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Políticas Sociais Integradas .................................................................. 3 Introdução ................................................................................................... 3 Sistema de Proteção Social: Definições ......................................................... 4 Políticas Públicas e Políticas Sociais: Fatores Importantes de Análises Conceituais. ............................................................................................... 10 Planejamento, Avaliação e Monitoramento Das Politicas Públicas. .................. 27 O Contexto Histórico da Cidadania e Participação Popular no Cenário Brasileiro ................................................................................... 34 Politicas Neodesenvolvimentistas ................................................................. 42 Considerações Finais. ................................................................................. 45 Referências ................................................................................................ 46 POLÍTICAS SOCIAIS INTEGRADAS Introdução O presente material produzido para pós-graduação em Políticas Sociais Integradas, objetiva socializar definições e problematizações sobre a temática políticas públicas, a partir de várias concepções de diferentes pesquisadores sobre a temática, o que sugere concepções e interpretações variadas e, por que não, divergentes, tão necessárias ao debate plural enfatizado nas ciências sociais. Assim, pode-se identificar uma série de elementos comuns aos Estados capitalistas na atualidade, os quais servem para elucidar brevemente a complexidade dos problemas estatais associados aos processos de tomada de decisões e de gestão pública das políticas, tais como: o crescimento dos aparatos estatais e dos gastos públicos; a multiplicação de regulamentos e normas governamentais (legislações), que manifestam a crescente complexidade e fragmentação da sociedade contemporânea; e a confusão entre os limites dos espaços público e privado com o aparecimento de novas formas de relação entre a sociedade e os poderes públicos. Assim, embora o papel do Estado continue sendo o agente principal no sistema político, o pluralismo e a interação entre diferentes agentes sociais e políticos definem os processos decisórios e limitam a supremacia do Estado diante da sociedade pela necessária colaboração entre agentes públicos e privados. Não podemos negligenciar a importância da lei e de suas normatizações, mas tampouco podemos negar o impacto dos conflitos de interesses em jogo, das posições e ações políticas adotadas por distintos agentes e a repercussão das reações sociais. Assim, esperamos que esse material possa elucidar estudos de políticas públicas oferecendo uma análise da relação entre o Estado e a sociedade porque aponta à necessidade de se estabelecerem às articulações entre o processo interno de formulação da política, as agências estatais e os interesses sociais que se organizam e se manifestam no âmbito da sociedade. Sistema de Proteção Social: Definições Um contraponto não muito abordado na literatura, refere-se ao sistema de proteção social que segundo Pereira (2008) foi instituído desde o século XIV, com algumas intervenções públicas no campo da assistência aos indigentes até a repressão da vagabundagem, passando pela regulação estatal da organização do trabalho e da mobilidade espacial dos trabalhadores. Essa proteção consistia no fornecimento dos serviços públicos aos cidadãos, tais como pensões pecuniárias e abrigos aos financeiramente carentes. Nessa época não existia um direito do necessitado, apenas uma expectativa de direito, já que os recursos não tinham previsão certa, como expõe Santos (2012, 111) “Na Inglaterra, a chamada “Lei dos Pobres” estabeleceu que caberia à comunidade a responsabilidade pela assistência aos mais necessitados, trazendo a noção da obrigatoriedade da contribuição para fins sociais”. Para Castel (2008), os sistemas de proteção social estariam baseados em dois tipos de sociabilidade a primaria e a secundária. A primária seria desenvolvida pelos vínculos estabelecidos na relação de proximidade, pertencimento e interdependência, ou seja, entre os familiares, redes formadas dentro da comunidade etc. Já a secundária é aquela que surge na medida em que as sociedades se tornam mais complexas, demandando um atendimento a população de forma mais especializada, assim, entra em vigor a institucionalização da proteção social através da presença do Estado; que surge nas falhas da sociabilidade primária. Esse contraponto, torna-se importante para compreendermos as políticas sociais na contemporaneidade e seus novos arranjos. Segundo Castel (1988) as divisões provocadas pelo crescimento da pobreza x crescimento econômico, e, as normativas de ordem jurídico-político fundada sobre o reconhecimento dos direitos dos cidadãos, culminaram pela primeira vez no ápice do social, que passou a ter uma maior clareza entre os sistema econômico e a ordem política, constituindo um sistema de regulações não mercantis. Mas, podemos pensar que a pobreza não é um resultado somente do capitalismo como muitos afirmam. Na verdade o capitalismo reinventa maneiras de pobreza. Mesmo nas sociedades pré-capitalistas, foram criados mecanismos de proteção social para intervir na pobreza, seja pela caridade ou pela filantropia. A caridade é definida por ajuda individual, já a filantropia consiste na ajuda organizada, com isso, a filantropia ganha destaque nesse contexto. Essas unidades de caridade e filantropia tinham como características: manter a ordem; não deixar os pobres morrerem; caráter punitivo; traço estigmatizado; seletividade. Essas características sofrem alterações no decorrer do século XIX em cada país, mas o foco central dessas características é a formação das cidades (aglomeração). Com a industrialização, as imigrações, muitos vão para a cidade buscar oportunidades, logo problemas além do trabalho surgem, como: água, esgoto, imundice, alimentação, saúde e outros. Diante disso, era preciso uma intervenção por parte do Estado: seja pela repressão ou consenso (negociação). Sabemos que repressão foi pela força e o consenso por meio de políticas sociais, que vinham com uma forte intervenção ideológica. Assim, entendemos que um sistema de Proteção Social tem um conceito amplo, no que tange a forma de institucionalização podendo ser compreendida a partir da configuração instituída para proteger a população nos diversos campos, desde, a segurança contra riscos, danos e perdas pessoais e sociais, que incidem as condições de vida dos cidadãos. Cabe destacar que todo sistema de proteção social deve prever, tanto a distribuição de bens materiais, quanto de bens culturais que permitam a sobrevivência e a integração dos indivíduos na vida social. O Sistema de Proteção Social Brasileiro foi constituído entre os anos de 1930 a 1945, período marcado por grandes transformações sociais, políticas e econômicas, ligadas às alterações das bases produtivas da economia agroexportadora para a urbano-industrial. Nesse período, também surgem às primeiras configurações de políticas sociais definidas pelo Estado que passam também a assumir mais intensamente as regulações no estabelecimento dos mínimos sociais de proteção pública. Um contraponto importante desse processo discutido na literatura, refere-se à existência e/ou não de um sistema de proteção social, já que o nosso foi constituído de forma hibrida, com participação pública e privada na gestão das políticas sociais. Os parâmetros para a construção segundo Polanyi (1980) encontram-se na conjuntura internacional, acompanhada das ideias Keynesianas que defendia a intervenção estatalna economia, para assegurar altos níveis de atividade econômica, tanto de consumo quanto de emprego. Logo, as proposições fundamentadas por Keynes, foram acrescidas das concepções de William Beveridgne – Welfare State – introduzido o sistema de seguridade social consolidado após a Segunda Guerra Mundial, isso representou um avanço significativo enquanto conquistas sociais, apesar das diferenças na implantação de cada país na instituição do Estado de Bem-Estar e de suas políticas. Foram precisamente os interesses sociais, e não os econômicos, de diferentes segmentos da população que se viram ameaçados pelo mercado, e pessoas pertencentes a vários estratos econômicos inconscientemente conjugaram forças para conjurar o perigo. (POLANYI, 1980, P. 158). A preocupação com o seguro social se espalhou pelo mundo e tem-se conhecimento de que a primeira constituição a trazer o termo Seguro Social foi a do México em 1917. Assim, surgem vários modelos de welfare state. Eles possuem características distintas como nos coloca Esping – Andersen (1991, p. 108). Em um dos grupos de modelo, temos o welfare state ‘liberal’ onde predominam a assistência aos comprovadamente pobres, reduzidas transferências universais ou planos modestos de previdência social. Os benefícios atingem principalmente uma clientela de baixa renda, em geral da classe trabalhadora ou dependentes do Estado. O segundo tipo, ‘conservador”, a obsessão liberal com a mercadorização e a concessão de direitos sociais não chegou a ser uma questão seriamente controvertida. O que predominava era a preservação das diferenças de status, os direitos, portanto, estavam ligados à classe e ao status. O terceiro e menor grupo, o ‘social-democrata’ onde buscava um welfare que promovesse a igualdade com os melhores padrões de qualidade e não uma igualdade das necessidades mínimas.