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1 Marcella Carvalho 2021.2 Problema 1, fechamento 2 1. Entender iatrogenia e as consequências para o idoso. • O termo iatrogenia deriva do grego (iatros=médico, gignesthai=nascer, que deriva da palavra gênesis=produzir) e significa qualquer alteração patogênica provocada pela prática médica. • Tal condição é conflitante com os princípios de boa prática médica, como, por exemplo, o juramento de Hipócrates, de que a Medicina não deve causar dano ao paciente, ou o princípio primum non nocere, o qual deve reger qualquer intervenção médica. • Em Geriatria, esse princípio é fundamental, pois o idoso é mais vulnerável às reações adversas associadas a drogas e outras intervenções não medicamentosas, em função da senescência, de risco mais alto de polipatogenia, polifarmácia e incapacidades. • Portanto, o plano de cuidados pode até não trazer benefícios a determinados pacientes, mas tem a obrigação de, pelo menos, não piorar sua autonomia e independência. A iatrogenia significa qualquer alteração patogênica provocada pela prática médica. Deve-se evitar iatrogenia em idosos devido à sua natural vulnerabilidade mais acentuada às reações adversas, ás intervenções não-medicamentosas, decorrentes da senescência, do risco de polipatogenia e de polifarmácia, além de incapacidades. • A iatrogenia resulta da presença de uma ou mais das seguintes situações: I. Iatrofarmacogenia: decorrente do uso de medicamentos, de polifarmácia, da interação medicamentosa e do desconhecimento das alterações farmacocinéticas associadas ao envelhecimento. II. Internação hospitalar: que pode potencializar os riscos decorrentes do declínio funcional, da subnutrição, da imobilidade, da úlcera de pressão e da infecção hospitalar. III. Iatrogenia da palavra: associada ao desconhecimento de técnicas de comunicação de más notícias; IV. Iatrogenia do silêncio: que decorre da dificuldade de ouvir adequadamente o paciente e sua família; V. Subdiagnóstico: pela tendência a atribuir todas as queixas apresentadas pelo idoso ao fenômeno “da idade”, o que pode resultar em grave erro; VI. Cascata propedêutica: em que a solicitação de exames é feita de forma desnecessária, extensiva, sem indicação precisa; VII. Distanásia: caracterizada pelo prolongamento artificial da vida sem perspectiva de reversibilidade, com sofrimento para o paciente e sua família; VIII. Prescrição de intervenções fúteis e/ou sem comprovação científica: que impõem ao paciente risco desnecessário; IX. Iatrogenia do excesso de intervenções reabilitadoras: o excesso de “equipe interdisciplinar” pode trazer consequências desfavoráveis ao paciente, assim como o faz a polifarmácia. A priorização é fundamental tanto na escolha das drogas a serem utilizadas quanto na definição dos profissionais que participarão do trabalho interdisciplinar. • Grande parte da iatrogenia resulta do desconhecimento das alterações fisiológicas do envelhecimento e das peculiaridades da abordagem ao idoso, desde a dificuldade no estabelecimento de diagnósticos etiológicos e funcionais, a tomada de decisões, até a prescrição final. Trata-se, portanto, da principal síndrome geriátrica potencialmente reversível ou até mesmo curável. Basta doses regulares e contínuas de conhecimento específico na área. Obs: os 7 I’s da geriatria → incapacidade cognitiva, instabilidade postural, imobilidade, incapacidade comunicativa, incontinência urinária, incontinência esfincteriana e insuficiência familiar. • Os aspectos farmacológicos envolvidos na iatrogenia são muito enfatizados, porém é importante ressaltar que condutas não farmacológicas também podem ser iatrogênicas aos idosos. • Os fatores que contribuem para esse cenário de problemas relacionados aos medicamentos são: polifarmácia, prescrição de medicamentos 2 Marcella Carvalho 2021.2 inapropriados, má complacência, uso de medicamentos não prescritos e falta ou inadequação nas orientações aos pacientes e cuidadores sobre os perigos dos medicamentos. • Comumente, os idosos apresentam mais de uma doença e têm vários especialistas, sendo cada um deles responsável pelo tratamento de uma doença, fragmentando o cuidado. Além disso, a apresentação atípica das doenças associada às modificações da composição corporal, da função hepática, renal e outras alterações contribuem para o mais alto risco de iatrofarmacogenia no idoso. • Na avaliação das medicações adequadas para os indivíduos idosos, deve-se considerar a dosagem apropriada, a presença de terapia duplicada ou redundante, o alto potencial de interação dos medicamentos e a duração adequada do tratamento. Qualquer novo sintoma no idoso deve ser considerado como potencialmente associado ao uso de medicamentos, até que se prove o contrário. • A polifarmácia é uma das principais causas de iatrogenia. Isso se deve, basicamente, aos seguintes fatores: baixa complacência ao tratamento (probabilidade aumenta com a complexidade do regime posológico); risco mais alto de reações adversas às drogas; risco mais alto de interações droga-droga e droga- doença. • Polifarmácia: é a prescrição de cinco ou mais medicamentos de uso contínuo (há autores que consideram de 2 a 10 medicamentos prescritos simultaneamente para um mesmo indivíduo ou dois ou mais medicamentos sem indicação precisa na rotina do idoso). Aumenta o risco de efeitos adversos dos medicamentos e das associações entre eles, como quedas, hospitalização, institucionalização, mortalidade e outros. Boa parte pode ser descontinuada ou trocada por substância equivalente. • Medicamentos inapropriados: várias ferramentas têm sido utilizadas para se avaliar a prescrição de medicamentos a pacientes geriátricos em razão do risco potencial desses fármacos. Entre elas se destacam a lista de Beers; a Improved Prescribing in the Elderly (IPET) e as ferramentas Screening Tool of Older Person’s Prescriptions (STOPP) e Screening Tool to Alert Doctors to the Right Treatment (START). Com o auxílio dessas ferramentas, fica mais fácil identificar medicações que podem ser inapropriadas ou suspensas, ou ainda as que devem ser prescritas. • Subutilização de medicamentos apropriados: algumas medicações apropriadas são subutilizadas, o que se observa em casos de não aderência ao tratamento e da subprescrição. • Não aderência ao tratamento: entre os diversos fatores associados à não aderência, os de maior influência – de acordo com a OMS – distribuem-se em cinco dimensões, conforme o quadro. • A baixa aderência habitualmente está associada a altos custos na saúde, baixa qualidade de vida e evoluções clínicas prejudiciais, devendo o médico ser também um fator motivacional no processo de aderência medicamentosa. • Subprescrição: a relação entre polifarmácia e subprescrição já está bem estabelecida. A possibilidade de subprescrição cresce com a polifarmácia, e o subuso de prescrições formais pode chegar a 64% dos casos. 