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Fabiana Dantas Turino Alterações de desenvolvimento da região oral e maxilofacial 2 – Capítulo 1 Aula 2 – Bloco 1 – Patologia 1 O sufixo glosso se refere a língua, logo: • Microglossia: língua menor que o normal • Macroglossia: língua maior que o normal • Anquiloglossia: língua pressa • Tireóide lingual • Língua fissurada • Língua pilosa • É considerada uma língua anormalmente pequena. • Característica incomum de etiologia desconhecida. Pode estar associada a alterações sindrômicas ou mandíbulas hipodesenvolvidas, mas também pode ocorrer em crianças não sindrômicas e a língua pode ser menor quando comparadas as estruturas periorais. Normalmente, não traz grandes consequências ao paciente, sendo considerada, portanto, uma variação da normalidade. Figura 1 - Paciente com micrognatia • Aumento da língua por malformação congênita e doenças adquiridas • Em crianças traz quadros de: gagueira • Em pacientes adultos traz quadros de: identações na borda lateral da língua • Em todos os casos pode haver: mordida aberta, prognatismo mandibular, língua projetada e obstrução das vias aéreas • Pacientes com Síndrome de Down (trissomia do cromossomo 21) e Linfangioma podem ter macroglossia Figura 2 - Pacientes com macroglossia (perceba que o paciente da direita possui identações na borda lateral da língua) • É caracterizada por um freio lingual curto que traz limitação dos movimentos da língua dependendo do grau de inserção da língua • É diagnosticada mais em meninos (4:1). E em adultos quadros mais moderados são observados devido adaptação Fabiana Dantas Turino • As características clinicas são variáveis, mas geralmente incluem dificuldades funcionais e periodontais • A frenectomia geralmente acontece após os 5 anos de idade devido a uma possível correção espontânea nos primeiros anos de vida. Em pacientes que conseguem se adaptar com a anquiloglossia observamos uma fonação característica denominada língua pressa. Figura 3 - Pacientes com anquiloglossia. Na imagem a esquerda conseguimos observar um freio lingual muito curto inserido no rebordo alveolar anterior inferior, assim trazendo uma limitação no ápice da língua. • Ocorre devido a falha na migração da glândula primitiva no trajeto entre o forame cego (localizado no vértice do “V” lingual) e epiglote • Manifesta-se clinicamente como nódulo assintomático clinicamente evidente como uma massa vascularizada/avermelhada na superfície dorsal posterior da língua, que pode bloquear as vias aéreas, e causar dificuldades de fonação e deglutição. • É mais frequente em mulheres que subsequente pode desenvolver um quadro de hipotireoidismo • Os exames de imagem como cintilografia com iodo, tecnécio 99m, TC e RM ajudam muito no diagnóstico clinico delineando o tamanho e extensão do tecido tireoidiano, fazendo com que a biópsia seja evitada. A biópsia deve ser evitada pois esse tecido tireoidiano é considerado funcionalmente normal, fazendo com que com paciente precise desses hormônios e uma biópsia poderia levar a perda da tireoide funcional. • Quando a tiroide lingual traz consequências clínicas para os pacientes é indicada a remoção cirúrgica com acompanhamento periódico e suplementos de hormônios. • A microscopia da amostra apresenta as características normais de um tecido tiroidiano com fólicos tiroidianos preenchidos de coloide. Figura 4 - Desenho demostrando a posição normal da tireoide e a posição da tireoide lingual Fabiana Dantas Turino Figura 5 - Pacientes com tireóide lingual Figura 6 - Biópsia da tireoide lingual. Apresenta as características normais de um tecido tiroidiano com fólicos tiroidianos preenchidos de coloide. • Clinicamente são múltiplas fissuras que são linhas lineares na superfície da língua, variando de 2 a 6mm de profundidade • O cuidado com a higiene do dorso da língua nesses casos é importantíssima, pois as fissuras podem servir de acumulo de microrganismos. • Essa variação é encontrada em 2 a 5% da população, usualmente assintomática (algum sintoma pode ocorrer com alimentos ácidos ou condimentados), grau de