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Ética Médica – Amanda Longo Louzada 1 ÉTICA NA PESQUISA EM SERES HUMANOS INTRODUÇÃO: A Resolução do Conselho Nacional da Saúde - CNS n° 196, de 10 de outubro de 1996, define como Pesquisa envolvendo seres humanos: pesquisa que, individual ou coletivamente, envolva o ser humano, de forma direta ou indireta, em sua totalidade ou partes dele, incluindo manejo de informações e materiais; Alguns princípios básicos são usados como norteadores da ética em pesquisa: a beneficência, o respeito à pessoa e a justiça, além da autonomia; Na área de saúde, esta avaliação está baseada na qualificação da equipe que desenvolverá o projeto, bem como no próprio projeto; na avaliação do risco-benefício; na utilização do consentimento livre e esclarecido e na avaliação e aprovação anterior à execução do projeto por um Comitê de Ética. ERROS HISTÓRICOS QUE MANCHARAM A ÉTICA EM PESQUISA: Tuskegee (Alabama, EUA): 431 negros pobres privados de tratamento contra a sífilis, entre 1932 e 1972, para permitir o estudo da história natural da doença (Reich, 1982, Filme: Miss Ever’s boys). HISTÓRICO DA ÉTICA MÉDICA EM PESQUISA NO MUNDO: CÓDIGO DE NUREMBERG: O consentimento voluntário do ser humano é absolutamente essencial; Produzir resultados vantajosos para a sociedade, mas não podem ser feitos de maneira casuística ou desnecessariamente; Basear-se em resultados de experimentação em animais e no conhecimento da evolução da doença ou outros problemas em estudo; Evitar todo sofrimento e danos desnecessários; Não deve ser conduzido qualquer experimento quando existirem razões para acreditar que pode ocorrer morte ou invalidez permanente; O grau de risco aceitável deve ser limitado pela importância do problema que o pesquisador se propõe a resolver; Cuidados especiais para proteger o participante do experimento de qualquer possibilidade de dano, invalidez ou morte, mesmo que remota. Ser conduzido por pessoas cientificamente qualificadas; O participante do experimento deve ter a liberdade de se retirar no decorrer do experimento; O pesquisador deve estar preparado para interromper o estudo em qualquer estágio, se ele tiver motivos razoáveis para acreditar que a sua continuação provavelmente causará dano, invalidez ou morte para os participantes. DECLARAÇÃO DE HELSINKI: A Declaração de Helsinque é um conjunto de princípios éticos que regem a pesquisa com seres humanos, e foi redigida pela Associação Médica Mundial em 1964; Posteriormente, foi revisada 7 vezes, sendo sua última revisão em outubro de 2013, durante a Assembleia Geral da WMA em Fortaleza (Brasil), e teve dois esclarecimentos; A Declaração é um importante documento na história da ética em pesquisa, e surge como o primeiro esforço significativo da comunidade médica para regulamentar a investigação em si; É considerada como sendo o 1º padrão internacional de pesquisa biomédica e constitui a base da maioria dos documentos subsequentes. Princípios Básicos: É dever do pesquisador proteger a vida, a saúde, a dignidade e a integridade do ser humano; O projeto e métodos devem atender a protocolos experimentais reconhecidos, apoiar- se em profundo conhecimento da literatura e ser aprovado por um Comitê de Ética; Avaliar riscos e benefícios, a importância do objetivo deve ser maior que o risco ao sujeito de pesquisa; Ser realizada por profissional qualificado; Existir possibilidade de benefício para a população; Os indivíduos devem ser voluntários livres e esclarecidos e protegidos na sua individualidade e confidencialidade das informações; Cuidados especiais com sujeitos em relação de dependência. Pesquisa Clínica Combinada com o Cuidado Profissional: O médico deve ser livre para empregar novos métodos terapêuticos; desde que haja uma avaliação dos benefícios, riscos, custos, etc. Obter o livre consentimento do paciente, depois de lhe ter sido dada uma explicação completa; O consentimento é informado. Entretanto, a responsabilidade da pesquisa clínica é sempre do pesquisador; Em qualquer momento, no decorrer da pesquisa clínica, o paciente ou seu responsável serão livres para cancelar a autorização de prosseguimento da pesquisa. HISTÓRICO DA ÉTICA EM PESQUISA NO BRASIL: 1988 - Resolução nº 1/88 do Conselho Nacional de Saúde/ Ministério da Saúde (CNS/MS); 1996 - resolução 196/96 criou a ocmissão nacional de ética em