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E M _1 S_ G R A _0 01 1 Variações Linguísticas do Português do Brasil O ser humano é um ser social, ou seja, precisa se relacionar com o próximo. Dessa necessidade, nasceu a comunicação. Ao longo do tempo, o homem inventou sinais que, decifrados por outro homem, possibilitaram a interação entre os seres humanos. Esses sinais, visuais, sonoros e gráficos caracterizam a formação de linguagens. A primeira linguagem conhecida do homem foi a visual. Ao observar os fenômenos, o homem passou a compreendê-los, a interpretá-los e a usá-los como forma de relacionamento social. Não se sabe quando o homem começou a se utilizar da linguagem falada, pois não há registros históricos que comprovem essa afirmação. Para a fala, o homem se utiliza de padrões sonoros e da associa- ção desses padrões para ampliar as possibilidades de comunicação. A linguagem falada necessitou da criação de códigos que, quando emitidos combi- nados, traduziriam uma informação ao receptor da mensagem. Entretanto, apenas com a linguagem falada, todo o conhecimento que um homem desenvolvia só podia ser passado aos seus descendentes pela tradição oral. Séculos demoraram para que o homem pudesse fazer outra grande invenção: a linguagem escrita. Com ela, passou-se a deixar relatos, conhe- cimentos e expressões individuais para as gerações futuras. O homem passou a registrar sua história. Sabemos que várias civilizações se desenvolve- ram em regiões diferentes do planeta. As linguagens de que se utilizaram sempre foram basicamente essas três: a visual, a falada e a escrita. Porém, es- sas diferentes civilizações não necessariamente se utilizavam do mesmo conjunto de padrões sonoros e escritos na comunicação, o que nos remete à ideia de língua. A língua é um sistema sociocultural e apresenta uma estrutura própria que caracteriza uma coletividade. Linguagem e língua... Essa abordagem nos leva a uma série de questionamentos que caracterizam o processo de comunicação: quem fala? a quem essa pessoa fala? o quê essa pessoa fala? de que língua ela se utiliza? com que objetivo, isto é, para que ela fala? com que autoridade, ou seja, o que ela sabe para poder falar? como ela fala? Essas perguntas, de respostas aparentemente simples, nos levam ao estudo da língua. Precisamos estudá-la. Por quê? É isso que tentaremos explicar neste módulo. Mais especificamente, vamos falar sobre as variações linguísticas na fala e na escrita do português. Objetivos deste módulo Ao final do módulo, o aluno deverá compre- ender: – os diferentes contextos sociais em que o homem se insere e os consequentes contextos de expressão da língua – o conceito de variação linguística; – sua habilidade inata para a comunicação e, consequentemente, para uso da língua; E M _1 S_ G R A _0 01 2 - os objetivos da Gramática: ferramenta auxi- liar no uso da língua ou instrumento de dominação cultural? - o conceito e os limites da Nomenclatura Gra- matical Brasileira. Contexto social e linguístico Quando você convida um amigo para uma festa, está se comunicando e, para isso, utiliza a lingua- gem. Se você faz isso pelo telefone, por exemplo, pode perfeitamente dizer: – Alô! Paulo, tá a fim de ir numa festa lá na casa da Jurema? Algumas pessoas mais puristas poderiam dizer que “o português está errado na frase”. Vamos ver se essa afirmação é verdadeira. Usamos a língua como instrumento de lingua- gem, de comunicação. Houve comunicação na frase, isto é, Paulo entendeu a mensagem? Se ele fala por- tuguês, provavelmente sim, e provavelmente dará sua resposta naturalmente. Se houve comunicação, houve uso correto da linguagem, e foi a língua que possibilitou isso. E se o falante tivesse dito a frase de outra maneira: – Alô! Paulo, gostaria de ir a uma festa que ocorrerá na casa da Jurema? O nosso hipotético falante não soaria artificial ou pedante demais falando dessa maneira? Para ilustrar melhor o que queremos dizer, ponhamo-nos em outras situações. Um médico foi convidado por um amigo para participar de um congresso nacional de Medicina que debaterá os avanços tecnológicos no tratamen- to do câncer. Esse médico chega ao congresso de sunga, senta-se numa cadeira e começa a tomar nota na mão – com uma caneta que ele pede em- prestada a uma senhora ao lado dele – do discurso que está sendo apresentado. Ou Um médico foi convidado por um amigo para um fim de semana numa casa de praia. Esse médico chega à casa de jaleco branco, pasta e estetoscópio e assim permanece durante o almoço, ao entrar no mar e ao dormir. Ninguém diria que usar sunga é errado ou que não se deve usar jaleco branco, pasta e estetoscópio. Mas é inadequado ir de biquíni ou sunga a um con- gresso de médicos ou ir de jaleco branco ou terno e gravata para tomar sol numa praia. Os falantes sabem que a língua também tem contextos de uso. Uma prova disso é que, ao se di- rigirem a um padre, ao chefe no trabalho, ao diretor da escola, se expressam diferentemente de quando falam a alguém da família ou a um amigo. Assim como em nossos contextos sociais, o conceito de errado não se aplica à língua a não ser que não ocorra comunicação. 1. Minha mãe tava na varanda batendo papo. 2. Conversando mãe estava minha na. A diferença das duas frases acima é que a primeira é gramatical, isto é, compreensível por ser estruturada de acordo com regras que todos os falantes reconhecem; a segunda é agramatical, pois desrespeita as regras lógicas que o idioma tem. Quer dizer, então, que todos nós, falantes do português, sabemos gramática? Claro que sim, e aprendemos isso bem antes de entrarmos no colégio. Nossa capacidade de comunicação pela linguagem é inata, ou seja, todo ser humano é capaz de compre- ender e estruturar línguas. Voltemos às sentenças que apresentamos ante- riormente. A frase 1 é gramatical? Ela é prevista pela Gramática? O conceito de gramaticalidade não tem nada a ver com a Gramática dos livros. Ao dizermos que “Minha mãe tava na varanda batendo papo” é uma frase gramatical, estamos dizendo que ela é lógica, tanto por quem a emite quanto para quem a recebe. “Mas ela está errada...” diria alguém. Na comunicação dentro de uma sociedade específica, não podemos dizer que há erro. Talvez a frase 1 seja inadequada em determinado contexto, mas não quer dizer que é errada. Como há diferentes contextos de comunicação, ocorrem variações linguísticas, isto é, variações no uso da língua aplicadas aos contextos sociais, tem- porais, espaciais específicos. Variação linguística pode ser entendida como o resultado do produto língua x contexto. As variações linguísticas são também cha- madas níveis de linguagem, termo que evitaremos aqui. Podemos então dizer que o contexto social afeta o contexto de linguagem. E M _1 S_ G R A _0 01 3 Variações linguísticas do português do Brasil Variações diatópicas O brasileiro fala português. Mas os brasileiros das diversas regiões do território nacional não falam da mesma maneira. A língua tem variações diatópi- cas, isto é, cada topo (lugar) tem características lin- guísticas próprias de sua cultura, o que comumente se denomina dialeto ou falar regional. Exemplos: ` Que menina feliz! variante gaúcha: Bah! Que guria tri faceira! Que sujeito legal! variante paraense: Égua! Que cabra pai-d’égua! Existe algo de errado aí. variante mineira: Uai! Tem um trem errado aí. Que livro legal! variante paulista: Que livro da hora! A televisão e o cinema, embora exagerem mui- tas vezes, costumam reproduzir o falar nordestino em várias produções (novelas, seriados, especiais, filmes). Normalmente, porém, priorizam a variante da região mais rica do Brasil: o Sudeste. As variações diatópicas incluem fonemas, in- terjeições, expressões, gírias, típicas da região em que ocorrem. Traduzem, portanto, mais um exemplo de que a língua é dinâmica e não estática. Você já notou que no Brasil se privilegia um modelo ideal de fala, considerado mais “bonito”,mais “certo”? É frequente ouvirmos que a fala nordestina é “carregada”, “feia”... “bonito” é como falam o carioca e o paulista. Nada mais que precon- ceitos. O Brasil é um país muito extenso, e a sonhada uniformidade linguística dificilmente pode ocorrer. Cada cultura tem seu valor próprio, e o respeito a cada uma que compõe nosso país é fundamental se nos consideramos cidadãos humanos e tolerantes uns com os outros. O que você pensaria se fosse obrigado a falar e a escrever como os portugueses? “Mas quem poderia impor isso?”, perguntaria alguém. Desde a ascensão fascista em 1922, na Itália, o ditador Benito Mussolini tratou de proibir o uso dos dialetos regionais na Itália: apenas o italiano formal – romano – era permitido. Às vezes, essa imposição aparece mascarada, e nem a notamos. Pense em “como falamos realmente”, pense em “como aprendemos que devemos falar”. Variações diacrônicas Há outro tipo de variação que depende da épo- ca, do tempo em que é empregada: são as variações diacrônicas. Uma mesma sociedade, em épocas di- ferentes, se vale de palavras e expressões restritas ao período em que ocorrem. Algumas delas que hoje nos soam bastante normais podem, em menos de um século, tornar-se verdadeiros arcaísmos, palavras em desuso. Exemplos: ` O degas não admite isso. Eu não admito isso. Antigamente, usava-se a expressão “o degas” para se referir ao falante como terceira pessoa. Hoje, está em desuso. Se você disser a seus pais “O degas tirou nota baixa em Matemática”, provavelmente eles não enten- derão que você foi mal nessa disciplina. Você já percebeu que o modelo de língua que nos é imposto é baseado no modo como escreveram alguns dos autores de nossa literatura do século re- trasado? Pode a língua ser congelada no tempo? O modelo ideal de linguagem no século XIX pode hoje ser imposto aos falantes do século XXI? Você já viu o filme “Desmundo”? Pode