intensidade pode aumentar com a idade, crianças e adultos • A língua fissura pode estar associação com língua geográfica – hereditariedade • A língua fissurada pode estar presente na Síndrome de Melkersson-Rosenthal quando além disso o paciente apresenta granulomatose orofacial e paralisia de Bell. Figura 7 - Língua fissurada • É uma variação da normalidade benigna descrita no capítulo 16 do Neville • O padrão da língua geográfica é causado devido a inflamação da língua Fabiana Dantas Turino • Clinicamente podemos observar áreas avermelhadas com bordas esbranquiçadas/margem circinadas que mudam de lugar e dão essa aparência de mapa geográfico. • Como dito anteriormente, a linha fissurada pode estar associada a língua geográfica e devemos orientar o paciente que ambas alterações são benignas • Assim como na língua fissura, o paciente com língua geográfica ao ingerir alimentos ácidos e condimentados (como chicletes de canela, sucos de abacaxi, agrião e rúcula) pode ter seu grau de inflamação aumentado, ocasionando desconforto ao paciente. • Em casos de pacientes com limiar baixo para dor e casos exacerbados de língua geográfica pode ser receitado um corticoide tópico para passar no dorso da língua e aliviar o sintoma da dor. • Algumas das vezes a língua geográfica aparece como áreas de erosão ou despapilação do dorso da língua, associada a pequenas mais avermelhadas com bordos esbranquiçados. (os bordos esbranquiçados são caracterizados pela presença de micro-abcessos no epitélio superficial da língua) • Não traz maiores consequências para o paciente e não necessita de biópsia (diagnóstico somente clínico). Figura 8 - Língua geográfica • Quando essa condição inflamatória que está presente na língua geográfica extrapola seus limites e também está presente nas mucosas adjacentes (mucosa labial ou mucosa de orofaringe) nós chamamos de eritema migratório benigno • É uma condição de origem desconhecida, mas precisamos reconhece-la, principalmente quando observamos lesões mucosas erosivas (perda parcial do epitélio) ficando um pouco mais avermelhada, mas tem os bordos circinados/esbranquiçados • O paciente também pode relatar que ela muda de tamanho e lugar de acordo com o tempo Figura 9 – Eritema migratório benigno • Caracterizada clinicamente por restos alimentares e debris celulares no dorso da língua, fazendo com que o dorso da língua fique com uma coloração mais esbranquiçada ou acizentada (isso varia de acordo com a pigmentação exógena da língua, podendo chegar na coloração amarronzada ou esverdeada) • A língua saburrosa é uma característica marcante de pacientes com higienização deficiente do dorso da língua • Orientar o paciente da condição benigna, além de incentivar a escovação e o uso de raspadores de língua (muitas vezes o paciente nunca foi orientado a escovar os dentes e muito menos o dorso da língua). Fabiana Dantas Turino Figura 10 - Língua saburrosa • A língua pilosa é caracterizada clinicamente pela presença de hipertrofia das papilas filiformes (fazendo que clinicamente observemos uma aparência semelhante à pelos). A língua pilosa está associada ao decréscimo na descamação normal ou hiperceratinização acompanhada de pigmentação exógena • Alguns fatores podem estar associados com a língua pilosa, como: antibioticoterapia, má higiene bucal (por isso que a língua pilosa é considerada uma evolução da língua saburrosa), infecções por fungos ou bactérias, radioterapia e tabagismo • É uma condição benigna, autolimitante, assintomática, podendo regredir espontaneamente ou persistir (para os casos de persistências os fatores associados com língua pilosa citados acima devem ser removidos) • Tratamento: Orientar o paciente a escovação e o uso de raspadores de língua. Ademais, é indicado o uso de queratinolíticospara quebrar a queratina formada no dorso da língua • A língua pilosa não necessita de biópsia para a realização do diagnóstico. O diagnóstico é completamente clinico, mas se eventualmente for retirado um pedaço da amostra na microscopia iremos observar a hipertrofia das camadas mais superficiais de queratina (grande