3º-C: “A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais, exceto as de 
menor potencial ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia ou queixa na forma do art. 399 deste 
Código. (Incluído pela Lei no 13.964, de 2019) 
§ 1º Recebida a denúncia ou queixa, as questões pendentes serão decididas pelo juiz da instrução e 
julgamento. (Incluído pela Lei no 13.964, de 2019) 
§ 2º As decisões proferidas pelo juiz das garantias não vinculam o juiz da instrução e julgamento, 
que, após o recebimento da denúncia ou queixa, deverá reexaminar a necessidade das medidas 
cautelares em curso, no prazo máximo de 10 (dez) dias. (Incluído pela Lei no 13.964, de 2019) 
§ 3º Os autos que compõem as matérias de competência do juiz das garantias ficarão acautelados na 
secretaria desse juízo, à disposição do Ministério Público e da defesa, e não serão apensados aos autos 
do processo enviados ao juiz da instrução e julgamento, ressalvados os documentos relativos às provas 
irrepetíveis, medidas de obtenção de provas ou de antecipação de provas, que deverão ser remetidos 
para apensamento em apartado. (Incluído pela Lei no 13.964, de 2019) 
§ 4º Fica assegurado às partes o amplo acesso aos autos acautelados na secretaria do juízo das 
garantias. (Incluído pela Lei no 13.964, de 2019)” 
 
9.4. Recurso Cabível contra a rejeição da peça acusatória 
 
Em regra, o recurso adequado contra a rejeição da peça acusatória é o RESE (recurso em 
sentido estrito). 
 
CPP, art. 581: “Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: 
I - que não receber a denúncia ou a queixa” 
 
✓ À luz do art. 581, I do CPP, quando o juiz rejeitar (ou não receber) a peça acusatória, caberá 
RESE. 
 
A exceção está prevista na Lei 9.099/95, em que o recurso cabível no caso de rejeição da peça 
acusatória é a apelação. 
 
Lei 9.099/95, art. 82: “Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação, 
que poderá ser julgada por turma composta de três Juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, 
reunidos na sede do Juizado.” 
 
Súmula 707 do STF: constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer 
contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação de 
defensor dativo. 
 
Questão: Imagine que o promotor ofereça a denúncia e esta seja rejeitada por falta de justa 
causa. O promotor interpõe um RESE. Diante disso, o RESE sobe diretamente para o 
Tribunal ou a defesa deve ser ouvida? 
Após a interposição de recurso diante da rejeição da denúncia, será necessária a intimação 
do denunciado para apresentar contrarrazões, pois o interessado tem interesse em 
participar dessa relação processual. 
 
 4 
 
Observações: 
 
1ª) O acusado deve ser intimado para apresentar contrarrazões. 
 
2ª) A nomeação imediata de advogado dativo (caso o acusado não tenha defensor 
constituído) viola a ampla defesa. 
✓ Caso o acusado não tenha defensor constituído, antes de enviar os autos à Defensoria 
Pública, é necessário intimar o acusado para que este constitua um defensor com a intenção 
de oferecer contrarrazões ao recurso interposto. O juiz só pode nomear defensor dativo caso 
o acusado, após intimação, permaneça inerte. 
 
3ª) Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para constituir defensor de modo 
a apresentar contrarrazões. 
 
Súmula 709 do STF: salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o 
recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela. 
 
Observações sobre a Súmula 709 do STF: 
1ª) O acórdão que dá provimento ao recurso interposto contra a rejeição vale, desde já, como 
seu recebimento, interrompendo-se assim a prescrição. 
✓ Após a interposição de recurso em face da rejeição da denúncia (e a apresentação de 
contrarrazões pela defesa), o recurso é enviado ao tribunal competente. Caso o tribunal dê 
provimento ao recurso interposto, tal provimento é equiparado ao recebimento da peça 
acusatória e, portanto, interrompe a prescrição. 
✓ É o acórdão, portanto, que interrompe a prescrição. 
 
