Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Aula 07 Caros(as) alunos(as), Esta é a nossa sétima aula! Até aqui, já estudamos aspectos de suma relevância da Literatura Brasileira e Portuguesa. Especificamente neste capítulo, chegamos ao fim do último período Literário no Brasil a ser estudado nesta disciplina, o Simbolismo. Anteriormente, vimos como ele se formou em Portugal. Será que o Simbolismo aqui possui as mesmas características do de Portugal? Vamos conferir!?! O SIMBOLISMO NO BRASIL Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • fazer um panorama geral do surgimento do Simbolismo no Brasil; • compreender as manifestações do Simbolismo no Brasil; • estudar acerca dos principais autores desse período; • contatar textos literários desta época; • verificar como o Simbolismo opunha-se ao Realismo. Seções de estudo Seção 1 - Simbolismo no Brasil Seção 2 - Cruz e Souza Seção 3 - Alphonsus de Guimaraens Literaturas de Língua Portuguesa II - Rute de Souza Josgrilberg - UNIGRAN 59 Vamos dar início a nossa sétima aula. Bons estudos! Seção 1 - Simbolismo no Brasil O ano considerado o marco do Simbolismo no Brasil é 1893, mas é necessário lembrar que algumas manifestações literárias com características desse novo movimento já ocorriam. Aliás, Moisés (1969) menciona ser difícil estabelecer limites cronológicos para o Simbolismo devido a textos escritos com as características do período antes de ele se firmar realmente. Já em relação ao término, a data que indica seu fim é 1922; data esta em que ocorreu a “Semana de Arte Moderna” e deu início ao modernismo. Nota- se que o Simbolismo teve maior duração que o Realismo, no entanto, as duas primeiras décadas do século XX não tiveram unicamente o Simbolismo como período literário. Moisés (1969) nos esclarece como se deu esse processo: [...] Há que se levar em conta o seguinte ponto: a ser legítimo aceitar o ano de 1922 como fi nal da trajetória simbolista, ter-se-ia de admitir que também o Realismo se estendeu até aquela data, de vez que, à semelhança do Simbolismo, ou, na verdade, mais do que êle (sic), a moda realista se manteve atuante ao longo das duas primeiras décadas dêste (sic) século. Tanto é assim que essa vintena de anos se afi gura a muitos historiadores da literatura como constituindo o chamado Pré-Modernismo, período em que coexistiram, e se interinfl uenciaram, epígonos simbolistas, realistas e parnasianos, alguns dêles (sic) evoluindo para atitudes avançadas, par a par com precursores do Modernismo. Percebe- se, porém, que a denominação mascara a difi culdade em escolher um rótulo preciso e sufi cientemente elástico para abarcar as várias e desencontradas linhas de força (sic) que se entrecruzam na manhã dêste (sic) século (MOISÉS, 1969, p. 14-15). Moisés menciona que apesar de o símbolo sempre estar presente na literatura, foi no século XIX que ele foi utilizado de forma mais intensa. Devido à força do Realismo quando o Simbolismo busca se fortalecer, é nas regiões distantes que este período vai buscar difundir-se. Uma vez que no início não há o reconhecimento, pelo contrário, nos grandes centros o Simbolismo é visto com olhos desconfiados da seriedade da proposta. Também, no Brasil, o simbolismo marca-se por rejeitar o objetivismo presente no realismo, trazendo à tona o subjetivismo romântico. No entanto, vai mais fundo nesse objetivo de explorar a mente humana na escrita literária. Também, no Brasil, destaca-se principalmente a poesia. O Simbolismo brasileiro foi fortemente influenciado pelos escritores europeus, que ofereciam suporte literário de teor revolucionário no que diz respeito ao distanciamento do realismo. Literaturas de Língua Portuguesa II - Rute de Souza Josgrilberg - UNIGRAN 