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NEUROLOGIA Weslley Jonathan P3 DOENÇA DE PARKINSON - É uma doença neurodegenerativa, que acomete cerca de 2% a 3% da população acima dos 65 anos → é a segunda doença neurodegenerativa mais comum - Tem caráter progressivo, é predominantemente motora e afeta mais pacientes homens As anormalidades não motoras (que inclusive podem aparecer antes das motoras) incluem: ▪ Distúrbios cognitivos, psiquiátricos e autonômicos ▪ Hiposmia ▪ Fadiga ▪ Dor Quanto ao seu surgimento: ▪ Normalmente aparece após 50 anos ▪ Precoce é quando aparece antes dos 40 anos (10% dos casos) ▪ Juvenil quando ocorre antes dos 20 anos (extremamente rara) Quanto a etiopatogenia: ▪ 10% a 15% dos casos é de natureza genética → geralmente são as formas de inicio mais precoce ▪ Ocorre devido a uma deficiência na transmissão dopaminérgica nigroestriatal (ou seja, transmissão da dopamina pela substancia negra para o núcleo estriado) → essa deficiência é decorrente de um processo degenerativo que acomete os neurônios mesencefálicos nigrais ▪ Ocorre depósitos anormais da ALFASSINUCLEÍNA que é uma proteína de ação pré-sinaptica → há alterações estruturais que a favorecem sua agregação e seu acumulo em populações neuronais mais suscetíveis – ex. Substância negra, locus ccerulos entre outras → esse acumulo leva a uma disfunção das organelas que acarretam em morte neuronal A doença de Parkinson é considerada uma proteínopatia da classe das SINUCLEINOPATIAS, juntamente com a demência por corpos de Lewy e atrofia de múltiplos sistemas - As manifestações pré-motoras estão relacionadas ao acometimento de estruturas do BULBO e da PONTE do tronco cerebral, e também do sistema olfatório - Devido as essas manifestações, a DP parece ser uma doença com progressão CAUDOCRANIAL: o Fase pré-motora = Acometimento do tronco cerebral baixo o Fase motora = Acometimento do mesencéfalo o Fase avançada = Acometimento cortical, atingindo estruturas corticais que integram as funções cognitivas - O acumulo de alfassinucleína pode ter inicio no sistema nervoso entérico, com progressão ascendente pelo sistema vagal até o núcleo dorsal do nervo vago e em seguida atingir estruturas mais rostrais - Essa proteinopatia também pode propagar=se entre os neurônios por mecanismos semelhantes ao das doenças priônicas - Na análise anatomopatológica, há perda neuronal em diversas regiões do encéfalo com o aparecimento dos CORPUSCULOS DE LEWY no microscópio → São corpos de inclusões eosinofílicos no corpo dos neurônios, expressando um acumulo de alfassinucleína História natural da doença e diagnóstico: ▪ O diagnóstico geralmente é feito, considerando a história natural da doença, anos após o inicio da degeneração, quando se instalam as alterações motoras ▪ As manifestações motoras aparecem devido a degeneração dos neurônios da substancia negra que resulta em diminuição de dopamina ▪ As manifestações não motoras podem aparecem anos antes que os sintomas motores → esses sintomas incluem: Hiposmia, depressão, constipação intestinal e transtorno comportamental do sono REM NEUROLOGIA Weslley Jonathan P3 QUADRO CLÍNICO - A principal manifestação clinica é a síndrome parkinsoniana que é decorrente do comprometimento da via dopaminérgica nigroestriatal - As manifestações não motoras podem estar presentes anos antes do aparecimento do quadro clinico motor que é o clássico da doença → Essas manifestações não motoras estão relacionadas ao envolvimento de estruturas fora do circuito dos núcleos da base O parkinsonismo ou síndrome parkinsoniana apresenta quatro componentes básicos (BRIT): 1. Bradicinesia 2. Rigídez muscular 3. Instabilidade postural 4. Tremor de repouso