pesquisa (CONEP) *; A CONEP tem como principais atribuições: zelar pelo cumprimento da resolução; monitorar e aconselhar. Resolução 196\96: Estabeleceu a criação de Comitês de Ética em Pesquisa no Brasil - Sistema CEP/CONEP - vinculados ao CNS/MS CNS => resoluções complementares (normas para Ética Médica – Amanda Longo Louzada 2 ÉTICA NA PESQUISA EM SERES HUMANOS cooperação estrangeira, área temática de pesquisa com novos fármacos, reprodução e genética humana; populações indígenas; armazenamento de material biológico; Resolução em Vigor Atualmente: 466/12. Resolução 466\12: Aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos e revoga as Resoluções CNS nos. 196/96, 303/2000 e 404/2008 COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISAS DE SERES HUMANOS: Folha de rosto emitida pelo SISNEP, corretamente preenchida; Assinatura do pesquisador responsável; Assinatura da chefia do setor / unidade onde será realizada a pesquisa; Projeto de pesquisa, em português, contendo (no mínimo): Título, Lista de autores e suas respectivas instituições, Introdução, Justificativa, Objetivos geral(is) e específicos. LISTA DE CHECAGEM ENCAMINHAMENTO DO PROJETO AO CEP: Método (Desenho e descrição do local do estudo, Descrição e caracterização da amostra, Critérios de elegibilidade e Procedimentos para coleta de dados); Aspectos éticos (Análise de riscos e benefícios para o sujeito da pesquisa e para a comunidade); Cronograma (atentar para datas e prazos necessários para a avaliação pelo CEP); Orçamento (sempre informar custo total do projeto e fontes de patrocínio ou financiamento); Bibliografia APÊNDICES E ANEXOS: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ou solicitação justificada de dispensa do TCLE, conforme o caso.(atentar para resolução 196/96 do CNS); Instrumento de coleta de dados (questionário, formulário, etc); Carta(s) de anuência do(s) centro(s) participante(s) (quando indicado); Curriculum sintético do pesquisador responsável EXIGÊNCIAS ÉTICAS: Adequação da metodologia científica; Justificativa para o uso de placebo; Justificativa para a dispensa do TCLE; Necessidade de revisão periódica da norma; Utilização em todas as áreas do conhecimento; CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO: Anuência do sujeito da pesquisa e/ou de seu representante legal, livre de vícios (simulação, fraude ou erro), dependência, subordinação ou intimidação, após explicação completa e pormenorizada sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa acarretar, formulada em um termo de consentimento, autorizando sua participação voluntária na pesquisa. ÉTICA EM PESQUISA- NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA: PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS: XXIII - Quando envolvido na produção de conhecimento científico, o médico agirá com isenção, independência, veracidade e honestidade, com vista ao maior benefício para os pacientes e para a sociedade; XXIV - Sempre que participar de pesquisas envolvendo seres humanos ou qualquer animal, o médico respeitará as normas éticas nacionais, bem como protegerá a vulnerabilidade dos sujeitos da pesquisa. ENSINO E PESQUISA MÉDICA: Art. 99. Participar de qualquer tipo de experiência envolvendo seres humanos com fins bélicos, políticos, étnicos,eugênicos ou outros que ATENTEM CONTRA A DIGNIDADE HUMANA; Art. 100. DEIXAR DE OBTER APROVAÇÃO DE PROTOCOLO PARA A REALIZAÇÃO DE PESQUISA EM SERES HUMANOS, de acordo com a legislação vigente. Art. 101. DEIXAR DE OBTER DO PACIENTE OU DE SEU REPRESENTANTE LEGAL O TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA A REALIZAÇÃO DE PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS, após as devidas explicações sobre a natureza e as consequências da pesquisa: § 1º No caso de o paciente participante de pesquisa ser criança, adolescente, pessoa com transtorno ou doença mental, em situação de diminuição de sua capacidade de discernir, além do consentimento de seu representante legal, é necessário seu assentimento livre e esclarecido na medida de sua compreensão; § 2º O ACESSO AOS PRONTUÁRIOS será permitido aos médicos, em estudos retrospectivos com questões metodológicas justificáveis e autorizados pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) ou pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). Art. 102. Deixar de utilizar a terapêutica correta quando seu