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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ FACULDADE DE VETERINÁRIA (FAVET) DISCIPLINA DE HISTOLOGIA E EMBRIOLOGIA GERAL VETERINÁRIA 3º NPC/ 2021 RESUMO DE ARTIGO CIENTÍFICO Células-tronco Neurais Adultas da Zona Subventricular: Uma Revisão do Ensaio da Neurosfera “Adult Neural Stem Cells From the Subventricular Zone: A Review of the Neurosphere Assay” SARA GIL-PEROT_IN,1,2* MARIA DURAN-MORENO,1 ARANTXA CEBRIAN-SILLA,1 MONICA RAMIREZ, AULA GARCIA-BELDA,1 AND JOSE MANUEL GARCA-VERDUGO1* 1Laboratory of Comparative Neurobiology, Instituto Cavanilles de Biodiversidad y Biolog_ıa Evolutiva, University of Valencia, C/Catedratico Jose Beltran no 2, Paterna, Valencia, CIBERNED, Spain 2Fundaci_on para la Investigaci_on La Fe, Grupo de Hematolog_ıa y Hemoterapia/Grupo de Investigaci_on en Esclerosis M_ultiple, Bulevar Sur, s/n, 46020, Valencia, Spain Docente: Dra. Janaína Serra Azul Monteiro Evangelista Discentes: Amanda Oliveira Fernandez; Maria Jamille C. de Mesquita; Lara Cortez Passos; Lara Barroso Silva Lemos; Lorena de Freitas Câmara; Vanessa Cordeiro Lima. JULHO/ 2021 2 RESUMO A regeneração neuronal em adultos apresenta importância não somente na renovação fisiológica programada, como também em casos de doenças ou danos traumáticos que afetam o sistema nervoso. Nessa revisão foi analisada a habilidade neurogênica de proliferação, autorrenovação e morte celular de agregados chamados de neuroesferas em mamíferos e sua capacidade de gerar células neurais in vitro, como neurônios, astrócitos e oligodendrócitos. O protocolo utilizado foi a cultura das neuroesferas em um meio sem soro em placas não tratadas, permitindo a autorrenovação devido a uma mistura de suplementos e hormônios definidos adicionados ao meio basal. Dessa forma, buscou-se de modo distinto caracterizar as neuroesferas e defini-las como ferramentas potenciais para o uso em terapias de reposição e em pesquisas clínicas; determinar as limitações da técnica; e elucidar as condições ideais do cultivo para fins neurológicos. Constatou-se a importância de se observar os bioindicadores de sucesso da técnica, como alterações morfológicas das organelas presentes, que em caso de má formação tem potencial de gerar distúrbios em seu estado fisiológico. Os resultados dessa revisão podem ajudar a prevenir erros em trabalhos de neurogênese posteriores. Palavras-chave: neurogênese; neuroesferas; regeneração neuronal e sistema nervoso. OBJETIVOS Descrever o ensaio da neurosfera e suas limitações, os métodos para otimizar as condições da cultura, a identidade e a morfologia das neuroesferas derivadas das CTNA. 1. INTRODUÇÃO As células-tronco têm a capacidade de proliferar, se autorrenovar e o potencial de se diferenciar em vários tipos de células maduras (KLASSEN et al., 2004; revisado por MING e SONG, 2005; SUH et al., 2009). A neurogênese adulta é a geração de novos neurônios no cérebro adulto ao longo da vida e ocorre principalmente em duas regiões do cérebro: a zona subventricular (SVZ) (ALVAREZ-BUYLLA e GARCIA- VERDUGO, 2002), nas paredes laterais dos ventrículos laterais e a camada subgranular do giro denteado do hipocampo (KEMPERMANN, 2002). Um acontecimento importante para entender a regulação nos mecanismos de proliferação, diferenciação e morte celular de células-tronco neurais adultas (CTNA) foi a demonstração de que progenitores imaturos com potencial multifenotípico poderiam ser isolados do sistema nervoso central (SNC) de camundongos adultos, e propagado em cultura. Observou-se que estas células cresceram em vitro como agregados não aderentes denominados neuroesferas (REYNOLDS e WEISS, 1992) e eram capazes de gerar neurônios, astrócitos e oligodendrócitos. Desde então, novas fontes de células formadoras de neurosfera foram investigadas