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Fármacos para Tratamento da Obesidade

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Fármacos para Tratamento da Obesidade 1
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Fármacos para Tratamento da Obesidade 
Bárbara Aguiar dos Santos 
Medicina UFMG 158
Obesidade 
É importante observar os critérios para diagnóstico de obesidade: valores alterados de IMC e da circunferência 
abdominal (> 102 cm para homens e > 88 cm para mulheres):
Critérios de Eficácia 
O FDA considera que um fármaco é eficaz para promover a perda de peso quando é capaz de induzir perda de 5% 
do peso inicial ou que a perda seja maior que o dobro da verificada pelo grupo placebo após 12 semanas de 
tratamento; 
Para o CPMP (Committee for Proprietary Medicinal Products) o fármaco é eficaz quando promove perda de 10% do 
peso inicial após 12 semanas de tratamento; 
Além disso, a perda de peso deve ser mantida por pelo menos um ano após a interrupção da medicação, e deve ser 
acompanhada por melhora do parâmetros metabólicos; 
Medicamentos On Label no Brasil 
Sibutramina 
Inibidor de recaptação de noradrenalina e serotonina nos núcleos relacionados à fome e à saciedade no hipotálamo. 
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❗ No hipotálamo, o centro da fome está localizado no Hipotálamo Lateral, enquanto o centro da saciedade está 
no Núcleo Ventromedial. 
O fármaco também atua inibindo os receptores AgRP responsáveis pela produção do apetite;
O paciente em uso de Sibutramina é capaz de se sentir satisfeito com menor quantidade de alimento ingerido, de 
forma a reduzir o consumo e promover o emagrecimento;
Além disso, a Sibutramina ativa receptores beta adrenérgicos na periferia, o que estimula a termogênese, embora 
essa ação seja secundária no que tange à perda de peso; 
A Sibutramina é contraindicada para paciente com ICC, DAC, HAS mal controlada, pacientes com alto risco para 
desenvolvimento de doença cardiovascular, pacientes com transtornos alimentares (bulimina e anorexia), com 
transtornos psiquiátricos mal controlados, extremos de idade (< 12 anos ou > 69 anos) e indivíduos não responsivos 
à medicação; 
Para receitar Sibutramina o paciente precisa assinar um termo declarando estar ciente dos efeitos colaterais e das 
contraindicações, e somente médicos autorizados podem receitar este fármaco;
Posologia: 10-15 mg/dia com pico após três horas de ingestão;
A dose inicial recomendada é de uma cápsula de 10 mg/dia administrada por via oral pela manhã, com ou sem 
alimentos;
Caso o paciente não perca pelos menos dois quilos nas primeiras quatro semanas de tratamento, pode-se aumentar 
a dose para 15 mg/dia; 
O tratamento deve ser descontinuado em pessoas que não respondam à terapia de perda após quatro semanas 
com dose diária de 15 mg;
Nomes mais comuns encontrados nas farmácias: Biomag, Sibus, Nolipo, Sigran, Slenfig e Vazy; 
Eficácia 
Estudo Storm: 
Estudo duplo cego, randomizado com acompanhamento por dois anos;
Critérios de exclusão do estudo: mudança de peso recente e possivelmente atribuída a outras causas, 
insuficiência hepática, renal, cardíaca, HAS descontrolada, DAC, FC elevada e alterações em ECG; 
Os pacientes foram submetidos a seis meses de uma dieta de 600 kcal + uso de sibutramina; 
Após os seis meses, os pacientes que perderam 5% ou mais do peso inicial foram randomizados para grupos 
placebo ou com uso de sibutramina;
Ao final do estudo, o grupo intervenção apresentou maior perda de peso e manutenção da perda em relação ao 
grupo controle (80% x 16%); 
Além disso, 69% dos pacientes que haviam perdido 5% ou mais do peso inicial foram capazes de manter a 
perda com o uso contínuo do fármaco;
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A perda de peso proporcionada pela Sibutramina é capaz de impactar em fatores metabólicos importantes, o 
que foi verificado no estudo: queda dos valores de TG, VLDL, insulina e peptídeo C, ácido úrica, além do 
aumento no HDL (todos esses parâmetros foram considerados proporcionalmente à perda de peso); 
Estudo SCOUT: 
Estudo para avaliar os efeitos da Sibutramina em populações com contraindicações; 
Populações avaliadas: DCV estabelecida, DM2 com um fator de risco para DCV, e pessoas com DM2 + DCV; 
O desfecho primário analisado foi o tempo até a ocorrência de um evento cardiovascular (IAM, AVC, PCR);
Verificou-se que pessoas com contraindicações realmente não percebem benefícios superiores aos riscos com 
fazer uso de Sibutramina, já que fármaco aumenta os riscos de eventos cardiovasculares;
Efeitos Colaterais 
Boca seca;
Constipação; 
Insônia;
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Aumento da FC;
Palpitações;
Aumento da PA;
Vasodilatação;
Náuseas;
Calor;
Formigamento;
Cefaleia;
Ansiedade;
Suor intenso;
Alterações no paladar. 