2ª) Na eventualidade de anulação da decisão de 1º grau, os autos deverão retornar à 
instância de origem quando, então, deverá haver o recebimento pelo juiz de primeiro grau. 
✓ Conformea Súmula 709 do STF, quando o tribunal reconhece algum tipo de nulidade no 
1º grau, ele deve devolver os autos ao juiz de 1ª instância. Nesse caso, não há o recebimento 
da peça acusatória pelo Tribunal. 
Súmula 709, STF: “Salvo quando nula a decisão de primeiro grau, o acórdão que provê o 
recurso contra a rejeição da denúncia vale, desde logo, pelo recebimento dela.” 
 
10. Recebimento da Peça acusatória 
 
O recebimento da peça acusatória representa um juízo positivo de admissibilidade. 
À luz do art. 3º-B, XIV do CPP, a competência para o recebimento da peça acusatória é do 
juiz das garantias. Entretanto, é necessário lembrar que, no momento, a eficácia desse 
dispositivo está suspensa. 
 
10.1. (Des)necessidade de Fundamentação do Recebimento da Peça Acusatória 
 
Questão: Quando o juiz recebe a peça acusatória, ele é obrigado a fundamentar? 
• 1ª Corrente (doutrina): O recebimento da peça acusatória deve ser fundamentado, sob 
pena de nulidade. 
Como o recebimento da peça acusatória é ato decisório, deve ser fundamentado, nos termos 
do art. 93, IX, CF. 
 
 5 
Atenção: Mesmo para os que seguem essa corrente, no momento da fundamentação, não 
deve haver excessos (deve haver moderação), de forma a evitar possível pré-julgamento do 
acusado. 
 
CF, art. 93, IX: “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas 
todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às 
próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à 
intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;” 
 
Na fundamentação, o juiz deve se manifestar quanto à regularidade da peça acusatória, 
quanto à presença dos pressupostos processuais e das condições da ação, apontando a 
ausência das causas de rejeição (hipóteses do art. 395, CPP). 
 
CPP, art. 395: “A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei no 11.719, de 
2008). 
I - for manifestamente inepta; (Incluído pela Lei no 11.719, de 2008). 
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (Incluído pela Lei no 
11.719, de 2008). 
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.” 
 
• 2ª Corrente (dominante na jurisprudência): não há necessidade de fundamentação, salvo 
nos procedimentos em que há previsão legal de defesa preliminar. 
 
Observação 1: os tribunais superiores têm decisões admitindo o recebimento implícito da 
peça acusatória. 
 
STF: “(...) NÃO SE EXIGE QUE O ATO DE RECEBIMENTO DA DENÚNCIA SEJA 
FUNDAMENTADO. O ato judicial que formaliza o recebimento da denúncia oferecida pelo 
Ministério Público não se qualifica nem se equipara, para os fins a que se refere o art. 93, 
inciso IX, da Constituição, a ato de caráter decisório. O juízo positivo de admissibilidade da 
acusação penal, ainda que desejável e conveniente a sua motivação, não reclama, contudo, 
fundamentação”. (STF, 2ª Turma, HC 93.056/SP, Rel. Min. Celso de Mello, Dje 89 
14/05/2009). 
 
Observação 2: alguns procedimentos especiais dão a oportunidade de o acusado ser ouvido 
antes do juízo de admissibilidade da peça acusatória. 
 
✓ A defesa preliminar está prevista em procedimentos como o constante na Lei de Drogas. 
Nestes casos, a defesa é ouvida antes do juízo de admissibilidade. 
Nesta hipótese, o promotor oferece a denúncia, o juiz manda notificar o acusado para ele 
constituir advogado e apresentar a defesa preliminar. Somente após esse procedimento, o 
juiz procede ao juízo de admissibilidade. 
✓ Se há defesa preliminar, é necessário fundamentar a decisão de recebimento da peça 
acusatória. 
 