3 Marcella Carvalho 2021.2 • Existem teorias cobre a questão conhecida como risco paradoxal do tratamento, em que se deixa de prescrever medicamentos importantes e indicados, prescrevendo-se medicamentos menos importantes e até questionáveis quanto à relação custo-benefício e ao risco de efeitos colaterais. • Além dos fatores já considerados, deve-se ressaltar a dificuldade de se aplicarem as evidências sobre efetividade e segurança dos tratamentos farmacológicos nos idosos frágeis. Isso se deve aos seguintes fatores: ✓ Frequentemente, os trabalhos com idosos excluem aqueles com múltiplas comorbidades. Felizmente, percebe-se redução dos trabalhos em que a idade é critério de exclusão. Entretanto, a representatividade dos idosos e das mulheres nos trabalhos ainda é relativamente baixa. ✓ Número insuficiente de informações sobre o efeito das drogas nos idosos;✓ Carência de estudos sobre as consequências das alterações fisiológicas e funcionais decorrentes da senescência; ✓ O potencial de efeitos adversos aumenta com o número de drogas (6% quando o idoso usa duas drogas, 50% com cinco drogas e 100% com oito drogas ou mais); ✓ A adesão ao tratamento reduz o aumento do número de drogas prescritas (aproximadamente 80% quando se usa uma droga, 50% com três drogas e 20% com seis ou mais drogas); ✓ Dificuldade de previsão do real benefício de uma intervenção quando há inúmeras possibilidades de interação droga-droga, droga-doença; ✓ Inexistência de um sistema capaz de coletar, analisar, processar e disseminar as informações sobre os efeitos das drogas na população idosa, especialmente após aprovação da medicação. • Com efeito, é importante frisar que a iatrogenia não ocorre exclusivamente na população idosa. Todavia, dada a fragilidade desses indivíduos, a repercussão das práticas médicas é maior que nas outras faixas etárias. Farmacocinética das drogas no idoso • Todos os medicamentos sofrem alguns processos farmacológicos ao entrarem em contato com o organismo. Tais processos recebem influência das alterações fisiológicas e patológicas do envelhecimento e das comorbidades associadas. • O conhecimento da farmacocinética (“o que o corpo faz com a droga”) e da farmacodinâmica (“o que a droga faz no corpo”) nos idosos é essencial para uma prescrição racional, evitando-se, assim, a iatrogenia. absorção • O processo de absorção das drogas nos idosos é pouco influenciado pelo envelhecimento, trazendo repercussões mínimas na prescrição, exceto em idosos mais frágeis e com polifarmácia. Nestes, o uso concomitante de drogas que reduzem o pH gástrico pode prejudicar a absorção de determinadas drogas. • Por outro lado, alguns cuidados devem ser obedecidos: - algumas drogas são capazes de alterar a palatabilidade dos alimentos, causando inapetência e perda de peso: fluoxetina, digoxina, inibidores da ECA, sulfato ferroso, anticolinérgicos, etc. - nos idosos dementados, o comprimido ou cápsula pode ficar mais tempo na cavidade oral, aumentando o risco de irritação e erosão local. - disperistalse esofágica comumente associada ao envelhecimento pode favorecer a permanência de comprimidos na luz esofágica, aumentando o risco de reações locais, como, por exemplo, com os bifosfonados (alendronato, etc...). distribuição • O nível sérico das drogas depende da composição dos compartimentos corporais e das características físico-químicas e moleculares das drogas. • A meia vida é diretamente proporcional ao volume de distribuição e inversamente proporcional à velocidade de depuração da droga. • O volume de distribuição é a quantidade da droga no corpo a uma dada concentração. É especialmente importante para as drogas que inicialmente são administradas com dose de ataque. • Tendo em vista a redução da quantidade de água e o aumento proporcional de tecido 4 Marcella Carvalho 2021.2 adiposo, via de regra as drogas hidrofílicas se distribuem num menor compartimento, enquanto que nas drogas lipofílicas ocorre o contrário. • As drogas ácidas circulam ligadas à albumina e as drogas básicas ligam-se à α1-ácido glicoproteína. Metabolização e excreção • Com o envelhecimento, ocorrem alterações na eliminação pré-sistêmicas (1ª passagem hepática), metabolização hepática e eliminação renal. A redução do efeito da primeira passagem hepática aumenta a biodisponibilidade das drogas lipossolúveis, como o propranolol, nitrato, metildopa, morfina, nortriptilina, etc. • Além disso, o clearence hepático não se faz pela eliminação da droga (excreção biliar), e sim pela inativação das drogas. A biotransformação hepática é fundamental para as drogas altamente lipofílicas, que apresentam difícil excreção renal. • Com o envelhecimento, ocorre o comprometimento da biotransformação hepática, secundário às seguintes alterações: - redução de 35% do fluxo sanguíneo hepático; - redução do tamanho do fígado (35%); - redução do conteúdo, afinidade e atividade das enzimas hepáticas (sistema microssomal hepático): algumas drogas são indutoras do clearence microssomal hepático (omeprazol, rifampicina, fenitoína, fumo, etc), enquanto outras têm efeito inibidor (cetoconazol, fluoxetina, paroxetina, amiodarona, cimetidina, etc), aumentando o risco de interação droga- droga. • Fase I: METABOLISMOS OXIDATIVOS Drogas metabolizadas pela fase I são comprometidas com o envelhecimento, reduzindo o clearence dessas drogas (20-40%) e aumentando a sua via média. Reações mediadas pelo CYP450. Ex.: diazepam, morfina, levodopa, nortriptilina etc. • Fase II: REAÇÕES DE CONJUGAÇÃO As drogas metabolizadas pela fase II sofrem pouca influência do envelhecimento. Metabólitos geralmente são farmacologicamente inativos. • O envelhecimento renal, associado às comorbidades comuns no idoso, compromete o clearence das drogas, aumentando o risco de toxicidade daquelas excretadas pelos rins, como digoxina, cimetidina, aminoglicosídeos, furosemida, metformina, ranitidina, vancomicina, procainamida, inibidores da enzima conversora, lítio, amantadina, Clorpropamida, entre outras. • A queda do clearence de creatinina não é acompanhada por uma elevação proporcional da creatinina sérica, provavelmente pela redução concomitante da massa muscular (sarcopenia). Assim, a dosagem sérica de creatinina não reflete adequadamente a função renal. Farmacodinâmica das drogas nos idosos • A farmacodinâmica das drogas está modificada pelas alterações dos mecanismos de controle homeostático e alterações nos receptores e pós-receptores ligadas ao envelhecimento. Ambas são agravadas pela presença de comorbidades e/ou drogas. • As principais alterações de controle homeostático são: - controle da pressão arterial: mais tendência à hipotensão ortostática (5 a 33% dos idosos) por disfunção dos barorreceptores, agravadas pelo uso de anti-hipertensivos, neurolépticos, tricíclicos, benzodiazepínicos, antiparkinsonianos, etc; - menos atividade colinérgica central: mais tendência à confusão mental e ao delirium, agravado pelo uso de drogas como a teofilina, drogas anticolinérgicas, betabloqueadores, hipnóticos, etc; - comprometimento do controle postural: mais tendência a quedas, agravada pelo uso de psicotrópicos, particularmente os benzodiazepínicos de média e longa duração (lipossolúveis); - comprometimento da termorregulação, agravado pelo uso de neurolépticos, barbitúricos, álcool; - redução da função dopaminérgica: mais sensibilidade extrapiramidal (antivertiginosos, metoclopramida). • As principais alterações no receptor e pós- receptor ligadas ao envelhecimento são: - hiporresponsividade α e β-adrenérgica (down regulation): menos efeito anti-hipertensivo dos simpaticolíticos (os miócitos senescentes respondem mais lentamente à estimulação β- adrenérgica); - menos atividade do sistema renina- angiotensina-aldosterona; - aumento da sensibilidade anticolinérgica: risco mais alto de confusão mental, retenção vesical, fecaloma, constipação intestinal; - comprometimento dos quimiorreceptores: risco mais alto de depressão respiratória; 5 Marcella Carvalho 2021.2 - aumento da sensibilidade ao warfarin, opioides e benzodiazepínicos (sedação, confusão mental, ataxia e comprometimento cognitivo). 