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MENTALIDADE INOVADORA UNIASSELVI-PÓS Autoria: Dra. Leila Urioste Rosso Pires Indaial - 2020 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2020 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. S247c Sarro, Ed Marcos Comunicação empresarial, cerimonial e eventos. / Ed Marcos Sarro. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 148 p.; il. ISBN 978-65-5646-145-8 ISBN Digital 978-65-5646-146-5 1. Comunicação empresarial. – Brasil. 2. Comunicação. – Brasil. 3. Eventos. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 658.45 Impresso por: Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA ........7 CAPÍTULO 2 O MERCADO INOVADOR .............................................................51 CAPÍTULO 3 INOVAÇÃO E GESTÃO ESTRATÉGICA .....................................101 APRESENTAÇÃO Olá, Acadêmico! Você se considera uma pessoa com mentalidade inovadora? E a sua organização? Será que podemos considerá-la como um novo modelo de negócio e gestão? Se não, quais seriam as estratégias para que ela possa estar condizente com as expectativas do mercado? Talvez você não tenha, ainda, a confiança para responder todas essas questões. Então, seja bem-vindo à disciplina Mentalidade Inovadora! O propósito aqui é auxiliar você a compreender os conceitos de criatividade e inovação e como eles podem ser aplicados, focando na construção de uma mentalidade inovadora (para pessoas e organizações). Além disso, serão apresentadas algumas estratégias voltadas para a criação de novos produtos e serviços, tanto a partir do investimento em tecnologia como da valorização de ideias e pessoas. Para isso, este Livro Didático está dividido em três capítulos para que os assuntos sejam tratados de forma equilibrada. No Capítulo 1, iniciaremos com a apresentação dos conceitos de criatividade e inovação, bem como suas respectivas aplicações no contexto organizacional. Você terá a possibilidade, inclusive, de realizar alguns exercícios que podem ajudar no desenvolvimento de sua criatividade. Posteriormente, você conhecerá as características da mentalidade inovadora, mas antes passaremos pelo empreendedorismo e suas relações com o desenvolvimento da mentalidade inovadora. Já o Capítulo 2 está dedicado ao mercado inovador. Iniciamos com algumas palavras sobre o processo criativo, que é importante para o surgimento de novos produtos, serviços e até novos modelos de negócios. Em seguida, trataremos a respeito das novas tecnologias de comunicação, juntamente ao processo de reestruturação produtiva rumo à transformação prática da inovação nas organizações. Por sua vez, o Capítulo 3 firmará os laços entre a inovação e a gestão estratégica por meio da construção de um ambiente propício à organização e aplicação da inteligência competitiva organizacional. Por fim, você terá a oportunidade de conhecer um pouco sobre o conceito e características dos novos modelos de negócios e o que eles diferem dos modelos tradicionais de gestão. Logo, ao longo de todo este Livro Didático, você terá contato com autores clássicos e contemporâneos, dessa forma, esperamos que o conhecimento originado pelos conceitos aqui tratados contribua para o desenvolvimento e o despertar de sua mentalidade inovadora, sendo que, uma vez desperta, você possa aplicá-la plenamente em sua vida. Sucesso e boa leitura! CAPÍTULO 1 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: • Compreender os conceitos de criatividade e inovação. • Conhecer as características de uma mentalidade inovadora. • Apresentar técnicas que possibilitem o desenvolvimento da mentalidade inovadora. • Exercitar a aplicação da mentalidade inovadora. 8 MENTALiDADE iNoVADorA 9 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Durante a sua vida, quantas vezes você se deparou com a seguinte situação: grandes ideias, muita criatividade e projetos inéditos que se realizaram, somente, em sua imaginação, ou seja, não foram transformadas em realidade? Lembra daquela ideia magnífi ca que você teve há uns 5 anos e que, hoje, outra pessoa a colocou em prática? Você deve ter pensado: “ele roubou a minha ideia! Essa ideia era minha!”. Bom, a menos que você a tenha registrado ou transformado em realidade, ideias não pertencem a ninguém, ou melhor, ideias são de todo mundo. O que aconteceu com você é o que chamamos de muita criatividade para pouca inovação. Então, inicia-se aqui a diferenciação conceitual e prática entre criatividade e inovação. Muitos autores que conheceremos aqui entendem que a criatividade é ter uma ideia original a partir da combinação de elementos diferentes e de maneira que jamais alguém imaginou. Por sua vez, inovação é gerar valor, de qualquer tipo, a partir da criatividade ou a partir da aplicação de ideias originais. Um exemplo cultural: o povo brasileiro é considerado como sendo muito criativo, mas pouco inovador, pois não consegue resolver problemas sociais de base, como o analfabetismo. Percebe-se, então, que: criatividade, por si só, não resolve nada. Entretanto, existem nações as quais não possuem reputação de criativas e são ricas, tendo a sua população uma melhor qualidade de vida. Ainda que haja inúmeras tentativas de diferenciar a criatividade da inovação, tais conceitos ainda geram debates em diversas abordagens. Estabelecendo comparações, a criatividade é apresentada como sendo um processo que auxilia na geração de ideias originais. Assim, a criatividade é ilimitada e não se restringe a uma determinada área do conhecimento, ou carece de técnicas específi cas, pois sua função é, justamente, gerar ideias para qualquer atividade. Está relacionada, portanto, com o pensar, com a imaginação. Na busca por apresentar conceitos de criatividade e inovação, você as verá, no decorrer deste capítulo, devido à complexidade de tais apreciações aparecem, muitas vezes, associadas, apesar de serem diferentes entre si. Por isso, é normal que quando estivermos falando sobre criatividade, começamos a falar sobre inovação e vice-versa, pois o ideal é que ambas estejam relacionadas. 10 MENTALiDADE iNoVADorA 2 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA A partir deste capítulo, você conhecerá alguns conceitos sobre criatividade, inovação, seus respectivos contextos e aplicações, por meio das atividades que serão propostas no seu decorrer. 2.1 SOBRE CRIATIVIDADE (E INOVAÇÃO) Primeiramente, vamos conversar um pouco a respeito da criatividade: seus conceitos e abordagens que ajudarão você a compreender o papel importante que ela exerce para que haja inovação. A criatividade não se ensina nem se aprende nos livros, pois ela é fruto da prática diária e da refl exão sobre todas as formas de expressão, unidas a uma imaginação transformadora e transgressora, que converte o ser humano num crítico, transformador do seu contexto. Comece pensando no surgimento do ser humano da Terra e quais caminhos nossos ancestrais tiveram que percorrer para manterem-se vivos. Desde estabelecer relacionamentos com seu meio e seus semelhantes e dar signifi cado ao que ocorria a sua volta,essa capacidade de compreender, estabelecer relações e de confi gurar é o princípio da criação. Foi a partir desse processo de adaptação e busca de soluções que foi possível a continuidade de nossa existência. Atualmente, essa capacidade de adaptação continua nos mantendo vivos, contudo, se antes as mudanças e adaptações estavam mais voltadas à natureza, hoje, a adaptação que precisamos fazer abrange mais a política, a economia e a tecnologia. O anseio de criar é um dos desejos básicos e primitivos dos seres humanos, contudo, está sendo sufocado pelo padrão da modernidade, o qual acredita que a motivação das pessoas para o trabalho é, preferencialmente, econômica, fundamentada na supervalorização dos produtos, especialização das tarefas, divisão das atribuições e sincronização do tempo. O conceito de criatividade, embora não seja consensual, é considerado um fenômeno complexo, abrangendo vários fatores e aspetos, como também 11 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA Capítulo 1 envolvendo sempre algo novo. Trata-se de um conceito muito dependente do momento histórico que se vive, ou seja, dos valores e interesses presentes, assim como da área científi ca em que se enquadra. Segundo Giglio, Wechsler e Bragotto (2012), historicamente, a criatividade sempre esteve relacionada ao campo artístico. Contudo, no século XX, passou a ter importância crescente, não apenas como capacidade individual, mas como riqueza capaz de trazer benefícios coletivos. Assim também ocorre com a inovação, cuja importância avança diante de um mundo em movimento rápido e constante. Para os autores, é por esse motivo que a inovação se torna cada vez mais necessária, visto que o inédito passa a ser trivial, em um espaço de tempo cada vez mais curto. Inclusive, a inovação torna-se necessária e desejável em países que precisam investir em crescimento, aliado a melhorias relacionadas à qualidade de vida. Não estaria aí o princípio para um maior engajamento rumo à criatividade como alternativa para os desafi os propostos pela sociedade moderna? Acredita- se que a criatividade agrega valor ao conhecimento e o torna progressivamente mais útil, por isso a importância para se resgatar a criatividade, uma vez que estamos na era do conhecimento. As relações entre os agentes políticos, sociais e econômicos são complexas, instáveis e imprevisíveis, logo, a manutenção de condições que promovam a prática da criatividade é condição básica para a sobrevivência