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EXERCÍCIO FÍSICO PARA CRIANÇAS E JOVENS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Identificar os componentes da aptidão física relacionados à saúde. > Reconhecer diferentes estratégias de treino para o desenvolvimento da aptidão física relacionada à saúde. > Planejar a prescrição de exercícios físicos para a saúde de crianças e jovens. Introdução Atualmente, muito se tem falado sobre a importância da prática de atividades e exercícios físicos. Apesar disso, cada vez mais as pessoas de todas as idades permanecem mais tempo em comportamentos sedentários ao longo do dia. Já é sabido que o estilo de vida que adotamos desde a infância tende a se manter quando chegamos à idade adulta. Dessa forma, compreender a prescrição de exercícios para crianças e adolescentes se faz primordial para que profissionais de educação física realizem seu trabalho de forma motivante e eficaz. Neste capítulo, você vai estudar sobre os componentes da aptidão física rela- cionados à saúde e vai aprender a prescrever exercícios físicos de forma correta e benéfica para crianças e jovens. Para isso, você vai adquirir conhecimentos básicos a respeito das fases de desenvolvimento do ser humano e das particularidades Prescrição de exercícios e aptidão física para a saúde de crianças e jovens Luiza Naujorks Reis de cada uma delas, o que vai nortear a sua atuação como profissional para esse público. Aptidão física relacionada à saúde Aptidão física é o conjunto de atributos que as pessoas têm ou podem conse- guir ter. Considera-se que uma pessoa é apta quando ela consegue realizar as tarefas do seu dia a dia com vigor, sem fadiga indevida e com ampla energia para aproveitar as atividades de lazer e conseguir enfrentar emergências possíveis (CASPERSEN; POWELL; CHRISTENSON, 1985). Ou seja, aptidão física é o estado dinâmico de energia e vitalidade que permite a cada um realizar não apenas as tarefas diárias, mas também as ocupações ativas das horas de lazer, e enfrentar emergências imprevisíveis sem fadiga excessiva, o que também ajuda a evitar doenças hipocinéticas (COOPER, 1970). Podemos classificar a aptidão física em duas categorias: para a saúde e para a performance. Os componentes que integram a aptidão física relacionada à performance são: potência (força explosiva), velocidade, agilidade, coorde- nação e equilíbrio. Já os componentes relacionados à saúde são: resistência cardiorrespiratória, resistência muscular, força muscular, composição corporal e flexibilidade (GAYA; GAYA 2016). Neste capítulo, vamos abordar a aptidão física relacionada à saúde. Mas no que consiste cada um desses componentes da aptidão física re- lacionada à saúde? Segundo Cooper (1970), a resistência cardiorrespiratória está relacionada com a capacidade dos sistemas circulatório e respiratório de fornecer o combustível suficiente durante a atividade física, além da capacidade de eliminar os produtos da fadiga após esse fornecimento de combustível. Já a diferença entre resistência e força muscular é que a primeira se caracteriza pela capacidade que os grupos musculares têm de exercer força externa durante muitas repetições ou esforços em sequência, enquanto a segunda está relacionada com a força externa máxima que o músculo pode exercer. A composição corporal é a quantidade relativa de músculos, gordu- ras, ossos e outras partes vitais do corpo. Já a flexibilidade é a amplitude de movimento corporal em uma junção. Níveis adequados de atividade física são essenciais para desenvolver e manter um nível saudável de aptidão física. Para isso, é importante que não se confundam os conceitos de atividade física e aptidão física. Uma maneira de fixar essa diferença é o entendimento de que a atividade física tem relação com os movimentos realizados, enquanto a aptidão física diz respeito ao conjunto de atributos que podem ser alcançados. Entretanto, Prescrição de exercícios e aptidão física para a saúde de crianças e jovens2 assim como a quantidade de atividade física pode ser classificada entre baixa e alta, o mesmo pode ocorrer com a aptidão. Ainda, os níveis entre os cinco componentes podem variar. Por exemplo, uma pessoa pode ser flexível, mas não resistente. Destaca-se que nenhuma pessoa tem zero quantidade de atividade física, e o mesmo ocorre para a aptidão física: todos são ativos ou se adaptam em maior ou menor grau. Nesse contexto, torna-se muito importante avaliar o nível dos componentes da aptidão