60 Autores como Verlaina, Mallarmé, Boudelaire entre outros começam a mostrar que o novo pode ser construído. Em terras brasileiras, quem dava início a essa construção eram Medeiros e Albuquerque e Araripe Júnior. Os dois, em posse de uma coleção de obras simbolistas europeias, encantavam-se com as ideias e buscavam modos de implantá-las aqui. Araripe Júnior, pouco a pouco, foi, por meio do jornalismo, implantando trechos e reflexões acerca de “O Ateneu” de Raul Pompéia. Já os literatos, ao verificarem a ineficácia do objetivismo realista para explicar o mundo e a natureza humana, voltaram seus olhos para o romantismo: “[...] os simbolistas retornavam às matizes, ou àquilo que consideravam como tais, mas levavam consigo um diferenciado modo de ser e de compreender o mundo” (MOISÉS, 1969, p. 33). Esse novo modo de ver o mundo tinha forte influência de Baudelaire, que contribui para criar um novo modo de fazer literatura, mas outros autores também tiveram sua importância nesse processo, como Fontoura Xavier (1856- 1922) e Carvalho Júnior (1855-1879). [...] Até 1902, quando vem a lume o romance “Canaã”, de Graça Aranha, o Simbolismo vive uma década de esplendor. Daquele ano em diante, até o surgimento do Modernismo, com a “Semana de Arte Moderna”, em São Paulo (1922), vai-se mesclando com os remanescentes realistas e naturalistas e experimentando mutações que prenunciam tempos novos. Ao rejeitar o primado do objetivo em arte, a estética simbolista punha de novo em circulação o subjetivismo romântico, mas levando a fundo a sondagem nos estratos interiores, em busca de surpreender o universo mental anterior à fala. Tendência essencialmente poética, contretizou-se em verso, conto, teatro e crítica. Além do seu introdutor, cabe citar outros nomes, como Alphonsus de Guimaraens, Emiliano Perneta, Eduardo Guimaraens, Mário Pederneiras, Raul de Leôni, Augusto dos Anjos, Graça Aranha, Lima Barreto, Nestor Vítor, Rocha Pombo, Gonzaga Duque e outros. Conquanto fora dos quadros simbolistas, à época pertencem Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Euclides da Cunha e Monteiro Lobato: os três primeiros, interessados no debate ideológico ou doutrinário, são homens típicos do século XIX, e o último, voltado para a detecção do meio rural paulista, alia esteticismo e denúncia em sua mudividência (MOISÉS, 2012, p. 321). Vamos conhecer o poeta Cruz e Souza na próxima seção. Foi ele o responsável pela introdução do Simbolismo na literatura brasileira. Literaturas de Língua Portuguesa II - Rute de Souza Josgrilberg - UNIGRAN 61 Seção 2 - Cruz e Souza Já Cruz e Souza foi um autor brasileiro que marcou seu nome da história por sua literatura durante o Simbolismo. De início, sua carreira inicia com características naturalistas; publica com Virgílio Várzea uma obra de prosa poética, intitulada “Tropos e Fantasias”, que começa a marcar o autor no Simbolismo: “[...] a prosa indecisa do livro de estréia patenteia nítida respiração dos novos ares que então começavam a soprar de França, em seguida ao advento d”As Flôres do Mal” (MOISÉS, 1969, p. 50). Cruz e Souza (1861-1898) nasceu em Desterro, que é, atualmente, Florianópolis. Seus pais eram escravos, mas foram libertados por Guilherme de Souza, que, aliás, adotou o menino Cruz e Souza e permitiu-lhe estudar com as melhores condições possíveis. Logo após a morte de Guilherme de Souza, o escritor tornou-se professor, além de atuar na imprensa da cidade. Viajou pelo Brasil com uma companhia de teatro, que o permitiu entrar em contato com as ideias abolicionistas. Devido ao preconceito pelo fato de ele ser negro, encontrou dificuldade para progredir, chegando a trabalhar em empregos modestos. A tuberculose, no entanto, provoca uma