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Tutorial 02 – Módulo VIII Doença Vascular Hipertensiva É umas das principais causas de doença no mundo. Afeta mais de 1 bilhão de indivíduos e carca de 9,4 milhões de mortes ao ano. Ela dobra o risco de doenças cardiovasculares, incluindo DCC, ICC, AVC isquêmico e hemorrágico, insuficiência renal e doença arterial periférica DAP. Uma parte considerável da população com hipertensão não é tratada ou é tratada de maneia inadequada, mesmo que a terapia anti- hipertensiva reduza os riscos de doenças cardiovasculares e renais. EPIDEMIOLOGIA: nas sociedades industrializadas, a PA aumenta constantemente durante as primeiras décadas de vida. Em crianças e adolescentes, isso está relacionado com o crescimento e á maturidade. Nos adultos, a PA aumenta progressivamente até os 55 anos, e depois tende a cair. A probabilidade de hipertensão aumenta com idade, e a prevalência em maiores ou iguais a 60 anos é de 65,4% nos EUA, por exemplo. A obesidade e o ganho de peso são fatores de risco importantes e independentes para hipertensão. Estima-se que 60% dos hipertensos apresentam 20% de sobrepeso. A prevalência de hipertensão também está relacionada com a ingestão dietética de NaCl. Ingestões baixas de cálcio e potássio podem contribuir para o risco de hipertensão (troca de sódio-potássio no rim). Consumo de álcool, estresse psicossocial, baixa atividade física também contribuem. CONSIDERAÇÕES GENÉTICAS: para a maioria dos hipertensos, a doença representa um distúrbio poligênico, no qual uma combinação de genes atua em consonância com exposições ambientais para dar uma contribuição apenas modesta á PA. Diferentes subgrupos de genes podem levar a diferentes fenótipos associados á HAS, como obesidade, dislipidemia e resistência á insulina. Os genes identificados estão envolvidos na regulação da PA, como por exemplo, codificação do sistema renina-angiotensina-aldosterona, peptídeo natriurético atrial, adrenorreceptor b2 e alfa-aducina. A desregulação Epigenética surgiu como uma característica da hipertensão, responsável pela “herdabilidade perdida”. MECANISMO DE HIPERTENSÃO O débito cardíaco (DC) e a resistência periférica vascular são os dois determinantes mais importantes. O DC é determinado pelo volume sistólico e pela FC, e o volume sistólico está relacionado com a contratilidade miocárdica e o tamanho da câmara vascular. A resistência periférica é determinada pelas alterações funcionais e anatômicas nas pequenas artérias. VOLUME INTRAVASCULAR – o sódio é o íon extracelular em questão, e ele é determinante primário do volume de liquido extracelular. Quando a ingestão de cloreto de sódio excede a capacidade renal de excreção, o volume vascular pode aumentar e aumentar também o DC. Porém, muitos leitos capilares tem a capacidade de autorregulação do fluxo sanguíneo, e se ele for mantido constante, a resistência naquele leito vai aumentar. A elevação inicial na PA em resposta á expansão do volume pode estar relacionada com aumento do DEC, porem com o tempo a resistência periférica aumenta e o DC reverte para o normal. Assim, o sal com cloreto pode ativar mecanismos neurais, endócrinos/parácrinos e vascular, sendo que todos tem potencial de aumentar a PA. Á medida que a PA aumenta em resposta a alta ingestão de sódio, a excreção urinaria aumenta e o equilíbrio de sódio é mantido, chamando-se “pressão-natriurese”, podendo ter aumento sutil na taxa de filtração glomerular, uma redução da capacidade de absorção dos túbulos renais, e o fator natriurético atrial. A hipertensão dependente da NaCl pode ser consequência da redução da capacidade do rim de excretar sódio devido doença renal intrínseca ou aumento da produção de hormônio que retém sal (mineralocorticoide). A reabsorção tubular de sódio pode estar aumentada também pela maior atividade neural do rim, assim uma maior pressão arterial é necessária pra atingir o equilíbrio de sódio. Os distúrbios com perda de sal estão associados a níveis baixos de PA DRET (doença renal em estágio terminal) é um exemplo de hipertensão dependente de volume, e