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Hemostasia e a Cascata de Coagulação • A hemostasia é o processo resultante do equilíbrio entre proteínas pró-coagulantes, anticoagulantes e fibrinolíticas, para manter o sangue fluido e, quando necessário, coibir o sangramento. O equilíbrio é alcançado pelo bom funcionamento de vasos sanguíneos (endotélio), plaquetas, proteínas da coagulação, da fibrinólise e dos anticoagulantes naturais. Muitos fatores, genéticos ou adquiridos, podem contribuir para romper esse equilíbrio, levando a estados de hipocoagulabilidade ou hipercoagulabilidade. • Didaticamente, a hemostasia pode ser dividida em 3 etapas Hemostasia primária • A hemostasia primária é responsável por estancar o sangramento por meio da formação do tampão plaquetário. • Após lesão endotelial, ocorrem exposição do colágeno e vasoconstrição reflexa. Plaquetas circulantes aderem ao colágeno por meio do fator de von Willebrand, liberado pelo endotélio em razão do estresse de cisalhamento. Essa adesão ocorre por intermédio das glicoproteínas Ib (GPIb) e Ia-IIa localizadas, respectivamente, na superfície das plaquetas e do colágeno. As plaquetas aderidas ao colágeno são ativadas, liberando secreções dos conteúdos granulares (adenosina difosfato, prostaglandinas, tromboxano A2 e serotonina), e sofrem alteração de sua estrutura, expondo outra glicoproteína de membrana: GPIIb/IIIa. Esta é responsável pela agregação plaquetária por meio da sua ligação ao fibrinogênio: agregação plaqueta- plaqueta • As secreções dos grânulos plaquetários são responsáveis por maiores vasoconstrição, adesão, ativação e agregação plaquetária. Assim, forma-se o tampão plaquetário, responsável pelo controle do sangramento em poucos minutos • Por fim, o tampão plaquetário tem atividade pró-coagulante, por meio da exposição de fosfolípides pró- coagulantes e complexos enzimáticos na superfície da plaqueta, o que resulta na inter-relação entre ativação plaquetária e ativação da cascata da coagulação. • Os distúrbios da hemostasia primária são resultantes de 3 mecanismos: o Fragilidade da parede vascular; o Alterações quantitativas ou qualitativas das plaquetas; o Alterações quantitativas ou qualitativas do Fator de von Willebrand (FvW). • As principais doenças relacionadas com distúrbios da hemostasia primária são relacionadas com o aumento da fragilidade da parede vascular (púrpura trombótica e púrpura de Henoch-Schönlein), alterações na forma e na quantidade das plaquetas (púrpura trombocitopênica imunológica), além de alterações quantitativas e qualitativas do fator de von Willebrand, que levam à doença de mesmo nome. Hemostasia Secundária • É o nome dado às reações da cascata da coagulação, que consistem na ativação sequencial de uma série de pró-enzimas ou precursores proteicos inativos em enzimas ativas, resultando na formação de fibras de fibrina que fortalecem o tampão plaquetário. • A hemostasia secundária é capaz de evitar o ressangramento por meio da formação de uma rede adesiva de fibrina que consolida o tampão plaquetário (a partir daí, chamado de coágulo). • No caso das alterações da hemostasia secundária, temos, como principais problemas, a hemofilia por deficiências do fator VIII ou IX, a coagulação intravascular disseminada e a deficiência de vitamina K comum nos usuários de cumarínicos. • Todos os fatores de coagulação são produzidos pelo fígado, com exceção do fator VIII e do fator de von Willebrand, que são secretados pelo endotélio. • Essa cascata da coagulação é dividida didaticamente em 2 vias principais: a via intrínseca (desencadeada por fatores de contato, de carga negativa presentes no intravascular), e a via extrínseca (desencadeada pelo Fator Tecidual (FT), que confluem para uma via comum) • Os distúrbios da hemostasia secundária podem ser: o Adquiridos: geralmente, são deficiências múltiplas, como no casoda hepatopatia ou da deficiência de vitamina K (nesta última, há menor síntese de fatores II, VII, IX, X e de proteínas S e C). Nas doenças hepáticas, há deficiência de síntese de todos os fatores de coagulação de síntese no fígado, inclusive os antifibrinolíticos; o Hereditários: geralmente, envolvem apenas um fator de coagulação deficiente. Por exemplo, as deficiências do fator VIII (hemofilia tipo A, mais comum) e do fator IX (hemofilia tipo B ou doença de Christmas) são desordens com transmissão ligada ao cromossomo X. Via Extrínseca para a Iniciação da Coagulação • Começa com o trauma da parede vascular ou com o trauma dos tecidos extravasculares que entram em contato com o sangue, levando a: I. Liberação do fator tecidual - O tecido traumatizado libera o fator tecidual ou tromboplastina tecidual (fosfolipídeos das membranas dos tecidos mais complexo lipoproteico que atua, principalmente, como enzima proteolítica) II. Ativação do Fator X - papel do Fator VII e do fator tecidual. − O complexo lipoproteico do fator tecidual se combina com o Fator VII da coagulação sanguínea e, em presença de íons cálcio, atua enzimaticamente sobre o Fator X para formar o Fator X ativado (Xa). III. Efeito do Fator X ativado (Xa) para formar o ativador da protrombina - o papel do Fator V. − O Fator X ativado se combina, imediatamente, com os fosfolipídeos teciduais que fazem parte dos fatores teciduais, ou com fosfolipídeos adicionais, liberados pelas plaquetas, além de com o Fator V, para formar o complexo chamado ativador da protrombina. Em alguns segundos, em presença de Ca++, a protrombina divide-se para formar a trombina, e o processo de coagulação prossegue − De início, o Fator V no complexo ativador da protrombina está inativo, mas assim que o processo de coagulação se inicia e a trombina começa a se formar a ação proteolítica da trombina ativa o Fator V. Essa ativação passa a ser potente acelerador adicional da ativação da protrombina. − No complexo ativador da protrombina final, o Fator X ativado é a verdadeira protease causadora da clivagem da protrombina para a formação da trombina: o Fator V ativado acelera enormemente essa atividade de protease, e os fosfolipídeos das plaquetas atuam como veículo que acelera ainda mais o processo. Via Intrínseca para a Iniciação da Coagulação I. O trauma sanguíneo causa a ativação do Fator XII e a liberação dos fosfolipídeos das plaquetas. − O