e diferentes métodos de cultura foram desenvolvidos para mantê-las, expandi-las e diferenciá-las (LILLIEN e CEPKO, 1992; COLES et al., 2004; KLASSEN et al., 2004). Contudo, uma série de questionamentos foram levantados em relação ao procedimento in vitro e a natureza exata das células cultivadas. A este respeito, esta revisão se concentrará em descrever os pontos positivos e os pontos negativos do ensaio 3 da neuroesfera, a melhora das condições de cultivo, a identidade das células formadoras das neuroesferas e a analogia com células tumorais expandidas, fornecendo uma perspectiva geral a considerar em caso de futuro aplicação de células-tronco neurais / células precursoras em medicina regenerativa. RESULTADOS 2.ENSAIO DA NEUROSFERA COMO FERRAMENTA REPRESENTATIVA DA NEUROGÊNESE EM ADULTOS Antes de discutir sobre o ensaio da neurosfera, os autores do artigo explicam o que a neurogênese adulta ocorre normalmente na zona subventricular (SVZ) e que esta região compreende uma fina camada de células em divisão que se estende ao longo das paredes laterais do ventrículo lateral (TEMPLE e ALVAREZ-BUYLLA, 1999). Explica ainda que esta região se relaciona com a neurogênese ocorrida no bulbo olfatório (OB) do cérebro adulto, onde este último está localizado na região anterior do lobo olfatório, juntamente como o tubérculo e o pedúnculo. Com base nas características ultraestruturais e na duração do ciclo celular, é relatada a existência de quatro tipos celulares diferentes identificados na SVZ: os astrócitos (células do tipo B), células progenitoras amplificadoras transitórias (células do tipo C), neuroblastos migratórios (células do tipo A) e células ependimárias (LOIS e ALVAREZ -BUYLLA, 1994; DOETSCH et al., 1997; PERETTO et al., 1999). Essas células correspondem a estágios distintos de diferenciação, onde os astrócitos são os precursores primários (células-tronco neurais genuínas) que geram células do tipo C e estas subsequentemente dão origem a neuroblastos migrantes (Figura 1) que finalmente alcançam o OB e se diferenciam em interneurônios granulares e periglomerulares capazes de se integrar dentro dos circuitos neuronais estabelecidos (MORSHEAD e VAN DERKOOY, 1992; LOIS e ALVAREZ-BUYLLA, 1994; DOETSCH e ALVAREZ-BUYLLA, 1996; BIEBL et al., 2000). Figura 1. Composição e organização celular na SVZ de camundongo. A) Representação ilustrativa dos diferentes tipos de células SVZ (Tipo E, B, C e A) e sua organização. B) Seção ultrafina de SVZ (60–70 nm) mostrando os diferentes tipos de células com suas características morfológicas, onde: Bv = vaso sanguíneo, VL = ventrículo lateral, B = célula do tipo B, E = célula ependimária, A= célula do tipo A e C= célula do tipo C. 4 O artigo também menciona que a neurogênese adulta no OB em mamíferos foi demonstrada pela primeira vez no cérebro de roedores, sendo descrita em outras espécies, como coelhos (BONFANTI e PONTI, 2008), cães (MALIK et al., 2012), vacas (RODRÍGUEZ PEREZ et al., 2003) e macacos (PENCEA et al., 2001; GIL- PEROTIN et al., 2009). E em humanos, ainda que a neurogênese seja verificada no giro denteado, não se sabe até que ponto os CTNA residentes dão origem a neuroblastos que migram para o bulbo olfatório (SANAI et al., 2004; CURTIS et al., 2007). Além disso, alguns estudos afirmam que há uma renovação contínua de células não neuronais ao longo da vida, mas a reposição de novos neurônios após o período perinatal em humanos é muito reduzida e, se houver. De outro modo, os autores relatam que ainda é desconhecido o destino das células em proliferação da SVZ em humanos. 