STF: “(...) AÇÃO PENAL. Funcionário público. Defesa preliminar. Oferecimento. Denúncia. 
Recebimento. Decisão não motivada. Nulidade. Ocorrência. Habeas corpus concedido para 
anular o processo desde o recebimento da denúncia. Oferecida defesa preliminar, é nula a 
decisão que, ao receber a denúncia, desconsidera as alegações apresentadas”. (STF, 2a 
Turma, HC 84.919/SP, Rel. Min. Cezar Peluso, Dje 55 25/03/2010). 
 
 6 
 
10.2. Consequências do Recebimento da Peça Acusatória 
 
➢ A primeira consequência importante é a possível causa de fixação da competência por 
prevenção (leia-se: desde que não tenha havido prévio ato de caráter decisório praticado 
pelo juiz durante a investigação preliminar). 
✓ A prevenção é critério residual de fixação de competência. Tal critério residual trabalha 
com a premissa de que é necessário verificar qual foi primeiro juiz a praticar um ato 
decisório, de modo que isso estabelecerá a competência deste para o feito. 
✓ Se se entender que o recebimento da peça acusatória é ato decisório, é possível concluir 
que ele pode levar à fixação de competência com base na prevenção. 
É necessário atentar, entretanto, que o juiz somente terá sua competência fixada com base 
na prevenção se, por acaso, nenhum outro juiz igualmente competente tiver se antecedido 
a ele na prática de outro ato decisório. (exemplo: antes do recebimento da peça acusatória, 
outro juiz determina a prisão preventiva do acusado). 
 
Obs.: É necessário lembrar que, se o STF restabelecer a eficácia dos dispositivos que 
preveem o juiz das garantias, o juiz que praticar ato decisório na fase investigatória fica 
impedido de atuar no processo (art. 3º-D, CPP). Neste caso, a prevenção (na fase 
investigatória) deixa de funcionar como critério de fixação e passa a ser critério de exclusão 
da competência. 
 
CPP, art. 3º-D: “O juiz que, na fase de investigação, praticar qualquer ato incluído nas competências 
dos arts. 4º e 5º deste Código ficará impedido de funcionar no processo. (Incluído pela Lei no 13.964, 
de 2019) 
Parágrafo único. Nas comarcas em que funcionar apenas um juiz, os tribunais criarão um sistema de 
rodízio de magistrados, a fim de atender às disposições deste Capítulo. (Incluído pela Lei no 13.964, 
de 2019)” 
 
CPP, art. 83: “Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou mais 
juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros 
na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento 
da denúncia ou da queixa (arts. 70, § 3º, 71, 72, § 2º, e 78, II, c).” 
 
➢ A segunda consequência é a interrupção da prescrição. 
 
CP, art. 117, I: “O curso da prescrição interrompe-se: (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984) 
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; (Redação dada pela Lei no 7.209, de 11.7.1984) 
(...)” 
 
Atenção: Para haver a interrupção da prescrição, o recebimento da peça acusatória deve ser 
feito por juízo competente. 
✓ O recebimento da denúncia por órgão judiciário incompetente acarreta nulidade, a qual 
terá o condão de anular todos os atos decisórios e, portanto, não causará a interrupção da 
prescrição. 
 
STF: “(...) O recebimento da denúncia, quando efetuado por órgão judiciário absolutamente 
incompetente, não se reveste de eficácia interruptiva da prescrição penal, eis que decisão 
 
 7 
nula não pode gerar a consequência jurídica a que se refere o art. 117, I, do Código Penal”. 
(STF, Pleno, Inq. 1.544 QO/PI, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 14/12/2001). 
 
➢ A última consequência é o início do processo penal (controvérsia): 
• 1ª Corrente: entende que o início do processo penal ocorre desde o oferecimento da peça 
acusatória. O principal argumento dessa corrente é que, ainda que a denúncia oferecida pelo 
MP seja rejeitada, se eventual recurso for interposto, o indivíduo será intimado para 
apresentar contrarrazões (Súmula 707 do STF). Assim sendo, se a pessoa está apresentando 
contrarrazões, é porque já há processo. 
• 2ª Corrente (majoritária): o início do processo penal ocorre com o recebimento da peça 
acusatória. 
 