trauma ao sangue ou a exposição do sangue ao colágeno da parede vascular altera dois importantes fatores da coagulação do sangue: o Fator XII e as plaquetas. Quando o Fator XII é afetado, ele assume nova configuração molecular que o converte na enzima proteolítica chamada “Fator XII ativado”. O trauma sanguíneo também lesa as plaquetas, devido à sua aderência ao colágeno ou à superfície molhável (ou por outros tipos de lesão), acarretando a liberação de fosfolipídeos plaquetários que contêm a lipoproteína chamada fator plaquetário 3 que também tem participação nas reações de coagulação subsequentes. II. Ativação do Fator XI − O Fator XII ativado atua enzimaticamente sobre o Fator XI ativando-o também, sendo essa a segunda etapa da via intrínseca. Essa reação também necessita do cininogênio de alto peso molecular (A APM) e é acelerada pela pré-calicreína. III. Ativação do Fator IX pelo Fator XI ativado − O Fator XI ativado, então, atua enzimaticamente sobre o Fator IX para provocar sua ativação. IV. Ativação do Fator X - o papel do Fator VIII − O Fator IX, atuando em conjunto com o Fator VIII ativado e com os fosfolipídeos plaquetários e com o Fator III das plaquetas traumatizadas, ativa o Fator X. V. Ação do Fator X ativado na formação do ativador da protrombina - o papel do Fator V − O Fator X ativado se combina com o Fator V e com as plaquetas ou com fosfolipídeos teciduais para formar o complexo ativador da protrombina. O ativador da protrombina, por sua vez, desencadeia, em questão de segundos, a clivagem da protrombina para formar trombina, iniciando a etapafinal do processo da coagulação descrito antes. Fibrinólise • Além dos fatores de coagulação e de anticoagulação, o organismo conta também com um sistema fibrinolítico. O plasminogênio é uma proteína inativada circulante no plasma que se liga à fibrina à medida que o coágulo se forma. Ao se ligar à fibrina, converte-se em plasmina, a qual dissolve o coágulo e inicia a fibrinólise. Essa conversão ocorre pela ação do ativador tecidual do plasminogênio (tPA – tissue Plasminogen Activator), sintetizado pelo endotélio, e do ativador do plasminogênio tipo uroquinase (uPA – urokinasetype Plasminogen Activator), secretado por diversos tecidos. A liberação endotelial do tPA é estimulada pela presença de trombina, serotonina, bradicinina, adrenalina e citocinas. • Os compostos que controlam a fibrinólise são PAI, especialmente o PAI-1, TAFI e alfa-2-antiplasmina. O TAFI é ativado pelo complexo trombina-trombomodulina e liga-se à fibrina já parcialmente lisada, impedindo a ligação do plasminogênio e a formação de mais plasmina. • Os distúrbios da hemostasia terciária são causados principalmente pelas alterações adquiridas da fibrinólise que ocorrem também na coagulação intravascular disseminada, em hepatopatias crônicas, em neoplasias de próstata e em cirurgias cardíacas. Essas doenças são abordadas no capítulo distúrbios da hemostasia secundária e terciária • Anormalidade congênita da fibrinólise é uma condição muito rara, sendo mais comuns as alterações adquiridas. Como resultado dessas anormalidades, podem-se encontrar: o Aumento excessivo da plasmina, decorrente do aumento dos ativadores do plasminogênio ou deficiência dos inibidores. Tais situações cursam com manifestação clínica de sangramento (hiperfibrinólise); o Aumento dos inibidores da fibrinólise ou deficiência dos ativadores, cursando com manifestação clínica de trombose (hipofibrinólise). As causas de distúrbio da fibrinólise podem ser: ▪ Congênitas: afibrinogenemia ou disfibrinogenemia; hipoplasminogenemia, displasminogenemia; deficiência de PAI-1; deficiência de alfa-2-antiplasmina; ▪ Adquiridas: CIVD por aumentar t-PA e diminuir alfa-2- antiplasmina; hepatopatia crônica, por diminuir o clearance de t-PA e a síntese de alfa-2-antiplasmina; neoplasias, por aumentarem u-PA; cirurgias cardíacas. AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA HEMOSTASIA HEMOSTASIA PRIMÁRIA Teste Significado Resultado normal Contagem de plaquetas - Avalia trombocitopenia no sangue periférico - Deve sempre ser avaliada, tendo em vista que faz parte da hemostasia primária - Utiliza-se geralmente o anticoagulante EDTA (tubo de tampa roxa) para coleta de sangue periférico; esse anticoagulante tem a capacidade de aglutinar 150 a 400.000/mm3 plaquetas, resultando em uma possível contagem final reduzida Tempo de sangramento - Avalia a integridade da parede vascular, das plaquetas e do fator de von Willebrand, sendo um teste da função da hemostasia primária in vivo - Baseia-se em lesões de pequenos vasos, com perfuração de somente 1 mm de profundidade - Podem ser realizados 2 testes: teste de Duke, em que a perfuração é realizada no lóbulo da orelha (pouco sensível. somente alterado em distúrbios graves plaquetários e de hemostasia primária), e o teste de Ivy, em que se realiza corte padronizado no antebraço com esfigmomanômetro insuflado a 40 mmHg Teste de Duke: 1 a 3 minutos Teste de Ivy: 1 a 7 minutos Curva de agregação plaquetária -Avalia a função plaquetária in vitro - Baseia-se na medida da formação de agregados plaquetários após exposição a agente agregante (adenosina difosfato, adrenalina, ácido araquidônico, trombina ou colágeno). Esses agregados, então, são medidos pelo agregômetro, que se utiliza da espectrofotometria (capacidade de medir a variação de transmissão de luz por meio de uma suspensão de plaquetas) - O resultado do teste, apresentado em porcentagem, reflete diretamente a quantidade de transmissão de luz e, logo, de formação de agregados plaquetários Fator de von Willebrand e fator VIII Média adesão das plaquetas, mantendo níveis plasmáticos do fator VIII 10 mg/mL HEMOSTASIA SECUNDÁRIA Tempo de Protrombina (TP) Avalia a via extrínseca, alterando-se nas deficiências dos fatores VII, X, V, II ou fibrinogênio ou quando há presença de inibidores 11 a 14,5 segundos Possivelmente expresso em porcentagem (tempo de atividade de protrombina): 70 – 100% Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPA); Avalia a via intrínseca, alterando-se nas deficiências dos fatores XII, XI, IX, 25 a 30 segundos VIII, X, V, II ou fibrinogênio ou quando há presença de inibidores Possivelmente, expresso pela relação TTPA do paciente TTPA normal (RTTPA), cujo valor está normal