2. Analisar os problemas mais prevalentes relacionados ao processo de prescrições de medicamentos para idosos. • A utilização de drogas no idoso está associada a várias complicações, que podem ser agrupadas em reações adversas e complicações associadas à suspensão súbita. • Outros problemas que não podem ser desprezados referem-se aos erros por omissão, em que drogas comprovadamente eficazes não são utilizadas (p.ex.: disfunção sistólica e inibidores da enzima conversora). • Dosessubterapêuticas, reações idiossincráticas, prescrição ininteligível são problemas comuns na prescrição para idosos. • Estima-se que até 50% das prescrições para o idoso sejam inapropriadas. Todo sintoma ou sinal recente, sem causa aparente, deve ser inicialmente atribuído à reação adversa a drogas, especialmente os sintomas relacionados no quadro 33.10. • O idoso é particularmente vulnerável ao efeito anticolinérgico. O neurotransmissor acetilcolina é fundamental para o funcionamento adequado de vários sistemas fisiológicos principais. Com o envelhecimento, há redução progressiva do tônus colinérgico. Portanto, o uso de drogas com ação anticolinérgica deve ser evitado no idoso. • Os efeitos anticolinérgicos mais precoces são a xerostomia (boca seca) e o prejuízo na sudorese. Progressivamente, apresenta aumento da sede, taquicardia e midríase pupilar. E, posteriormente, a toxicidade anticolinérgica manifesta-se pela presença de retenção urinária, agitação, alucinações, convulsões, arritmias cardíacas e bloqueios de condução intracardíacos. Efeitos anticolinérgicos ✓ Sistema nervoso central: sonolência, fadiga, irritabilidade, desorientação, delirium; midríase, “visão borrada” pela perda da acomodação, glaucoma de ângulo fechado ✓ Coração: taquicardia ✓ Sistema respiratório: Inibição da secreção nasal, faringe e brônquios, resultando em ressecamento da mucosa do trato respiratório, comprometendo o clearence mucociliar ✓ Sistema gastrintestinal: inibição das glândulas salivares (xerostomia), lentificação do esvaziamento gástrico e motilidade intestinal (trânsito intestinal lento e constipação), redução da secreção gástrica ✓ Sistema urinário: diminuição do tônus e amplitude da contração da musculatura da bexiga (músculo detrusor) ✓ Glândulas sudoríparas: inibição da diaforese 6 Marcella Carvalho 2021.2 • As principais drogas associadas a reações adversas secundárias à suspensão súbita são: benzodiazepínicos, antidepressivos, anti- hipertensivos (inibidores da enzima conversora e clonidina), β-bloqueadores e antiparkinsonianos (levodopas). • A prescrição medicamentosa para idosos deve seguir recomendações rigorosas. Entre elas: - a monitorização rígida das drogas (aminoglicosídeos, digoxina, teofilina, lítio, fenitoína, ácido valproico e warfarin); - o cuidado com o “ímpeto da prescrição de drogas” – a receita como resposta indispensável numa consulta médica; - o respeito à regra “se não souber o que deve ser feito, nada faça. Aguarde mais tempo. Estude e discuta melhor o caso”; - evitar a polifarmácia sempre que possível; - a polipatogenia e a polifarmácia exigem a presença de um gerenciador médico capaz de avaliar o paciente como um todo; - evitar a prescrição de sintomáticos para tratar reações adversas a outras drogas (cascata iatrogênica) A cascata de prescrição ocorre quando se prescreve um primeiro fármaco e, por efeitos colaterais, prescreve-se um segundo medicamento para reverter os efeitos adversos do primeiro, o qual não foi ou não pode ser suspenso. - evitar a continuidade do uso de drogas indicada por curto tempo, como no caso de antivertiginosos; - evitar drogas mais lipofílicas e metabolizadas durante a fase I da biotransformação hepática; - simplificação do regime terapêutico; - iniciar devagar e progredir lentamente; - sempre questionar se a droga é realmente necessária; - sempre rever os diagnósticos; - qualquer sintoma recente deve ser atribuído ao uso de drogas, até que se prove o contrário; - sempre solicitar ao paciente trazer todos os medicamentos prescritos e não prescritos (automedicação); - revisão regular da prescrição. • As reações medicamentosas adversas (RMAs) do tipo A resultam de efeitos fisiológicos esperados embora indesejados ou exagerados do fármaco. Por exemplo, os β-bloqueadores podem causar bradicardia, que resulta em síncope. As RMAs do tipo B, que são menos comuns, resultam de efeitos idiossincráticos não relacionados com os alvos fisiológicos usuais do fármaco, por exemplo, anafilaxia à penicilina. Em idosos, as RMAs do tipo A frequentemente se originam da interação de um fármaco e características subjacentes do paciente. • Para muitos idosos, a questão não é se está tomando muitos ou poucos remédios, mas se ele está tomando os remédios certos considerando as suas doenças, suas preferências e a capacidade de adesão ao tratamento. • Os desvios de um esquema ideal podem ser vistos como problemas de uso excessivo (uso de fármacos quando não há necessidade de uma farmacoterapia), uso errado (uso de um fármaco quando há uma melhor alternativa disponível) e subuso (o não uso de um fármaco que seria benéfico). A. Uso excessivo e uso errado: é comum que os fármacos sejam continuados por muito tempo após não serem mais necessários. Por exemplo, aproximadamente metade dos pacientes que iniciam tratamento com inibidores da bomba de prótons para profilaxia de úlcera de estresse durante a permanência hospitalar mantêm essa medicação após a alta por nenhum motivo definido. Vários critérios explícitos, chamados comumente de “lista de fármacos a serem evitados”, foram desenvolvidos para identificar medicações e situações terapêuticas que são potencialmente inadequadas para idosos. B. Subuso: embora o uso inadequado de fármacos seja discutido comumente em idosos, de igual importância é o subtratamento de condições que poderiam ser ajudadas pela farmacoterapia. Os idosos têm menos probabilidade de receber medicações indicadas do que suas contrapartes mais jovens, mesmo após responsabilizar-se pelas contraindicações a essas terapias. O medo excessivo de causar eventos adversos, a distração por outros aspectos clínicos, uma sensação de futilidade e uma sutil discriminação contra idosos provavelmente contribuem para esse padrão. Além disso, condições tratáveis costumam ser subdiagnosticadas em pacientes idosos, e sintomas como dor, fadiga e humor deprimido podem ser atribuídos incorretamente a “ficar velho”. Os critérios START (ferramentas de rastreamento para alertar os médicos para o tratamento correto) são critérios de consenso que identificam o subuso potencial de medicações benéfica em idosos. 7 Marcella Carvalho 2021.2 Drogas e seus efeitos iatrogênicos em idosos → AINES: podem causar IR; sangramento do TGI. Deve-se limitar seu uso a situações clínicas em que são absolutamente necessários, com menor dose em menor tempo possível. Analgésico alternativo: Acetaminofen, pode ser usado seguramente no idoso. Relaxantes musculares: pouco tolerados. Podem provocar hipotensão ortostática, depressão do SNC e ação anticolinérgica. → Analgésico opioide: Meperidina e propoxifeno, risco maior de delirium. → Antibióticos: ajustar dose com clearence renal para não causar lesão renal. → Anticolinérgicos: idosos são mais sensíveis aos efeitos devido ao declínio na neurotransmissão colinérgica central (visão embaçada, xerostomia, constipação, retenção urinária, taquicardia, hipotensão ortostática, delirium). A nortriptilina é mais segura para o idoso. → Antidepressivos e antipsicóticos: produzem efeitos anticolinérgicos em idosos. Os ADs são metabolizados mais lentamente em idosos. O aumento do volume de distribuição e o metabolismo retardado dos ADs promovem uma série de consequências. Entre elas, aumenta da concentração do fármaco, taxa