de pessoas e organizações no mercado como um todo. Por isso, empresas baseadas em modelos centralizadores, previsíveis e “estáveis” passaram a não mais atender às expectativas da sociedade atual. Atualmente, entender a criatividade como algo atribuído somente a gênios e artistas não faz sentido, uma vez que contempla também as pessoas comuns no seu cotidiano, assumindo a forma de abordagem nova de dilemas e problemas já conhecidos. Damanpour, Szabat e Evan (1989) situam a inovação como adoção de algo que foi gerado internamente, salientando o valor da comunicação adicionada à criatividade. Portanto, a inovação diz respeito aos domínios da prática, produção, difusão, adoção ou comercialização de criações, fundamentados, sobretudo, em processos de poder e de comunicação organizacional. Assim, no domínio da psicologia, assume-se particular importância: • a personalidade; • os aspetos cognitivos; • os emocionais; 12 MENTALiDADE iNoVADorA • os relativos ao contexto social, salientados por diversos autores, ao longo de décadas, a partir da segunda metade do século XX. Temos, então, a equação proposta por Noller (1979 apud ISAKSEN; DORVALL; TREFFINGER, 2003) que considera que a criatividade é função: • do conhecimento; • da imaginação; • da experiência. Resulta, portanto, na fórmula: [C = f (C, I, E)], que traduz um comportamento interpessoal, cujo objetivo é fazer um uso positivo e benéfi co da mesma. Os trabalhos de Guilford (1986) sobre o pensamento divergente se tornaram referência nomeadamente como medida da criatividade. Runco (2004), ao caracterizar a pessoa criativa, salienta entre as características individuais a personalidade e a motivação intrínseca. Chegamos, então, no pensamento de Amabile (1997), que considera a infl uência combinada dos seguintes aspetos sobre as fases do processo criativo: • identifi cação do problema; • preparação; • geração de respostas; • validação das respostas; • comunicação. Amabile (1997) chamou a atenção para a importância da existência contexto sociocultural que ampare e premeie a criatividade. Dando continuidade nessa linha do tempo, Csikszentmihalyi (1999) entende a criatividade como o processo resultante da interação dinâmica entre o indivíduo criativo, a área do conhecimento, ou domínio, e os responsáveis por essa área do conhecimento, que estabelecem as normas e validam o produto criativo. Enquanto Gardner (1999) apresenta que o indivíduo criativo resolve problemas e apresenta produtos em dado domínio que será reconhecido pelos outros. Segundo May (1996), a criatividade está tanto no trabalho do cientista como no do artista; do pensador e do esteta; sem esquecer os capitães da tecnologia moderna, e o relacionamento normal entre mãe e fi lho. A criatividade, portanto, é, basicamente, o processo de fazer. Para o autor, nada contribui mais para a alienação do senso de criatividade do que a ideia de que ela é algo para ser feito nos fi nais de semana, uma vez que a criatividade é um ato e precisa estar presente em todas as nossas ações. 13 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA Capítulo 1 Por sua vez, Masi (2000a), a partir de seus estudos sobre o ócio criativo, entende que existe um ócio que nos é alienante e que nos faz sentir vazios e inúteis. No entanto, há também um outro ócio que nos faz sentir livres e que é necessário para a produção de ideias, assim como as ideias são necessárias ao desenvolvimento da sociedade. Segundo esse sociólogo italiano, da sociedade pós-industrial é realmente este ócio criativo que deve assumir o papel de protagonista no trabalho e no tempo livre. Com trabalho, estudo e diversão, que será construída a nossa identidade, e não mais pelo o que a pessoa tem, mas por meio do que ela sabe (MASI, 2000a). No entanto, o que é ócio criativo? Por ócio criativo entende-se três coisas: fazer contemporaneamente trabalho, estudo e lazer. O trabalho para criar riqueza, o estudo para criar saber, e o lazer para criar alegria e bem-estar. Portanto, para Mais (2000b), ócio criativo está aplicado à atividade do artista, à atividade do professor e à atividade dos profi ssionais. Ou seja, é a atividade que cada um exerce, porém com alegria e criatividade. Masi (2000b) entende que é necessário aprender que o trabalho não é tudo na vida e que existem outros grandes valores importantes para nos manter criativos: o estudo para produzir saber; a diversão para produzir alegria; o sexo para produzir prazer; a família para produzir solidariedade etc. Perceba que a criatividade se revela a partir de associações e combinações inovadoras de planos, modelos, sentimentos, experiências e fatos. O que realmente funciona é propiciar oportunidades e incentivar os indivíduos a buscar novas experiências, testar hipóteses e, principalmente, a estabelecer novas formas de diálogos, sobretudo, com pessoas de outras formações, tipos de experiências e cultura. A criatividade apresenta-se como a obtenção de novos arranjos de ideias e conceitos já existentes, formando novas táticas ou estruturas que resolvam um problema de forma incomum, ou obtenham resultados de valor para um indivíduo ou uma sociedade. Pode, também, fazer aparecer resultados de valor estético ou perceptual que tenham como característica principal uma distinção forte com relação às ideias convencionais. Contudo, Oech (1995), autor do clássico Um Toc na Cuca, comenta que a base da criatividade é o conhecimento,mesmo que seja aleatório: matemática, história antiga ou arranjos fl orais, pois nunca saberemos quando as informações, ao se juntarem, formarão uma nova ideia. Nessa concepção, podemos destacar mais uma relação entre criatividade e inovação: o conhecimento. 14 MENTALiDADE iNoVADorA 1 - Além da curiosidade necessária, existe alguma forma de exercitar a criatividade? Qual? R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2 - Como será a cozinha do futuro? R.: ___________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3 - O que uma companhia que cresceu 5.000% nos últimos cinco anos deve fazer para manter um ambiente de trabalho divertido e inovador? R.: ___________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 4 - Transforme os dezesseis quadros a seguir em fi guras diferentes. 15 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA Capítulo 1 Como você já deve ter percebido, a criatividade é a base da inovação. Sem criatividade, não há inovação e, por sua vez, sem inovação, a criatividade não passa de ideias diferenciadas, mas que sequer chegaram a ser desenvolvidas. Se ainda existem dúvidas sobre a importância e a aplicabilidade do ser criativo, veja, a seguir, o porquê de sermos criativos: • A mudança constante: o que funcionava antes pode não funcionar mais agora. • É prazeroso gerar novas ideias. A criatividade não são ideias soltas, sem nexo. Para que as ideias surjam, é necessário ter um pensamento criativo. Segundo Oech (1995), além do conhecimento ser a matéria-prima para novas ideias, o pensamento criativo supõe uma atitude, uma perspectiva que leva a procurar novos conceitos, manipular conhecimento e experiência. De acordo com o autor, o descobrir consiste em olhar para o que todo mundo está vendo e pensar em algo diferente. Observe algumas questões sugeridas por Oech (1995): • Por que não pensamos em coisas diferentes com mais frequência? • Por que não precisamos ser criativos para fazer a maior parte do que fazemos? Para Oech (1995), essa postura que bloqueia o pensamento, levando-nos a pensar de forma padronizada, são os chamados bloqueios mentais. Esses bloqueios mentais são: • A resposta certa. o Oech (1995) explica que o nosso sistema educacional, ao preocupar- se em nos ensinar a buscar a resposta certa, pode fazer com que muita gente pare de procurar por respostas alternativas após encontrar a primeira. Dessa forma, para o autor, o jeito de manter a criatividade é sempre buscar a segunda ou a terceira resposta correta para uma determinada questão, pois, normalmente, é a que fará resolver o problema de maneira inovadora. • Isso não tem lógica. o Segundo o autor, a lógica é instrumento importante de criação e a sua utilização é muito importante na fase prática do processo criativo. Contudo, o excesso de raciocínio lógico pode inibir o processo de criação, uma vez que a fase inicial de criação de ideias utiliza-se de um tipo diferente de lógica, como a metafórica, a fantasiosa, a difusa e a ambígua. • Siga as normas. o Durante o processo criativo, muitas vezes, é necessário quebrar 16 MENTALiDADE iNoVADorA um padrão para descobrir outro. Ser receptivo à mudança e fl exível diante das normas não leva, necessariamente, a ideias criativas, mas pode ser um caminho. Isso porque muitas regras duram mais do que a fi nalidade para a qual foram criadas. • Seja prático. o Para Oech (1995), já que o mundo é feito por gente prática, que sabe como entrar em estado germinativo, por que não cultivar a própria imaginação e incentivar outras pessoas à prática de se perguntar “e se?”. Com essa pergunta simples, muitas possibilidades de solução podem ser criadas, por exemplo: “E se a gente só fosse para o escritório três vezes por semana e fi zesse o resto do trabalho em casa?”