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Adoção Homoparental e Preconceito

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Adoção Homoparental e Preconceito:
Como o direito se torna elemento importante em favor da promoção de uma igualdade verdadeira em nossa sociedade?"
Num momento em que a cidadania enfrenta novos desafios, busca novos espaços de atuação e abre novas áreas por meio das grandes transformações pelas quais passa o mundo contemporâneo, é importante ter o conhecimento de realidades que, no passado, significaram e, no presente, ainda significam passos relevantes no sentido da garantia de um futuro melhor para todos.
Profissionais de direito e serviço social são atores fundamentais na implementação de novas práticas de adoção para casais homossexuais, no entanto, parecem carecer em sua formação sobre desenvolvimento e sexualidade humana para o processo de análise de casos. Vários estudos nacionais têm mostrado que o preconceito homofóbico é uma realidade que impede mais avanços para esta população (conforme revisado por Araújo, Oliveira, Sousa, & Castanha, 2007 e Uziel, Mello, & Grossi, 2006, além de estudos recentes de Freire & Cardinali, 2012; Nardi & Quartiero, 2012, entre outros). Da mesma forma, estudos internacionais identificam a relação entre uma cultura homofóbica, moralismo e exclusão de direitos para minorias sexuais O preconceito tem sido estudado sob diversas perspectivas: uma frustração reprimida e deslocada para grupos mais fracos o desenvolvimento de um tipo de personalidade autoritária a pouca disposição à abertura mental.
O preconceito como um erro no processamento das informações Apesar das diferenças entre elas, a maior parte destas teorias enfatizam a origem psicológica e individual do preconceito. O aspecto social é também elemento fundamental no entendimento da dinâmica do pré-conceito. Os autores Prado e Machado (2008), dizem que: O preconceito social pode ser entendido como um dos mecanismos da manutenção da hierarquização entre os grupos sociais e da legitimação da inferiorização social na história de uma sociedade, o que muitas vezes consolida-se como violência e ódio de uns sobre outros. 
Atualmente as Políticas Públicas voltadas aos direitos LGBT (Lésbicas, Gay, Bissexuais, Transexuais e Travestis) no Brasil obtiveram considerável avanço. Entretanto, a frase que parece marcar as discussões em pesquisas envolvendo este tema é “nunca se teve tanto e o que há é praticamente nada”, isso porque entende-se que há dimensões do preconceito e da discriminação heterossexista culturalmente arraigados que são constantemente reproduzidos no cotidiano (Mello, Avelar, & Brito, 2014). 
Logo, todos aqueles que não se adequam aos papéis sociais vigentes de homem/mulher, tornam-se marginalizados, estranhos, diferentes e, muitas vezes, vítimas de preconceito (Freires, 2015). Um fator que pode contribuir com esta realidade é a vigência do pensamento conservador de matriz religiosa que materializa o pressuposto de uma heteronormatividade sexual (Natividade, 2006) que têm interferido decisivamente - e até mesmo controlado - os debates acerca dos direitos das minorias sexuais no Brasil e no mundo, comprometendo assim o princípio de laicidade constitucional do Estado (Mello et al., 2014). Religião, palavra que vem do latim religio, é formada pelo prefixo re (outra vez, de novo) e o verbo ligare (ligar, unir, vincular) e representa uma busca de vinculação da pessoa ao divino (Cerqueira-Santos, Koller, & Pereira, 2004). Apesar da atual hegemonia científica e difusão de aparatos tecnológicos e de informação, a religião ainda continua sendo bastante utilizada para responder e dirigir questões que se apresentam na vida das pessoas, pois se configura como uma instância que codifica e impõe aos seus adeptos códigos morais, atuando como ferramenta de controle social (Durkheim, 1915/2003), já que se transforma em um forte laço de regulação que impulsiona seus adeptos a manterem determinado comportamento, difundido como correto (Meneses & Cerqueira-Santos, 2013). Cerqueira-Santos et al. (2004) fazem uma importante distinção entre os termos religiosidade e espiritualidade, destacando que enquanto a espiritualidade diz respeito ao domínio individual e subjetivo sobre a crença, a religiosidade está num domínio social e institucionalizado. 
Entende-se assim neste estudo a religiosidade como prática institucionalizada e socialmente compartilhada que envolve crenças em qualquer mitologia. Estudos de Costa, Peroni, Camargo, Pasley e Nardi (2015) e Natividade e de Oliveira (2009) encontraram relações entre religiosidade, sexualidade e nível de preconceito. Costa e colaboradores (2015) mostraram que religiosidade e conservadorismo ético apresentam associação no que diz respeito ao preconceito contra diversidade sexual. Os autores pontuam que tal fato não parte da religião por si só, mas sim de uma posição conservadora generalizada no que diz respeito aos assuntos de moralidade pessoal. Além disso, Cerqueira-Santos, Koller e Wilcox (2014) e Coutinho e Miranda-Ribeiro (2014) afirmam que a religião tem mostrado ser um fator importante na maneira como jovens vivem sua sexualidade, principalmente ao diminuir a incidência de comportamentos de risco e retardar a idade de iniciação sexual.
