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Vascularização do Pescoço Introdução O pescoço consiste em uma área de passagem de muitas estruturas vasculonervosas essenciais para a irrigação e drenagem da extremidade superior e do tórax, sendo por isso uma zona em que se percebe alterações vasculares que refletem estados sistêmicos, conferindo-lhe grande importância clínica. Os principais vasos para a irrigação arterial são a artéria subclávia (cujos ramos irrigam a zona I) e as artérias carótida comum e externa, que irrigam as porções craniais do pescoço (zonas II e III). Artéria Subclávia É responsável tanto por se continuar como artéria axilar, que irrigará o membro superior, quanto por emitir numerosos ramos que irão ajudar na irrigação cervical. Essa artéria se origina do arco aórtico, do lado direito geralmente é da bifurcação do tronco braquiocefálico (ou artéria inominada), que dá origem à carótida comum esquerda. No lado esquerdo surge como uma artéria própria, lateral à carótida comum esquerda. Artéria subclávia direita aberrante: a subclávia, como outras artérias, pode apresentar diversas variantes, como um tronco braquiocefálico esquerdo ou uma artéria própria que surge à direita. Porém, entre 0,5-1,0% da população, a artéria subclávia direita pode se originar lateral à subclávia esquerda, seguindo um curso posterior que facilita a ocorrência de sintomas como disfagia, dor retroesternal e degeneração aneurismática. No caso de estenose ou oclusão da artéria por aterosclerose, pode haver isquemia do membro superior e inversão do fluxo da artéria vertebral, resultando em isquemia cerebral. Porções: a artéria subclávia é dividida em três porções, cujas delimitações serão baseadas na primeira costela e no músculo escaleno anterior. São elas: 1. Da origem à borda medial do músculo escaleno anterior: se relaciona anteriormente com o esternocleidomastóideo, esterno-hióideo e esterno-tireóideo, o nervo vago, parte do plexo simpático, nervo frênico esquerdo, veia jugular interna e ducto torácico (esquerda). Posterior a ela, há o ápice do pulmão, a cúpula pleural, o nervo laríngeo recorrente e o tronco simpático. 2. Entre os músculos escalenos: relaciona-se anteriormente com veia subclávia, escaleno anterior e nervo frênico direito, posteriormente, com o pulmão, pleura e escaleno médio. 3. Da borda lateral do escaleno anterior até a borda lateral da primeira costela: relaciona-se anteriormente com a veia jugular externa, com a clavícula e veia subclávia, posteriormente com o tronco inferior do plexo braquial. Ramos da primeira porção: essa porção apresenta três ramos: a artéria vertebral, o tronco tireocervical e a artéria torácica interna (antigamente mamária interna). ⇒ Artéria vertebral: vaso mais medial que ascende e penetra pelos forames transversos vertebrais, chegando até a base do crânio, onde se une com a contralateral para formar a artéria basilar Irá emitir ramos profundos para músculos profundos do pescoço e para as vértebras e medula espinal, quando penetra entre as vértebras. ⇒ Tronco tireocervical: é um tronco que se trifurca em artéria tireóidea inferior, artéria supra-escapular e artéria cervical transversa. ● Artéria tireóidea inferior: emite a artéria cervical ascendente (irriga o nervo frênico, vértebras e medula), a laríngea inferior, ramos para traquéia esôfago e faringe, e glandulares para a tireóide. ● Artéria supraescapular: dirige-se posterior e lateralmente para se anastomosar com outras artérias da escápula, formando uma importante circulação colateral para o membro superior. ● Artéria cervical transversa: irriga o pescoço e o trapézio, passando superior à supraescapular. Realiza uma importante anastomose com o ramo superficial descendente da artéria occipital. ⇒ Artéria torácica interna: artéria importante no contexto da irrigação torácica e da parede abdominal anterior, podendo ser usada em enxertos coronarianos. Ramo da segunda porção: é representado pelo tronco costocervical. Irá gerar a intercostal suprema, relevante para o tórax, e a cervical profunda, que se anastomosa com o ramo profundo da descendente occipital. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Vascularização do Pescoço Principais relações: a sintopia desses vasos como o nervo vago (parassimpático), o nervo recorrente laríngeo (inerva a laringe), os gânglios simpáticos, o nervo frênico (inerva o diafragma). Essas estruturas, juntos com a cúpula pleural e o ducto torácico devem ser relembradas, já que podem ser acometidas por doenças vasculares ou lesionadas em cirurgias. Frêmitos tireoidianos: o comprometimento vascular por crescimento difuso da glândula tireóide (bócio) gera sopros ou até sensações táteis, os frêmitos. Artéria Carótida Comum É uma artéria calibrosa que pode se originar do tronco braquiocefálico do arco aórtico, no caso da esquerda. É localizada na zona II, junto da veia jugular interna, com quem é recoberta pela bainha carotídea. Também guarda importante relação com músculos cervicais superficiais e profundos, estando posterior ao esternocleidomastóideo, que serve de referência para palpar seu pulso (um pulso central). Ela ascende por