Bradicinesia: ▪ Caracterizada por lentidão e redução da amplitude de movimentos voluntários e automáticos ▪ Esse tipo de transtorno motor engloba também: incapacidade de sustentar movimentos repetitivos, fatigabilidade anormal e dificuldade para realizar atos motores simultâneos ▪ Se manifesta na área cranial pela HIPOMIMIA (redução na expressividade facial) Área cranial: ▪ A bradicinesia causa a hipomimia ▪ A bradicinesia associada a rigidez acomete a região oral, faríngea e laríngea → leva redução da deglutição automática da SALIVA, levando ao seu acumulo cavidade bucal e perda da comissura labial → SIALORREIA (acumulo de saliva) ▪ Leva também a DISFAGIA e também a DISARTROFONIA ▪ A disartrofonia é um comprometimento da fonação e articulação das palavras, sendo característico a DISARTROFONIA HIPOCINÉTICA → Essa disatrofonia leva a redução do volume da fala (pode se tornar apenas um sussurro), perda da capacidade de inflexão da voz (se torna monótona) e distúrbios do ritmo (hesitação inicial e cadência lenta, pontuada por pausas inadequadas, hesitações ou acelerações involuntárias [que é semelhante as alterações involuntárias da marcha]) Membros: ▪ A bradicinesia pode ser testada por FINGER TAPPING das mãos e dos pés (movimentos repetitivos) ▪ Em tarefas cotidianas compromete os movimentos necessários para se vestir a cuidar da higiene ▪ Ocorre MICROGRAFIA que é a redução no tamanho da letra, desfigurando a assinatura ▪ Afeta tarefas motoras finas como digitação e manejo do mouse Marcha: ▪ A bradicinesia causa redução da amplitude de passos e/ou arrastar os pés ▪ Perda dos movimentos associados dos membros superiores levando a uma MARCHA “EM BLOCO” ▪ Pode ocorrer a FESTINAÇÃO → aceleração involuntária da marcha, com uma inclinação para frente como se o paciente estivesse buscando seu centro de gravidade (pode levar a quedas) ▪ Pode ocorrer o BLOQUEIO DA MARCHA (FREEZING) → caracteriza-se como uma perda abrupta da capacidade de iniciar ou sustentar a marcha, aparecendo como uma hesitação em iniciar ou um “freio súbito” da marcha (isso pode levar a queda, devido a inércia que tende a manter o corpo em movimento) → esse congelamento pode aparecer quando o paciente se depara com um OBSTÁCULO REAL (elevação do solo) ou VISUAL (faixa pintada no solo) → Tensão emocional pode também causar esse congelamento ▪ Determinados estímulos sensoriais e motores podem causar a dificuldade da marcha ▪ O bloqueio da marcha não costuma aparecer nos primeiros anos, mas sim surge com a progressão da doença → bloqueio NÃO responde bem a REPOSIÇÃO NEUROLOGIA Weslley Jonathan P3 DOPAMINÉRGICA, sugerindo a participação de outros circuitos e neurotransmissores na gênese do fenômeno ▪ Pode ocorrer também a CINESIA PARADOXAL → É o inverso do bloqueio de marcha, ou seja é uma MELHORA abrupta e de curta duração do desempenho motor quando sob forte emoção O BLOQUEIO DE MARCHA e a CINESIA PARADOXAL, ao invés de ser causada pelo déficit dopaminérgico (como é a bradicinesia), estão relacionadas na verdade com a atividade NORADRENÉRGICA E/OU COLINÉRGICA Rigidez/hipertonia plástica: ▪ Quase sempre está presente na síndrome parkinsoniana ▪ A resistência à movimentação passiva do membro afetado é CONTÍNUA ou INTERMITENTE → Essa intermitência configura o “SINAL DA RODA DENTEADA” ▪ A hipertonia plástica acomete preferencialmente a MUSCULATURA FLEXORA → Isso causa as alterações típicas da postura: ANTEROFLEXÃO DO TRONO + SEMIFLEXÃO DOS MEMBROS (postura semiesca) ▪ Pode ocorre também devido a hipertonia plástica o REFLEXOLOCAL DE POSTURA (REFLEXOS TÔNICOS SEGMENTARES) → esse fenômeno é observando que o médico faz uma flexão dorsal do pé do paciente e essa movimentação