ser uma boa oportunidade para notar como era o Português no Brasil do século XVII. O filme vem, inclusive, com legendas para que nós, brasileiros, possamos entender o que as personagens falam, tamanha a discrepância entre aquele modo de falar e o atual. Cena do Filme Desmundo, de Alain Fresnot. D iv ul g aç ão E M _1 S_ G R A _0 01 4 Variações diafásicas Relevando-se as situações em que variam tem- po, espaço e classe social, a língua tem variações contextuais, adaptadas à situação em que o falante se encontra, às quais chamaremos variações diafá- sicas. Dessa maneira temos, pelo menos, duas varia- ções diafásicas: a escrita e a falada, que também afetam uma à outra. Diz-se comumente que a escrita é menos livre que a fala. Por quê? Quando falamos, há outras lin- guagens de que dispomos para a expressão. Falamos, mas também gesticulamos, fazemos expressões, comunicamo-nos com os olhares, com um sorriso. Assim, o ouvinte tem não apenas o texto verbal que emitimos, mas também um contexto que colabora na interpretação da mensagem. Você tem um gosto para roupas... Essa mesma frase terá sentidos diferentes em função do contexto em que é falada. Pode querer dizer que o ouvinte tem um péssimo ou um ótimo senso estético. Entretanto, o falante não precisaria de nada mais que um contexto para aplicar sua frase e ser entendido. A mesma fala reproduzida na escrita poderia não comunicar exatamente a intenção de quem a produziu. Dispomos, portanto, de maior liberdade na linguagem falada porque outras linguagens nos au- xiliam no processo comunicativo. Na escrita, então, não dispomos de liberdade? Claro que sim! Mas dependendo da situação, temos uma preocupação com a linguagem para que consigamos a exata re- produção do que queremos expressar. Variações linguísticas da escrita Variações linguísticas da fala Formal Formal Informal Informal (coloquial) Fala Variação informal As principais características do coloquialis- mo são: frases curtas, de estruturação sintática simples; uso de gírias e de expressões populares; simplicidade vocabular – o repertório (“vocabulá- rio”) utilizado é pequeno; redução e simplificação fonológica de vocábulos; presença rara de nexos subordinativos. Variações diastráticas Há também as variações diastráticas. Diferen- te das de tempo e espaço, a diastrática refere-se à possibilidade de variação linguística em função da classe social em que o falante se insere. Numa mesma cidade, verificam-se modos distintos de falar, expres- sões próprias de determinadas classes sociais. Essas variações não se anulam, ao contrário, somam-se. As classes sociais mais pobres se expressam dife- rentemente das mais ricas porque são educadas em contextos sociais diferentes. Mas sempre ocorre de uma variação ser afetada por outra. No Rio de Janeiro e em São Paulo, por exemplo, termos próprios dos lugares mais pobres ganham cada vez mais espaço na mídia televisiva e, conse- quentemente, nas classes mais abastadas em função do funk, do rap, do hip-hop, que trazem uma lingua- gem contestatória à padrão. 1. Nóis semo pobre, mais nóis veve bem. 2. Nós somos pobres, mas vivemos bem. Dentro do contexto social em que 1 é aplicada, não há problemas na comunicação, embora a norma padrão da língua preveja a construção 2. VARIAÇÃO DIASTRÁTICA Veja o filme “Domésticas”. Seus diálogos são bons porque o roteirista respeitou o modo de falar das personagens. Se ele se preocupasse em criar para as personagens uma linguagem mais “culta”, correria o risco de fazer de suas próprias persona- gens seres artificiais e desprovidos de consciên- cia própria. Além disso, seria interessante notar quanto nossa maneira de falar é influenciada por expressões legítimas da linguagem dita popular, este termo é também carregado de preconceito. Tornamo-nos menos cultos por isso? Cartaz de “Domésti- cas”, filme de Fernan- do Meirelles. D iv ul g aç ão E M _1 S_ G R A _0 01 5 Exemplos: ` Exemplos extraídos de “O Quinze”, de Rachel de Quei- roz. – Mãezinha, cadê a janta? – Cala a boca, menino! Já vem! – Vem lá o quê!... (...) – Mãe, tou com fome de novo... – Vai dormir, dianho! Parece que tá espritado! Soca um quarto de rapadura no bucho e ainda fala em fome! Vai dormir! Perceba nesses trechos da obra: frases curtas; estrutura- ção sintática simples; há também expressões populares e regionais; “estou” , “está” tornam-se “tou”e “tá”; seleção lexical simples (soca, bucho). Exemplos: ` Exemplos extraídos de “Seara Vermelha”, de Jorge Amado. – Isso é homem que não guenta o trabaio... Quer é vagabundar, ganhar dinheiro fácil... (...) – Só tratam ele de coronel... Foi ele que mandou dinheiro pra gente vim... Vamos trabaiá em terra dele... Dizque só pé de café tem tanto que nem se pode contar... Nesse trecho de “Seara Vermelha”, Jorge Amado re- produz a simplificação fonética feita por muitos falantes (variações diastráticas): “aguenta”, “trabalho” tornam-se “guenta”, “trabaio”. Dos usos independentes de classe social temos: “para” torna-se “pra”; o autor também exemplifica o uso dos pronomes tônicos sem preposição “tratam ele”, que equi- valeria, na norma padrão, a “tratam-no” ou “o tratam”. O uso coloquial do infinitivo do verbo vir: “vim”. Exemplos: ` Veja esta tira de Laerte, com os personagens Gato e Gata. L ae rt e Variação formal As principais características da variação for- mal oral são: frases mais extensas, de estrutura- ção sintática mais complexa em comparação com o coloquial; pouco uso de gírias e de expressões populares; seleção vocabular mais apurada – o repertório utilizado é mais vasto que no discurso coloquial; também ocorre redução e simplificação fonológica de vocábulos. No “Sermão da Sexagésima”, o Padre Antônio Vieira trata da arte de pregar. Vejamos um trecho: Exemplos: ` Será por ventura o estilo que hoje se utiliza nos púl- pitos? Um estilo tão dificultoso, um estilo tão afetado, um estilo tão encontrado a toda arte e a toda natureza? Boa razão é também esta. O estilo há de ser muito fácil e tambémmuito natural. Por isso, Cristo comparou o pregar ao semear. Compara Cristo o pregar ao semear, porque o semear é uma arte que tem mais de natureza que de arte. Encontramos nesse exemplo: construções sintáticas mais complexas; seleção de palavras (em negrito) mais rigo- rosa; paralelismo gramatical (construções semelhantes justapostas – sublinhados); locuções com “haver” (há de ser). Escrita Variação informal As principais características da variação infor- mal escrita são: preocupação maior com a men- sagem e menor com a norma padrão; construções sintáticas simples; seleção vocabular simplificada; pouco uso de nexos coesivos; permissão de uso de expressões coloquiais; pontuação aleatória, uso principalmente do ponto. A música “Meu caro amigo”, de Chico Buar- que, é estruturada como uma carta dele a um amigo brasileiro exilado. Perceba a linguagem usada, as expressões empregadas, a despreocupação com a norma padrão do idioma. Meu caro amigo,me perdoe, por favor, Se eu não lhe faço uma visita, Mas como agora apareceu um portador, Mando notícias nessa fita. E M _1 S_ G R A _0 01 6 a aleatoriedade de sua disposição, impede a comu- nicação. Isso o falante não aprende em nenhum livro. Essas noções ele extrai de sua relação com a língua, de sua observação dos fatos linguísticos. Se não houvesse essas regras intuitivas, a comu- nicação seria totalmente caótica, e a língua estaria fadada a desaparecer. Cada um construiria frases com palavras na ordem em que bem entendesse. Os falantes, então, constroem palavras e frases seguindo esse sistema, e adaptam esse esquema ao longo do processo evolutivo do idioma. Poderíamos dar a esse sistema adaptado pelos falantes o nome de gramá- tica – esta todos nós sabemos. Além dela, há um conjunto de regras específicas que visam impor determinado modelo de língua a ser seguido: à disciplina que estuda esses padrões mutáveis chamamos Gramática. A gramática é natural; a Gramática é artificial. À ciência que estuda os fatos da língua, que os expõe e os analisa em seu uso prático é a Linguística. O que ela nos diz é que a gramática é do conheci- mento de qualquer usuário da língua. A Linguística é uma ciência nova que tem procurado combater os excessos e os abusos de poder da Gramática. Por que a Gramática do português é tão temida pelos alunos que sabem intuitivamente a gramática do português? De que modo a Linguística surge como uma ciência nova e imprescindível para o estudo de qualquer língua nos dias de hoje? Os desafios da Gramática Quando estudamos um idioma novo, primei- ramente somos apresentados a algumas palavras básicas e, em seguida, a um tipo de estrutura que nos permite formar frases, formular ideias nesse idioma. Assim, aprendemos pronomes pessoais, artigos, al- guns substantivos e o verbo ser, por exemplo, somos capazes de formular várias sentenças. Eu sou um estudante. Isto é um livro. Maria é uma bibliotecária. e por aí vai... Estruturamos frases porque é a partir delas que formulamos ideias e expomos nossos pensamentos. O ser humano tem uma habilidade inata para a estruturação linguística. A criança, por exemplo, compreende frases que nunca ouviu antes. Isso significa que, em torno de ideias que ela já tem, constrói e assimila novas ideias. Quando inicia o es- tudo no colégio, a criança começa a ter contato com Aqui na terra ‘tão jogando futebol, Tem muito samba, muito choro e rock’n’ roll. Uns dias chove, noutros dias bate sol, Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa [aqui tá preta. Muita mutreta pra levar a situação, Que a gente vai levando de teimoso e de [pirraça, E a gente vai tomando, que também, sem a [cachaça, Ninguém segura esse rojão. Variação formal As principais características da variação for- mal escrita são: preocupação com a gramática normativa, embora se note também