de depuração prolongada e aumenta da meia-vida. O uso de antipsicóticos tem potentes efeitos extrapiramidais, anticolinérgicos e risco alto de discinesia tardia. → Bloqueadores de H2: cimetidina e ranitidina interferem com metabolismo hepático de drogas, aumentando a toxicidade de drogas que são metabolizadas no fígado (propranolol, lidocaína, warfarin). Todos os bloqueadores de H2 podem causar confusão mental nos idosos. Usar doses menores devido a menor excreção renal ou trocar por alternativas menos tóxicas.8 Marcella Carvalho 2021.2 Benzodiazepínicos • São comumente empregados na clínica diária para o tratamento dos distúrbios de ansiedade e do sono em pacientes idosos. Fármaco hipnótico/psicotrópico. Não recomendados para idosos: Lorazepam >3,0 mg/dia; alprazolam > 2mg/dia; Diazepam, clorazepato; flurazepam; • Os BZDs de ação prolongada dependem do metabolismo oxidativo e têm sua eliminação prolongada em idosos, pois estão envolvidos nas reações de biotransformação da fase I, que estão diminuídas nos pacientes geriátricos portadores de doenças comprometedoras da função hepática.Como resultado, os BZDs podem acumular-se nos pacientes idosos e atingir níveis tóxicos, evidenciados por sinais e sintomas de confusão, fala ininteligível, dispnéia, falta de coordenação e fraqueza acentuadas. • A avaliação do peso corpóreo, da massa magra, do clearance de creatinina e da função hepática é imprescindível para a prescrição de BZDs em idosos, especialmente os de longa meia-vida (flurazepam, 74 horas; diazepam, 43 horas; e quazepam, 39 horas). • Recomenda-se usar dosagens menores de BZDs e intervalos maiores entre as administrações para idosos.Além disso, é indicado o uso de BZDs de curta duração (lorazepan, alprazolam), se for necessário. • Existe um receptor GABAérgico que é um canal seletivo de cloreto. Nesse receptor, liga-se o GABA (de modo geral, neurotransmissor inibitório do SNC). Ao se ligar a esse neurotransmissor, esse receptor se “abre” e permite a entrada de íons cloreto (Cl-) – canal seletivo de cloreto – canal operado por ligante. Como já se estudou na fisiologia, a entrada de íons com carga negativa dentro da célula promove uma hiperpolarização. Isso significa que a célula ficará mais negativa que o normal, portanto, mais difícil de gerar um potencial de ação. • Os BZP (assim como o álcool e os barbitúricos), por sua vez, tem mesmo efeito final que o do neurotransmissor GABA. Esses fármacos se ligam ao receptor GABAérgico em um sítio específico* (diferente do sítio do GABA, ou seja, não competem pelo sítio), aumentando, pois, a afinidade do receptor pelo GABA, permitindo a entrada de íons Cl- (cloreto) e dificultando a geração de um novo potencial de ação. • Propriedades farmacológicas dos BZP: - Aumenta a frequência de abertura dos canais de Cl-; -Sedação; 9 Marcella Carvalho 2021.2 -Hipnose; -Redução da ansiedade; -Relaxamento da musculatura (a contração muscular é feita por Ach, mas existem interneurônios GABAérgicos que se ligam a receptores colinérgicos fazendo sinapses; a hiperpolarização também acontece em celular musculares); -Amnésia anterógrada; - Atividade anticonvulsivante (associado). • Características: - Os BZP não são antidepressivos; eles sedam e induz o sono se for utilizado sozinho, ele piora o quadro de depressão; - Utilizados em casos agudos de ansiedade; por exemplo: morte de um parente; - Ação sobre o sono REM (diminui); - Adjuvante anestésico -> para induzir o sono no paciente – NÃO tem ação anestésica; isso é feito através da hiperpolarização, com isso, a dose de anestésico pode ser menor porque dificulta a deflagração de potencial de ação; - São dependentes de GABA porque ele não é capaz de estimular a liberação desse. Metaclopramida • O cloridrato de metoclopramida (PLASIL) é um produto de síntese original dotado de características químicas farmacológicas e terapêuticas peculiares, sua substância ativa metoclopramida é quimicamente o cloridrato de N-dietilaminoetil-2-metoxi-4-amino-5- clorobenzamida. • A metoclopramida, antagonista da dopamina, estimula a motilidade muscular lisa do TGI superior, sem estimular as secreções gástrica, biliar e pancreática. O efeito na motilidade não é dependente da inervação vagal intacta, porém, pode ser abolido pelas drogas anticolinérgicas. • Seu mecanismo de ação é desconhecido, parecendo sensibilizar os tecidos para a atividade da Ach. Aumenta o tônus e amplitude das contrações gástricas (especialmente antral), relaxa o esfíncter pilórico, duodeno e jejuno, resultando no esvaziamento gástrico e no trânsito intestinal acelerados. Aumenta o tônus de repouso do esfíncter esofágico inferior. • Movimentos anormais ou perturbados foram relatados em pacientes idosos tratados por períodos prolongados. Entretanto, não há recomendações especiais sobre o uso adequado desse medicamento. • Contraindicações: - Em pacientes com antecedentes de hipersensibilidade a Metoclopramida ou a qualquer componente da fórmula. - Em que a estimulação da motilidade gastrintestinal seja perigosa, como por exemplo, na presença de hemorragia gastrointestinal, obstrução mecânica ou perfuração gastrointestinal. - Em pacientes epiléticos ou que estejam recebendo outras drogas que possam causar reações extrapiramidais, uma vez que a frequência e intensidade destas reações podem ser aumentadas. - Em pcts com feocromocitoma, pois pode desencadear crise hipertensiva, devido à provável liberação de catecolaminas do tumor. Esta crise hipertensiva pode ser controlada com fentolamina. - Em pacientes com histórico de discinesia tardia induzida por neurolépticos ou Metoclopramida. - Em combinação com levodopa devido a um antagonismo mútuo. Cinarizina • A cinarizina é um medicamento antagonista do cálcio. São derivadas da piperazina e, além de bloquear os canais lentos de cálcio, também bloqueiam os receptores H1 da histamina e possui atividade antisserotoninérgica. • Age como um vasodilatador cerebral. Além deste antagonismo direto ao cálcio, a cinarizina diminui a atividade contrátil das substâncias vasoativas, como a norepinefrina e a serotonina, através do bloqueio do receptor dos canais de cálcio. O bloqueio do influxo celular de cálcio é tecido-seletivo, e resulta em propriedades anti-vasoconstritoras sem efeito na pressão sanguínea e frequência cardíaca. • Indicações: - Distúrbios circulatórios cerebrais: profilaxia e tratamento dos sintomas de espasmo vascular cerebral e arteriosclerose como tontura, zumbido no ouvido, cefaleia vascular, falta de sociabilidade e irritabilidade, fadiga, distúrbios do sono como despertar precoce, depressão de involução, perda de memória falta de concentração, incontinência e outros distúrbios devidos à idade; sequelas de traumas cranioencefálicos; sequelas funcionais pós-apopléticas; enxaqueca. - Distúrbios circulatórios periféricos: profilaxia e tratamento dos sintomas que acompanham os distúrbios circulatórios periféricos (arteriosclerose, tromboangeite obliterante,doença de Raynaud, diabete, acrocianose, etc), tais como: claudicação intermitente, distúrbios tróficos, pré-gangrena, úlceras varicosas, parestesia, câimbra noturna, extremidades frias. - Distúrbios do equilíbrio: profilaxia e tratamento dos sintomas dos distúrbios do equilíbrio (arteriosclerose labiríntica, irritabilidade do labirinto, Síndrome de Menière), tais como vertigem, tontura, zumbido, nistagmo, náuseas e vômitos; profilaxia dos distúrbios de movimento. • Após várias semanas de tratamento, idosos às vezes apresentam pequenos problemas de movimento como tremor, leve rigidez muscular ou pernas inquietas. Casos de agravamento ou 10 Marcella Carvalho 2021.2 aparecimento de sintomas extrapiramidais, às vezes associados com sentimentos depressivos foram relatados. Em tais casos o tratamento deve ser descontinuado. • Como os outros anti-histamínicos, pode causar desconforto gástrico, e a administração do medicamento após as refeições pode diminuir a irritação. • Em pacientes com DP, a cinarizina deve ser administrada apenas se os benefícios forem superiores aos possíveis riscos de agravamento da doença. • Pode causar sonolência, especialmente no início do tratamento. Portanto, deve-se tomar cuidado com o uso concomitante de álcool ou depressores do SNC. • Contraindicação:em caso de hipersensibilidade a cinarizina ou aos excipientes da fórmula. 