em 80% dos pacientes, o volume vascular e hipertensão podem ser controlados dialise adequado, e nos outros 20%, é responsivo ao bloqueio farmacológico de renina-angiotensina. SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO: os reflexos adrenérgicos modulam a PA em curto prazo, e quando associado a outros fatores de regulação, contribui a longo prazo. As atividades dos receptores adrenérgicos (norepinefrina, epinefrina e dopamina) são mediados por proteínas G e por segundos mensageiros intracelulares. Além da afinidade e da densidade do receptor, a responsividade ás catecolaminas pode ser alterada pela eficiência do acoplamento do receptor-efetor no local “distal” á ligação do receptor (agonistas alostéricos). Os receptores adrenérgicos foram divididos em alfa e beta, e ainda em alfa1-2 e b1- 2. Alfa1 – localizados nas células pós- sinápticas no musculo liso e promovem vasoconstrição. No rim, eles aumentam a reabsorção tubular de sódio. Alfa2 – membranas pré-sinápticas dos terminais nervosos pós-ganglionares que sintetizam norepinefrina. Agem como controladores de feedback negativo, inibindo ainda mais a liberação de norepinefrina. Os fármacos anti-hipertensivos agem inibindo os receptores alfa1 ou sendo agonistas dos receptores alfa2, reduzindo o fluxo simpatico sistêmico. Beta1 – no miocárdio estimulam a taxa e a força da contração cardíaca, aumentando o DC. Estimula liberação de renina a partir do rim. Beta2 – relaxa o musculo liso vascular e resulta em vasodilatação. Outra classe de anti-hipertensivos agem inibindo os b1. As concentrações de catecolaminas podem afetar o numero de adrenorreceptores. A infrarregulação dos receptores pode ser uma consequência dos altos níveis constantes dessas substancias no sangue, fornecendo uma explicação para a redução da responsividade, ou taquifilaxia, ás catecolaminas. A hipotensão ortostática costuma acontecer em pacientes com feocromocitoma (tumor secretor de catecolaminas pelas células cromafins nas glândulas adrenais), devido a ausência de vasoconstrição induzida pela norepinefrina com a adoção da postura ereta. Por outro lado, com a redução crônica de substâncias neurotransmissoras, os adrenorreceptores podem aumentar em número de modo mais eficaz, resultando em aumento da responsividade ao neurotransmissor. A administração crônica de agentes que bloqueiam os receptores adrenérgicos pode resultar em suprarregulação, e a suspensão abrupta desses agentes pode produzir um distúrbio temporário de hipersensibilidade aos estímulos simpáticos. Um barorreflexo arterial é mediado por terminações nervosas sensíveis ao estiramento nos sérios carotídeos e no arco aórtico. A velocidade de estimulação desses barorreceptores aumenta com PA, e o efeito é uma redução do fluxo simpatico, resultando em reduções da PA e da FC, sendo um mecanismos rápido e primário de alterações posturais, estresses comportamentais ou fisiológicos, e alterações de volume sanguíneo. Porem, a atividade dos barorreceptores declina ou se adapta aos aumentos contínuos, ou seja, são reprogramados para pressões mais altas. RENINA-ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA: regula a PA por meio de propriedades vasoconstritoras da angiotensina II e das propriedades de retenção de sódio da aldosterona. A renina é uma aspartil-protease sintetizada como precursor enzimaticamente inativo, a pró- renina. Ela é sintetizada majoritariamente na arteríola aferente renal. A pró-renina pode ser secretada diretamente na circulação ou ser ativada no interior das células secretoras e liberada como renina ativa. Estímulos pra secreção de renina: 1. Transporte reduzido de NaCl na porçãodistal do ramo ascendente da alça de Henle, que faz limite com a arteríola eferente (mácula densa). 2. Redução da pressão ou do estiramento na arteríola aferente renal (mecanismo barorreceptor). 