passiva leva a uma CONTRAÇÃO PROLONGADA dos músculos envolvidos (o pé do paciente fica nessa postura por um tempo) Tremor parkinsoniano (de repouso): ▪ É um tremor de repouso que aumenta durante a marcha, durante um esforço mental e em situações de tensão emocional ▪ Diminui com a movimentação voluntaria do segmento afetado e desaparece no sono ▪ A frequência varia de 4 a 6 ciclos por segundo e costuma envolver preferencialmente as mãos ▪ Há uma alternância entre pronação e supinação ou flexão e extensão dos dedos ▪ Na fisiopatologia do tremor também há envolvimento do CIRCUITO CEREBELO- TÁLAMO-CORTICAL (além da disfunção dopaminérgica nigroestriatal) Instabilidade postural: ▪ Decorrente da perda de reflexos da readaptação postural, evidenciando-se em mudanças bruscas de direção durante a marcha ▪ NÃO é comum de aparecer em fases iniciais, se agrava com o progresso da doença e predispõe a quedas ▪ Quando aparece precocemente é um elemento que sugere PARKINSONISMO ATIPICO (PARALISIA SUPRANUCLEAR PROGRESSIVA) ▪ Pode ser avaliada pelo PULL TEST → o examinador puxa o paciente para trás bruscamente pelos ombros → A resposta anormal é que o paciente > 2 passos para trás para se reequilibrar ▪ A instabilidade postural esta relacionada com alterações no circuito que envolve os NÚCLEOS DA BASE e o NÚCLEO PEDUNCULOPONTINO na transição PONTOMESENCEFÁLICA → esse núcleo é COLINERGICO e também está envolvida no FREEZING da marcha Sinal de Myerson: ▪ No paciente pode ocorrer blefaroespasmo espontâneo ▪ Pode também aparecer durante a realização do REFLEXO GLABELAR → o paciente vai piscar o olho durante a realização (sinal de myerson) ▪ É comum em várias formas de parkinsonismo, notadamente no pós- encefalítico O paciente também pode apresentar convergência ocular e também paresia do olhar vertical para cima NEUROLOGIA Weslley Jonathan P3 MANIFESTAÇÕES NÃO MOTORAS - Quatro tipos de manifestações não motoras tipicamente aparecem no paciente: ▪ Neuropsiquiátricas ▪ Autonômicas ▪ Distúrbios do sono ▪ Outras Manifestações neuropsiquiátricas: ▪ Depressão e o declínio cognitivo são as mais relevantes ▪ Ansiedade e apatia também podem estar presentes ▪ Quando aparecem alterações cognitivas nas fases iniciais são geralmente discretas (DISTÚRBIOS VISUOESPACIAIS) e sem comprometimento do desempenho cognitivo ▪ Em cerca de 20% a 40% dos casos, em fases avançadas da doença, podem aparecer alterações cognitivas GRAVES configurando um QUADRO DEMENCIAL ▪ A Depressão é o transtorno psiquiátrico MAIS COMUM Depressão na doença de Parkinson: ▪ Os principais fatores ligados a DEPRESSÃO são: Mulheres + Maior incapacidade motora + flutuações motoras mais intensas + presença de disfunções cognitivas e autonômicas + insônia ou sonolência diurna ▪ Os sintomas são bem comuns ao da DEPRESSÃO PRIMÁRIA (que não ta relacionada com Parkinson) e inclui: Tristeza, pessimismo, alterações somáticas (perda do apetite, alteração de peso, fadiga e distúrbios do sono), perda de autoestima e ansiedade → sintomas de culpa, autocritica excessiva, sensações de ruina e impotência, alucinações e delírios que podem aparecer na depressão primária NÃO são comuns na depressão de Parkinson ▪ A taxa de suicídio em comparação à depressão primária é MUITO BAIXA ▪ Metade dos pacientes se encaixam em DEPRESSÃO MAIOR, enquanto a outra metade apresentam DISTIMIA ou DEPRESSÃO LEVE – MODERADA ▪ A depressão na doença de Parkinson NÃO vem apenas de um PROCESSO REATIVO mas sim também por ANORMALIADADES QUÍMICAS DA DOENÇA → isso porque a depressão antecede os sintomas motores, tem uma maior prevalência no parkison do que em outras doenças que trazem incapacidade motora comparável e por terem características