Especificamente quanto ao preconceito homofóbico, durante a década de 60, o termo homofobia já era empregado como sinônimo de atitudes e comportamentos ofensivos a gays e lésbicas (Cerqueira-Santos, Winter, Salles, Longo, & Teodoro, 2007). Essa terminologia suscitou várias críticas, pois pressupõe que tais hostilidades derivam de algum tipo de medo irracional sentido por parte da maioria heterossexual, o que poderia ser compreendido a partir de um modelo de enfermidade e, portanto, passível de ser superado por via de tratamento, como ocorre com outras fobias (Herek, 2000). Dessa forma, o autor reforça a ideia de que a homofobia é muito mais uma forma de preconceito do que uma fobia qualquer. Neste estudo, assim como Cerqueira-Santos e colaboradores (2007), consideramos o fenômeno como uma forma de preconceito. Especificamente, analisam-se formas de preconceito que podem colocar a população de gays e lésbicas distantes de uma possibilidade e direito de construir uma família a partir da adoção de crianças.
Adoção Homoparental
A adoção homoparental é entendida como a modalidade de adoção na qual o casal adotante é constituído por homossexuais (Patterson, 2006) ou por apenas um indivíduo que se declara homossexual. Costa et al. (2013) realizaram levantamento no qual mostra a situação da adoção homoparental em diversos países. Segundo os autores há diferenças na legislação de cada país sobre a permissão para tal tipo de adoção; na Europa, por exemplo, Bélgica, Dinamarca, Islândia, Holanda, Noruega, Espanha, Suécia e Reino Unido permitem a adoção por dois homens ou duas mulheres, assim como por solteiros sem declarar a orientação sexual. No Brasil, desde 2011 casais homoafetivos conseguiram o direito de ter oficialmente sua união civil, assim a adoção pelo casal passou a ser possível. Não há vedação legal para a instituição da adoção de crianças por casais homossexuais no país. Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990), não há a proibição de adoção por casais do mesmo sexo, sendo assim, a orientação sexual não deve ser critério de exclusão ou hierarquização de candidatos à adoção. Em abrangência jurídica o reconhecimento pela união homoafetiva trata-se puramente do reconhecimento de que houve um empenho coletivo com o interesse de unir patrimônios, e nada mais do que isso. No direito de família, quando se fala de união, refere-se que este é muito mais do que um esforço de unir patrimônio. É uma comunhão de vida, de existência, projetos de vida, intimidade, privacidade, projeto de felicidade pessoal (Rios, 2002). Tais avanços jurídicos podem também apontar para a busca de conformidade, num mecanismo de ajuste social. Conforme aponta Butler (2003), a busca de introdução à norma (inclusive norma jurídica) de minorias sexuais (neste caso a formação de uma família adotiva gay), pode se tratar de uma repetição subversiva. Em estudode revisão sistemática da literatura, Cecílio, Scorsolini-Comin e Santos (2013) apontam que no Brasil, em uma década (2000- 2010) apenas dez estudos sobre a adoção homoparental foram realizados e publicados nas principais bases de dados científicas do país; sendo três artigos empíricos e sete teóricos. Os autores destacam especialmente três tendências nos estudos sobre a temática: a preocupação com as consequências da adoção para as crianças (aspectos desenvolvimentais negativos e positivos); as alternativas na busca da parentalidade; e, as questões ligadas à adoção em si (legislação, mudanças históricas etc.). 876 Cerqueira-Santos.
A partir de 2009 com a promulgação da nova lei da adoção (Lei Nº 12.010), crianças e adolescentes passam a ter a possibilidade de serem adotadas por casais homoafetivos. No entanto, tal prática tem gerado discussões e polêmicas por estar sendo aplicada de maneira pouco consistente, o que pode supor a falta de informação e preconceito por parte de diversos atores (profissionais, casais, sociedade civil, autoridades). Apesar de alguns autores tentarem encarar a homoparentalidade como uma nova forma de organização familiar, Fonseca (2008) destaca que este fenômeno vai além disso, questionando as categorias básicas de parentesco. Fonseca também considera a ideia negativa da adoção na cultura brasileira, mesmo entre casais heterossexuais. Dessa forma, entende-se que está em jogo não apenas velhas crenças, mas práticas normalizadas e engessadas que devem ser revistas. Profissionais de Direito e Serviço social são atores fundamentais na implementação dessas novas práticas, no entanto, parecem carecer de informações sobre desenvolvimento e sexualidade humana no processo da tomada de decisão. Fonseca (2008) lembra que existe um caráter contratual na noção de família. Ou seja, além dos vínculos afetivos (biológicos ou não) essa relação é de certa forma regulada pelo Estado e por leis que definem certos papéis. Neste sentido, o direito deve ser claro e a luta pela não discriminação de famílias homoparentais toma outro sentido, que passa do prático para o simbólico e vice-versa.