2.1 Descrição do ensaio da neurosfera Por meio da utilização de células-tronco neurais adultas da SVZ, cultivadas in vitro, é feito o ensaio da neurosfera, que consiste no crescimento destas em meio sem soro com fatores de crescimento mitogênicos (EGF e FGF-2) em um substrato não adesivo (Figura 2). Assim, sob condições ideais, uma única célula-tronco receptiva ou tambémchamada de célula progenitora é capaz de gerar uma neuroesfera após várias divisões celulares. Essas neuroesferas formam agrupamentos de centenas a milhares de células, constituindo estruturas esféricas tridimensionais de flutuação livre, cujo número de unidades constituintes se relaciona com o tamanho das neuroesferas e o tempo de cultura. A partir do ensaio de neurosferas são avaliados aspectos como: propriedade de proliferação (verificado pelo poder de amplificação in vitro, ou seja, pelo aumento no número de células entre passagens sucessivas); o poder de autorrenovação, que é a capacidade de uma única célula formar neuroesferas subclonadas, sendo um importante indicador de “stemness”, isto é, refere-se à capacidade de diferenciação e proliferação de uma célula-tronco, e também é considerado um indicador de “neurogenicidade” de uma região, que é uma representação do número de células-tronco em um determinado nicho. Por fim, ao remover os fatores de crescimento do meio na presença de soro, ocorre adesão ao substrato e diferenciação em neurônios, astrócitos e oligodendroglia. 5 Figura 2. Ensaio de neurosfera. Representação esquemática da cultura da neurosfera in vitro. As CTNA são isoladas da ZSV do camundongo, que é dissecado, depois mecanicamente e enzimaticamente dissociado a uma suspensão de célula única e, finalmente, semeado na presença de mitógenos, como fator de crescimento epidérmico = EGF, e fator de crescimento de fibroblastos 2 = FGF ‐ 2). Segundo os autores do artigo, a partir do ensaio da neurosfera é possível obter e expandir derivados de CTNA para testar suas propriedades em diferentes condições ou mesmo fornecer uma fonte de células com poder de substituição e/ou neuroproteção após lesão. Por outro lado, estudos relatam que quando as neuroesferas são reculturadas por mais de 10 passagens, suas propriedades biológicas podem mudar adquirindo, em alguns casos, fenótipos semelhantes a tumor ou pelo menos apresentando instabilidade cromossômica progressiva (VUKICEVIK et al., 2010). Nesse caso, são recomendados apenas o uso de neuroesferas cultivadas por curtos períodos de tempo para fins de pesquisas ou aplicações clínicas. Eles destacam ainda que a validade do ensaio in vitro da neurosfera vem sendo questionada em termos de medida de clonalidade, multipotencialidade e neurogenicidade. Por exemplo, o conceito de clonalidade no ensaio das neurosferas é equivalente ao número de neuroesferas. Tal premissa é considerada falsa, pois tanto as células-tronco quanto seus progenitores amplificadores de trânsito podem formar neuroesferas, isso porque células-tronco quiescentes podem não ser detectadas no ensaio. Outro ponto de divergência está na concepção de que uma neurosfera representa a proliferação clonal de uma única célula, posto que em alguns estudos já realizados foi verificado que CTNA e neuroesferas apresentam mobilidade e tendem a se agregar mesmo em baixas densidades celulares, produzindo assim um erro inerente em termos de clonalidade, tamanho e número de neuroesferas (LADIWALA et al., 2012). Ainda assim, mesmo uma neurosfera subclonada, apresenta uma composição celular heterogênea, sendo constituída de células-tronco, progenitoras e células diferenciadas em diferentes fases do ciclo celular (Figura 3). Figura 3. Limitações do ensaio da neurosfera. O ensaio de neurosfera in vitro tem sido usado como modelo para estudar o comportamento de células-tronco sob várias condições. No entanto, o ensaio in 6 vitro não representa uma população homogênea de células-tronco de clonagem, mas uma mistura heterogênea de tipos de células em diferentes estados de maturidade, que representam parcialmente a “stemness”. 