3. Estimulação das células secretoras de renina pelo sistema simpático por meio dos adrenorreceptores b1. Por outro lado, a secreção de renina é inibida pelo aumento do transporte de sódio no ramo ascendente grosso da alça de Henle, pelo aumento do estiramento na arteríola aferente renal e pelo bloqueio do receptor b1. Além disso, a angiotensina II inibe diretamente a secreção de renina devido aos receptores tipo 1 nas células justaglomerulares, e a secreção de renina aumenta em resposta ao bloqueio farmacológico da ECA ou dos receptores da angiotensina II. Na circulação, a renina cliva o angiotensinogênio, formando um decapeptídeo inativo, a angiotensina I. Uma enzima de conversão situada primariamente na circulação pulmonar, converte a angiotensina I em angiotensina II ativo. Essa mesma enzima inativa o vasodilatador bradicinina. A angiotensina II age por meio de receptores tipo 1 (AT1) nas membrana celulares, realizando vasoconstrição e secretando aldosterona pela zona glomerulosa suprerrenal. A angiotensina II pode desempenhar um papel na patogênese da aterosclerose por meio de uma ação celular direta na parede do vaso. O receptor da angiotensina II do tipo 2 (AT2) tem efeitos funcionais opostos aos do receptor da AT1, induzindo a vasodilatação, a excreção de sódio, bem comoa inibição do crescimento celular e a formação da matriz. Tumores secretores de renina são exemplos claros de hipertensão da renina. Um jeito de descobrir é realizando hemograma de potássio, pois gera hipocalemia na troca de sódio por potássio realizada pela aldosterona, além da também causar alcalose A obstrução da artéria renal leva a uma redução da perfusão renal, estimulando a secreção de renina. MECANISMOS VASCULARES: a resistência do fluxo varia inversamente com a quarta potencia do raio, e consequentemente, pequenas reduções no tamanho do lumen aumentam muito a resistência vascular. O remodelamento refe-re a alterações geométricas na parede do vaso sem mudança no volume do vaso, assim, o remodelamento hipertrófico/eutrofico resulta em redução do tamanho do lúmen, e portanto aumento da resistência periférica. Apoptose, inflamação de baixo grau e fibrose vascular também contribuem para o remodelamento. O diâmetro do lumem também esta associado com a elasticidade do vaso, e quanto maior elasticidade, maior acomodamento do aumento de volume e pouca alteração pressórica. Porem, em um sistema vascular semirrígido, um pequeno aumento do volume induz um aumento relativamente grande na pressão. Embora tenha sido assumido que a rigidez arterial é uma manifestação da hipertensão, evidência recente sugere que a rigidez vascular também pode representar uma causa de hipertensão. A determinação não invasiva da velocidade da onda de pulso entre as artérias carótida e femoral frequentemente é interpretada como um índice da rigidez arterial. A pressão de pulso está relacionada com as propriedades funcionais de grandes artérias e com a amplitude e o momento de ocorrência das ondas incidentes e refletidas, e então, o aumento da rigidez arterial resulta em aumento da velocidade da onda de pulso. A consequência é o aumento da pressão sistólica aórtica e redução da pressão diastólica aórtica, ou seja, aumento da pressão de pulso. O índice de aumento aórtico é calculado com a razão entre da pressão arterial central e a pressão de pulso. Com base em mensurações nos tipos celulares mais acessíveis do que o músculo liso vascular (p. ex., leucócitos, hemácias, plaquetas, músculo esquelético), a atividade do trocador Na+-H+ está aumentada na hipertensão, o que pode resultar em aumento do tônus vascular por meio de dois mecanismos. Primeiro, o aumento da entrada de sódio pode levar ao aumento do tônus vascular pela ativação da troca Na+-Ca2+ e, portanto, ao aumento do cálcio intracelular. Segundo, a elevação do pHi aumenta a sensibilidade ao cálcio do aparelho contrátil, levando a um aumento da contratilidade para determinada concentração de cálcio intracelular. O endotélio vascular sintetiza e libera várias substâncias vasoativas, incluindo o óxido nítrico, um vasodilatador potente. A vasodilatação dependente do endotélio está comprometida nos pacientes hipertensos. A endotelina é um peptídeo vasoconstritor produzido pelo endotélio, e os antagonistas da endotelina oralmente ativos podem baixar a pressão arterial em