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Ao redor do Marco Legal das Startups 
Rodrigo de Abreu Pinto 
Janeiro de 2021 
Em 2020, as startups brasileiras ganharam fôlego inédito e até certo ponto 
surpreendente. Os anos anteriores já sinalizavam um crescimento contínuo do setor, a 
exemplo do número de empresas startups no país que triplicou entre 2015 e 2019 . A 1
pandemia, por sua vez, acelerou a digitalização e o uso de tecnologias por empresas 
interessadas em aumentar a produtividade e melhorar a oferta aos clientes, fenômeno 
que rapidamente turbinou a atratividade de empresas ofertantes de produtos e serviços 
inovadores como as startups. Contando ainda com a queda recorde da taxa Selic que 
incentivou a diversificação da carteira de ativos dos investidores, as startups brasileiras 
receberam aportes no total de aproximadamente R$ 16 bilhões, marca histórica do setor. 
Nos últimos dias do ano, encerrando o 2020 das startups com chave de ouro, a 
Câmara dos Deputados aprovou o texto-base do Marco Legal das Startups (Projeto de 
Lei Complementar nº 249/2020) com um placar expressivo de 361 votos a favor e 66 
contrários, restando apenas que o projeto seja avaliado pelo Senado Federal. Sabendo 
que o Marco se propõe a corrigir as falhas de mercados e as limitações de políticas 
públicas que até então atrapalham o crescimento das startups, há razões de sobra para 
crer que o ecossistema de inovação está prestes a ganhar ímpeto por meio da aprovação 
definitiva do projeto. As consequências positivas disso, com efeito, não se restringem às 
startups e aos investidores, mas diz respeito ao Estado e a sociedade em geral que se 
beneficiarão das soluções inovadoras que muito em breve nascerão. 
O PLP 249/2020 foi desenvolvido no âmbito do Secretaria Especial de 
Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia e apensado ao PLP 
146/2019 pelo qual os deputados já vinham discutindo a regulação das startups desde o 
ano anterior. As discussões a respeito do Marco Legal das Startups envolveu a 
participação de entidades, empreendedores e sociedade civil em encontros presenciais, 
consultas e audiências públicas em que, de modo resumido, identificaram conjuntamente 
os desafios enfrentados pelas startups no Brasil, além de analisarem as legislações 
estrangeiras sobre o tema (em especial o Italian Startup Act, aprovado em 2012 e depois 
do qual o número de startups na Itália cresceu 13 vezes entre 2013 e 2016 ). As tantas 2
discussões resultaram no Marco Legal das Startups em que, como um “marco”, 
diferencia-se de uma “lei” pois voltado a estabelecer, de maneira ampla e geral, os 
princípios, garantias e direitos que organizarão o ecossistema das startups em seus mais 
variados domínios. 
 Segundo dados da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), “de 2015 até 2019, o número de startups no país 1
mais que triplicou, passando de 4.151 para 12.727 (um salto de 207%)”. Disponível em: <https://abstartups.com.br/
crescimento-das-startups/>. Acessado em 20/01/2020.
 Segundo o Ministério de Desenvolvimento Econômico do país, o número de startups na Itália saltou de 479 para 6,4 2
mil entre 2013 e 2016.
https://abstartups.com.br/crescimento-das-startups/
https://abstartups.com.br/crescimento-das-startups/
O seu primeiro princípio, segundo a enumeração do art. 3° do Marco, pauta o 
importante “reconhecimento do empreendedorismo inovador como vetor de 
desenvolvimento econômico, social e ambiental”. Nessa mesma linha, o marco relativo às 
Startups desponta na esteira de outros dois importantes marcos, o Marco Legal da 
Internet (2014) e o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação (2016), os quais se 
somam a legislações mais antigas como a Lei da Inovação e a Lei do Bem no intuito de 
atrelar, de modo definitivo, o fomento à inovação ao desenvolvimento econômico e social 
do país. As startups, empresas com alto potencial de escalabilidade e inovação 
tecnológicas, são o principal objeto do Marco Legal que atende, por um lado, as 
demandas de melhoria do ambiente de negócios e da segurança quanto ao patrimônio 
dos investidores, ao mesmo tempo que privilegia as compras públicas como meio de 
intensificar a oferta de capital às startups. Como lemos no artigo que abre a lei, o Marco 
Legal das Startups cumpre duas funções principais: 
a) apresenta medidas de fomento ao ambiente de negócios e ao aumento da oferta 
de capital para investimento em empreendedorismo inovador; e 
b) disciplina a licitação e a contratação de soluções inovadoras pela administração 
pública. 