. • Evite ambiguidades. o Evitar ambiguidades é uma constante em nossas vidas, pois nós sabemos os problemas de comunicação que podem ser gerados. Contudo, em situações que as ideias são criadas, o excesso de especifi cidade pode sufocar a imaginação. Para o autor, há um lugar para a ambiguidade, principalmente quando você estiver procurando por ideias. • É proibido errar. o É certo que existem situações em que não se pode errar, mas a fase germinativa do processo de criação não é uma delas. Então, se não erramos de vez em quando, principalmente na criação de ideias, é sinal de que não estamos sendo muito inovadores. • Brincar é falta de seriedade. o Oech (1995) utiliza de uma analogia para explicar esse bloqueio. Segundo o autor: “Se a necessidade é a mãe da invenção, o divertimento é o pai” (OECH, p. 114, 1995). Assim, o último tem o papel de tornar a nossa mente fértil em pensamentos. Ao apresentar as dicas para superar esse bloqueio, Oech (1995) sugere, dentre outras coisas, fazer do local de trabalho um espaço divertido. • Isso não é da minha área. o O autor entende que, para funcionar o mundo, é necessário restringir o foco e limitar o campo de visão. No entanto, quando se está procurando gerar novas ideias, essa maneira de trabalhar a informação pode ser limitativa. • Não seja bobo. o O autor defende que a ironia e a tolice devem ser um artifício contra o conformismo e o pensamento grupal. Tais elementos são importantes no combate de ideias inquestionáveis que impedem o surgimento de outras melhores aplicáveis. • Eu não sou criativo. o Nesse último bloqueio, o autor sugere que devemos dar uma 17 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA Capítulo 1 oportunidade ao pensamento criativo, pois acredita-se que todos somos capazes de desenvolver a criatividade. “Dê um ‘toc’ em si mesmo para tentar coisas novas e construir a partir das suas descobertas, principalmente das pequenas ideias” (OECH, p. 136, 1995). Tais bloqueios são adquiridos conforme a experiência, o ambiente e as pessoas com quem convivemos, ou seja, atitudes que criam bloqueios foram aprendidas. Logo, nós mesmos somos capazes de criar tais bloqueios por pensarmos que já conhecemos tudo sobre determinado assunto ou situação. É necessário ter a capacidade de desaprender temporariamente o que se sabe para poder formular perguntas que saem do caminho usual para novas direções. Apesar do pensamento criativo e o foco na resolução de problemas ser valorizado neste tipo de organizações, podem surgir bloqueios psicológicos em cada fase do processo criativo. Por exemplo, para que um colaborador consiga maximizar o seu potencial criativo deve tentar perceber quais são esses bloqueios e qual a melhor forma de os superar. Infelizmente, muitas vezes, esses bloqueios têm origem fora da nossa consciência. Resultam da incerteza que temos sobre nós próprios, em particular, se nos sentimos, em algum grau, inseguros, incompetentes e/ou desinteressantes. Essas incertezas, geralmente, distorcem a nossa capacidade criativa e intelectual, pois levam-nos a tentar evitar a exposição e, em caso de falha, as nossas ideias serem ignoradas, rejeitadas e humilhadas. Emboraesses sentimentos possam, num primeiro momento, parecerem alheios ao processo criativo de fato, entendê-los e superá-los é a chave para podermos expandir e enriquecer a criatividade. Otimizar a utilização da nossa criatividade exige libertação e que não façamos julgamentos negativos de nós próprios. Reconhecer esses sentimentos é o primeiro passo para remover os bloqueios à criatividade e, em última análise, para nos sentirmos melhor. A partir do rompimento dos bloqueios mentais, passamos a pensar de forma inovadora, pois passamos a ter abertura para pensar em situações de forma diferenciada. Alguns exemplos de situações que são capazes de quebrar os bloqueios mentais, seguindo Oech (1995), são: • Uma demissão ou o não recebimento de um aumento por merecimento. • Quando você quebra a perna e percebe o quanto é importante poder andar. Pode vir, também com perguntas do tipo: 18 MENTALiDADE iNoVADorA • Se os camelos são chamados de navios do deserto, por que os rebocadores não são chamados de camelos do mar? • Se a gente chama as laranjas de “laranjas”, por que não chamar as bananas de “amarelas” e as maçãs de “vermelhas”? A partir dos questionamentos propostos pelo autor, é importante que nós busquemos refl etir sobre nossas responsabilidade e atitudes em geral. Ou seja, pensar sobre o contexto em que estamos inseridos de formas diferentes, ou seja, refl etir sobre diversas possibilidades e não se prender a denotações ou regras já preestabelecidas. Logo, aqui está um convite para questionar e propor novas formas de denominar, solucionar, ver o mundo. Portanto, as questões apresentadas por Oech (1995) têm o objetivo de propor uma refl exão, não somente com relação a essas perguntas expostas, mas na forma de ver o mundo exercitando a criatividade e rompendo os ditos bloqueios mentais. Dessa forma, o rompimento dos bloqueios mentais pode: • Ajudar a perceber um problema potencial. • Detectar uma oportunidade. • Auxiliar na criação de coisas novas. Portanto, é preciso haver a presença da não criatividade para que a criatividade seja percebida ou pensada. Em outras palavras, criatividade implica, obrigatoriamente, na existência de limites. Einstein e Picasso, por exemplo, só se tornaram as pessoas que foram porque lidaram com limites absurdos! Tais limites eram muito piores que prazos ou dinheiro. Lutaram contra a guerra e a história pregressa da ciência e da arte. E foi justamente essa difi culdade que fez com que eles fossem tão geniais. É certo que a criatividade não é um fator isolado que ocorre em alguma parte de nosso cérebro. Alguns autores entendem que a criatividade é composta por diversas partes, podendo ser: as pessoas, os processos, o ambiente e o produto, por exemplo. Alencar (1998) prefere relacionar a criatividade apenas com três fatores, ou eixos, apesar da similaridade: • Pessoa: características pessoais, favoráveis ou desfavoráveis à expressão criativa. • Cultura: fatores do contexto social que afetam tanto a produtividade criativa quanto a própria consciência dos indivíduos a respeito de suas potencialidades criadoras. São os valores, as tradições, os sistemas de incentivo e as punições. 19 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA Capítulo 1 • Ambiente: infl uência das características do ambiente de trabalho, mostrando como o contexto no qual o indivíduo desenvolve atividade profi ssional se apresenta como estímulo ou bloqueio à criatividade. Nesse eixo, a autora defende o desenvolvimento da criatividade nas organizações, como resultado de mudanças no ambiente organizacional, que venha facilitar a expressão da criatividade. Conheça, então, algumas técnicas de criatividade selecionadas por sua simplicidade de utilização e potencial criativo demonstrado na sua aplicação prática. São elas: o brainstorming, o SCAMPER, a reversal e o whiteboard. As técnicas de criatividade têm como objetivo ajudar a alterar o estado mental das pessoas e estimular a sua criatividade, ajudar na reformulação de problemas, despoletar a geração de grandes quantidades de ideias novas ou induzir novas perspectivas sobre os problemas. Todas as técnicas de criatividade têm pontos fortes e pontos fracos, e são mais ou menos úteis, conforme o problema concreto em que estejam a ser aplicadas. Brainstorming: proposto, inicialmente, por Osborn (1993), tornou-se um termo comumente usado no idioma inglês como sendo termo genérico para o pensamento criativo. Contudo trata-se apenas de uma técnica para a geração de ideias. Segundo o autor, um Brainstorming é uma reunião destinada a incentivar a total libertação da atividade mental, sem restrições. Embora se possam fazer Brainstormings individuais, o resultado é, normalmente, mais fraco, visto que um indivíduo sozinho facilmente se autolimita. As ideias dos outros são, por vezes, pontos de partida para as nossas melhores ideias. Após dar início à sessão, os objetivos devem ser comunicados aos participantes. Por exemplo, devem ser escritos num quadro ou num outro sistema que todos possam ver. Quanto melhor defi nido e mais claramente indicado for o problema, melhor tende a ser a sessão. Após a defi nição dos objetivos, o líder relembra as regras básicas do Brainstorming e a importância de estas serem respeitadas. Durante o decorrer da sessão, o líder deverá tentar garantir o cumprimento das regras. O tema/problema é lançado e as ideias deverão começar a surgir. Caso não aconteça, o líder deverá introduzir ideias ou novas questões de modo a incentivar os participantes. O secretário deverá ir anotando as ideias que forem, entretanto, ocorrendo. No fi nal, deve clarifi car e concluir a sessão. 20 MENTALiDADE iNoVADorA As ideias são organizadas e categorizadas: as ideias similares são eliminadas e é encorajado um debate. Poderão, eventualmente, surgir novas ideias durante o debate. No fi nal, o líder apresenta os resultados. Por sua vez, a técnica SCAMPER utiliza um conjunto de instruções para estímulo das ideias sobre algo que já existe, como o objetivo de melhorar ou até transcender a realidade atual. A aplicação do SCAMPER, técnica criada por Eberle (1996), é efetuada recorrendo a uma checklist, tal como se apresenta no quadro a seguir. QUADRO 1 − SUPORTE À APLICAÇÃO DA TÉCNICA SCAMPER FONTE: Adaptado de Santos (2012) ONDE POSSO CRIAR SINERGIA COM OUT- RAS ÁREAS/PRODU- TOS/PROCESSOS? Onde posso criar sinergia com outras áreas/produtos/processos? 