(...) todas as camadas são incorporadas a um sistema universal de seguros(..) este modelo exclui o mercado e constrói uma solidariedade essencialmente universal em favor do welfare state. Todos se beneficiam, todos são dependentes e todos se sentirão obrigados a pagar (Esping Andersen, 1991 p.108). O que contribuiu para o surgimento desses modelos de welfare foi a instabilidade do mercado-livre. Nessa conjuntura econômica desfavorável, a partir de 1929, a segunda Guerra Mundial e a divisão do mundo em 2 blocos – um capitalista e outro comunista – desencadearam a convicção de que os destinos dos cidadãos não deveriam estar totalmente sujeitos à instabilidade inerente às forças de mercado. Dessa maneira, a sociedade passou a demandar políticas que promovessem o crescimento econômico, visassem à diminuição do desemprego e à elevação do nível de proteção social. Porém os dois grandes modelos que se instituíram (na Alemanha e Inglaterra) estão marcados pela concepção do que provê mais como direito do que como dádiva, o que vai exigir mais financiamento público. O Brasil vai seguir o modelo Bismarck: proteção contributiva por categoria, porém após 50 anos do modelo Europeu. Foi por meio da classe trabalhadora mais demandante, do meio de trabalho industrial, no início do século XX, que se iniciam as políticas sociais. Passa, assim, ao Estado, face aos riscos sociais, a tarefa de atuar na oferta de proteção social. A proteção social via seguro social, constitui num sistema de cotizações de caráter obrigatório garantido pelo Estado, que abre acesso a uma renda nos casos em que o risco de doença, invalidez, velhice e desemprego, impeçam o trabalhador de suprir a sua subsistência, pela via do trabalho. De acordo com Faleiros (1991) as políticas sociais no período de 1964 a 1988, eram políticas de controle, seletivas, fragmentadas, excludentes e setorizadas. Daí a necessidade de questionar esse padrão histórico das políticas sociais e propor a democratização dos processos decisórios na definição de prioridades, na elaboração, execução e gestão dessas políticas. Nesse sentido, a elaboração e a conquista das políticas sociais passam ainda por processos de pressões e negociações entre as forças políticas vigentes e uma relativa transparência das articulações. Em 1988, com a nova Constituição Federal tem-se a reforma do sistema brasileiro de proteção social. A nova Constituição irá registrar: “(...) a ampliação e a extensão dos direitos sociais (novos direitos, assim como sua homogeneização, a novas categorias sociais), a universalização do acesso e a expansão da cobertura, um certo afrouxamento do vínculo contributivo como princípio estruturante do sistema, a concepção de seguridade social como forma mais abrangente de proteção, a recuperação e redefinição de patamares mínimos dos valores dos benefícios sociais e, enfim, o maior comprometimento do Estado e da sociedade no financiamento de todo sistema” (Draibe, 1990, p. 29) Concordamos com Viccari(2008, p. 17), quando afirma: No final da década de 1980, com a promulgação da Constituição Federal em 1988, os direitos sociais no Brasil foram garantidos a todos os cidadãos, ampliando o espectro das políticas sociais e elevando-as ao status de públicas e, portanto de responsabilidade do Estado. Com esta prerrogativa constitucional, estabeleceu-se uma clivagem de paradigma legal que instituiu a universalidade de acesso do brasileiro ao Sistema de Seguridade Social, integrado pela Saúde, Assistência e Previdência Social. As duas primeiras não contributivas, e a última, aos que dela contribuem, tendo como base o primado do trabalho. Assim, pela primeira vez, na história republicana, a Assistência Social alcança status de política pública e integra seguridade brasileira embasada no princípio da universalidade como acesso a todos que dela necessitar. Um questionamento importante para pensarmos o sistema de proteção social na contemporaneidade é defendido por Castel (2005) quando traça a inadequação frente as atuais configurações do trabalho na ordem mundializada, constatando que as sociedades modernas são construídas sobre o alicerce da insegurança, pois não encontram em si a capacidade de assegurar proteção, reproduzindo-se com isso, a vulnerabilidade das massas, expressas através do desemprego e precarização do trabalho. Para o autor, a situação atual caracterizada pelo “abalo” na condição salarial, é responsável por promover o desemprego em massa, a instabilidade das situações de trabalho e a inadequação dos sistemas clássicos de proteção social; multiplicando com isso, o número de indivíduos que ocupam na sociedade um lugar de “supranumerários”, “inempregáveis” ou empregados de um modo precário intermitende, assim como, políticas sociais focalizadas. Políticas Públicas e Políticas Sociais: Fatores importantes de análises conceituais. De modo sucinto poderíamos definir as políticas públicas como ações e intervenções planejadas do poder público com a finalidade de resolver situações problemáticas, que sejam socialmente relevantes. Assim, dentro dessa expressão percebemos três expressões carregadas de significados, que são importantes para aprender os processos de formulação de uma política pública que são: intervenções planejadas, poder público e situações problemáticas socialmente relevantes. Quando abordamos à primeira expressão, a existência de uma política pública pressupõe a existência legitimada de uma capacidade mínima de planificação no aparelho de Estado, seja do ponto de vista técnico que compõem a sua capacidade de gestão, ou, no sentido amplo do ponto de vista político que garanta a sua legitimidade. Assim, a segunda expressão traz o poder público, sobre uma estruturação republicana que interliga os poderes e as responsabilidades na execução das políticas públicas, interligando aos direitos que estão em vigência, tornando-se desua importância para ultima expressão que denota aquilo que é socialmente relevante e que dependem da capacidade coletiva para a formação de agendas sociais. Dentre essas expressões, toda política pública depende a existência de um Estado, que tenha capacidade de responder a demandas sociais (responsiveness), da formalização e da institucionalização dos direitos de cidadania; e da existência de uma cultura política compatível com tais princípios. Em um expressivo esforço de sistematização e detalhamento de conceitos referentes ao Estado e a políticas públicas, Souza (2006) resgata as contribuições dos principais autores que se dedicaram ao estudo desses temas. Para a autora, Não existe uma única, nem melhor, definição sobre o que seja política pública. Mead (1995) a define como um campo dentro do estudo da política que analisa o governo à luz de grandes questões públicas e Lynn (1980), como um conjunto de ações do governo que irão produzir efeitos específicos. Peters (1986) segue o mesmo veio: política pública é a soma das atividades dos governos, que agem diretamente ou através de delegação, e que influenciam a vida dos cidadãos. Dye (1984) sintetiza a definição de política pública como “o que o governo escolhe fazer ou não fazer”. A definição mais conhecida continua sendo a de Laswell, ou seja, decisões e análises sobre política pública implicam responder às seguintes questões: quem ganha o quê, por quê e que diferença faz. (p. 24). Para tanto, a política pública se insere em uma modalidade, plenamente difundida em nossos dias, combina um grande aumento do número de intervenções do estado, no bojo das quais se desenvolve um conjunto de sistemas de informações sobre a vida econômica e social, que se combina com a constituição de um considerável acervo de técnicas de planejamento, e instrumentos legais de intervenção do ponto de vista de organização1. Percebemos que todas as políticas públicas acabam enfrentando dificuldades nos processos de gestão, colocando em evidência não só os obstáculos para articular programas sociais, as dificuldades para coordenar ações entre as diferentes políticas governamentais e delas com as organizações sociais, mas também as limitações dos recursos humanos, materiais e financeiros para garantir os direitos sociais. Embora a descentralização político-administrativa, 1 Torna-se importante frisar que estamos mencionando a organização, e não os processos de implementação e avaliação que podem gerar politicas públicas focalizadas, segmentadas, clientelistas etc. constituí ganho nos marcos constitucional, ainda, não temos uma cultura política para fazer que todas atinjam o seu desenho original. Assim, como conceituamos que as políticas públicas surgem para resolver determinadas demandas no contexto da sociedade, as políticas sociais seguem essa mesma conjuntura e se desenvolvem dos problemas estruturais e específicos decorrentes da própria estrutura econômica de classes da sociedade capitalista, baseada na valorização do capital privado e na exploração do trabalho assalariado livre. A especificidade das políticas sociais está em resolver o problema estrutural da transformação permanente da força de trabalho despossuída de