CPPM, art. 35: “O processo inicia-se com o recebimento da denúncia pelo juiz, efetiva-se com a 
citação do acusado e extingue-se no momento em que a sentença definitiva se torna irrecorrível,quer 
resolva o mérito, quer não.” 
 
10.3. Recurso adequado 
 
Não há previsão legal de recurso para o ato judicial que recebe a peça acusatória. 
✓ Não se admite interpretação extensiva do art. 581, I do CPP com a finalidade de admitir 
RESE nos casos de recebimento da denúncia. 
 
A jurisprudência, em situações excepcionais, tem admitido o trancamento da “ação penal”. 
✓ Apesar de a expressão trancamento da “ação penal” ser muito usada pela jurisprudência, 
na verdade, o trancamento é do processo. 
 
Questão: Qual é o instrumento utilizado para o trancamento do processo? 
O trancamento do processo pode ser efetuado por meio da impetração de habeas corpus 
(quando houver risco à liberdade de locomoção) ou por meio do mandado de segurança 
(nos demais casos). 
 
✓ O trancamento do processo é uma medida excepcional, que só pode ser admitido quando 
evidente o constrangimento ilegal sofrido pelo acusado. 
 
Hipóteses que autorizam o trancamento do processo penal: 
a) manifesta atipicidade formal ou material da conduta; 
b) presença de causa extintiva da punibilidade; 
c) ausência dos pressupostos processuais ou das condições da ação penal; d) falta de justa 
causa. 
Exemplo: trancamento de processo penal ocorrido por manifesta atipicidade material 
decorrente do princípio da insignificância. 
 
11. Citação do acusado 
 
Recebida a peça acusatória, o juiz deve determinar a citação do acusado. 
 
12. Reação Defensiva à Peça Acusatória 
 
O acusado é citado para apresentar a resposta à acusação (art. 396-A, CPP). 
 
 8 
Nesse tópico, serão trabalhados: 
• Resposta à acusação: prevista para o procedimento comum ordinário e sumário. 
• Defesa preliminar: prevista em alguns procedimentos especiais. 
• Extinta defesa prévia: prevista no revogado art. 395 do CPP (2008). 
 
É necessário distinguir os três procedimentos abaixo, pois eles não são sinônimos: 
 
 
 
12.1. Extinta Defesa Prévia 
 
A defesa prévia era a peça de defesa apresentada logo após o interrogatório (ou no prazo de 
3 dias). Estava prevista na antiga redação do art. 395 do Código de Processo Penal. 
 
CPP - Antiga redação do art. 395: “O réu ou seu defensor poderá, logo após o interrogatório ou no 
prazo de três dias, oferecer alegações escritas e arrolar testemunhas.” 
 
✓ A defesa prévia era apresentada depois do interrogatório. 
✓ Essa peça podia ser apresentada pelo réu ou por seu defensor. Assim sendo, tratava-se de 
um peça simples, que não exigia capacidade postulatória. 
✓ O principal objetivo dessa peça era arrolar testemunhas. 
✓ A defesa prévia não era uma peça de apresentação obrigatória e, portanto, sua não 
apresentação não era causa de nulidade. 
 
12.2. Defesa Preliminar 
 
✓ A defesa preliminar é chamada por alguns de resposta preliminar. 
 
A defesa preliminar funciona como uma espécie de contraditório prévio ao juízo de 
admissibilidade da peça acusatória, de modo a evitar a instauração de processos temerários. 
✓ O objetivo precípuo da defesa preliminar é tentar convencer o juiz quanto à rejeição da 
peça acusatória e, portanto, deve ser apontada uma das hipóteses do art. 395 do CPP. 
 
Momento procedimental: a defesa preliminar é apresentada entre o oferecimento e o juízo 
de admissibilidade da peça acusatória. 
✓ O momento é a principal característica que diferencia a defesa preliminar das outras 
reações defensivas. 
 
A defesa preliminar exige capacidade postulatória, ou seja, trata-se de reação defensiva que 
somente pode ser apresentada por profissional da advocacia. 
 