21 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA Capítulo 1 Na sua essência, O SCAMPER é uma técnica de uso geral, poderosa na medida em que recorre a um conjunto estruturado e completo de questões que visam estimular o nascimento de novas soluções, fácil de usar e que recorre a uma checklist de questões para estimular aparecimento de ideias. Reversal (reversão): tem origem nas transformações geradoras de ideia incluídas no checklist de Osborn (1993). Em alguns casos, é melhor pensar primeiro pela negativa e depois reverter as negativas. Inversão dupla: inicialmente a reversão identifi ca as formas de piorar a situação percebendo o que pode agravar o problema, em vez de a melhorar. Em seguida, volta-se a fazer uma inversão identifi cando as formas que podem levar a situação a melhorar. Whiteboard: segundo Clegg e Birch (1999), essa técnica, muito simples, tem por base um processo de associação de palavras, num determinado contexto, para a geração de questões que conduzam a novas ideias. A forma de aplicar esse processo incide em reunir um grupo de pessoas as quais conhecem o contexto e solicitar a elas que escrevam palavras em pequenos papéis (tipo post-it) que afi xam num quadro, todos ao mesmo tempo. Depois que todos terminarem, o quadro conterá uma grande quantidade de palavras relacionadas ao contexto. Essas podem depois ser agrupadas, formando frases com duas ou mais palavras, até que algumas possuam algum sentido, sendo, potencialmente,ideias novas ou questões que despoletem novas ideias. A aplicação da técnica é desenvolvida em três passos: • Passo 1: escolher várias palavras de forma aleatória. • Passo 2: forçar relações entre as palavras obtidas. • Passo 3: listar as ideias obtidas e analisá-las. Veja a seguir uma fi gura proposta por Santos (2012) que demonstra o processo de aplicação da técnica Whiteboard: 22 MENTALiDADE iNoVADorA FIGURA 1 − TÉCNICA WHITEBOARD FONTE: Adaptado de Santos (2012) Em algumas situações surgem barreiras à criatividade que podem limitar ou impedir a libertação do potencial criativo. Estar ciente da existência dessas diferentes barreiras pode ajudar a ultrapassá-las. Entre essas barreiras, podemos citar: 1. Aprendizagem e hábitos, que levam a formas estereotipadas de pensamento e ação. 2. Regras e tradições, que possam restringir, inibir ou proibir a iniciativa pessoal (incluindo barreiras organizacionais características das estruturas burocráticas). 3. Barreiras de percepção (difi culdade de percepção, rigidez funcional). 4. Barreiras culturais, que são manifestações culturais específi cas dos outros tipos de barreiras. 5. Barreiras emocionais (raiva, ansiedade, medo, ódio e até mesmo o amor). 6. Barreiras relacionadas com recursos (falta de pessoas, dinheiro, tempo, informação etc.). Seleção Combinações Palavras-chave 23 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA Capítulo 1 Inclusive, tais barreiras relacionam-se diretamente com os bloqueios mentais propostos por Oech (1995), abordados anteriormente. Por tanto, são formas complementares de compreender diante de quais aspectos a nossa criatividade pode ser bloqueada. Como vimos, a criatividade não é uma virtude que faz o indivíduo ter ideias sem fundamento, mas uma virtude que faz o indivíduo apostar em coisas até então “inúteis” (resposta para um problema que ainda não existe ou ainda não foi formulado). 2.2 SOBRE INOVAÇÃO (E CRIATIVIDADE) É possível compreender, até aqui, que a criatividade é a principal responsável pela criação de ideias que, para serem consideradas como inovação, é necessário que elas sejam transformadas em projetos, produtos ou serviços a partir da aplicação de conhecimento e técnicas específi cas, dependendo de sua área de atuação. Com o objetivo de, ao mesmo tempo, falar sobre inovação e relacioná-la com a criatividade, vamos rever um conceito sobre criatividade como forma de rever algumas das ideias já abordadas até aqui. Segundo Yuan e Woodman (2010), o conceito de criatividade em si é distinto da ideia de capacidade de inovação. O comportamento criativo é sufi ciente para gerar novas ideias, enquanto o comportamento inovador inclui, além da novidade da ideia, a sua implementação por meio de ações concretas. Mas e a inovação? Pode ser considerada como a principal característica do sucesso de pessoas e empresas, uma vez que está baseada na originalidade, ou, como já dissemos, que inovação é a criatividade com utilidade. Damanpour, Szabat e Evan (1989) entendem que a inovação é defi nida como a aplicação de uma ideia ou comportamento, seja um sistema, política, programa, processo, produto ou serviço, que é novo para a organização. O tema inovação e empreendedorismo apresenta uma crescente importância e popularidade. Entretanto, não há inovação sem que existam novas ideias e, por isso, a criatividade e o estudo dos processos criativos têm assumido um papel decisivo nos processos de inovação. 24 MENTALiDADE iNoVADorA A inovação passou a ser fator determinante de desenvolvimento e sucesso, tanto para empresas como para países. O entendimento que envolve essa questão preconiza que não basta produzir de modo efi ciente, oferecendo qualidade e uma gama maior de produtos, é preciso que sejam oferecidas novidades, aperfeiçoamentos ou, então, características totalmente novas comparativamente aos produtos já existentes. Adotar inovações representa gerar, desenvolver e implantar ideias ou procedimentos novos. Esses podem ser novos produtos ou serviços, novas tecnologias para procedimentos produtivos, novas estruturas ou sistemas administrativos, isto é, ter componentes novos no sentido de inovar. Assim, a inovação é uma alternativa para promover modifi cações na organização, seja com o objetivo de responder às mudanças nos ambientes, internos ou externos, ou ainda como uma ação antecipada aos concorrentes, com o intuito de infl uenciar o ambiente. Giglio, Wechsler e Bragotto (2012) entendem que tanto a criatividade quanto a inovação são fenômenos complexos, os quais necessitam de olhares múltiplos para que possam ser conhecidos e compreendidos nos diferentes campos do conhecimento. A inovação deve ser um processo gerenciado. A gestão da inovação tem início na criatividade propriamente dita e segue depois um processo estruturado, de defi nição de estratégias, de estabelecimento de prioridades, de avaliação de ideias, de gestão de projetos e de monitoramento de resultado. Nesse aspecto, se aproxima de outros conceitos já consolidados no meio empresarial, como: • a gestão da qualidade; • as políticas de recursos humanos; • o planejamento estratégico. A inovação nem sempre é a criação de algo inédito, por outro lado, pode se confi gurar como a organização diferenciada de elementos já existentes, gerando algo novo. Por exemplo, quero jogar com a televisão e invento o vídeo game combinando a própria TV com o computador. A inovação pode ser considerada também a partir da melhoria de algo, como transformar os telefones celulares em smartphones ou agregando a internet aos serviços bancários, permitindo que um cliente consiga fazer suas operações fi nanceiras de qualquer lugar, inclusive sem sair de casa. Porter (1985), há décadas, considerou que inovação é um conjunto de melhorias na tecnologia e nos métodos ou maneiras de fazer as coisas. As 25 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA Capítulo 1 principais causas de inovação são as novas tecnologias, as novas necessidades do comprador, o aparecimento de um novo segmento de indústria, custos ou oportunidades oscilantes de insumo ou ainda mudanças nos regulamentos governamentais. O conceito pode ser entendido também como um processo pelo qual as empresas incorporam conhecimentos na produção de bens e serviços que lhes são novos, independentemente de serem novos ou não para os seus competidores domésticos ou estrangeiros. Portanto, conceito de inovação não se limita ao produto e processo, pois uma empresa pode ser altamente inovadora sem vender um produto tecnologicamente superior a de seus concorrentes, pois ela pode inovar na forma como ela se relaciona com o mercado, bem como a forma dela gerir seus recursos. Além do seu entendimento teórico, a inovação é um processo, por isso, é importante compreendê-la dentro de um cenário dinâmico. Muitas organizações passaram a mapear o nível de inovação aplicada a seus produtos e serviços, como uma forma de compreender como a empresa se comporta diante das mudanças do mercado. Volpato e Cimbalista (2002) entendem que o processo da inovação se refere tanto às evoluções (e aplicações) tecnológicas, como, também, às transformações organizacionais em si. Entretanto, nem toda literatura concorda com esse ponto de vista. Há estudiosos que consideram a inovação somente sob o ponto de vista tecnológico, outros a compreendem sob a ótica da economia etc. Veja as considerações de Volpato e Cimbalista (2002, p. 82): O processo de inovação é [...] essencialmente econômico, pois compreende a apropriação comercial de conhecimento técnico-científi co para a introdução de aperfeiçoamento de bens e serviços utilizados pela sociedade [...] compreende a introdução de produtos ou serviços novos ou modifi cados no mercado ou a apropriação comercial pioneira de invenções, conhecimentos, práticas organizacionais, técnicas e processos de produção. A relação entre criatividadee inovação demonstra que uma boa ideia (criatividade) terá sucesso ou não, dependendo do modelo de gestão (inovação) que usaremos para colocá-la em prática. Logo, a inovação está para valor, enquanto a criatividade está para imaginação. Existem algumas etapas do processo de criação e inovação. Algumas delas foram apresentadas anteriormente quando falávamos sobre a criatividade, mas não são diferentes quando tratamos a respeito da inovação: 26 MENTALiDADE iNoVADorA • Percepção do problema: sempre é iniciado dessa forma. • Defi nição dos