clinicas peculiares ▪ Principais sistemas de neurotransmissores envolvidos na depressão de Parkinson: Dopaminérgico (MESO-CORTICOLIMBICA), Serotonérgico (NÚCLEOS DA RAPHE DO TRONCO) e Noradrenérgico (LOCUS CERULUS) Ansiedade na doença de Parkinson: ▪ Manifestação psiquiátrica muito comum no Parkinson ▪ Pode ser causada pela incapacidade física trazida pela doença e também pela imprevisibilidade de resposta à medicação ▪ Os tipos mais comuns: Crises de pânico, TAG e fobia simples e social ▪ Pode ser decorrente também da depressão do Parkinson Apatia na doença de Parkinson: ▪ Apatia é a falta de motivação manifestada por redução do comportamento dirigido a determinado objetivo e uma redução do engajamento social ▪ Está associada a comprometimento social e funcional e redução na qualidade de vida ▪ Pode ser parte de outra condição ou como uma síndrome isolada → principalmente DEPRESSÃO E DEMÊNCIA ▪ Está associada a disfunção executiva Alterações autonômicas: ▪ As mais importantes são as gastrointestinais, hipotensão postural e disfunção vesical ▪ Podem estar presentes ainda seborreia, disfunção erétil e alterações da termorregulação Disfunções gastrointestinais: ▪ São as manifestações não motoras mais frequentes ▪ A obstipação intestinal (MAIS COMUM E PRECOCE), a disfagia e a gastroparesia são as mais frequentes ▪ Sialorreia e disfagia → estão relacinadas com alterações no mecanismo de deglutição que tem interferência da BRADICINESIA, RIGIDEZ e DISFUNÇÃO AUTONÔMICAS NEUROLOGIA Weslley Jonathan P3 Disfunção no ciclo sono-vigília: Entre as outras manifestações não motoras da DP estão a redução do olfato (hiposmia), a fadiga e a dor (esta geralmente secundária às alterações motoras). Hiposmia: ▪ Presente em cerca de 80% a 90% dos pacientes → é um dado útil para o diagnóstico em caso de duvidas! ▪ Ajuda a distinguir o Parkinson do tremor essencial e de outras formas de parkinsonismo degenerativo (paralisia supranuclear progressiva e degeneração corticobasal) → nessas condições geralmente não há prejuízo do olfato DIAGNÓSTICO - Principalmente clínico, sendo os exames complementares utilizados para AFASTAR outras condições que possam ser confundidas - NÃO é possível fazer o diagnóstico com SEGURANÇA da fase PRÉ-MOTORA→ A Moviment Disorders Society propõe critérios que consideram: ▪ Fatores de risco para Parkinson ▪ Presença de manifestações não motoras ▪ Biomarcadores → cintilografia cerebral para estudo da via dopaminérgica e sonografia transcraniana Esses critérios permitem delinear uma PROBABILIDADE de um indivíduo desenvolver a doença OS (3) PASSOS PARA O DIAGNÓSTICO: - Para chegar ao diagnóstico temos que realizar três passos: 1. Caracterizar a síndrome parkinsoniana 2. Identificar a causa do parkinsonismo e portanto exclusão de formas secundárias decorrentes de causas específicas e de formas atípicas de parkinsonismo relacionadas com afecções neurodegenerativas da meia-idade e as relacionadas com doenças degenerativas ou dismetabólicas de causa genética de início nas primeiras décadas de vida 3. Confirmação do diagnóstico clínico com base na resposta terapêutica à levodopa e na evolução da doença. Passo 1 – Caracterizar a síndrome parkinsoniana: ▪ A síndrome parkinsoniana tem quatro componentes básicos (BRIT): Bradicinesia, rigidez, instabilidade postural e tremores em repouso ▪ Para a caracterização da crise PELO MENOS 2 COMPONENTES devem estar presentes → a INSTABILIDADE POSTURAL NÃO É CONSIDERADA pois elasó aparece em fases mais TARDIAS ▪ A principal diferenciação deve ser feita do TREMOR ESSENCIAL → Condição mais frequente que o parkinson e também de evolução benigna ▪ Tremor essencial: tremor cineticopostural simétrico (ou discreta assimetria), membros superiores mas podem atingir o segmento cefálico (tremor em negação ou afirmação) e voz Tremor parkinsoniano Tremor essencial Repouso Postural Assimétrico/unilateral Simétrico/discreta assimetria Pode acometer áreas localizadas do segmento cefálico Pode acometer segmento cefálico Historia familiar positiva em 5 – 10% dos casos Historia familiar positiva em 30 – 40% dos casos Responde a drogas dopaminérgicas e anticolinérgicas Responde a betabloqueadores e primidona Melhora com álcool ▪ Nos pacientes com Parkinson o tremor de repouso pode também persistir na postura NEUROLOGIA Weslley Jonathan P3 (com mesma frequência e menor amplitude) ▪ Pacientes com tremor essencial também pode ter doença de Parkinson → ambas as condições tem uma alta prevalência a partir dos 50 anos ▪ Na doença de Parkinson a síndrome parkinsoniana acomete inicialmente o HEMICORPO, acometendo na maioria das vezes o MMSS e após meses ou anos se estender para o outro lado do corpo ▪ O acometimento BILATERAL desde o inicio da instalação da síndrome parkinsoniana sugere formas SECUNDÁRIAS DE PARKINSONISMO ou PARKINSONISMO DEGENERATIVO ATIPICO ▪ O componente mais predominante no Parkinson, e que leva mais rapidamente ao reconhecimento da síndrome é o TREMOR DE REPOUSO → ele está presente em cerca de 70 – 80% dos pacientes com Parkinson na fase inicial da doença ▪ As formas de apresentação rígidoacinético ou aquelas que afetam inicialmente apenas o membro inferior, geralmente leva ao retardo do diagnóstico ▪ No Parkinson de inicio precoce a apresentação rigidoacinética associada fenômenos distonicos é MAIS FREQUENTE que na forma clássica ▪ Outras manifestações não motoras como hiposmia, constipação intestinal, depressão e transtorno comportamental do sono REM já estão presentes quando se instala a síndrome parkinsoniana → por isso sua identificação pode auxiliar no diagnóstico Passo 2 – Identificação da causa da síndrome Parkinsoniana: ▪ A identificação da causa da síndrome implica no reconhecimento de causas especificas (parkinsonismo secundário) ou de formas atípicas de parkinsonismo degenerativo (Atrofia de múltiplos sistemas, paralisia supranuclear progressiva, degeneração corticobasal, demência por corpos de Lewy) → excluída essas possibilidades, teremos a forma primária de parkinsonismo que é a doença de Parkinson ▪ O diagnóstico para a doença de Parkinson de INÍCIO PRECOCE (10 – 15% dos casos), tem um quadro de diagnóstico diferencial que é distinto da doença de Parkinson que se instala a meia idade Diagnóstico diferencial do parkinsonismo de inicio precoce: ▪ Doença de Wilson ▪ Formas genéticas de distonia associadas ao parkinsonismo ▪ Neurodegenerações com acúmulo cerebral de ferro ▪ Calcificação estriato-pálido-denteada (síndrome de Fahr) ▪ Degeneração palidal (pura ou dentato- rubral-pálido-Luysiana) ▪ Neuroacantocitose ▪ Atrofias espino-cerebelares (Tipos 2, 3 e 17) ▪ Demência fronto-temporal com parkinsonismo ▪ Forma rígida da doença de huntington (variante de Westphal) ▪ Pré-mutação do gene do X Frágil) ▪ No Parkinson de inicio precoce deve ser sempre considerada a DOENÇA DE WILSON → deve ser investigada através do estudo do METABOLISMO DO COBRE ▪ O parkinsonismo é bem comum nos pacientes com doença de Wilson com manifestações neurológicas → porém geralmente está associado a um quadro distônico ou tremor postural, sendo dados que facilita o diagnóstico ▪ A identificação do ANEL DE KAYSER- FLEISCHER também pode ser identificado na doença de Wilson → é consequente do acumulo de cobre na córnea que é encontrado virtualmente em todos os casos que estão presentes alterações neurológicas NEUROLOGIA Weslley Jonathan P3 