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REBECA KRUSE MED 10 Valvopatia aórtica e pulmonar FISIOPATOLOGIA: → Valvas semilunares: pulmonar e aórtica → Valvas atrioventricular: tricúspide e mitral Antes da sístole: Átrios e ventrículos relaxados Ventrículos repletos de sangue Válvulas semilunares fechadas Válvulas AV abertas 1. Diastase: câmaras relaxadas e ventrículo enche passivamente 2. Sístole atrial: força pequena quantidade de sangue para os ventrículos 3. Contração ventricular isovolumétrica: contração fecha valvas AV, mas não cria pressão suficiente para abrir valvas semilunares 4. Ejeção ventricular: à medida que a pressão ventricular aumenta e excede a pressão nas artérias, abre valvas semilunares e o sengue é ejetado 5. Relaxamento ventricular isovolumétrico: à medida que o ventrículo relaxa → a pressão cai → fluxo retrógrado fecha as valvas semilunares INTRODUÇÃO: Conjunto de doenças relacionadas as valvas cardíacas Insuficiência: valva não se fecha adequadamente - refluxo da Ao para → VE através da valva aórtica durante a diástole Estenose: estreitamento - valva oferece resistência ao fluxo VE → aorta durante a sístole ALGORITMO PARA DIAGNÓSTICO ANATÔMICO, ETIOLÓGICO E FUNCIONAL E DEFINIÇÃO DE CONDUTA: Observar características importantes → nem todo pct tem necessidade de tratar Sintomas variam de acordo com o paciente: pode haver um pct com estenose aórtica crítica sem sintomatologia, e outro paciente com estenose aórtica moderada com mais sintomatologia Depende também das comorbidades e complicadores Intervenções: cirurgia de troca valvar, valvoplastia, implante transcutâneo de valva Ao (TAVI) As drogas não são curativas, elas apenas aliviam os sintomas → são pontes para o procedimento Insuficiência aórtica: Refluxo de sangue para o ventrículo esquerdo durante a diástole ventricular devido a uma incompetência na valva aórtica Sopro diastólico EPIDEMIOLOGIA: 80% no nosso meio: sintomas geralmente iniciam na 4- 5ª década de vida e marcam o momento em que a evolução natural precisa ser interrompida REBECA KRUSE MED 10 Mais indolente: ventrículo se consegue manter por mais tempo até ter sintomas Geralmente também tem estenose Longo tempo de evolução Prevalência nos EUA 0,5% discreto predomínio em homens ETIOLOGIA IAO: Etiologia mais comum: febre reumática Sudeste/países desenvolvidos: degeneração aterosclerótica NE/países em desenvolvimento: valvopatia reumática MECANISMOS: Doença primária das valvas semilunares → alteração nas cúspides (não se fecham direito) Comprometimento da parede da aorta influenciando a coaptação das válvulas → secundária a aortopatia Mais raramente – o comprometimento de ambas CAUSAS: Crônica: febre reumática, endocardite... Aguda: endocardite infecciosa, dissecção aguda de aorta... (não tem sopro diastólico - ventrículo pequeno, não tem pulso diferencial) CARACTERÍSTICAS ETIOLÓGICAS: Reumática: alta prevalência, geralmente associada à lesão mitral, frequente em adultos jovens Aterosclerótica: geralmente associada a estenose aórtica e frequente na população idosa Bicúspide: associada a alterações da aorta (aneurisma, dissecção e coarctação) e frequente em jovens Doenças relacionadas à alteração da geometria da raiz da aorta: HAS, dissecção da aorta ascendente, síndrome de Marfan, espondilite anquilosante, aortite sifilítica, osteogênese imperfeita, síndrome Ehlers- Danlos, síndrome de Reiter, estenose subaórtica e defeito do septo interventricular com prolapso da cúspide aórtica Outras: endocardite infecciosa, degeneração mixomatosa, lesões traumáticas e artrite reumatoide FISIOPATOLOGIA: IAo CRÔNICA RELEMBRANDO: Pré carga: distensão do ventrículo (volume de sangue) – varia conforme o volume que o ventrículo comporta → retorno venoso (expresso no VDF) Pós carga: tensão na parede do ventrículo durante a sístole. Ou seja, força que o ventrículo tem de se contrair e ejetar o sangue (maior a pós carga → maior a força do miocárdio para vencê-la) Mecanismo