objetivos: para que o problema seja tratado de maneira efi ciente. • Considerar possíveis soluções (ideias): aqui, são utilizadas algumas técnicas já abordadas: o Brainstorm. o Selecionar. o Desenvolver. o Produzir a solução. Baseado em todas as defi nições, chegamos à conclusão de que gestão da inovação é um processo estruturado e contínuo que possibilita que uma organização vislumbre novas formas de criar valor e de antever demandas e tendências sociais e tecnológicas. Inovar supõe a tentativa e a busca por algo diferente, o que pode causar insegurança em pessoas e organizações. Apesar do nosso cérebro gostar de conhecer coisas novas, ele tem alguma difi culdade para serem aceitas as mudanças que a inovação exige, devido à necessidade de novas conexões e ajustes. Kelley (2005) aborda o valor do pensamento criativo e a diversidade necessária para inovação. Para o autor, inovação é o resultado de um trabalho em equipe e signifi ca ser receptivo à cultura e tendências de mercado, aplicando conhecimento de maneira a pensar o futuro e gerar produtos e serviços realmente diferenciados. Perceba que a criatividade e a inovação são competências essenciais para pessoas e organizações. O grande desafi o é entender como pode ser desenvolvida uma mente inovadora. No decorrer de sua leitura, será possível compreender que quanto mais as organizações promoverem o desenvolvimento da inovação em cada indivíduo, mais inovadora ela será. Descrevemos as principais diferenças entre inovação e criatividade, assim como entre gestão da criatividade e da inovação, pois ainda muitos autores e gestores confundem esses dois fenômenos e processos semelhantes, porém distintos. Então, como a criatividade e a inovação são aplicadas nas organizações? 27 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA Capítulo 1 2.3 APLICAÇÃO DA CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO NO CONTEXTO ORGANIZACIONAL Diante dos conceitos já apresentados, segue um desafi o: refl ita sobre o sistema de gestão da inovação da sua empresa. Na perspectiva organizacional, existe também a inovação aberta que é um modelo de gestão da inovação a qual prevê o uso de ideias, soluções e procedimentos desenvolvidos tanto interna como externamente à empresa. Para que a empresa aplique a inovação aberta, é necessária uma cultura inovadora, a partir das pessoas e dos líderes da organização capazes de aplicar a criatividade de maneira holística e focada na criação de valor. Logo, a cultura inovadora está diretamente relacionada com o sucesso da aplicação da criatividade e inovação no ambiente organizacional. Para tanto, são necessários: o alinhamento das estratégias da empresa com seus membros; o empoderamento dos colaboradores para a criação e tomada de decisão; e o envolvimento de todos com os processos de desenvolvimento daquela cultura. Para a aplicação da criatividade e inovação, a partir da cultura inovadora, é necessário desafi ar os padrões preestabelecidos pela organização, em que são encontrados alguns obstáculos, como: excesso de controle, segmentação grupal e informacional, incerteza negativa, entre outros. Caulkins (2001) defende que a criatividade nas questões empresariais está relacionada a novas formas de solução de problemas, envolvendo a combinação de ideias de diferentes áreas de conhecimento, com probabilidade de saltos de intuição. Para o autor, a criatividade está relacionada à agregação de valor às ideias, à invenção de produtos, à inovação etc. O autor afi rma que a adequação dessas ideias aos objetivos propostos é que diferencia a criatividade da divagação − tão temida no meio empresarial quando se fala em intuição e imaginação. Outra dúvida quanto ao processo de aplicação da criatividade para gerar inovação está baseada no momento em que se deve inovar. A seguir apresentamos uma fi gura que mostra quando inovar: 28 MENTALiDADE iNoVADorA FIGURA 2 – QUANDO INOVAR? FONTE: Adaptado de Handy (2012) 1 - Explique a aplicação da inovação nas organizações a partir do gráfi co que acabamos de apresentar. R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Isso é possível acontecer, não só com organizações, como, também, com profi ssionais que resolvem inovar em sua própria atuação. Como exemplo, pense em um profi ssional que enxergou uma oportunidade de negócio diferenciado e deixa o seu emprego “estável” para aplicar sua ideia, transformando-a em inovação. Antes que ele seja bem-sucedido em seu novo trabalho como empreendedor e sua inovação seja reconhecida, pode ser que seu padrão e qualidade de vida caiam, até que ele consiga colher os frutos e conquiste um patamar maior do que se continuasse como antes. Em geral, as organizações têm difi culdade para sustentar a inovação, uma vez que elas propõem soluções muito diferentes daquelas convencionais, e tudo o que é muito diferente propõe uma revolução nos procedimentos. No entanto, 29 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA Capítulo 1 as organizações inovadoras costumam investir mais na formação de seus trabalhadores, o que sugere o desenvolvimento de conhecimentos e competências imprescindíveis à inovação. A aplicação da criatividade e da inovação nas organizações não segue uma regra preestabelecida, contudo, é indiscutível a participação de ambas no processo de criação de soluções e análise de resultados em qualquer área. Em consequência, mesmo que, às vezes, se confundem, a gestão da inovação e da criatividade não são o mesmo processo. A gestão da criatividade refere-se mais aos aspetos subjetivos envolvidos na inovação, tais como: • o processo de criação da ideia pelos talentos da organização; • gerenciamento do clima da equipe ou organização; • inteligência emocional; • estilos de liderança criativa; • valores assumidos pelos participantes do processo, entre outros elementos. Enquanto a gestão da inovação refere-se mais aos aspectos de resultados que se esperam da equipe e da organização. Ambos processos, gestão da criatividade e da inovação, devem andar em paralelo e total integração. Isso, infelizmente, não ocorre sempre, pois, dependendo da formação de base dos gestores, existe a tendência de priorizar um processo ou outro e pela pressão cotidiana a tendência predominante é a de priorizar a gestão da inovação. Por outro lado, para promover a criatividade de seus trabalhadores, muitas organizações investem em treinamentos baseados em jogos, com o objetivo de resgatar a inocência, o espírito de aventura e, principalmente, a criatividade, a partir do resgate das experiências divertidas da infância. Por sua vez, a inovação é um processo defi nido que exige conhecimento e técnicas específi cas, pois transformará a ideia em um produto ou serviço concreto. West (1990), que tem dedicado atenção especial à inovação nos grupos, identifi ca alguns aspetos psicossociais que, em interação, facilitam a criatividade e a inovação. São eles: • a visão e a clarifi cação dos objetivos; • a segurança participativa que fomenta e valoriza a discussão e refl exão coletivas; • o clima focadona qualidade do trabalho e as normas favoráveis à inovação. 30 MENTALiDADE iNoVADorA Para tanto, várias organizações buscam ideias junto a seus clientes antes de criarem seus produtos e serviços, com o objetivo de aprimorá-las e transformá- las em inovação. No entanto, antes de colocar essas ideias em prática, tais empresas desenvolvem pesquisas com questões para públicos específi cos e análise da qualidade das respostas. No contexto organizacional, analisar somente a pessoa criativa e as condições que favorecem a emergência da ideia do indivíduo não basta. Importa, sim, analisar o sistema que permite pôr essa ideia em prática, ou seja, o ato social que permitirá dar a conhecer, difundir, produzir e vender a ideia ou o produto dela resultante, o que pressupõe um trabalho de equipe. Também, ao nível organizacional, tem sido salientada a importância da estrutura, que se preconiza mais orgânica e fl uida, assente na responsabilização das pessoas e em uma liderança participativa, ou tida como mais infl uente e transformacional, entendida como o conjunto de comportamentos que infl uenciam as atitudes e crenças dos colaboradores no sentido de conseguir o seu compromisso para com a organização. A relação entre a inovação e a liderança tem sido constantemente referenciada. Embora algumas correntes salientem que se trata de uma premissa dos pesquisadores que não têm merecido a confi rmação empírica desejável e notam que a liderança − e, por sua vez, a identifi cação dos estilos de liderança − acaba por ser uma variável resultante da percepção dos envolvidos, sendo a inovação um processo muito mais complexo, resultante de variáveis múltiplas. Portanto, quando uma organização consegue aplicar a inovação como uma estratégia, ela passa a explorar o futuro para compreender as transformações dos desejos das pessoas (não somente clientes) e identifi car novas oportunidades de negócio. A criatividade e inovação formam um par que deve ser estimulado por qualquer empresa que procura ser bem-sucedida na feroz, acelerada e competitiva economia moderna global. Apesar de nem todos os esforços criativos empresariais levarem a um sucesso retumbante, a aposta sustentada e constante na criatividade pode resultar em soluções igualmente criativas para uma infi nidade de problemas. Por esta razão, as organizações de sucesso procuram, proativamente, eliminar quaisquer barreiras à criatividade e tentam incentivar os seus colaboradores a contribuir com novas ideias. Segundo Adams (2006), a maioria dos autores concorda que a capacidade inovadora, ou inovação organizacional, constitui um terceiro e importante tipo de inovação, que representa o potencial da força de trabalho para promover mudanças que benefi ciem a organização. 