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SOI IV IANA BARBOSA MARTINS Sistemas Orgânicos Integrados IV, MED 31 - Uninovafapi. 1 Introdução ❖ Acalasia: não relaxamento. ❖ Calásia: relaxamento. ❖ O megaesôfago ocorre após uma destruição parcial dos plexos nervosos da musculatura do esôfago, causando uma alteração e enfraquecimento de sua contratilidade, seguida de espasmo da cárdia, transição do esôfago ao estômago. ❖ Quando isso acontece, o alimento não consegue passar de um órgão a outro, havendo represamento da comida no esôfago, que progressivamente passa a se dilatar durante anos. ❖ Distúrbio motor primário mais comum do esôfago. ❖ Maior frequência entre 25-60 anos (especialmente antes dos 40). ❖ Sempre que houver disfagia e perda de peso ao longo de meses ou anos, associadas à regurgitação e tosse crônica (especialmente noturna), suspeitar de acalasia. ❖ A acalasia (AC) idiopática é relativamente incomum, não tendo distinção entre sexo, podendo ser encontrada em qualquer idade, porém só é diagnosticada entre 30e 60 anos. Nos países onde a DC é endêmica, observa-se elevado número de pessoas acometidas pela doença. ❖ Lesão pré-maligna. • Carcinoma escamoso é o tipo histopalogico mais comum, complicando tardiamente de 1-10% dos pacientes em 15-20 anos. Etiopatogênia ❖ Causado pela doença de chagas, a secundária. ❖ A idiopática, causa desconhecida. ❖ Irritação da mucosa promovida pelo material estagnado no corpo do esôfago, o que induz a formação de áreas de metaplasia e posterior neoplasia. ❖ Caracterizado por: • Deficit de relaxamento fisiológico do Esfíncter Esofagiano Inferior (EEI) durante a deglutição (principal característica); • Graus variados de hipertonia (tensão muscular excessiva) do EEI (incluindo tônus normal em alguns casos); • Substituição total (100%) da peristalse normal do corpo esofagiano por contrações anormais: As peristalses anormais podem ser fracas, de pequena amplitude, na “acalásia clássica”, ou extremamente vigorosas, na “acalásia vigorosa”. Fisiopatologia ❖ As alterações são consequência da degeneração do plexo de Auerbach presente na parede esofagiana. • Seus corpos celulares são destruídos. • É o grande responsável pela coordenação motora do esôfago. ❖ Há perda de interneurônios inibitórios secretores de óxido nítrico e até perda de neurônios colinérgicos. ❖ Disfunção de EEI e do corpo esofágico obstrui a passagem do bolo alimentar originando o principal sintoma: disfagia de condução. • Ocorre para sólidos e líquidos. • Surge insidiosa e desenvolve em meses ou anos. Manifestações ❖ Obstrução da passagem do bolo alimentar, perda de peso, disfagia, tosse geralmente à noite. ❖ Desconforto torácico durante as refeições. Acalasia e Megaesôfago ❖ Os distúrbios motores do esôfago podem ser divididos em: distúrbios de musculatura estriada, quando acontecem devido alterações na faringe e/ou esfíncter esofágico superior, ou em distúrbios da musculatura lisa, quando estão relacionados a acometimento no corpo esofágico e/ou esfíncter esofágico inferior (EEI). ❖ Esses dois tipos de distúrbios podem ser classificados em primários, quando a alteração motora esofágica é a própria manifestação da doença, ou secundários, quando o comprometimento do esôfago é devido a uma doença sistêmica de base. ❖ A acalasia (AC) engloba a falta de relaxamento do EEI à deglutição e ausência de peristaltismo no corpo do esôfago, sendo o mais comum distúrbio de musculatura lisa. Pode ser classificada conforme sua etiologia em: idiopática ou chagásica (também chamado de megaesôfago). Etiologia ❖ Pode ser dividida em primária (idiopática), a forma mais comum, ou secundária. ❖ Principal causa no Brasil é a doença de chagas. ❖ Outras etiologias mais raras: amiloidose, sarcoidose e gastroenterite eosinofilica. SOI IV IANA BARBOSA MARTINS Sistemas Orgânicos Integrados IV, MED 31 - Uninovafapi. 