o desrespeito a ela; construções sintáticas mais rebuscadas que no informal; ampla seleção vocabular; preocupação com nexos coesivos; pouco uso de expressões colo- quiais; pontuação a favor da compreensão do texto – uso do ponto, da vírgula, dos travessões etc. Exemplos: ` O Brasil não é um país sem políticas sociais. Pelo con- trário, nós as temos em abundância. O problema é que elas tendem a ajudar os que menos precisam. Sendo assim, devemos festejar um novo intento de aliviar as injustiças da nossa sociedade. O MEC pretende reservar 50% das vagas de suas universidades para os alunos de escolas públicas, sabidamente mais pobres que os das particulares. Quando nada, evitamos os pesadelos de implementar cotas raciais. CASTRO, Claudio de Moura. A maquiagem do monstro. São Paulo: In: VEJA, 26 maio 2004. A gramática O que é gramática? O que é Gramática? Toda língua tem um sistema como fundamento para sua permanência e para sua evolução. O es- quema linguístico se constitui de um conjunto de regras intuitivas que os falantes trazem consigo. Por exemplo, um usuário do português não faria uma construção como esta: Carro o velha atropelou senhora uma. Apesar de todas as palavras empregadas acima pertencerem ao português, sua ordem na frase, ou E M _1 S_ G R A _0 01 7 o “Português”, aquela disciplina cheia de regras e cheia de exceções. A Gramática se torna, assim, um grande obstáculo para sua evolução comunicativa. Por quê? Antigamente, predominava nos livros didáticos a Gramática Clássica, que se subdivide em Descriti- va e Normativa. Assim, entendemos por Gramática Clássica o conjunto da descrição e da classificação dos fatos do idioma – Gramática Descritiva – e da disposição das regras em vigor para a uniformi- dade da comunicação – Gramática Normativa. A Gramática Clássica, porém, sempre foi (bem) mais normativa do que descritiva. Daí a nossa ideia de que Gramática é regra + exceção. Em vez de impor aos falantes uma forma de falar, o objetivo da Gramática deve ser registrar como os falantes se utilizam da língua. Mas não é bem isso que tem ocorrido. A Gramática condena como erradas várias construções que, no Brasil, já são aceitas até mesmo na linguagem literária de alta formalidade. Me disseram que ele estava aqui. (construção condenada pela Gramática). Disseram-me que ele estava aqui. (construção imposta pela Gramática). A propósito, veja o que dizia Oswald de Andra- de a esse respeito. Pronominais Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro (ANDRADE, Oswald de. Poesias Reunidas. 5. ed. São Paulo: Civilização Brasileira, 1971, p.125.) A construção da frase existe, porém, não é aceita por alguns gramáticos. Não é aceita “porque é popular”, “porque não é a formal”, porque não é a imposta por uma elite intelectual que dita as regras da língua “culta”. Por que a Gramática não a aceita, se ela existe, e, sobretudo, se estabelece a mesma comunicação que a frase “correta”? Este é um desafio que a Gramática precisará encarar no novo milênio: entender a língua como ferramenta de comunicação e não como meio de imposição a seus usuários e instrumento de discri- minação linguística. A Linguística tem dado grandes passos na mu- dança da visão clássica e tradicional da Gramática, e isso é muito importante para nós, que somos diretamen- te afetados pela norma padrão que nos é imposta. Poderíamos dizer, então, que a Gramática não serve para nada e que a gramática é que importa? Não é tão simples assim. A Gramática amplia nosso domínio sobre o idioma. Vivemos em uma so- ciedade que valoriza o “domínio da língua”, numa sociedade que escreve leis, livros, artigos de jornal, numa variação linguística à qual poucos têm aces- so. Devemos democratizar o acesso à informação e, sobretudo, à comunicação. Se você acha que isso é mera teoria da conspi- ração, converse com pessoas que presenciaram, du- rante as eleições de 1989, 1994 e 1998, o preconceito linguístico associado ao candidatoa Presidência da República, Luís Inácio Lula da Silva. Tenha em mente que a Gramática deve propor modelos de construções para a escrita, mas não deve impô-los a nós. Vamos aprender a norma padrão, sim, mas sem nos tornarmos seus escravos. Nomenclatura Gramatical Brasileira Descrever a língua é uma atividade muito mais complexa do que simplesmente usá-la. Você poderia perguntar: para que descrever o idioma? Somos racionais e, portanto, formulamos con- ceitos e opiniões a respeito do mundo. Nossa ne- cessidade de descrever nasce de outra necessidade que temos: a de entender. Agrupamos os animais, por exemplo, em categorias da zoologia, ou melhor, em filos. Esses filos se subdividem em classes que, por sua vez, se subdividem e assim se segue. O agrupamento em filos nos diz, por exemplo, que nós e os peixes – que pertencemos ao mesmo filo, o dos cordados – temos características comuns. O agrupamento em classes nos informa que nós e os tigres – pertencentes à classe dos mamíferos – temos características comuns mais específicas ainda, ou seja, os peixes não têm certas características que os homens e os tigres têm. Enfim, a descrição de fatos e as classificações nos ajudam a compreendê- los melhor. Pois bem, voltemos ao nosso raciocínio. Dizía- mos que descrever um idioma é uma tarefa difícil e E M _1 S_ G R A _0 01 8 complexa. E o é mais ainda se não dispusermos de um conjunto de termos uniformizados. Suponhamos que você, na 5.ª série, tenha estu- dado os substantivos com esse termo. Na 7.ª série, ao retomar o assunto, o professor tenha dado um outro nome a eles, por exemplo, massas; no 1.º ano surge o termo nomes para se referir a eles, e, ao ficar extremamente confuso e abrir um livro de Gramática para sanar sua dúvida, você encontra a terminologia filos. Seria um caos o ensino da língua, não é? Pois saiba que isso acontecia muito frequen- temente até 1958, não exatamente da forma como exemplificamos acima, mas de modo bem parecido. Como não havia uma terminologia uniforme, os gramáticos davam aos objetos de descrição da língua o nome que bem entendiam. O que era chamado de pronome em um livro recebia o nome de adjetivo em outro. “Complemento terminativo”, “complemento relativo”, eram a mesma coisa, mas em livros diferen- tes. Enfim, a vida de professores de português e a dos alunos era ainda mais complicada do que é hoje. Em 1958, um grupo de gramáticos “notáveis” da época reuniram-se e formularam o conjunto de termos padronizados a ser usados pelos autores de gramáticas. Surgia a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB). A NGB resolveu muitos problemas na época e foi um grande avanço no ensino da Língua Portuguesa no Brasil. Mas se resolveu uns, criou outros. Se você abrir uma gramática, vai perceber que elas estão repletas de explicações do tipo: “A NGB não reconhece a existência de orações modais.” “A NGB não classifica as circunstâncias dos adjuntos adverbiais.” Isso significa que a NGB tem problemas, mas desde 1958 não é revista. Isso é um obstáculo ao avanço do ensino do português no Brasil. A Linguística só passou a ganhar espaço no Bra- sil na década de 1970, mas a terminologia continua arcaica, retrógrada. Por esse problema, usaremos a NGB, afinal é ela que ainda define os termos tais quais aparecem nos exames vestibulares, entretanto faremos uso de outros termos que nos parecem mais didáticos no processo de entendimento do idioma. O conceito de sintagma e de complemento circunstancial (que não constam da NGB) serão usados como termos-chave que, posterior- mente, serão substituídos pelos termos da NGB. Agora que você já sabe o que é Linguística, o que é Gramática, o que é NGB, vamos começar nosso estudo do português. Levaremos sempre em consideração o que nos motiva a estudar o idioma: a evolução do processo comunicativo. Objetos de estudo da Gramática O estudo da Gramática é tradicionalmente dividido em áreas específicas do conhecimento gra- matical. As tradicionais são: Fonologia, Ortografia, Morfologia e Sintaxe. A Fonologia estuda os sons da fala que possibi- litam a formação e a compreensão dos vocábulos. A Ortografia ocupa-se do estudo da grafia cor- reta dos vocábulos em relação ao sistema vigente, isto é, em relação às regras válidas em determinado período. A Morfologia ocupa-se da formação das pa- lavras e de sua classificação em grupos que apre- sentam características comuns, tais como o dos substantivos e o dos verbos. A Sintaxe estuda a construção das frases a partir do agrupamento das palavras. Não nos deteremos, porém, apenas a esses as- suntos. Faremos, também, o estudo de alguns aspec- tos de Semântica, ciência que estuda a significação, ou seja, o conjunto de ideias, de significados a que associamos sinais. Você já notou que nas músicas também ocor- rem variações linguísticas? Há aquelas em que se adota nível formal, há outras com tom coloquial. Tudo depende da intenção do autor. Chico Buarque, no texto abaixo, quer dar à sua poesia um tom formal ao se dirigir a alguém ausente. Adoniran Barbosa, no texto que segue o de Chico Buarque, procura uma aproximação entre a linguagem escrita e a falada. Os dois são eficazes no que querem traduzir. Ambos são adequados aos contextos em que procuram envolver o leitor/o ouvinte. Ambos são corretos. Note, porém, que a norma padrão é ve- rificada no texto 1, mas não no 2. Pedaço de mim Chico Buarque Oh, pedaço de mim, Oh, metade afastada de mim, Leva o teu olhar, Que a saudade é o pior tormento, E M _1 S_ G R A _0 01 9 A vez que isso num tem importância, num faz má Depois que nóis vai, depois que nóis vorta, Assinado em cruz porque não sei escrever, Arnesto” Cais, cais, cais, cais, cais, cais, cais... Adoniran Barbosa/1955 Disponível em: <http://letras.terra.com.br/adoniran-barbosa> É pior do que o esquecimento, É pior do que se entrevar. Oh, pedaço de mim, Oh, metade