até 1,2 Tempo de trombina Prolongado nas deficiências de fibrinogênio e na presença dos produtos de degradação do fibrinogênio/fibrina É muito sensível à presença de heparina 9 a 15 segundos Fibrinogênio Fornece quantificação dos níveis plasmáticos do fibrinogênio 195 a 365 mg/dL Produtos de degradação do fibrinogênio/fibrina Avalia a presença de fibrinogênio e/ou fibrinogenólise Negativo < 5 mg/mL D-dímero Avalia a ocorrência de lise da fibrina estabilizada 68 a 494 mg/dL • As coagulopatias hereditárias são doenças hemorrágicas resultantes da deficiência quantitativa e/ou qualitativa de uma ou mais das proteínas plasmáticas (fatores) da coagulação. • Têm como característica comum a redução da formação de trombina, fator essencial para a coagulação do sangue. • Pacientes acometidos por coagulopatias hereditárias podem apresentar sangramentos de gravidade variável, espontâneos ou pós-traumáticos, presentes ao nascimento ou diagnosticados ocasionalmente. • Sob um critério estritamente etiológico, as coagulopatias hereditárias podem ser classificadas de acordo com as seguintes deficiências de fator: Hemofilias • As hemofilias são doenças hemorrágicas resultantes da deficiência do fator VIII (hemofilia A) ou IX (hemofilia B) da coagulação. • Apresentam natureza genética, com padrão de herança ligada ao cromossomo X, decorrente de mutações nos genes que codificam os fatores VIII e IX da coagulação. • A hemofilia A está associada a mutações no gene que codifica o F VIII, localizado na porção 2.8 do braço longo do cromossomo X • A hemofilia A está associada a mutações no gene que codifica o fator IX (F IX). • Os principais achados histopatológicos são hemossiderose sinovial, degeneração da cartilagem articular, espessamento dos tecidos periarticulares, hipertrofia óssea. • Em geral a forma grave da doença é observada ao nascimento ou no primeiro ano de vida. • A forma leve pode não ser diagnosticada até o início da vida adulta. • As mulheres são geralmente portadoras assintomáticas. • A hemofilia A é manifesta em torno de 1:10.000 homens, e a hemofilia B é aproximadamente quatro vezes menos frequente. No Brasil, existem cerca de 10.000 pacientes hemofílicos. • QUADRO CLINICO o 3H’s: Hematomas, hemartroses e hemorragias; o Geralmente diagnosticado na infância e a história familiar tem grande contribuição o De acordo com a gravidade: − Casos graves (níveis plasmáticos do fator <1%): 50-70% - sintomas. Aparecem até os 2 Anos (hematomas, hemartroses, hematúria, sangramento gastrointestinal, AVEH). Monoartrite quando a criança começa a andar (joelho). − Casos moderados (níveis plasmáticos do fator 1-5%): 10% - sintomas aparecem na infância/adolescência (sangramento espontâneo raro. Geralmente sangramentos excessivos após pequenos traumas). o Casos leves (níveis plasmáticos do fator 5-30%): 30-40% - sintomas aparecem na adolescência/idade adulta (sangramento espontâneo bastante raro. Sangramentos após traumas maiores) • DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL o Doença de von Willebrando Deficiência de vitamina K o Deficiência de outros fatores de coagulação - Afibrinogenemia, disfibrinogenemia, alterações fibrinolíticas e plaquetárias, inclusive por medicamentos. • METÓDOS DIAGNÓSTICO o Dados clínicos + Exames hematológicos. o Tempo de tromboplastina parcial ativado (TTPa) - Prolongado (o TTPa é corrigido quando se mistura o plasma do paciente com plasma normal). o Contagem de plaquetas e tempo de protrombina - Normais. o Tempo de sangramento- Prolongado em 15-20% dos pacientes com hemofilia A. − Uso recente de ácido acetilsalicílico aumenta o tempo de sangramento, criando confusão com a doença de von Willebrand. o Hemofilia A- Para comprovar baixa atividade do fator VIII. o Hemofilia B - Para comprovar baixa atividade do fator IX. • Tratamento o A hemofilia ainda não tem cura o Hemofilia A − Fator VIII recombinante para pacientes com hemofilia A, HIV -negativos, com exposição anterior mínima a concentrados. − Derivados plasmáticos enriquecidos com fator VIII (crioprecipitado, concentrado de fator VIII)- 1 unidade de fator VIII (quantidade presente em 1 ml de plasma) o Hemofilia B − Fator IX purificado com anticorpos monoclonais para pacientes com hemofilia B, HIV-negativos, submetidos anteriormente a exposição mínima a hemoconcentrados. − Plasma fresco congelado para sangramento leve a moderado. Em geral, são necessários cerca de 10-20 ml/kg, 2 vezes ao dia. Existe o perigo de sobrecarga de volume. Utilizado apenas na ausência de concentrados de fator IX. − Concentrado de fator IX- Para hemorragia moderada a grave e para pacientes submetidos a cirurgia. Uma unidade/kg irá elevar os níveis em 1%. − Ácido épsilon-aminocaproico - Pode ser utilizado em pequenos procedimentos dentários após uma única infusão do fator VIII. Deficiência de Fator XI • Denominada por hemofilia C, é doença de herança autossômica recessiva, mais comumente encontrada em indivíduos de origem judaica. • Ela apresenta quadro clínico heterogêneo, em geral com episódios hemorrágicos de gravidade moderada, estando as hemorragias frequentemente relacionadas a trauma ou a procedimentos cirúrgicos. Sangramentos espontâneos podem ocorrer, porém são incomuns. Alterações do Fibrinogênio (Fator I) • Existem tipos de alterações hereditárias do fibrinogênio: o Afibrinogenemia − é uma doença rara, herdada como caráter autossômico recessivo. − A sintomatologia clínica varia e as hemorragias podem ser de intensidade leve a grave. Os episódios hemorrágicos, embora precoces, são geralmente pós-traumáticos, entretanto, indivíduos acometidos podem permanecer assintomáticos por longos períodos. As hemorragias mais freqüentes são: menorragia, sangramentos gengivais e epistaxes. O sangramento de cordão umbilical pode ser uma das primeiras manifestações e deve chamar atenção para o diagnóstico da doença. − Diagnóstico diferencial deve incluir a deficiência de fator XIII, cujo sangramento de cordão umbilical é também sinal altamente sugestivo da doença o Hipofibrinogenemia (fibrinogênio < 100 mg/dl) − Geralmente apresentam manifestação clínica quando associadas a trauma ou quando a concentração de fibrinogênio é inferior a 50 mg/dl. o Disfibrinogenemia − São caracterizadas pela biossíntese de moléculas com estrutura anômala