quantidade de queratina na superfície das papilas filiforme), que muitas vezes são tratadas com agentes queratinolíticos que são prescritos principalmente nos casos mais exuberantes. Figura 11 - Língua pilosa Fabiana Dantas Turino Figura 12 - Biópsia da língua pilosa. Apresentando hipertrofia das camadas mais superficiais de queratina • São caracterizadas clinicamente por veias dilatadas e tortuosas presentes no ventre da língua, podendo se estende até o bordo lateral ou assoalho bucal. • Sendo comum em idosos e raro em crianças • São caracterizadas por múltiplas bolhas purpúreo-azuladas na superfície ventral e borda lateral de língua (as fibras elásticas presentes nessas regiões permitem com que essas veias dilatadas se tornem mais proeminentes e clinicamente evidentes) ou nódulo purpúro-azulado firme e indolor • É uma condição completamente assintomática e não está associada a outras alterações circulatórias – Não é porque o paciente tem varicosidades que ele vai ter maior risco de trombose, infarto ou alterações circulatórias sistêmicas. Geralmente as varicosidades linguais não tem associação com alterações circulatórias sistêmicas • A presença de muitas veias dilatadas e tortuosas pode levar a formação secundária de trombos (sem maiores consequências para o paciente) e queixas de razão estética • O paciente deve ser orientado ao caráter benigno da alteração e não há necessidade de tratamento. Figura 13 - Varicosidades ou veias linguais • A artéria de calibre persistente é comum em idosos • Clinicamente observamos um aumento de volume linear, papular ou arqueada. Usualmente localizados em lábios superior e inferior, porém também podem estar próximos a comissura labial. Essa artéria de calibre persistente é considerada uma alteração da normalidade, não sendo uma doença, pois essa artéria supre o lábio normalmente. • Cor normal a azulada, e sensação de pulsação • Sangramento abundante se for excisada, logo devemos evitar a biópsia Fabiana Dantas Turino • A microscopia revela uma grande artéria com uma camada muscular proeminente, por isso o termo de calibre persistente. Figura 14 - Artéria de calibre persistente • Condição rara de etiologia desconhecida, caracterizada pela hiperplasia do processo coronóide da mandíbula. • Geralmente acomete homens 5:1, principalmente jovens • Em grande maioria a hiperplasia coronóide é bilateral, mas podem perfeitamente serem unilateral (quando acontece isso devem ser distinguidos de tumores verdadeiros) • A hiperplasia coronóide leva a limitação da abertura bucal porque quando o paciente abre a boca o processo coronóide bate diretamente no arco zigomático fazendo com que ocorra uma limitação importante da abertura de boca • A tomografia computadorizada é o exame de escolha mais eficaz na demonstração da hiperplasia coronóide • Deve ser tratado com remoção cirúrgica, tendo cuidado com o músculo temporal inserido naquela região. Uma vez removida o paciente retorna a abrir a boca, não ocorrendo um novo crescimento do processo coronóide. É um crescimento autolimitante (não é uma neoplasia/tumor que exibe crescimento contínuo), logo, não volta após a remoção cirúrgica Figura 15 - Hiperplasia coronóide. Observe a limitação na abertura bucal na imagem a direita • Condição rara de etiologia desconhecida • Causa uma assimetria facial no paciente • Difícil distinguir da hiperplasia hemifacial • A característica radiográfica importante é o alongamento do colo ou cabeça do côndilo, desviando o queixo do paciente para o lado não afetado • É uma condição autolimitante • Tratado pela remoção cirúrgica Fabiana Dantas Turino Figura 16 - Paciente com hiperplasia condilar direita desviando o queixo para o lado esquerdo não afetado Figura 17 - Paciente com hiperplasia condilar • Caracterizada clinicamente por protuberâncias ósseas localizadas que se originam da cortical óssea Vestibulares – Nódulos ósseos bilaterais Palatinas – Lado lingual das tuberosidades maxilares, podem afetar apenas um lado, mais comum em homens Solitárias – Resposta a irritação local ou enxertos gengivais Reacional subpôntica – Crista óssea alveolar da região posterior projetada de uma ponte fixa • As exostoses ósseas não necessitam de cirurgia e seu crescimento é limitado. A remoção é indicada em casos de uso de próteses Figura 18 – Variadas exostoses ósseas. A) Exostose óssea vestibular posterior inferior; B) Exostose óssea vestibular superior e inferior; C) Exostose óssea palatina solitária • Exostose comum na linha média do palato duro • Hereditariedade e fatores ambientais, mas a etiologia ainda é desconhecida • Clinicamente são caracterizados por nódulos menor que 2cm, consistência pétrea (de osso), assintomáticos, mais comuns em mulheres (2:1) e adultos jovens • Pode ser encontrada nas variações de tamanho e forma: Toro plano, toro alongado, toro nodular e toro lobular Fabiana Dantas Turino Figura 19 – Variados tórus palatinos. A) Tórus palatino lobular; B) Tórus palatino nodular Figura 20 - Paciente com tórus palatino nodular + exostose óssea palatina posterior • Exostose comum na superfície lingual da mandíbula, sobre a linha milo-hioidéa na região de pré-molares • Geralmente são bilaterais (90%), menos comum que o Tórus palatino, são múltiplos nódulos • Aparecem em radiografias periapical (área radiopaca densa suposta as raízes dos dentes posteriores) e oclusal (projeção bem radiopaca mudando o contorno da superfície lingual da região bilateral de corpo mandibular). • Mais comum em adultos jovens • Possuem certa relação com bruxismo e presença de dentes na boca Figura 21 - Tórus mandibular Fabiana Dantas Turino Figura 22 – Radiografias do tórus mandibular periapical (área radiopaca densa suposta as raízes dos dentes posteriores – imagem à esquerda) e oclusal (projeção bem radiopaca mudando o contorno da superfície lingual da região bilateral de corpo mandibular – imagem à direita). Figura 23 - Variações de exostoses ósseas A) tórus mandibular; B) tórus palatino; C) exostose óssea solitária palatina posterior; D) exostose óssea solitária vestibular posterior Figura 23 - Biópsia da exostose óssea e tórus palatino/mandibular As exostoses ósseas e tórus palatinos/mandibulares não devem ser removidos e nem biopsiados, o diagnóstico é clinico, mas em casos de futuros procedimentos protéticos o material deve ser enviado para o patologista oral, e ele observará microscopicamente uma formação óssea muito semelhante ao normal, apresentando canais de havers, Volkmann, osteócitos preenchendo as lacunas, uma quantidade variável de medula óssea e osso que varia do compacto ao esponjoso (nas corticais observamos osso mais compacto). Fabiana Dantas Turino • Descrito por Stafne em 1942 • O defeito de Stafne é caracterizado e reconhecido por uma imagem radiolúcida (não é lesão) bem delimitada localizada na região posterior próxima ao ângulo da mandíbula, abaixo do canal mandibular, que respeita os limites da cortical basal da mandíbula. O seu diagnóstico definitivo se dá por meio da radiografia computadorizada, onde podemos observar o motivo da imagem radiolúcida na região posterior da mandíbula, isso é ocorre devido a reabsorção/depressão da cortical lingual da mandíbula pela presença do tecido glandular da glândula submandibular (a glândula submandibular pode estar mais projetada reabsorvendo a cortical lingual da mandíbula) • Não é necessário realização de biópsia, o diagnóstico é feito pelas características radiográficae imaginológicas. Se eventualmente for realizada a biópsia o patologista irá observar microscopicamente uma glândula submandibular normal na macroscopia • Presente em 0,3% das radiografias panorâmicas • Maior incidência de 80% em homens Figura 24 - Defeito de Stafne caracterizado por imagem radiolúcida bem delimitada localizada na região posterior próxima ao ângulo da mandíbula, abaixo do canal mandibular Figura 25 - Radiografia computatorizada mostrando reabsorção/depressão da cortical lingual da mandíbula pela presença do tecido glandular (a glândula submandibular pode estar mais projetada reabsorvendo a cortical lingual da mandíbula) Figura 26 - Radiografias do defeito de Stafne
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