exilada de mim, Leva os teus sinais, Que a saudade dói como um barco Que aos poucos descreve um arco E evita atracar nos cais. Oh, pedaço de mim, Oh, metade arrancada de mim, Leva o vulto teu, Que a saudade é o revés de um parto; A saudade é arrumar o quarto Do filho que já morreu. Oh, pedaço de mim, Oh, metade amputada de mim, Leva o que há de ti, Que a saudade dói latejada. É assim como uma fisgada No membro que já perdi. Oh, pedaço de mim, Oh, metade adorada de mim, Lava os olhos meus, Que a saudade é o pior castigo, E eu não quero levar comigo A mortalha do amor. Adeus! Chico Buarque/1977-1978 Para peça Ópera do Malandro Disponível em: <www.chicobuarque.com.br> Samba do Arnesto Adoniran Barbosa O Arnesto nos convidô prum samba, ele mora no Brás. Nóis fumo e não encontremo ninguém. Nóis vortemo cuma baita duma reiva. Da outra veiz nóis num vai mais. Nóis não semo tatu! Outro dia encontremo com o Arnesto, Que pidiu descurpa, mais nóis não aceitemo. Isso não se faz, Arnesto, nóis não se importa, Mais você devia ter ponhado um recado na porta, Anssim: “Ói, turma, num deu prá esperá B CCCC D E A Num anúncio dos Correios, transcrito abaixo, explique 1. por que o anunciante optou pelo uso de outra variação linguística, ao invés da padrão. NÓS CUNHECE O CAMINHO DA ROÇA CUMO NINGUÉM SEDEX. LÍDER ABSOLUTO NA ENTREGA DE ENCOMENDAS EM TODO O PAÍS. Solução: ` O anunciante fez uso da variação linguística menos urba- na, mais rural. Com isso, reforça a ideia de que atende não apenas às necessidades do meio urbano, mas também às do meio rural. (Ibmec – modificada) Mais importante do que falar 2. correto, é saber escolher a variante linguística adequada a cada situação concreta de comunicação. Assinale a alternativa em que a variante linguística não é compatível com o gênero do texto indicado entre parênteses. “Nada pior para uma boa causa do que maus a) defensores: é o que ocorre com a ecologia.” (Introdução a um texto dissertativo) “Tu que tá acostumado a esculachá os outro e ga-b)nhá os cara na manha, te manca, que a tua hora vai chegá.” (Ameaça feita por um morador de periferia a um desafeto da mesma região e classe social) “Onde tem teatro, nós estamos por trás. Nos últi-c) mos quatro anos, a Volkswagen investiu R$ 27 mi- lhões em projetos culturais como: teatro, música, exposições de arte, cinema e literatura. Não é favor, é nossa obrigação.” (Anúncio publicitário veiculado em revista de artes) “A história que começou há cinco séculos, nestas d) praias de Porto Seguro, deu origem a uma das E M _1 S_ G R A _0 01 10 grandes nações do mundo. Um país que nos orgu- lha pelo que já é, e nos inspira e desafia por tudo aquilo que pode vir a ser. Como toda criança, eu imagino, foi a geografia, antes da história, que pri- meiro me deu o sentimento de grandeza do Brasil.” (Discurso de uma autoridade numa comunicação solene) “Ontem, quando cheguei em casa, aborreci-me e) com a notícia de que não havia água. Como agra- vante, esclareça-se que já faziam cinco dias que o líquido precioso nos faltara. Custou-me conciliar com o sono sem o conforto de um banho.” (Fala de um senhor de estrato social elevado, apegada à rigidez gramatical) Solução: E ` Os apegados à rigidez gramatical dizem que com verbos de movimento para algum lugar (ir, chegar, dirigir-se...) devemos usar a preposição “a”. Assim, de acordo com a norma padrão, se diria: Ontem, quando cheguei àcasa... Além disso, em “faziam cinco dias”, a norma padrão prevê que o verbo fazer não tem sujeito e, portanto, deve ficar na terceira pessoa do singular. ... já fazia cinco dias... No último período, há uma imprecisão na linguagem: conciliamos algo a outra coisa. De acordo com a norma padrão, teríamos: Custou-me conciliar o sono ao desconforto de não ter tomado um banho. O exemplo é interessante porque mostra que mesmo as pessoas mais instruídas no Brasil não respeitam total- mente às prescrições da norma padrão. Isso porque ela é, muitas vezes, pouco natural. Causa-nos estranheza “chegar à casa” como o “correto” de “chegar em casa”. Desta forma, conclui-se que ninguém consegue seguir o que postula a gramática normativa. Suponha que você se encontre numa situação 3. mais formal - por exemplo, presidindo uma reunião de dire- tores de faculdades - e tenha que usar as frases abaixo. Traduza-as, adequando-as à situação. Já que ele não a) entra no nosso time, tenho que despedi-lo. O dia em que precisar, vou b) pendurar minha chu- teira. Vamos c) dar um chute no Azevedo: ele tem traba- lhado mal. O proprietário preferiu d) tirar o time de campo, pois a situação não lhe foi favorável. Lamento, mas tive que e) entrar de sola. Ele deve estar por f) dentro da jogada. Realmente, não sei como g) driblar essa situação. Solução: ` a) Já que ele não se adapta ao nosso esquema de trabalho,... b) ... vou aposentar-me. c) ... demitir o ... d) ... preferiu retirar-se, pois... e) ... tive que ser rigoroso. f) ... estar ciente da situação. g) ... como contornar... B CCCC DDD E A Associe os elementos da coluna da direita com os da 1. esquerda. a) Língua ( ) Sistema sonoro e gráfico que define a comunicação social em determinada época. b) Linguagem ( ) Alterações em um mesmo sistema de comunicação social. c) Variação linguística ( ) Conjunto de códigos que objetivam a comunicação. Associe os elementos da coluna da direita com os da 2. esquerda. 1. Variações diatópicas ( ) a) Variações linguísticas oriundas da diferenciação social. 2. Variações diacrônicas ( ) b) Variações linguísticas oriundas da diferenciação de contextos em que o falante se insere. 3. Variações diastráticas ( ) c) Variações linguísticas decorrentes da evolução temporal da língua. 4. Variações diafásicas ( ) d) Variações linguísticas decorrentes da diferenciação cultural de regiões geográ- ficas. E M _1 S_ G R A _0 01 11 Associe as variações linguísticas da fala aos contextos 3. em que são mais bem aplicadas. 1. Variação formal ( ) a) Conversa num bar com os amigos. 2. Variação coloquial ( ) b) Entrevista de emprego para gerência de empresa. ( ) c) Discurso político em um comércio. ( ) d) Discurso sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) em conferência médica. ( ) e) Discurso sobre DSTs em escola de Ensino Médio. Associe as variações linguísticas da escrita aos contextos 4. em que podem ser aplicadas. 1. Variação formal ( ) a) Carta para a família. 2. Variação informal ( ) b) Notas pessoais com tópi- cos para prova de Geografia. ( ) c) Comunicado público de uma empresa sobre problemas num produto. ( ) d) Bilhete para a namorada. ( ) e) Carta de apresentação para emprego. Assinale as características predominantes num texto 5. escrito de maneira formal. Escrita em desacordo com a variante linguística a) padrão. Ausência de nexos entre frases e parágrafos.b) Uso de gírias e de expressões típicas da fala.c) Simplificação fonológica das palavras.d) Clareza e objetividade.e) Faça a correta associação entre os elementos da coluna 6. da esquerda com os da direita. a) Fonologia ( ) Estudo do agrupamento de palavras em sentenças. b) Ortografia ( ) Estudo da significação das pala- vras. c) Semântica ( ) Estudo da correta escrita dos vo- cábulos. d) Morfologia ( ) Estudo dos sons da fala capazes de fornecer a identificação de um vo- cábulo. e) Sintaxe ( ) Estudo dos elementos formadores das palavras e do agrupamento destas em classes. Leia o seguinte texto, letra da música “Tiro ao Álvaro”, de Adoniram Barbosa. Servirá de base para as questões 7, 8 e 9. De tanto levar frechada do teu olhar, Meu peito até parece sabe o quê? Tauba de tiro ao álvaro, Não tem mais onde furar. Teu olhar mata mais do que bala de carabina, que veneno estriquinina, que peixeira de baiano. Teu olhar mata mais do que atropelamento de automóvel, Mata mais que bala de revórver. Quanto ao texto, assinale a alternativa correta.7. O texto está errado do ponto de vista gramatical.a) O texto está escrito de acordo com a norma padrão b) do idioma. Os “erros” presentes no texto justificam-se pela c) tentativa de se registrar na escrita uma maneira co- loquial de expressão. À exceção da grafia, o texto está de acordo com a d) variação linguística formal. O texto está correto do ponto de vista gramatical.e) Caso o autor do texto substituísse os elementos “fre-8. chada”, “tauba”, “estriquinina”, “álvaro” e “revórver”, respectivamente, por “flechada”, “tábua”, “estricnina”, “alvo” e “revólver”, o texto se adequaria ao padrão formal do idioma.a) o texto se tornaria incorreto do ponto de vista gra-b) matical. melhoraria a expressão poética.c) haveria considerável perda de efeito expressivo no d) texto. não haveria nenhuma mudança expressiva no e) texto. O uso da variação linguística empregada no texto mostra 9. que: a correção gramatical não existe em textos poéticos.a) E M _1 S_ G R A _0 01 12 para cada contexto, há uma variação linguística a b) ser empregada. é sempre adequado o desrespeito à norma padrão c) do idioma. é sempre inadequado o desrespeito à norma pa-d) drão do idioma. a Gramática não tem relevância na construção dos e) textos. (UFES) A cada situação de fala está indicada uma frase 10. de uso. Assinale a correspondência adequada. Situação 1: um candidato a cargo público fala à co-a) munidade de uma favela. Frase: “Ensejo encerrar para sempre a falta de água neste logradouro.” Situação 2: o Reitor de uma Universidade fala à co-b) munidade acadêmica. Frase: “Os professores e os demais servidores hão de convir que a escolha dos dirigentes da universi- dade deve ser feita com todo cuidado e sem aço- damento.” Situação 3: um microempresário fala aos funcioná-c) rios de limpeza de sua fábrica: Frase: “Esta fábrica é uma das líderes em registro online, servindo a mais de 1000 clientes de um pool de empresas de economia mista.” B CCCC D E A (UNAMA-PA) Leia, com