suas condições de troca e, dos meios de subsistência em trabalho assalariado, ou seja, do problema estrutural da inserção da força de trabalho no mercado de trabalho capitalista. Os autores Offe e Lenhardt (1984) sustentaram essa tese quando acompanharam o desenvolvimento do capitalismo e suas crises cíclicas, denotando que desapropria periodicamente o trabalhador assalariado das suas condições de troca e, por extensão, dos seus meios de subsistência. Assim, a política social é, nesse sentido, uma estratégia de proletarização da força de trabalho, sendo fundamental para a transformação da força de trabalho despossuída dos meios de subsistência em trabalho assalariado ou para a sua integração nas relações de trabalho assalariado. Segundo Lindblom (1991) o conceito de política social tem um caráter evolutivo, que se define em razão de seus componentes históricos, devemos deixar claro que ele se refere às formas de proteção social desenvolvidas a partir da segunda metade do século XIX, embora sua aplicação possa ser referida a períodos anteriores. Sendo assim, ao longo da construção histórica percebemos que a própria dinâmica do funcionamento do capitalismo estabelece uma rotatividade de indivíduos no mercado formal de trabalho, gerando uma série de novas contradições sociais e, problemas para a gestão estatal da força de trabalho. Cabe ao Estado, no entanto, assistir institucionalmente as parcelas da população que não são absorvidas e que ainda não podem ser absorvidas pelo mercado de trabalho. As políticas sociais têm se constituído na forma como o Estado capitalista tem buscado responder à materialização das contradições entre capital e trabalho, compreendidas como questão social, ou seja, conjunto de desigualdades advindas do modo como à sociedade se organiza para produzir, demandando a intervenção do Estado. Entendemos que o objetivo das políticas sociais é compensar ou reduzir os efeitos danosos do processo produtivo expresso nas diversas expressões da questão social que encerram dupla funcionalidade na medida em que, por um lado asseguram a reprodução do capital e por outro incorporam algumas demandas dos trabalhadores, o que permite sua reprodução. Podemos pensar sendo um contrato social enquanto sociedade moderna, estabelecendo um compromisso Estado X Sociedade Civil. Segundo Silva (2012), um conjunto de determinações concorreu para que no início do século passado as políticas sociais se consolidassem e expandissem como direito social, dando destaque aos impactos da crise do capital em 1929 e as consequências da segunda guerra mundial exigindo grandes esforços de reconstrução, colocando em xeque o ideário liberal pautado na economia de mercado, exigindo a presença interventiva do Estado. No Brasil, as políticas sociais estão relacionadas diretamente as condições vivenciadas pelo País em níveis econômico, político e social. São vistas como mecanismos de manutenção da força de trabalho, em alguns momentos, em outros como “conquistas dos trabalhadores, ou como doação das elites dominantes, e ainda como instrumento de garantia do aumento da riqueza ou dos direitos do cidadão” (FALEIROS, 1991, P.8). Para a consolidação da teoria em torno das políticas sociais, o conceito de cidadania desenvolvido por T.H.Marshall (1967) também teve destaque. Esse conceito se baseia em que a sociedade capitalista tenderia a assegurar a todos os direitos de cidadania: direitos civis, políticos e sociais. Aos direitos civis compete garantir a vida em sociedade. Aos direitos políticos, a participação do cidadão no governo da sociedade através dos partidos e parlamento livre e representativo. Em relação aos direitos sociais, estes garantiriam a participação na riqueza coletiva, originando a redução das desigualdades no capitalismo a partir da ideia de justiça social. Na década de 1940, a incorporação da noção de seguridade social estabeleceu uma nova concepção para as políticas sociais pautadas no conceito de cidadania. Elas têm como suposto o caráter de redistribuição de renda, visando à equidade e a justiça social, consideradas assim, como “conjunto de políticas e ações de reprodução social dos indivíduos humanos”. (FALCÃO, 2008:111) Quadro 01: Tipologias da política social TIPOLOGIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS TIPOS DEFINIÇÃO EXEMPLO Políticas Distributivas. São políticas que alocam bens ou serviços a frações específicas da sociedade como: grupo de pessoas e/ ou segmentos sociais, localidades,regiões dentre outros. Podem relacionar-se ao exercício de direitos, ou não, também podem ser assistencialistas, clientelistas Ex.: Implementação de bens públicos como hospitais e escolas, construção de pontes e estradas, revitalização de áreas urbanas, salário-desemprego, benefícios de prestação continuada, programas de ou não. transferência de renda mínima, subsídios a empreendimentos econômicos, etc.; Políticas Redistributiva São políticas que distribuem bens ou serviços a segmentos particularizados da população por intermédio de recursos oriundos de outros grupos específicos ou do próprio Estado. São conflituosas e nem sempre virtuosas. Ex.: reforma agrária, distribuição de royalties do petróleo, política de transferência de recursos inter-regionais, política tributária, etc.; Políticas Regulatórias São políticas obrigatórias, são oriundas de regulamentações simples e operacionais, podendo ser de grande abrangência. Seus custos e benefícios podem ser disseminados equilibradamente ou podem privilegiar interesses restritos, a depender dos recursos de poder dos atores abarcados. . Ex.: Código de Trânsito, Lei de Eficiência Energética, Código Florestal, Legislação Trabalhista, etc.; Políticas Constitutivas ou São políticas que consolidam as regras do jogo político. São as normas e os procedimentos Regras constitucionais diversas, regimentos das Casas Legislativas e Estruturadoras sobre as quais devem ser formuladas e implementadas as demais políticas públicas do Congresso Nacional, etc. Politicas Universais São políticas que abrangem toda a população ou de quem necessitar Politica de saúde, assistência social, educação. Politicas segmentais São políticas aquelas que caracterizam um fator determinado como idade, condição física, gênero. Política para mulheres, idosos, cotas etc Políticas Fragmentadas São aquelas designadas a grupos específicos dentro de cada segmento da sociedade, e que não se articulam com outras para transformação social de grupos e indivíduos. Política de Erradicação do Trabalho Infantil etc. Políticas de Estado São políticas que visam visam garantir o exercício da cidadania, a ordem interna, a defesa externa e as condições essenciais à soberania nacional. Política de direitos humanos, segurança pública, defesa, relações exteriores, etc. Políticas de Infraestrutura São políticas dedicadas a assegurar as condições para a implementação e a consecução dos objetivos das políticas econômicas e sociais. Política de transporte rodoviário, hidroviário, ferroviário, marítimo e aéreo energia elétrica; combustíveis; petróleo e gás; gestão estratégica da geologia, mineração e transformação mineral; oferta de água; gestão de riscos e resposta a desastres; comunicações; saneamento básico; mobilidade urbana e trânsito, etc.; Políticas Econômicas: São políticas cujo intuito é a gestão da economia interna e a promoção da inserção do país na economia externa. Política monetária, cabial, fiscal, agrícola, industrial, comércio exterior, etc.; Fonte: Elaboração própria, definida em várias literaturas. a) Mesmos com tantos tipos de políticas públicas, alguns problemas são identificados nos seus processos de desenvolvimento na atualidade como: b) Os problemas estruturais gerados pela própria dinâmica do desenvolvimento capitalista e, por conseguinte, as novas demandas do capital; c) Os problemas e as demandas da classe trabalhadora e sua desarticulação provocados pelas crises e aumento constante do desemprego; d) As dificuldades concretas que se apresentam nas diferentes conjunturas políticas para os Poderes Públicos assegurarem as suas fontes de poder, advindas da acumulação privada do capital e da legitimidade política; e e) Os problemas inerentes à lógica de funcionamento das agências estatais, cujas manifestações concretas podem ser percebidas nos fenômenos políticos da “concentração de recursos” e da “centralização de decisões” em determinadas agências estatais, nas “resistências políticas” e nos “entraves burocráticos”, inerentes ao funcionamento do Estado, tais como o sigilo e a sonegação de informações, dentre outros, e também nas “crises fiscais” e escassez de recursos. f) Assim, essas vertentes pressupõem a fragmentação de políticas públicas que pode ajudar a identificar fatores e, condições sob as quais as políticas de gestão pública se tornam mais eficientes, eficazes e efetivas. Uma das formas concretas para a superação das ações fragmentadas seria o fortalecimento do processo de descentralização, que de acordo com Perissinotto (2004) é a transferência da responsabilidade decisória para as unidades subnacionais (estados e municípios), e o viés claramente participativo que, a partir daquele momento, deveria caracterizar o processo decisório. De acordo com Farah (2011), as políticas públicas foram descentralizadas para atingir seus objetivos e metas, mas para muitas ações