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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E IMPACTOS AMBIENTAIS ETAPA 1 Autor Liz Ehlke Cidreira Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora do EAD Prof.ª Francieli Stano Torres Edição Gráfica e Revisão UNIASSELVI CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E IMPACTOS AMBIENTAIS ETAPA 1 1 HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Os anos 1960 e 1970 foram marcados não só pelos períodos de industrialização no mundo, mas também pelo início da percepção populacional dos impactos ambientais, por meio de adventos como alterações na qualidade da água e do ar, os quais fizeram com que a população começasse a sentir os resultados de anos de degradação ambiental desenfreada. Partindo desse pressuposto, órgãos mundiais iniciaram uma série de eventos e reuniões que buscavam alternativas e soluções para esses problemas recém-descobertos. Em meados do ano de 1968, um economista italiano, Aurélio Peccei, tomou a iniciativa de promover um evento, em Roma, que contou com a participação de 30 cientistas e pesquisadores de dez países distintos. Desse encontro surgiu o Clube de Roma, uma organização informal que possuía como finalidade unir os componentes ecológicos, políticos e econômicos, a fim de formar um sistema global para chamar atenção a vossa causa. Com o passar dos anos, o Clube de Roma foi se expandido e a participação no mesmo foi atingindo grandes marcos (MOTA et al., 2008). O primeiro relatório redigido pelos participantes do Clube de Roma foi o The Limits to Growth (Limites do Crescimento) e este relatório serviu como base para a sequência de eventos que vieram a acontecer a partir destes momentos. No mesmo ano, 1968, ocorreu em Paris a Conferência sobre a Conservação e o Uso Racional dos Recursos da Biosfera em que se constituíram as bases para o lançamento, em 1971, do Programa Homem e a Biosfera (MAB), pela Unesco, que aborda a conservação da biodiversidade e as melhorias nas relações entre o homem e o meio ambiente (BARSANO; BARBOSA, 2019). O órgão mundial que tomou frente aos eventos de caráter ambiental foi a Organização das Nações Unidas (ONU), a qual sugeriu uma conferência CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS internacional com o intuito de relacionar temas referentes à preservação e proteção ambiental no âmbito mundial. Após o Clube de Roma, este foi o evento principal que desencadeou uma série de episódios e conferências mundiais, as quais serão descritas na sequência. Conforme mencionado, a primeira conferência organizada e realizada pela ONU foi a chamada Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada no ano de 1972, em Estolcomo, na Suécia, e que contou com a participação de 113 países e 250 organizações não governamentais. A conferência da ONU, que resultou na elaboração de dois documentos – Declaração Sobre Meio Ambiente Humano e o Plano de Ação Mundial –, forneceu subsídios para a criação da primeira Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) em 1983. Um dos relatórios mais importantes já redigidos sobre a causa ambiental foi o chamado Relatório de Brundtland. Nesse relatório, escrito em 1987, e que foi elaborado pela CMMAD, foi onde surgiu o conceito de Desenvolvimento Sustentável e onde ele foi utilizado pela primeira vez. Segundo Gomes e Ferreira (2018, p. 159), “é nesse momento que a comunidade mundial passa a conceber a possibilidade de se desenvolver sem degradar de modo excessivo e insustentável o planeta, entrando em cena a preocupação com as gerações presentes e futuras”. Uma das consequências das conferências ambientais aconteceu no ano de 1972, no qual ocorreu a criação do PNUMA – Programa das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, o órgão ambiental ligado à ONU é existente até hoje e é considerado a principal autoridade ambiental global e que possui o intuito de defender o meio ambiente no mundo. FIGURA 1 – CAMPANHA DO PNUMA PARA O DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE FONTE: <www.paho.org>. Acesso em: 9 mar. 2021. Descrição da imagem: campanha do PNUMA realizado para chamar atenção ao Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado em 5 de junho devido à importância da conferência de Estolcomo, que ocorreu nesta data. Conheça mais sobre o PNUMA em: https://www.unep.org/pt-br/sobre- o-pnuma/por-que-o-pnuma-e-importante. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Ainda passeando pelas conferências ambientais internacionais ocorreu, em 1975, em Belgrado na Sérvia, um encontro no qual foi produzido um documento chamado de Carta de Belgrado e tinha como intuito obter uma nova visão sobre a erradicação da pobreza, do analfabetismo, da fome, da poluição, da exploração, entre outros. Em 1977, ocorreu em Tbilisi, na Geórgia, uma conferência onde foram definidos os objetivos da Educação Ambiental. Já no ano de 1978 ocorreu a chamada conferência de Toronto, Primeira Conferência Mundial Sobre o Clima. A ONU, anos após sua primeira conferência, convocou a comunidade internacional para participar de sua segunda Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a qual ficou conhecida como ECO- 92, RIO-92 ou Cúpula da Terra. Essa conferência aconteceu no ano de 1992 no Estado do Rio de Janeiro, no