pacientes com hipertensão resistente. MECANISMOS IMUNES, INFLAMAÇÃO E ESTRESSE OXIDATIVO: inflamação e alterações na resposta imune estão implicadas na patogênese da lesão vascular e da hipertensão. A hipertensão primaria eleva os níveis circulantes de autoanticorpos, e a tanto a hipertensão quanto a rigidez aórtica estão associados com a ativação de imunidade inata e adaptativa. Inflamação, estiramento vascular, angiotensina II e sal mostraram resultar na geração de espécies reativas do oxigênio (ROS), que modificam a função da célula T e aumentam ainda mais a inflamação. As ROSs também atenuam os efeitos dos vasodilatadores endógenos de moléculas pequenas. As ROSs dentro da medula renal são um determinante essencial do ponto de ajuste da curva de pressão renal-natriurese. O estresse oxidativo medular renal desorganiza a pressão- natriurese e contribui para o desenvolvimento de hipertensão. CONSEQUÊNCIAS PATOLÓGICAS DA HAS CORAÇÃO: doença cardíaca é a causa mais comum de morte nos pacientes hipertensos, e a cardiopatia hipertensiva é o resultado de adaptações estruturais e funcionais que levam a hipertensão ventricular esquerda, insuficiência cardíaca congestiva, doença arterial coronariana aterosclerótica e doença microvascular e arritmias cardíacas, incluindo fibrilação atrial. O controle agressivo da HAS pode regredir ou reverter a HVE e reduzir risco de cardiopatia. A ICC pode estar relacionada com disfunção sistólica, disfunção diastólica ou uma combinação das duas. Anormalidades da função diastólica, que variam de cardiopatia assintomática até insuficiência cardíaca evidente, são comuns nos pacientes hipertensos. A disfunção diastólica é uma consequência inicial da cardiopatia relacionada com a hipertensão, sendo exacerbada pela HVE e pela isquemia. CÉREBRO: o AVC é a segunda causa mais frequente de morte no mundo e a PA elevada é o fator de risco mais forte pra AVC, sendo que a incidência de AVC aumenta progressivamente com o aumento dos níveis de PA, em particular da PAS em pcts maiores de 65 anos. O tratamento reduz a incidência tanto de AVC isquêmico quanto o hemorrágico. Estudos clínicos sugerem que a terapia anti- hipertensiva tem um efeito benéfico na função cognitiva, embora isso continue sendo uma área ativa de investigação. O fluxo sanguíneo cerebral permanece sem alterações em uma ampla faixa de pressões arteriais por meio da autorregulação do fluxo sanguíneo. Nos pacientes com a síndrome clínica de hipertensão maligna, a encefalopatia está relacionada com falha de autorregulação do fluxo sanguíneo cerebral no limite superior de pressão, resultando em vasodilatação e hiperperfusão. Os sinais e sintomas de encefalopatia hipertensiva podem incluir cefaleia grave, náuseas e vômitos (frequentemente de natureza em jato), sinais neurológicos focais e alterações no estado mental. RIM: é alvo e causa da hipertensão, sendo a doença renal primaria a etiologia mais comum da hipertensão secundaria. Os mecanismos de hipertensão relacionados com o rim incluem redução da capacidade de excretar sódio, excesso de secreção de renina em relação ao estado de volume e excesso deatividade do sistema nervoso simpático. Em contrapartida, a hipertensão é um fator de risco para lesão renal e DRET. Com lesão renal progressiva, há perda da autorregulação do fluxo sanguíneo renal e da taxa de filtração glomerular, a qual resulta em um limiar de pressão arterial mais baixo para lesão renal e uma curva mais acentuada entre a pressão arterial e a lesão renal. O resultado pode ser um ciclo vicioso de lesão renal e perda de néfron que causa hipertensão mais grave, hiperfiltração glomerular e ainda mais lesão renal. Clinicamente, a macroalbuminúria (razão aleatória albumina/creatinina urinária > 300 mg/g) ou a microalbuminúria (razão aleatória albumina/creatinina urinária de 30 a 300 mg/g) são marcadores precoces de lesão renal. ARTÉRIAS PERIFÉRICAS: os vasos sanguíneos contribuem para hipertensão, mas também são alvos para a doença aterosclerótica secundaria á PA elevada de longa duração. A doença vascular nos hipertensos também contribui para