Esta peça processual não está prevista no procedimento comum ordinário nem no 
procedimento comum sumário. A defesa preliminar está prevista apenas em alguns 
procedimentos especiais. 
 
 
 9 
Obs.: procedimentos especiais em que há previsão legal de defesa preliminar: 
 
São procedimentos especiais em que há necessidade de defesa preliminar: 
 
Lei 11.343/06 (Lei de Drogas). 
“Art. 55. Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a notificação do acusado para oferecer defesa prévia, 
por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. 
§ 1º Na resposta, consistente em defesa preliminar e exceções, o acusado poderá arguir preliminares e 
invocar todas as razões de defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas que 
pretende produzir e, até o número de 5 (cinco), arrolar testemunhas. (...)” 
 
Lei 8.038/90 (Procedimento Originário dos Tribunais). 
“Art. 4º - Apresentada a denúncia ou a queixa ao Tribunal, far-se-á a notificação do acusado para 
oferecer resposta no prazo de quinze dias. (Vide Lei no 8.658, de 1993)” 
 
Lei 9.099/95 (JECRIM). 
“Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder à acusação, após o que 
o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão ouvidas a vítima e as 
testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se 
imediatamente aos debates orais e à prolação da sentença.” 
✓ No JECRIM, é possível que a defesa prévia seja apresentada de maneira verbal. 
 
CPP. Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa em devida forma, o juiz 
mandará autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de 
quinze dias. 
- Procedimento dos crimes de responsabilidade dos funcionários públicos. 
 
Observação: (im) possibilidade de fase instrutória prévia ao recebimento da denúncia: 
Imagine que houve o oferecimento de denúncia em um dos procedimentos que comportam 
a defesa prévia. Diante disso, o juiz manda notificar o acusado para ele apresentar a defesa 
preliminar. Na sequência, deveria ocorrer o juízo de admissibilidade, mas o advogado de 
defesa pleiteou, na defesa preliminar, que houvesse uma instrução prévia anterior ao juízo 
de admissibilidade. 
 
Neste caso, questiona-se: é cabível a instrução prévia? Não. 
 
Veja o esquema abaixo: 
 
 
 
 
 10 
A ideia da doutrina e da jurisprudência é que, ao apresentar a defesa preliminar, as provas 
do acusado devem ser pré-constituídas. Assim sendo, os tribunais superiores entendem que 
a fase instrutória prévia não é possível. 
 
Obs.: Espécie de nulidade decorrente da inobservância da defesa preliminar: 
Prevalece o entendimento de que a eventual violação às regras procedimentais pode ensejar, 
no máximo, uma nulidade relativa. 
A nulidade relativa tem duas principais características: arguição no momento oportuno e 
comprovação do prejuízo. 
 
STJ: “(...) Eventual nulidade decorrente de não aplicação do disposto no artigo 514 do 
Código de Processo Penal é relativa e, como tal, só pode ser reconhecida mediante 
demonstração de prejuízo, o que não ocorreu na espécie. 3. Ordem denegada”. (STJ, 6a 
Turma, HC 173.384/SC, Rel. Min. Celso Limongi, Dje 21/03/2011). 
 
Obs.: defesa preliminar e (des)necessidade de apresentação concomitante da resposta à 
acusação: 
 
Questão: Imagine que se está diante de um crime funcional afiançável (art. 514 do CPP). 
Após a citação do acusado, há necessidade de ser apresentada resposta à acusação? 
 
 
 
 
1ª Corrente: afirma que há necessidade de ser apresentada resposta à acusação, pois existe 
previsão legal neste sentido. Trata-se de interpretação literal do art. 394, §4º do CPP: 
 
CPP, art. 394: “(...) 
§4º As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais de 
primeiro grau, ainda que não regulados neste Código.” 
 
