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Fabiana Dantas Turino Aula 6 – Bloco 1 – Patologia 1 As alterações dentárias por fatores ambientais também podem incluir os desgastes dentários, sendo eles: • Atrição • Abrasão • Erosão • Abfração • Manchas/pigmentações extrínsecas – Bebidas, tabaco, materiais restauradores e medicamentos • Manchas/ pigmentações intrínsecas – Porfiria eritropoiética congênita e uso de tetraciclina O desgaste dentário é classificado como processo patológico quando cria problemas funcionais, estéticos ou de sensibilidade dentária. O desgaste dentário é classificado com os termos: • Atrição, Abrasão, Erosão e Abfração: Os quais são causados por uma combinação de fatores Em geral, a incidência dos degastes dentários vem aumentando devido a conscientização dos clínicos desse problema, manutenção dos dentes naturais ao longo da vida dos pacientes, e também uma dieta ácida (consumo de refrigerantes, alimentos dietéticos e frutas frescas). O tratamento do desgaste dentário é reabilitador com material restaurador, e o prognóstico depende de cada caso, intensidade e consciência do paciente mediante remoção do hábito que causa o desgaste dentário (estímulo físico ou químico). Atrição É a perda de estrutura dentária causada pelo contato entre os dentes antagonistas durante a oclusão e a mastigação O termo Latim “attritum” significa: ação do atrito contra outra superfície Fisiológico (idade): Pacientes mais velhos tem dentes normalmente desgastados Patológico (estética e função): É quando o desgaste interfere na estética e na função, sendo considerado um processo patológico, trazendo ao paciente problemas como sensibilidade dentária (a depender: da quantidade de dentina terceária produzida durante o processo e também da quantidade de dentina e esmalte destruídos.), e principalmente estéticos. Fatores que aceleram a destruição dentária: Qualidade inferior ou ausência de esmalte Contatos prematuros Hábito de ranger os dentes (apertarmento dentário/bruxismo noturno) – Muito comum atualmente em virtude da rotina estressante e responsabilidades Essa condição é observada tanto na dentição decídua e permanente As superfícies que fazem contato com dentes antagonistas são as mais acometidas pela atrição Principalmente nas palatinas de dentes anteriores superiores e vestibulares de dentes anteriores inferiores Portanto, as facetas dos dentes com atrição são grandes, planas, lisas, brilhantes e encontradas em relações correspondentes à oclusão Alterações dentárias por fatores ambientais – Capítulo 2 Fabiana Dantas Turino Figura 1 - Dentes com intensa atrição (bruxismo noturno grave). Deve-se lembrar que a simples reabilitação desses dentes sem preocupações em relação a causa (tratamento do bruxismo) faz com que aconteça o desgaste do material restaurador da mesma maneira. Figura 2 - Paciente com atrição das bordas incisais (planas e lisas) dos incisivos inferiores e degaste do material restaurador dos molares superiores Figura 3 - Os pacientes podem exibir sensibilidade dentinária a depender: da quantidade de dentina terceária produzida durante o processo e também da quantidade de dentina e esmalte destruídos. O paciente da imagem acima tinha apenas esses três dentes na arcada dentária, e toda carga de oclusão repousava sobre eles, levando a atrição. Mesmo em pacientes que usam próteses parciais removíveis tendem a concentrar a carga de oclusão nos dentes naturais. Figura 4 - Dentes com atrição exibindo facetas lisas, brilhantes e com coloração da dentina subjacente na superfície vestibular dos incisivos inferiores Abrasão É a perda patológica da estrutura dentária ou restauração pela ação mecânica de um agente externo. O termo Latim “abrasum” significa raspar, ou seja, remoção por processo mecânico Em geral, é causada pela escovação dentária com pasta abrasiva e escovação horizontal intensa Fabiana Dantas Turino Outras causas são responsáveis por abrasão, como: Colocar o lápis na boca, palitos, cabos grampos para cabelo, mascar fumo, quebrar nozes, roer unha, cortar linha, uso impróprio do fio dental Portanto, dependendo da causa envolvida o tipo de desgaste dentário pode ser diferente A escovação inadequada faz com que ocorra: A perda de entalhes cervicais horizontais na superfície vestibular com exposição do cemento e dentina radicular expostos As margens são bem definidas e superfície dura e lisa O desgaste é maior em caninos e pré-molares (posteriores) do lado oposto da mão dominante (mão dominante direita = desgaste maior no canino e pré-molar esquerdo; mão dominante esquerda = desgaste maior no canino e pré-molar direito) Ao cortar linha, usar cachimbo, abrir