2.2 Potenciais aplicações clínicas para neuroesferas A grande novidade envolvida na utilização de células derivadas do ensaio na neuroesfera está no fato de que estas, após uma diferenciação celular direcionada para uma linhagem neuronal, sejam potencialmente utilizadas para fins terapêuticos em diversas doenças neurológicas que ainda não possuem um tratamento médico adequado. E quando modificadas geneticamente, essas células podem ser usadas para produzir proteínas que auxiliem na recuperação neuronal ou para bloquear proteínas específicas envolvidas no dano neuronal. O presente artigo também menciona que quando modificadas in vitro, os progenitores expandidos podem se comportar como um veículo de inoculação de drogas ou RNA interferente (RNAi) e prevenir a progressão de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer ou Parkinson. Ainda que o ensaio da neurosfera não permita estudar a população de células- tronco de boa-fé, dada a natureza heterogênea das populações de células das neuroesferas, esse procedimento tem sido muito útil para analisar o efeito geral das moléculas terapêuticas no processo neurogênico ou para entender a função de deleção ou superexpressão de genes envolvidos na regulação da proliferação e autorrenovação dessas populações mistas de células-tronco/progenitoras. No que diz respeito às suas aplicações na medicina regenerativa, os autores do artigo ressaltam que apesar dessas células obtidas por meio de expansões in vitro sejam capazes de integrar e substituir tecidos lesados, há de se considerar que apresentam natureza e identidade inconsequentes para o organismo. Além disso, outros problemas precisam ser superados para tornar a medicina regenerativa uma realidade terapêutica, a citar: o risco de rejeição imunológica após o transplante de enxertos expandidos alogênicos provenientes de outros pacientes e a necessidade de mais estudos de longo prazo em modelos animais para predizer o potencial oncogênico de células-tronco estimuladas artificialmente. 3. CARACTERIZAÇÃO FENOTÍPICA DA NEUROESFERA E MARCADORES MOLECULARES De acordo com os autores do artigo é fundamental analisar os marcadores moleculares disponíveis, a expressão gênica e/ou funções biológicas que caracterizam distintamente cada população de célula para que seja possível avaliar os diferentes fenótipos compreendidos em uma neurosfera. No entanto, ressalta-se que nenhum marcador molecular específico de CTNA foi encontrado até o momento, exceto o GFAP que identifica CTNA in vivo, mas ainda assim essas células não expressam os marcadores moleculares de diferenciação de neurônios, astrócitos e/ou oligodendrócitos. 7 Segundo os autores do artigo, a partir dos marcadores moleculares é possível distinguir apenas três tipos de células em neuroesferas derivadas da SVZ de camundongos adultos que também estão presentes no nicho neurogênico in vivo: (1) astrócitos ou células do tipo B (expressando GFAP, GLAST, CD133 entre outros); (2) células tipo C que são Dlx-positivas, células Sox2- positivas e Olig2-positivas; (3) e células do tipo A bem caracterizadas pela expressão de beta-III-tubulina (Tuj1). Figura 4. Marcadores moleculares em neuroesferas ZSV. A) imunocoloração anti‐Tuj1 e anti‐Ki67. B) imunocoloração anti-nestina e anti-Ki67. C) imunocoloração anti-GFAP. Conforme a Figura 4, não foi observado um padrão fixo de distribuição na expressão dos marcadores testados. A coloração de Tuj1 é proeminente na periferia de uma pequena porcentagem de neuroesferas, provavelmente derivadas de progenitores mais comprometidos que já começaram a se diferenciar. Ainda na interpretação dos autores do artigo, o tipo de célula mais frequente não expressa GFAP ou Tuj1, provavelmente correspondendo à célula C de divisão rápida, e o marcador Ki-67, um marcador de entrada no ciclo celular, é amplamente expresso na neurosfera como um indicador de proliferação ativa (Figura 4B). 