31 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA Capítulo 1 Da mesma forma que a inovação ocorre pela adoção ou desenvolvimento de um produto ou serviço existentes, por meio de investimentos ou aquisição de tecnologia, apenas por meio da criação e sustentação de uma força de trabalho criativa, a organização poderá desenvolver um potencial capaz de ultrapassar problemas e situações difíceis, que não podem ser resolvidos através de investimentos apenas. Se é fato que a utilização do potencial inovador da força de trabalho não se refl ete, em geral, em inovações radicais, convém perceber que é em pequenas inovações incrementais que reside o principal potencial inovador, pois ocupa, hoje, mais de 80% de toda a inovação produzida. Esta, diretamente ligada a formas de colaboração, encontra-se cada vez mais na base da inovação. Ao nível das equipes de trabalho, pode tornar-se difícil separar a criatividade inovação organizacionais, permitindo que, ao nível grupal e organizacional, eles possam ser utilizados como sinônimos para designar um sistema destinado a desenvolver e canalizar a criatividade individual, através de equipes, para inovações rentáveis para a empresa. A inovação tem que fazer parte da mentalidade dos funcionários em todos os níveis. Por essa razão, falamos da necessidade de se implantar, junto à gestão da inovação, a gestão da criatividade que foca os aspetos psicológicos e sociológicos da inovação. A forma mais efi ciente de implantar uma mudança na empresa se dá quando o exemplo vem de cima. Se não estamos convencidos da importância da inovação, os dirigentes sempre encontrarão formas de derrubar as ideias mais arriscadas. No entanto, se as lideranças tomam a iniciativa, a nova cultura é absorvida com muito mais facilidade pela organização. No entanto, esses profi ssionais não podem ser os únicos ou principais geradores de ideias inovadoras e, sim, os comandantes precisam de aliados. É previsível que aconteça uma perda inicial de produtividade quando a empresa decide readaptar sua cultura, porque sempre existe um período de absorção das inovações. Receosos diante do novo, os funcionários costumam ver a inovação como uma mudança radical que vai tirá-los da zona de conforto e tentam antever os malefícios que o processo pode-lhes causar (SIMANTOB; LIPPI, 2003). Nesses casos, a reação vai depender do apoio das lideranças da empresa, elas serão responsáveis por ajudar os funcionários a incorporar o espírito de ousar e encarar o erro como aprendizado. Implementar novos processos exige dos gestores habilidades que vão além daquelas usadas no cotidiano. A 32 MENTALiDADE iNoVADorA implementação de qualquer mudança, seja no processo, procedimentos ou no uso de determinadas ferramentas, gera impacto direto sobre as pessoas envolvidas. O ambiente de trabalho, em si, também é importante para a manutenção da criatividade, como explica Amabile (1997). Segundo o autor, fatores individuais e ambientais interagem entre si gerando impacto na criatividade e inovação: • os fatores individuais integram o knowhow (conhecimento num dado domínio), o pensamento criativo (modo de combinar variáveis para encontrar uma solução) e a motivação intrínseca (da própria pessoa, sem depender de recompensas externas); • os fatores ambientais, a existência de recursos que possibilitem a inovação; as práticas de gestão, como o suporte de colegas/chefi as, ou desafi o no trabalho; e a motivação organizacional para apoiar a criatividade e inovação são destacadas. O autor ainda destaca que as características do ambiente de trabalho têm impacto na criatividade individual do colaborador/grupo. Kelley (2005) apresenta, inclusive, a complexidade do processo gerador de inovação que, mesmo não ampliando as dimensões externas da organização, requer o envolvimento, conhecimento e conexões pessoais, estratégicas e tecnológicas, como pode ser observado a seguir, por meio da interseção de conjuntos: FIGURA 3 − INTERSEÇÃO DE CONJUNTOS FONTE: Adaptado de Kelley (2005). 33 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA Capítulo 1 Ao contextualizar a prática da inovação, por meio da interseção dos conjuntos, proposto por Kelley (2005), é possível perceber que, havendo integração da inovação com a realidade das pessoas, dos negócios e das tecnologias envolvidas, possibilitará a experiência inovadora. Tal experiência será imprescindível para a construção das características da mentalidade inovadora, que veremos no próximo item. Dessa forma, será a partir dos grupos criativos e da fomentação da cultura de inovação que a organização possibilitará a aplicação das táticas de inovação a seguir: 1. Apresentar as ideias sob o ponto de vista do usuário: fundamental para a compreensão do diferente. 2. Simplicidade: a complexidade deve aparecer gradualmente. 3. Mensagem clara e encaixe compatível: a partir da utilização de uma linguagem acessível ao usuário. 4. Credibilidade do mensageiro e desempenho confi ável: a informação precisa ser transmitida por alguém que realmente entenda do projeto. 5. Ser de fácil execução. A partir dos conceitos e exemplos práticos apresentados,foi possível você compreender os conceitos de criatividade e inovação. Para encerrar essa primeira parte do capítulo, é importante saber que o processo criativo e inovador deve ser um fi m em si mesmo. Ninguém que se compromete em alguma atividade inovadora pode fi car pensando no fi m, na recompensa, porque isso, automaticamente, mata o processo. Durante o verdadeiro processo de criação ou inovação, a pessoa esquece de si mesma, é apaixonada. É por isso que uma pessoa envolvida em uma tarefa que ama, esquece dos horários, esquece do cansaço, esquece que está com fome, pois está totalmente envolvida no processo. Não há noção de passado e de futuro. A pessoa e o processo criativo e inovador passam a ser um só. Fatores pós-venda como: o de oferecer o adequado feedback tanto sobre todos os processos como sobre os resultados obtidos para as equipes envolvidas nos projetos criativos é essencial para perpetuar a gestão da inovação e que ela não vire apenas um modismo que se realiza de vez em quando. Também, o reinvestimento em capacitação e técnicas de gestão de pessoas, talentos e equipes criativas, tais como liderança inovadora e métodos de criatividade etc. Esses foram alguns cenários e implicações a respeito da presença e importância da criatividade e inovação nas organizações. Conceitos foram discutidos a partir de autores e ferramentas apresentadas, contudo, é possível 34 MENTALiDADE iNoVADorA identifi carmos ou até desenvolvermos a mentalidade inovadora? Quais são suas principais características? É o que falaremos na próxima seção deste capítulo. 3 CARACTERÍSTICAS DA MENTALIDADE INOVADORA Pense em uma pessoa que desafi a a lógica, a tradição, a autoridade, a praticidade e não tem medo de errar. Além disso, tem-se a impressão, até, que essa pessoa perdeu um pouco o “senso do ridículo”. Uma das características que podem ser observadas em pessoas com mente inovadora é a persistência e a coragem. Isso ocorre, pois, quando uma inovação é apresentada, por ser diferente, a rejeição muitas vezes é imediata: como confi ar em algo que nunca vi e não conheço? É nesse momento que a atenção aos detalhes surge como uma outra característica da mentalidade inovadora e apresenta-se como um diferencial. Lembra daquele projeto maravilhoso que realizou, somente, em sua cabeça e que outra pessoa aplicou? Então, além das outras características já apresentadas, deve-se ter rapidez em desenvolver e colocar em prática aquele projeto, porque, junto a você, milhares de outras pessoas têm a mesma ideia. Segundo Amabile (1997), todas as pessoas podem, de alguma forma, ser criativas, mas para que isso ocorra é importante a existência de um meio que sustente a criatividade. O desenvolvimento de uma mentalidade inovadora está relacionado com a transformação de conceitos, com a sofi sticação de conhecimentos aplicados à modernização, otimização de ações rumo à solução. Assim, o talento para inovar está relacionado com o quanto a pessoa consegue ser visionária, observadora, possui capacidade para aprender e ama seu trabalho. Gardner (1999), estudioso das inteligências múltiplas, a partir de sua teoria, esclarece como podemos aprimorar nossa criatividade e aplicá-las melhor (inovação) a partir do uso adequado do perfi l de nossa inteligência. Ou seja, se trabalhamos em algo em que nossas habilidades se voltam naturalmente, certamente seremos mais criativos e inovadores. Tal desenvolvimento está diretamente relacionado ao empreendedorismo, abordado de maneira breve no início deste capítulo. Uma pessoa empreendedora irá apresentar uma mentalidade inovadora. Dada, então, a importância de compreender o empreendedorismo, acompanhe a sua contextualização, para que você possa compreender e aplicar os conceitos sobre a mentalidade inovadora. 35 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA Capítulo 1 Então, antes de falarmos diretamente sobre a mentalidade inovadora, vamos entender − ou relembrar − algumas ideias acerca do empreendedorismo. 