Passo 3 – Confirmação do diagnóstico de Doença de Parkinson na resposta terapêutica e evolução ▪ É obrigatório que o paciente tenha uma boa resposta às drogas de ação dopaminérgicas especialmente a LEVODOPA ▪ Pacientes com outras doenças que se manifestam com parkinsonismo também podem ter melhora, mas é uma resposta menor quando comparado com a doença de Parkinson ▪ A Paralisia supranuclear progressiva e a Atrofia de múltiplos sistemas são doenças que melhoram com as drogas dopaminérgicas e são mais difíceis de serem diferenciadas da doença de Parkinson → 20% dos pacientes com paralisia supranuclear progressiva e 50% dos pacientes com atrofia de múltiplos sistemas respondem bem a levedopa nas fases iniciais da doença → a atrofia de múltiplos sistemas tem uma resposta positiva a levedopa semelhante ao parkinson, podendo persiste até as fases mais avançadas ▪ A evolução da doença de Parkinson é LENTA e, sob tratamento, os pacientes se mantém NDEPENDENTES pelo menos nos 5 primeis anos após as instalações dos sintomas motores da doença → caso o paciente tenha uma evolução desfavorável, com limitações motoras graves após poucos anos de inicio da doença, deve-se duvidar do diagnóstico de parkinson ▪ Na doença de Parkinson também há discinesias induzidas por levedopa em longo prazo → essa é outra característica que confirma o Parkinson Exames complementares no diagnóstico: ▪ O diagnóstico é principalmente clinico através da anamnese, exame neurológico e acompanhamento do paciente ▪ Os exames complementares inclui: RM e TC do encéfalo para o auxilio de diagnósticos diferenciais ▪ Exames de neuroimagem funcional (PET e SPECT) utilizam métodos cintilográficos com: Marcadores de levedopa, molécula precursora de dopamina ou do transportador de dopamina → Na doença de Parkinson há uma deficiência dopaminérgica com redução da captação do radioisótopo no NÚCLEO ESTRIADO (mais especificamente no PUTÂMEN) → No tremor essencial e nos quadros psicogênicos e medicamentosos a CAPTAÇÃO DO RADIOISOTOPO É NORMAL o que ajuda na diferenciação da doença de Parkinson ▪ Esses exames cintilográficos no entanto não permitem diferenciar doença de Parkinson de outros tipos de parkinsonismo degenerativo ou mesmo de certas formas de parkinsonismo secundário ▪ Ultrassonografia transcraniana → método não invasivo, permite observar a substancia negra no plano mesencefalico → Mais de 90% dos portadores da DP apresentam hiperecogenicidade da substância negra, mas este tipo de alteração pode também estar presente em cerca de 10% de grupos-controle. ▪ Exame do olfato por meio de testes padronizados é outro meio que auxilia no diagnóstico, pois a hiposmia é uma das condições que acometem os pacientes com Parkinson CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA DOENÇA DE PARKINSON Critérios de London Brain Bank: ETAPA 1 – Caracterizar o parkinsonismo: BRADICINESIA e pelo menos um dos sintomas: ▪ Rigidez muscular ▪ Tremor de repouso ▪ Instabilidade postural → NÃO causado por distúrbios visuais, vestibulares, cerebelares, nem proprioceptivos ETAPA 2 – Excluir outras formas de parkinsonismo → CRITÉRIOS NEGATIVOS (EXCLUDENTES) para doença de Parkinson: ▪ Histórico de AVC de repetição com sintomas em degraus ▪ Histórico de traumatismo craniano grave ou repetitivo ▪ Histórico de encefalite ▪ Crises oculógiras ▪ Tratamento prévio com neurolépticos ▪ Remissão espontânea dos sintomas ▪ Quadro clínico estritamente unilateral após3 anos ▪ Paralisia supranuclear do olhar ▪ Sinais cerebelares ▪ Sinais autonômicos precoces ▪ Demência precoce com alterações de memória, linguagem ou praxias ▪ Liberação piramidal com sinal de Babinsk NEUROLOGIA Weslley Jonathan P3 ▪ Presença de