atenção, o textoabaixo para 1. responder à questão de número 1. “A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros Vinha da boca do povo na língua errada do povo Língua certa do povo Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil Ao passo que nós O que fazemos É macaquear A sintaxe lusíada.” (Evocação do Recife. Manuel Bandeira) A leitura do texto permite afirmar que: só a língua escrita deve ser considerada como cor-a) reta. o povo fala errado o português do Brasil.b) devemos seguir as regras da sintaxe lusitana.c) os escritores brasileiros devem considerar a lingua-d) gem do povo. (Ibmec) Leia o seguinte texto.2. “... A gramática deverá, primeiro, colocar em seu devido lugar as afirmações de cunho normativo: não necessariamente suprimindo-as, mas apresentando o dialeto padrão como uma das possíveis variações da língua, adequada em certas circunstâncias e inadequada em outras (é tão “incorreto” escrever um tratado de filosofia no dialeto coloquial quanto namorar usando o dialeto padrão). Depois, a gramática deverá pelo menos descrever as principais variantes (regionais, sociais e situacionais) do português brasileiro, abandonando a ficção, cara a alguns, de que o português no Brasil é uma entidade simples e homogênea. Finalmente, e acima de tudo, a gramática deverá ser sistemática, teoricamente consistente e livre de contradições.” (PERINI, M. A. Para uma Nova Gramática do Português, 7. ed. São Paulo, 1988: Ática) As regras gramaticais não podem prescrever um I. só padrão linguístico para todas as situações, pois existem variantes linguísticas distintas. A descrição linguística deve abandonar a literatura II. de ficção, cujo custo é inacessível para grande par- te da população. A descrição das principais variantes deve demons-III. trar a heterogeneidade e a complexidade do portu- guês no Brasil. Assinale a alternativa correta, relacionando o texto às afirmações. Todas estão corretas.a) Apenas I e II estão corretas.b) Apenas I e III estão corretas.c) Apenas II e III estão corretas.d) Todas estão incorretas.e) Observe as seguintes frases.3. “Mandaram eu ligar pra ela.”I. “Ordenaram-me que telefonasse a ela.”II. Crie um contexto em que a frase I seja mais adequada e outro em que a frase II seja a mais recomendada. As expressões abaixo são próprias do discurso coloquial. 4. Reescreva-as usando equivalentes do discurso formal. Se a gente quer ter grana, tem que trabalhar pra a) chegar lá. Aquele cara é dez: sempre tá a fim de ajudar a gen-b) te. E M _1 S_ G R A _0 01 13 Não quero tirar o corpo fora, mas isso vai dar c) pane. A mina não caiu na conversa dele.d) Leia os textos abaixo para responder às questões de 5 a 10. O texto 1 foi escrito em 1997, assinado por Sérgio Limolli da revista Istoé. O texto 2 é do século XVIII, do filósofo e pensador Jean-Jacques Rousseau. TEXTO 1 (final do século XX) Fala-se mal o português. Ou melhor, fala-se errado. Ninguém aguenta mais ouvir erros grosseiros do tipo “houveram acidentes” ou é “para mim fazer”. Para os mais letrados, essas agressões ao idioma têm ferido tanto os ouvidos que se decidiu partir para um contra- -ataque. Pelo menos três rádios de São Paulo e uma emissora de televisão estão veiculando pequenos inserts de especialistas com dicas para não maltratar tanto a língua mãe. Longe de se parecerem com aquelas modorrentas aulas de gramática cheias de regras que ninguém sabe bem para que servem, essas intervenções são antes de mais nada bem-humoradas. Ensinam o que se pode chamar de gramática de resultados. Ou seja, dicas úteis e sem complicações das expressões mais usadas no dia-a-dia. (LIMOLLI, Sérgio, IstoÉ, 20/8/97. In: BAGNO, Marcos. Dramática da Língua Portuguesa – Tradição gramatical, mídia & exclusão social. São Paulo: Loyola, 2000.) TEXTO 2 (século XVIII) Que uma expressão seja ou não seja o que se chama de francesa ou de bom uso, não é disso que se trata; as pessoas só falam e escrevem para fazer-se entender; desde que sejamos inteligíveis, alcançamos nosso objetivo; mas quando se é claro, melhor ainda. Falai, pois, com clareza para quem quer que entenda o francês; essa a regra e estai certo de que, mesmo cometendo uma demasia de cento e cinquenta barbarismos, não tereis escrito menos bem. Vou ainda mais longe e sustento que é mister, às vezes, cometer erros de gramática para ser claro; é nisso e não em todas as pedantices do purismo que consiste a verdadeira arte de escrever. (ROUSSEAU, Jean-Jaques, In: BAGNO, Marcos, op. cit.) Glossário: ` modorrento: estúpido, sonolento, enfadonho. pedantice: arrogância, presunção, pretensão. O texto 1 defende a ideia de que:5. não existe Língua Portuguesa se não se faz uso da a) gramática normativa, isto é, da norma padrão. a Língua Portuguesa deve ser ensinada nas escolas b) por meio de dicas de uso prático. falar errado português significa não saber adequar c) a língua ao contexto. todos os brasileiros falam mal o português.d) somos bons usuários da Língua Portuguesa.e) O texto 2 defende a ideia de que:6. a gramática está acima da clareza e da inteligibilida-a) de das declarações. escrever bem significa cometer cento e cinquenta b) barbarismos. erros de gramática são irrelevantes no processo c) comunicativo. fala-se para respeitar os padrões prescritos pela d) gramática. a verdadeira arte de escrever implica aceitar as pe-e) dantices do purismo. Os textos 1 e 2 se opõem em suas ideias porque7. Rousseau é a favor da liberdade linguística; Limolli, a) por sua vez, acredita que essa liberdade nasce do conhecimento de regras da língua. Limolli defende o uso irrestrito da língua, ao passo b) que Rousseau cede às pressões dos puristas. Limolli analisa o português, ao passo que Rousseau c) fala do francês apenas, e o que vale para uma lín- gua não necessariamente é válido para outra. o português usado no Brasil não apresenta os pro-d) blemas que o francês tinha no século XVIII. para Rousseau, as frases que Limolli julga incorre-e) tas são inteligíveis e, portanto, não estão erradas. A matéria de Limolli, intitulada “O Português está no 8. ar”, vai além em sua análise da necessidade urgente de salvarmos a Língua Portuguesa. Em um trecho dessa matéria, percebemos a seguinte afirmação: “Só índio fala para mim fazer.” Analise as propostas abaixo e julgue os itens como verdadeiros ou falsos. ( ) A afirmação não procede: “para mim fazer” é a) estrutura já enraizada no modo de falar do brasilei- ro; apenas não é a construção prevista pela norma padrão. ( ) Ocorre implícito preconceito contra os índios b) na afirmação. ( ) Existimos como falantes para servir à gramáti-c) ca e, portanto, devemos respeitá-la como respeita- mos às leis. E M _1 S_ G R A _0 01 14 ( ) A construção “para mim fazer” existe na Lín-d) gua Portuguesa do Brasil porque somos descen- dentes de índios. “9. Para os mais letrados, essas agressões ao idioma têm ferido tanto os ouvidos que se decidiu partir para um contra-ataque.” Nesse trecho do texto 1, o autor demonstra seu preconceito em relação ao modo como fala a maioria dos brasileiros. Por quê? Para auxiliar sua resposta: ` A expressão destacada se refere a que parcela da po- pulação brasileira? “As pessoas só falam e escrevem para fazer-se entender.” 10. Nesse trecho do texto 2, Rousseau desmonta a teoria de que o estudo da norma padrão serve para salvar o idioma do caos. Por quê? Para auxiliar sua resposta: ` Os defensores da norma padrão dizem que, se não hou- vesse um modelo ideal de língua, o português tenderia a desaparecer. (ITA modificada) O texto abaixo, de divulgação cientí-12. fica, apresenta termos coloquiais que, apesar de muito expressivos, não são comuns em textos científicos. Re- escreva o texto, utilizando a linguagem no nível formal. A ciência vive atrás de truques para dar uma rasteira genética no câncer, mas desta vez parece que pesquisadores americanos deram de cara comum ovo de Colombo. Desligando um só gene, eles pararam o crescimento do tumor. Melhor ainda: quando a substância que suprimia o gene parava de agir, ele se atirava, outra vez - mas a favor do organismo, ordenando a morte do câncer. (JOSÉ REINALDO LOPES. Gene “vira-casaca” derruba tumor. Folha de S. Paulo, 5/07/2002, A-16) Leia o seguinte texto, extraído do livro “11. O Mundo Pós-Guerra Fria”, de Jayme Brener. Esse livro faz parte da série Ponto de Apoio. Entre 1989 e 1991, uma das duas superpotências militares, a União Soviética, que ocupava um território duas vezes maior que o do Brasil, sumiu do mapa. Em seu lugar surgiram 15 repúblicas independentes, das quais a Rússia é a mais importante. Em quase todas elas, minorias nacionais, religiosas ou até simples distritos também lutavam pela sua independência, em um carrossel que parecia não ter fim. A opinião pública internacional teve que se acostumar com termos como a “República Independente da Checheno-Ingushia” ou “República Autônoma de Nagorno-Karabakh”. É mole? (...) Mas o fato é que, hoje, quase nada restou dessa herança social do bloco soviético. E as forças socialistas que ainda sobreviveram em vários países buscam novos modelos, que nada tenham a ver com o monstro soviético. “Por quê, por quê, por quê?”, estará perguntando você, algo angustiado. Não se preocupe, vamos ver tudo isso, item por item (deixe eu manter o suspense, poxa). (In: BRENER, Jayme. O Mundo Pós-Guerra Fria. São Paulo: Scipione,1994.) Leia agora, o que se diz a respeito da série Ponto de Apoio, na contracapa do livro de Brener. A Série PONTO DE APOIO foi especialmente criada para aprofundar aquele ponto do programa que está muito condensado, pouco explorado. A diversidade dos temas, enfocados em linguagem acessível por autores especializados, faz da Série PONTO DE APOIO uma excelente opção para complementar o ensino de 1.º e de 2.