ela vem sendo considerada “um fim do processo”, não sendo implementadas e, não tendo uma organização nos eixos propostos.. Um dos desafios difundidos por Meirelles (2011) refere-se que no Brasil, as esferas locais, ainda não conseguiram se desvincular das outras instituições governamentais na execução das políticas públicas. Assim, Souza (2015), destaca o poder local seria um importante elo de articulação das politicas sociais, pois compreendem a relação dicotômica entre as demandas territoriais, e constitui de indicadores para intervir na realidade, além, de estabelecer suas próprias leis e gerenciar suas políticas. O processo de descentralização das políticas públicas, é visto como meio de impactar fortemente as estruturas tradicionais do poder local, causadas pelas diferenças geopolítica do Brasil, com grandes práticas interligadas ao clientelismo, e pela pouca capacidade de renovação de suas elites políticas. Vários estudos tem pontuado que uma das falácias para improbabilidade administrativa das políticas está no financiamento, embora, Souza (2009) aponte que existem disparidades regionais, que agregam as pequenas municipalidades, com populações entre 10.000 e 20.000 habitantes, fatores que podem estar relacionados ao poder econômico da população, impedindo aumento das receitas próprias locais. No quadro abaixo, apontamos os tipos de arrecadações municipais de acordo com a constituição federal de 1988 para ilustração. Quadro 3: Arrecadações e transferências ARRECADAÇÕES Transferências de recursos diretos da União e estados para os municípios Transferências da União direta para os municípios Arrecadações municipais - 100% do Imposto sobre Renda e Proventos que os Municípios retêm na fonte sobre rendimentos pagos a qualquer título, por eles, suas autarquias e fundações; - 50% do ITR (Imposto Territorial Rural) arrecadado dos imóveis situados no Município ou 100%, caso o município opte por arrecadar e fiscalizar o tributo; - 50% do IPVA dos - 22,5% do produto de arrecadação do Imposto sobre Renda e do IPI ao Fundo de Participação dos Municípios (FPM), distribuídos proporcionalmente à população de cada município, sendo 10% do fundo destinados às capitais dos Estados; - 2,5% (25 de 10%) do Fundo de Compensação de Exportações (FPEx) destinado aos Estados, formado por 10% da arrecadação do IPI, obedecidos os mesmos critérios de distribuição -Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS); - Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU); - Imposto sobre a Transmissão InterVivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição (ITBI); veículos licenciados no território do município; - 70% do IOF para o município de origem da produção do ouro, definido como ativo financeiro ou instrumento cambial; - 25% do ICMS, creditados aos Municípios, conforme os seguintes critérios: - ¾ no mínimo, na proporção do valor adicionado nas operações relativas à circulação de mercadorias e nas prestações de serviços realizadas no território do Município; - Até ¼ de acordo com o que dispuser a lei estadual, ou, no caso dos territórios, lei federal; -25% do que é repassado aos Estados da Contribuição de estabelecidos no caso de repasse do ICMS. -Contribuição cobrada de seus servidores para ao custeio, em benefícios destes, de sistema de previdência e Assistência Social (art. 149, parágrafo único da CF/88). Intervenção no Domínio Econômico incidente sobre importação de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível. Fonte: Constituição federal 1988 Como foi demonstrado no quadro acima a C.F 88, alocou aos municípios o direito de tributar bens e serviços, cujo fato gerador decorre principalmente do ambiente urbano, o que privilegia os de maior porte demográfico. No que se refere às transferências estaduais, via ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação), os municípios de pequeno porte também são penalizados, visto que essas transferências são calculadas de acordo com o volume arrecadado em cada município. Tais limitações são parcialmente compensadas pelas transferências federais via o Fundo de Participação dos Municípios – FPM. (SOUZA, 2009) Neste sentido, a gestão local deveria apropriar-se dos mecanismos de gerenciamento das políticas públicas que, de acordo com Fleury (2003, p10), poderiam superar as fragmentações nas políticas sociais. São eles: • A criação de espaços públicos de representação e negociação, assumindo como prioridade o gerenciamento dos conflitos; • A combinação de modalidades de representação e participação direta na co-gestão pública; • O desenvolvimento de tecnologias gerenciais capazes de canalizar as demandas sociais, propiciar a geração de consensos e permitir o planejamento, controle e coordenação em um contexto não tecnocrático; • Estabelecimentos de mecanismos, regras e sistemas de prioridades claramente conhecidos e acordados; • Mecanismos e instrumentos de comunicação e publicidade da ação pública capaz de difundir a proposta, gerar adesão e mobilização e permitir o controle social; • Formas de valorização e capacitação dos servidores públicos conjugados ao seu envolvimento com a redefinição da missão institucional e com as novas formas de relacionamento com a sociedade; • Institucionalização da liderança carismática através de processos inovadores de trabalho envolvendo construção de equipes e reconfiguração da divisão técnica e social do trabalho; • Mecanismos de transmissão do saber técnico à comunidade e às instituições locais, ao mesmo tempo em que se propicia a valorização dos saberes ali existentes; • Reconstrução das identidades coletivas de todos os atores envolvidos em um processo que pressupõe a alteridade; • Construção de coalizões políticas e canais institucionais que permitam estabilidade e continuidade; • Flexibilidade e capacidades de adaptação dos princípios gerais das políticas às realidades específicas, considerando suas potencialidades e limitações; • Redesenho das relações entre governo central e local, entre governo e comunidade, entre governo e setor privado; e • Desenvolvimento de capacidade de gestão de estruturas plurais e policêntricas na condução das políticas públicas. • Outro mecanismo apontando por Pinheiros e Matos (2001) que podem superar aas fragmentações é a dimensão da integralidade, que reconhece os fatores socioeconômicos, políticos e culturais como determinantes da proteção social e, principalmente, sugerindo um modelo de atenção a todas as pessoas acessam as políticas. A Intersetorialidade2 refere-se à exigência de articulação de diversas áreas no âmbito de cada uma das três esferas da Administração Pública. Assim, de acordo com Sposati (2008), supõe princípios de gestão que precisam ser combinados e uma estratégia que garanta a democracia e os direitos sociais; implica uma organização hierarquizada de serviços por níveis de proteção social; além disso, prevê modalidades diferenciadas de benefícios e a perspectiva de vincular beneficiários a serviços, permitindo a completude do processo protetivo. Boa parte da literatura sobre políticas sociais no Brasil tem salientado que, nas duas últimas décadas, alterações significativas têm sido introduzidas no formato organizacional do padrão de intervenção estatal no campo social. Ainda que as análises se diferenciem quanto às dimensões de abordagem da questão e aos rumos e efeitos produzidos por tais alterações, é consensual na literatura o reconhecimento de que mudanças importantes na estrutura do Estado e no padrão de intervenção pública têm remodelado as políticas sociais brasileiras. (...) Diante desse quadro, o desenvolvimento de ações intersetoriais tem sido destacado como diretriz operacional de diversas políticas públicas de corte social. Os argumentos em defesa da intersetorialidade passam tanto pela necessidade de racionalizar e maximizar o uso dos recursos quanto pela busca de maior efetividade às ações desenvolvidas. (SENNA, 2013, P. 33). Nestes termos, o desafio posto é a implementação da intersetorialidade como uma estratégia alternativa de gestão social, que necessita de uma integração entre as políticas públicas, portanto da construção de diálogos institucionais. Isto é, trata-se de reconhecer a intersetorialidade como fundamental para atuar sobre os problemas estruturais da sociedade brasileira. Para tanto, torna-se 2 A intersetorialidade não se confunde com integralidade, sendo, entretanto, considerada como uma das dimensões da mesma. Justifica-se o trato diferenciado por ser um aspecto fundamental na operacionalização das políticas de proteção social. necessário que o modelo tradicional de gestão pública seja superado como é demonstrado no quadro abaixo: Quadro 04: Modelos de gestão pública MODELOS DE GESTÃO PÚBLICA Modelo tradicional Modelo alternativo Public Management New Public Management Tecnocracia Tecnodemocracia Centralização Descentralização Concentração Desconcentração Democracia Representativa Democracia representativa e participativa Princípio básico da legalidade (princípio do direito) Princípio básico da legalidade e da legitimidade (princípio da negociação política) Estrutura hierárquica vertical Estrutura hierárquica vertical e horizontal baseada na coordenação de redes O Estado empreendedor Setor público (in)capaz – ator principal O Estado empreendedor e negociador Setor público responsável – um ator dentre