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História do Vietnã

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O Vietnã é um país que se localizava em uma região de extrema importância durante a guerra fria, uma vez que se encontra na península indochinesa, onde a influência norte americana e soviética estava em constante confronto. Dessa forma, sua revolução não poderia ser de pequeno impacto apesar de ser um país pequeno e visto com pouca importância anteriormente. 
Desde as origens, o Vietnã foi um país de conquistas. Quando o Estado do Nam Viet se fundou no delta do Rio Vermelho, o Império Chinês o anexou e o dominou por mais de um milênio. Em 938, o povo vietnamita se tornou independente e buscou a expansão de território ao sul e nos séculos seguintes resistiu a dominação chinesa e mongol. A partir de 1858, o Vietnã e toda a Indochina sofreu com as invasões francesas que só conseguiram se estabilizar em 1898.
A administração colonial realizou a construção de ferrovias e estradas para a exploração econômica, mas não realizava ações necessárias para a melhoria nas condições de vida da população, que se encontrava com cada vez menos recursos materiais. A França acabou criando uma população operária antes de uma burguesia, sendo 53 mil trabalhadores em minas, 86 mil em fábricas e 80 mil nos seringais.
As ideias revolucionárias cresceram com a Primeira Guerra Mundial, a Revolução socialista Russa e a grande Depressão que atingiu o Vietnã com intensidade. Nesse contexto, surge Nguyen Sinh Cung, que depois seria conhecido como Ho Chi Minh. 
Ho Chi Minh era um trabalhador da França na Primeira Guerra Mundial que teve oportunidade de ingressar no SFIO (Partido Socialista Francês). Apesar de ter se identificado com as ideias, discordava sobre a questão colonial no partido, assim se transferindo para Moscou. Em 1927, enquanto estava na China, ele fundou o Partido Comunista da Indochina (PCI) que agrupava intelectuais, operários e pequeno-burgueses, tendo apoio social de camponeses e agricultores sem-terra. 
Em 1930, o PCI tentou uma revolta camponesa ao norte, mas foram totalmente derrotados. Com isso, eles perceberam que era necessário dar mais importância a questão nacional do que a luta de classes, uma vez que o Vietnã era formado principalmente de camponeses e não tinha uma classe operária massiva. Portanto, nos anos seguintes o PCI trabalhou na integração popular, agregando os camponeses e não focando nas complexidades nas discussões teóricas na ideia marxista. Esse ponto foi essencial para o sucesso da revolução vietnamita.
Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o PCI viu uma oportunidade de explorar as contradições do aparelho colonial graças as desenrolar da Guerra. Assim, apesar dos recursos limitados, os revolucionários desenvolveram a ampla frente anti-imperialista, se inserindo em um conflito de dimensão mundial, ultrapassando as dinâmicas camponesas. 
Em fevereiro de 1941, Ho Chi Minh finalmente volta para o Vietnã e retoma contato com os grupos comunistas locais. Entre setembro de 1941 e fevereiro de 1942, os franceses lançam diversas ofensivas contra o grupo de Ho Chi Minh. Após seis meses, os guerrilheiros se dividiram em pequenos grupos para buscar uma reorganização, contudo, o movimento operário resistiu durante todo esse período. Paralelamente, Ho Chi Minh organizou melhor suas bases e ofereceu a população refúgio, comida, cursos de alfabetização e autodefesa para os aldeões protegerem suas vilas. 
Em 9 de março de 1945, os japoneses derrotam os franceses em toda a Indochina. Os japoneses proclamaram a independência do Vietnã, criando um governo colaboracionista. Apesar disso, os setores principais da economia e os instrumentos de poder do Estado permaneceram nas mãos do exército japonês, limitando a independência do Vietnã. Em 15 de maio, é criado o Exército de libertação do Vietnã com a fusão de todos os grupos guerrilheiros que buscavam ir contra o exército japonês, gerando diversas revoltas pelo país. 
Em agosto, os Estados Unidos bombardeiam Hiroshima e Nagasaki ao mesmo tempo que a União Soviética atacava o exército japonês na China. Enfraquecidos, o Japão entrega a administração estatal ao governo colaboracionista de Bao Dai no dia 16. Com isso, Ho Chi Minh cria um governo provisório. No dia seguinte, ocorre um comício do governo pró-japonês que é interrompido por oradores armados do Viet Minh, grupo do Ho Chi Minh, e declaram a multidão seus objetivos e interesses. Os dias que se seguem são cercados de protestos a favor de Ho Cho Minh. Então, no dia 30 de agosto, Bao Dai abdica com a seguinte fala: “Prefiro ser um simples cidadão de um Estado independente do que de uma nação subjugada” e assim é proclamada a República Democrática do Vietnã.
O Vietnã agora era independente, contudo, cheio de problemas. A fome enfraquecia a população e matou 2 milhões de mortos; as enchentes destruíram tudo e a seca que se seguia aumentou a escassez de alimentos. O país estava extremamente fraco. Assim, o governo provisório lançou ações para combater esses fatores: cultivos emergenciais até em áreas urbanas, distribuição de terras, direito de uso de terras desocupadas, redução dos impostos dos camponeses e reforma administrativa. As eleições de janeiro de 1946 encerram a fase do governo provisório, com a vitória de Ho Chi Minh com 90% dos votos.