3. Comparar a nova lista de BEERS (2019) com as anteriores e identificar as tecnologias e ferramentas utilizada para avaliar a qualidade das prescrições de medicamentos na população geriátrica. • A prescrição farmacológica é o desenlace mais comum de uma consulta médica e representa o principal tipo de intervenção terapêutica. A escolha do medicamento apropriado para cada doença em particular é um processo complexo, pois é essencial que a prescrição seja clinicamente efetiva, segura e tenha uma relação custo-benefício satisfatória. • Uma prescrição inapropriada abrange o uso de medicamentos que apresentam um risco significante de evento adverso, quando há evidência de alternativa igual ou mais efetiva e com menor risco para tratar a mesma condição. • Além disso, a prescrição inapropriada inclui o uso de medicamentos em uma frequência ou um período maior do que os clinicamente indicados, o uso de múltiplos medicamentos que possuem interações medicamentosas ou medicamento-doença e, sobretudo, a subutilização de medicamentos benéficos que são clinicamente indicados, mas não são prescritos por discriminação da idade ou razões ilógicas. • A adequação da prescrição em idosos tem sido avaliada por meio de instrumentos que utilizam critérios implícitos, baseados em julgamentos clínicos, ou explícitos, que são fundamentados em padrões predeterminados. Esses últimos são os mais utilizados na prática clínica e em pesquisas, pois são mais fáceis de serem aplicados, sem grande interferência de um julgamento clínico pessoa. • Na prática, são instrumentos baseados na verificação de uma lista de medicamentos considerados potencialmente inapropriados em condições ou situações específicas. • As listas de medicamentos potencialmente inapropriados (MPI) para idosos mais citadas e utilizadas são os Critérios de Beers, desenvolvido nos Estados Unidos, e o Screening Tool of Older Persons’ Potentially Inappropriate Prescriptions (STOPP), elaborado na Irlanda. • Ambos foram desenvolvidos por meio do consenso de uma equipe de especialistas nacionais, composta, dentre outros, por geriatras, farmacologistas e farmacêuticos clínicos, utilizando a técnica de Delphi. • Desenvolvidos em 1991 para instituições de longa permanência, os Critérios de Beers foram os pioneiros. Após revisões e atualizações posteriores, foram adequados para aplicação em diversos cenários. Como, porém, esses critérios apresentavam algumas limitações – como a inclusão de medicamentos que já eram na época raramente utilizados e indisponíveis na maioria dos países europeus, em 2008, foi desenvolvido na Europa a primeira versão do STOPP. • Nesses critérios, os medicamentos/classes farmacológicas foram agrupados por sistemas fisiológicos, incluindo casos de interações fármaco-fármaco, fármaco-doença e de prescrição duplicada de medicamentos de mesma classe. • Mais recentemente, em 2012 e 2015, foram publicadas as novas versões dos critérios de Beers. Esses incluem listas de medicamentos/grupos farmacológicos que devem ser evitados em todos os idosos, aqueles que devem ser evitados em idosos com determinada condição clínica e os que devem ser utilizados com precaução. • A abordagem baseada em evidências, com recomendações segundo a qualidade de evidência e a força de recomendação, bem como a adição de medicamentos recentemente comercializados e a exclusão daqueles em desuso são alguns pontos positivos das novas versões. • Uma vez que essas ferramentas requerem revisões constantes, o STOPP também foi recentemente atualizado e expandido em sua última versão publicada em 2015. • Podem ser utilizados ferramentas que rastreiam medicamentos potencialmente inapropriados, a exemplo do STOPP, bem como aquelas que indicam medicamentos inicialmente omitidos, como a START. • O propósito desses instrumentos é melhorar a qualidade e a segurança da prescrição para idosos. Embora os critérios de Beers e o STOPP apresentem semelhanças e algumas recomendações em comum, na tomada de decisão quanto à prescrição de medicamentos para idosos indica-se seu uso complementar e combinado. • Por outro lado, devido às diferenças na disponibilidade dos fármacos, assim como em relação às diferentes condutas prescritivas adotadas, esses instrumentos têm sido adaptados em muitos países. • A American Geriatrics Society (AGS) lançou a atualização de 2019 dos critérios de Beers, a 11 Marcella Carvalho 2021.2 qual foi publicada em 29 de janeiro de 2019. Os critérios de 2019 contêm 30 medicamentos ou classes farmacológicas que devem ser, em geral, evitados em idosos, e 40 medicamentos ou classes farmacológicas que devem ser usados com cautela ou evitados para alguns pacientes com doenças ou enfermidades específicos. Dois critérios foram acrescentados em resposta à crise dos opioides – não prescrever opioides junto com benzodiazepínicos ou gabapentinoides. • Oito anticonvulsivantes, oito medicamentos para insônia e os vasodilatadores para síncope foram excluídos dos critérios. Alguns desses medicamentos foram retirados porque os problemas associados ao seu uso não são exclusivos dos pacientes idosos. Dois medicamentos – ticlopidina e pentazocina – foram omitidos por já não estarem disponíveis nos EUA. Excluídos dos critérios • Os antagonistas dos receptores H2 foram retirados dos critérios porque as evidências sobre seus efeitos adversos nos pacientes com demência são fracas. Esses medicamentos, indicados para o tratamento do refluxo gastroesofágico, ainda podem ser usados para pacientes com delirium. • Os quimioterápicos carboplatina, cisplatina, vincristina e ciclofosfamida foram excluídos porque o grupo de especialistas os consideros “especializados demais” e fora do escopo dos critérios. “Use com cautela” • A associação de dextrometorfano e quinidina deve ser utilizada com cautela, por ter eficácia limitada no alívio dos sintomas comportamentais da demência nos pacientes sem transtorno da expressão emocional involuntária (ou afeto pseudobulbar), e porque pode aumentar o risco de quedas e interações medicamentosas. • A rivaroxabana deve ser usada com cautela para tromboembolia venosa ou fibrilação atrial em pacientes com mais de 75 anos, em função do risco de quedas e interações medicamentosas. • A associação de sulfametoxazol-trimetoprima pode aumentar o risco de hiperpotassemia nos pacientes com diminuição da função renal, que estejam tomando inibidores da enzima conversora de angiotensina ou bloqueadores dos receptores de angiotensina. • Carbamazepina, mirtazapina, oxcarbazepina, serotonina, inibidores da recaptação da norepinefrina, inibidores seletivos da recaptação de serotonina, antidepressivos tricíclicos e tramadol devem ser usados com cautela, pois podem causar ou exarcebar a síndrome da secreção inapropriada do hormônio antidiurético. Os níveis de sódio devem ser monitorados de perto ao prescrever esses