AVC, doença cardíaca e insuficiência renal. Embora os pacientes com lesões estenóticas das extremidades inferiores possam ser assintomáticos, claudicação intermitente é o sintoma clássico de DAP. O índice tornozelobraquial é uma abordagem útil à avaliação da DAP, sendo definido pela razão entre a pressão arterial sistólica do tornozelo e a do braço avaliadas de maneira não invasiva. Um índice tornozelo-braquial < 0,90 é considerado diagnóstico de DAP e está associado a > 50% de estenose em pelo menos um vaso principal de membro inferior. Um índice tornozelo-braquial < 0,80 está associado à pressão arterial elevada, em particular a pressão arterial sistólica. DEFINIÇÃO DE HIPERTENSÃO Não há nível evidente de pressão arterial que defina hipertensão. No Brasil, o nível estabelecido é 140 X 90mmHg, pois assim o número necessário terapeutico é maior em um pais com tratamento gratuito. A mortalidade por AVC e a mortalidade devido a outras causas vasculares estão diretamente relacionadas com o nível da pressão arterial, começando em 115/75 mmHg, sem evidências de um limite. O risco de doença cardiovascular dobra para cada aumento de 20 mmHg na pressão sistólica e de 10 mmHg na pressão diastólica. Entre os indivíduos mais velhos, a pressão arterial sistólica e a pressão de pulso são preditores mais potentes de doença cardiovascular do que a pressão diastólica. Hipertensão pode ser definida como o nível de pressão arterial no qual a instituição de terapia reduz a morbidade e a mortalidade relacionadas com a pressão arterial. Os critérios clínicos para definir hipertensão em geral baseiam-se na média de duas ou mais aferições da pressão na posição sentada durante cada uma de duas ou mais consultas ambulatoriais. Crianças e adolescentes, a hipertensão geralmente é definida como PA sistólica e/ou diastólica consistentemente superiores ao 95º percentil para idade, sexo e altura. As PAs entre o 90º e o 95º percentis são consideradas pré- hipertensivas, sendo uma indicação para intervenções no estilo de vida. As medições da pressão arterial em casa e da pressão ambulatorial média de 24 horas geralmente são mais baixas que as pressões arteriais verificadas no consultório (síndrome do jaleco branco). Por outro lado, o prognóstico da hipertensão mascarada (pressão arterial normal no consultório e elevada fora do consultório) é quase equivalente ao da hipertensão sustentada. PA ótima é < 12/8. PA normal é considerada 120- 129/80-84. Pré-hipertenso é considerado a partir de 13/85. Grau 1 e 2 fica 14-179/9-109. E grau 3 a partir de 180/110. A pressão arterial tende a ser mais alta nas primeiras horas da manhã, logo após o despertar, do que em outras horas do dia. O infarto agudo do miocárdio (IAM) e o AVC são mais comuns nas primeiras horas da manhã. As pressões arteriais noturnas costumam ser 10 a 20% mais baixas do que as pressões arteriais diurnas, e uma queda associada a um aumento do risco de doença cardiovascular. DISTÚRBIOS CLÍNICOS DE HIPERTENSÃO 90-95% dos pacientes são diagnosticados com hipertensão primaria, ou “essencial”. Nos 5-20% dos pacientes hipertensos restantes, pode ser identificado um distúrbio adjacente especifico que causa a elevação da PA, como causa renal, renovascular, suprerrenal, coarctação aórtica, apneia obstrutiva do sono, pré- eclâmpsia/eclampsia, neurogênica, distúrbios endócrinos, medicamentos e substancias hipertensas. HIPERTENSÃO PRIMÁRIA: tende a ser familiar e a consequência de interação entre fatores ambientais com fatores genéticos. Aumenta a prevalência com a idade, podendo ter diferentes fenótipos. Na maioria, a resistência periférica esta aumentado e o DC é normal ou reduzido, porem em pacientes mais jovem o quadro se inverte. Quando a atividade da renina plasmática (ARP) é colocada em um gráfico e analisada com a excreção de sódio de 24 horas, cerca de 10 a 15% dos pacientes hipertensos apresentam ARP alta e 25%, ARP baixa. Os pacientes com alto teor de renina podem ter uma forma vasoconstritora de hipertensão, enquanto os pacientes com baixo teor de renina podem ter uma hipertensão dependente do