grampos para cabelo faz com que ocorra: A formação de entalhes arredondados ou em V na superfície incisal dos dentes anteriores O uso inaquedado do fio dental e palitos (palito não é recomendado usar nos dentes e isso deve ser passado ao paciente) pode causar: Perda de cemento e dentina radicular interproximal. Figura 5 - O paciente possui uma grande abrasão na região cervical inferior e superior dos dentes posteriores do lado esquerdo (acomete também em menor grau o lado direito), significa que provavelmente sua mão dominante é à direita, e que o problema foi causado por escovação com muita formação do lado esquerdo. Dessa forma, esse paciente primeiramente precisa ser diagnosticado com desgaste dentário do tipo abrasão, e posteriormente ser orientado na forma correta de se realizar a higiene oral (menos força) Figura 6 - O desgaste do tipo abrasão causada por escovação com força excessiva é identificado por um desgaste cervical de dentes posteriores, tanto inferiores como superiores. Esse desgaste pode levar a exposição pulpar e os pacientes queixarem de sensibilidade dentária (eventualmente podem não ter sensibilidade em virtude a deposição de dentina terceária) Figura 7 - Desgaste do tipo abrasão causado por uso de cachimbo, onde podemos observar um entalhe em forma de “V” na borda incisal dos incisivos inferiores, além da coloração enegrecida decorrente do uso de tabaco Fabiana Dantas Turino Erosão É a perda da estrutura dentária causada por um processo químico somado à interação bacteriana com o dente O termo em latim “erosum” significa corrosão. Logo, ocorre a destruição progressiva de uma superfície por processo eletrolítico ou químico No equilíbrio entre a exposição a ácido e o efeito tampão protetor da saliva, se houver um desiquilíbrio podemos ter uma diminuição do Ph da saliva e também desgaste dentário por erosão. A erosão é causada por exposição aos ácidos X saliva (bicarbonato), seja por excesso de ácido ou hipossalivação decorrente de: Radioterapia, medicamentos. S. Sjögren, bulimia (refluxo do ácido clorídrico), diabetes Alimentos e bebidas ácidas Medicações (vitamina C mastigável, tabletes de aspirina) Piscinas sem monitoramento de pH Regurgitação (esofagite, alcoolismo, bulimia) Perimólise = Erosão dentária por exposição a secreções ácidas Raramente a erosão é considerada a única responsável pela perda dentária Geralmente, os locais que não estão protegidos pela secreção serosa das glândulas parótidas e submandibulares são os locais mais afetados, acometendo os dentes: Dentes superiores anteriores – vestibular e palatina; Dentes inferiores posteriores – vestibular e oclusal; A superfície lingual dos dentes inferiores é protegida (glândula submandibular) As erosões dentárias são clinicamente observadas como depressões côncavas nas pontas de cúspides oclusais, arestas incisais e cristas marginais Figura 8 - Paciente com erosão dentária apresentando toda a superfície vestibular dos dentes acometidos, com depressão côncava e superfície lisa Figura 9 - Paciente com erosão nos dois incisivos centrais superiores, devido ao hábito de chupar limão todos os dias. Podemos observar uma destruição importante do esmalte dentárioe depressão côncava na superfície vestibular. Figura 10 - Paciente com bulimia apresentando erosão oclusal dos dentes posteriores. Podemos observar a destruição do dente fazendo com que o nível do dente fique diferente as restaurações de amálgama adjacentes Fabiana Dantas Turino Figura 11 – O paciente além de Erosão, faces côncavas nas superfícies vestibulares dos dentes inferiores, também apresentava Atrisão nos dentes superiores Figura 12 - Paciente com bulimia apresentando erosão nas superfícies palatinas dos dentes superiores. Podemos observar superfícies lisas, brilhantes e côncavas Figura 13 - Desgastes dentários em esmalte devido erosão Abfrasão É a perda da estrutura dentária devido a estresse oclusal, que por flexão repetida provoca falha no esmalte e na dentina distante do ponto de pressão. Então, o contato oclusal acontece, geralmente na região incisal, só que que a destruição do dente ocorre na região cervical. O termo Latim “ab” e “fractio” significa distante e rompimento – destruição do dente distante do ponto de estresse oclusal A dentina suporta mais o estresse que o esmalte E essa tensão de forças oclusais excêntricas é concentrada no fulcro cervical levando à inclinação que pode produzir rompimento nas ligações químicas dos cristais do esmalte nas zonas cervicais. Dessa maneira, o esmalte é perdido ou pode ser mais facilmente removido por erosão ou abrasão. Clinicamente observamos a aparência de cunhas limitadas à região cervical dos