todo o trígono carótico e via de regra, não emite ramos até se bifurcar em carótida externa e carótida interna em nível de C4. Guarda relações importantes com a alça cervical do plexo cervical e é lateral à traquéia (pode ser lesada na traqueostomia), esôfago e tireóide. A carótida interna só emite ramos intracranianos, penetrando o óstio carótido. Seio carotídeo: onde se localizam os barorreceptores, que notificam a pressão existente na carótida interna. No aumento da tensão da parede, há uma redução dos batimentos cardíacos, de modo a reverter o aumento, que normalmente é acarretado pela hipertensão arterial. Pode-se realizar massagem para reverter taquiarritmias como flutter atrial e taquicardia ventricular. Glomo carotídeo: estrutura nervosa posterior à região do seio carotídeo, possui quimiorreceptores que detectam as pressões parciais de CO2, que controlarão de forma reflexa a frequência respiratória. Artéria Carótida Externa A artéria carótida externa surge da bifurcação da artéria carótida comum, e é a responsável por emitir ramos que irão colaborar com a vascularização da parte alta do pescoço e da face. Ela possui nove ramos, em que alguns terão mais repercussão para a cabeça do que o pescoço. Esses ramos são: artéria tireóidea superior, lingual, facial, occipital, auricular posterior, faríngeo ascendente, temporal superficial e maxilar. Dessas artérias, 5 serão anteriores, 2 serão terminais, enquanto duas: occipital e auricular posterior, serão de localização posterior. Artéria faríngea ascendente: pode surgir na bifurcação da carótida comum, ou até ser um ramo dessa ou da artéria occipital. Tem curso ascendente gerando ramos faríngeos, meníngeos e a artéria timpânica posterior. Artéria tireóidea superior: é o primeiro ramo que sai propriamente da carótida externa, sendo dividida em ramos glandulares e extraglandulares. Os primeiros irão vascularizar as cartilagens laríngeas, os músculos da região e outras vísceras, enquanto os segundos irão realizar a irrigação dos polos superiores da tireóide, realizando uma ampla rede anastomótica com a artéria contralateral e mesmo com os ramos da subclávia. Artéria lingual: irá passar entre os dois ventres do músculo digástrico e abaixo do ramo da mandíbula, no trígono submandibular. Ela irá passar posterior, profunda e anterior ao músculo hipoglosso, tendo três porções que irão irrigar boa parte da faringe, osso hióide e principalmente profundamente na língua, realizando uma ampla anastomose com a correspondente. Artéria facial: ramo anterior que passa pela margem inferior da mandíbula, onde se pode sentir sua pulsação. Ela irá ascender em direção à face, distribuindo diversos ramos antes de se terminar em ramo angular, quando penetra no ângulo da órbita. Em seu trajeto cervical, é recoberta pelo platisma e ascende profunda ao digástrico para alcançar a glândula submandibular. No pescoço, irá irrigar a tonsila, os músculos submentuais,o palato mole e parte da faringe, além da glândula submandibular. Artéria maxilar: é um ramo mais cranial que irá se distribuir com 14 ramos que irrigam as estruturas mais profundas da face, unindo-se à contralateral através de uma rica circulação colateral. Artéria transversa da face: consiste em um ramo final da carótida externa, que é emitido para a região medial da face, localizada na frente do pavilhão auricular, onde irá se anastomosar com o ramo contralateral. Artéria aurículo-temporal: é a continuação da artéria carótida externa, quando emitida, se continua como artéria temporal superficial, que emite um ramo frontal. Artéria occipital: é o primeiro ramo posterior emitido pela carótida externa, emergindo em nível da artéria facial e se dirigindo em direção à região posterior do crânio, onde irá irrigar as estruturas da região occipital. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Vascularização do Pescoço Essa artéria emite um ramo descendente que se anastomosa com a artéria cervical profunda, ramo do tronco costocervical, permitindo importante circulação colateral com a segunda porção da artéria subclávia. Artéria auricular posterior: artéria que se origina logo acima do ventre posterior do digástrico, se dirige para cima e para trás, sobre o processo estilóide e profunda à parótida, terminando em um ramo auricular, um ramo occipital e originando a artéria timpânica posterior. Circulação colateral: em disfunções progressivas da artéria subclávia, as anastomoses mantidas pela artéria tireóidea inferior (com a artéria contralateral e com as tireóideas superiores), pelas artérias cervicais transversa e profunda e pela artéria transversa da escápula, além da mamária interna, irão realizar uma importante anastomose entre cabeça, membros superiores e tórax, evitando que haja hipoperfusão e isquemia. Já em relação à carótida externa, as anastomoses promovidas pelos ramos glandulares da tireóidea superior, pelas artéria facial e facial transversa, pelo ramo descendente da artéria occipital (une-se à cervical profunda) e pelos ramos da artéria maxilar promovem ligação com a carótida contralateral e com as subclávias, permitindo a ligadura de uma das carótidas no trauma