Orlistate 
Fármaco inibidor da ação das lipases pancreática e gástrica, de modo que não há degradação dos TG no TGI, como 
consequência, cerca de um terço dos lipídios não serão absorvidos e serão eliminados pelas fezes; 
É capaz de reduzir a incidência de DM2 em grupos com pré-diabetes, supostamente devido à melhora do 
funcionamento do pâncreas. 
Além disso, o uso de Orlistate é capaz de reduzir os valores de LDL em pacientes obesos;
Este fármaco pode ser utilizado em pacientes a partir dos 12 anos de idade;
É importante que o uso desta droga seja acompanhada de monitoramento e, se preciso, suplementação das 
vitaminas lipossolúveis, principalmente a vitamina D;
Contraindicações: pacientes com síndrome da má absorção intestinal crônica e com colestase; 
O protocolo de uso consiste em um comprimido por dia antes da principal refeição ou até uma hora após. É possível 
inferir o medicamento em qualquer refeição (café, almoço, lanche, jantar), desde que haja ingestão de gordura 
nessas refeições; 
O uso desta droga pode requerer reajuste da dose de Varfarina. 
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Nome comercial do fármaco: Xenical. 
Eficácia 
Perda de peso de 10,2% (10,3 kg) do grupo intervenção contra 6,1% (6,1 kg) no grupo placebo - p < 0,001;
Efeitos Colaterais 
Os efeitos são geralmente transitórios e podem persistem nos primeiros três meses do tratamento;
Urgência e incontinência fecal;
Flatulência com perda de fezes;
Fezes gordurosas;
Aumento da defecação;
Cálculos por oxalato de cálcio; 
Os efeitos colaterais aumentam com a ingestão de gorduras na dieta; 
Lorcasserina 
Fármaco atua como agonista seletivo dos receptores serotoninérgicos do tipo 5-HT2C no SNC, inibindo a fome e 
aumentando a saciedade;
O uso deste fármaco é capaz de melhorar a PA, a FC, o perfil lipídico, a glicose em jejum, a insulina, a PCR e o 
fibrinogênio e a HbA1c;
Contraindicações: pacientes em uso de medicações antidepressivas com efeito serotoninérgico (cuidado especial 
com a associação com a Sibutramina), gestantes, menores de 18 anos;
Recomenda-se posologia de 10 mg 2x ao dia. 
Eficácia 
Após 52 semanas de estudo, o grupo intervenção houve perda média de peso de 5,8 kg, contra 2,2 kg no grupo 
controle; 
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Pacientes com perda > 5% do peso inicial representaram 42% no grupo intervenção contra 20% no grupo controle;
Paciente com perda > 10% do peso inicial representaram 22,6% no grupo intervenção contra 7,7% no grupo 
controle;
Efeitos Colaterais 
Cefaleia;
Náuseas;
Vertigem;
Boca seca;
Constipaçãp;
Fadiga;
Hipoglicemia;
Dorsalgia;
Tosse. 
Liraglutida 
Atua nos receptores GLP-1 no hipotálamo, ativando vias anorexígenas, induzindo o aumento da saciedade e 
retardamento do esvaziamento gástrico;
Contraindicações: gestantes e pessoas antecedente pessoal ou familiar de carcinoma medular de tireóide ou 
neoplasia endócrina múltipla tipo IIA ou IIB. Essa contraindicação deriva de estudos com roedores que 
demonstraram que o uso de Liraglutida pode estar associado ao surgimento de tumores benignos e malignos em 
células C da tireóide;
As formas encontradas em farmácia são a Saxenda (3,0 mg) e a Victoza (1,8 mg);
A dose inicial é de 0,6 mg e vai aumentando progressivamente até atingir 3 mg por dia no período de até quatro 
semanas; 
Este fármaco é administrado de formainjetável pela via subcutânea; 
Eficácia 
Redução de aproximadamente 5,4% do peso inicial;
Apresenta capacidade de redução dos níveis glicêmicos, de HbA1c, glicemia em jejum e insulina;
Melhora parâmetros cardiometabólicos, como PA e perfil lipídico; 
Estudo LEADER: 
Demonstrou que o uso de Liraglutida reduz as taxas de mortalidade cardiovasculares e incidência de IAM ou 
AVC não fatais 
Efeitos Colaterais 
Náuseas;
Diarréia;
Constipação; 
Dispepsia; 
Vômito. 