dentes Esse defeito em cunha é bem profundo, estrito e em forma de “V” Afeta um único dente As lesões são subgengivais é, portanto, podem ser diferenciadas de erosão e abrasão (que são protegidas dos processos físicos e químicos) A abfrasão é exclusivo da face vestibular O paciente com bruxismo costuma apresentar abfrasão (além de atrisão) O desgaste dentário por abfrasão é considerado lento, logo, há tempo para a dentina terciária ser produzida evitando a exposição da polpa. Entretanto, a dentição decídua pode sofrer um desgaste acelerado com exposição pulpar Fabiana Dantas Turino Figura 14 - Paciente com todos os dentes normais EXCETO o primeiro pré-molar superior direito, o qual possui uma abfrasão. Podemos observar uma destruição cervical importante nesse elemento dentário. Essa abfrasão foi causada, pois a guia canina desse paciente não está no canino, mas sim no pré-molar (o estresse oclusal incide sobre esse elemento). Logo, o dente deve ser restaurado e a causa da abfrasão tratada com a correção do padrão de oclusão. Figura 15 - Algumas vezes podemos ter pacientes com abfrasão em mais de um único dente Figura 16 - Os dentes podem ter desgaste dentário por abfrasão e por atrisão Figura 17 - Abfrasão A cor dos dentes normais depende da matriz, translucidez e espessura do esmalte A pigmentação dentária por fatores ambientais pode ser: Pigmentações extrínsecas Causada por acumulo superficial de pigmento exógeno Pode ser removido com tratamento de superfície Fabiana Dantas Turino Pigmentações intrísecas Causada por material endógeno incorporado pelo esmalte e dentina Não pode ser removido por profilaxia Observação: Ambos podem ser submetidos a clareamento dentário tanto externo quanto interno Podem ser causadas por: • Bactérias cromogênicas As bactérias cromogênicas causam pigmentações cinza, marrom-escuro ou laranja São mais comum em crianças Acomete as superficies vestibulares e terço gengival dos dentes anteriores superiores e inferiores São caracterizadas clinicamente por manchas marrom-escuras causadas por placa nos dentes adjacentes O sulfito de hidrogênio bacteriano interage com ferro da saliva ou sulco gengival formando sulfito férrico, o qual pigmenta a estrutura dentária • Tabaco, chá e café Causam cor marrom na superfície do esmalte O alcatrão do tabaco dissolve-se na saliva e penetra nas fissuras do esmalte Os usuários de tabaco, maconha e bebidas escuras possuem as superfícies linguais dos incisivos inferiores com uma coloração marrom-esverdeada. • Medicamentos Pacientes que fazem uso crônico de clorexidina podem apresentar os dentes com cor marrom-amarelado Figura 18 - Paciente com pigmentação da superfície vestibular dos dentes inferiores, pigmentação marrom-escurecida causada por bactérias cromogênicas, tabaco ou café Figura 19 - Paciente apresentando pigmentação por lingual dos dentes inferiores caracterizando uso de tabaco ou maconha Fabiana Dantas Turino Figura 20 - Criança apresentado acúmulo de placa nos dentes, e adjacente a placa há a pigmentação laranja causada por bactérias cromogênicas Figura 21 - Pigmentação por amálgama em restauração antiga Figura 22 - Paciente usuário de cachimbo apresentando pigmentação por tabaco, com região cervical bem pigmentada. Além de abrasão insisal pelo cachimbo e recessão gengival devido ao trauma oclusal repitido Podem ser causadas por: • Porfiria eritropoética congênica (presente na doença de Günther) É uma doença autossômica recessiva do metabolismo da porfirina Comumente diagnosticado na infância O aumento da síntese e excreção de porfirinas e seus precursores faz com que ela seja incorporada pela dentina e esmalte. Confere pigmentação difusa dos dentes como resultado da deposição de porfirina Além de coloração marrom avermelhada e exibem uma fluorescência vermelha quando expostos à luz ultravioleta (UV) de Wood Fabiana Dantas Turino Figura 23 - Paciente com pigmentação intrínseca decorrente de porfiria Figura 24 - Paciente com pigmentação intrínseca decorrente de porfiria. Observa-se dentes bem marrons • Tetraciclina Pacientes adultos que na infância usaram o medicamento tatraciclina Os dentes apresentam-se com coloração amarronzada/âmbar/acinzentada na região do terço cervical de todos os dentes da arcada. O terço incisal não é tão pigmentado, o que afirma que a tetraciclina atuou mais em uma fase de formação dos dentes do que outra. Figura 25 - Pacientes com pigmentação intrínseca causada por tetraciclina Figura 26 - Dente extraído de paciente com pigmentação intrínseca causada por tetraciclina, onde conseguimos ver linhas de deposição amarelados tanto no esmalte quanto na dentina em virtude ao uso desse medicamento.