2 Esofagite chagásica (mal do engasgo) ❖ Nas áreas endêmicas sempre se deve considerar a possibilidade de esofagopatia chagásica em pacientes com acalasia. ❖ Invasão do plexo mioentérico (plexos de Auerbach e Meissner) pelo protozoário flagelado Trypanosoma Cruzi causa disfunção e posterior necrose dos interneurônios responsáveis pelo relaxamento do EEI, ao mesmo tempo em que lesa neurônios importantes para a peristalse do corpo esofagiano. ❖ A doença é mais comum no sexo masculino, e tem o mesmo quadro clínico da acalásia idiopática, sendo conhecida popularmente como “mal do engasgo”. ❖ Os exames baritados e manométricos apresentam as mesmas anomalias. ❖ Como a acalásia chagásica acomete indivíduos na fase crônica da doença, o diagnóstico deve ser sorológico: ELISA (método de escolha), ou a clássica reação de Machado-Guerreiro. Patogenia ❖ Alguns estudos sugerem que acalasia resulte de inflamação e degeneração de neurônios na parede esofágica. ❖ A desnervação acontece em vários níveis e de maneira irregular ao longo do tubo digestivo reduzindo o número de células nervosas do plexo mioentérico, consequentemente afetado a fisiologia motora dos locais afetados, principalmente esôfago e cólon. ❖ Essa desnervação pela atuação dos parasitas pode ocorrer por dois motivos: • Teoria neurotóxica: as substâncias neurolíticas liberadas pelo amastigota do T. cruzi destruiriam o neurônio, principalmente na fase aguda. • Teoria autoimune: o amastigota libera antígenos que se depositam nas células neuronais, sensibilizando-as. Logo, desenvolve-se uma reposta imune com liberação de autoanticorpos contra as células já sensibilizadas, promovendo sua destruição. Fisiopatologia ❖ Caracteristicas fisiopatologicas da AC, tanto a idiopática quanto a chagásica: • Desnervação esofágica, caracterizada pela destruição do plexo mioentérico do esôfago (e as células que restam ficam rodeadas por linfócitos). • Degeneração de fibras aferentes vagais e do núcleo dorsal motor do vago (NMD). ❖ O relaxamento do EEI (esfíncter esofagiano inferior) é ausente ou incompleto tendo perda dos neurônios inibitórios do plexo mioentérico que contém os neurotransmissores óxido nítrico e peptídeo intestinal vasoativo. ❖ Há perda do mecanismo que coordena o sistema nervoso, a musculatura lisa, as células intersticiais de Cajal e os neuromediadores. • Como consequência há aumento da pressão basal do EEI, pois a via excitatória está preservada enquanto os mecanismos inibitórios estão ausentes. ❖ NA AC idiopática: • Desnervação é predominantemente pré-ganglionar com hipersensibilidade do EEI à gastrina e aumento da pressão basal desse esfíncter; ❖ Na AC chagásica: • Ocorre hiposensibilidade a este hormônio com pressão do EEI menor do que na idiopática, sugerindo anormalidades tanto nas vias inibitórias como excitatórias. ❖ Pacientes com acalasia também podem ter um defeito sutil no relaxamento reflexo do esfíncter esofágico superior (EES). ❖ A distensão esofágica abrupta que ocorre quando o gás do estômago entra repentinamente no esôfago normalmente desencadeia um relaxamento reflexo de EES, permitindo que o gás escape pela boca na forma de arroto. ❖ Na porção do músculo liso do corpo esofágico, a perda de neurônios inibitórios resulta em aperistalse, traduzido por ausência de contrações ou contrações simultâneas. ❖ Com o passar do tempo, o esôfago vai dilatando, surgindo então o megaesôfago. Risco de Cancer ❖ Pacientes com megaesôfago apresentam risco aumentado de câncer de esôfago. ❖ Presume-se que um dos fatores responsáveis pelo desenvolvimento da neoplasia seria a regurgitação, uma vez que ela induz a irritação crônica da mucosa, associada ao tratamento inadequado (miotomia sem cirurgia anti-refluxo). ❖ Além disso, a estase do bolo alimentar, na porção distal do órgão, também poderia ser outro fator patogênico importante, devido à esofagite que desencadeia. ❖ Leiomioma é o benigno mais comum.Manifestações clínicas ❖ Dilatação: Obstrução à passagem do bolo alimentar faz com que o esôfago retenha material não digerido, podendo sobrevir graus variados de dilatação em seu corpo. SOI IV IANA BARBOSA MARTINS Sistemas Orgânicos Integrados IV, MED 31 - Uninovafapi. 3 ❖ Disfagia, sintomas de regurgitação e broncoaspiração desse material. Queixas geralmente associadas à dilatação. ❖ Halitose: A maioria dos pacientes com acalásia em estágios avançados desenvolve halitose. ❖ Regurgitação de material alimentar: Material alimentar não digerido misturado com saliva ocorre em 1/3 dos pacientes e pode resultar em crises de tosse e broncoespasmo – geralmente aparecem quando o paciente se deita – ou mesmo em episódios repetidos de pneumonia e abscesso pulmonar, bem como na formação de bronquiectasias, todos em função das broncoaspirações”. ❖ Perda de peso: A perda de peso é uma constante, mas geralmente é insidiosa, além de ser leve a moderada na maioria das vezes – perda de peso importante e rápida deve levantar a suspeita de câncer de esôfago. ❖ Pirose: Sensação de queimação de 30-40% dos pacientes. ❖ Soluço ❖ Rouquidão ❖ Odinofagia: Não é sintoma característico, mas pode ocorrer principalmente nos estágios iniciais da doença. Dor ao engolir. ❖ Dor torácica (cólica esofagiana): Relatada por alguns pacientes e resulta de contrações vigorosas que tentam “vencer” o EEI (“acalásia vigorosa”). Costuma ser observado nas fases iniciais da acalásia, quando a contratilidade do corpo esofagiano ainda não foi completamente perdida e com a progressão da doença deixa de ser observada. Diagnóstico ❖ Pode ser detectada em exames convencionais: RX tórax e esofagografia baritada e tem como padrão ouro a esofagomanometria. ❖ A acalásia deve ser diferenciada do carcinoma estenosante distal (pseudoacalásia) e da estenose péptica. ❖ Sempre que houver disfagia e perda de peso ao longo de meses ou anos, associadas à regurgitação e tosse crônica (especialmente noturna), suspeitar de acalasia. ❖ Todos os pacientes com suspeita de acalásia, deve- se fazer biópsia do esôfago distal e da cárdia, para que se possa excluir com segurança alguma condição maligna. ❖ Associação com hipertrofia das glândulas salivares que manifestam com aumento de face, com magacólon, com alterações no ritmo cardíaco. Radriografia simples tórax ❖ Pode revelar: • Ausência de bolha gástrica (ar no estômago); • Massa mediastínica tubular ao lado da aorta; • Nível hidroaéreo no mediastino na posição ereta, representando material estagnado no esôfago. Esofagografia Baritada ❖ Pode revelar: • Dilatação do corpo esofágico (megaesôfago); • Imagem de estreitamento em “bico de pássaro” na topografia do EEI (seta); • Atraso no esvaziamento esofagiano; • Presença de contrações esofagianas não peristálticas. ❖ Permite classificar a doença em estágios. Estadiamento do megaesôfago chagásico: classificação de Resende. • Forma anectásica: Esôfago de calibre normal (até 4 cm), apenas com pequena retenção de contraste, um minuto após a deglutição. • Esôfago discinético: Com pequeno aumento de calibre, entre 4-7 cm, e franca retenção do contraste (megaesôfago leve). • Esôfago