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O Bem Comum com base nos textos de Cícero Araújo e Joseph Schumpeter

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ENSAIO SOBRE O BEM COMUM COM BASE EM “RAZÃO PÚBLICA, BEM 
COMUM E DECISÃO DEMOCRÁTICA” DE CÍCERO ARAÚJO E EM “A 
DOUTRINA CLÁSSICA DA DEMOCRACIA” DE JOSEPH SCHUMPETER 
 
Luciana Vasconcelos da Costa 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 Este ensaio tem como objetivo apresentar a complexidade e os debates da 
expressão “bem comum”, com base no artigo Razão pública, bem comum e decisão 
democrática (2004), de Cícero Araújo, e no capítulo A Doutrina Clássica da Democracia 
(1961), do livro “Capitalismo, socialismo e democracia” de Joseph Schumpeter. 
 
2 O BEM COMUM 
 
Na democracia, o povo pode aceitar ou recusar os indivíduos que foram eleitos 
para governar, conforme a sua vontade. Em síntese, o papel do cidadão é escolher entre 
os candidatos em quem votar aqueles que possam oferecer sua melhor escolha. 
 Segundo Schumpeter (1961, p. 307), não existe dificuldade com a democracia, 
mas sim com a maneira de fazê-la funcionar. Em alguns casos será possível encontrar o 
Bem Comum entre todos, mas não na sua totalidade. Para ele não existe uma vontade 
popular claramente definida. Um bem comum não pode começar determinando que o 
povo aceite ou que possa aceitar através de argumentação racional, uma vez que entre o 
povo existirão pessoas que podem ter outros desejos que não o bem comum ou que para 
diferentes pessoas ou grupos o bem comum poderá significar outros anseios diversos. A 
vida e a sociedade vão além dos domínios da lógica, ou seja, uma harmonia entre o 
pensamento e a ação de todos os indivíduos. Como exemplo, Schumpeter (1961, p. 308) 
cita a saúde, que é desejada por todos, mas sempre haverá divergências quanto aos 
métodos existentes na saúde. 
 Para Schumpeter (1961, p. 308), os países utilitaristas da doutrina democrática 
não tratam com seriedade qualquer transformação considerável na situação econômica e 
nos hábitos de uma sociedade burguesa. 
 Dissipa-se o conceito da vontade do povo adotado pelos utilitaristas, uma vez que 
eles não conheciam a vontade do povo como um bem determinado e compreendido por 
todos os possuidores de uma vontade própria. Os utilitaristas inspiram-se na vontade 
individual para que haja a vontade do povo. Unifica a vontade de cada indivíduo 
procurando moldá-la por meio da discussão racional, transformando-a em vontade do 
povo. 
 Conforme Schumpeter (1961, p. 309), o homem teria de saber, claramente, o que 
deseja defender, complementada pela capacidade de observar e interpretar corretamente 
os fatos que estão ao alcance de todos, selecionando criticamente os fatos sobre os que 
não estão ao alcance de todos. 
 Sem interferências e sem pressão externas de grupos ou de propagandas, visto que 
as interferências impostas ao eleitorado não devem ser consideradas como únicas 
condições do processo democrático. 
 Schumpeter (1961, p. 313) trata do questionamento da determinação e 
independência da vontade do eleitor, seus poderes de observação e interpretação de fatos 
e a competência de filtrar, com clareza e prontidão, interferências racionais de ambos. 
 Sobre a hipótese da racionalidade, Schumpeter (1961, p. 314) menciona dois 
contra-argumentos sobre a racionalidade humana na política: 
a) O comportamento humano é diferente sob a influência da aglomeração – não 
sendo restrito ao sentido de grande quantidade de pessoas –, principalmente 
quando perde os freios morais e as maneiras civilizadas de pensamento e 
sentimento. O autor traz como exemplos os consumidos das mídias (jornais e 
rádios) e lideranças de partidos políticos, afirmando que podem transformar-
se psicologicamente em multidão e que, em um estado de exaltação, tentativas 
de argumentação racional podem despertar apenas instintos animais. 
b) Os economistas, observando com mais cuidado os fatos, descobrem que os 
consumidores não correspondem à ideia sugerida pelos manuais de economia, 
tendo em vista que não têm suas necessidades bem definidas, sendo 
provocados pela necessidade do que desejam e influenciados pela publicidade. 
 
No entanto, o autor (1961, p. 314-315) reflete que a conclusão apesar de óbvia, 
deve ser feita com cuidado, pois apesar dos estímulos de consumir serem provocados, em 
parte, pela ação do produtor em vender seu produto, muitas vezes existe uma necessidade 
real do homem. 
O reduzido senso de responsabilidade e a ausência de vontade efetiva, explicam a 
ignorância do cidadão comum, bem como a falta de bom senso em assuntos de política 
interna e externa, levando-o a um patamar inferior de rendimento mental no que se refere 
ao campo político. Suas argumentações e análises tornam-se infantis em se tratando de 
interesses reais. O seu pensamento assume um caráter associativo e efetivo. Acarretando 
em “duas outras consequências de sombria significação” (SCHUMPETER, 1961, p. 319). 
De acordo com Schumpeter (1961, p. 319-320), 
 
Em primeiro lugar mesmo que não houvesse grupos políticos tentando 
influenciá-lo, o cidadão típico tenderia na esfera política a ceder a 
preconceitos ou impulsos irracionais ou extremamente racionais. A 
fraqueza do processo racional que ele aplica à política e a ausência real 
de controle lógico sobre os resultados seriam bastantes para explicar 
esse fato. Ademais, simplesmente porque não está interessado, ele 
relaxará também seus padrões morais habituais e, ocasionalmente, 
cederá à influência de impulsos obscuros, que as condições de sua vida 
privada ajudam a reprimir. 
 