º graus, estimulando uma participação mais efetiva do estudante. (In: BRENER, Jayme. Op. cit.) Item 1: ` Por que o livro de Brener – e os outros da série de que faz parte – não foram escritos apenas com a variação linguística padrão do português? Item 2: ` Identifique, unindo seus conhecimentos de Geopolíti- ca, História e Língua Portuguesa, o que o autor quer dizer ao afirmar que “a União Soviética (...) sumiu do mapa”. 15E M _1 S_ G R A _0 01 16 E M _1 S_ G R A _0 01 E M _1 S_ G R A _0 02 1 A linguagem oral é um complexo sistema de sinais que permitem a formação de estruturas maio- res, os vocábulos, os quais, ao receberem significado, transformam-se em palavras. Estas, por sua vez, formarão sentenças. Os sons que emitimos na comunicação repre- sentam o primeiro passo que o homem deu para a estruturação da língua. A formação e a compreensão de sons são possíveis graças a um complexo sistema fonador (codificador) e a um também complexo sis- tema auditivo (decodificador) dos quais o homem é dotado. Com o surgimento da escrita, os sons da fala começaram a ser representados por meio de sím- bolos gráficos. Mas as unidades sonoras lhes são anteriores. Vamos estudar letras e fonemas de modo con- junto, visando a estabelecer as diferenças básicas entre a escrita e a fala. Objetivos deste módulo Ao final do módulo, o aluno deverá ser capaz de: – entender a diferença entre letra e fonema; – reconhecer letras e fonemas em vocábulos; – reconhecer e classificar os principais fenô- menos fonológicos; – entender o significado de sílaba e saber dividir os vocábulos em sílabas; – reconhecer a diferença entre acento gráfico e acento tônico; – classificar vocábulos quanto ao número de sílabas e quanto à posição do acento tônico. O alfabeto latino A palavra alfabeto vem do grego e é, na verdade, a composição dos nomes das primeiras letras (alfa e beta). Também é chamado abecedário (a-bê-cê). O alfabeto de que o português se origina é o ocidental, desenvolvido desde a época dos fenícios, na Antiguidade. Com a expansão romana, difundiu-se na Europa o alfabeto latino que definiu os caracteres que empregamos hoje. O alfabeto ocidental da atualidade é composto de 26 letras. Portanto, o acordo ortográfico vigente nos diz que nosso alfabeto é composto de 26 letras, ou uni- dades gráficas – grafemas –, sendo 21 consoantes e 5 vogais. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z As consoantes k, w e y são usadas apenas em alguns casos, a saber: - Em nomes – e seus derivados – de origem estrangeira. Chomsky chomskyano Darwin darwinismo - Em símbolos químicos, em unidades de grandezas e símbolos padronizados por sistemas internacionais. Kr (criptônio – elemento químico) Y (ítrio – elemento químico) Wb (weber – unidade de fluxo magnético) W (Oeste) km (quilômetro) Temos o alfabeto para compor graficamente os vocábulos, as palavras, as frases, os textos. Entretan- to, aprendemos a nos comunicar não pela escrita, mas pela fala. Assim, essas letras, na verdade, nasceram da necessidade de se representarem graficamente os sons que reproduzimos na fala. Aspectos básicos de Fonologia A Fonética é a ciência que estuda a produção, a ar- ticulação e a interpretação dos sons da fala, os fones. Fonologia E M _1 S_ G R A _0 02 2 A Fonologia, Fonemática ou Fonêmica é uma parte da Gramática e se ocupa do estudo dos fo- nemas. O fonema não é, portanto, apenas um som qualquer reproduzido na fala. Ele deve ser analisado dentro do vocábulo. Conceito de fonema Fonema é a mínima unidade sonora da fala ca- paz de diferenciar a compreensão de um vocábulo. Fonema não é qualquer som. O fonema é um som do idioma, da comunicação capaz de formar vocábulos e palavras. Pronuncie o seguinte vocábulo: erro Essa palavra pode ter duas pronúncias a de- pender se é a conjugação do verbo errar, ou se é o substantivo. O que diferencia essas duas distintas palavras é a maneira como pronunciamos – aberto ou fechado – o som que está representado pela letra “e”. Assim dizemos que o que diferencia erro (érro) de erro (êrro) é um fonema. A mesma analogia podemos fazer com as palavras abaixo, lidas da esquerda para a direita, ou de cima para baixo. nada nata lata nado nato mato A mudança de letras ocorre porque há mudança na pronúncia. Então para cada fonema existe uma letra? Para cada letra existe um fonema? Responda você mesmo, observando os exemplos abaixo. bria) sa coriza exercício sb) aco casa Em “a”, o mesmo fonema (“som de z”) é repre- sentado por três letras diferentes (s, z e x). Em “b”, a mesma letra (s) representa fonemas distintos. Assim, para falarmos de fonemas não podemos nos concentrar em letras. Devemos encontrar uma maneira de representar os fonemas. Essa maneira existe! Vamos estudá-la. Fonemas da Língua Portuguesa Para estudarmos os fonemas, vamos utilizar algumas convenções. Toda vez que representarmos um símbolo gráfico entre barras, / / , deveremos interpretá-lo como fonema e não como letra. Assim “b” pronunciaremos “bê” porque é letra. Mas /b/ leremos “b” apenas, sem o “ê”. Não é uma regra, é uma convenção. Isso é útil para reconhecer- mos os fonemas de um vocábulo. Há três tipos básicos de fonemas: os vocálicos, os consonantais e os intermediários, semivocálicos. Fonemas vocálicos Válvula e filtro Sistema vocal Energia aérea Conjunto do aparelho fonador e respiratório. C av id ad es s up ra g ló ti ca s C av id ad es in fla g ló ti ca s Cavidade nasal Cavidade bucal Faringe Laringe Traqueia Brônquios Pulmões Diafragma Cavidade glótica IE SD E B ra si l S . A . Nosso sistema fonador produz sons pela ex- piração de uma corrente de ar que vibra ao sair do sistema. Se você abrir a boca e deixar simplesmente o ar sair, não produzirá fonemas. Para articulá-los você necessita vibrar esse ar em alguma parte do aparelho fonador. Toda vez que ocorre a vibração das pregas – cor- das – vocais e não há obstáculos para a passagem do som, teremos a produçãode som vocálico. Fonema vocálico é aquele que se produz nas cordas vocais e que não encontra obstáculos para sua saída do aparelho fonador. Fonema Exemplos de Ocorrência / a / pá, casa, amarelo, lutar / ã / santo, cantar, samba, pão / e / meu, cena, verão, seleção, três / ε / mel, sexo, pé, Édipo / ẽ / pente, sentir, sempre / i / vida, animal, pirita, íris / ĩ / cinto, limbo, vinte / õ / sonda, contar, pomba / o / soro, porquê, vôlei, todo / c/ hora, volta, cipó, dólar / u / Urubu, tudo, surdo / ũ / junta, untar, retumbante Os fonemas vocálicos do português estão repre- sentados na tabela a seguir. Utilizamos como simbo- logia fonética a recomendada pelo alfabeto fonético internacional, levando em consideração, porém, as peculiaridades dos fonemas do português. E M _1 S_ G R A _0 02 3 Então temos 12 fonemas vocálicos? Mas só há 5 vogais! Isso ocorre porque o alfabeto português é limitado para representar letra por letra cada um dos fonemas que emitimos. Assim, usamos, muitas vezes, combinações de letras para formar um único fonema. Em “santo”, por exemplo, o fonema /ã/ é representado graficamente pela combinação da letra “a” com a letra “n”. Fonemas consonantais Fonema consonantal é aquele que se produz pelo encontro de um obstáculo para sua saída do aparelho fonador. Esse obstáculo pode ser a língua, os dentes, os lábios, o palato... enfim, qualquer parte do aparelho fonador. Note, por exemplo, que não há como o fonema /f/ ser produzido sem que o lábio inferior esteja unido à arcada dentária superior, funcionando como obs- táculo à saída do ar. Daí ela ser chamada consoante linguodental. A tabela abaixo mostra os sons consonantais do português com respectivos exemplos de ocor- rência. FONEMA EXEMPLOS DE OCORRÊNCIA / b / bola, briga, abanar, bobo /k/ casa, queijo, crime, ácaro, cocaína /∫/ enxame, cheio, Chipre, caixa, mecha /d/ dado, dentadura, dragão /d / dia, arcadismo, radical /f/ folha, faca, almofada, sifão /g/ guerra, água, graça, pagar, glosa / / gente, jiló, nojo, berinjela, tigela /l/ louco, livro, palavra, apoplexia / / trabalho, talhar, molho, carvalho /m/ menino, mimo, camelo, bruma /n/ nada, namoro, cana, clonagem /η / apanhar, nhoque, carinho, canhão /p/ papo, aparente, possibilidade /r/ amarelo, carambola, peru, Brasil /R/ rosa, carro, barrento, rua, réu /s/ passeio, saudade, lição, máximo, cacique /t/ teto, trazer, metralhadora, pato /t∫/ tia, patife, contigo, latido /v/ véu, vida, velho, ovo /z/ paisagem, zelo, piso, exame, casal O mesmo que ocorreu com as vogais (mais fonemas vocálicos do que vogais-letras) ocorre com as consoantes. Há 18 delas no alfabeto, mas há 21 fonemas consonantais no português. E isso sem le- varmos em consideração que o “h” não representa fonema algum em nossa língua. Qualquer país apresenta variações fonéticas regionais (diatópicas). Entretanto, para não esten- dermos demais nossa análise para cada região, adotou-se aqui o padrão médio de pronúncia dos fonemas no Brasil. Se você quiser, construa uma tabela em seu caderno com os devidos padrões de pronúncia da sua região. Uma pessoa do Recife, por exemplo, não con- siderará o fonema /t∫/ como válido na pronúncia de “titio”. Em algumas regiões do sul do país, não se faz diferença na pronúncia de “carro” e “caro”. Não há “certo” e “errado” na pronúncia. Va- mos fazer essa discussão após apresentarmos o conceito de alofone. Alofone ou variação alofônica ocorre quando a compreensão da palavra se mantém, mesmo com diversidade sonora. Não se preocupe com essas variações. Elas não determinam questões de nenhum vestibular, pois não há um padrão correto ou um incorreto de pronúncia. Deve-se preservar e respeitar a cultura de cada re- gião. Antes da Gramática vem a Cultura. Suponhamos que você queira pronunciar a palavra menino. Se a última letra for pronunciada como o fonema /o/ ou como o fonema /u/, não haverá alteração na compreensão do vocábulo. Ora, vimos que a