outros: contrato público/privado/parcerias Noção de serviço público estatal Noção de serviço público estatal e de serviço público não-estatal Fonte: Elaboração própria, retirada de várias literaturas. Isto significa entender as políticas sociais brasileiras recentes não apenas no ciclo de reformas que deu origem a elas, o da mobilização democrática dos anos 1980, mas no ciclo da contrarreforma caracterizado por Behring (2003), quando, na segunda metade dos anos 90,fortalecia-se a institucionalidade democrática e um ajuste econômico procurava dar conta da escassez de recursos públicos com limitação da capacidade de resposta do Estado às demandas na área social. Outra forma de articulação das políticas sociais que está garantindo resultados satisfatórios são as redes sociais. Oliveira (2004) destaca a organização de uma rede3 de política social enquanto mecanismos para a gestão pública propondo uma ação conjunta entre o Estado e a sociedade, assim, esse conceito oi difundido hermeticamente na implantação de um novo modelo de política estruturalista conhecida mundialmente como “policy networks”. Segundo Ferrari (2007), as redes de políticas públicas assumem processos nos subsistemas políticos que são controlados por diversos atores sociais, tanto de instituições públicas, quanto privadas. As redes de políticas públicas tem por finalidade a promoção de planos multidimensionais integrados de base territorial, visando favorecer a articulação das políticas de âmbito nacional aos problemas e necessidades locais, fomentada pela mobilização e coordenação das diversas instituições componentes da rede, assim como, dos usuários dos programas e projetos e serviços numa lógica de “empoderamento”. 3Um dos conceitos mais utilizados para definição de rede é mencionado por Castells (2002), “a rede é um conjunto de nós interligados, sendo estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar dentro da rede, nomeadamente, desde que partilhem os mesmos códigos. Essa definição de Castelss (2002) pode ser aplicada para as redes estruturadas pela tecnologia, quanto a que trabalhamos nesse artigo de redes territorializadas. De acordo com Vieira (2004), a organização redes sociais na estruturação das políticas sociais podem superar as lacunas dos programas descontínuos, fragmentados, incompletos e seletivos, com atuação dispersa, sem planejamento, esbanjando esforços e recursos oferecidos pelo Estado, sem controle da sociedade. Assim, apontamos na tabela abaixo, alguns elementos fundamentais para o desenvolvimento das redes sociais nas políticas públicas. Tabela 01: Elementos fundamentais para redes sociais em políticas públicas. Elementos fundamentais Operacionalização Descentralização O princípio da descentralização nas redes de políticas sociais, requer a transferência de poder, dos entes federados, com serviços públicos que materializem os princípios democráticos como a universalização. Controle social A incorporação de usuários das instituições pertencentes às redes sociais, tanto públicas como privadas no planejamento das ações. Objetivos compartilhados Todas as instituições membros das redes sociais de politicas públicas devem ter seus objetivos definidos que sejam comuns entre si, assim como as orientações, pactuações, princípios e diretrizes . Intersetorialidade entre as políticas publicas A intersetorialidade constitui como um dos elementos centrais para a formação das redes, pois tem a possibilidade de superação de práticas fragmentárias ou sobrepostas na relação com os usuários de serviços estatais, ou mesmo de serviços ofertados por organizações privadas, fazendo com que as demandas dos usuários sejam atendidas no princípio da totalidade. Fonte: Elaboração própria. Nesta premissa é fundamental e necessário que os articuladores das políticas setoriais, saúde, educação, assistência social, habitação, cultura entre outras, tenham diversas práticas profissionais interdisciplinares e se articulem através de diferentes serviços e instituições. (MIOTO E NOGUEIRA, 2006, P. 8). Trata- se fundamentalmente de superar as estruturas verticais e setoriais que historicamente a administração pública se apresenta, e os determinantes políticos e institucionais que determinam a alocação de recursos financeiros e humanos e a hierarquia entre os setores e a não participação efetiva da sociedade na discussão, elaboração e avaliação das políticas. Planejamento, Avaliação e Monitoramento das politicas públicas. O acompanhamento das políticas públicas sociais torna-se imprescindível, e deveria ser uma prática realizada constantemente dentro da gestão pública para todas as políticas, no sentido de verificar o real atendimento das necessidades da população, promovendo a transparência e o uso adequado dos recursos públicos. A partir da década de 90, com o aumento dos programas e projetos sociais a avaliação, planejamento e o monitoramento ganharam uma nova roupagem sendo um instrumento essencial de democratização das políticas sociais públicas. De acordo com Arretche (1998, p. 37 ) “a produção e divulgação de avaliações rigorosas, tecnicamente bem feitas, permitem o exercício de um importante direito democrático: o controle sobre as ações de governo”. O planejamento das políticas públicas é denotada como uma ferramenta administrativa, que possibilita aos gestores e formuladores captarem aspectos da realidade e construir propostas de intervenções junto a demanda da população e/ou de segmentos interessados em uma determinada proposta. De acordo com Oliveira (2006) planejamento sempre foi confundido como uma questão de fazer planos, delegar responsabilidades, se necessário passar leis e determinar o orçamento. O planejamento no Brasil sempre esteve ligado à elaboração de planos e a ideia de controle das políticas públicas, assim, podemos verificar ao longo da história da constituição das políticas, planos, que continuam sendo elaborados: trienais, decenais, econômicos, plurianuais, de desenvolvimento, regionais, diretores etc. Deste modo, a concepção difundida do planejamento prolongado para as políticas sociais foi introduzido pelas limitações do processo, e assim, promover um planejamento prologado para avançar pouco a pouco nas decisões e ações, e com isso lidar com situações muitas vezes inesperadas e imprevisíveis. Segundo Baptista (2009), o planejamento será a fase que irá definir os objetivos da política pública a serem seguidos e como alcançá-los. Na organização será a fase de desenho do trabalho e alocação dos recursos existentes, nesta fase haverá também a coordenação do trabalho. Na direção as pessoas deverão ser designadas a suas respectivas funções, além de serem motivadas e lideradas neste processo e, por fim, no controle deverão ser monitoradas as atividades assim como corrigidos os desvios que podem ter ocorrido do objetivo inicial. No planejamento, existem três tipos de planejamento que podem compor uma política pública: O planejamento estratégico, que abrange toda a organização; O planejamento tático, que abrange cada departamento da organização; E o planejamento operacional, que abrange especificamente cada tarefa. No quadro abaixo, especificamos as etapas de formulação de uma política pública que abrangem as etapas dos planejamentos citados acima: Quadro 05: Etapas de formulação da política social ETAPAS DE FORMULAÇÃO DA POLÍTICA SOCIAL PROCESSO DEFINIÇÃO MECANISMOS ARENAS Em primeiro lugar, podemos dizer que a arena pública se refere, - Definições de situações problemáticas, antes de tudo, à forma da participação e da mobilização em uma ação coletiva. É um quadro analítico a partir do qual podemos realizar um “trabalho de significação” da mobilização coletiva e do envolvimento dos atores participantes. Em segundo lugar, existem as arenas de negociação que fornecessem o respaldo necessário às ações estatais, e para apontar as especificidades para as agendas governamentais. - elaborar programas de ação - .As negociações parecem contingências de condições estruturais específicas: quem negocia com quem,quando e sobre o quê. - Os produtos da negociação (contratos, acordos ou regras) possuem limites temporais, no sentido de que podem ser revisados, reavaliados ou renovados (des collectifs.) -da ação coletiva; das pautas ou agendamentos midiáticos (ou melhor, da mise en agenda médiatique); dos estados da opinião pública; de dispositivos da ação pública. . AGENDAS Um estado de coisas geralmente se transforma em problema político quando mobiliza ação política . Para que uma situação ou estado de coisas se torne um problema político e passe a figurar como um item prioritário da agenda governamental é necessário que - mobilize ação política: seja ação coletiva de grandes grupos, seja ação coletiva de pequenos grupos dotados de fortes recursos de poder, seja ação de atores apresente pelo menos uma das seguintes características: . individuais estrategicamente situados; - constitua uma situação de crise, calamidade ou catástrofe, de maneira que o ônus de não resolver o problema seja maior que o ônus de resolvê-lo; - constitua uma situação de oportunidade, ou seja, haja vantagens, antevistas por algum ator relevante, a serem obtidas com o tratamento daquele problema FORMULAÇÃO DA POLÍTICA Concerne à fase de decisão de quais ações públicas vão ser desenvolvidas para resolução do problema em questão, deste