volume. A associação entre aldosterona e PA é mais contundente em pessoas negras, e a ARP tende a ser baixa nos negros hipertensos. Aumentos sutis da aldosterona possam contribuir para a hipertensão em pelos menos alguns gruposde pacientes que não possuem aldosteronismo primário franco. Além disso, a espironolactona, um antagonista da aldosterona, pode ser um agente anti-hipertensivo particularmente eficaz para alguns pacientes com hipertensão primária. OBESIDADE E SÍNDROME METABÓLICA: a gordura corporal localizada é um determinante importante de elevação da PA, sendo mais importante que gordura periférica. A hipertensão e a dislipidemia costumam ocorrer juntas e em associação com a resistência à captação de glicose estimulada pela insulina. aproximadamente 25 a 50% das pessoas hipertensas não obesas e não diabéticas apresentam resistência à insulina. A associação de resistência à insulina, obesidade abdominal, hipertensão e dislipidemia foi designada como síndrome metabólica. DOENÇAS DO PARÊNQUIMA RENAL: quase todos os distúrbios renais podem causar hipertensão, sendo a doença renal mais comum. A hipertensão é mais grave nas doenças glomerulares do que nas intersticiais (pielonefrite). A proteinúria > 1.000mg/dia e um sedimento urinário são indicativos de doença renal. HIPERTENSÃO RENOVASCULAR: o tipo de hipertensão secundaria causada por uma lesão oclusiva de uma artéria renal é uma forma potencialmente curável. Os pacientes de risco são pcts com arteriosclerose mais velhos e pcts com displasia fibromuscular. ADOSTERONISMO PRIMÁRIO: o excesso de produção de aldosterona é uma forma potencialmente curável de hipertensão. Esse aumento é independente do SRAA, e as consequências são retenção de sódio, hipertensão, hipocalemia e ARP baixa. A hipertensão gerada é leve-moderada, mas pode ser grave, e esse tipo deve ser considerado quando pcts tem hipertensão refrataria. Geralmente fica entre 30-50 anos de idade. SÍNDROME DE CUSHING: ocorre excesso de produção de cortisol devido ao excesso de secreção de ACTH (tumor na hipófise ou tumor ectópico) ou á produção suprarrenal de cortisol independente de ACTH. A hipertensão ocorre em 75-80% dos pacientes com essa síndrome, e a suspeita clinica é baseada em pcts fenotípicos que não estão tomando glicocorticoides exógenos. FEOCROMOCITOMA: tumores que secretam catecolaminas localizados na medula suprarrenal ou no tecido paraganglionar (paraganglioma), sendo responsáveis por hipertensão em 0,05% dos pacientes. Se não for reconhecido, pode resultar em consequências CV fatais. 20% é do tipo familiar com herançaautossômica dominante. ABORDAGEM AO PACIENTE ANAMNESE E EXAME FÍSICO: deve incluir historia e EF completos para confirmar diagnostico, triagem pra outros fatores de risco, triagens secundarias, avaliação do estilo de vida e determinação de potencial pra intervenção. A maioria dos pcts não tem sintomas específicos que se refiram á elevação da PA. Perguntar a duração da hipertensão, terapias anteriores com respostas e efeitos colaterais, historia familiar de hipertensão e doença cardiovascular, historias dietéticas e psicossociais, outros fatores de risco, evidencias de hipertensão secundaria, evidencias de lesão orgal-alvo e outras comorbidades. No EF analisar habito corporal, PA em ambos os braços, PA em posição supina e de pé, exame fundoscópico de retina, qualidade dos pulsos femoral e pedial, sopros vasculares e abdominais, frequência e ritmo cardíaco, sinais de insuficiência cardíaca congestiva, sinais de hipertensão secundaria. EXAMES LABORATORIAIS: Renal – exame microscópico de urina, excreção de albumina, ureia e/ou creatinina sérica. Endócrino – sódio, potássio e cálcio séricos, TSH. Metabólito – glicemia em jejum, colesterol total, colesteróis HDL e LDL, triglicerídeos. Outros – hematócrito e ECG. As mensurações repetidas da função renal, dos eletrólitos séricos, da glicose de jejum e dos lipídeos podem ser obtidas após a introdução de um novo agente anti-hipertensivo e, depois, anualmente ou com mais frequência se clinicamente indicado. Tratamento da Hipertensão INTERVENÇÕES DE