 
Sabendo que o projeto será tão logo apreciado pelos senadores, procedo uma 
análise dos principais institutos do Marco com sugestões de ajustes possíveis, antes de 
concluir com a apresentação sumária dos próximos passos para o aprimoramento do 
ecossistema das startups. Muito embora reconhecendo os avanços do Marco Legal das 
Startups, há muito a ser feito para que o ambiente de inovação esteja à altura dos 
desafios de impulsionar o desenvolvimento do país. 
Definição de Startup 
Para enquadrar as empresas elegíveis às determinações da lei, o Marco modificou a 
definição de startups até então utilizada no ordenamento nacional com o intuito de torná-
la mais precisa. A primeira aparição do termo é recente, somente a partir do Lei 
Complementar 67/2019, momento em que uma “startup” foi definida principalmente pelo 
seu caráter inovador, já que um modelo de empresa que “visa a aperfeiçoar sistemas, 
métodos ou modelos de negócio, de produção, de serviços ou de produtos”, além de 
“desenvolver suas inovações em condições de incerteza que requerem experimentos e 
validações constantes, inclusive mediante comercialização experimental provisória, antes 
de procederem à comercialização plena e à obtenção de receita” (art. 65-A, § 1° e 2°). 
O Marco Legal das Startups simplificou a definição ao concentrá-la em dois 
princípios - além do caráter inovador, a fase inicial de desenvolvimento - e especificar os 3
modos de identificação de ambos (art. 4º). Assim, para que a empresa seja considerada 
nascente (logo, uma startup), deve ter receita bruta de até dezesseis milhões de reais (um 
limite bem maior do que o aplicado para Micro e Pequenas Empresas pela Lei 123/2006) 
e até dez anos de existência. Já quanto ao caráter inovador, o marco estipula que as 
startups declarem em seu ato constitutivo a utilização de modelos de negócios inovadores 
para a geração de produtos ou serviços - ficando a sugestão aos senadores para que o 
Marco apresente uma lista não exaustiva de atividades que sejam automaticamente 
reconhecidas como inovadoras (tal como lemos na listagem das atividades de baixo risco 
do artigo 9° da Declaração de Liberdade Econômica). 
Instrumentos de investimento em startups 
O segundo princípio do Marco, listado no mesmo art. 3°, estabelece como diretriz o 
“incentivo à constituição de ambientes favoráveis ao empreendedorismo inovador, com 
valorização da segurança jurídica e da liberdade contratual como premissas para a 
promoção do investimento e do aumento da oferta de capital direcionado a iniciativas 
inovadoras”. Levando em conta ambas as premissas - a valorização da segurança jurídica 
e da liberdade contratual - o Marco acentuou a segurança nas relações entre investidores 
e startups pela listagem dos diferentes instrumentos de investimento usados no 
ecossistema de inovação do país: a opção de compra, a opção de subscrição, a 
debênture conversível, a sociedade em conta de participação, o contrato de participação 
da Lei Complementar 123/2006 e o mútuo conversível - todos esses instrumentos já 
utilizados com frequência, muito embora em contratos atípicos que oferecem menos 
segurança jurídica (art. 5°). Sem pretensão de inibir a criatividade contratual, a lista dos 
instrumentos é exemplificativa, e não exaustiva, reconhecendo no último inciso a 
possibilidade de existência de “outros instrumentos de aporte de capital em que o 
investidor, pessoa física ou jurídica, não integre formalmente o quadro de sócios da 
startup”.Muitos certamente notarão a ausência do quiçá mais tradicional meio de 
investimento numa empresa - a compra de participação societária - e isso ocorre porque a 
lei endereça a proteção especialmente aos investidores que não integram o capital social 
da empresa. Tais investidores preterem a compra de participação societária em relação 
aos demais instrumentos de investimentos já que, uma vez que se tornem quotistas, 
acionistas ou sócios da startup, estariam sujeitos a responsabilização pelas dívidas das 
empresas em caso de desconsideração da personalidade jurídica. Contra isso, o Marco 
 O artigo 25 da Lei 221, de 17 de dezembro de 2012 define a chamada “startup innovativa” de modo semelhante ao 3
Marco brasileiro uma vez que frisa o estágio inicial de desenvolvimento e o interesse acentuado em inovação, muito 
embora ainda exija que a startup preencha pelo menos um dos seguintes requisitos: (a) pelo menos 15% da diferença 
entre receitas e custos operacionais são gastos em pesquisa e desenvolvimento anualmente; (b) pelo menos 1/3 dos 
empregados são candidatos de doutoramento ou são PhD, ou pelo menos 2/3 dos empregados, acionistas ou 
colaboradores possuem um mestrado; ou (c) a empresa possui ou licencia uma patente ou um software registrado.
garante que os investidores contratantes de qualquer dos instrumentos listados só serão 
considerados sócios após a conversão do instrumento do aporte em efetiva e formal 
participação societária, assegurando que antes disso o investidor “não responderá por 
qualquer dívida da empresa, inclusive em recuperação judicial” (art. 8°, II). 