que apresentam função alterada (defeito qualitativo). − A maioria dos pacientes é assintomática, podendo, entretanto, haver história de hemorragia ou trombose. Deficiência de Protrombina (Fator II) • É uma deficiência rara, herdada como caráter autossômico recessivo. • Apresenta quadro clínico heterogêneo, com sangramentos de leve a moderada intensidade, dependendo do nível funcional do fator. • Em geral, os sangramentos ocorrem após trauma, mas níveis funcionais menores que 1% estão associados a sangramento espontâneo. Deficiência de Fator V (F V) • É uma doença hemorrágica rara, herdada como caráter autossômico recessivo. • Pode ocorrer por deficiência de síntese (defeito quantitativo) ou por alteração funcional (defeito qualitativo) da molécula de F V. • As manifestações hemorrágicas são em geral moderadas e incluem equimoses, menorragia e epistaxes. Hematomas musculares extensos e hemartroses são raros. Deficiência de Fator VII (F VII) • O quadro clínico é variável e nem sempre tem relação com os níveis de FVII circulante. • Quadro clínico com apresentação exuberante, caracterizado por menorragia, epistaxes e raramente hematomas e hemartroses podem ocorrer quando os níveis de FVII são inferiores a 1.0 U/dl. • Esses pacientes podem também apresentar hemorragia intracraniana Deficiência de Fator X (F X) • É uma doença de herança autossômica recessiva, caracterizada por hemorragias de intensidade moderada a grave, de acordo com o nível funcional de F X circulante. • As manifestações hemorrágicas tendem a ser graves nos pacientes que apresentam FX inferior a 1,0 U/dl e leves naqueles com fator X acima de 1,0 U/dl. • As hemorragias mais comuns ocorrem nas articulações e mucosas e incluem menorragia, sangramento mucoso e mais raramente hemartroses. Deficiência de Fator XII (moléstia de Hageman), de Precalicreína e de Cininogênio de alto peso molecular • Estas proteínas são denominadas fatores de contato, porque parecem estar envolvidas com a ativação da via intrínseca da coagulação. • São deficiências raras, cuja herança é de caráter autossômico recessivo. • Em geral, evoluem sem sintomas, sendo seu diagnóstico, na maioria das vezes, um achado de laboratório. • Tem sido relatada a associação da deficiência de F XII à trombose, cujo mecanismo ainda permanece obscuro. Deficiência de Fator XIII (F XIII) • É uma doença rara, herdada como caráter autossômico recessivo. • Tipicamente, os coágulos formados são friáveis e mais susceptíveis à degradação pela plasmina. • O sangramento no cordão umbilical é aspecto característico da doença, que ocorre nos primeiros dias de vida. • Os pacientes com deficiência de F XIII apresentam hemorragia intracraniana com maior frequência do que aqueles com outras coagulopatias. • A hemorragia pode apresentar recidiva e, neste caso, é indicado o tratamento de reposição profilático de crioprecipitado ou concentrado de fator XIII para todos os indivíduos acometidos pela doença. • Abortos de repetição e dificuldade de cicatrização de feridas são achados também associados à doença. Deficiências Combinadas • Em geral são de herança autossômica recessiva, tendo sido descritas associações tais como: FV e F VIII, FVII e F IX, FVII e F VIII, entre outras. • Essas deficiências combinadas são raras e o quadro clínico depende da magnitude da deficiência de cada um dos fatores. CARACTERIZAÇÃO LABORATORIAL DAS COAGULOPATIAS HEMORRÁGICAS CONGÊNITAS DIAGNOSTICO DIFERENCIAL • O diagnóstico diferencial das coagulopatias hereditárias requer avaliação da história pregressa pessoal e familiar e dos quadros clínicos e laboratoriais Doença de Von Willebrand • A doença de von Willebrand e uma doença hemorrágica, causada por defeitos hereditários na concentração, estrutura ou função do fator von Willebrand. • Os pacientes com essa alteração hemostática representam um grupo heterogêneo, já que as expressões fenotípicas da doença podem variar em intensidade e oscilar com o tempo, além das mutações do fator von Willebrand poderem ter efeitos complexos FATOR VON WILLEBRAND (VWF) • O VWF está envolvido na adesão dependente das condições de fluxo das plaquetas à parede vascular e na adesão a outras plaquetas (agregação). • Também transporta o fator VIII da coagulação. • É uma glicoproteína grande, rica em cisteína, com estrutura multimérica composta de 2 a 50 subunidades diméricas. • O VWF é sintetizado por células endoteliais e megacariócitos e armazenado nos corpúsculosde Weibel-Palade das células endoteliais e nos grânulos específicos α das plaquetas, respectivamente. • O VWF livre no plasma é quase inteiramente derivado das células endoteliais, com duas vias diferentes de secreção. A maioria é continuamente secretada, e uma minoria é armazenada nos corpúsculos de Weibel-Palade. O VWF armazenado pode aumentar o nível plasmático e ser liberado sob a influência de vários secretados, como estresse, exercício, adrenalina e infusão de desmopressina (1-diamino-8-D-argi- nina vasopressina; DDAVP). O VWF liberado dos corpúsculos de Weibel-Palade está em forma de multímeros grandes e ultragrandes, sua forma mais adesiva e reacional. Os multímeros são, em seguida, clivados no plasma para multímeros menores e monoméricos pela metaloprotease específica plasmática ADAMTS-13 EPIDEMIOLOGIA • A doença de von Willebrand e considerada a mais comum das doenças hemorrágicas. • A frequência na Suécia chega a 125 casos para 1 milhão de indivíduos, enquanto na Itália um grande estudo epidemiológico pediátrico encontrou a prevalência de 0,82% (0,57-l-,15%) • Estimam sua prevalência entre 1 e 3%, mas somente em 10% deles a doença e sintomática FISIOPATOLOGIA • A doença de von Willebrand reflete a deficiência ou disfunção de FVW plasmático, uma glicoproteína multimérica que medeia a adesão e a agregação plaquetárias em locais de lesão vascular, e que também carrega e estabiliza o fator VIII (FVIII) de coagulação sanguínea na circulação • A DVW é herdada como caráter autossômico dominante, resultante de mutações no gene que codifica o FVW, localizado no cromossomo 12, porção 12p12 • O gene do FVW está localizado no cromossomo 12, com um pseudogene parcial no cromossomo 22 que potencialmente complica a detecção de mutação com base no DNA (que permanece primariamente uma aplicação de pesquisa, evoluindo um