✓ Pela leitura do art. 394, §4º, CPP, tem-se a sensação de que, nos procedimentos que 
preveem defesa preliminar, também seria necessária a apresentação de resposta à acusação. 
Isso porque a resposta à acusação se encontra no art. 396-A do CPP, ou seja, está entre os 
“arts. 395 a 398 deste Código”, conforme preceitua o art. 394 do CPP. 
✓ Assim sendo, segundo essa posição, a defesa preliminar seria apresentada antes do 
recebimento da peça acusatória e a resposta à acusação seria apresentada depois do juízo 
positivo de admissibilidade da inicial. 
 
 11 
✓ Entretanto, destaca-se que esse entendimento não é o mais adequado, poisele não 
privilegia a celeridade processual e a razoável duração do processo. 
 
2ª Corrente: Entende que, quando houver defesa preliminar, não haverá necessidade de 
ulterior resposta à acusação. 
✓ Apesar do disposto no art. 394, §4º do CPP, a melhor interpretação é no sentido de que, 
se houver previsão de defesa preliminar, não será necessária a apresentação subsequente de 
resposta à acusação e isso não trará nenhum prejuízo à defesa. 
✓ Neste caso, as eventuais teses que seriam apresentadas na resposta à acusação serão 
antecipadas para o momento da defesa preliminar. Tais teses serão trabalhadas com base no 
princípio da subsidiariedade. 
✓ Essa segunda corrente é encampada pela jurisprudência. 
 
STF: Por ocasião do recebimento da denúncia oferecida em face do então Senador A. N. pela 
prática dos crimes de corrupção passiva (CP, art. 317) e tentativa de obstrução à justiça (Lei 
n. 12.850/13, art. 2º, §1º, c/c art. 14, II, do CP), concluiu a 1ª Turma que, viabilizada a 
apresentação da defesa preliminar, caberia ao denunciado, com base no princípio da 
eventualidade, trazer, nesse momento procedimental, todos os argumentos e documentos 
de que dispunha de modo a se opor à imputação. Por isso, negou provimento a agravo 
regimental interposto de decisão que teria indeferido pedido de devolução do prazo de 
resposta para juntada de documentos complementares pela defesa. (STF, 1a Turma, Inq. 
4.506/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 17/04/2018). 
 
12.3. Resposta à acusação 
 
A resposta à acusação está prevista no art. 396-A do CPP, ou seja, funciona como regra no 
procedimento comum ordinário e no sumário. 
 
Momento procedimental: a resposta à acusação é apresentada depois do recebimento da 
peça acusatória e da citação do acusado. Este é o ponto crucial para diferenciar a defesa 
preliminar da resposta à acusação. 
✓ A defesa preliminar, conforme já visto, é apresentada antes do juízo de admissibilidade. 
O objetivo precípuo de resposta à acusação é convencer o juiz no sentido da absolvição 
sumária do acusado, com base em uma das hipóteses do art. 397, CPP. 
 
CPP, art. 397: “Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz 
deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: 
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; 
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; 
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou IV - extinta a punibilidade do agente. 
” 
 
Questão: O advogado sempre deve pedir a absolvição sumária na resposta à acusação? 
Não. Destaca-se que o pedido de absolvição sumária é uma estratégia defensiva e vai 
depender muito do caso concreto. 
Exemplo: uma determinada pessoa, com 3 filhos, é denunciada pelo MP pela subtração de 
uma lata de leite infantil. A denúncia foi recebida pelo juiz do caso e a pessoa procura um 
advogado para defendê-la. Neste caso, o advogado deve pedir a absolvição sumária do 
 
 12 
cliente com base no princípio da insignificância, pois, no caso concreto, é possível verificar 
que é muito grande a perspectiva de êxito no pedido. 
Por outro lado, destaca-se que não vale a pena antecipar a tese defensiva se você percebe 
que a perspectiva de êxito não é muito grande. 
 
✓ Em suma: O grau de aprofundamento dos argumentos da peça dependerá do caso em 
concreto. Assim, só se deve antecipar a tese na resposta à acusação se for possível antever 
grande chance de êxito. 
 
✓ Obs.: além do pedido de absolvição sumária, a parte também deve opor exceções, juntar 
documentos, arrolar testemunhas, apresentar justificações (princípio da eventualidade.). 
 