Recomendações Importantes 
As medicações apresentadas podem ser associadas, devendo-se tomar cuidado apenas com o uso conjunto de 
Sibutramina e Lorcasserina;
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Deve-se evitar o uso de medicações manipuladas; 
É importante orientar o paciente que o uso de fármacos sem a mudança de estilo de vida não é tão eficaz para 
perda de peso quanto a associação destas duas estratégias. 
Medicamentos Off Label no Brasil 
❗ Os medicamentos "off label" não devem ser considerados incorretos ou ilegais, uma vez que o termo faz 
referência aos fármacos que não são indicados na bula como drogas para tratamento da obesidade, mas que 
na prática apresentam respaldo científico para este fim. 
Este tipo de tratamento deve ser considerado quando a terapia padrão não foi resolutiva. É necessário que 
haja respaldo científico para que o medicamento seja utilizado, e o médico deve estar confiante de sua 
experiência clínica para julgar com segurança os riscos e os benefícios do uso destes medicamentos. Por fim, 
a decisão deve ser tomada em conjunto com o paciente, e este deve estar ciente de todos os riscos. 
Topiromato
Este fármaco é originalmente utilizado para tratamento de convulsões, uma vez que sua ação consiste em aumentar 
a capacidade do neurotransmissor GABA de ativar os seus receptores, o que induz a elevação do limiar convulsivo; 
Como alguns receptores GABA estão presentes no hipotálamo, a ação do Topiromato reduz a fome atuando nesta 
região; 
Além disso, este fármaco inibe o Glutamato, o que também auxilia na redução do apetite, principalmente de doces; 
O Topiromato também é capaz de melhorar a sensibilidade à leptina, hormônio sinalizador da saciedade; 
Ainda, esta droga inibe a enzima anidrase carbônica, o que está relacionado aos seus efeitos colaterais; 
O efeito de perda de peso do Topiromato é dose-dependente até um determinado valor, quando o efeito se 
estabiliza apesar do aumento da dose; 
No entanto, quando maior as doses, maiores os efeitos colaterais; 
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Em comparação com Orlistate e Sibutramina, o Topiromato apresenta melhor desempenho na redução do peso; 
A grande limitação do uso deste fármaco são os efeitos colaterais, entre os quais pode-se mencionar: 
Parestesia das extremidades;
Disfunções cognitivas (sonolência, esquecimento, déficit de concentração);
Cefaleia não enxaquecosa;
Constipação intestinal ou diarreia;
Boca seca, náuseas;
Teratogênico: provoca fendas orais no feto caso ingerido durante a gestação;
Reduz o efeito dos anticoncepcionais; 
Miopia aguda e glaucoma de ângulo fechado secundário. Estes efeitos estão relacionados à inibição da 
anidrase carbônica, já que esta enzima atua na drenagem do humor aquoso nos olhos, de forma que a pessoa 
que apresenta tendência ao glaucoma pode desenvolver os quadros citados, geralmente no primeiro mês de 
uso da medicação. Contudo, os quadros são reversíveis com a interrupção da medicação. 
Recidiva de cálculos renais, sobretudo os constituídos por fosfato de cálcio. Este efeito também se deve à 
inibição da anidrase carbônica, enzima responsável pela acidificação da urina. Com sua inibição, o pH da urina 
se eleva e predispõe a precipitação de cálculos renais formados de fosfato de cálcio. 
❗ A Fentermina é associada ao Topiromato nos Estados Unidos, com autorização do FDA, por tratar-se de uma 
anfetamina que reduz o efeito de sonolência provocado pelo TPM. No Brasil, a comercialização de 
anfetaminas é ilegal, e por isso essa associação não é utilizada. 