Brasil. Os principais temas que foram tratados foram as mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável. A RIO-92 contou com a participação de 179 países e diversos ambientalistas do mundo. Seguindo as convenções organizadas pelo ONU, ocorreram mais duas conferências que tomaram grandes proporções, sendo elas as chamadas Rio+10 e Rio+20. A Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Juanesburgo, realizada na África do Sul, ficou conhecida como Rio+10 pois foi realizada dez anos após a Rio-92, e a Rio+20, realizada 20 anos após a Eco-92 ocorreu novamente no Rio de Janeiro, no ano de 2012. Mais recentemente outras conferências foram realizadas como foi o caso da Conferência de Copenhague, ou também conhecida como Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2009 e na sequência ocorreu a Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável 2015, realizada em Nova York. A empreitada mundial em prol da preservação ambiental vem sendo grande e durante todo o percurso percorrido, diversos termos de compromisso, relatórios, tratados e acordos foram assinados por diversos países a fim de buscar um meio ambiente equilibrado, justo e saudável para todos. Alguns dos mais importantes documentos assinados foram: • Protocolo de Montreal: propôs a redução de mais 80% dos gases nocivos à camada de ozônio, firmado em 1987. • Protocolo de Kyoto: documento internacional que buscou a diminuição da emissão dos gases do efeito estufa, assinado em 1998. • Tratado de Estolcomo: tinha como intuito o banimento dos Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), elaborado em 2001. • Tratado de Paris: buscou que regular as temperaturas médias globais, aprovado em 2015. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Você já leu o livro Primavera Silenciosa (Silent spring)? Este livro trata do uso de pesticidas e inseticidas químicos, que foi denunciado pela bióloga Rachel Carson. Este livro vendeu mais de meio milhão de cópias, e em 1963 já havia sido traduzido para pelo menos 15 países. A criação do termo “desenvolvimento sustentável” foi um dos principais ganhos das conferências internacionais e hoje é um termo muito utilizado e difundido. Com relação a ele, o próximo capítulo irá explanar tais conceitos e aplicações. 2 NOÇÕES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL A definição do termo “Desenvolvimento Sustentável” foi criada e apresentada no ano de 1987, conforme mencionado no capítulo anterior, pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, através do Relatório de Brundtland ou também chamado de Relatório Nosso Futuro Comum. Sua definiçãofoi entendida como: “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades” (ONU, 1987, s.p.). Ainda conforme o referido relatório, o qual levou o nome da então primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, o Desenvolvimento Sustentável deve contribuir para retomar o crescimento possibilitando as condições necessárias para: • promover a erradicação da pobreza; • alterar a qualidade do crescimento para torná-lo mais justo, equitativo e menos intensivo no uso de energias e matérias-primas; • assist ir às necessidades humanas essenciais de: emprego, energia, alimentação, água potável e saneamento; • manter um nível populacional sustentável; • melhorar e conservar a base de recursos; • reorientar a tecnologia e administrar os riscos; e • incluir o meio ambiente e a economia no processo de tomada de decisões. Japiassú e Gerra (2017, p. 1885), ao discutirem sobre o desenvolvimento sustentável e o papel do homem neste conceito, afirmam que: O homem, como agente dotado de racionalidade, é, ao mesmo tempo, responsável por si mesmo e também tem responsabilidade em relação ao outro. A sustentabilidade ambiental reafirma essa responsabilidade do homem em relação à manutenção da higidez ambiental, das condições estéticas e sanitárias do meio ambiente, da preservação da biodiversidade, que é tanto uma responsabilidade para consigo mesmo, já que são condições para a sadia qualidade de vida, como configura uma responsabilidade para com aqueles que ainda virão, havendo a solene responsabilidade CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS de legar às futuras gerações no mínimo o mesmo grau de acesso aos recursos ambientais que recebeu, tendo ainda um dever de buscar promover a melhoria das condições do meio ambiente. Daí os laços de solidariedade intergeracionais. O desenvolvimento sustentável, em seu conceito mais amplo, engloba três principais dimensões, também conhecido como os três pilares da sustentabilidade: ambiental, social e econômico. FIGURA 2 – PILARES DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL FONTE: <https://br.pinterest.com/pin/828943875140756291/>. Acesso em: 10 mar. 2021. Descrição da imagem: a imagem ilustra os três pilares do desenvolvimento sustentável, o ambiental, o social e o econômico. A intenção primordial do desenvolvimento sustentável é promover o crescimento econômico sem esgotar os recursos naturais para as gerações futuras. Partindo dessa premissa, a ONU (Organização das Nações Unidas) lançou, em 2015, durante a Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável os objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS), os quais somam 17 objetivos e são um apelo