CPP, art. 396-A: “Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo o que interesse à 
sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar 
testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário. (Incluído pela Lei no 
11.719, de 2008). 
§ 1º A exceção será processada em apartado, nos termos dos arts. 95 a 112 deste Código. (Incluído 
pela Lei no 11.719, de 2008). 
§ 2º Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o juiz 
nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 (dez) dias. (Incluído pela Lei 
no 11.719, de 2008).” 
 
✓ Justificações são procedimentos cautelares não contenciosos regulamentados pelo CPC. 
Exemplo: justificação prévia à propositura de uma demanda. 
 
Apresentação do rol de testemunhas: quando a resposta à acusação é apresentada pela 
Defensoria Pública, este órgão, muitas vezes, tem grande dificuldade de arrolar 
testemunhas, já que nem sempre tem contato com o acusado. Diante dessa dificuldade, ele 
sugere a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil (art. 186, §2º), ou seja, o defensor, 
em sua peça, solicita ao juiz que intime o acusado para que ele apresente o rol de 
testemunhas. 
 
Novo CPC 
“Art. 186. (...) 
§2º A requerimento da Defensoria Pública, o juiz determinará a intimação pessoal da parte 
patrocinada quando o ato processual depender de providência ou informação que somente por ela possa 
ser realizada ou prestada.” 
 
A resposta à acusação exige capacidade postulatória, ou seja, ela somente pode ser 
apresentada por profissionais da advocacia. 
✓ Assim sendo, o acusado não pode apresentar tal peça sozinho (exceto se for advogado). 
 
(In) dispensabilidade da resposta à acusação (CPP, art. 396-A, §2º): a resposta à acusação 
é uma peça de apresentação obrigatória. Assim, o processo não pode ter continuidade se a 
resposta à acusação não for apresentada, sob pena de violação à ampla defesa. 
Se o acusado, devidamente citado, não a apresentar, deve ser feita a nomeação de defensor 
dativo. 
 
 
 13 
CPP, art. 396-A, §2º: “Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não 
constituir defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por 10 
(dez) dias. (Incluído pela Lei no 11.719, de 2008).” 
 
REAÇÃO DEFENSIVA (DISTINÇÕES): 
 
 
 
 
 
13. Revelia 
 
Há revelia no processo penal e ela ocorre em duas hipóteses: 
• Quando o indivíduo é citado ou intimado pessoalmente e não apresenta resposta à 
acusação; ou 
• Quando o indivíduo é citado por hora certa e não apresenta resposta à acusação. 
 
CPP, art. 367: “O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado pessoalmente 
para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou, no caso de mudança de residência, 
não comunicar o novo endereço ao juízo.” 
 
CPP, art. 362: “Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará a 
ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a 229 do Código 
de Processo Civil. 
Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer, ser-lhe-á 
nomeado defensor dativo.” 
 
 
 14 
Consequências da revelia no processo penal: 
✓ Não há que se falar em presunção de veracidade dos fatos narrados na inicial (cuidado 
para não confundir com o processo civil). 
✓ Se a presunção da veracidade fosse trazida para o processo penal, haveria violação à regra 
probatória, a qual deriva do princípio da presunção de inocência. 
• Mesmo o acusado revel continua sendo considerado inocente. Lembrando que é ônus da 
acusação comprovar a culpabilidade do acusado. 
 
✓ Como efeito concreto da revelia, há a desnecessidade de intimação do acusado para os 
demais atos processuais, salvo no caso de sentença condenatória ou absolutória imprópria. 
• Observação: sempre é necessário intimar o advogado (defensor público ou defensor 
constituído). 
✓ No caso de sentença condenatória ou absolutória imprópria, ainda que revel, o acusado 
possui capacidade postulatória autônoma para recorrer. Dessa forma, é necessária a 
intimação do acusado para que, querendo, possa recorrer (por termo) de sentença 
condenatória ou absolutória imprópria. 
 
Referências bibliográficas:

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