Contraindicações: pacientes com nefrolitíase, com glaucoma de ângulo fechado, com insuficiência hepática e 
gestantes e lactentes;
A dose inicial indicada é de 25 mg e aumenta-se de forma progressiva em 25 mg a cada uma ou duas semanas, 
conforme tolerância do paciente. Recomenda-se o fármaco seja administrado no período da noite, porque os efeitos 
colaterais apresentam um pico após poucas horas de ingestão, de modo que a sonolência não será prejudicial caso 
o paciente tome o remédio perto do horário de dormir; 
Bupropiona + Naltrexona
A Bupropiona é utilizada on label para tratamento da depressão, devido à capacidade de aumentar a liberação de 
Dopamina e de Noradrenalina no SNC, estimulando a ativação do precursor peptídico pró-opiomelanocortina 
(POMC), responsável pela produção do hormônio α-MSH e do neurotransmissor β-endorfina; 
O hormônio α-MSH ativa os genes MC4R relacionados à fome e à saciedade no hipotálamo e também ao gasto 
energético do organismo. Como resultado, ocorre melhora da resistência à leptina, aumento do gasto energético e 
redução do apetite;
Contudo, β-endorfina é responsável pelo aumento do apetite. De modo que a ingestão apenas da Bupropiona não 
seria capaz de proporcionar a redução do peso. Para contornar essa questão, inclui-se no esquema a Naltrexona;
A Naltrexona é um antagonista de receptor opióide aprovada pela Anvisa para tratamento de dependência de 
opiáceos e do álcool. Esta droga é capaz de inibir a β-endorfina; 
Efeitos colaterais:
Insôniaa;
Boca seca;
Dor abdominal;
Agitação e ansiedade; 
Tontura;
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Aumento da PA;
Náusea e vômitos;
Constipação;
Palpitações;
Rash ou prurido;
Redução do limiar convulsivo. 
Contraindicações: pacientes com episódios pegressos de convulsão ou com epilepsia diagnosticada, pacientes em 
uso de inibidores de MAO, pessoas com anorexia ou bulimia, pacientes em uso de antidepressivos serotoninérgicos 
ou fármacos catecolaminérgicos, paciente na tentativa de cessar o alcoolismo e em uso crônico de opioides;
As doses dos fármacos vendidas nas farmácias são muito altas para o manejo da obesidade, conferindo muitos 
efeitos colaterais aos pacientes. Dessa forma, prefere-se a manipulação das doses para que estas sejam 
administradas em quantidades adequadas; 
Inicia-se o esquema de tratamento com um comprimido de Naltrexona 8 mg e Bupropiona 90 mg:
Na primeira semana, um comprimido pela manhã (1-0-0);
Na segunda semana, um comprimido duas vezes ao dia (1-0-1);
Na terceira semana, dois comprimidos de manhã e um comprimido à noite (2-0-1);
Na quarta semana, dois comprimidos duas vezes ao dia (2-0-2). 
A dose total diária não deve ultrapassar: Naltrexona 32 mg e Bupropiona 360 mg
Lisdexanfetamina 
Nome comercial no Brasil: Venvanse; 
Originalmente este fármaco é utilizado para tratamento de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção de 
Hiperatividade) e para tratamento de transtorno de compulsão alimentar periódica; 
O mecanismo de ação consiste na inibição da recaptação de Noradrenalina e Dopamina, de modo a controlar os 
impulsos de compulsão alimentar e aumentar a saciedade do paciente; 
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Efeitos colaterais:
Exacerbação de psicoses pré-existentes;
Agitação e agressividade;
Possível indução de episódios maníacos em pacientes bipolares;
Redução do limiar convulsivo;
Aumento do potencial de risco cardiovascular; 
Contraindicações: pacientes com histórico de abuso de drogas, cardiopatas, indivíduos com HAS mal controlada, 
com coronariopatias, com hipertireoidismo, com glaucoma e pacientes em uso de inibidores de MAO;
No primeiro mês, a posologia consiste em 30 mg por dia, no segundo mês aumenta-se a dose para 50 mg e, por 
fim, no terceiro mês, faz-se uso do comprimido de 70 mg uma vez ao dia. Recomenda-se administrar o fármaco pela 
manhã para evitar insônia. 
❗ Fórmulas para emagrecer que envolvam o uso de hormônios tireoidianos, diuréticos,fitoterápicos e 
ansiolíticos, por exemplo, não podem ser considerados "off label" porque não apresentam respaldo científico 
de segurança e eficácia para perda de peso, e a prescrição dessas terapias pode colocar em risco a vida do 
paciente. 
NAL: Naltrexona; BUP: Bupropiona; FEN: Fentermina; TPM: Topiromato.

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