potencial diagnóstico clínico). • A proteína é sintetizada pelo endotélio vascular como subunidades que são dimerizados, processados e polimerizados em multímetros do FVW muito grandes, hemostaticamente ativos, e, finalmente, secretados no sangue. • As células endoteliais vasculares adicionalmente fornecem um reservatório de FVW multimerizado (em corpos intracelulares de Weibel-Palade) do qual elas podem ser liberadas por estresse ou por medicamentos como DDAVP (desmopressina: 1-desamino-8-D-arginina vasopressina). O FVW também é sintetizado e multimerizado por megacariócitos na medula óssea e armazenado nos α- grânulos de plaquetas circulantes, das quais ele é secretado da ativação plaquetária. O FVW armazenado nas plaquetas representa cerca de 10% do FVW total no sangue. • A multimerização do FVW é essencial para sua atividade hemostática que é principalmente mediada pelos multímetros de peso molecular mais elevado (maiores). O FVW plasmático circulante normalmente não interage com plaquetas. No entanto, quando adere às paredes dos vasos sanguíneos com lesão endotelial por atividade ligadora de colágeno, os multímetros podem ser esticados e desdobrados por altas forças de cisalhamento intravascular, como na microvasculatura, expondo e ativando domínios de ligação às plaquetas para promover a adesão e agregação das plaquetas ao FVW ligado ao vaso. Simultaneamente, os multímetros ativados (esticados) do FVW expõem os locais passíveis de clivagem proteolítica pela enzima circulante ADAMST13 (uma desintegrina e metaloprotease com repetições de trombospondina tipo 1, membro 13), com diminuição final do tamanho dos multímetros do FVW desregulando, assim, a função hemostática do FVW. A deficiência grave de ADAMST13 está associada à microangiopatia patológica da púrpura trombocitopenia trombótica (PTT), na qual a trombose microvascular é mediada por multímetros ultragrandes de FVW na circulação. CLASSIFICAÇÃO Tipo Descrição 1 (Forma leve, herdada como caráter autossômico dominante) Deficiência quantitativa parcial de FVW (∼75% a 80% de DVW) 2 (Forma intermediária, herdada como caráter autossômico dominante (II e IIb) e caráter autossômico recessivo (IIc) Defeito qualitativo de FVW (∼20% a 25% de DVW) 2A Provocado pelas mutações de FVW que diminuem a proporção grandes multímetros funcionais de FVW, levando à diminuição da adesão e agregação plaquetária dependente de FVW 2B Provocado pelas mutações FVW que aumentam a ligação de FVW-plaquetas, resultando na depleção dos grandes multímetros funcionais de FVW. As plaquetas circulantes são revestidas com FVW mutado, que pode comprometer a adesão e agregação plaquetária nos locais da lesão. A trombocitopenia, persistente ou intermitente, é observada na maioria dos casos. Para a distinção do tipo 2B pode ser necessária a realização do RIPA, com detecção de resposta de agregação plaquetária elevada (anormal) para a ristocetina de baixa dose; a última também pode refletir o DVW do tipo plaquetário (pseudo) provocado por mutações raras no receptor FVW de plaquetas. 2M Provocado pelas mutações de FVW que diminuem a adesão e agregação plaquetária dependente de FVW, mas não causam depleção dos grandes multímetros de FVW. A diferenciação entre os tipos 2A e 2M da DVW exige análise eletroforética do multímetro em gel do FVW. 2N Causado pelas mutações do FVW que comprometem a ligação ao FVIII encurtando, assim, a sobrevida de FVIII e diminuindo os níveis de FVIII de modo que o tipo 2N da DVW possa disfarçar-se como uma forma autossômica recessiva de hemofilia A. O diagnóstico diferencial da hemofilia A pode exigir os ensaios da ligação de FVW-FVIII. 3 (Forma grave, herdada como caráter autossômico recessivo) Deficiência quase completa de FVW, associada à diminuição acentuada de FVIII (<1% de DVW) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Os indivíduos com DVW geralmente apresentam sintomas de hemorragia mucocutânea como formação fácil de equimoses, sangramento prolongado ou excessivo de pequenos cortes ou outras lesões, epistaxe ou outros sangramentos de mucosas, como hemorragia gastrointestinal (GI) ou sangramento menstrual intenso (em mulheres), e eles podem ter risco hemorrágico aumentado após a cirurgia ou procedimentos invasivos, extrações dentárias, lesão traumática ou parto. • Os sintomas podem variar de sangramento relativamente leve ou infrequente na DVW tipo 1 a sangramento grave que ameaça a vida na DVW tipo 3. • Como um grupo, as mulheres com DVW podem ser mais afetadas por sintomas de sangramento do que os homens devido aos desafios hemostáticos da menstruação e parto. METÓDOS DIAGNÓSTICOS • O diagnóstico da DVW baseia-se na presença de três condições: o História pessoal de sangramentos cutâneos e mucosos; o História familiar de manifestações hemorrágicas; o Exames laboratoriais que demonstrem um defeito quantitativo e/ou qualitativo do FVW. − TS alargado. − PTTa normal ou alargado (FvWB atua, além da hemostasia primária, protegendo o fator VIII de degradação enzimática). − Teste da Ristocetina (avalia a atividade do FvWB); − Em casos graves mais graves, dosagens do fator VII; − Aanticorpos contra FvWB. − Tipo sanguíneo (A, B ou AB tem mais FvWB do que O), gestação (a gestante diminui a quantidade do FvWB no 3º trimestre) e algumas doenças podeM interferir na quantidade de FvWB. • Na anamnese é importante a avaliação da presença de manifestações hemorrágicas após procedimentos invasivos, tais como cirurgias, traumas, procedimentos dentários e sangramento pós-parto. Além disso, o tempo de aparecimento do quadro hemorrágico é de importância fundamental, devido à possibilidade de DVW adquirida, na maioria das vezes secundária a doenças autoimunes e malignas (principalmente linfo ou mieloproliferativas). • De acordo com a Sociedade Internacional de Trombose e Hemostasia (ISTH), os eventos hemorrágicos que podem sugerir a presença da DVW são: o EPISTAXE: prolongada sem história de trauma prévio, quenão cessa após 20 minutos com compressão local ou que leva à anemia ou que requer transfusão sanguínea. − Devem-se considerar, ainda, as epistaxes que necessitam de intervenção médica ou que recorrem após cauterização o SANGRAMENTOS CUTÂNETOS OU EQUIMOSES: que surgem após traumatismo mínimo ou mesmo sem trauma aparente, ou que necessitam