tragédia na família do escritor. Um por um, todos acabam morrendo, acometidos pela doença, ele, a mulher e quatro filhos. Suas obras principais são: Broquéis (1893), Missal (1893), Evocações (1899) e Últimos Sonetos (1905). O fato de ser negro, que, aliás, é justificativa para olhares desconfiados em relação à qualidade de sua obra. No entanto, essa situação não se reflete diretamente em sua obra, ou seja, ele não faz denúncias diretas ao preconceito, mas, de certo modo, apresenta importantes reflexõesmarcadas pela revolta em alguns poemas. Um de seus poemas de destaque é “Litânia dos pobres”. Vamos ler? LITANIA DOS POBRES Cruz e Souza Os miseráveis, os rotos São as flores dos esgotos. São espectros implacáveis Os rotos, os miseráveis. São prantos negros de furnas Caladas, mudas, soturnas. Literaturas de Língua Portuguesa II - Rute de Souza Josgrilberg - UNIGRAN 62 São os grandes visionários Dos abismos tumultuários. As sombras das sombras mortas, Cegos a tatear nas portas. Procurando o céu, aflitos E varando o céu de gritos. Faróis à noite apagados Por ventos desesperados. Inúteis, cansados braços Pedindo amor aos espaços. Mãos inquietas, estendidas Ao vão deserto das vidas. Figuras que o Santo Ofício Condena a feroz suplício. Arcas soltas ao nevoento Dilúvio do esquecimento. Perdidas na correnteza Das culpas da natureza. Ò pobres ! Soluços feitos Dos pecados imperfeitos! Arrancadas amarguras Do fundo das sepulturas. Imagens dos deletérios Imponderáveis mistérios. Bandeiras rotas, sem nome, Das barricadas da fome. Bandeiras estraçalhadas Das sangrentas barricadas. Fantasmas vãos, sibilinos Da caverna dos destinos ! Ò pobres ! O vosso bando É tremendo, é formidando ! Ele já marcha crescendo, O vosso bando tremendo... Ele marcha por colinas, Por montes e por campinas. Nos areais e nas serras Em hostes como as de guerras. Cerradas legiões estranhas Literaturas de Língua Portuguesa II - Rute de Souza Josgrilberg - UNIGRAN 63 A subir, descer montanhas. Como avalanches terríveis Enchendo plagas incríveis. Atravessa já os mares, Com aspectos singulares. Perde-se além nas distâncias A caravana das ânsias. Perde-se além na poeira, Das esferas na cegueira. Vai enchendo o estranho mundo Com o seu soluçar profundo. Como torres formidandas De torturas miserandas. E de tal forma no imenso Mundo ele se torna denso. E de tal forma se arrasta Por toda a região mais vasta. E de tal forma um encanto Secreto vos veste tanto. E de tal forma já cresce O bando, que em vós parece, Ó pobres de ocultas chagas Lá das longínquas plagas ! Parece que em vós há sonho E o vosso bando é risonho. Que através das rotas vestes Trazeis delícias celestes. Que as vossas bocas, de um vinho Prelibam todo o carinho... Que os vossos olhos sombrios Trazem raros amavios. Que as vossas almas trevosas Vêm cheias de odor das rosas. De torpores, de indolências E graças e quintessências. Que já livres de martírios Vêm festonadas de lírios. Vêm nimbadas de magia, De morna melancolia ! Literaturas de Língua Portuguesa II - Rute de Souza Josgrilberg - UNIGRAN 64 Que essas flageladas almas Reverdecem como palmas. Balanceadas no letargo Dos sopros que vêm do largo... Radiantes de ilusionismos, Segredos, orientalismos. Que como em águas de lagos Bóiam nelas cisnes vagos... Que essas cabeças errantes Trazem louros verdejantes. E a languidez fugitiva De alguma esperança viva. Que trazeis magos aspeitos E o vosso bando é de eleitos. Que vestes a pompa ardente Do velho sonho dolente. Que por entre os estertores Sois uns belos sonhadores. (CRUZ E SOUZA. Disponível em: http://www.umbraum.com/cruz_e_souza.htm) Seção 3 - Alphonsus de Guimaraens Outro autor de destaque foi Alphonsus de Guimaraens (1870-1921). Nascido em Outro