3.1 Abordagens baseadas em expressões gênicas Ao questionar se é possível correlacionar a expressão gênica naneurosfera àquela em CTNA, os autores relatam que muitos estudos de expressão gênica estão sendo desenvolvidos com o objetivo de caracterizar o compartimento das CTNA, onde o ensaio das neurosferas pode contribuir com uma grande quantidade de células, porém, a dificuldade é a identificação dessas células, tendo em vista a heterogeneidade das populações celulares estudadas, principalmente verificada pelas diferenciações dentro do mesmo tipo de célula em função da variabilidade de cultivo ou pela ocorrência de distintos estágios de diferenciação. O artigo menciona um estudo realizado por Parker et al. (2005) onde foram comparadas células clones, de células-tronco neurais operacionalmente definidas, com aquelas obtidas a partir de ensaios da neuroesfera e foi demonstrado que os genes de “stemness”, expressos por ambas as populações, diferiram para um padrão mais diferenciado nas células obtidas a partir do ensaio. 3.2 Função biológica Ao discutir sobre a definição das CTNA em termos funcionais, uma vez que há heterogeneidade nas populações dessas células, o artigo descreve um estudo realizado 8 por Maurer et al.(2008), onde estes constataram que há uma variação no padrão de expressão gênica, mas afirmaram que é possível listar pré-requisitos comuns em termos de “expressão de proteínas”, como por exemplo, a capacidade de resposta a fatores de crescimento (expressão de receptores), como EGF, FGF-2, EPO, G-CSF , VEGF, LIF, TGF-b, NGF, bem como neurotransmissores, tais como glutamato, GABA ou óxido nítrico; (2) O uso de cascatas de sinalização de desenvolvimento, incluindo Shh, Pax, Hox, Wnt, Notch / Delta, TGF-b, NF kappa B ou JAK / STAT; (3) A interação com a matriz extracelular por meio de proteínas de interação célula-célula, como integrinas e caderinas; (4) A expressão de genes reguladores da transcrição e tradução responsáveis pela mudança do fenótipo celular de sua forma indiferenciada para os novos requisitos funcionais de uma célula-tronco diferenciada; (5) Os mecanismos de controle do número de células e proteção contra o estresse celular. Uma vez que todos os pré-requisitos estão presentes, a célula possui as ferramentas biológicas necessárias para proliferar, se autorrenovar e se diferenciar, independentemente dos marcadores expressos. 4. MORFOLOGIA DAS NEUROESFERAS DERIVADAS DA ZSV Ainda que não tenha sido elucidada a identidade das CTNA e as próprias células que compõem a neurosfera, os autores do artigo ressaltam a importância de conhecer em detalhes a morfologia das CTNAs expandidas e progenitoras, pois isso permitirá avaliar a natureza da célula potencialmente transplantada para selecionar as populações mais puras e saudáveis, para expandi-las e, assim obter sucesso na substituição celular. O artigo traz os dados experimentais de um estudo realizado com seis camundongos machos CD1 de 2 meses de idade que foram sacrificados por deslocamento do pescoço e as células da SVZ foram dissecadas. Após duas a quatro passagens celulares, as neuroesferas foram fixadas com paraformaldeído a 4% ou glutaraldeído a 3,5% para realizar a imunohistoquímica e microscopia eletrônica, respectivamente. 