ESTILO DE VIDA: serve como prevenção e como tratamento da hipertensão. São recomendadas para indivíduos pré-hipertensos e como adjuvante á terapia medicamentosa para hipertensos de fato. Estão incluídos a perda de peso (IMC < 25kg/m3), redução da ingestão de NaCl ( < 6g/dia), aumento da ingestão de potássio, moderação do consumo de álcool e realização de atividade física (aeróbica como caminhada rápida 30min/dia). A prevenção e o tratamento da obesidade são importantes em reduzir a PA e o risco de doenças CV. A perda de peso modesta pode diminuir a PA e aumentar a sensibilidade á insulina. DIURÉTICOS (DIU): agem na natriurese diminuindo o volume extracelular, e após 4-6 semanas, o volume circulante praticamente se normaliza e ocorre redução da RVP. Esses fármacos reduzem a PA e diminuem a morbimortalidade cardiovascular. Usar preferencialmente os DIU tiazídicos ou similares (clortalidona, hidroclorotiazida e indapamida). Efeitos adversos estão relacionados com a dose utilizada, manifestando fraqueza, câimbras, hipovolemia e disfunção erétil. Do ponto de vista metabólico, ocorre hipopotassemia (hipocalemia), acompanhada de hipomagnesemia, que podem induzir arritmias ventriculares (extrassistolia). Aumenta o risco de diabetes melitos por redução da liberação de insulina, e aumento do acido úrico com precipitação de gota nos indivíduos com predisposição. A espironolactona (antagosnita não seletivo da aldosterona) pode causar hipocalemia em pacientes com déficit de função renal. AGENTES DE AÇÃO CENTRAL: os alfa- agonistas de ação central agem através do estímulos dos receptores alfa2, os quais inibem o sistema simpatico. Nem todos são seletivos, e os efeitos são diminuição da atividade simpática e do reflexo dos barorreceptores, ocorrendo bradicardia relativa e hipotensão ortostática, discreta diminuição da RVP e no DC, redução dos níveis plasmáticos de renina e retenção de fluidos. Usar metildopa, clonidina, guanabenzo e os inibidores dos receptores imidazolínicos (moxonidina e rilmenidina). A clonidina pode ser boa em situação de hipertensão associada a síndrome de pernas inquietas, retirada de opioides, “flushes” da menopausa, diarreia neuropática diabética e hiperatividade simpática em pcts com cirrose alcoolica. Efeitos adversos incluem reações autoimunes (metildopa) como febre, anemia hemolítica, galactorreia e disfunção hepática. A clonidina apresenta risco de rebote com a descontinuação especialmente quando associada com um beta- bloqueador (BB) e pode ser perigosa em situações pré-operatória. Ocorre sonolência, sedação, boca seca, fadiga, hipotensão postural e disfunção erétil. BETABLOQUEADORES: ocorre diminuição inicial do DC e da secreção de renina, havendo adaptações do barorreceptores e diminuição das catecolaminas nas sinapses. O carvedilol e o nebivolol têm efeitos vasodilatadores por mecanismos direntes, sendo o carvedilol por bloqueio do receptor alfa1 e o nebivilol, por aumento da síntese e liberação de oxido nítrico no endotélio vascular. O propranolol também é útil. Efeitos adversos inclusos como broncoespasmo, bradicardia, distúrbios da condução atrioventricular, vasoconstrição periférica, insônia, pesadelos, depressão psíquica, astenia e disfunção sexual. Os BB de primeira e segunda geração são contraindicados para pcts com asma brônquica, DPOC e bloqueio atrioventricular, podendo acarretar em intolerância a glicose, DM, hipertrigliceridemia com elevação do LDL e redução do HDL. Quando combinados com DIU, o impacto metabólico na glicose é potencializado. ALFABLOQUEADORES: agem como antagonistas competitivos dos afa1 pós- sinápticos, reduzindo a RVP sem maiores mudanças no DC. U65sa-se a doxazosina, a prazosina e a terazosina, e o efeito hipotensor é discreto como monoterapia, sendo preferencia como uso associado. Ocorre melhora na sintomatologia relacionada á hipertrofia prostática benigna. Efeitos adversos incluem hipotensão sintomática na primeira dose, efeito de tolerância frequente necessitando aumento da dose a longo prazo, incontinência urinaria em mulheres, e maior incidência de ICC (doxazosina). VASODILATADORES