modo elaborando o programa com sua fundamentação teórica (objetivos) e perspectiva metodológica assim como o público a qual o programa se direcionará (público-alvo). O campo da formulação é permeado por disputa politica e ideológica por isso se faz necessário se utilizar de alianças (negociações) entre os diversos atores sociais envolvidos no processo para que os diferentes interesses sejam comtemplados (apesar de não abarcar todos os interesses, dada à diversidade de atores sociais e concepções política-ideológica envolvidas no processo). IMPLEMENTAÇÃO O processo de implementação de uma política constitui uma fases do policy cycle. Corresponde a fase de execução das atividades que permitam que as ações sejam implementadas. Tal consecução depende de alguns aspectos como: o entendimento dos agentes implementadores da política, recursos financeiros, estratégias, condições politicas, condições ideológicas e condições materiais. - ações - programas -projetos -serviços IMPLANTAÇÃO O processo de implementação consiste em ser de suma importância, pois o mesmo tem poder decisivo no desenho (de fato) que o programa foi pensado, podendo distanciar os objetivos de sua real prática. Sendo o recurso de poder (alianças) imprescindível para que o programa seja desempenhado assim como foi proposto. -Execução dos programas, projetos e serviços. - Avaliações - Continuidade ou mudanças das ações. Fonte: Elaboração própria. No quadro acima não especificamos o processo de avaliação, que para Baptista (2003) é uma ação presente dialeticamente em todo processo de planejamento das políticas públicas, ou seja, quando se começa a ação planejada, inicia-se concomitantemente sua avaliação [...]. Não é, portanto, o seu momento final, mas aquele em que o processo ascende a outro patamar, reconstruindo dinamicamente seu objeto, objetivos e procedimentos (P. 113). Assim, pois – e sempre como uma primeira aproximação – podemos dizer que avaliar é uma forma de estimar, apreciar, calcular. Em sentido lato, a palavra avaliação se refere ao termo valor e supõe um juízo sobre algo. Em outras palavras, a avaliação é um processo que consiste em emitir um juízo de valor. Trata-se, pois, de um juízo que envolve uma avaliação ou estimação de “‘algo” (objeto, situação ou processo), de acordo com determinados critérios de valor com que se emite o juízo. (AGUILAR; ANDER-EGG, 1994, p. 17-18). As avaliações nas políticas públicas podem: a) Detectar em uma determinada situação incongruente dos processos de implementação e implantação de uma política b) Modificar as ações para o sucesso da política, assim como, impactar a vida dos usuários que buscam o acesso c) Verificar os acertos e a continuidade de programas, projetos e serviços. Considerando que as políticas públicas podem designar tanto o conjunto de ações, que expressam a orientação estratégica e a política do Estado em atividades diretas de produção de bens e serviços pelas esferas administrativas governamentais, assim como, as atividades de regulação de outros agentes econômicos. Para Weiss (2008, p.23) a “avaliação tem o efeito de analisar o conjunto de ações visando à melhoria das atividades de produção de bens e serviços pelo próprio Estado”. Segundo Mokate (1998), o processo de avaliação de políticas públicas possui mecanismos e ferramentas específicas instituídas por cada avaliador no desenvolvimento da pesquisa. Quando as tipologias Cano (2006) apresenta dois tipos mais utilizados que são as avaliações de processo e de impacto. Segundo o autor, avaliação de processo tenta averiguar em que medida um programa foi (ou está sendo) implementado/implantado conforme o plano previsto originalmente. O segundo tipo, por sua vez, tenta verificar se o impacto desejado foi atingido. Tanto a avaliação dos impactos, quanto a de processos de políticas públicas oferece significativas dificuldades para estabelecer relações causais entre as políticas e as mudanças sociais; para identificar e caracterizar os impactos; e também para averiguar a proporção entre o que é resultado das políticas ou de outros fatores. Por isso, os impactos não podem ser rigorosamente quantificáveis, mas a sua análise pode sempre contribuir para entender os modos de intervenção do Estado, as suas alianças políticas, os seus conflitos sociais, bem como as consequências gerais das políticas. É possível que essas duas dimensões tenham resultados distintos, ainda que elas sejam interdependentes. Por outro lado, as avaliações de impacto devem ser quase sempre complementadas de avaliações de processo. Isso ocorre devido à necessidade de compreender se determinado resultado deficiente pode ser atribuído a dificuldades de implementação e/ou de não eficácia na intervenção. Outro aspecto importante aos mecanismo de avaliação é o monitoramento que de acordo com Vaitsman (2006) é uma atividade sistemática e contínua, efetuada durante a execução de determinada atividade, tendo por finalidade a produção de dados que subsidiem a análise dos envolvidos no processo de tomada de decisões atinentes ao planejamento de ações vinculadas à: a) Gestão de diferentes modalidades de intervenção social e/ou de políticas e programas sociais; b) Melhoria da função gerencial; c) Garantia da eficiência, eficácia e efetividade social das ações desenvolvidas; d) Organização das informações sobre uma política ou um programa, constituindo-se em fonte de consulta. De acordo com Tapajós (2013), a avaliação e monitoramento do planejamento constituem-se em processo de análise do alcance das metas propostas frente aos objetivos definidos. Esse processo, deve se dar periodicamente, com base nos dados obtidos no monitoramento sistemático, que gerará relatórios, e orientações técnicas das metas acompanhadas, constituindo-se no elemento fundamental para instrumentalizar as decisões do gestor quanto às intervenções e medidas necessárias para o desenvolvimento das políticas públicas. O contexto histórico da cidadania e participação popular no cenário brasileiro A conquista de direitos no Brasil não seguiu as teses de Marshall (1949) que apresentou seu modelo baseado no estudo da Inglaterra, onde os cidadãos teriam garantidos primeiro os direitos civis, passariam a lutar por direitos políticose, consequentemente, conquistariam direitos sociais. Possuímos longos períodos de direitos sociais, desacompanhados de direitos políticos e civis. Mediante o escopo defendido por Marshall, para que haja a concretização desses conjuntos de direitos, contudo, precisam existir quadros institucionais específicos, como assistência jurídica, garantias constitucionais e serviços sociais, no bojo do aparelho estatal. No caso brasileiro, vislumbramos que as garantias constitucionais no contexto histórico atual não foram suficientes para promover o patamar de cidadania e acesso igualitário aos direitos. Ao analisar os marcos históricos que articulam o movimento de alargamento da cidadania burguesa na sociedade brasileira podemos perceber que o processo de democratização da esfera pública, define-se como um processo em construção, o que significa que tanto o seu conteúdo quanto o seu significado podem e devem ser alterados no decorrer do processo histórico pelos enfrentamentos entre as classes sociais. Nesse sentido, a primeira análise a ser realizada ao conceito de cidadania refere-se à intervenção estatal que se efetiva como direito a partir da década de 1930 para certas categorias profissionais incluídas em um sistema de seguro social, conhecida como “cidadania regulada”4 e vai se expandindo ao longo das décadas, caracterizando um sistema hierarquizado e desigual de benefícios e serviços, conforme a inserção dos trabalhadores no mercado e suas diferentes formas de pressão para garantia de direitos. A constituição da cidadania no contexto da história política brasileira, pouco se avançou na constituição de um Estado democrático de direitos, em que se estabelecessem relações entre Estado e sociedade que rompessem com padrões assistencialistas, clientelistas e paternalistas, sendo constituída nas balizas dos sistemas de condições do modo de produção capitalista. A partir da década de 1960, o modelo de desenvolvimento do capitalismo começou a dar sinais de crise, quando as economias centrais começam a apresentar declínio de seu crescimento, evidenciando o início da saturação daquele padrão de acumulação, que afetaram os padrões de cidadania, com o aumento da informalidade e de desemprego da população brasileira. Quanto à participação da população, não se pode negar a sua participação em episódios importantes da política, como algumas revoltas e manifestações por ampliação dos direitos, principalmente os civis e políticos, em momentos distintos do processo histórico da formação da sociedade e do Estado brasileiro. Carvalho (2002), apesar de apontar a inexpressiva participação da população nos processos políticos do Brasil, também não refuta sua existência. O que se 4“Por cidadania regulada entendo o conceito de cidadania cujas raízes encontram-se, não em um código de valores políticos, mas em um sistema de estratificação ocupacional, e que, ademais, tal sistema de estratificação ocupacional é definido por norma legal. Em outras palavras são cidadãos todos aqueles membros da comunidade que se encontram localizados em qualquer uma das ocupações reconhecidas e definidas em