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Ana Lorena 4º P – APG ▶ Os distúrbios motores do esôfago podem ser divididos em: Distúrbios da musculatura estriada: caracterizado por alterações da faringe ou esfíncter esofágico superior; Distúrbios da musculatura lisa: caracterizada por acometimento no corpo esofágico ou no esfíncter esofágico inferior. Esses distúrbios podem ser: Primários: quando a alteração motora esofágica é a própria manifestação da doença; Secundária: quando a doença de base é sistêmica e o comprometimento esofágico é apenas uma manifestação. ▶ A acalasia e o megaesôfago são distúrbios tanto primário como secundário. ▶ A acalasia resulta da degeneração progressiva das células ganglionares do plexo mioentérico (plexo de Auerbach) da parede esofágica, levando a falha do relaxamento do esfíncter esofágico inferior, acompanhada por uma perda do peristaltismo no esôfago distal. Ela pode ser idiopática ou chagásica. Megaesôfago pode ser indicada como sinônimo de acalasia de origem chagásica. PATOGÊNESE ▶ No esôfago há diminuição do número de neurônios nos plexos mioentéricos, e as células ganglionares que permanecem frequentemente são circundadas por linfócitos e eosinófilos. ▶ Essa degeneração inflamatória envolve os neurônios inibitórios produtores de óxido nítrico que afetam o relaxamento do músculo liso esofágico. Essa perda da inervação inibitória no EEI faz com que a pressão do esfíncter basal aumente e torne o músculo esfincteriano incapaz de relaxar normalmente. Essa pressão é devido a via excitatória colinérgica (contração) estar preservada e a inibitória ausente. Essa perda dos neurônios pode resultar em aperistalse. ▶ Na AC idiopática, a desnervação parece ser predominantemente pré-ganglionar com hipersensibilidade do EEI à gastrina e aumento da pressão basal do EEI. ▶ AC chagásica há hipossensibilidade a este hormônio com pressão do EEI menor do que na AC idiopática, sugerindo anormalidades tanto inibitórias como excitatórias. ▶ Essa desnervação intrínseca ao longo do esôfago pode ser demonstrada pela observação de hipersensibilidade da musculatura esofágico à ação de substâncias como metacolina e betanecol (nas duas formas de AC). ▶ Consequentemente, com o passar do tempo, o esôfago vai começar a se dilatar surgindo o megaesôfago. Acalasia chagásica: ▶ Há duas teorias em relação a destruição dos plexos mioentéricos por causa do T. cruzi: 1. Neurotóxica: as substâncias neurolíticas liberadas da forma amastigota do parasito destruiriam o neurônio, essa destruição ocorreria na fase aguda da doença e suas Ana Lorena 4º P – APG consequências surgiriam meses ou anos após; 2. Autoimune: haveria liberação de antígenos a partir da forma amastigota, que se depositariam nas células neuronais, sensibilizadas, com sua consequente destruição. Já foram encontrados anticorpos e antimiocárdio no soro de pacientes portadores de doença de Chagas. ▶ A associação de megacólon ou cardiopatia chagásica com megaesôfago é frequente. QUADRO CLÍNICO ▶ A queixa mais comum é a disfagia. Inicia-se intermitente e depois lentamente progressiva, tanto para líquido quanto para sólidos, podendo apresentar-se como disfagia paradoxal, isto é apenas para líquidos; É percebida principalmente em terço distal da região retroesternal, alguns pacientes referem ao nível da fúrcula esternal, quando se diferencia da disfagia orofaríngea, por ocorrer após o ato da deglutição e não ser acompanhada de engasgos; Manobras para o alivio da disfagia: elevação dos brações e rotação da cabeça. ▶ As regurgitações ocorrem com frequência. Ao avançar da doença, o paciente regurgita alimentos, até horas após a ingestão, principalmente à noite, provocando tosse, engasgos, sensação de sufocação, o que desperta o paciente; Alguns podem evoluir para pneumonia de repetição. ▶ A perda de peso é referida por 70 a 80% dos pacientes. ▶ AC de longa duração também apresenta risco aumentado de desenvolvimento de carcinoma epidermoide de esôfago, atribuído à estase alimentar e esofagite crônica. ▶ Nas fases iniciais da doença pode haver dor torácica que se confunde com a dor anginosa, devido sua localização retroesternal irradiada para a mandíbula. ▶ Alguns se queixam de pirose precedendo a disfagia, isso pode confundir o diagnóstico. DIAGNÓSTICO A esofagomanometria é o padrão ouro. É um exame que mede as pressões dos esfíncteres esofagianos superior e inferior, em repouso e durante a