DIRETOS: hidralazina e minoxidil, atuam relaxando a musculatura lisa arterial e reduzindo RVP. Hidralazina provoca cefaleia, flushing, taquicardia reflexa e reação lúpus-like, anorexia, náusea, vomito e diarreia. O minoxidil provoca Hirsutismo (80% dos pacientes). BLOQUEADORES DOS CANAIS DE CÁLCIO BCC: primordialmente ocorre redução da RVP como consequência da diminuição da quantidade de cálcio no interior das células musculares lisas das arteríolas, e são classificados em di- idropiridínicos e em não di-idropiridínicos. Os BCC di-idropiridínicos (amlodipino, nifedipino, felodipino, nitrendipino, manidipino, lercanidipino, levanlodipino, lacidipino, isradipino, nisoldipino, nimodipino) promovem vasodilatação com mínima interferência na FC e na função sistólica. A outra classe, como as fenilalquilaminas (verapamil) e as benzotiazepinas (diltiazem) tem menos efeitos vasodilatador, e podem causar bradicardia e reduzir arritmias. Ambas as classes são eficazes e reduzem a morbimortalidade cardiovascular. Efeito colateral mais registrado é o edema maleolar, resultante da ação vasodilatadora que promove transudação capilar. Pode ocorrer rubor facial. INIBIDORES DA ECA: inibem a enzima conversora de angiotensina I, impedindo a formação da angiotensina II. São eficazes e reduzem morbimortalidade CV. Retardam o declínio da função renal em pcts com nefropatia diabética ou de outras etiologias. Usar captopril, lisinopril e ramipril. Efeito adverso principal é tosse seca (5-20% dos pcts), mas é bem tolerada pela maioria dos pcts. Em pacientes com insuficiência renal, promovem mais efeitos colaterais. Uso contraindicado na gravidez por risco de complicações fetais. BLOQUEADORES DOS RECEPTORES AT1 DA ANGIOTENSINA II (BRA): antagonizam a ação da angiotensina II por bloquear especificamente os receptores AT1. Reduzem risco de morbimortalidade CV e renal. Usar lorsatana e valsartana. Efeitos adversos são incomuns, porem são contraindicados na gravidez. Pode causar insuficiência renal, estenoseda artéria renal bilateral e hiperpotassemia. INIBIDORES DIRETOS DA RENINA: o alisquireno inibe diretamente a ação da renina com diminuição da formação da angiotensina II. Em monoterapia, há comprovação da eficácia na redução da PA. Tem boa tolerabilidade, mas pode apresentar “rash” cutâneo, diarreia, aumento de CPK e tosse, em incidência inferior a 1%. Contraindicado na gravidez. ESQUEMAS TERAPÊUTICOS A monoterapia pode ser utilizada em pcts de estagio 1 com risco CV (RCV) baixo-moderado. METAS DE PA DA TERAPIA: a proteção máxima contra desfechos CV é atingida com pressões <135-40 X <80-85 mmHg, porem o tratamento não reduziu o risco de doenças no nível de indivíduos não hipertensos. Combinação não recomendada entre inibidor da ECA e bloqueador do receptor de angiotensina. EMERGÊNCIAS HIPERTENSIVAS: constituídos de hipertensos crônicos, e deve-se diferenciar as crises hipertensivas e urgências hipertensivas. O grau de lesão ao órgão alvo, em vez do nível da PA isoladamente, determina a rapidez com que a PA deve ser reduzida. Deve-se usar agentes anti-hipertensivos em doses intravenosas, como nitroprusseto, nidardipino, labetalol, enalaprilate, esmolol, fentolamina, nitroglicerina e hidralazina. A hipertensão maligna é uma síndrome associada ao aumento abrupto da pressão arterial (PAD > ou igual a 120) em um paciente com hipertensão subjacente ou relacionada com início súbito de hipertensão em um indivíduo previamente normotenso. O nível absoluto de pressão arterial não é tão importante como sua taxa de elevação. Patologicamente, a síndrome está associada a vasculite necrosante difusa, trombos arteriolares e depósito de fibrina nas paredes arteriolares. a síndrome é reconhecida por retinopatia progressiva (espasmo arteriolar, hemorragias, exsudatos e papiledema), deterioração da função renal com proteinúria, anemia hemolítica microangiopática e encefalopatia. A anamnese deve incluir perguntas sobre o uso de inibidores da monoaminoxidase e drogas recreacionais (p. ex., cocaína, anfetaminas).
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