lei” (SANTOS, 1979, P. 75). chama atenção é para a inexistência de uma cultura cívica e cidadã, que conforma um Estado autoritário e a permanência de um grupo dominante da elite que o influencia aos seus próprios interesses, com pouquíssima (ou nenhuma, contando os grandes períodos de ditaduras no país) abertura à participação popular. Nas últimas décadas no Brasil, houve significativamente a ampliação do debate sobre as políticas sociais, permeadas no contexto das lutas pela democratização do Estado e da sociedade. Desde o início da década de 1980 é possível observar mudanças decorrentes da atuação de novos interlocutores no campo das políticas sociais, que engendram ao cenário político inflexões importantes intrinsicamente relacionadas à participação de segmentos organizados da sociedade civil na formulação, gestão e controle social das políticas públicas. Nesse sentido, ao analisar algumas das questões que envolvem a construção democrática no Brasil através da participação da sociedade civil, podemos observar sua ampliação no aparelho estatal nas últimas décadas, que expandiu as condições para o exercício de cidadania, principalmente através da institucionalização dos conselhos. Somente no final da década de 1980, a partir do movimento de redemocratização e da Constituinte, e da busca dos movimentos sociais por maior participação nas políticas públicas e no controle social que se inicia na década anterior, é que algumas políticas sociais (Previdência Social, Assistência Social e Saúde) foram incluídas em um sistema de Seguridade Social constando na Constituição Federal, no capítulo da Ordem Social, o que representa um marco legal e normativo para os direitos sociais no país. A Constituição Federal de 1988 instituiu mecanismos de controle social e participação popular (conselhos paritários entre representação governamental e não governamental, fóruns, conferências) na formulação e implementação das políticas sociais, o que representa uma possibilidade de ampliação dos espaços democráticos, num país em que ainda pesam práticas clientelistas por parte dos governantes, uma baixa participação da população nas ações do Estado, sem contar as altas taxas de pobreza, exclusão e desigualdade que assolam o país e influenciam nas possibilidades de uma divisão real do poder nas relações sociais. Para o público que historicamente foi alvo da política social, este quadro é imperativo. Famílias e indivíduos que não possuem acesso às políticas sociais setoriais, não possuem suas necessidades básicas garantidas, precisam lutar pela sobrevivência e evitar riscos como problemas individuais, dificilmente conseguem vocalizar suas demandas em espaços instituídos como os Conselhos. São necessidades imediatas que precisam ser atendidas, o que dificulta a inserção em espaços de participação e controle social. Enfatizando na condição de cidadania como parte do desenvolvimento com direitos, a CEPAL identifica a pobreza como uma condição que vai além do nível socioeconômico e de falta de acesso mínimo ao suprimento das necessidades básicas, afirmando que ser pobre ou excluído é, sobretudo, carência de cidadania ou condição pré-cidadã, na medida em que se nega a titularidade de direitos sociais e de participação (FLEURY, 2009, P. 16). Esses mecanismos de participação e controle social da sociedade, a exemplo dos conselhos, fóruns e conferências, além da ação do Ministério Público para se fazer cumprir as leis e os cidadãos terem seus direitos respeitados, Labra (2007) denomina como um sistema de accountability social que tem se formado no país. Figura 01: Ciclos da participação popular Fonte: Elaboração própria. A participação popular e o controle social estão previstos na Constituição Federal, mas estes têm sido considerados grandes desafios. Uma das questões cruciais para uma análise macrossocial destes entraves é o projeto neoliberal que tensiona a configuração e o papel do Estado e das políticas públicas. Desde a década de 1990, temos presenciado um reforço da mercantilização dos serviços sociais, sendo a previdência social e a saúde grandes exemplos deste movimento. Com isto, diminui-se o poder de articulação da população em torno da reivindicação de seus direitos, pois no mercado, as ações não são de caráter coletivo e sim individual, principalmente pelas vias judiciais do direito do consumidor (e não do cidadão). Além disso, na história política e social brasileira, há algumas lacunas em que a população pode experimentar a participação, mas há longos períodos ditatoriais que ainda hoje influenciam e contribuem para permanênciade mecanismos enraizados nas instituições e práticas sociais que resistem à transformação para uma participação cívica e cidadã. A característica patrimonialista do Estado brasileiro e a má distribuição de recursos públicos através da barganha e de favores (Fleury, s/d), convivem com noticiários diários de corrupção e desvio de verbas públicas pelos governantes e representantes dos grupos dominantes, o que também determina que se desacredite na instituição do Estado, tanto no Judiciário, que além da morosidade nas resoluções dos conflitos ainda aparece como participante dos esquemas de corrupção, além do Executivo e do Legislativo, e nos partidos políticos. Neste quadro, por vezes desanimador, torna-se difícil acreditar no potencial transformador de espaços públicos institucionalizados para ampliação e consolidação de práticas democráticas. Por isso, precisa-se garantir pesquisas no nível microssocial para acompanhar as possíveis mudanças e verificar estudos de casos exitosos de novas práticas de gestão compartilhada entre Estado e sociedade. Um dos avanços do controle social no Brasil refere-se aos novos mecanismos instituídos através da sociedade como agente central nas arenas de decisões, enfatizando os valores democráticos, a participação passou também a ser vista como instrumento de governabilidade, um conceito mais amplo que o de governo, que ainda possui lacunas de interesses no bojo das instituições públicas e privadas principalmente nas esferas municipais. Destacamos que a partir da Constituição Federal de 1988 houve a disseminação de conselhos nos municípios do país, mas também é importante frisar que ao mesmo tempo em que obteve a incorporação generalizada da participação, isso não significa que estejam sendo criadas as condições necessárias para o seu exercício efetivo, dada a diversidade econômica, social e política no plano local, principalmente quanto à capacidade financeira e técnica da administração e à existência de organizações sociais com capacidade de representar os interesses sociais. (SANTOS, 2002). Defende-se que a qualidade das políticas sociais tem sua interlocução com os conselhos, quando em sua efetiva atuação é possível dar maior transparência à gestão dos recursos aplicados em políticas públicas locais e possibilitar que a sociedade civil organizada interfira no processo de planejamento e execução destas políticas. Os conselhos foram amplamente difundidos a partir da Constituição Brasileira de 1988, e constituem canais de participação e representação das organizações sociais na gestão de políticas públicas específicas. Obrigatórios por lei federal em diversos setores (saúde, educação, criança e adolescente, assistência social e trabalho), os conselhos municipais se diferenciam de acordo com o município: i) pelo poder de decisão deliberativo ou consultivo; ii) pelos critérios de representação dos diferentes segmentos sociais, amplos ou restritos; e iii) pela dinâmica e pelas condições de seu funcionamento, isto é, os instrumentos e a estrutura à sua disposição. Nesse sentido entendemos que os conselhos municipais são a maior expressão da instituição, pelo menos no plano legal, do modelo de governança democrática no âmbito local. (SANTOS, Jr.; RIBEIRO; AZEVEDO, 2004, P. 21). Cabe destacar que os conselhos de políticas públicas no Brasil são compostos paritariamente, e que a participação da sociedade civil de forma voluntária, apontam contrastes com outros níveis de participação como os representantes governamentais que são remunerados, empresas que tem interesses econômicos em determinadas políticas, instituições filantrópicas e conveniadas, dentre outros. Dagnino levanta algumas questões sobre os conselhos em uma pesquisa de estudos de casos, e demonstra que o processo de participação da sociedade civil nestes espaços públicos para construção democrática, longe de ser homogêneo, não é linear, mas contraditório e fragmentado (DAGNINO, 2002, P. 279). A autora mostra que a possibilidade de consenso entre representantes do governo e da sociedade civil aparece conforme compartilham projetos ou ao contrário, aumenta-se a tensão e o conflito. A partilha do poder é o alvo de maiores conflitos, o que se percebe ainda por práticas autoritárias e conservadoras, seja por parte das representações governamentais, que detém mais conhecimento ou na própria representação da sociedade civil, que reproduz a hierarquização e desigualdade nas relações de poder, entre instituições com mais “status”, mais próximas aos interesses governamentais, mais especializadas na temática da política, etc. Labra (2007) ainda inclui a dicotomia entre consulta versus deliberação nos papéis dos conselhos, pois muitos governos se recusam a compartilhar o poder de deliberação das