O erro do Marco Legal das Startups está em asseverar que o investidor, uma vez 
que não será considerado ou acionista, também “não possuirá direito a gerência ou a voto 
na administração da empresa, conforme pactuação contratual” (art. 8°, I). Descrever de tal 
forma o vínculo entre o investidor e a startup é restritivo porque, segundo as práticas e 
costumes vigentes no ecossistema de inovação, os investidores não agregam apenas 
valor financeiro, mas também comercial e de networking (o denominado smartmoney), da 
maneira que estarão sujeitos ao ao risco de que os juízes interpretem tais atividades 
como a “gerência” vedada pela lei e assim caracterizem o investidor como sócio da 
sociedade para os demais efeitos jurídicos . Curiosamente, uma descrição mais completa 4
da atividade do investidor foi dada no próprio Marco, entre as disposições finais que 
alteram artigos de outras leis, em que frisou que o investidor do contrato de participação 
da LC 123/2006 “não será considerado sócio nem terá qualquer direito a gerência ou a 
voto na administração da empresa, resguardada a possibilidade de participação nas 
deliberações em caráter estritamente consultivo”. Cabe que os senadores apliquem o 
mesmo complemento para os investidores dos demais contratos de investimento, e não 
apenas do contrato de participação. 
Licitação e a contratação de soluções inovadoras pela administração pública 
O Marco Legal das Startups é pretensioso e não menos eficaz em sua ambição de 
intensificar a cooperação entre os setores público e privado . Por um lado, o Marco 5
privilegia “o Estado empreendedor [que] investe em áreas não quais o setor privado não 
investiria mesmo que tivesse os recursos” , como defende a economista Mariana 6
Mazzucato. Por outro lado, em termos da elaboração dos contratos entre a administração 
pública e os agentes privados, a lei leva em conta as particularidades das empresas, em 
linha com o terceiro princípio do Marco que ratifica a “importância das empresas como 
agentes centrais do impulso inovador em contexto de livre mercado”. 
Uma primeira novidade envolve a disposição de que as startups poderão testar 
técnicas e tecnologias experimentais em meio ao chamado sandbox regulatório, 
 Tratando da Sociedade em Conta de Participação, o Código Civil prevê essa consequência no art. 993, parágrafo 4
único, onde se lê que “sem prejuízo do direito de fiscalizar a gestão dos negócios sociais, o sócio participante não pode 
tomar parte nas relações do sócio ostensivo com terceiros, sob pena de responder solidariamente com este pelas 
obrigações em que intervier”.
 Além das disposições que citaremos abaixo, algumas previsões presentes na PLP 146/2019 envolvendo os setores 5
público e privado acabaram excluídas do projeto final, como a exigência de que os fundos constitucionais destinassem 
recursos para fundos de investimento em participações e de que os bancos - comerciais, de desenvolvimento, Caixa, 
BNDEs e Finep - mantivessem linhas de crédito específicas e taxas diferenciadas para startups.
 MAZZUCATO, M. O Estado Empreendedor: Desmascarando o Mito do Setor Público vs. Setor Privado. São Paulo: 6
Portfolio-Penguin, 2014. Pág. 52.
compreendido como um ambiente aberto pelos órgãos e entidades da administração 
pública que flexibilizam um conjunto de regras setoriais em benefício de startups em 
estágio inicial para que essas, enfim, deem os primeiros passos em um ambiente menos 
burocrático (art.11). Sendo uma experiência crescentemente implementada em países 
emergentes com sucesso, a importação do modelo ao ambiente de negócios do Brasil 
segue a o estabelecido pelo quarto princípio do Marco que preconiza a “modernização do 
ambiente de negócios brasileiro, à luz dos modelos de negócios emergentes”. 