de tratamento médico o SANGRAMENTO PROLONGADO EM FERIMENTOS CORTANTES: com duração igual ou superior a 15 minutos, que necessitam de intervenção médica para cessar ou que recorrem espontaneamente dentro de sete dias o SANGRAMENTO ORAL: como gengivorragia, ou após erupção dentária ou ferimentos cortantes em lábios ou língua, que necessitam de tratamento médico ou que recorre nos sete dias subseqüentes; o HEMORRAGIA GASTROINTESTINAL: que requer avaliação médica ou que causa anemia, aguda ou crônica, não explicada por lesão local; o SANGRAMENTO PROLONGADO APÓS EXODONTIA OU CIRURGIA: como amigdalectomia e adenoidectomia, necessitando de avaliação médica; o MENORRAGIA: não associada a problemas uterinos; este sintoma é mais significativo quando a menorragia teve início desde a menarca, ou produz anemia, ou necessita de tratamento médico; o SANRAMENTO PROLONGADO: outras superfícies cutâneas ou mucosas, que requeira tratamento médico. Uma história familiar positiva compatível com uma herança de caráter dominante da DVW requer que um familiar de primeiro grau ou dois familiares de segundo grau apresentem história evidente de sangramento cutâneo-mucoso ou exames laboratoriais compatíveis com DVW. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS • Hemofilia e deficiência de outros fatores de coagulação. • Distúrbios da função plaquetária. CONDUTA TERAPÊUTICA • Orientar o paciente e familiares • Oferecem boa assistência dentária • Evitar uso de ácido acetilsalicílico • Contraceptivo oral para controle da menorragia • Prepraro pré-operatório: iniciar 24hs antes da cirurgia com plasma fresco congelado ou crioprecpitado. • Monitoramento do paciente: avaliação clínica e laboratorial para casos mais graves (sorologia para hepatite viral, HIV, provas de funções hepática). Medicamentoso • Desmopressina (DDAVP): indicado em casos leves, com sagramento mucosos. Sendo contraindicado em casos tipo II e III, por má resposta, com possível hinatremia e indução a trombocitopenia no subtipo IIb. o É um análago da vasopressina (hormônio antidiurético) que estimula a liberação do fator de von Willebrand no plasma e pode aumentar s níveis do fator VIII. • Crioprecpitado: indicado em casos mais graves, tipo II e III. o Hemocomponente obtido do descongelamento de 1 bbolsa de plasms fresco congfelado a 4 graus C, sendo removido sobrenadante. Contém fatores de coagulação XIII, VIII, fator de Von Willebrand e fibrinogênio. o Fazer uso de 1 bolsa duas vezes ao dia, por 48 a 72h, dependendo da gravidade. • Plasma fresco congelado (PFC): indicado nos tipos II e III. o O PFC contém níveis normais de fatores de coagulação estáveis, albumina e imunoglobulinas. Contém níveis originais do fator VIII em torno de 70%, assim como de outros fatores lábeis, além das proteínas naturais inibidoras da cascata de coagulação Polít icas Públicas de Saúde de Hemoderivados DECRETO N°3.990, DE 30 DE OUTUBRO DE 2001 Regulamenta o art. 26 da Lei no 10.205, de 21 de março de 2001, que dispõe sobre a coleta, processamento, estocagem, distribuição e aplicação do sangue, seus componentes e derivados, e estabelece o ordenamento institucional indispensável à execução adequada dessas atividades A Política Nacional de Sangue, Componentes e Hemoderivados obedecerá aos seguintes princípios e diretrizes: I. Universalização do atendimento à população II. Utilização exclusiva da doação voluntária, não remunerada, do sangue, cabendo ao poder público estimulá- la como ato relevante de solidariedade humana e compromisso social; III. Proibição de remuneração ao doador pela doação de sangue; IV. Proibição da comercialização de coleta, processamento, estocagem, distribuição e transfusão do sangue, componentes e hemoderivados; V. Permissão de remuneração dos custos dos insumos, reagentes, materiais descartáveis e da mão-de-obra especializada, inclusive honorários médicos, na forma deste decreto e das normas técnicas do ministério da saúde; VI. Proteção da saúde do doador e do receptor mediante informação ao candidato a doador sobre os procedimentos a que será submetido, os cuidados que deverá adotar, as possíveis reações adversas decorrentes da doação, bem como qualquer anomalia importante identificada quando dos testes laboratoriais, garantindo o sigilo dos resultados; VII. Obrigatoriedade de responsabilidade, supervisão e assistência médica na triagem de doadores, para avaliação do estado de saúde do doador, na coleta de sangue e durante o ato transfusional, assim como nos atos pré e pós-transfusional imediatos; VIII. Direito a informação sobre a origem e procedência do sangue, dos componentes e hemoderivados, bem como sobre o serviço de hemoterapia responsável pela origem destes; IX. Participação de entidades civis brasileiras no processo de fiscalização, vigilância e controle das ações desenvolvidas no âmbito dos sistemas nacional e estaduais de sangue, componentes e hemoderivados; X. Fiscalização obrigatória, a fim de certificar que todos os materiais ou substâncias que entrem em contato com o sangue coletado com finalidade transfusional, bem como seus componentes e derivados, sejam estéreis, apirogênicos e descartáveis; XI. Segurança na estocagem e transporte do sangue, componentes e hemoderivados, na forma das normas técnicas editadas pelo sinasan; e XII. Obrigatoriedade de testagem individualizada de cada amostra ou unidade de sangue coletado, sendo vedada a testagem de amostras ou unidades de sangue em conjunto, a menos que novos avanços tecnológicos a justifiquem, ficando a sua execução subordinada a portaria específica do Ministério da Saúde, proposta pelo SINASAN. PROJETOS OBJETIVOS METAS Política Nacional de Sangue e Hemoderivados – PNSH Definir uma política única de sangue e hemoderivados para o país, que garanta a sua disponibilidade, segurança e qualidade, mediante a explicitação das intenções do governo para esta área, que contemple a participação do governo e da sociedade civil - Aprovar a lei regulamentadora da Política Nacional de Sangue e Hemoderivados. - Formular e implementar o Sistema Nacional de e Sangue e Hemoderivados – SINASAN - Elaborar o Plano Nacional de Sangue e Hemoderivados – PLANASHE Programa Nacional de Hemoderivados Elaborar um programa nacional de hemoderivados que permita, a curto prazo, processar o