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CAPÍTULO 2 – O SURDO
Muitos ouvintes desconhecem a diferença semântica entre surdo, surdo-mudo e deficiente auditivo. Esse último foi criado pelos médicos e leva em consideração apenas características fisiológicas. E o termo surdo-mudo é igualmente errado e incorreto, por que o surdo possui aparelho fonador e se treinado pode sim oralizar. A deficiência é uma marca que historicamente não tem pertencido aos surdos. Essa marca sugere autorrepresentações políticas e objetivos não familiares ao grupo. Quando surdos discutem sua surdez usam termos profundamente relacionados com sua língua, seu passado, e sua comunidade. Assim como argumenta Skliar, a construção da identidades não depende da maior ou menor limitação biológica, e sim de complexas relações linguísticas, históricas, sociais e culturais. O intérprete tem tido uma importância valiosa nas interações entre surdos e ouvintes. A maioria dos intérpretes brasileiros tem desenvolvido sua proficiência e a habilidade de interpretar a partir, digamos, de uma situação de ‘’emergência’’ comunicativa na interação surdo\ouvinte. E já é reconhecido pela Lei nº 10/436, a presença de intérprete em espaços institucionais em que as pessoas não falam a sua língua. Dizer que o intérprete é a voz do surdo é outra crença errônea de que o surdo não tem língua, o que sabemos que não é verdade. A definição de barulho e silêncio adquirem novas versões. Em uma comunidade com\entre surdos, e se todos estão usando sinais ao mesmo tempo, tem a sensação de barulho muito grande, afinal eles ouvem com os olhos, ainda pode ser perceptível à visão do surdo a dinâmica dos objetos e pessoas, manifestadas por risos, expressões faciais, corporal e manual quando em uma multidão de ouvintes. Esse termo é chamado de ruído visual. O som em si não tem um significado inerente, mas pode ter uma miríade de interpretações e seleções. Essas convenções são aprendidas e construídas dentro das práticas cotidianas. Não há desvantagem na surdez quando se fala em comunicação e em linguagem, visto que não é a modalidade da língua que define se estamos em silêncio ou não. Os surdos dançam, apreciam ou ouvem música, tem sensação de barulho e constroem seus mundos através da íngua de sinais. A oralização deixou marcas profundas na vida da maioria dos surdos. O processo é difícil e a comunidade tende a reagir de maneira negativa, a rejeição da oralização a todo custo por surdos mais politizados e militantes é uma discussão política-ideológica é importante para visibilização da Libras. Mas, o importante é ser surdo em sua língua e linguagem própria, podendo ou não o direito daqueles que optam por oralizar a língua portuguesa. Sejamos surdos ou ouvintes, somos permeados por várias identidades e culturas. Os surdos assim, compartilham das culturas ouvintes e isso não os tornam menos surdos. Pensar o surdo no singular, com uma identidade e uma cultura é apagar a diversidade e multiculturalismos que distingue o surdo negro da surda mulher, do surdo cego, do surdo índio, do surdo paulista, etc. pág 25.

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