uso estiver liberado no País. Parágrafo único. A utilização de terapêutica experimental é permitida quando aceita pelos ÓRGÃOS COMPETENTES e com o consentimento do paciente ou de seu representante legal, adequadamente esclarecidos da situação e das possíveis consequências. Art. 103. Realizar pesquisa em uma comunidade sem antes informá-la e esclarecê-la sobre a natureza da investigação e deixar de atender ao objetivo de proteção à saúde pública, respeitadas as características locais e a legislação pertinente; Ética Médica – Amanda Longo Louzada 3 ÉTICA NA PESQUISA EM SERES HUMANOS Art. 104. Deixar de manter independência profissional e científica em relação a financiadores de pesquisa médica, satisfazendo interesse comercial ou obtendo vantagens pessoais; Art. 105. Realizar pesquisa médica em sujeitos que sejam direta ou indiretamente dependentes ou subordinados ao pesquisador. Art. 106. Manter vínculo de qualquer natureza com pesquisas médicas em seres humanos que usem placebo de maneira isolada em experimentos, quando houver método profilático ou terapêutico eficaz; Art. 107. Publicar em seu nome trabalho científico do qual não tenha participado; atribuir a si mesmo autoria exclusiva de trabalho realizado por seus subordinados ou outros profissionais, mesmo quando executados sob sua orientação, bem como omitir do artigo científico o nome de quem dele tenha participado. Art. 108. Utilizar dados, informações ou opiniões ainda não publicadas, sem referência ao seu autor ou sem sua autorização por escrito; Art. 109. Deixar de zelar, quando docente ou autor de publicações científicas, pela veracidade, clareza e imparcialidade das informações apresentadas, bem como deixar de declarar relações com a indústria de medicamentos, órteses, próteses, equipamentos, implantes de qualquer natureza e outras que possam configurar conflitos de interesse, ainda que em potencial. Art. 110. Praticar a medicina, no exercício da docência, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, sem zelar por sua dignidade e privacidade ou discriminando aqueles que negarem o consentimento solicitado. PARA ESTUDANTES DE MEDICINA: XIII - Quando envolvido na produção de conhecimento científico, o estudante de medicina agirá com isenção e independência, para um maior benefício aos pacientes e à sociedade; XIV - Os estudantes de medicina envolvidos em pesquisas científicas devem respeitar os princípios éticos e as disposições encontradas nas diretrizes e normas brasileiras regulamentadoras de pesquisas envolvendo animais e seres humanos. XIII - Quando envolvido na produção de conhecimento científico, o estudante de medicina agirá com isenção e independência, para um maior benefício aos pacientes e à sociedade; XIV - Os estudantes de medicina envolvidos em pesquisas científicas devem respeitar os princípios éticos e as disposições encontradas nas diretrizes e normas brasileiras regulamentadoras de pesquisas envolvendo animais e seres humanos ANVISA- FOSFOETANOLAMINA: O plenário do STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu por maioria que a lei que autorizava o uso da fosfoetanolamina sintética, conhecida como “pílula do câncer”, é inconstitucional; A decisão ocorreu em sessão virtual finalizada na última sextafeira (23), no julgamento de ação da AMB (Associação Médica Brasileira). O plenário já havia concedido medida liminar para suspender a eficácia da norma; O relator, ministro Marco Aurélio, assinalou que compete à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) permitir a distribuição de substâncias químicas, segundo protocolos cientificamente validados. Segundo ele, o órgão nunca protocolou pedido de registro da fosfoetanolamina sintética. O ministro destacou que, de acordo com a Lei 6.360/1976, a aprovação do produto é exigência para industrialização, comercialização e importação com fins comerciais; O registro é imprescindível, também, ao monitoramento, pela Anvisa, da segurança, da eficácia e da qualidade terapêutica do medicamento; Na avaliação do relator, em razão do postulado da separação dos Poderes, o Congresso Nacional não pode autorizar a distribuição de droga. Além disso, ao permitir a distribuição de remédio sem controle prévio de viabilidade sanitária, está se omitindo do dever constitucional de tutelar a saúde da população.
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