políticas, transformando os conselhos em meros espaços consultivos ou pior, somente de aprovação e legitimação das contas e gastos públicos. Se por um lado existem dificuldades na abertura democrática por parte da estrutura burocrática, política, ideológica e cultural do Estado, na sociedade civil também se encontram os mesmos elementos. O principal deles é apontado por Dagnino pela falta de qualificação técnica e política de participação nestes novos espaços. Entender um orçamento, uma planilha de custos, opções de tratamento médico, diferentes materiais de construção, técnicas de despoluição dos rios, há uma infindável lista de conhecimentos exigidos nos vários espaços de atuação. Além desse, um outro tipo de qualificação se impõe, o que diz respeito ao conhecimento sobre o funcionamento do Estado, da máquina administrativa e dos procedimentos envolvidos (DAGNINO, 2002, P. 284). Para se construir uma política de participação social, acredita-se no protagonismo da sociedade, mas também do próprio Estado com a consolidação de políticas sociais que permitam ultrapassar a mera reprodução das relações de dominação. Trata-se de um processo de transformação das estruturas e culturas institucionais, redefinindo a missão e o compromisso sociais de todos os envolvidos, de forma a adequar habilidades e criar instrumentos para permitir a plena realização de uma gerência voltada para a democratização, tanto do Estado quanto da sociedade (FLEURY, S/D, P. 5). As políticas sociais e as práticas cotidianas entre os profissionais e os usuários, ou beneficiários, devem garantir que ambos se apropriem do conhecimento de funcionamento dos mecanismos de planejamento e fiscalização das ações dos governos e entidades; incentivar a participação ativa nas reuniões dos conselhos, instituindo um espaço de efetiva participação nas deliberações da política pública e não ser mero local de aprovação de prestações de contas; precisam buscar apoio e parceria de órgãos controladores, como Tribunais de Contas e órgãos que garantam o cumprimento das leis e protejam os direitos dos cidadãos como o Ministério Público e a Justiça. Politicas Neodesenvolvimentistas As políticas conhecidas como neodesenvolvimentistas ficaram fortemente conhecidas, principalmente nos países subdesenvolvidos, inclusive no Brasil5, a ideologia é permeada pela redução da pobreza e da desigualdade, estabelecendo que é necessário um Estado mais proativo, com o desenvolvimento de políticas de estabilidade econômica. Cabe destacar que o neodesenvolvimentismo vem alinhado ao campo ideológico do Banco Mundial, sob os pressupostos de Amartya Sen, ou seja, crescimento econômico com desenvolvimento social. Tais pressupostos requisitam a necessidade de uma atuação forte. Os defensores do neodesenvolvimentismo atacam os preceitos privatizantes do neoliberalismo e defendem estratégias de desenvolvimento nacional, tendo como principais eixos 5 O PT,que retomou a proposta da intervenção do Estado em prol do desenvolvimento do capitalismo brasileiro. Nos governos Lula e Dilma . o meio ambiente, a ecologia, a sustentabilidade e a educação a serem implementados pela aliança entre Estado, capital e trabalho. De acordo com Mota (2010), o esgotamento da proposta neoliberal no Brasil6, na década de 1990, começam a surgir programas e “politicas” voltados para o crescimento econômico com o desenvolvimento social, porém, “não puderam fugir do movimento de internacionalização da economia, incorporando-se à dinâmica mais geral dos processos especulativos” (IDEM, P. 155) O Estado deve garantir condições macroeconômicas e salvaguardas jurídicas que reduzem a incerteza do ambiente econômico, propiciando um horizonte mais previsível do cálculo de risco do investimento privado e aumentando, por sua vez, a demanda por fatores de produção, o emprego e os ganhos dos trabalhadores. Assim o Brasil reduzirá a pobreza e a desigualdade social (CASTELO, 2010, P. 197). Na atualidade, o neodesenvolvimentismo configura-se nessa proposta de desenvolvimento que supõe “romper” com a proposta neoliberal, assim, observamos que as principais ações desenvolvidas pelo governo Luiz Ignácio Lula e Dilma Rousseff foram: a) Criação de novos ministérios com ênfase na dimensão social. b) Combinação das políticas de recuperação do salário mínimo e de transferência de renda no instituto de aumentar o poder aquisitivo das camadas mais pobres, isto é, daqueles que apresentam maior propensão ao consumo; c) Ênfase da elevação da dotação orçamentária do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) para financiamento da taxa de juro subsidiada das grandes empresas nacionais; 6 Cabe destacar que isso ocorre também na América Latina. d) Expansão dos programas de infra-estrutura, e programas como o de Aceleramento do Crescimento (PAC), como abertura de financiamento para o setor privado na área da construção civil. e) Política externa de apoio às grandes empresas brasileiras ou instaladas no Brasil para exportação de mercadorias e de capitais; f) Política econômica anticíclica – medidas para manter a demanda agregada nos momentos de crise econômica7. Somando-se a tais medidas, as políticas econômica e social, arquitetadas pelo neodesenvolvimentismo dentro do Governo Dilma, conforme Fatorelli (2011, APUD BOSCHETTI, 2013, P. 356): Integram um conjunto de políticas econômicas e sociais baseadas em tendências como destinação do fundo público para pagamento da dívida pública, manutenção de elevadas taxas de juros, carga tributária elevada e regressiva, redução ou não ampliação de recursos para as políticas sociais universais, aumento do gasto social em políticas sociais focalizadas de transferência de renda, contingenciamento de gastos sociais, congelamento de salários no setor público, prioridade para as metas de “superávit primário” e controle da “inflação”, realização de reformas de caráter neoliberal com redução de direitos da previdência social e privatizações, além de ausência de controle de capitais. Assim, o neodesenvolvimentismo recoloca a política social, desvinculando-a da universalização dos direitos o que contribui para o rearranjo da economia capitalista. O neodesenvolvimentismo acaba sendo uma estratégia ideopolítica, baseada em concepções compatíveis com as políticas de estabilização macroeconômica. 7 Esse momento ficou notório com as crises dos países europeus. Considerações Finais. A implementação de políticas é sempre geradora de impactos e de mudanças sociais. Como observamos nesse material, esse processo visa desde o modelo de proteção social de uma política até as mudanças, que são resultados do conteúdo das políticas, de reações de agentes sociais atingidos, de políticas privadas adotadas por agentes que atuam à margem da política, de outros fatores alheios à política ou da combinação de todas essas variáveis. Assim, a implementação de políticas públicas acarreta efeitos externos, desencadeando reações e ações por parte dos agentes sociais afetados, e também dá margens a diferentes interpretações das políticas, a produção de políticas contraditórias, a modificações na estrutura do Estado e a alterações nas relações de poder no seu interior, sendo importante o fomento de estudos nessas áreas para a compreensão da formação de políticas integradas. . Outro fator discutido refere-se às relações que imprimem o padrão da interação entre Estado e sociedade são muito mais complexas do que essas concepções usualmente colocam. São dinâmicas, pois estão sempre em transformação, de acordo com os processos mais amplos de cada momento histórico. Dependem das particularidades de cada país ou região, podendo assumir diversas formas específicas. Desdobram- se, por fim, atravessando as relações entre as esferas federativas (federal, estadual e municipal) e entre os canais da relação Estado- sociedade (funcional, material e político). Nesse sentido, o Brasil sempre promoveu a focalização de políticas sociais, é importante a análise de Pereira e Stein (2010) sobre a relação entre universalidade e focalização, como antinomia persistente no campo das políticas sociais públicas e, com efeito, como controvérsia existente nas ações governamentais, onde o princípio da universalidade, de conotação eminentemente pública, cidadã e igualitária/ equânime, vem perdendo terreno para um discurso focalista neoliberal. Portanto, mediante a ótica neoliberal surge na teoria neodesenvolvimentista um conjunto de designações para a promoção de um sistema de proteção social e política públicas, acopladas à terminologia de “equidade social” pois, segundo os neodesenvolvimentistas, as desigualdades sociais estariam sublinhadas pela naturalização das relações econômicas capitalistas. Ainda, a promoção da igualdade de oportunidades seria conseguida pela mediação da educação na competição eterna entre os indivíduos no mercado de trabalho. Assim, os aspectos sociais são tratados como aspectos secundários, sendo que a intervenção sobre a “questão social”, proposta pela política econômica, funcionaria para neutralizar opositores, à direita e à esquerda, pacificando as tensões sociais (CASTELO, 2010). Referências AGUILAR, M.J; ANDER-EGG, Ezequiel. Avaliação de serviços e programas sociais. Tradução: Jaime A Clasen e Lúcia Mathilde E. Orth. Petrópolis: Vozes. ARRETCHE, Mar ta T. 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