física que estão relacionados à saúde, pois isso norteará o trei- namento físico. Para isso, reitera-se aqui o conceito de exercício físico, que se caracteriza como a atividade que tem como objetivo melhorar ou manter os componentes da aptidão física, sendo uma atividade física organizada. Já conseguimos perceber que a atividade física é um comportamento muito complexo, estando relacionado com aspectos específicos da aptidão física e da saúde, o que exige diferentes estratégias de intervenção e promoção. Aptidão física vs. aptidão cardiorrespiratória Nos parágrafos anteriores, foi apresentada a diferença entre alguns conceitos extremamente importantes relacionados ao estudo da aptidão física e da prescrição de exercícios. Entretanto, cabe ainda destacar o termo aptidão car- diorrespiratória, para evitar possíveis confusões de entendimento. Entende-se que a aptidão física relacionada com a saúde é um importante marcador de risco cardiometabólico (relacionado com doenças não transmissíveis, como obesidade, diabetes, hipertensão arterial, entre outras), além de ser importante no desenvolvimento cognitivo e na qualidade de vida de crianças. Mas, muitas vezes, percebemos o termo “aptidão cardiorrespiratória” como um sinônimo de “aptidão física”. A aptidão cardiorrespiratória é um componente da aptidão física, sendo caracterizada pela resistência cardiorrespiratória. Ela explica de 3 a 15% dos atributos da aptidão física. Ainda, a literatura tem usado essa relação entre as duas como associada à melhora da saúde geral em crianças e adolescentes. Assim, é importante entender que treinamentos da aptidão física de forma geral impactam a aptidão cardiorrespiratória, assim como os seus outros componentes (ZHOU et al., 2019). Treinamento da aptidão física para a saúde A seguir, serão abordados os diferentes tipos de treinamentos de aptidão física relacionada à saúde e seus efeitos em crianças e adolescentes. Prescrição de exercícios e aptidão física para a saúde de crianças e jovens 3 Treinamento aeróbico (aptidão cardiorrespiratória) Devemos realizar treinamento aeróbico na criança? A resposta é sim e, ao contrário do que se imagina, não é complexa nem contraditória. Entretanto, é importante ter em mente que, por meio desse tipo de treinamento em pré-púberes, nem sempre é possível aumentar a capacidade máxima que o organismo tem de absorver oxigênio (volume de oxigênio máximo, indicado como VO²máx), pois esse pode não ser o parâmetro mais adequado. Isso porque crianças têm uma baixa adaptabilidade ao metabolismo muscular. No entanto, essa melhora pode ocorrer por meio de uma biomecânica mais eficiente, caracterizando uma economia de movimento. É preciso entender que o VO²máx absoluto é menor em crianças, quando comparadas a adultos com o mesmo nível de treinamento, pois os volumes pulmonares vão aumentando até o crescimento se completar. Uma variável usada no controle e na prescrição do treinamento aeróbico é a frequência cardíaca. Ela está diretamente relacionada com a pressão arterial. Assim, quando comparamos crianças/adolescentes e adultos, deve- -se levar em consideração o fato de que a pressão arterial em repouso e durante o exercício é menor no primeiro grupo, pois ela está relacionada com o tamanho corporal. Crianças e jovens têm corações menores, isto é, menores volumes sistó- licos. Como resposta compensatória, a frequência cardíaca é mais elevada, para manutenção do débito cardíaco. Entretanto, essa compensação não é completa; assim, o débito cardíacoainda é menor quando comparado ao dos adultos. Por exemplo: crianças com menos de 10 anos apresentam frequência cardíaca máxima acima de 210 batimentos por minuto, enquanto um indivíduo de 20 anos apresenta frequência cardíaca máxima de 200 batimentos por minuto (ROWLAND, 2008). Para exercícios intensos, em que o praticante transporta a pró- pria massa corporal, o menor débito cardíaco não é uma limitação expressiva. Durante a adolescência, ocorre a transição para o perfil metabólico adulto. Assim, o organismo passa a ser mais oxidativo, com perfil de resistência aeróbica e com maior capacidade de recuperação entre esforços. Prescrição de exercícios e aptidão física para a saúde de crianças e jovens4 Treinamento anaeróbico A potência anaeróbica também será sempre menor em crianças quando comparadas a adultos, mesmo que seja corrigida pela massa muscular. Nessa proporção, crianças têm menor massa muscular por massa corporal, o que pode gerar desvantagem na coordenação