medicamentos. • O ácido acetilsalicílico para prevenção primária da doença cardiovascular ou do câncer colorretal merece atenção especial entre os pacientes com mais de 70 anos, e não mais de 80 anos, porque novos dados mostraram uma redução na idade em que há aumento do risco de sangramento nos pacientes idosos. • Inibidores da recaptação da serotonina e da norepinefrina devem ser prescritos com cautela para pacientes com risco de quedas ou de fraturas. Outras novidades • Para a doença de Parkinson, a recomendação de evitar todos os antipsicóticos foi revista, e passa a aceitar a quetiapina, a clozapina e a pimavanserina. • Em caso de insuficiência cardíaca, os antagonistas dos canais de cálcio e os não di- hidropiridínicos não devem ser prescritos para os pacientes com diminuição da fração de ejeção. Os anti-inflamatórios não esteroides, os inibidores da COX-2,as tiazolinedionas e a dronedarona devem ser prescritos com cautela para pacientes sem sintomas de insuficiência cardíaca. • Macrolídios (exceto a azitromicina) ou o ciprofloxacina não devem ser prescritos junto com a varfarina pelo risco de sangramento. • O ciprofloxacina e a teofilina não devem ser associados, devido ao aumento da toxicidade da teofilina. • Para pacientes com diminuição da função renal, o uso de ciprofloxacino está associado ao aumento do risco de ruptura de tendão e aumento dos seus efeitos no sistema nervoso central. O uso de sulfametoxazol-trimetoprima está associado a piora da insuficiência renal e hiperpotassemia. Atualização dos Critérios de Beers AGS 2019, para medicações potencialmente inapropriadas em idosos – SBGG Disponível em: https://www.sbgg-sp.com.br/atualizacao-dos- criterios-de-beers-ags-2019-para-medicacoes- potencialmente-inapropriadas-em-idosos/ • Cada um dos cinco tipos de critérios na atualização de 2015 foi mantido nesta atualização de 2019: 1) medicamentos que são potencialmente inapropriados na maioria dos idosos; 2) aqueles que normalmente devem ser evitados em idosos com certas condições; 3) medicamentos para serem usados com cautela; 4) interações medicamentosas; e 5) ajuste da dose de droga com base na função renal. • Os métodos utilizados para a atualização de 2019 do AGS Beers Criteria® foram semelhantes aos utilizados em 2015, com ênfase adicional na extensão do rigor do processo de revisão e síntese de evidências. O 12 Marcella Carvalho 2021.2 painel de especialistas compreendeu 13 clínicos e incluiu médicos, farmacêuticos e enfermeiros que participaram naquela data. A busca na literatura ocorreu no Pubmed e Cochrane Library de janeiro de 2015 a 30 de setembro de 2017. Resultados: Os resultados foram apresentados em tabelas de acordo com os 5 tipos de critérios utilizados Tabela 2: Medicamentos que são potencialmente inapropriados na maioria dos idosos • Antagonistas do receptor H2 foram removidos da lista de medicamentos a serem evitados em pacientes com demência ou declínio cognitivo, pois suas evidências sobre efeitos cognitivos são fracas. No entanto, essas medicações permanecem na lista dos “evitados” em pacientes com delirium. Tabela 3: Medicamentos que normalmente devem ser evitados em idosos com certas condições • Esta tabela mostra que os inibidores de receptação serotonina-norepinefrina foram adicionados à lista dos medicamentos a serem evitados em pacientes com história de quedas ou fraturas. • Os antipisicóticos devem ser evitados em idosos com Parkinson, exceto quetiapina, clozapina e pimavanserina. • Medicamentos a serem evitados em idosos com insuficiência cardíaca foram reorganizados. As recomendações atualizadas são de que os bloqueadores dos canais de cálcio não diidropiridínicos devem ser evitados em idosos que tenham insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida; o uso de antiinflamatórios não esteroides (AINEs), inibidores da ciclooxigenase-2, tiazolidinedionas (“glitazonas”) e dronedarona devem ser usados com cautela em idosos com insuficiência cardíaca assintomáticos (bom controle dos sinais e sintomas da insuficiência cardíaca, com ou sem uso de medicamentos) e evitar o uso em idosos sintomáticos; e que o cilostazol deve continuar a ser evitado em pacientes idosos com insuficiência cardíaca de qualquer tipo. Tabela 4: Medicamentos para serem usados com cautela • O limite de idade para utilização da aspirina como prevenção primária de doença cardiovascular foi reduzida para 70 anos ou mais. Este critério também foi expandido para abranger o uso da aspirina como prevenção primária do câncer colo retal. Importante, este critério não se aplica ao uso da aspirina para prevenção secundária de qualquer doença. • Além do cuidado já existente com a dabigatrana, os critérios atualizados enfatizam o uso de rivaroxabana para tratamento de tromboembolismo venoso ou fibrilação atrial com idade igual ou superior a 75 anos. • O tramadol foi adicionado à lista de medicamentos associados a hiponatremia ou síndrome de secreção inapropriada do hormônio antidiurético. Os agentes quimioterápicos carboplatina, ciclofosfamida, cisplatina e vincristina foram removidos dessa lista porque o painel achou que a prescrição dessas drogas altamente especializadas estava fora do escopo dos critérios. • Os vasodilatadores foram removidos, pois síncope não é exclusiva dos idosos. • A combinação dextrometorfano/quinidina foi adicionada à tabela “usar com cuidado” com base na eficácia limitada em pacientes com sintomas comportamentais de demência, aumentando o risco de quedas e interações medicamentosas • A combinação sulfametoxazol-trimetroprim (SMX-TMP) deve ser usada com cautela por pacientes com função renal reduzida e uso de inibidor da enzima conversora de angiotensina (IECA) ou bloqueador do receptor de angiotensina (BRA) devido ao risco aumentado de hipercalemia. Tabela 5: Medicamentos com interações medicamentosas entre as drogas • As novas recomendações incluem evitar o uso de opioides concomitantemente com benzodiazepínicos e também com gabapentina e pregabalina devido ao risco aumentado de sedação excessiva e parada respiratória. • O antibiótico SMX-TMP em combinação com fenitoína ou varfarina aumenta o risco de toxicidade da fenitoína e de sangramento da varfarina, respectivamente. Os macrolídeos, (excluindo azitromicina) e o ciprofloxacina quando em combinação com a varfarina aumentam o risco de sangramento. Ainda, o ciprofloxacina, quando em combinação com teofilina aumenta o risco de toxicidade da teofilina. • O uso simultâneo de uma combinação de três ou mais agentes do sistema nervoso central (antidepressivos, antipsicóticos, benzodiazepínicos, não-benzodiazepínicos, antagonistas dos receptores benzodiazepínicos, antiepilépticos e opioides) e aumento do risco de queda foi colocado em uma única recomendação ao invés de recomendações separadas para cada classe de drogas. A recomendação para se evitar o uso concomitante de medicações que aumentam o potássio sérico foi ampliada para abranger uma gama mais ampla desses medicamentos. Tabela 6: Medicamentos que necessitam de ajuste da dose de droga com base na função renal • Dois antibióticos foram adicionados à necessidade de ajuste de dose de acordo com a função renal: ciprofloxacina, devido a 13 Marcella Carvalho 2021.2 preocupações com os efeitos sobre o SNC e ruptura de tendões, e SMX-TMP por agravamento da função renal e hipercalemia. • O dofetilide foi também adicionado por causa das preocupações de prolongamento do intervalo QT corrigido e torsade de pointes. • O edoxabano deve ser evitado em clearance menor de 15 mL/min. • A revisão dos critérios de Beers têm várias limitações. A evidência dos benefícios e danos causados pelas medicações em idosos é muitas vezes limitada, particularmente a partir de ensaios clínicos randomizados, e assim as decisões sobre a composição dos critérios foram frequentemente feitas no contexto das evidências mais disponíveis, em vez de definitivas. Além disso, os enquadramentos de avaliação das evidências não estão perfeitamente ajustados para a avaliação da segurança de medicamentos. 