4.1 Organizações histológicas Nesse estudo foi utilizado microscopia de contraste de fase, onde foram identificadas neuroesferas saudáveis e brilhantes em todo o seu volume. E quando foram analisadas neuroesferas com um tamanho maior que 200mm de diâmetro foi observada uma região central escura ou núcleo (Figura 5A-C), que segundo os autores do artigo, corresponde a uma área com alta taxa de morte celular. Em ampliações maiores (1003) em seções semifinais foi possível observar células mortas no núcleo de neuroesferas menores (100-200 mm de diâmetro), que não mostram um núcleo escuro evidente à microscopia de contraste de fase. 9 Diante de ampliações de 403 a 1003 vezes no microscópio de luz, nas seções semifinais, não foi possível identificar mais de um tipo de célula dentro da neurosfera. Verificou- se apenas que os núcleos eram arredondados com invaginações ocasionais e cromatina dispersa, apresentando 1 ou 2 nucléolos típicos. Além disso, verificou-se que as células não estavam completamente ligadas umas às outras, havendo lacunas intercelulares sem expansões celulares. Também foram verificados sinais evidentes de morte celular e ruptura no núcleo das neuroesferas relacionadas aos núcleos apoptóticos. Os núcleos mitóticos foram frequentemente distribuídos na periferia da neurosfera (Figura 5D-H). Figura. 5. Microscopia de luz. A – C: Imagem de contraste de fase. Três neuroesferas de tamanho decrescente são representadas. Apenas a neurosfera em A (> 200mm) apresenta um núcleo escuro. D – H: Reconstrução de uma neurosfera em seções semifinais. G: No centro de 100-mneurosfera de diâmetro um grupo de células mortas (núcleos apoptóticos) são observados (círculo). Barra de escala: A – C5250 mm; D – H520 mm. Ao analisar cortes semifinos processados para microscopia eletrônica (EM) e cortes ultrafinos contrastados com citrato de chumbo foram observadas neuroesferas compostas por células que não exibiam as características ultraestruturais típicas de neurônios, células gliais ou ependimárias (Figura 6A, B). Além disso, conforme as imagens histológicas abaixo, o citoplasma tinha contorno irregular com expansões curtas, esporadicamente longas, circundantes e células próximas através de junções aderentes (Figura 6D, E). Gotículas lipídicas foram observadas dentro do citosol, sendo frequentemente encontradas nas figuras mitóticas (Figura 6F, G), e segundo os autores do artigo, esse fato não é usual in vivo, indicando que as condições de cultura podem variar a atividade metabólica das células. 10 Figura 6. Características ultraestruturais de neuroesferas derivadas de SVZ de camundongo. UMA: Micrografia de seção ultrafina mostrando células distintas da neuroesfera com aparência de elétron-denso (asterisco preto) ou elétron-lucente (asterisco claro). B: Detalhe de ambos os tipos de células: citoplasma elétron-denso (asterisco preto) e elétron-lucente (asterisco claro). C: Complexo de Golgi com poucas cisternas (seta) associado a elevado número de vesículas clatrincadas (pontas de seta). D: Expansão celular ao redor de uma célula próxima (setas). E: Detalhe das junções aderentes características entre as células da neuroesfera (setas). F: Mitose com sua densa cromatina mostrando gotículas de lipídios citoplasmáticos (pontas de seta). G: Detalhe dos agregados de gotículas lipídicas dentro do citoplasma, frequentemente observados. H: Detalhe de grandes nucléolos reticulados (setas), observados na maioria dos núcleos. EU: Seção perpendicular das lamelas anuladas mostrando complexos de poros (pontas de seta). J: Detalhe da seção tangencial das lamelas anuladas mostrando a visão da superfície dos complexos de poros (pontas de seta). K: Vista panorâmica das células do núcleo da neurosfera. EU: Detalhe de K (região quadrada) em grande ampliação mostrando detritos celulares. M: Detalhe de K (região quadrada) em alta ampliação mostrando uma célula dentro do núcleo exibindo corpos densos heterogêneos citoplasmáticos. Barra de escala: A, D, L e M52 mm; B e H51 mm; C, G, J e I5500 nm; E 5250 nm; F55 mm; K510 mm. Ld5Gotículas de lipídios. Em geral, os núcleos eram irregulares e apresentavam recortes profundos, cromatina dispersa com alguns grumos de cromatina densa e nucléolos reticulados grandes (Figura 6H). Outro aspecto observado