Como apontam Cecílio et al. (2013), a visibilidade das famílias homoparentais como um contexto possível e não-tradicional tem forçado que se pense as relações de parentesco de diferentes perspectivas. O Direito tem sido uma das áreas mais cobradas por avanços que acompanhem tais reconfigurações. Assim como em outros países, no Brasil, as mudanças são verdadeiros palcos de batalhas entre posturas conservadoras e uma luta pela cidadania plena de quem vive situações de quase marginalidade. Cecílio et al. (2013) destacam que: as dificuldades legais para o reconhecimento dessas famílias, bem como a discriminação e o preconceito que envolvem não apenas o casal homoafetivo, como também a criança adotada, acabam por repercutir no modo como essas famílias têm se estruturado e se reconhecido em termos de sua identidade. 
Os dados destacados ilustram uma realidade pouco positiva no cenário da formação de profissionais que poderão atuar na área de adoção. De maneira geral, os dados mostram ainda uma rejeição à ideia de adoção homoparental e crenças negativas sobre a homossexualidade. Na sua maioria que a homossexualidade é um desvio de valores e discordam da adoção. Quadro semelhante também foi encontrado por Araújo e colaboradores (2007) e Lacerda, Pereira e Camino (2002). Existem limitações claras para a interpretação dos dados deste estudo, uma vez que o caráter linear das escalas foi achatado pela análise binária de concordância ou discordância nas comparações de médias. No entanto, apesar de não identificar como forma de preconceito, os diferentes níveis de concordância com sentenças negativas parecem ser um bom indicador de crenças ainda enraizadas.
Conclusão 
A promoção de valores e práticas de respeito à diversidade de orientações sexuais e identidades de gênero seguramente é um mecanismo importante para que diferentes grupos sociais passem a ter uma visão de mundo menos heteronormativa, o que amplia as possibilidades de formação de uma opinião pública mais favorável, inclusive, à aprovação de leis que assegurem cidadania plena à população LGBT (Mello, Brito, & Maroja, 2012). Os resultados deste estudo evidenciam que a demanda de combate contra a homofobia vai além do melhoramento de aspectos sociais e da vida pública. Os elementos deste embate devem, também, visar aspectos individuais, entre eles a religiosidade e a satisfação conjugal, as duas variáveis que mais se destacaram neste estudo como significativas no entendimento da homofobia internalizada. Algumas limitações foram encontradas no decorrer deste estudo. A amostra foi composta por indivíduos de maioria jovem e com pouco tempo de relacionamento, o que pode gerar um viés no resultado encontrado. Ainda do ponto de vista metodológico, o fato de os participantes integrarem outro estudo maior sobre conjugal idade pode ter gerado respostas semelhantes entre os pares de convivência. Do ponto de vista conceitual, a falta de literatura que explore estas duas variáveis dificulta parâmetros de comparação para os dados encontrados nesse estudo. É pertinente, portanto, neste momento, acenar para a necessidade de estudos que ampliem a discussão acerca destes e de outros aspectos que podem estar relacionados à homofobia internalizada e que podem interferir no bem-estar do indivíduo homossexual. Sem retirar a importância de discutir aspectos da vida pública e dos direitos à plena cidadania dos indivíduos LGBT, o olhar para como esta constante luta por direitos e aprovação social deve ser voltado para entender a forma como estas instâncias afetam e modificam seu entendimento sobre si e seu bem-estar subjetivo. 
Referências:
Barrientos, J., & Cárdenas, M. (2013). Homofobia y
Calidad de vida de gay y lesbianas: una mirada
psicosocial. Psykhe, 22(1), 3-14. Recuperado
em http://www.scielo.cl/scielo.php?pid=S0718-
-22282013000100001&script=sci_arttext
Borrillo, D. (2000). L´Homophobie. Paris: Presses
Universitaires de France.
Cerqueira-Santos, E., Koller, S. H., & Pereira, T.
(2004). Religião Saúde e Cura: Um estudo entre
Neopentecostais. Psicologia Ciência e Profissão, 24(3), 82-91.
Cerqueira-Santos, E., Koller, S. H., & Wilcox, B.
(2008). Condom use, contraceptive methods,
and religiosity among youths of low socioeconomic level. The Spanish Journal of Psychology. 11(1), 94-102.

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