francamente dilatado: Megaesôfago clássico, entre 7-10 cm), atividade motora reduzida e grande retenção de contraste. • Dolicomegaesôfago (dólico = alongado): Maior que 10 cm ou tortuoso. Esofagomanometria ❖ Principal exame diagnóstico. ❖ Especialmente em caso de normalidade ou inconclusões nos exames radiológicos. ❖ Principais achados manométricos na acalásia: • Não relaxamento do EEI em resposta à deglutição (principal); • Graus variados de hipertonia do EEI; • Aperistalse (ou ausência de contrações eficazes). ❖ Presença de refluxo gastroesofágico fala contra acalasia. Endoscopia Alta ❖ Confirma dilatação do corpo do esôfago. ❖ Exclui possível obstrução mecânica como causa de disfagia. ❖ Esofagite irritativa, mas não de refluxo, pode ser detectada. Tratamento SOI IV IANA BARBOSA MARTINS Sistemas Orgânicos Integrados IV, MED 31 - Uninovafapi. 4 Os objetivos do tratamento são: ❖ Aliviar os sintomas, melhorar ou aliviar o esvaziamento esofágico, prevenir o desenvolvimento do megaesôfago e suas complicações. ❖ Todo tratamento, exceto a cirúrgico, visam diminuir a pressão no EEI para desobstruir o trânsito alimentar e facilitar o esvaziamento do esôfago. ❖ Nenhum tratamento pode reverter a degeneração das células ganglionares, restaurar os neurônios esofágicos perdidos e normalizar a função esofágica. ❖ Os tratamentos disponíveis não normalizam a deglutição, apenas melhoram. Laboratorial ❖ Método ELISA para diferenciar as causas da AC. Farmacológico Os nitratos e antagonistas dos canais de cálcio são os medicamentos mais comumente empregados no tratamento clínico em todos os pacientes que tolerarem seu uso. Nitratos ❖ Os nitratos (dinitrato de isossorbia 5 a 10 mg por dia) são administrados 10 a 15 min antes das refeições. ❖ Efeito é aumentar a concentração de NO nas células musculares lisas, resultando em relaxamento. ❖ Administrados via sublingual, reduzindo a pressão no EEI após 15 min que foi administrado e persistindo a ação por 90min. Antagonista dos canais de Ca ❖ Como nifedipino (10 a 30 mg ao dia), inibem a musculatura lisa e agem 30 min após sua administração via sublingual, diminuindo a pressão no EEI. ❖ Os bloqueadores de canais de cálcio não são mais indicados por causa do risco de efeitos adversos, incluindo hipotensão grave e complicações isquêmicas. BoTox – toxina botulínica ❖ Potente inibidor da acetilcolina; ❖ Ação excitatória no tônus do EEI; ❖ Usada em injeções locais por via endoscópica, com redução dos sintomas do paciente, da pressão no EEI e do diâmetro esofágico. ❖ A injeção tem a vantagem de ser menos invasiva em comparação com a cirurgia e pode ser facilmente realizada durante a endoscopia de rotina. ❖ Ação dessa medicação dura em média cerca de 6 meses. ❖ É indicada para: idosos com comorbidades e pacientes com alto risco cirúrgico, falha no tratamento cirúrgico, falência na reposta a múltiplas dilatações, dilatação pneumática com perfuração e associação com divertículo epifrênico. Dilatação Pneumática da Cárdia ❖ Tratamento conservador mais comumente empregado para tratamento da AC. ❖ Objetivo de romper as fibras musculares do EEI, reduzindo sua pressão e a obstrução funcional do esôfago, fazendo com que tenha melhora no esvaziamento esofágico e da disfagia. Cirúrgico ❖ Pode ser feito através de técnicas conservadoras (esofagomiotomias) ou cirurgias mais invasivas (esofagoplastias e esofagectomias). ❖ A cirurgia conservadora mais comum é a esofagomiotomias de Heller, que consiste na secção das camadas musculares do esôfago distal e da cárdia, em geral acompanhada de procedimento antirrefluxo.
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