de Frank-starling: É a capacidade intrínseca do coração de se adaptar a variação do retorno venoso × VE hipertrofiado: ↑ volume do VE ao final da diástole (↑pré carga) → pois há sangue vindo do átrio e da regurgitação da aorta → maior distensão → mais força para ejetar todo volume (↑pós carga) EM SUMA: Há sobrecarga progressiva de volume e pressão do VE, com elevação da tensão diastólica e sistólica por aumento da impedância da aorta → aumento de pré e pós carga Modificações na estrutura proteica do miocárdio pela adição de novos sarcômeros → HVE excêntrica HVE excêntrica: aumento de massa mas sem espessamento de parede Aumento da pré carga: ↑VDF Aumento da complacência ventricular esquerda: parede ventricular mais elástica → suportar mais volume sem elevar a pressão de enchimento MODIFICAÇÕES NO VE: REBECA KRUSE MED 10 Componente muscular: acentuação do diâmetro dos miócitos e síntese da miosina Componente vascular: aumento da superfície e da luz dos vasos Componente intersticial: aumento proporcional entre os colágenos tipo I e II Modificações preservam a função sistólica e a relação volume-massa, mantendo o paciente em classe funcional I/II por longo período de tempo, até mesmo na IAo grave Diferencia da sobrecarga de volume observada na IMi, na qual o VE ejeta um volume de sangue no AE (câmara de baixa pressão) FISIOPATOLOGIA – IAO AGUDA: Ventrículo não consegue hipertrofiar e ocorre o refluxo pequeno de sangue para o ventrículo Na IAo aguda ou subitamente agravada Não há tempo para HVE excêntrica → súbito aumento da PDFVE evidente no início da diástole → pode provocar fechamento precoce da valva mitral → ICA, EAP, choque cardiogênico Quem sofre primeiro é o átrio (AE) Mecanismos para tentar manter o DC adequado: aumento da contratilidade do miocárdio e aumento da FC (reduz o tempo diastólico → menos regurgitação) *Perfusão das coronárias ocorre durante a diástole: manter PA diastólica adequada para evitar isquemia/infarto QUADRO CLÍNICO: Consequências da evolução clínica desfavorável: Precordialgia – angina: pela redução da reserva miocárdica, pode ocorrer angina noturna pelo aumento da regurgitação valvar decorrente da bradicardia durante o sono × Pensa primeiro em estenose Dispneia – IC: aumento da PDF secundária à sobrecarga de volume do VE e consequente congestão vasocapilar pulmonar Síncope e lipotímia: síndrome de baixo débito Palpitações aos esforços são frequentes – consequência do aumento do volume sistólico do VE (↑ sangue no ventrículo → maior força contrátil para ejetar o sangue) Iao aguda: fraqueza, dispneia grave, hipotensão EXAME FÍSICO: Ictus cordis hiperdinâmico e impulsivo deslocado para baixo e para esquerda → B1: fechamento da mitral e tricúspide → B2: fechamento da aórtica e pulmonar AUSCULTA: B1: normo ou hipofonética B2: é de difícil análise com o componente A2 hipofonético e o P2 é ocultado pelo sopro diastólico B3: aumento VSF e a gravidade da IAo e pode auxiliar na escolha do momento cirúrgico Ventrículo fazendo muita força para ejetar Sopro diastólico inicia-se na protodiástole, alta frequência, caráter aspirativo decrescente e é ouvido com mais facilidade no 3° EICE (FAoac) Inclinar o tórax para frente pode facilitar a ausculta Gravidade da Iao correlaciona-se melhor com a duração do sopro do que com a sua intensidade A regurgitação de sangue ocorre durante toda a diástole, sua velocidade diminui à medida em que o gradiente diastólico Ao-VE diminui Manobras: aumentam o sopro → posição sentada, flexão máxima do tronco, decúbito ventral, posição de cócoras (↑retorno venoso → ↑ pós carga → ↑ resistência → mais sangue reflui Ao-VE) SOPRO AUSTIN FLINT: Diastólico mitral causadopelo IAO IAO grave: na área mitral, sopro mesodiastólico de baixa frequência, relacionado às vibrações provocadas REBECA KRUSE MED 10 pelo grande volume de sangue regurgitado de encontro ao fluxo normal no aparelho mitral Diferencia da estenose mitral orgânica pela normalidade