neuromuscular e menor capacidade glicolítica em relação à oxidativa (ROWLAND, 2008). Treinamento de força Esse assunto sempre gera discussões acerca de ser ou não benéfico para a saúde das crianças e dos jovens. Entretanto, sim, aumentar a força muscular é importantíssimo, pelos motivos indicados a seguir, com base em Lloyd et al. (2014), Faigenbaum (2007) e Faigenbaum e Myer (2009): � complemento ao condicionamento aeróbico; � prevenção de lesões musculoesqueléticas no esporte e em atividades recreativas; � promoção da saúde; � aumento da força muscular, da potência e da resistência muscular localizada; � melhora no desempenho esportivo e recreativo. Salienta-se que, em pré-púberes, é possível aumentar a força mesmo sem hipertrofia, por meio do aumento da ativação muscular. Dados indicam ganhos de força entre 30 e 70% após alguns meses de treinamento de força (FLECK; KRAEMER, 2006). O treinamento é recomendado desde que haja uma avaliação médica preliminar. Essa avaliação médica com o pediatra deve exa- minar os sinais e sintomas em termos de impressões gerais (grau de doença ou bem-estar da criança), atitude (choro, irritabilidade, depressão, torpor), face (tipos de expressão facial, como relativa à dor, típicos de determinada doença), estado nutricional e sinais vitais (temperatura, frequência cardíaca e respiratória). Ainda, é necessária a supervisão de um profissional qualificado em treina- mento com crianças, e que se utilizem cargas de forma que a criança consiga pelo menos realizar oito repetições em toda a amplitude do movimento. Cargas máximas, ou próximas das máximas, não devem ser enfatizadas. A criança deve ter condições de entender as orientações passadas e ter capacidade de realizar o movimento sozinha e com a técnica correta. Também não pode Prescrição de exercícios e aptidão física para a saúde de crianças e jovens 5 ser esquecido que o aumento de massa muscular em crianças é limitado; dessa forma, esse não deve ser o objetivo principal da prática de exercícios. O Quadro 1 traz algumas orientações relacionadas ao treinamento de força para esse público. Quadro 1. Orientações para progressão de exercícios de força para crianças e jovens Idade Considerações 5 a 7 anos Iniciação aos exercícios básicos com pouco ou nenhum peso. Desenvolver o conceito de uma sessão de treinamento. Progressão de exercícios calistênicos com peso do corpo, para exercícios com parceiros e cargas leves. Baixo volume. 8 a 10 anos Aumentar o número de exercícios e praticar técnicas para todos os levantamentos. Iniciar incremento gradual de cargas e manter exercícios simples. Aumentar gradualmente o volume, com monitoração de tolerância ao estresse. 11 a 13 anos Ensinar todas as técnicas básicas dos exercícios. Desenvolver a continuidade gradual no aumento de sobrecarga. Enfatizar a técnica e introduzir exercícios mais avançados com pouca ou nenhuma sobrecarga. Enfatizar componentes do esporte praticado. 14 e 15 anos Progressão para programas mais avançados. Inclusão de componentes esportivos específicos. Aumento do volume. 16 anos ou mais Nível inicial de programas de treinamento de força para adultos, assumindo que a experiência anterior tenha sido obtida. Fonte: Adaptado de Fleck e Kraemer (2006). Prescrevendo exercícios O que é preciso saber antes de prescrever exercícios para crianças e jovens? É imprescindível que o profissional conheça as etapas de desenvolvimento e os conceitos relacionados a cada uma delas. Essas etapas são descritas a seguir, com base em Gallahue, Ozmun e Goodway (2013). Prescrição de exercícios e aptidão física para a saúde de crianças e jovens6 1. Crescimento somático: aumento na estrutura e no tamanho do corpo, ou em qualquer uma de suas partes, devido à multiplicação e ao aumento do tamanho das células. Entre as medidas observadas no estudo do crescimento somático em crianças, estão: tamanho corporal total, com- ponentes da estatura, diâmetros corporais e circunferências corporais. 2. Desenvolvimento: envolve mudanças funcionais que ocorrem com o crescimento. 3. Maturação biológica: processo em que o indivíduo assume a forma adulta e torna-se completamente funcional. A maturação está relacio- nada com o “relógio” biológico de cada um. Nem sempre o tempo de maturação procede com a idade cronológica — ou seja, mesma idade cronológica não significa mesma maturidade biológica. 