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FISIOLOGIA: SISTEMA URINÁRIO 1 Regulação Ácido-Base Concentração do H+ A concentração de H+ nos líquidos corporais é de cerca de 0,00004 mEq/L (ou 40 nEq/L), sendo de extrema importância a manutenção dessa concentração, já que diversos sistemas de enzimas do corpo são influenciados pela [H+]. Geralmente, variações normais ficam entre os valores de 35 a 45 nEq/L, mas podem ocorrer variações de até 160 unidades sem causar morte. Como os valores de H+ são muito baixos, convencionou-se utilizar a escala de pH para quantificar esse íon; sendo que pH = -log[H+]. O pH de 0,00004 mEq/L é = 7,4, este é o valor do pH no sangue arterial; nos sangue venoso o pH=7,35. Nas artérias, é considerado uma acidose pH<7,4 e uma alcalose em pH>7,4. O limite mínimo de pH, no qual a pessoa pode viver, por poucas horas, está em torno de 6,8, e o limite superior, em torno de 8,0. OBS! Conceitos de ácidos e bases → Ácidos são todas as moléculas capazes de liberar H+; já as bases são todos as moléculas capazes de receber um H+. Os ácidos fortes são aqueles que liberam rapidamente e grandes quantidades de H+ (como o HCl); já bases fortes são aquelas que reagem rapidamente com o H+ (como o OH-). Nos organismos, os principais componentes da regulação ácido básica são o ácido carbônico (H2CO3 → ácido fraco) e bicarbonato (HCO3- → base fraca) Alguns outros valores de pH nos líquidos corporais são demonstrados na tabela abaixo. Sistemas de controle das variações de H+ Existem 3 sistemas primários no organismo que regulam a concentração de H+ nos líquidos corporais; são eles: • Sistemas tampões químicos ácido-base dos líquidos corporais: quando ocorre uma variação de H+, esses sistemas respondem rapidamente para minimizar essas alterações → não ocorre adição ou eliminação de íons H+, somente um certo controle até que o equilíbrio possa ser restabelecido. • Sistema respiratório: age eliminando o CO2 e, por conseguinte, o H2CO3 do corpo. • Sistema renal: conseguem eliminar o excesso de ácido ou base do corpo. SISTEMAS TAMPONANTES NO ORGANISO Antes de explicar sobre os sistemas tamponantes do organismo, é válido relembrar o conceito de tampão. Tampão é qualquer substância capaz de se ligar reversivelmente ao H+, sendo que sua fórmula geral é de: Nesse caso, em uma situação de da [H+] (aumento da concentração de íons hidrogênio), ocorre uma tendência do equilíbrio de deslocar para a reação direta, se houver tampão disponível, e, assim, a [H+]. Se a [H+], a reação inversa ocorrerá. Sistema tampão do bicarbonato Esse sistema é formado pelo ácido carbônico (H2CO3) e um sal bicarbonato (como NaHCO3). O ácido carbônico é formado pela reação da água com o CO2 por meio da anidrase carbônica, que está presente abundante nos alvéolos e nas células epiteliais dos túbulos renais. Esse ácido então se ioniza fracamente em H+ e HCO3-; o bicarbonato se junta ao sódio circulante, formando o NaHCO3. Acoplando todo o sistema, temos que: Então, por exemplo, quando se adiciona um ácido forte na reação, a alta carga de H+ seria tamponada, em parte, pelo HCO3-, que, por sua vez, se dissociaria em CO2 e H2O, sendo eliminado. Já em uma adição de uma base forte (como NaOH), ocorre o da dissociação de H2CO3 em H+ e bicarbonato, pois assim o H+ reage com o OH- liberado, formando água. Esse sistema tampão bicarbonato é o mais importante do organismo. Entretanto, pode-se afirmar que ele não é tão potente, pois o seu pKa é de 6,1, enquanto o pH do líquido extracelular é de 7,4, ou seja, o sistema tampão tende sempre a fazer uma maior dissociação de H2CO3, a fim de neutralizar o meio mais básico com o H+ liberado para formar água. Todavia, o fator que mais se destaca dos outros FISIOLOGIA: SISTEMA URINÁRIO 2 nesse tampão é de que seus dois elementos principais (CO2 e HCO3-) podem ser regulados pelos pulmões e pelos rins. Sistema tampão fosfato O principal elemento que faz parte desse tampão são o H2PO4- e HPO4-2. Esses componentes se associam ao Na+ para se neutralizar. Então, por exemplo, com a liberação de um ácido forte (como HCl) no meio, ocorre a transferência do Na+ do Na2HPO4 para o HCl e, por conseguinte, a transferência do H+ para o Na2HPO4; sendo assim, tem-se a equação: Ou seja, ocorre a transferência de um ácido forte (HCl) em um ácido fraco (NaH2PO4), fazendo com que a queda do pH seja minimizada. Já quando uma base forte é acrescentada (como o NaOH), o OH- liberado será tamponado com a dissociação do NaH2PO4, que formará H+, resultando em H2O (H+ + OH-). As desvantagens desse tampão são: • Concentração dos componentes do sistema tampão são baixos → 8% da concentração do bicarbonato As vantagens são: • Fosfato geralmente fica muito concentrado nos líquidos tubulares dos rins • O líquido tubular dos rins é mais ácido, o que aproxima do pK de 6,8 • pK de 6,8 → mais próximo do pH normal de 7,4 dos líquidos extracelulares • O fosfato está mais concentrado nos líquidos intracelulares, o que permite um efeito tamponante Sistema tampão das proteínas As proteínas estão entre os tampões mais abundantes no corpo devido às suas concentrações elevadas, especialmente no interior das células. Apesar das proteínas estarem mais concentrados nos líquidos intracelulares, alguns elementos importantes na regulação ácido-base, como o CO2, podem se difundir pelas membranas celulares facilmente. Assim, variações do sistema tampão do bicarbonato do líquido extracelular vão causar reações no líquido intracelular também. Logo, os tampões proteicos presentes nas células também podem ajudar a retardar o efeito do do pH ou dele. Com relação às hemácias, a hemoglobina é um tampão de extrema importância: SISTEMA RESPIRATÓRIO NO EQUILÍBRIO ÁCIDO- BASE Esse sistema é de extrema importância, pois o aumento da ventilação elimina o CO2 do líquido extracelular, o que reduz a concentração de H+. Em contrapartida, uma ventilação H+. Gráficos da ventilação pulmonar e o feedback respiratório Se a formação metabólica de CO2 permanecer constante, o único fator que pode alterar a pressão parcial de gás carbônico no líquido extracelular (pCO2) é a ventilação alveolar. Quanto a ventilação, a pCO2 e, assim, [H+]. O inverso também é verdade. Dessa forma, montamos o gráfico de alteração do pH nos líquidos corporais x ventilação alveolar. É interessante também ressaltar que a [H+] no organismo também vai causar uma mudança na ventilação alveolar, sendo que um do pH para 7,0 vai multiplicar a respiração em até 4 a 5x, como mostrado no próximo gráfico: FISIOLOGIA: SISTEMA URINÁRIO 3 Sendo assim, tem-se a formação de um feedback negativo, representado no esquema a seguir: CONTROLE RENAL DO EQUILÍBRIO ÁCIDO BASE Os rins podem controlar o equilíbrio ácido-base ao excretar urina ácida ou básica. O mecanismo pelo qual ocorre isso é que o rim tem a capacidade de excretar mais H+ ou HCO3- de acordo com a necessidade do organismo, regulando esses dois componentes fundamentais do equilíbrio ácido- base. O organismo produz cerca de 80 mEq de ácidos não voláteis (ácidos que não são o ácido carbônico) e, logo, não podem ser eliminados pelos pulmões. Então, o rim necessita eliminá-los ao mesmo tempo em que reabsorve quase todo o bicarbonato filtrado. Secreção de H+ e reabsorção de HCO3- A reabsorção de HCO3 só ocorre se houver H+ no líquido tubular para se ligar ao bicarbonato e formar o H2CO3, o qual é, por conseguinte, dissociado em H2O e CO2 e reabsorvido pelos túbulos renais. Dessa forma, o rim, para reabsorver o bicarbonato, necessita excretar a mesma quantidade de H+ no meio tubular. A secreção de íons hidrogênio e a reabsorção de HCO3− ocorrem praticamente em todas as partes dos túbulos (80 a 90% nos túbulos proximais), exceto nas porções finas descendentes e ascendentes da alça de Henle.Ver figura abaixo, que demonstra as diferenças entre os seguimentos renais na reabsorção do bicarbonato. Então, o processo de secreção dos H+ e reabsorção do bicarbonato ocorre pelas seguintes etapas: 1. O CO2 se difunde para as células tubulares e, sob ação da enzima anidrase carbônica, combina-se com a água para formar o ácido carbônico 2. Ocorre a formação de H+ e HCO-3 3. O H+ é excretado pelo cotransportador sódio- hidrogênio 4. O HCO3- formado dentro da célula é movido para o líquido intersticial renal pelo cotransporte Na- HCO3 (no túbulo proximal) e troca Cl-HCO3 (no restante dos túbulos renais) e drenado pelos capilares peritubulares 5. O H+ e o HCO3- dentro dos túbulos formam o ácido carbônico, que, por sua vez, se dissocia em H2O e CO2, produtos que conseguem se difundir para fora das células