excedente de plasma e, a médio prazo, a implementação de até três plantas no país buscando a auto-suficiência em hemoderivados - Fracionar 100% do excedente de plasma estocado no país até dezembro de 2001 - Implantar a primeira fábrica de hemoderivados com controle do setor público até dezembro de 2003. Programa de Doação Voluntária de Sangue – PNDVS Envolver a sociedade brasileira, levando-a a participar ativamente do processo da doação de sangue de forma consciente e responsável, através de ações educativas e de mobilização social, visando à garantia da quantidade adequada à demanda do país e à melhoria da qualidade do sangue, componentes e derivados. - Alcançar o índice de coleta de bolsas correspondente a 2% da população brasileira - Atingir o índice de 80% de doações espontâneas. - Atingir o índice de 60% de doadores de repetição - Reduzir em 50% o índice de inaptidão clínica em relação ao ano de 1998 - Reduzir em 50% o índice de inaptidão sorológica, por marcador em relação ao ano de 1998 Programa de Infra- estrutura Física e Organizacional da Hemorrede Proporcionar os meios para que se institucionalize no país uma rede nacionalde Unidades Hemoterápicas – UH que, atingindo capilarmente até as mais remotas comunidades, assegure a indispensável cobertura hemoterápica e a qualidade do sangue transfundido - Diagnosticar e mapear 100% da hemorrede pública até dezembro 2001. - Construir, ampliar, reformar e/ou equipar 100% dos Hemocentros Coordenadores não conformes até dezembro de 2001. - Adequar, ampliar, reformar e/ou equipar os Hemocentros Regionais e Hemonúcleos não conformes até dezembro de 2002. - Adequar, ampliar, reformar e/ou equipar UCT e AT não conformes até dezembro de 2003 Programa de Capacitação de Recursos Humanos Contribuir para a melhoria da qualidade do sangue disponibilizado à população, através de programas de capacitação e de formação continuada para os profissionais que atuam em Serviços de Hemoterapia e Vigilâncias Sanitárias. - Treinar 20.000 técnicos da hemorrede pelo sistema TELELAB, nos cursos disponíveis para o sangue - Treinar 360 profissionais que atuarão como multiplicadores em suas regiões de abrangência - Elaborar 11 Manuais de Conteúdos Programáticos Mínimos para ações de capacitação de recursos humanos na hemorrede Sistema Nacional de Informações Gerenciais do Sangue e Hemoderivados Fomentar a criação de uma Rede Nacional de Informações em Sangue e Hemoderivados que, implantada, permita aos diversos gestores nas esferas federal, estadual e municipal o pleno acesso a dados indispensáveis à tomada de decisões quanto ao gerenciamento em todo o processo do sangue na hemorrede. - Implantar o Relatório de Produção Mensal (HEMOPROD) até 06/2001; - Implantar o Cadastro de UH (HEMOCAD) até 06/2001; Certificar o Programa de Informatização de UH (HEMOVIDA) até 06/2001 - Implantar o Programa de Informatização das Visas Estaduais (HEMOINSP) até 06/2001 - Implantar a Rede de Informatização da Vigilância Sanitária (HEMOVISA) até 12/2002 - Implantar Sistema de Informação Gerencial (HEMOVIDA ou outro) em 100% com os Serviços dos Hemocentros Coordenador até dez/2002 Controle de Qualidade de Insumos para Hemoterapia Desenvolver e consolidar um sistema abrangente de controle da qualidade dos insumos para hemoterapia, permanente e efetivo, capaz de assegurar a qualidade dos produtos em uso no Brasil - Implantar um programa anual de inspeções nas produtoras, distribuidoras e/ ou importadoras Revisar os processos de registro segundo a legislação atualizada - Implantar sistemas de avaliação da qualidade dos insumos; Implantar sistema de monitoramento de eventos indesejáveis - Identificar Lacen’s para participar das ações analíticas do programa Inspecionar 90 lotes de bolsas anualmente Sistema de Avaliação Externa da Qualidade em Sorologia e Imuno hematologia Garantir a implementação de um Sistema de Avaliação Externa da Qualidade dos testes imuno-hematológicos e sorológicos, contribuindo para a garantia dos resultados obtidos nas Unidades Hemoterápicas no país. - Implantar o Programa de Avaliação Externa da Qualidade (PAEQ) dos ensaios imunematológicos em 100% dos serviços públicos que executam testes imunohematológicos, até dez/2003 - Implantar o PAEQ dos ensaios sorológicos em 100% dos serviços públicos que executam sorologia, até dezembro de 2003; Programa de Qualidade na Hemorrede Desenvolver metodologia e promover orientação técnica para instrumentalizar e fomentar as unidades que compõem a Hemorrede, para a implantação de Programas de Qualidade no Sistema - Implantar o Programa da Qualidade do Sangue (PQS) em 100% das unidades de alta complexidade que compõem a hemorrede até 2003, com mais de um ciclo de aprendizagem. Programa Nacional de Acreditação de Unidades Hemoterápicas – PNA Implementar um modelo de avaliação e certificação das Unidades de Hemoterapia, baseado em padrões previamente definidos, com vistas a estimular o desenvolvimento de uma cultura de melhoria dos processos das referidas unidades, voltada para assegurar a qualidade dos mesmos e a segurança do ato transfusional, do doador ao receptor - Acreditação de 100% dos serviços de hemoterapia que aderirem, até 2003. Implementação do Sistema de Vigilância Sanitária do Sangue Propor ações integradas, padronizadas e sistemáticas nos níveis Federal, Estadual e Municipal da Vigilância Sanitária do Sangue, assim como ampliar o número de inspeções em Unidades Hemoterápicas, qualificando o processo administrativo sanitário, a fiscalização e a conseqüente qualidade dos produtos e serviços oferecidos - Treinar 180 novos inspetores até 06/2001 - Atualizar 150 inspetores até 06/2001 - Inspecionar todas as unidades de hemoterapia, públicas e privadas uma vez ao ano, até 2003 - Revisar e padronizar as rotinas de procedimentos operacionais e administrativas até dezembro de 2001 - Harmonizar o suporte jurídico ao Programa. Hemovigilância (introduzido a partir de 2001) Implantar em todo o território nacional um sistema de avaliação e alerta organizado com o objetivo de recolher e avaliar informações sobre os efeitos indesejáveis e/ou inesperados da utilização de hemocomponentes, a fim de prevenir seu aparecimento ou recorrência - Implantação do programa em três hemocentros coordenadores para teste piloto até dezembro