Mas os franceses não desistiram e iniciaram uma retomada colonial pelo Sul, obrigando o recuo de Ho Chi Minh. Assim, constantes conflitos cercaram o Vietnã durante esse período entre os franceses e o grupo comunista vietnamita. 
Em 1948, Bao Dai é trazido para declarar a independência do Vietnã – agora reconhecido internacionalmente. Isso apenas ocorre, mesmo contra a vontade da França, pois os Estados Unidos aconselharam os franceses a uma política mais inteligente para garantir seu poder internacional. Os franceses também acatam o conselho em troa de apoio financeiro e militar de Washington. 
Em 1950, ocorre a fundação da República Popular da China, o que representa um golpe para os Estados Unidos em contexto de guerra fria. Assim, os americanos são obrigados a se envolver diretamente nos conflitos da região indochina. Eles decidem enviar mais dinheiro e armas aos francesas para destruir o movimento de libertação vietnamita. No mesmo ano, a União Soviética, a China e outros países socialistas reconhecem a República Democrática do Vietnã. 
Os franceses atacaram, mas não conseguiram conquistar o Norte e destruir o movimento. Portanto, quando os Acordos de Genebra são assinados, fica estabelecido o cessar-fogo e a divisão temporária do Vietnã. Também foi imposto que os civis teriam dois anos de prazo para se mudarem para o lado que preferiam e que os prisioneiros de ambos lados seriam libertados. Em julho de 1956, iria ser realizado eleições gerais para a escolha do novo governo de um Vietnã unificado. 
Os Estados Unidos não ficam satisfeito com esse acordo, então busca impedir que ele seja cumprido, principalmente as eleições futuras, pois previa que seus aliados perderiam. Assim, foi criado a aliança militar Otase, Organização do Tratado da Ásia do Sudeste, a pressão de Washington para a retirada das tropas francesas, a oferta de terras para aqueles que imigrassem para o lado sul, os massacres em aldeias que apoiasse Ho Choi Minh – chamado de “campanhas de denúncias de comunistas” - e a não libertação dos comunistas prisioneiros de guerra. E foi essas agressões que levaram ao reinício da guerra. 
As primeiras estratégias de Washington foi o projeto Vietnã Livre, que investia em ajudar o novo regime o financiando e realizando campanhas publicitárias internacionais que enalteciam “o pequeno povo corajoso que resiste a agressão comunista”. Assim, a maior potência militar, econômica e tecnológica do planeta confronta-se com um pequeno país subdesenvolvido. Os Estados Unidos, em 1965, tinham cerca de 25 mil soldados no Vietnã e, até 1968, esse número alcançaria a marca de 600 mil armados com a mais alta tecnologia de guerra. 
Os americanos pretendiam fazer uma guerra clássica, de território limitado, mas que terminasse rapidamente. Enquanto isso, a tática populardos vietnamitas do norte se concentrava em ataques na retaguarda do inimigo, fazendo com que a frente de combate fosse em diversos locais ao mesmo tempo, e também em utilizar seu território selvagem como arma contra o inimigo que desconhecia a região. Com isso, os guerrilheiros pretendiam causar um desgaste psicológico nas tropas americanas. Quando os EUA começaram os múltiplos bombardeios, a União Soviética forneceu misseis e alguns caças para que o norte conseguisse se defender.
Um fato curioso é a tática de “trincheiras que marcham” dos vietnamitas. Basicamente, as aldeias eram repletas de túneis defensivos e ofensivos, fazendo com que os guerrilheiros conseguissem se movimentar quando atacados e surgirem na retaguarda do inimigo. 
Anos se seguiram dessa guerra, que inicialmente era planejada para ser rápida. Protestos contra ela começam a se generalizar pelo mundo ao mesmo tempo que a elite militar americana se sentia descontente com os custos econômicos, político e militar que aumentavam cada vez mais com a Guerra do Vietnã. Tudo isso gerou a retirada das tropas norte-americanas do Vietnã do Sul, contudo, Os EUA tentaram reforçar o governo atual antes de partir, o deixando com armas e bases militares.
Porém, esse poder militar era insuficiente para manter o governo, pois ele estava minado em suas bases. A economia do país estava quebrando – apenas não ruindo totalmente por causa da ajuda americana -, seus setores econômicos além do militar estavam destruídos e os níveis de inflação apenas subiam. Assim, a saída dos americanos gera uma crise imensa, uma vez que milhões de pessoas dependiam direta ou indiretamente deles para serviços. 
No dia 30 de abril de 1975, os tanques do norte cruzam os portões do Palácio presidencial e unifica formalmente o Vietnã. Após anos de guerra, acredita-se que de 1,5 milhão a 3 milhões de pessoas tenham morrido no Vietnã, além de que o uso de armas químicas comprometeu 30% do solo arável do país e contaminou boa parte da população sobrevivente do conflito. Finalizando, uma frase do ex secretário geral do Partido Comunista do Vietnã durante um congresso de reconstrução do país em 1988: 
“Nos outros países socialistas, a renovação permitirá alcançar o nível dos países avançados. [...] Mas, para o nosso país, a renovação é uma questão de vida ou morte.”

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