4. Analisar criticamente o uso indiscriminado de vitaminas e outras substâncias usadas em terapia anti-envelhecimento, os Anti-Age ou Anti-Aging. • O envelhecimento do organismo é um processo natural, contínuo, progressivo e irreversível. Os efeitos da passagem do tempo estão presentes em todas as células, tecidos, órgãos e sistemas. Tais alterações manifestam-se por mais limitação na execução das atividades do cotidiano e por mais vulnerabilidade às agressões do meio interno e externo. • Não se pode falar, portanto, em incapacidade definida como a impossibilidade de se manter a independênciae a autonomia. O envelhecimento por si limita, mas não incapacita. Esta diferença é fundamental na interpretação dos sintomas e sinais comumente relatados pelos idosos. • Hereditariedade, hábitos de vida e meio ambiente são os principais determinantes da presença de incapacidade na velhice. Dieta equilibrada, atividade física regular, não fumar, evitar o excesso de álcool e cuidar do psiquismo são as únicas maneiras comprovadas de se atingir a velhice bem sucedida. • O uso indiscriminado de suplementação vitamínica, sais minerais e hormônios é comum e potencialmente perigoso. Não existem intervenções capazes de retardar ou impedir o envelhecimento fisiológico. • A medicina antienvelhecimento e sua prática é um tópico bastante controverso e que divide opiniões de médicos de várias especialidades no Brasil e no mundo. Em Ageinst Age, Vincent (2009) nos apresenta quatro tipos de medicina antienvelhecimento: ✓ Mitigação de sintomas: constituem as tentativas de esconder, retardar ou aliviar os efeitos do envelhecimento biológico. Esse tipo de medicina antienvelhecimento tem um grande potencial comercial, uma vez que nele se encaixam as intervenções estéticas e cosméticas que tem por objetivo preservar a aparência jovem do indivíduo, e, ainda, práticas profiláticas e compensatórias, como o uso de vitaminas, a prescrição de dietas e medicamentos que proporcionam vitalidade e apetite sexual aos idosos. ✓ Aumento da esperança de vida: desta perspectiva, o envelhecimento não está ligado apenas à aparência do corpo, mas às condições de saúde da pessoa, deste modo, procura desenvolver técnicas que aumentem a extensão dos anos de vida livres de doenças. ✓ Expansão da longevidade: do ponto de vista da biogerontologia, o envelhecimento (senescência celular) é um processo fundamental aplicado a todos os seres vivos, não apenas aos seres humanos. É uma falha técnica e, deste modo, uma função corporal que pode ser prevenida através de intervenção científica. ✓ Abolição da velhice: aqui reside a mais polêmica concepção de velhice, aquela que busca de um modo ou de outro aboli-la ou revertê-la. Nesse campo, se inserem pesquisas relacionada à criogenia, por exemplo. • O princípio que norteia a medicina antienvelhecimento nos moldes atuais baseia- se na ideia de que o envelhecimento é causado pela queda dos hormônios no organismo. Com base nisso, os médicos que prescrevem esse tipo de tratamento recomendam reposição hormonal, uso de hormônios bio-idênticos e suplementos vitamínicos e de minerais como forma de combater o envelhecimento. • Para muitos médicos, a manipulação hormonal e a reposição de vitaminas e minerais para pacientes que não sofrem de deficiência destes acarreta muitos riscos e, por isso, a prática deve ser proibida. • As críticas a esses tratamentos, principalmente os que envolvem a reposição de hormônios, alegam uma inversão na concepção do envelhecimento. Para os críticos, os níveis hormonais sofrem decréscimo porque envelhecemos, e não o contrário, que envelhecemos por causa da queda dos hormônios, como afirmam os defensores da medicina anti-aging. • Pensar no envelhecimento do ponto de vista apenas fisiológico, hormonal, é encarar a questão de modo muito simplista, e ignorar muitos outros fatores envolvidos no processo. • Há ainda os que afirmem que esses profissionais que divulgam essas técnicas 14 Marcella Carvalho 2021.2 agem de má-fé ao oferecer uma proposta de jamais envelhecer. • Em outubro de 2012, o Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou uma medida condenando e proibindo a prática de terapias antienvelhecimento ou anti-aging, os médicos que não acatassem a decisão estariam sujeitos às punições previstas nos processos ético- profissionais. A alegação do conselho é que não há comprovação científica da eficácia desses tratamentos. • Para o CFM, a promessa de retardar o envelhecimento através desses tratamentos é uma ilusão, e que o envelhecimento saudável é possível através da mudança de hábitos (adoção de uma alimentação saudável, prática de esportes, abandono do tabaco, uso moderado do álcool, entre outros). • Em maio de 2013, entretanto, uma decisão provisória suspendeu a proibição estabelecida pelo CFM, afirmando que a prática de medicina anti-aging não é antiética e que o conselho não tem o poder de banir a prática. A medicina antienvelhecimento, contudo, não é reconhecida como especialidade médica pelo Conselho federal de Medicina no Brasil. • A manutenção dos mecanismos homeostáticos depende de reações enzimáticas intracelulares, cujos produtos finais são energia (ATP) e radicais livres. Normalmente, a célula dispõe de substâncias antioxidantes (glutationa, catalases, selênio, cobre, zinco, manganês e vitaminas E, C e β- caroteno) e de enzimas (superóxido dismutase, catalase glutationa peroxidase) que bloqueiam a ação de radicais livres ou impedem que eles se formem. • Entretanto, quando ocorre desequilíbrio entre a produção de radicais livres e de antioxidantes, instala-se o estresse oxidativo, que possivelmente acelera o processo de envelhecimento celular, predispondo ao surgimento precoce de doenças como a aterosclerose, catarata, degeneração macular, alguns tipos de câncer, algumas doenças degenerativas do SNC, interferindo também na resposta imune. • Sugere-se, através de evidências experimentais e estudos epidemiológicos, que substância antioxidantes são capazes de impedir ou acelerar a inativação dos radicais livres. Podem reduzir a intensidade dessas lesões – ou por ação direta com neutralização dos radicais livre ou ainda pela participação indireta em sistemas enzimáticos. • A produção excessiva de radicais livres é responsável pela oxidação do LDL- colesterol via peroxidação lipídica. A LDL- oxidada tem ação lesiva no endotélio vascular, reduzindo a produção de óxido nítrico e aumentando a produção de fatores quimiotáticos para monócitos e a proliferação de células musculares lisas, além de estimular a agregação plaquetária. Com isto, há mais estímulo para o desenvolvimento da placa de aterosclerose, além de facilitar a ruptura da placa e trombose local. • A utilização de vitamina E, vitamina C e β- caroteno para redução do risco de doença cardiovascular tem suscitado interesse tanto da comunidade científica como do público em geral. • A degeneração macular está entre as principais causas de cegueira nos idosos. A etiopatogenia da doença ainda é bastante desconhecida, mas possivelmente está associada à produção excessiva de radicais livres na mácula. • A deficiência de vitamina