3.1 EMPREENDEDORISMO Será apresentado nesta seção uma contextualização geral a respeito do cenário empreendedor no Brasil, e algumas características da pessoa empreendedora. Não é o objetivo apresentar discussões aprofundadas sobre o tema, mas, “preparar o terreno” para, posteriormente, compreendermos um pouco sobre as características da mentalidade inovadora. A cultura empreendedora surge por meio de pilares complexos que constituíram a sociedade, como economia, questões sociodemográfi cas, pessoais e principalmente no que diz respeito à vontade de mudar. Essa cultura se instaura ao decorrer do contato com o ambiente social no qual se está inserido, que infl uencia, oportunizando o afl orar do espírito empreendedor. Em uma sociedade que se encontra em um nível alto de instabilidade e de competição no mercado de trabalho, se exige inovação e diferenciação, há uma necessidade de se criar, é onde o empreendedor pode iniciar algo novo, enxergar oportunidade onde outros não veem e prosperar. Segundo Timmons e Spinelli (1994), empreendedorismo é compreendido como uma revolução silenciosa, que será, para o século XXI, mais do que a Revolução Industrial foi para o século XX, pois envolve alocação de recursos, otimização de processos, criação de novos negócios e indivíduos diferenciados. Para os autores, o empreendedorismo também é considerado como um fator de desenvolvimento econômico de um país, no qual pode ser defi nido como um comportamento, ao invés de um atributo de personalidade. É confundindo com abertura de negócios, contudo, nem toda pessoa que abre um negócio é empreendedora e nem sempre um empreendedor possui um negócio aberto. Entretanto, há relação direta do empreendedorismo com a identifi cação de novas oportunidades de negócios (ou trabalho), independentemente dos recursos que se apresentam disponíveis ao empreendedor. Perceba, então, que o principal no empreendedorismo é a habilidade para encontrar novas oportunidades, assim, uma pessoa com perfi l empreendedor, difi cilmente fi cará sem trabalho. Além do conceito anterior, veja mais algumas defi nições sobre empreendedorismo. Posteriormente, você poderá fazer analogias e relacioná-lo com os conceitos e aplicações da mentalidade inovadora. 36 MENTALiDADE iNoVADorA Empreendedorismo é uma maneira holística de pensar e agir, sempre com obsessão por oportunidades e balanceada por uma liderança. Dessa forma, o ato de empreender exige identifi cação (das oportunidades), análise (do mercado, inclusive), implementação (aí entra a inovação, ou seja, transformar ideias em algo concreto) e foco. Para tanto, segundo Dornelas (2012), o empreendedor passa a ser aquele que faz acontecer, antecipa-se aos fatos e tem uma visão futura da organização. Para que consiga êxito, ele precisa de iniciativa para criar − inovar −, utilizando de maneira racional os recursos disponíveis e assumindo riscos de maneira calculada. Vários mitos circulam na mente das pessoas acerca do perfi l empreendedor, os principais podem ser observados no quadro a seguir: QUADRO 2 − PERFIL EMPREENDEDOR: MITOS E VERDADES Mito Verdade Empreendedores são natos e nascem para o sucesso. Empreendedorismo é uma competência cons- truída a partir do conhecimento adquirido e das experiências da pessoa. Empreendedores são jogadores que assumem riscos altíssimos. Correr altos riscos não é ter atitude empreende- dora, mas irresponsável. O empreendedor de verdade corre risco calculado. Empreendedores são “lobos solitários” e não conseguem trabalhar em equipe. Empreendedores precisam saber se relacionar e estabelecer uma network adequado para conquista de suas metas. FONTE: A autora 1 - A partir dos conceitos expostos até aqui, descreva o que você entende por empreendedorismo. R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ _______________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 37 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA Capítulo 1 Dessa maneira, o empreendedor é aquele que vive no futuro, é o visionário, a variante criativa, o sonhador, a energia que move e tira do comodismo, o incentivo da mudança, é aquele que estimula o próprio futuro. Para Dornelas, (2012), o empreendedorismo é o envolvimento de pessoas e processos que, em conjunto, levam a transformação de ideias em oportunidades. Dessa forma, percebe-se o empreendedorismo como um processo, cujo seu potencial, partindo das suas mais variadas formas, é de trazer inovação e transformação nas mais variadas áreas de uma sociedade. Mas para que seja alcançado o resultado do empreendedorismo é necessário que as pessoas estejam preparadas para empreender. Assim, para Dornelas (2012), a criação de empresas por si só não leva ao desenvolvimento econômico, é necessária a motivação de empreendedorismo de oportunidade, pois daí é que saem as empresas que focam na oportunidade do mercado. Sabendo disso, é importante pautar a situação do empreendedorismo em nosso país. Um dos fatores preocupantes no caso brasileiro é o fato de grande parte dos negócios gerados no país ser baseado no empreendedorismo de necessidade. Segundo o senso do Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2017), esse fato deve-se em grande parte pela mudança no cenário da economia brasileira, que começou no ano de 2014 e se intensifi cou ao longo de 2015 e 2016, que basicamente foi um período recessivo que começou com a crise nos mercados internacionais, e se agravou com a queda nos preços das commodities. Esse cenário se mostrou menos favorável à criação de novos empreendimentos motivados pelas oportunidades e culminou num crescimento no empreendedorismo por necessidade, o que acaba afetando negativamente a geração de novas riquezas e no mercado de trabalho, uma vez que o frenesi de abrir a empresa acaba excluindo características importantes do empreendedorismo, como a inovação. Devido ao fato apresentado, demanda-se um auxílio governamental no que diz respeito a pontos como táticas de incentivo e estímulo, além de uma visão econômica mais ampla. Os empreendedores carecem de suporte, a questão governamental é mais do que importante para o despontar de uma realidade empreendedora, oferecendo o apoio fundamental para essa transformação. Refl etindo sobre isso, quais seriam os meios efi cientes para o apoio governamental? Analisando toda a questão do empreendedorismo no Brasil, a resposta para a problemática do cenário atual, e também ampliação do desenvolvimento inovador 38 MENTALiDADE iNoVADorA e gerador de riquezas, solicita mais esforços governamentais na capacitação e educação de brasileiros diante do empreendedorismo, preparando as pessoas para atuar no mercado, sendo isso crucial para uma nação que passa por uma recessão econômica. As estratégias que o governo pode empregar para uma nova direção da motivação do empreendedorismo são fundamentais para a modifi cação do panorama atual, implantando e revitalizando os princípios do espírito empreendedor. O empreendedorismo de oportunidade ocorre quando o empreendedor enxerga necessidades do mercado e cria uma empresa com planejamento prévio, dando mais chances de longevidade a ela. Esse é o tipo de empreendedorismo que, segundo Dornelas (2012), gera riquezas, lucros e empregos. Nota-se que quanto mais empreendedorismo de oportunidade estiver em um país, maior será seu desenvolvimento econômico, o que, por conseguinte, permitirá a esse país a criação de mecanismos que estimulem as iniciativas empreendedoras. Ou seja, trata-se de um processo cíclico que só tem a alimentar ainda mais a busca de inovação (DORNELAS, 2008). Como apresentado pelo GEM (2017), no Brasil, o ano de 2016 apresentou uma melhora sutil se comparado a 2015 (56,5%), com o valor de 57,4%. Portanto, a cada 100 empreendedores, 57 empreendem por oportunidade. Frente à situação atual brasileira, muitos são os empreendedores de oportunidade que estão vislumbrando a chance de construção de projetos de impactos sociais acrescido de geração de lucro, os chamados empreendedores sociais, uma concepção que agrega responsabilidade social, ambiental e renda, que vem crescendo a cada ano. Outra defi nição de empreendedor diz respeito: [...] àquele que se incumbe da concepção e do desenvolvimento de um novo negócio, fazendo tudo aquilo que é necessário para que o empreendimento avance e assumindo responsabilidade última por todos os aspectos de seu desenvolvimento, do fi nanciamento à distribuição e que assume maior risco e pode esperar uma maior parcela de lucros (BROWNSTONE, 1980, p. 101 apud COUGER et al., 1995, p. 374). Para Kuratko (2003, p. 22), empreendedorismo “é o novo e diz respeito à inovação contínua e à criatividade”. Em uma discussão sobre as tendências e desafi os da educação empreendedora no século XXI, o autor afi rma que as 39 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA Capítulo 1 palavras de ordem deste contexto são: “Sonhe! Crie!, Explore!, Invente!, Seja pioneiro! e Imagine!” (KURATKO, 2003, p. 22). Em sua análise, conceitua empreendedorismo de forma ampliada como “um processo dinâmico de visão, mudança e criação [que] requer a aplicação de energia e paixão e implementação de novas ideias e soluções criativas” (KURATKO, 2003, p. 2). Para esse autor, empreendedorismo “é mais que a mera criação de negócios”, pois a perspectiva empreendedora pode se apresentar dentro e fora de organizações, em empresas que visam lucro ou não, em atividades de negócios ou não, pois o que é essencial na referida perspectiva é o propósito de trazer à tona ideias criativas (KURATKO, 2003, p. 2). Assim, “empreendedorismo é um conceito integrado que permeia um negócio individual de maneira inovativa” (KURATKO, 2003, p. 2). Em função desse conceito e baseado nas propostas de educação empreendedora das melhores instituições mundiais, esse autor entende que o desenvolvimento de competências empreendedoras deve abranger o chamado “ciclo de negócios”, a saber: criatividade, reconhecimento de oportunidade, invenção ou descoberta de um produto ou serviço, avaliação da oportunidade de negócio, construção do mercado e do sistema de entrega, crescimento e renovação. 