é que não houve a presença simultânea de microtúbulos e filamentos intermediários na mesma célula. Foram observadas vesículas revestidas de clatrina e corpos multivesiculados e pequenas protusões membranosas, indicando uma comunicação intensa entre células vizinhas. Além disso, foi verificada a presença de células esporádicas exibindo umúnico cílio e não foram identificadas células multiciliadas. Nessas células, o único cílio foi profundamente internalizado dentro do citoplasma. Os autores do artigo reiteram que mesmo em condições ideais, as neuroesferas apresentam sinais de dano celular e em último caso, morte celular e que isso tende a se intensificar quando não são atingidas as condições ideais de cultivo. Ele faz referência a um trabalho desenvolvido por Bez et al. (2003), onde foi constatado que apenas em condições desfavoráveis, verifica-se a morte das células mais externas da neurosfera antes das células do núcleo, indicando condições externas não ótimas. No artigo, os autores fazem inclusive, uma comparação entre tumoroesferas derivadas de células em glioblastomas multiforme (GBM) com neuroesferas derivadas da SVZ, isso em virtude da preocupação envolvida na manipulação de CTNA in vitro, tendo em vista a possibilidade de transformação oncogênica, gerando tumores neurais no receptor. Para isso, os autores do artigo fazem referência a um estudo realizado por Ramirez-Ruano, et al. (não publicado), onde foram feitas análises ultraestruturais de espécimes de glioblastoma de dois pacientes adultos, cujas neuroesferas derivadas de GBM foram morfologicamente distinguíveis das neuroesferas derivadas de SVZ adultas, permitindo a sua identificação. As tumoroesferas de GBM foram densamente compactadas e profusamente misturadas através de longas expansões citoplasmáticas (Figura 7A). Segundo as análises feitas, nenhuma das células nas esferas do tumor tinha características clássicas e distintas dos tipos gliais, neuronais ou ependimários maduros. Os núcleos eram muito irregulares com invaginações, continham cromatina dispersa e nucléolos grandes (1 ou 2) eram recorrentes (Figura 7D). Uma densa rede de filamentos intermediários e microtúbulos coexistia, diferentemente das neuroesferas não tumorais. E apesar das evidências de morte celular, as esferas de GBM não tinham núcleo, em comparação com as neuroesferas não tumorais. Assim, pode-se concluir que houve diferenças 11 suficientes entre as esferas de GBM e as derivadas das neuroesferas da SVZ que poderiam nos permitir distinguir in vitro transformações de CTNA expandidas, constituindo assim, dados importantes para uma manipulação mais segura quanto a identificação e seleção de neuroesferas saudáveis expandidas in vitro com capacidade para substituição tecidual. Figura. 7. Características ultraestruturais de tumoresferas de GBM. UMA: Esfera tumoral em seção semi- fina mostrando sua estrutura compactada e a ausência de núcleo. B: Há heterogeneidade no conteúdo citoplasmático, às vezes aparecendo mais células elétron-densas (linha preta descontínua) e mais elétron- lucente (linha branca descontínua). C: Detalhe da célula elétron-densa mostra a abundância de mitocôndrias e pequenos RER (ponta de seta). D: As células citoplasmáticas elétron-densas apresentam núcleos muito irregulares com recortes (setas brancas) e nucléolos grandes (setas pretas). Às vezes, essas células mostram uma longa expansão citoplasmática sions (setas de cabeça). E: Detalhe do aparelho de Golgi (pontas de seta) de células citoplasmáticas elétron-densas. F: Detalhe de duas expansões. Uma expansão contém filamentos intermediários (pontas de seta pretas) e a outra exibe filamentos intermediários (pontas de seta pretas) e microtúbulos (pontas de seta brancas).G: Detalhe da célula mais clara mostrando corpos densos com conteúdo membranoso (setas), um provável sinal de autofagia. Barra de escala: A, B e D510 mm; C e E51 mm; F e G5500 nm. DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS O ensaio da neuroesfera é muito importante para ser utilizado na obtenção de grandes quantidades de células a serem utilizadas em pesquisas básicas ou terapias de reposição, tornando-se, portanto, uma técnica inestimável. Contudo, deve-se atentar às limitações desse procedimento, evitando assim más interpretações e melhorando as técnicas na busca por resultados ideais. Essa técnica tem sido muito utilizada nas últimas décadas, entretanto, foram descritos nichos neurogênicos emergentes que são novas fontes potenciais de neuroesferas para fins de pesquisa. 12 O hipotálamo está envolvido na regulação de sistema neuroendócrino, mesmo que seu papel na neurogênese seja ainda controverso, evidências recentes revelaram a produção de novos neurônios na fase adulta (revisado em Migaud et al., 2010). Os tanicitos foram considerados os responsáveis pela neurogênese no hipotálamo, pois após uma lesão os mesmos proliferam novos neurônios que se integram a área danificada. No giro dentado do hipocampo também residem células-tronco, porém, há controvérsias se a célula-tronco multipotente tem capacidade de se renovar e se diferenciar em progenitores gliais e neuronais (Suhonen et al., 1996; Palmer et al., 1997; Seri et al., 2006) ou conseguem apenas dar origem a colônias pequenas, unipotentes e não auto renováveis (Clarke et al., 2010). Outra fonte interessante de células-tronco para a medicina regenerativa é o bulbo olfatório pois tem a capacidade de auto renovação e diferenciação em relação ao fenótipo neuronal e fornecem uma ferramenta para terapias de transplante em doenças neurodegenerativas, evitando assim as questões éticas abordadas no uso de embriões humanos. A possibilidade de obtenção de células-tronco do próprio paciente dribla também as questões de disponibilidade e rejeição imunológica, criando assim um futuro para aplicações clínicas. Outra fonte potencial de células-tronco é a retina (Das et al., 2005) e o córtex cerebral (Homman- Ludiye et al., 2012). Independentemente da fonte dessas células é importante que elas sejam cultivadas e mantidas em meios ideais afim de melhorar os resultados neurológicos. Existem muitos aspectos a serem considerados quanto a essas condições ideais de cultivo, como pressão de oxigênio, componentes da mídia, temperatura, métodos de desagregação, número de passagens e assim por diante. Por isso, a adesão de protocolos padronizados é necessária e também para termos de comparação de diferentes grupos, tendo em vista a melhoria dos resultados algumas inovações quanto a esses protocolos que buscam condições mais fisiológicas para esse crescimento não devem ser desconsideradas. Novos protocolos devem ser mais investigados pois para ser capaz de melhorar as condições de cultura devemos sempre reconhecer o que queremos otimizar, por isso é fundamental fazer a verificação do estado das células que compõem as esferas. REFERÊNCIAS Alvarez-Buylla A, Garcia-Verdugo JM. 2002. Neurogenesis in adult subventricular zone. J Neurosci 22:629–634. Bez A, Corsini E, Curti D, Biggiogera M, Colombo A, Nicosia RF, Pagano SF, Parati EA. 2003. Neurosphere and neurosphereforming cells: morphological and ultrastructural characterization. Brain Res 993:18–29. Biebl M, Cooper CM, Winkler J, Kuhn HG. 2000. Analysis of neurogenesis and programmed cell death reveals a self-renewing capacity in the adult rat brain. Neurosci Lett 291:17–20. Bonfanti L, Ponti G. 2008. Adult mammalian neurogenesis and the New Zealand white rabbit. Vet J 175:310–331. Coles-Takabe BLK, Brain I, Purpura KA, Karpowicz P, Zandstra PW, Morshead CM, Van der Kooy D. 2008. 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