D é um fenômeno mundial. A vitamina D está envolvida, prioritariamente, no funcionamento do sistema músculo- esquelético, regulando o metabolismo do cálcio e fósforo, juntamente com o paratormônio e a calcitonina. • Sua produção depende basicamente da exposição solar (radiação ultravioleta B – UVB). Nos vegetais, os raios UVB produzem o ergocalciferol (vitamina D2, enquanto que a vitamina D3 (colecalciferol D3) é de origem animal e sintetizada na pele, graças à conversão do 7- deidrocolesterol cutâneo. Mais de 90% da vitamina D provém da síntese cutânea. • Com o envelhecimento, há redução significativa da produção de vitamina D3, superior a 50%, quando comparado com adultos. Além disso, há mais resistência à ação do calcitriol (forma ativa da vitamina D). • Há menos ativação renal da 1,25Oh2- vitaminaD3, mais resistência à supressão renal pelo PTH, mais resistência intestinal à ação renal da forma ativa, com redução da absorção intestinal do cálcio. • Na natureza, a vitamina A pode ser encontrada na sua forma pré-formada e na forma pró-vitamina A. O retinol é sua forma pré-formada e de origem animal, encontrada em alimentos, como o óleo de fígado de peixe, fígado, gema de ovo, leite e derivados. A vitamina A de origem vegetal ou carotenoides é a forma conhecidacomo pró-vitamina A e está presente nos vegetais de cor amarela, alaranjada e verde escura. • O nível sérico considerado seguro ainda não está definido, pela grande variabilidade do seu controle homeostático e pela 15 Marcella Carvalho 2021.2 dificuldade de definição de toxicidade crônica. Com o envelhecimento, observa- se aumento da taxa de absorção de vitamina A, elevando o risco de Hipervitaminose, agravado ainda mais por disfunções hepáticas (presentes nos idosos). • A hipovitaminose é bastante rara em adultos e idosos. Nos países em desenvolvimento, as fontes de vitamina A são de origem vegetal, pró-vitamina A, a qual não apresenta toxicidade, ao contrário da vitamina pré-formada, pois necessita ser convertida em retinol, por reação metabólica autocontrolável. Além disso, são parcialmente absorvidas (20-50%), dependendo do indivíduo e de outros componentes da alimentação, ainda pouco definidos. • A vitamina B12 e o ácido fólico participam ativamente, como co-enzimas, de várias reações metabólicas envolvidas no processo de mielinização e hematopoiese. A deficiência, isolada ou conjunta, está associada a diversas alterações hematológicas, neuropsiquiátricas e à hiperhomocisteinemia. Devem ser dosados, rotineiramente, nos idosos. • A hipovitaminose B12 resulta, basicamente, de dois mecanismos: dieta e má-absorção. Outras causas mais raras incluem deficiências congênitas, como a deficiência de transcobalamina, etc. A gastrite crônica auto- imune ou anemia perniciosa é responsável por 20 a 50% dos casos em idosos. • As principais manifestações clínicas são nos seguintes sistemas: - sistema hematopoiético: anemia, macrocitose, hipersegmentação neutrofílica, plaquetopenia, neutropenia, pancitopenia; - sistema nervoso central e periférico: déficit cognitivo, demência, depressão, mania; polineuropatia sensitiva (sensibilidade vibratória e/ou posicional), ataxia, distúrbios da marcha, instabilidade postural, sinal de Babinksy, etc. A deficiência de B12 e ácido fólico está comumente associada à Doença de Alzheimer, agravando a incapacidade cognitiva; - sistema digestivo: glossite, dispepsia, dor abdominal, distúrbios do funcionamento instetinal, aumento de LDH, icterícia, etc. • A deficiência de vitamina B12, ácido fólico e vitamina B6 está associada à elevação dos níveis séricos de homocisteína. A hiperhomocisteinemia está sendo considerada fator de risco de aterosclerose e suas complicações, via injúria endotelial, inflamação vascular, oxidação do LDL, além da ação pró- coagulante e pró-agregação plaquetária. • A administração excessiva de ácido fólico, por sua vez, pode precipitar manifestações neuropsiquiátricas resultantes de deficiência da vitamina B12. Esse feito não é só resultante do mascaramento dos efeitos hematológicos da hipovitaminose B12, retardando o diagnóstico, mas também por um desvio da cobalamina das reações metabólicas responsáveis pela síntese de mielina, em favor do sistema hematopoiético. Recentemente, foi demonstrado que o consumo de altas doses de ácido fólico em idosos está associado a declínio mais rápido das funções cognitivas. • O envelhecimento do sistema endócrino resulta de alterações morfológicas e neuroquímicas no núcleo supraquiasmático, responsáveis pelo decréscimo de vários hormônios, tais como testosterona, hormônio do crescimento (GH), dehidroepiandrosterona (DHEA). • Porém, o declínio do hormônio do crescimento e da testosterona tem seus níveis séricos considerados normais. Esses hormônios têm sido considerados “super hormônios” e medicamentos “antienvelhecimento”, que podem influenciar favoravelmente as condições patogênicas nos idosos a partir das suas ações e até mesmo como a possível “fonte da juventude”. • As principais alterações associadas ao envelhecimento, como a sarcopenia e a osteopenia, o aumento da adiposidade e sua redistribuição, a maior resistência periférica à insulina, menos resistência aeróbica, a aterosclerose e até mesmo a maior tendência ao rebaixamento do humor podem ser secundárias à menor secreção de GH e IGF-1. • A reposição de GH/IGF-1 é promissora, em relação à qualidade de vida e função músculo- esquelética. Todavia, esses benefícios não são superiores àqueles observados em programa de atividade física regular. Os efeitos adversos incluem retenção de sódio e água, hipertensão arterial, artralgia, síndrome do túnel do carpo e hiperglicemia. Evidências epidemiológicas sugerem a presença de efeito mitogênico em tumores como os de ovário, mama, próstata, colorretais, entre outros. Portanto, até o momento, a suplementação de GH/IGF-1 não deve ser recomendada a idosos. • Supõe-se que o declínio de DHEA com o envelhecimento justifique pelo menos parcialmente as mudanças dependentes dos hormônios sexuais, tais como a perda óssea e a massa muscular. Possivelmente, estão envolvidos na libido, no humor, na disposição geral e sensibilidade à insulina. Assim, sua suplementação, em teoria, pode apresentar as seguintes ações: aumento da força e estrutura muscular; melhora da cognição e do comportamento; redução do estresse; aumento da energia e da libido; aumento da massa 16 Marcella Carvalho 2021.2 óssea e da função imune. A DHEA não é considerada droga pela FDA, mas sim suplemente dietético. Portanto, até o momento, a suplementação não deve ser recomendada a idosos. • A reposição de testosterona ainda é tema bastante controverso. Existem diversas formulações disponíveis no mercado: injetável, transdérmica, intranasal e oral. Todavia, até o momento, não dispomos de estudos suficientes para indicar a reposição deste hormônio, levando-se em conta a relação risco, benefício e custo. 1. NUNES, Edgar. Princípios básicos da geriatria e gerontologia. 2. NUNES, Edgar; MARINO, Marília Campos de Abreu; SANTOS, Rodrigo Ribeiro. Principais Síndromes Geriátricas. Ver Med Minas Gerais, 2010. 3. ALVES, Cristina Alesxandra do Nascimento. Dissertação de mestrado – Envelhecimento e longevidade na modernidade técnica: os desafios do prolongamento da vida. UFSE. 2014. 4. LEWIS, Ricki. Atualização dos critérios de Beers de uso de medicamentos em idosos – Medscape – 2019. 5. FIGUEIREDO, Eduardo A. P. de. Iatrogenia na prescrição de medicamentos ao idoso. Programa de Atualização em Geriatria e Gerontologia, 2017.
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