cérvico-facial. Drenagem Venosa Feita pelo sistema venoso jugular, que reúne veias intra e extracranianas. É um sistema avalvar, salvo por duas eventuais valvas que pode estar presente na veia jugular externa, sendo incompetente em situações fisiológicas. A maioria das veias menores do sistema de drenagem superficial e do profundo, em geral seguirão a nomenclatura das artérias. Veia Jugular Externa: comumente formada pela junção das veias retromandibular (união da maxilar com a temporal superficial) e aurículo-posterior, mas possui grande variação anatômica. É uma veia superficial ao músculo esternocleidomastóideo, podendo ser facilmente observada com a manobra de valsalva. Ela recebe vários afluentes até sua desembocadura, sendo elas as veias superficiais do pescoço. Ela desemboca comumente na subclávia ou na sua junção com a veia jugular interna, juntas, as três irão formar o tronco venoso braquiocefálico, que, unido ao contralateral, forma a veia cava superior. No nível da desembocadura, a VJE se comunica com a contralateral de diversas formas, sendo a mais comum o arco venoso jugular. Turgência de jugular: a veia jugular externa é um ótimo parâmetro que indica o funcionamento do coração direito, o qual é fortemente influenciado pela pressão intratorácica e contratilidade cardíaca. Assim, condições como a insuficiência cardíaca direita, tamponamento cardíaco, pneumotórax e tromboembolismo pulmonar podem cursar com turgência da VJE, que se torna visível, em casos graves até com a cabeça em 90 graus. Veia Jugular Interna: veia que irá drenar o crânio, a face e o pescoço, iniciando-se ainda no forame jugular, locado na base do crânio, sendo continuação do seio sigmóide, um seio venoso intracraniano. Irá descer e ser recoberta pela bainha carótica, recebendo diversas afluentes, como o tronco tírio-línguo-faringo-facial, formado pela veia tireóidea superior, veia lingual, veia faríngea ascendente e veia facial. Ela também recebe a veia tireóidea média, uma estrutura sem correspondência arterial, mas que se não for ligada após cirurgias da tireóide, pode causar hematomas que comprimem a laringe. Ela irá se unir à veia subclávia, que nesse nível comumente já recebeu a jugular externa, e irá formar Veia Jugular Posterior: é uma veia inconstante, mas que pode ocorrer na região posterior, externamente ao osso occipital. Comumente, é uma afluente para a veia jugular externa. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Vascularização do Pescoço Drenagem Linfática Linfonodos superficiais: os tecidos superficiais são drenados para as cadeias de linfonodos cervicais superficiais, que seguem o trajeto da veia jugular externa e da veia jugular anterior (grupo anterior da cadeia superficial). Além disso, tanto os vasos linfáticos do pescoço podem encaminhar a linfa para linfáticos da cabeça (submentual, parotídeo, bucal, submandibular, retroauricular e occipital), como recebem parte da linfa drenada na cabeça (outra parte vai para os profundos). Linfonodos profundos: linfonodos profundos do pescoço seguirão principalmente a jugular interna, apresentando subgrupos superiores, médios ou inferiores, correndo por baixo do esternocleidomastóideo. Dessa cadeia, destaca-se o linfonodo jugulodigástrico, que se localiza sobre o corno maior do osso hióide e é importante na detecção de metástases de processos neoplásicos, sendo chamado, junto aos demais, de linfonodos sentinelas. Outros grupos incluem: pré-traqueais, pré-laríngeos, paratraqueais e retrofaríngeos. Os linfonodos profundos em geral irão encaminhar sua linfa ao ducto linfático. Ducto torácico: consiste em uma grande estrutura vascular linfática que deixa o tórax e forma um arco que desemboca em nível de C VII, comumente no ângulo entre a jugular esquerda e a subclávia esquerda. Esse vaso é bastante dilatado, já que recebe a maior parte da drenagem do corpo, recebendo linfas encaminhadas da hemiface, hemipescoço e membro superior esquerdos, abdome e membros inferiores. Pode desembocar também na subclávia, jugular ou na veia braquicefálica. Ducto linfático direito: é uma estrutura vascular menor e inconstante, já que pode ser composta por diversos vasos menores que drenam diretamente para a jugular interna direita ou subclávia direita. Recebe linfa da hemicabeça, hemipescoço e membro superior direitos. Exame dos linfonodos da cabeça e pescoço: o exame é realizado através da palpação de todas as cadeias de linfonodos, dos níveis I (submentuais e submandibulares), III (cervicais anteriores) V (cervicais posteriores) e outros (bucais, pré-auriculares, parotídeos, retroauriculares e occipitais). É importante observar a coalescência (fusão), mobilidade, consistência e sensibilidade, já que podem diferenciar linfonodos indicativos de neoplasias (imóveis, fibrosos, coalescentes e indolores), de uma linfadenite (móveis, dolorosos e fibroelásticos). Um sinal importante é o de Troisier, o nódulo supraclavicular ou de Virchow, que se mostra aumentado e indolor e pode indicar uma metástase de neoplasias gástricas. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Vascularização do Pescoço
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