4. Desempenho motor: desenvolvimento da capacidade motora, da força e resistência muscular e da resistência cardiorrespiratória. O estado de maturidade está relacionado com a idade cronológica, a idade esquelética (idade biológica), o estágio da maturação sexual e a an- tropometria. As modificações estruturais acontecem no tamanho corporal, nas proporções corporais, no tecido ósseo, no tecido muscular e no tecido adiposo. Com o treinamento, podemos modificar a massa muscular e a massa adiposa — as estruturas ósseas são determinadas geneticamente (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Deve-se ter em mente que crianças não são adultos em miniatura. O treinamento de adultos não pode ser simplesmente reproduzido para crianças e jovens. O treinamento da massa muscular vai envolver as variáveis de força, po- tência e velocidade, enquanto, na parte adiposa, envolve balanço energético e metabolismo. O treinamento da massa óssea se dá pela biomecânica do movimento. Geneticamente falando, se pegarmos dois indivíduos e os submetermos ao mesmo programa de treinamento, aquele que tiver um genótipo mais favorável poderá mostrar um potencial de melhora que pode ser até 10 vezes superior em relação ao atleta que não tem bagagem genética. O meio ambiente onde os indivíduos crescem, vivem e treinam também influencia as suas performances. Países como Quênia, Marrocos e Etiópia, onde surgem os grandes nomes Prescrição de exercícios e aptidão física para a saúde de crianças e jovens 7 do atletismo mundial, têm condições geográficas favoráveis em função das grandes altitudes e das condições climáticas existentes (ROWLAND, 2008). Programas de exercícios para crianças devem envolver: a resistência da massa corporal da criança; a resistência de um grupo muscular contra outro; a resistência imposta por outra criança; exercícios em circuito (são atrativos); e movimentos controlados e lentos para enfatizar a técnica. Assim, é impor- tante o conhecimento das etapas da infância e de suas particularidades ao organizar a prática de exercícios. Na Figura 1, são apresentados os estágios do desenvolvimento em que as crianças e os adolescentes estão, de acordo com a idade. Na primeira infância (2 a 5 anos), os indivíduos estão no início da fase motora fundamental. Na segunda e na terceira infância (6 a 12 anos), eles passam pela evolução entre a fase motora fundamental e a especializada. Já no início da adolescência (12 a 15 anos), eles já devem estar na fase motora especializada (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Figura 1. Fases do desenvolvimento motor.Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 69). Segundo Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), a fase do movimento fun- damental se caracteriza pelo momento em que as crianças se envolvem na Prescrição de exercícios e aptidão física para a saúde de crianças e jovens8 exploração e na experimentação dos movimentos que seu corpo pode realizar, incluindo momentos de estabilidade, locomoção e manipulação. Já a fase do movimento especializado é fruto dessa fase anterior. Nela, o movimento passa a ser aplicado em atividades mais complexas do dia a dia, de recreação e também de esportes específicos. Dessa forma, as habilidades de estabilidade, locomoção e manipulação são refinadas, combinadas e reelaboradas, para que possam ser utilizadas em demandas mais complexas. A seguir, serão abordadas de forma mais detalhada as fases do desen- volvimento de crianças e adolescentes e os exercícios que devem ser feitos para melhorar o aprendizado e a motivação. Primeira infância Essa etapa é caracterizada pelas mudanças acentuadas na composição cor- poral; a gordura e a massa magra aumentam gradualmente com o tamanho do corpo, com diminuição do percentual de gordura. Há melhora na marcha, em função do crescimento das pernas, do aumento do passo, da redução da base de apoio e da maior sincronização dos movimentos dos braços. Aos 4 anos, a criança deve alcançar o padrão do passo adulto, com os braços mais livres para tarefas mais complexas. Há melhora em habilidades motoras específicas. A lateralidade está de- finida aos 2 anos, entretanto, ela só se estabelece entre os 3 e 4 anos. Essas novas habilidades são aprendidas em função da aplicação de movimentos fundamentais em situações novas (distanciamento dos pais, experimentação, retorno aos pais em busca de renovação de segurança e aprovação, senso de autodescoberta). Segunda e terceira infância Há o crescimento estável, em que o percentual de gordura (geralmente) per- manece estável ou declina, e o índice de