ingestão de água, assim como avalia a pressão e o movimento (função motora) do corpo do esôfago; Ele mostra o relaxamento incompleto do EEI e aperistaltismo nos dois terços distais do esôfago. Deve-se suspeitar de acalasia nos seguintes pacientes: Disfagia para sólidos e líquidos; Azia que não responde a uma tentativa de terapia com inibidor da bomba de prótons; Alimentos retidos no esôfago na endoscopia digestiva alta; Resistência excepcionalmente aumentada à passagem de um endoscópio através da junção esofagogástrica. TRATAMENTO Medicamentoso: Nitratos: Aumentam a concentração de óxido nítrico nas células musculares lisas, resultando em relaxamento; Administração: via sublingual; Eles reduzem a pressão do EEI dentro de 15 minutos e seu efeito persiste por até 90 minutos. Antagonistas dos canais de cálcio: Nifedipino: inibem a musculatura lisa e agem 30 minutos após sua administração via sublingual, na redução da pressão do EEI. Toxina botulínica: Potente inibidor da acetilcolina; Tem ação excitatória no tônus do EEI; Uso em injeções locais por via endoscópica, com redução dos sintomas do paciente, da pressão EEI e do diâmetro esofágico. Ana Lorena 4º P – APG Dilatação pneumática da cárdia: É o tratamento conservador definitivo mais frequentemente empregado para o tratamento da acalasia; Rompe as fibras musculares do EEI, reduzindo sua pressão e a obstrução funcional do esôfago; Há consequente melhora do esvaziamento esofágico e da disfagia. ▶ Ele é a causa mais comum de sintomas na doença de Chagas crônica na forma gastrintestinal, podendo ocorrer em qualquer idade, sendo mais comum 20 a 40 anos. ▶ No BR, é a principal causa de acalasia, afetando 7- 10% das pessoas infectadas pelo T. cruzi. ▶ No megaesôfago chagásico ocorre principalmente o acometimento dos plexos submucosos de Meissner e mioentérico de Auerbach, e em alguns casos é demonstrado comprometimento de 85% de seus neurônios. ▶ Pacientes com megaesôfago mostram graus variáveis de dilatação e um espessamento da camada muscular, principalmente a musculatura circular. Nos casos de intensa dilatação, o espessamento é menos aparente e a parede do órgão tem aspecto de atrofia. ▶ Ao exame microscópico observa-se infiltrado local de linfócitos, macrófagos e plasmócitos, mas o dificilmente é encontrado o parasita. QUADRO CLÍNICO: Disfagia; Sensação de plenitude após comer ou beber; Dor torácica; Regurgitação; Aspiração brônquica; Perda de peso; Caqueixa; Hipertrofia das glândulas salivares secundária a hipersalivação. DIAGNÓSTICO: ▶ Pode ser determinado por uma boa anamnese, identificando a causa positiva e os sintomas sugestivos da doença. Teste sorológico; Machado Guerreiro positivo (hemaglutinação indireta, imunofluorescência indireta e ELISA); Alterações radiológicas na radiografia simples de tórax; Esofagograma simples. Alterações no esofagograma: Alterações nos distúrbios de motilidade; Presença de ondas terciarias; Retardo no esvaziamento do esôfago; Alterações do calibre; Presença de níveis de bário e líquido; Presença do sinal do “bico de pássaro”. Alterações na radiografiade tórax: Ausência da bolha gástrica: em razão da estenosa funcional da cárdia, o ar deixa de ser deglutido e assim a bolha gástrica deixa de ser visualizada; Alargamento do mediastino: ocorre mais frequentemente do lado direito e inferiormente. Porém, pode ocorrer também à esquerda e em qualquer nível; Nível hidroaéreo: em função da estase de resíduos alimentares, forma-se nível líquido/ar dentro do esôfago. Ana Lorena 4º P – APG CLASSIFICAÇÃO DE REZENDE ▶ Consiste em estabelecer o grau do acometimento esofágico. Referências: - SPECHLER, Stuart J. et al. Achalasia: Pathogenesis, clinical manifestations, and diagnosis. Uptodate. 2021 - ABUD, Thiago Giansante et al. Alterações radiológicas encontradas no megaesôfago chagásico em radiografias simples de tórax e esofagogramas. Radiologia Brasileira, v. 49, p. 358-362, 2016. - REZENDE, Joffre Marcondes de. O aparelho digestivo na doença de Chagas: Aspectos clínicos. Clínica e terapêutica da doença de Chagas. Uma abordagem prática para o clínico geral. ED Dias JCP, Coura JR. Editora FIOCRUZ, Río de Janeiro, 1997. - DANI, Renato. Gastroenterologia essencial I - 4. ed.- Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. - ZATERKA, Schlioma. et al. Tratado de gastroenterologia -- 2. ed. -- São Paulo : Editora Atheneu, 2016.
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