Para o autor (1961, p. 320), 
 
quanto mais débil o elemento lógico nos processos da mentalidade 
coletiva e mais completa a ausência de crítica racional e de influência 
racionalizadora da experiência e responsabilidade pessoal, maiores são 
as oportunidades de um grupo que queira explorá-las. 
 
Esses grupos podem ser de políticos profissionais, expoentes de interesses 
econômicos, idealistas ou de pessoas que tenham interesse em espetáculos políticos, que 
podem moldar e criar a vontade do povo. Ao analisar os processos políticos, descobre-se 
que não se trata de uma vontade artificialmente fabricada. Para o autor (1961, p. 320), 
“esse produto é o que realmente corresponde à volonté générale da doutrina clássica”, 
sendo assim, a vontade do povo não é a primeira causa do processo político, e sim o 
resultado. 
Schumpeter (1961, p. 322) questiona a possibilidade da doutrina, sendo contrária 
aos fatos, ter sobrevivido e continuado a ocupar “um lugar no coração do povo e na 
linguagem oficial dos governos”. Sendo assim, para responder a esse questionamento, o 
autor (1961, p. 322-323) expõe que a doutrina clássica é fortemente associada com a fé 
protestante cristã, os líderes utilitários diziam não serem simpatizantes com as instituições 
e movimentos religiosos de sua época. Além disso, Schumpeter (1961, p. 323) afirma que 
“o quadro que eles desenharam do processo social para descobrir que o mesmo 
incorporava aspectos básicos da fé protestante cristã e, na verdade, nela foi inspirado”. 
Ademais, segundo o autor (1961, p. 324), as formas ligadas à democracia clássica 
associam-se a fatos e a acontecimentos da História que são aprovados pela maioria. Além 
disso, para o autor (1961, p. 325), há situações sociais em que a doutrina clássica se ajusta 
aos fatos. Para finalizar, conforme Schumpeter (1961, p. 326), a teoria clássica da 
democracia costuma adular as massas e os políticos oferecendo oportunidade para evitar 
as responsabilidades e para pulverizar os adversários em nome da sociedade. 
Em suma, retomando a parte inicial do capítulo de Schumpeter, afirma-se que, 
para o autor (1961, p. 306), não existe um bem comum determinado, tendo em vista que 
a vontade popular, ou seja, a vontade comum, é moldada por outros indivíduos. 
Por outro lado, temos a visão favorável de Araújo (2004) ao bem comum. O autor 
progride na ideia de que existem prerrogativas teóricas consideráveis na democracia 
deliberativa e, portanto, assegura que é adepto da associaçãoentre “bem comum” e 
deliberação, na medida em que se vincula bem comum à referência de comunidade 
política. 
Para Araújo (2004, p. 160), a democracia deliberativa tem uma preocupação com 
a autenticidade e com a defesa das decisões através de razões fundamentadas pelo bem 
comum. Dessa forma, é necessário que haja comunicação entre os atores para que um 
entendimento mútuo seja alcançado, sem que se busque apenas tornar público seus 
interesses. 
 
3 CONCLUSÃO 
 
 Para Schumpeter (1961), a vontade comum do povo não existe na forma como é 
tratada, pois para as pessoas, grupos e classes o bem comum tem significados diferentes. 
Não existe o equilíbrio do povo para abordar assuntos difíceis e complexos. Não existe a 
consciência coletiva e um valor racional sobre o bem comum. Assim, sem a existência do 
bem comum, inexiste a vontade do povo. As pessoas são diferentes, portanto, o bem 
comum pode ter diversos significados. A ignorância e os interesses funestos podem 
causar divergências e explicar a existência de uma oposição, o único fato que existe é a 
diferença de opiniões no que se refere à rapidez para chegar à concretização da meta 
comum para alguns. As elites políticas são quem governa, não existe governo do povo, 
mas talvez, governo para o povo. São essas elites políticas que formam o governo, que 
escolhem seus candidatos aos cargos políticos para, então, serem escolhidos pelo povo. 
Porém, no momento de tomar decisões de interesse popular, obedecem aos interesses das 
elites políticas da qual fazem parte. Os partidos políticos têm apenas o objetivo de 
dominar e manter o poder, para isso utilizam-se do bem comum para a conquista de votos 
através do convencimento do povo. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ARAÚJO, Cícero. Razão pública, bem comum e decisão democrática. In: COELHO, V. 
S. P., NOBRE, M. (Org.). Participação e deliberação: teoria democrática e experiências 
institucionais no Brasil contemporâneo. São Paulo: Editora 34, 2004. p. 157-169. 2. 
 
SCHUMPETER, Joseph A. A Doutrina Clássica da Democracia. In: Capitalismo, 
socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1961. p. 306-326.

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