da B1 e ausência do estalido de abertura CARACTERÍSTICAS: Pulsos arteriais: amplos – representam o grande volume sistólico ejetado: Pulso em martelo d’água: ascenso rápido e alta amplitude (pulso de Corrigan) Pulso capilar (sinal de Quincke) Leves oscilações da cabeça para baixo e para frente (sinal de Musset) Pulsação na base da língua: sinal de Minervini Sinal de Mueller: vibração sistólica da úvula Sensação de choque à ausculta de artérias como pediosa (pistol shot) Duplo sopro auscultado à compressão da femoral (sinal de Duroziez) Sinal de Rosenbach: pulso sistólico hepático Sinal de Gerhard: pulso sistólico esplênico PAS elevada e PAD anormal baixa: sons de Korotkoff persistem até 0 – grande diferença (ex.: 160x40) Disfunção ventricular: vasoconstrição periférica – aumento da PAD EXAMES COMPLEMENTARES: ECG: IAO aguda: sem alterações IAO crônica: SVE, ondas T podem ser altas e positivas nas precordiais esquerdas no início da evolução, porém, mais comumente elas se mostram invertidas, com depressões do segmento ST O padrão strain VE correlaciona-se com a presença de dilatação e hipertrofia P costuma estar normal ou sinais de SAE RADIOGRAFIA DE TÓRAX: IAO aguda: normal ou congestão IAO crônica: cardiomegalia pelo VE, dilatação da aorta sugere como causa uma aortopatia, aumento do AE e retificação do arco médio podem indicar mitral associada ECOCARDIOGRAMA DOPPLER: Diagnóstico e seguimento Grau de IAO Comprometimento ao nível da valva ou na raiz da aorta Os aspectos morfológicos da valva e a presença de vegetação na EI, da dissecção da aorta e do prolapso com degeneração mixomatosa Avaliação da função sistólica e diastólica do VE – valores dos diâmetros ventriculares, as frações de encurtamento e de ejeção Importante para o diagnóstico nos quadros agudos de EAP com dificuldade de auscultar sopro diastólico – gravidade da lesão pela presença do fechamento precoce da valva mitral, indicativo de aumento da pressão diastólica do VE TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA: Sensibilidade de 90% na dissecção, semelhante à encontrada na angiografia e na RM RESSONÂNCIA NUCLEAR MAGNÉTICA: Dispendiosa Técnica não invasiva mais precisa para avaliar paciente com IAO com doença de Ao *TC e RM: para quadros crônicos com acometimento de Ao CATETERISMO CARDÍACO: Avaliação de DAC associada e pré-op Necessário nos casos de dissociação clínico- ecocardiográfica TRATAMENTO: REBECA KRUSE MED 10 Os sintomas espelham o momento fisiopatológico e definem a conduta, sendo a maior causa de morte inesperada a própria cirurgia cardíaca IAO AGUDA: urgência – sinais e sintomas de ICC: Diurético: diminui a pré-carga (alivio de sintomas) Agentes vasodilatadores arteriais e venosos: diminui pós-carga (nitroprussiato de sódio) IAO CRÔNICA SINTOMÁTICA: Diuréticos orais: IECA (enalapril*, captopril) BRA: usa se braqueíte por IECA Não cura/ ponte para cirurgia/ outro procedimento Cuidado com beta bloqueador: diminui a FC (menor a FC maior o tempo de diástole, mais sangue reflui) Vasodilatadores: pré-op e não adia o tto cirúrgico PROGNÓSTICO: Lesão discreta a moderada: 85-95% sobrevida em 10 anos Pacientes em CF III e IV: mortalidade de até 25%/ ano Aumento da cavidade ventricular com DDVE > 70/75mm e DSVE > 50/55 mm – parâmetros de indicação cirúrgica Disfunção VE não é irreversível – melhora e pode até normalizar após cirurgia Ultrapassada a fase ideal: sobrecarga hemodinâmica superpõe o dano miocárdico = limita o benefício cirúrgico Estenose aórtica DEFINIÇÃO: EAo valvar: obstrução à passagem do fluxo sanguíneo da via de saída VE → Ao ETIOLOGIAS: Principais: febre reumática (países em desenvolvimento), degenerativa (ateroscletótica) e congênita (valva aórtica bicúspide) EPIDEMIOLOGIA: Cerca de 3-5% da população acima de 75 anos apresenta EAo grave de etiologia degenerativa FISIOPATOLOGIA: Em comum com IAo: calcificação dos folhetos valvares e redução progressiva do orifício valvar efetivo – causa HVE