global para atingir os objetivos iniciais do conceito de desenvolvimento sustável, porém, trazido para a realidade atual do mundo. Além dos 17 objetivos, os ODS contam com 169 metas a serem alcançadas até o ano de 2030. O antigo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em entrevista afirmou que: “os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são a visão comum para a humanidade e um contrato social entre os líderes mundiais e os povos” e informou que os ODS “são uma lista das coisas a fazer em nome dos povos e do planeta, e um plano para o sucesso!” (ONU, 2015, s.p.). CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS FIGURA 3 – OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL FONTE: <https://brasil.un.org/pt-br/sdgs>. Acesso em: 10 mar. 2021. Descrição da imagem: imagem ilustrativa dos 17 objetivos do desenvolvimento sustável elaborados pela ONU. Conheça como o Brasil está se preparando para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e conheça cada uma dos 17 ODS em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs. Retomando os três pilares do desenvolvimento sustável, Nascimento (2012, p. 55-56) discorreu sobre as três dimensões: A primeira dimensão do desenvolvimento sustentável normalmente citada é a ambiental. Ela supõe que o modelo de produção e consumo seja compatível com a base material em que se assenta a economia, como subsistema do meio natural. Trata-se, portanto, de produzir e consumir de forma a garantir que os ecossistemas possam manter sua autorreparação ou capacidade de resiliência. A segunda dimensão, a econômica, supõe o aumento da eficiência da produção e do consumo com economia crescente de recursos naturais, com destaque para recursos permissivos como as fontes fósseis de energia e os recursos delicados e mal distribuídos, como a água e os minerais. Trata-se daquilo que alguns denominam como ecoeficiência, que supõe uma contínua inovação tecnológica que nos leve a sair do ciclo fóssil de energia (carvão, petróleo e gás) e a ampliar a desmaterialização da economia. A terceira e última dimensão é a social. Uma sociedade sustentável supõe que todos os cidadãos tenham o mínimo necessário para uma vida digna e que ninguém absorva bens, recursos naturais e energéticos que sejam prejudiciais a outros. Isso significa erradicar a pobreza e definir o padrão de desigualdade aceitável, delimitando limites mínimos e máximos de acesso a bens materiais. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS 3 IMPACTOS E RISCOS AMBIENTAIS Conforme foi possível notar nas seções anteriores, as alterações ao meio ambiente ocorrem no mundo há dezenas de anos, causando alterações significativas nos elementos naturais presentes na Terra, como o ar, a água, o solo e nos seres que em que o habitam. A essas alterações se da o nome de impactos ambientais. Essas alterações, por muitas vezes, se fizeram presentes para que fosse possível alcançar os objetivos humanos em eventos que ocorreram em todo o mundo, como podemos citar o êxodo rural e a industrialização. Com a importância mundial que a causa ambiental tomou com o passar dos anos, alguns conceitos surgiram para tentar evitar que os impactos ambientais se alastrassem de uma maneira desenfreada, pensando em alternativas de promover o desenvolvimento com cautela. Surgindo assim o chamado Desenvolvimento Sustentável. Quando se trata de impacto ambiental, existe uma Resolução do Governo Federal que dita as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso e implementação de uma Avaliação de Impacto Ambiental. Essa resolução é chamada de Resolução CONAMA n° 001, criada em 23 de janeiro de 1986, e em seu Artigo 1º. define que (BRASIL, 1986): [...] considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais. Você sabe o que é o CONAMA? O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) é o órgão consult ivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), foi instituído pela Lei Federal n° 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, regulamentada pelo Decreto Federal n° 99.274/90 (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2021). Conheça o CONAMA em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/. Para que seja possível entender a fundo alguns outros conceitos relacionados à área ambiental, a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), descrita por meio CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS da Lei Federal n° 6.938/1981, elenca alguns conceitos específicos e importantes para aguçar o entendimento, sendo eles (BRASIL, 1981): Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; II - degradaçãoda qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental; V - recursos ambientais, a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989). Foi exposto anteriormente o conceito de impacto ambiental, porém alguns outros conceitos l igados à área ambiental também devem ser entendidos a fim de obter um conhecimento capaz de distinguir argumentos utilizados nessa área, sendo eles: • Risco: pode ser compreendido como o efeito ou resultado de um evento inesperado (incerto), podendo ser positivo ou negativo. • Risco Ambiental: partindo do conceito de risco, o risco ambiental é o efeito de um evento inesperado que pode gerar danos ao meio ambiente (meio biótico). • Dano Ambiental: pode ser entendido como qualquer prejuízo inaceitável, causado pela ação humana, ao meio ambiente. • Aspecto Ambiental: definido e utilizado, principalmente pela ISO 14001:2015, o aspecto ambiental é o elemento resultante de atividades, produtos ou serviços de uma organização (empresa ou indústria), que possa vir a interagir com o meio ambiente. • Impacto Ambiental Regional: é todo e qualquer impacto ambiental que afete diretamente (área de influência direta do projeto), no todo ou em parte, o território de dois ou mais Estados (BRASIL, 1997). • Estudos Ambientais: são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentado como subsídio para a análise da licença requerida, tais como: relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e análise preliminar de risco (BRASIL, 1997). CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Os impactos negativos, ainda, podem possuir classificações distintas, dependendo da amplitude de sua extensão, podendo ser classificados como impactos diretos, indiretos, locais, regionais e estratégicos. Além disso, os impactos podem ser caracterizados como reversíveis ou irreversíveis, dependendo do controle que poderá se dar ao dano ambiental e o prejuízo que o impacto causou. Com a finalidade de compreender os conceitos supracitados, se traz à tona o Rompimento da Barragem 1 da mina do Córrego do Feijão, a qual continha Rejeitos de Minérios, ocorrido em Brumadinho, Minas Gerais, ocorrido em 25 de janeiro de 2019. Conforme o relatório da CPI que investigou o caso, elaborado em novembro de 2019, o rompimento da barragem, que pertencia a empresa Vale, deixou mais de 250 pessoas mortas, até o presente momento existem 11 pessoas ainda desaparecidas, além dos danos ambientais, os quais não puderam ser mensurados. Cerca de 24 mil moradores das regiões próximas tiveram que deixar suas casas. Estima-se que no momento do acidente, havia aproximadamente 610 trabalhadores nas instalações da mina. Segundo as informações que a Vale divulgou em seu site: Ao longo destes dois anos, temos realizado diversas ações para mitigar, reparar e ressignificar as comunidades e as vidas das pessoas impactadas. Avançamos no processo de indenização individual e por grupo e em projetos voltados para a capacitação, o desenvolvimento e bem-estar das pessoas. Além disso, ações socioambientais e socioeconômicas estão gerando resultados para as regiões atingidas. Estamos seguindo firmes e vigilantes às necessidades da sociedade, através da escuta ativa para que seja possível compartilhar valor e contribuir para o desenvolvimento territorial das comunidades (VALE, 2021, s.p.). Dessa maneira, os resultados deste acidente geraram impactos locais e regionais, bem como impactos ambientais, sociais e econômicos. FIGURA 4 – ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE BRUMADINHO FONTE: <https://bit.ly/3vPKV7X>. Acesso em: 11 mar. 2021. Descrição da imagem: imagem dos danos ambientais e sociais ocorridos com o rompimento da barragem do Córrego do Feijão em Brumadinho-MG. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS 4 ANÁLISE DE IMPACTOS AMBIENTAIS (AIA) É através da Política Nacional do Meio Ambiente, Lei Federal n° 6938/81, que o Governo Federal objetiva e dita regras para “preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana [...]” (BRASIL, 1981, s.p.). Ainda, através da lei supracitada, é definida a Avaliação de Impactos Ambientais, também conhecida através da sigla “AIA”, como um instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente, o qual visa a gestão ambiental de possíveis impactos que causem prejuízo direto ou indireto ao meio ambiente. A Resolução CONAMA n° 001, de 23 de janeiro de 1986, “[...] considerando a necessidade de se estabelecerem as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso e implementação da Avaliação de Impacto Ambiental como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente” (BRASIL, 1986, s.p.), trouxe à tona a utilização do estudo denominado Estudo de Impacto Ambiental (conhecido como EIA) e o seu respetivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), por meio da aprovação do órgão estadual competente, para que seja concedido o licenciamento ambiental de certas atividades elencadas na resolução. Você sabe o que é licenciamento ambiental? Segundo a Resolução CONAMA nº 237/1997: licenciamento ambiental é o procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental , considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso (BRASIL, 1997). As atividades elencadas na resolução e consideradas como atividades modificadoras do meio ambiente, são: I - Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento; II - Ferrovias; III - Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos; Conheça as ações de reparação e desenvolvimento que a Vale vem desenvolvendo desde o desastre através do site: http://www.vale. com/brasi l/PT/aboutvale/servicos-para-comunidade/minas-gerais/ atualizacoes_brumadinho/Paginas/default.aspx. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS IV - Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, artigo 48, do Decreto-Lei nº 32, de 18.11.66; V - Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos sanitários; VI - Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV; VII - Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos d’água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias, diques; VIII - Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão); IX - Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de Mineração; X - Aterros sanitários,processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos; Xl - Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária, acima de 10MW; XII - Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos, siderúrgicos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de recursos hídricos); XIII - Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI; XIV - Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100 hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental; XV - Projetos urbanísticos, acima de 100ha. ou em áreas consideradas de relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e estaduais competentes; XVI - Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior a dez toneladas por dia (BRASIL, 1986, s.p.). Existem, ainda, algumas atividades que necessitam da elaboração do EIA/ RIMA e que devem ser submetidas à aprovação do órgão ambiental Federal, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Este estudo, o qual deve ser elaborado por uma equipe multidisciplinar habilitada, deve abranger todos os aspectos ambientais do local onde se pretende instalar um empreendimento, realizando o diagnóstico ambiental da área de influência, levando em conta o meio físico (o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos minerais, a topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos d’água, o regime hidrológico, as correntes marinhas, as correntes atmosféricas); o meio biológico e os ecossistemas naturais (fauna e a flora, destacando as espécies indicadoras da qualidade ambiental, de valor científico e econômico, raras e ameaçadas de extinção e as áreas de preservação permanente); e o meio socioeconômico (o uso e ocupação do solo, os usos da água e a socioeconômica, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e culturais da comunidade, as relações de dependência entre a sociedade local, os recursos ambientais e a potencial utilização futura desses recursos). Outros pontos chaves que devem ser elaborados nestes estudos são (BRASIL, 1986, s.p.): CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais. III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a eficiência de cada uma delas. lV - Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento (os impactos positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem considerados. Retomando um dos maiores desastres ambientais da história brasileira, descrito resumidamente no item anterior, para fins de exemplificação, serão expostos os principais impactos ambientais e sociais passiveis de ocorrência na região do Córrego do Feijão, elencados no Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental da Barragem do Córrego do Feijão, da Vale, elaborado em maio de 2019 (VALE, 2019). • Principais impactos do meio físico: o Alteração da qualidade do ar. o Alteração dos níveis de ruído e vibração. o Alteração do relevo-paisagem. o Alteração da dinâmica erosiva. o Alteração da qualidade das águas superficiais. o Alteração da dinâmica hídrica superficial. o Alteração da dinâmica e da qualidade das águas subterrâneas. • Principais impactos do meio biótico: o Perda de habitat terrestre. o Perda de indivíduos da biota por atropelamento. o Alteração do ambiente aquático no rio Paraopeba. o Alteração nas interações inter e intraespecíficas dos indivíduos de espécies que vocalizam. o Aumento da exposição de organismos terrestres à poeira. • Principais impactos do meio socioeconômico: o Alteração do fluxo de pessoas. o Alteração do fluxo de veículos. o Alteração das pressões sobre serviços públicos. o Alteração dos níveis de emprego e arrecadação tributária. o Alteração da dinâmica econômica. o Alteração dos níveis de conforto da população. o Alteração do quadro nosológico (nosologia: ramo da medicina que estuda e classifica as doenças). o Alteração da expectativa e nível de segurança da população frente às incertezas geradas pela regularização fundiária. CURSO LIVRE – ANÁLISE DE RISCO SOCIOAMBIENTAL NAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS Segundo Barbosa (2014), a AIA deve seguir diretrizes que abrangem diversos aspectos de composição e detecção dos impactos, tendo como objetivo minimizar os efeitos adversos mais significativos, sem esquecer das propostas de mitigação dos fatos que foram classificados como não conformes. Portanto, este tipo de avaliação deve prevenir, antecipar ou compensar todo tipo de impacto gerado, para promoção do desenvolvimento sustentável, otimização de recursos naturais e proteção do meio ambiente, observando que a biodiversidade e a inserção de ônus à produção e à população fazem parte do contexto. Dessa maneira, analisando as definições, conceitos e argumentos apresentados, referente à área de avaliação de impactos, é possível perceber que as áreas ambientais, econômicas e sociais não estão dissociadas, reforçando ainda mais a necessidade de atingimento do desenvolvimento sustentável. REFERÊNCIAS BARBOSA, R. P. 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