alteração de um fonema pelo falante altera a compreensão que o ouvinte tem desse vocábulo. Portanto, nesse exemplo da palavra menino, ocorre variação alofônica do “o” para o “u” e vice-versa. Vale ressaltar que a variação alofônica é uma característica do vocábulo. A variação que anali- samos em menino não ocorre, por exemplo, no par bola e bula. Fonemas semivocálicos Fonema semivocálico é aquele que representa os fonemas / u / e / i / quando presos a outra vogal. Não são chamados de vogais exatamente porque são assilábicos, isto é, não formam sílabas sozinhos e precisam estar presos às vogais. E M _1 S_ G R A _0 02 4 Vamos ver exemplos. Observe o par de palavras abaixo: rua quase Em rua, o “u” se separa do “a” e, portanto, constitui um fonema vocálico. Em quase, a pronún- cia do “u” é diferente: ele se prende ao “a” e não é pronunciado independentemente. Compare esses outros exemplos: país (nação) pais (pai e mãe) Em qual deles o “i” é pronunciado independen- temente da vogal? Em qual está preso? Como não há semivogal no alfabeto, os fonemas semivocálicos vêm representados graficamente por vogais ou até mesmo por consoantes. FONEMA EXEMPLOS DE OCORRÊNCIA / y / mãe, hífen, pai, ária, rei / w / mau, mal, quase, réu, mel, água Os fonemas / y / e / w / têm nomes específicos já que não podem ser pronunciados isoladamente: iota e vau. Note que, nestes nomes, ocorrem os dois fonemas: iota e vau. Não confunda letra com fonema. O “i” e o “u” são sempre vogais do alfabeto. Semivogais são / y / e / w /. Assim, em “mau”, não se diz que o “u” é uma semivogal. Ao contrário, é uma vogal do alfabeto usada para representar o fonema / w /. O mesmo acontece em “mal”: o “l” é uma consoante do alfabeto; nesta palavra é usada para represen- tar graficamente a semivogal / w /. Transcrição fonética Para representarmos isoladamente os fonemas, fizemos uso da representação fonética, que é feita entre barras: / a /, / b /, / k / etc. Fazemos transcrição ou tradução fonética quando representamos um vocá- bulo por sua pronúncia, fazendo uso dos fonemas. A transcrição fonética é sempre representada entre colchetes [ ]. Vejamos um exemplo de transcrição: guerra [ g R a ] Essa transcrição ainda não está completa. Como saber se se pronuncia guerra ou guerra, isto é, como se sabe qual a sílaba mais forte? Para resolver esse problema, usa-se um símbolo ( ‘ ) que antecede a sílaba pronunciada com mais força. guerra [ ‘ g R a ] Observe, então, as seguintes transcrições: secretária [ s e k r e ‘ t a r y a ] secretaria [ s e k r e t a ‘ r i a ] influência [ f l u ‘ s y a ] influencia [ f l u ‘ s i a ] dúvida [ ‘ d u v i d a ] duvida [ d u ‘ v i d a ] Relação letra – fonema Agora que você já sabe como se faz uma trans- crição fonética, observe os vocábulos abaixo. tórax [ ‘ t r a k s ] 5 letras 6 fonemas hora [ ‘ r a ] 4 letras 3 fonemas malha [ ‘ m a λ a ] 5 letras 4 fonemas menino [ m e ‘ n i n o ] 6 letras 6 fonemas Concluímos que não há uma relação letra – fo- nema fixa nos vocábulos. O número de letras pode ser maior que o de fonemas (hora, malha), ou vice- -versa (tórax). Podemos ainda ter coincidência nesse número (menino). Fenômenos fonológicos Ao analisarmos a pronúncia de uma palavra, observamos a ocorrência de alguns fenômenos que podem, inclusive, determinar condições ortográficas do vocábulo. Os principais fenômenos fonológicos são: encontros vocálicos;a) encontros consonantais;b) dígrafos;c) dífonos.d) Encontros vocálicos Dá-se o nome de encontros vocálicos à ocorrên- cia sequente de sons vocálicos e/ou semivocálicos. Os encontros vocálicos são quatro: o ditongo, o tri- tongo, o hiato e o glide. Ditongo Ditongo é o encontro de um som vocálico com um semivocálico em qualquer ordem (V + SV ou SV + V). E M _1 S_ G R A _0 02 5 Exemplos: ` pai [ ’ p a y ] mãe [ ‘ m ã y ] quase [ ‘ k w a z i ] quando [ ‘ k w ã d u ] Os ditongos podem ser: quanto à posição da vogal:- crescentes: semivogal seguida de vogal. quase [ ‘ k w a z i ] quando [ ‘ k w ã d u ] - decrescentes: vogal seguida de semivogal. pai [ ‘ p a y ] mãe [ ‘ m ã y ] quanto à oralidade ou nasalidade da vogal: - orais: se a vogal for oral. quase [ ‘ k w a z i ] pai [ ‘ p a y ] - nasais: se a vogal for nasal. quando [ ‘ k w ã d u ] mãe [ ‘ m ã y ] Exemplos ` ditongos orais crescentes: água [ ‘ a g w a ] aquoso [ a ‘ k w o z u ] equestre [ e ‘ k w ε s t r i ] árduo [ ‘a r d w o ] ditongos orais decrescentes: rei [ ‘ r e y ] maisena [ m a y ‘ z e n a ] trouxa [ ‘ t r o w a ] balsa [ ‘ b a w s a ] ditongos nasais crescentes: iguana [ i ‘ g w ã n a ] quanto [ ‘ k w ã t u ] ditongos nasais decrescentes: hífen [ ‘ i f ẽ y ] fizeram [ f i ‘ z ε r ã w ] irmão [ i r ‘ m ã w ] cãibra [ ‘ k ã y b r a ] muito [ ‘ m ũ y t u ] põe [ ‘ p õ y ] O Ditongo é um fenômeno fonológico e não gráfico Por isso observamos ditongo em mal, balsa, hífen, fizeram. Devemos estar atentos à pronúncia dos vocábulos e não à grafia, já que esta é secun- dária, é posterior. Tritongo Tritongo é o encontro de um som semivocálico com um vocálico e outro semivocálico, sempre nesta ordem (SV + V + SV). Exemplos: ` saguão [ s a ‘ g w ã w ] saguões [ s a ‘ g w õ y s ] igual [ i ‘ g w a w ] iguais [ i ‘ g w a y s ] Os tritongos podem ser: - orais: se a vogal for oral. igual [ i ‘ g w a w ] iguais [ i ‘ g w a y s ] - nasais: se a vogal for nasal. saguão [ s a ‘ g w ã w ] saguões [ s a ‘ g w õ y s ] Hiato Hiato é o encontro de dois sons vocálicos (V + V). Exemplos: ` piada [ p i ‘ a d a ] saída [ s a ‘ i d a ] baú [ b a ‘ u ] diarista [ d i a ‘ r i s t a ] carioca [ k a r i ‘ o k a ] paraibano [ p a r a i ‘ b ã n o ] Glide Glide é o encontro de uma semivogal entre dois sons vocálicos (V + SV + V). Exemplos: ` feia [ ‘ f e y a ] joio [ ‘ o y o ] arraia [ a ‘ R a y a ] ensaio [ ẽ ‘ s a y o ] Na prática, o que ocorre no glide é a formação de um ditongo decrescente seguido de um crescen- te. Assim: feia [ f e y y a ] Encontros consonantais Encontro consonantal é o encontro de duas ou mais consoantes em um mesmo vocábulo. Exemplos: ` trabalho [ t r a ‘ b a λ o ] preço [ ‘ p r e s u ] absurdo [ a b ‘ s u r d o ] livro [ ‘ l i v r u ] clave [ ‘ k l a v i ] dragão [ d r a ‘ g ã w ] história [ i s ‘ t ּפ r y a ] arte [ ‘ a r t i ] digno [ ‘ d i g n u ] fraco [ ‘ f r a k u ] Os encontros consonantais podem ser: - perfeitos: se ocorrem na mesma sílaba. trabalho [ t r a ‘ b a λ o ] preço [ ‘ p r e s u ] E M _1 S_ G R A _0 02 6 - imperfeitos: se não ocorrem na mesma sílaba. história [ i s ‘ t ּפ r y a ] arte [ ‘ a r t i ] Encontro consonantal não é encontro de con- soantes, mas de sons consonantais. Note que não ocorre encontro consonantal em balde, chave, pássaro, carro, manhã, palco, por exemplo. balde [ ‘ b a w d i ] chave [ ‘ ∫ a v i ] pássaro [ ‘ p a s a r u ] carro [ ‘ k a R u ] manhã [ m ã ‘ ã ] palco [ ‘ p a w k u ] Alguns autores não reconhecem a ocorrência de encontros consonantais em palavras como ritmo, psicólogo, gnomo. Alegam, coerentemente, que na prática há uma vogal de apoio entre a primeira e a segunda consoantes. [ ‘ R i t∫ i m u ] [ p i s i ‘ c ּפ l o g o ] [ g i ‘ n o m o ] Dígrafos Dígrafo é o fenômeno em que um fonema se for- ma graficamente pela junção de duas letras. Dígrafo vocálico é aquele que representa um fonema vocá- lico. Dígrafo consonantal é aquele que representa um fonema consonantal. Exemplos: ` dígrafos consonantais: chave [ ‘ ∫ a v i ] pássaro [ ‘ p a s a r u ] carro [ ‘ k a R u ] manhã [ m ã ‘ η ã ] queixo [ ‘ k e y u ] piscina [ p i ‘ s i n a ] guerra [ ‘ g ε R a ] exceção [ e s e‘ s ã w ] desça [ d e s a ] trabalho [ t r a ‘ b a o ] dígrafos vocálicos: samba [ ‘ s ã b a ] canto [ ‘ k ã t u ] pomba [ ‘ p õ b a ] dentro [ ‘ d ẽ t r u ] limbo [ ‘ l ĩ b u ] cinto [ ‘ s ĩ t u ] Não há necessidade de se decorar os dígrafos. Nem sempre esses agrupamentos de letras são dí- grafos, o que pode ocasionar erros se não se pensar em análise fonológica. quando [ ‘ k w ã d u ] – qu não é dígrafo nesse caso. aguar [ a ‘ g w a r ] – gu não é dígrafo nesse caso. pesca [ ‘ p ε s k a ] – sc não é dígrafo nesse caso. amnésia [ a m ‘ n ε z y a ] – mn não é dígrafo nesse caso. Dífonos Ao contrário do dígrafo, dífono é o fenômeno em que uma letra representa fonologicamente dois fonemas. O dífono presente no português é o da letra “x” representando os fonemas / k s /. táxi [ ‘ t a k s i ] axioma [ a ‘ k s i o m a ] Exemplos: ` IE SD E B ra si l S .A . cão estúpido esse chinelo não é meu! nem essa poltro- na é sua, nem o cachorro e nem essa casa! Vejamos os fenômenos fonológicos presentes no primeiro quadrinho. Encontramos: três ditongos (cão, não e meu); dois dígrafos (esse e chinelo); um encontro consonantal (estúpido). Acento tônico e acento gráfico Acento tônico Acento tônico é como se chama o conjunto de intensidade, tom, timbre e duração de determinado fonema. Na prática, ele recai sempre sobre uma vogal cuja pronúncia se destaca numa palavra. Na transcrição fonológica, o acento tônico é sempre representado pelo símbolo ( ‘ ). piada [ p i ‘ a d a ] o acento tônico recai sobre o a saída [ s a ‘ i d a ] o acento tônico recai sobre o i baú [ b a ‘ u ] o acento tônico recai sobre o u jornalista [ o r n a l ‘ i s t a ] o acento tônico recai sobre o i carioca [ k a r i ‘ ּפ k a ] o acento tônico recai sobre o o Você pode reconhecer a vogal que recebe o acento tônico de uma palavra tentando pronunciá- la de maneiras distintas até a pronúncia se ajustar à normal. E M _1 S_ G R A _0 02 7 [ p ‘ i a d a ] rimaria com Ilíada [ p i a d ‘ a ] rimaria com vatapá [ p i ‘ a d a ] rima com fada Acento gráfico Acento gráfico é um sinal gráfico que se põe sobre algumas vogais que recebem acento tônico. Os acentos gráficos são: o agudo ( ´ ), o circunflexo ( ^ ) e o grave ( ` ). Note, nos exemplos do item anterior, que quase todas as palavras