Preto, seu pai era um comerciante português e sua mãe sobrinha de Bernardo Guimarães. Assim como vários outros autores, cursou direito. Casou-se e teve quatorze filhos e escondia-se em sua vida privada. Suas obras de destaque são: Setenário das dores de Nossa Senhora (1889) e Dona mística (1899) e seus temas giram em torno da morte da amada e da religiosidade litúrgica. Alphonsus de Guimaraens forma, com Cruz e Souza, Eduardo Guimaraens Emiliano Perneta, a ala mais representativa do nosso Simbolismo, seja pelo valor da criação poética, seja pela identidade profunda com aquele movimento literário. O segundo aspecto evidencia-se, nos poemas transcritos, pelo vocábulo compulsado, em que recorrem termos como ‘brumosas’, ‘brancas’, ‘luar’, ‘pálidas’, ‘lírios’, etc., ou cognatos, de emprego corriqueiro na poesia do tempo. E tudo o mais dessas composições ratifi ca a medular adesão às matrizes simbolistas, coevos. Destituída de qualquer tragédia ou desespero, a cosmovisão de Alphonsus de Guimaraens distingue-se pelo acendrado espiritualismo [...]. ‘Ismália’, a peça mais conhecida de todas, em que se plasmam, numa síntese feliz, os valores que norteavam Alphonsus de Guimaraens e ao mesmo tempo Literaturas de Língua Portuguesa II - Rute de Souza Josgrilberg - UNIGRAN 65 o tornam um dos protótipos simbolistas em nossa literatura (MOISÉS, 20012, p. 351). Alphonsus de Guimarães possui forte relação com a vida polí ca. Vamos verifi car uma parte da história de Minas Gerais? A produção artística mineira foi muito influenciada pela política do país naquela época. Como a Segunda Guerra chegava ao fim, havia uma grande esperança em dias melhores, em uma paz que esperavam não terminar mais. Já na escrita literária, que também foi influenciada por isso, o discurso vigente continha um teor de redemocratização e esperança em um mundo em ordem. Na verdade, não era só em Minas Gerais que continha essas características, mas em todo o Brasil. Mas as artes mineiras destacaram-se porque, ao contrário do restante do Brasil que se dedicava ao Simbolismo, eles imprimiram um aspecto mais voltado para o social. Confira o poema “É hora de esquecer” de Alphonsus de Guimaraens: É hora de esquecer: pelos teatros se anuncia que é hora de esquecer. Os relógios de além são mais exatos... e na estranha metrópole a ferver, e nos grandes salões e anfiteatros se anuncia que é hora... Vamos ver se alguém se refugia atrás dos cactos... O lema agora é apenas um: viver. É hora? Autos circulam, rodovias ardem, e precipitam-se corcéis... E os vultos fogem como se estivessem certos de que no alto as agonias vão-se apagar, sumir, e outros papéis hão de ser confiados aos que esquecem. Retomando a conversa inicial Vamos, então, recordar os pontos principais do que aprendemos: Literaturas de Língua Portuguesa II - Rute de Souza Josgrilberg - UNIGRAN 66 Seção 1 - Simbolismo no Brasil Nesta seção, conhecemos o simbolismo brasileiro, suas características e principais fatores que levaram à sua culminação. Seção 2 - Cruz e Souza Podemos conhecer mais também de Cruz e Souza. Seção 3 - Alphonsus de Guimaraens Podemos conhecer mais também Alphonsus de Guimaraens. Que tal ler poemas dos dois e conhecer ainda mais? Sugestões de leituras, sites e fi lmes Leituras Visite Alphonsus de Guimaraens e Cruz e Souza no Facebook https://www.facebook.com/pages/Alphonsus-de-Guimaraens/112339568778071 ?rf=102173279823779 https://www.facebook.com/pages/Cruz-e-Sousa/108443049176307 Sites http://educacao.uol.com.br/literatura/simbolismo.jhtm Filmes O labirinto do fauno. Não é específico da fase literária que estudamos, mas é riquíssimo em simbologia. Literaturas de Língua Portuguesa II - Rute de Souza Josgrilberg - UNIGRAN 67
Compartilhar