3.2 A MENTALIDADE INOVADORA: DESENVOLVIMENTO E CARACTERÍSTICAS Pessoas inovativas demandam autonomia, portanto, não precisam de uma estrutura. Não são brilhantes em equipe, bem como não gostam de ser gerenciados, sequer de gerenciar. O empreendedor precisa aprender sempre em busca de maior conhecimento do seu ramo de atividade e dominá-lo. A partir desse perfi l, algumas perguntas refl exivas: você apresenta essas características? Você tem uma pessoa com esse perfi l em sua equipe (chefe, subordinado ou par)? Como lidar? Como extrair o (seu) melhor? Algumas características de ambientes inovadores: são informais, brincalhões, sorridentes, irreverentes e inquietos. Como é o ambiente de sua organização? Diante de tantas características dentro do perfi l da mentalidade inovadora, ao supor que você não tenha se identifi cado e considerando que seu desenvolvimento é fundamental para a sua sobrevivência no mercado, o que fazer? É certo que não existe uma “receita do bolo”, contudo, podemos dizer que, se você chegou até aqui, é porque busca pelo desenvolvimento de sua mentalidade inovadora. Contudo, há outras práticas as quais promovem o desenvolvimento da inovação, tais como: recuperar a inocência, o espírito de aventura e ouvir o próprio coração. 40 MENTALiDADE iNoVADorA Alguns autores que falam a respeito da criatividade e sua respectiva implantação abordam a importância do lazer, da arte e da sensibilidade no desenvolvimento de habilidades que vão além das técnicas.Além dessas características, como são as pessoas com mentalidade inovadora? Como vimos, a inovação é quando se coloca em prática ideias, transformando-as em projetos concretos. E se compararmos as características de pessoas empreendedoras com pessoas que apresentam mentalidade inovadora? Temos, então, algumas características: QUADRO 3 – CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDOR E DA MENTALIDADE INOVADORA Características do Empreendedor Características da Mentalidade Inovadora Iniciativa Sentido de urgência Perseverança Dedicam todo o tempo possível e necessário para fi nalizarem sua tarefa Coragem para correr riscos calculados Fixa prazos desafi adores para si Efi ciência e qualidade Tem paixão pelo que faz Rede de contatos (networking) Pensamento livre e fl exível Liderança Desejo de colocar ideias em prática FONTE: Adaptado de Dornelas (2012). 1 - A partir do quadro comparativo apresentado, relacione o perfi l do empreendedor com as características da mentalidade inovadora. Quais as semelhanças e diferenças? R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ O desenvolvimento da mentalidade inovadora se faz importante para pessoas e organizações. Nessas últimas, é possível desenvolver a mentalidade inovadora por meio do aprendizado com os grupos criativos que precisam apresentar as seguintes características: • Interdisciplinaridade: lidar com áreas diferentes aumenta a diversidade 41 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA Capítulo 1 do conhecimento da equipe. • Dedicação e organização: irão gerar a disciplina necessária para a inovação. • Trabalho coletivo, liderança e respeito: todos precisam conhecer o seu papel e necessitam de uma liderança que promova, sobretudo, o respeito, afi nal, irão lidar com ideias bem diversifi cadas. • Pausas, descanso: junto ao conhecimento, é fundamental para geração de novas ideias. • Praticar atividades diversifi cadas (repertório): relaciona-se, diretamente, com a interdisciplinaridade. Até agora, você conheceu várias características as quais possibilitam a diferenciação de uma mentalidade inovadora, seja ela individual ou organizacional. Nessa concepção, começamos a nos questionar sobre a possibilidade de desenvolver tais características e de como fazemos isso. Como podemos perceber, a partir dos conceitos apresentados pelos autores, a inovação em si pode ser apresentada como uma mudança de mentalidade, ou uma transformação no modo de pensar a relação das empresas com seus clientes e com a sociedade que implique a introdução de novos valores e de novos sistemas de referência. Mas em que momento de nossas vidas nos foi permitido exercitar nossa capacidade de imaginação – fundamental para o desenvolvimento de uma mentalidade inovadora? A mentalidade inovadora permite a implementação de ações que acompanhem o desenvolvimento da organização diante do mercado competitivo. Para que isso seja possível, é importante que a organização esteja alinhada com o ambiente no qual está inserida. O desenvolvimento de uma mentalidade inovadora é iniciado pela soma entre pensamentos, valores e crenças de um indivíduo. O resultado desse somatório é chamado de mindset, ou seja, a lente pela qual as pessoas enxergam e interpretam o mundo a sua volta. Pessoas consideradas inovadoras apresentam um mindset diferenciado, se comparado com as demais pessoas. Para o desenvolvimento da mentalidade inovadora, também é necessária a transformação de nossos conhecimentos, experiências, talentos e visão de mundo e que guardamos dentro de nós mesmos, em uma realidade diferente e valiosa para o meio em que estamos inseridos. As mentes inovadoras possuem a capacidade de combinar e aplicar todos os elementos existentes com o objetivo de gerar soluções para o nosso cotidiano. É possível, até, nos comportarmos de maneira mais inovadora em casa ou no trabalho, pois, apesar de sermos únicos, as nossas relações são diferentes, os ambientes são diferentes, portanto, nosso comportamento também será. 42 MENTALiDADE iNoVADorA Como a mente inovadora é o resultado da combinação de vários fatores (internos e externos), podemos considerar, sim, que é possível o seu desenvolvimento. E quais são esses fatores? Siqueira (2007) considera os seguintes: • As características individuais: personalidade (relacionada à adaptação e disposição para correr riscos), temperamento (relacionado às reações diante de uma crítica e incompreensão), motivação (relacionada ao nível de interesse e persistência para buscar os resultados, independentemente da aceitação externa) e habilidades mentais (relacionadas à inteligência, talentos e habilidades específi cas). • Harmonia entre seu trabalho e habilidades intelectuais: atuação em uma área na qual permite a utilização de talentos e inclinações naturais. • Competência profi ssional: é o quanto dominamos a área na qual atuamos, a partir da aplicação de nossos conhecimentos, nossas habilidades e nossa disposição em “querer fazer”. • Ambiente de trabalho: o ambiente é capaz de estimular, valorizar (ou não) as ideias diferenciadas, as sugestões de melhoria. Inclusive, são capazes, também, de gerar vários bloqueios da criatividade. • Conhecimento do processo criativo: é a capacidade de saber identifi car quais os eventos, ambientes, pessoas, elementos em geral que causam bloqueio da nossa criatividade. Assim como os outros, cada pessoa tem algo particular que a faz “bloquear”. É importante conhecer quais são nossas características pessoais (personalidade, temperamento, motivações etc.). Além disso, quantos de nós não temos o privilégio de trabalhar com aquilo que vai ao encontro de nossas habilidades intelectuais? Mesmo porque talvez nem sabemos ao certo que habilidades são essas. E o conhecimento de nosso processo criativo? Será que somos capazes de identifi car aquilo que é capaz de bloquear a criatividade? Perceba também que, dentre os cinco fatores propostos, apenas um é totalmente externo, os demais estão todos dentro de nós mesmos e exigem um processo longo e árduo do “Conhecer a ti mesmo”. Logo, ao comentarmos a respeito do contexto da inovação, vimos que ela se caracteriza como um processo externo. Contudo, ao utilizar o termo “mente inovadora”, estamos falando de uma confi guração interna, a qual dependerá de toda uma organização individual para que seja possível a sua prática. Mais recentemente, Barlach (2009) citou pesquisas que apresentam características, tais como arrogância, manipulação, dramaticidade, excentricidade 43 CONCEITO E CONTEXTO DA MENTALIDADE INOVADORA Capítulo 1 e a dimensão “indispor-se contra pessoas”, esses são traços de personalidade disfuncionais que podem ter efeito positivo no processo de inovação. Para chegar a essa conclusão, o autor utilizou em sua pesquisa o inventário denominado Innovation Potential Indicator (IPI), que avalia quatro fatores, a saber: • Motivação para mudança: motivação intrínseca para mudança, caracterizada por persistência e ambição. Positivamente relacionada à inovação. • Comportamento desafi ador: tendência pessoal a desafi ar o ponto de vista de outros. Inclui comportamento tomador de risco e não conformidade. Positivamente relacionada à inovação. • Adaptação, defi nida como atacar problemas de maneira evolucionária e não revolucionária: foco em trabalhar dentro das fronteiras existentes, mais que em novidades. Negativamente relacionada à inovação. • Consistência de estilos de trabalho: associada à abordagem metódica e sistemática do trabalho e à conformidade às normas organizacionais. Negativamente relacionada à inovação. Analisando os resultados obtidos, os autores identifi cam uma relação
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