tumor cerebral ou hidrocefalia comunicante ▪ Resposta negativa a altas doses de levedopa ▪ Exposição a MPTP ETAPA 3 – Confirmação do diagnóstico → Critérios de suporte positivo para o diagnóstico de doença de Parkinson: 3 OU MAIS SÃO NECESSÁRIOS PARA O DIAGNÓSTICO: ▪ Inicio unilateral ▪ Presença do tremor de repouso ▪ Doença progressiva ▪ Persistência da assimetria dos sintomas ▪ Boa resposta a levodopa ▪ Presença de discinesias induzidas por levodopa ▪ Resposta à levodopa por 5 ou mais anos ▪ Evolução clínica de 10 anos ou mais TRATAMENTO - A principal forma de tratamento é com a LEVEDOPA → É um medicamento que atua diretamente sobre a deficiência dopaminérgica - Levedopa é a droga mais eficaz contra os sintomas motoras, mas seu uso a longo prazo acarreta em problemas: ▪ Redução do tempo de efeito (WEARING- OFF) ▪ Movimentos involuntários (DISCINESIAS) - A levodopa é uma “PRÓ-DROGA”, pois ela só faz efeito quando é convertida na DOPAMINA - Caso a dopamina seja ministrada por via oral ou parenteral, ela não consegue passar a barreira hematoencefálica e por isso tem que usar a levodopa - Na corrente sanguínea, duas enzimas metabolizam a levodopa: 1. Descarboxilase dos aminoácidos aromáticos (DAAA) ou dopa descarboxilase (DDC) → Converte a levodopa em dopamina 2. Catecol-orto-metil-dopa (COMT) → converte a levodopa em 3-metil-dopa - Essas enzimas atuam ainda no SANGUE PERIFÉRICO, oque confere uma MEIA-VIDA CURTA (90 minutos) da levodopa que é um dos seus principais problemas: ▪ Os preparados de levodopa utilizam drogas inibidoras da DOPA DESCABOXILASE (DDC) ▪ Inibir a DDC permite uma maior entrada da levodopa no sistema nervoso central ▪ Também minimiza os efeitos adversos da ação direta da dopamina sobre os receptores periféricos → hipotensão postural, náuseas e vômitos - Duas drogas comercialmente disponíveis inibem a DDC: 1. Carbidopa 2. Benserazida - A ENTACAPONA é uma droga que inibe a catecol-orto-metil-transferase (COMT) A combinação LEVODOPA + CARBIDOPA + ENTACAPONA permite uma maior biodisponibilidade de levodopa, aumentando sua eficácia da estimulação dopaminérgica, porém aumenta o risco de complicações relacionadas a dose Manejo da fase inicial: ▪ Nas fases iniciais o paciente tem uma boa resposta quando utilizado LEVODOPA com inibidores da DCC ▪ Nas fases inicias, ainda há neurônios dopaminérgicos sobreviventes ▪ Parte da levodopa que entra no cérebro é convertida em dopamina dentro do neurônio dopaminérgico e é estocada em vesículas ▪ Outra parte da levodopa é imediatamente convertida em dopamina e já é utilizada no terminal sináptico ▪ Com o avançar da doença, a reserva de neurônios dopaminérgicos vai escasseando e a MAIOR PARTE da levodopa é convertida em dopamina fora do neurônio dopaminérgico ▪ Com a maior parte da levodopa sendo convertida em dopamina fora do neurônio, o tempo de defeito passa a ser quase o mesmo da sua meia vida (90 MINUTOS) → Essa é a complicação mais frequente da levodopa → O ENCURTAMENTO DO TEMPO DE EFEITO (WEARING-OFF) ▪ Com o tratamento com a levodopa, os receptores dopaminérgicos são estimulados de um modo não fisiológico → a estimulação ocorre de forma intermitente, ou seja PULSÁTIL ▪ Nos NÃO parkinsonianos a estimulação sobre os receptores dopaminérgicos estriatais ocorre de forma TÔNICA, CONTÍNUA, sem grandes oscilações ao longo do período ativo do paciente ▪ Com a estimulação pulsátil (não fisiológica), o neurônio pós-sinaptico tem NEUROLOGIA Weslley Jonathan P3 o seu CITOPLASMA modificado → ocorre um processo de FOSFORILAÇÃO de proteínas que modifica o funcionamento de outros receptores como os de: GLUTAMATO (receptor NMDA) e receptores de ADENOSINA A2A ▪ Essas modificações nos