massa corporal aumenta. Ainda, o padrão maduro nas habilidades motoras fundamentais se desenvolve durante a fase escolar. As capacidades aeróbica e anaeróbica aumentam lentamente e podem ser treinadas. Deve-se ter muita atenção com altos índices de fle- xibilidade, podendo existir uma hipermobilidade articular generalizada. Se houver, há risco de subluxação ou luxação. Nessa idade, o padrão de participação em atividades físicas envolve atividades espontâneas e pouco organizadas, intermitentes e de curta du- ração, com intensidades de moderadas a baixas (contínuas) e séries de alta Prescrição de exercícios e aptidão física para a saúde de crianças e jovens 9 intensidade. Conforme acontece o crescimento, o padrão de participação se altera para atividades mais organizadas, mais regulares e mais prolongadas. Início da adolescência Nessa fase, há a transição entre a infância e a vida adulta, ocorrendo muitas alterações físicas e psicológicas. A puberdade ocorre na adolescência e envolve fatores biológicos, com o desenvolvimento de características sexuais secun- dárias. Nesse momento, ocorre o segundo surto de crescimento, chamado de estirão do crescimento (o primeiro ocorre nos dois primeiros anos de vida). Iniciação esportiva É o processo cronológico no decorrer do qual uma pessoa entra em contato com novas experiências regradas sobre uma atividade físico-esportiva. É o período em que se começa a ter um aprendizado mais específico em relação a um esporte, e ocorrem diversas alterações fisiológicas. Os principais locais de iniciação são a própria escola, as escolinhas esportivas, os clubes e os parques. Mesmo em termos de aptidão física relacionada à saúde, esse tipo de iniciação à prática de atividade física, mais voltada para a iniciação esportiva, torna-se importante, pois potencializa a cooperação, a inclusão, a socialização, a participação e a educação para a saúde. Mas é necessário ficar atento para a potencialização de efeitos negativos, como a especialização precoce, que é quando crianças são inseridas em um processo de treinamento planejado de longo prazo, com o objetivo de aumento de rendimento, além de participação frequente em competições, direcionamento para uma modalidade específica e uso de metodologias de ensino equivocadas. Podem surgir consequências associadas ao overtraining, incluindo diminuição do desempenho, alteração do comportamento, frequência cardíaca de repouso elevada, dificuldade de concentração, alterações no sono, aumento na incidência de lesões e/ou infecções, dor crônica muscular ou articular e perda de peso. Deve-se ter em mente que crianças e jovens passam por inúmeras altera- ções físicas, psicológicas e psicossociais, que provocam consequências para a atividade corporal ou esportiva. Ainda, o treinamento aplicado aos adultos não deve ser transferido aos jovens sem as devidas adaptações (WEINECK, 2005). A aptidão física é essencial para a prevenção de doenças e a promoção da saúde desde a infância. Ela só pode ser adquirida mediante prática de atividade física e exercício físico de forma contínua e bem orientada. Dessa Prescrição de exercícios e aptidão física para a saúde de crianças e jovens10 forma, prescrever corretamente a forma e os tipos de exercícios se torna primordial tanto para a saúde quanto para a performance. Este capítulo reuniu informações que devem ser utilizadas pelos profissionais de educação física na periodização adequada do treinamento das diferentes variáveis da aptidão física pra crianças e adolescentes. Espera-se, com isso, chegar a um maior número de pessoas motivadas pela prática esportiva, aptas e dispostas a realizar as atividades prescritas, para que, no futuro, o percentual da popu- lação que permanece por elevados intervalos de tempo em comportamentos sedentários seja menor. Referências CASPERSEN, C. J. ; POWELL, K. E.; CHRISTENSON, G. M. Physical activity, exercise, and physical fitness: definitions and distinctions for health-related research. Public Health, v. 100, n. 2, p. 126–131, 1985. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/ PMC1424733/pdf/pubhealthrep00100-0016.pdf. Acesso em: 8 maio 2021. COOPER, K. H. Aptidão física em qualquer idade. Belo Horizonte: Fórum, 1970. FAIGENBAUM, A. D. State of the art reviews: resistance training for children and adoles- cents: are there health outcomes? American Journal of Lifestyle Medicine, v. 1, n. 1, 2007. FAIGENBAUM, A. D.; MYER, G. D. 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