têm acento tônico, mas apenas algumas têm acento gráfico. saída (acento agudo) baú (acento agudo) vôlei (acento circunflexo) Sílaba Sílaba é um agrupamento fônico pronunciado com o mesmo impulso. Toda sílaba tem um fonema vocálico e não mais que um. se-cre-tá-ria [ se kre t‘a rya ] se-cre-ta-ri-a [ se kre ta r‘i a ] Observem em se-cre-tá-ria que não há dois sons vocálicos na mesma sílaba, porque isso não pode acontecer. Há duas vogais do alfabeto, sim, mas não dois sons vocálicos. Separação silábica É a separação dos vocábulos por seus agrupa- mentos fônicos, sem se levar em consideração seus elementos mórficos constituintes. Usa-se o hífen para indicar a divisão. Como fazer a divisão silábica toda sílaba tem somente uma vogal: • me-ni-no tra-ba-lho pe-ri-go não se separam os encontros consonantais do • tipo CONSOANTE+R ou CONSOANTE+L. tri-go a-brir Á-fri-ca ca-bri-to a-pla-car a-tlas consoantes seguidas de vogal ficam na sí- • laba que a precede. ab-sur-do as-te-ca ar-tis-ta ad-vo-ga-do abs-ter Note que em ab-sur-do, o “b” e o “r” não estão associados. Em as-te-ca, o “s” não está associado. Em ar-tis-ta, o “r” e o “s” não estão associados. Em ad-vo-ga-do, não se associa o “d”. Em abster, o “b” e o “s” não se associam, note também o “r” final. Há casos, nos grupos BL, BR, DL e DR, em que o “B” e o “D” não se articulam sonoramente com a consoante seguinte. Nesse caso, far-se-á a divisão de acordo com a pronúncia. sublinhar – sub-li-nhar abrogar – ab-ro-gar abrupto – ab-rup-to Você poderia perguntar: mas como vou saber a pronúncia “certa”? O problema está exatamente na ausência de uma padronização gráfica dessas palavras. Põe-se o hífen em ad-renal, porque se pronuncia [ a d i R e‘ n a w ], não se põe em adre- nalina (palavra derivada de ad-renal) porque se pronuncia [ a d r e n a ‘ l i n a ]. se iniciar a sílaba, a consoante não seguida • de vogal não se separa da primeira vogalque aparece. gno-mo psi-co-lo-gi-a cni-dá-rio não se separam os dígrafos, à exceção de • S-S, R-R, S-C, S-Ç e X-C. sam-ba bi-cho ni-nho tra-ba-lho tun-dra pa-gue Mas: car-ro pás-sa-ro pis-ci-na ex-ce-ção des-ça letras repetidas se separam. • oc-ci-pi-tal fac-ção me-ei-ro zo-o xi-i-ta ve-em separam-se os hiatos; não se separam di- • tongos e tritongos (isso porque a semivogal nunca se separa da vogal). di-á-rio pi-a-da I-ta-já-í ru-a vê-em xi-i-ta rei qua-se sa-guão i-gual quan-do pe-rí-o-do E M _1 S_ G R A _0 02 8 Há casos em que ocorre hiatação do ditongo crescente no fim de palavras. Admitir-se-ão duas divisões possíveis nesse caso: his-tó-ria ou his-tó-ri-a sé-rie ou sé-ri-e ár-duo ou ár-du-o no glide, a semivogal fica com a vogal do • ditongo decrescente. fei-a coi-ote en-sai-o Translineação Translineação é a passagem de parte de uma palavra para a linha seguinte do texto que se escre- ve. A translineação obedece às regras de separação silábica e ainda exige outras considerações. Exemplos: ` Os programas adotados são importantes para a erradi- cação da miséria em nosso país. Regras para translineação não se deixa vogal de uma palavra sozinha • em linha. Assim, a translineação só será per- mitida nos lugares marcados por hífen. pa-da-ria ani-mal edi-fí-cio Em “padaria”, só não se pode fazer a transline- ação na última sílaba (-a); e em “animal”, na primeira (a-). Em “edifício” também não se faz translineação da primeira sílaba (e-). Note que palavras como “dia”, “após”, “amor”, “rio” não podem ser translineadas. evita-se a translineação quando numa das • linhas resta(m) sílaba(s) de efeito cômico ou vulgar. Assim, a translineação só será permi- tida nos lugares marcados por hífen. va-gabun-da curi-o-so evita-se a translineação de nomes próprios. • quando a translineação coincide com uma • partição própria da palavra (caso de palavras que têm hífen na composição ou de verbos que recebem pronomes átonos), pode-se re- petir o hífen, por clareza, no fim da linha. fizeram- ou fizeram- -se se Classificação das palavras quanto ao número de sílabas Quanto ao número de sílabas, as palavras po- dem ser: monossílabas: formadas por uma só sílaba. um, dois, tu, eu, meu, só, de, dó, a, ás... dissílabas : formadas por duas sílabas. di-a, ho-je, nos-so, mi-na, te-to, no-bre... trissílabas : formadas por três sílabas. tra-ba-lho, va-di-o, se-nho-ra, me-ni-no, a-bri- go... polissílabas: formadas por mais de três sílabas. tra-ba-lha-dor, in-cons-ci-en-te, cons-ti-tu-ci- o-nal... Sílaba tônica e sílaba átona Sílaba tônica é aquela sobre cuja vogal recai o acento tônico. Sílabas átonas são as outras sílabas da palavra, que não a tônica. As sílabas destacadas são as tônicas. As de- mais são átonas. tra-ba-lha-dor no-bre te-to in-cons-ci-en-te va-di-o mé-di-co Há ainda a classificação das átonas em pretô- nicas e postônicas. Pretônicas antecedem a sílaba tônica, postônicas se põem após a tônica. Em in-cons-ci-en-te, por exemplo, in-, -cons- e -ci- são átonas pretônicas e –te é átona postônica. Há também sílabas intermediárias entre as átonas e as tônicas, as chamadas sílabas semitô- nicas ou subtônicas. Estas ocorrem quando houve deslocamento do acento tônico de uma palavra que deu origem à analisada. Veja os exemplos. do-ce (sílaba tônica do-) do-ci-nho (sílaba tônica -ci-, sílaba subtônica do-) rá-pi-do (sílaba tônica rá-) ra-pi-da-men-te (sílaba tônica -men-, sílaba subtônica ra-) As sílabas subtônicas merecem atenção porque nunca recebem acento gráfico. E M _1 S_ G R A _0 02 9 Classificação das palavras quanto à posição do acento tônico Quanto à posição do acento tônico, as palavras com mais de uma sílaba podem ser: oxítonas • : acento tônico na última sílaba. u-ru-bu car-na-val ci-da-dão i-mor-tal ci-pó par-tir paroxítonas • : acento tônico na penúltima sílaba. sa-í-da só-tão ci-da-de va-di-o in-cons-ci-en-te di-fí-cil proparoxítonas • : acento tônico na antepenúl- tima sílaba. mé-di-co lâm-pa-da pé-ri-plo Fí-si-ca ma-te-má-ti-co his-tó-ri-co Monossílabos átonos e monossílabos tônicos A classificação feita no item anterior não é váli- da para os monossílabos, já que só têm uma sílaba. Os monossílabos podem ser átonos ou tônicos. Monossílabo átono é aquele que não tem for- ça tônica própria e, para ser pronunciado, precisa apoiar-se em outra palavra que tenha carga tônica. Veja: A morte do diretor [ a m ‘ r t i ] [ d u d i r e t ‘ o r ] comoveu-nos. [ k o m o v ‘ e w n u s ] Monossílabo tônico é aquele que tem força tônica própria e, para ser pronunciado, não precisa apoiar-se em outra palavra. São monossílabos tônicos: os substantivos: • som, nó, pó, trem, dó... os adjetivos: bom, mau, má, vil... os verbos: • faz, ser, é, vai, ir, pôs... os numerais: • dois, cem, mil... os pronomes não átonos: • eu, ti, tu, mim, nós... os advérbios: • mal, bem, já, cá, lá... as interjeições: • ai!, ui!, bah!, hum!... Não tente decorar monossílabos tônicos e mo- nossílabos átonos. Em caso de dúvidas, consulte um dicionário ou as tabelas apresentadas acima. São monossílabos átonos: os artigos: • o, a, os, as, um, uns. as preposições: • a, com, de, em, por, sem, sob. as combinações das preposições com os • artigos: à, ao, do, num, dum... as conjunções: • se, que, e, nem, ou, mas. os pronomes oblíquos átonos: • me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes. Obs.: Também as combinações de prono- mes são átonas: mo, to, lho... o pronome relativo “que”. • as formas de tratamento: • dom, frei, são, seu (senhor). Tolkien e a Fonética Você já ouviu falar de J. R. R. Tolkien? Pro- vavelmente, sim. Ele é o criador de uma trilogia cuja fama já dura 50 anos: “O Senhor dos Anéis”, recentemente adaptada para o cinema. A obra de Tolkien não se resume apenas à famosa trilogia. Estudioso de Filologia – Ciência que estuda a língua e a literatura – o escritor E M _1 S_ G R A _0 02 10 inglês usou de todo seu conhecimento para criar não apenas histórias fantásticas, mas também toda uma cultura e uma história para os povos que habitam essas histórias: Tolkien criou idiomas que são cultuados e estudados por milhares de pessoas no mundo. Esses idiomas têm sistemas de escrita, de pronúncia e de sintaxe próprios. O élfico, língua dos elfos, é dividido em Quenya (pronuncia-se “quênia”) e Sindarin. E esse sistema de escrita é fonético, ou seja, escreve-se como se estivesse fazendo uma transcrição fonética, mas com o uso dos símbolos gráficos específicos – os Tengwar. Leia o seguinte texto (fonte: www.duvendor. com.br). Foi mantida a escrita original. Cena do filme “O Senhor dos Anéis”. D iv ul g aç ão N ew lin e C in em a. QUENYA TENGWAINEN Escrevendo portu- guês com os Tengwar O intuito deste estudo é tornar possível aos estudiosos de Tolkein e aos demais interessados, escrever português usando o sistema de escri- ta por ele idealizado. Quem se interessa pelos Tengwar e já os estudou, ou pelos menos deu uma olhada mais demorada no assunto, provavelmente já se perguntou: como será que escrevo meu nome? Como posso escrever essa palavra? É para isto que serve este estudo: para que os falantes da língua portuguesa possam usar corretamente os Tengwar. É preciso deixar claro que, com as regras descritas aqui, não é possível escrever em uma língua élfica, pois para isso já existem muitos textos e artigos e este não é o obje- tivo. Tudo o que poderão observar aqui está focado única e exclusivamente no português, língua essa que possui suas características, muitas vezes bem diferentes das línguas élficas. É também importan- te lembrar que esse estudo é uma adaptação das regras dos Tengwar para as regras do português. Este texto não deve ser encarado como a única for- ma de se escrever português usando os Tengwar, ou seja, qualquer pessoa pode mudar as regras e adaptá-las ao Tengwar como bem entender, de acordo com outras interpretações
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