receptores de glutamato e adenosina leva a disparos anormais no neurônio pós-sináptico → isso modifica o funcionamento do circuito dos NÚCLEOS DA BASE o que agrava as OSCILAÇÕES MOTORAS e o aparecimento de DISCINESIAS Estratégias de tratamento: ▪ Uma vez feito o diagnóstico, o uso de medicamento faz diferença na evolução da doença ▪ Cada paciente deve ter sua necessidade individualizada para depois se estabelecer um plano de tratamento. ▪ Devemos levar em conta: Idade do paciente e grau de incapacidade funcional ▪ Em pacientes mais jovens (abaixo de 70) que não tem muitos sintomas ou que não se incomoda tanto podemos utilizar RASAGILINA ou AGONISTAS DOPAMINÉRGICOS ▪ Quando há algum grau de incapacitação do paciente, se está com a vida profissional comprometida podemos já utilizar a LEVODOPA mesmo nas fases iniciais Primeiro considerar o grau de incapacitação do paciente: ▪ Sintomas presentes, mas não incomoda nem incapacita o paciente = Rasagilina, selegilina ou anticolinérgicos ou amantadina ▪ Sintomas incomodam mas não incapacitam ou incapacitam pouco = Agonistas dopaminérgicos ou levodopa ▪ Sintomas incapacitam = Levodopa Em segundo, considerar a idade do paciente: ▪ Pacientes com mais de 70-75 anos podem não tolerar bem a selegilina, rasagilina, anticolinérgicos e agonistas dopaminérgicos: opte por levodopa de saída Manejo da fase avançada: ▪ Para controlar o WEARING-OFF ou as DISCINESIAS é aumentado o número/frequência de vezes que se toma levodopa → basicamente ao invés do paciente 1 comprimido três vezes ao dia, ele vai tomar meio comprimido 6 vezes ao dia ▪ As discinesias tendem a diminui ao reduzir a dose total de levodopa → como não é sempre possível, há adição de AMANTADINA em casos de discinesias de pico de dose ▪ Medidas dietéticas como tomar a levodopa longe das refeições de alto conteúdo proteico ajuda numa maior absorção pelo SNC → isso acontece porque os aminoácidos competem com a levodopa pelos receptores celulares no intestino e da barreira hematoencefálica Tratamento dos sintomas não motores: ▪ A depressão pode ser tratada com qualquer antidepressivo tricíclico ou inibidor seletivo de recaptura da serotonina → porém os tricíclicos podem ter efeitos colaterais intoleráveis para alguns pacientes ▪ A demência pode ser manejada adequadamente com ANTICOLINESTERÁSICOS ▪ Constipação intestinal pode ser manejada com orientação dietética rica em fibras associada a laxantes não irritantes da mucosa intestinal ▪ Hipotensão postural pode melhorar com aumento do consumo de hidroeletrolitos e uso de meia elástica Tratamento cirúrgico: ▪ Indicação para quando as complicações motoras de longo prazo mesmo com a melhor combinação de drogas antiparkinsonianas NEUROLOGIA Weslley Jonathan P3 ▪ Deve ser evitada nos casos de delírio cognitivo, pois o procedimento pode agravar essas complicações ▪ O tratamento cirúrgico pode ser feito com cirurgias ablativas (talamotomia, palidotomia e subtalamotomia) ou com estimulação cerebral profunda (deep brain simulator) → o tipo de cirurgia escolhida vai depender dos sintomas Manejo não farmacológico: ▪ A fisioterapia e a fonoterapia podem ser indicadas em qualquer fase da doença, sempre em combinação com o tratamentomedicamentoso. ▪ Temos priorizado a fisioterapia nos pacientes com queixas de postura, equilíbrio e marcha, pois são sintomas mais resistentes ao tratamento farmacológico. ▪ A fonoterapia é fundamental nos pacientes com problemas com a deglutição e comunicação, haja vista a grave disartrofonia e disfagia que alguns parkinsonianos manifestam ▪ A fonoterapia tradicional é útil, assim como o método de reabilitação Lee- Silverman.
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