de 2001 - Implantação do Programa em 50 Hospitais Universitários até junho/2002. - Implantação do Programa em 100% dos Serviços de Hemoterapia até dez/2003 ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS DA DOAÇÃO DE SANGUE ORDENAMENTO INSTITUCIONAL DO SINASAN - (LEI FEDERAL N° 10.205/2001) NORMAS E DIRETRIZES TRATAMENTO HEMOCOMPONENTES E HEMODERIVADOS • A transfusão de sangue e hemocomponentes é uma tecnologia relevante na terapêutica moderna. • Usada de forma adequada em condições de agravos da saúde pode salvar vidas e melhorar a saúde dos pacientes. Porém, assim como outras intervenções terapêuticas, pode levar a complicações agudas ou tardias, como o risco de transmissão de doenças infecciosas entre outras complicações clínicas. • O uso de sangue e hemocomponentes é uma prática cara para o SUS, que necessita e utiliza tecnologia de ponta e recursos humanos altamente especializados, e tem seu fornecimento diretamente relacionado à doação voluntária e altruísta. Tais particularidades tornam indispensável a racionalização na utilização dos hemocomponentes, considerando sempre a segurança do doador, do receptor e a disponibilidade de acesso. • Os hemocomponentes e hemoderivados se originam da doação de sangue por um doador. No Brasil, este processo está regulamentado pela Lei nº 10.205, de 21 de março de 2001, e por regulamentos técnicos editados pelo Ministério da Saúde. Toda doação de sangue deve ser altruísta, voluntária e não gratificada direta ou indiretamente, assim como o anonimato do doador deve ser garantido. • Para a obtenção destes produtos, os serviços de hemoterapia são estruturados em rede, com níveis de complexidade diferentes, a depender das atividades que executam. Serviços mais completos executam todas as etapas do ciclo do sangue, que correspondem à captação de doadores, à triagem clínica, à coleta de sangue, ao processamento de sangue em hemocomponentes, às análises sorológicas e imuno- hematológicas no sangue do doador, ao armazenamento e à distribuição destes produtos e à transfusão. • As técnicas de processamento atuais permitem a produção e o armazenamento de diferentes hemocomponentes em condições adequadas para preservação de suas características terapêuticas, possibilitando que o receptor receba, em menor volume, somente elementos sanguíneos dos quais necessita, o que minimiza os riscos inerentes à terapêutica transfusional. Deste modo, a partir de uma única doação, vários pacientes poderão ser beneficiados de forma mais segura. • Quando falamosem hemocomponentes e hemoderivados, estamos tratando de produtos distintos. Embora ambos tenham o sangue como origem. o Assim, a partir do sangue total retirado do doador, a hemoterapia produz quatro componentes separados a partir de processos físicos de centrifugação e congelamento − HEMOCOMPONENTES: hemácias (glóbulos vermelhos), plaquetas, plasma e crioprecipitado, componentes separados a partir de processos físicos de centrifugação e congelamento. − HEMODERIVADOS: albumina, globulinas, fatores de coagulação e complexos protrombínicos. Esses produtos são obtidos através do fracionamento do plasma que é realizado por processos físico-químicos ou biotecnológicos. o Tanto os hemocomponentes quanto os hemoderivados do sangue são de fundamental necessidade em diversos procedimentos. Desde uma transfusão para o tratamento de hemorragia até as terapias de pacientes com hepatite B ou hemofilia. • A Hemoterapia moderna se desenvolveu baseada no preceito racional de transfundir-se somente o componente que o paciente necessita, baseado em avaliação clínica e/ou laboratorial, não havendo indicações de sangue total. • Devemos ressaltar que as condições clínicas do paciente, e não somente resultados laboratoriais, são fatores importantes na determinação das necessidades transfusionais. Sabemos também que apesar de todos os cuidados, o procedimento transfusional ainda apresenta riscos (doença infecciosa, imunossupressão, aloimunização), devendo ser realizado somente quando existe indicação precisa e nenhuma outra opção terapêutica. • Como o procedimento transfusional apresenta risco potencial, a decisão deve ser compartilhada pela equipe médica com o paciente ou seus familiares, se este não tiver condição de entendimento, os riscos devem ser discutidos e todas as dúvidas devem ser esclarecidas. Em situações relacionadas com crenças religiosas existem orientações específicas que devem ser discutidas com o médico hemoterapeuta do serviço. É recomendável que o paciente formalize através da assinatura de um Termo de Consentimento Livre Esclarecido sua ciência e autorização para o procedimento transfusional. Referência 1. Goldman-Cecil Medicina, volume 1. 25. ed. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. 2. Manual de hematologia : Programa Integrado de Hematologia e Transplante de Medula Óssea/coordenador Nelson Hamerschlak -Barueri, SP : Manole, 2010. 3. Manual de tratamento das coagulopatias hereditarias / Ministerio da Saude, Secretaria de Atencao a Saude, Departamento de Atencao Especializada. – Brasilia : Editora do Ministerio da Saude, 2006. 4. Manual de diagnóstico laboratorial das Coagulopatias Hereditárias e Plaquetopatias [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada e Temática. – Brasília: Ministério da Saúde, 2016. 5. Guia para uso de hemocomponentes / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada e Temática. – 2. ed., 1. reimpr. – Brasília: Ministério da Saúde, 2015. 6. Manual de diagnóstico e tratamento da doença de von Willebrand / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2008. 7. http://www.net- escola.ufba.br/sites/default/files/doenca_falciforme/janela_mapa/Politica/617/politica_de_hemoderivados_n o_brasil_desafios_e_perspectivas.pdf 8. http://www.net-escola.ufba.br/sites/default/files/doenca_falciforme/janela_mapa/Politica/617/politica_de_hemoderivados_no_brasil_desafios_e_perspectivas.pdf http://www.net-escola.ufba.br/sites/default/files/doenca_falciforme/janela_mapa/Politica/617/politica_de_hemoderivados_no_brasil_desafios_e_perspectivas.pdf http://www.net-escola.ufba.br/sites/default/files/doenca_falciforme/janela_mapa/Politica/617/politica_de_hemoderivados_no_brasil_desafios_e_perspectivas.pdf
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