tubulares Sendo assim, entende-se o mecanismo de regulação ácido-base renal, em que, quando ocorre excesso de HCO3− em relação ao H+ na urina, como acontece na alcalose metabólica, o excesso de HCO3− que não pôde ser reabsorvido permanece, portanto, nos túbulos e é excretado. Já na acidose, ocorre excesso de H+ em relação a HCO3−, causando reabsorção completa de HCO3−; o H+ em excesso passa para a urina, em combinação aos tampões urinários, particularmente o fosfato e a amônia, sendo posteriormente excretado como sal. Uma outra maneira de excretar o H+, que ocorre no final dos túbulos distais e prosseguindo pelo restante do sistema tubular, é o por transporte ativo primário, em que o hidrogênio é secretado por meio de uma ATPase transportadora de hidrogênio e um transportador hidrogênio-potássio-ATPase. Esse tipo de secreção ocorre em células especiais, denominadas células intercaladas tipo A. Muito embora a secreção de H+ no túbulo distal posterior FISIOLOGIA: SISTEMA URINÁRIO 4 e nos túbulos coletores represente apenas 5% do total de H+ secretado, esse mecanismo é importante na formação de urina muito ácida. Combinação do excesso de H+ com tampões fosfato e amônia O mínimo de pH que a urina pode chegar é cerca de 4,5 (concentração de H+ máxima de 0,03 mEq/L). Então, em um momento de acidose em que há um excesso de H+ nos túbulos renais (maior que 0,03 mEq/L), ocorre o tamponamento dessa H+ por tampões fosfato e amônia presentes nos túbulos. Assim, o H+ em excesso consegue ser excretado sem acidificar demais o meio. Tampão fosfato O tampão fosfato tem grande eficiência nesse processo pois ele está em concentração no meio tubular e apresenta pK de 6,8, que é o pH normal da urina. Após a união dos H+ às bases HPO4-2 para formar H2PO4-2, o composto final pode se combinar a um sódio para formar um sal. OBS! Existe diferença importante entre essa sequência de excreção de H+ e a discutida antes. Neste caso, o HCO3− que é gerado na célula tubular e entra no sangue peritubular representa ganho efetivo de HCO3− pelo sangue, em vez de simplesmente ser reposição do HCO3− filtrado. Portanto, sempre que um H+ secretado no lúmen tubular se combinar com tampão que não o HCO3−, o efeito líquido é a adição de novo HCO3− ao sangue. Esse processo demonstra um dos mecanismos pelos quais os rins são capazes de recompor as reservas de HCO3− do líquido extracelular. Tampão amônia O tampão amônia é ainda mais importante que o fosfato devido à elevada concentração de amônia na urina. O íon amônio (NH4+) é sintetizado a partir da glutamina, pelos seguintes processos 1. A glutamina é sintetizada a partir do metabolismo hepático dos aminoácidos 2. Ela é transportada para os rins e interiorizada pelas células epiteliais dos túbulos proximais, do segmento ascendente espesso da alça de Henle e dos túbulos distais; 3. Dentro dessas células, a glutamina sofre uma série de reações que forma 2NH4+ e 2HCO3-. 4. O íon amônio é secretado no lúmen tubular por cotransporte com o sódio e o bicarbonato é transportado pela membrana basolateral para o líquido intersticial. Nesse caso, então, temos o ganho sólido de dois bicarbonatos ao organismo. Nos túbulos coletores, a adição de NH4+ ao líquido tubular ocorre por mecanismo diferente. Aqui, o H+ é secretado pela membrana tubular para o lúmen, onde se combina com NH3 para formar NH4+ que é excretado. Os ductos coletores são permeáveis ao NH3, que consegue se difundir facilmente para o lúmen tubular. Entretanto, a membrana luminal dessa FISIOLOGIA: SISTEMA URINÁRIO 5 parte dos túbulos é bem menos permeável ao NH4+; por conseguinte, uma vez o H+ tenha reagido com NH3 para formar NH4+, o NH4+ fica no lúmen e é eliminado na urina. Nessa situação anterior, também há um ganho efetivo de 1HCO3- pela síntese do H+ a partir do H2CO3. Um dos fatores mais importantes do tampão da amônia é que ele pode estar sujeito ao controle fisiológico. Logo, em uma situação de acidose, o metabolismo renal da glutamina é aumentado, aumentando, portanto, a formação de HCO3- nos rins, equilibrando a acidose. OBS! Sob condições normais, a quantidade de H+ eliminada pelo sistema tampão amônia é responsável por cerca de 50% do ácido excretado e 50% do novo HCO3− gerado pelos rins.
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