concêntrica inicialmente com manutenção da função sistólica Na evolução: mecanismos adaptativos do miocárdio atingem um limite → desequilíbrio entre os compartimentos muscular, intersticial e vascular → isquemia Há progressiva disfunção ventricular, inicialmente diastólica → sistólica Mais rápida do que a IAo QUADRO CLÍNICO: Sintomas clássicos: dispneia, angina e síncope induzida pelo esforço Sintomas é marcador de gravidade, com implicação prognóstica Angina: sobrevida 50% em 5 anos Síncope: sobrevida média de 50% em 3 anos IC: sobrevida de 50% em 2 anos EXAME FÍSICO: Sopro sistólico ejetivo, rude, de intensidade em crescendo-decrescendo, pode haver irradiação do sopro para fúrcula esternal e região carotídea Calcificação calvar intensa: pode haver o fenômeno de Gallavardin (sopro sistólico de alta frequência audível em região de ápice cardíaco, produzido pela irradiação do sopro de EAO muito calcificada); que pode ser confundido com o sopro de regurgitação mitral, mas que não apresenta irradiação para a axila REBECA KRUSE MED 10 Frêmito (vibração) sistólico pode indicar maior gravidade da lesão valvar Pulso arterial parvus e tardus (fino e diminuído) *Sopro sistólico em forma de diamante: fim da sístole Paciente anêmico: sopro aumenta DIAGNÓSTICO: EXAMES COMPLEMENTARES: Exame físico, ECG, RX tórax, ECO, ECO sob estresse, TC, estudo hemodinâmico ECOCARDIOGRAMA: Confirma diagnóstico, identifica as possíveis causas, avalia a gravidade e a repercussão hemodinâmica Redução da mobilidade e abertura valvar Aumento da velocidade do fluxo o gradiente sistólico máximo e médio TRATAMENTO: INDICAÇÃO CIRÚRGICA: Leva em consideração a tríade: sintomas, gravidade da lesão valvar e função sistólica do VE EAo leve a moderada assintomáticos: tratamento clínico – acompanhamento semestral Não há evidências suficientes que sustentem o uso de estatinas para prevenção da progressão da lesão valvar aórtica, mesmo nos pacientes com EAo degenerativa (aterosclerótica) EAo grave sintomáticos: cirurgia/ TAVI TAVI (IMPLANTE TRANSAÓRTICO): Implante percutâneo de válvula aórtica EAO grave com indicação cirúrgica com contraindicações ao tratamento cirúrgico convencional (classe I) Ou como alternativa à cirurgia convencional principalmente em pacientes com alto risco cirúrgico ou risco proibitivo (classe IIa) via arterial femoral ou transapical = colocação de prótese biológica aórtica ancorada em uma estrutura aramada A sobrevida estimada deve ser de pelo menos de 12 meses (comorbidades) FATORES DE RISCO EAO GRAVE: TE (teste ergométrico) com sintomas evidentes ou hipotensão ao esforço AVA menor ou igual a 0,7 cm² ou área valvar indexada menor ou igual a 0,4 cm²/m² Progressão rápida dos parâmetros de avaliação funcionais ecocardiográficos Calcificação valvar aórtica moderada a intensa HVE acentuada DAC associada Disfunção ventricular sistólica Elevação do BNP Insuficiência pulmonar Rara, maioria dos casos secundária à HP (hipertensão pulmonar), doenças do tecido conjuntivo ou afecções idiopáticas da artéria pulmonar = IP secundária SINTOMAS: ICD (insuficiência cardíaca direita) especialmente se associado à HP Sopro diastólico, aspirativo, com configuração decrescente, semelhante ao sopro de Iao. DIAGNÓSTICO: ECO = define TRATAMENTO: Correção valvar apenas nos casos de valvopatia anatomicamente significativa - implantede bioprótese valvar cirúrgica ou percutânea. IP secundária = tratamento da patologia causal como a HP Geralmente o VD aguenta muito mais, então a necessidade de cirurgia é rara REBECA KRUSE MED 10 Estenose pulmonar valvar Rara - congênita ou associada a doenças cardíacas complexas (T4F, TGA, síndrome de Noonan Dcanal AV e dupla via de saída do VD) Causas menos frequentes: VP bicúspide, doença carcinóide, DRC e EI Sopro é sistólico, ejetivo com pico tardio melhor audível no foco pulmonar ECO estratificação da severidade anatômica ETE = EI Tratamento = valvuloplastia percutânea (introduz um balão na valva e abre)