Ao lado dessa facilidade desburocratizante, o Marco Legal das Startups cria novos 
instrumentos públicos voltados ao aumento da oferta de capital para as startups que, por 
sua vez, seguem as diretrizes do quinto ao oitavo princípio do lei, tal como descritor no 
art. 3°: 
V - fomento ao empreendedorismo inovador como meio de promoção da 
produtividade e da competitividade da economia brasileira e de geração de postos 
de trabalho qualificados; 
VI - aperfeiçoamento das políticas públicas e dos instrumentos de fomento ao 
empreendedorismo inovador; 
VII - promoção da cooperação e da interação entre os entes públicos, entre os 
setores público e privado e entre empresas, como relações fundamentais para a 
conformação de ecossistema de empreendedorismo inovador efetivo; 
VIII - incentivo à contratação, pela administração pública, de soluções inovadoras 
elaboradas ou desenvolvidas por startups, reconhecidos o papel do Estado no 
fomento à inovação e as potenciais oportunidades de economicidade, de benefício 
e de solução de problemas públicos com soluções inovadoras; 
A nova lei determina, por exemplo, que as obrigações de investimento em pesquisa 
e inovação, decorrentes de outorgas ou delegações firmadas por meio de agências 
reguladoras, podem ser cumpridas, por um lado, por meio de investimentos em fundos 
patrimoniais e de investimento voltados às startups. Ou, por outro lado, as mesmas 
obrigações podem ser executadas através de investimentos em programas, editais ou 
concursos que serão criados - seja por institutos de pesquisa, universidades ou bancos de 
fomento - especialmente para o financiamento, a aceleração e a escalabilidade de 
startups, conforme determinação do próprio Marco (art. 9°). 
A principal novidade diz respeito a estipulação de licitações e contratações como 
instrumentos de fomento ao empreendedorismo inovador . O incentivo à contratação de 7
soluções inovadoras desenvolvidas por startups pela administração pública incentiva o 
 É bem verdade que, ao menos desde a edição da Lei 12.349/2010, as contratações públicas estão vinculadas ao 7
objetivo de promover o desenvolvimento nacional sustentável.
setor conhecido como B-to-G - Business to Government - em que temos uma relação que 
une o Estado ineficiente com empresas voltadas a remediar ineficiências por meio de 
tecnologias e formas inovadoras de atuar em segmentos tradicionais.É assim que o 
Estado empreendedor tanto incentiva a inovação ao protagonizar o papel de garantidor da 
demanda no momento em que a startup ainda está tomando escala, quanto se beneficia 
da inovação numa relação simbiótica entre o setor privadoe o público em que esse último 
aproveita as oportunidades de economicidade, de benefício e de solução de problemas 
públicos com soluções inovadoras. Os formatos de licitações e contratos estabelecidos 
pelo Marco tem os objetivo descritor na própria lei: a) resolver demandas públicas que 
exijam solução inovadora com emprego de tecnologia; b) promover a inovação no setor 
produtivo por meio do uso do poder de compra do Estado (art. 12, I e II). 
A Modalidade Especial de Licitação para startups, tal como estabelecido pelo 
Marco, não só desburocratiza e flexibiliza as exigências da contratação por agentes 
públicos, mas vai além e fornece um escopo mais bem adaptado às startups e a sua 
estratégia de solução de problemas, sobretudo porque fornece melhores garantias 
jurídicas aos gestores do que a Lei de Licitação então vigente (Lei 8.666/93). Sabendo 
que se tratam de empreendimentos de risco, o Marco dispõe que “a delimitação do 
escopo da licitação poderá restringir-se à indicação do problema a ser resolvido e dos 
resultados esperados pela administração pública, incluídos os desafios tecnológicos a 
serem superados, dispensada a descrição de eventual solução técnica previamente 
mapeada e suas especificações técnicas, e caberá aos licitantes propor diferentes meios 
para a resolução do problema”. Ou, ainda, tal modalidade especial de licitação inclui a 
possibilidade da administração pública de selecionar mais de uma proposta para a 
celebração do contrato, já que a contratação não envolve a solução propriamente dita, e 
sim “o teste de soluções inovadoras por elas [startups] desenvolvidas ou a ser 
desenvolvidas” (art. 13). 
Após a licitação, o Marco também delimita o chamado Contrato Público para 
Solução Inovadora que contém formas contratuais convenientes ao modelo de negócio 
em questão, inclusive com a possibilidade do empreedimento não dar certo - o que é 
comum no universo das startups - sem prejuízo do reembolso de custos mais a 8
remuneração segundo o critério adotado (art. 14). Ao final desse primeiro contrato, o 
Marco ainda estipula o Contrato de Fornecimento que garante que a mesma empresa, 
até então fornecedora do produto ou serviço por ter sido vencedora no processo licitatório, 
continue a fornecer a solução sem a necessidade de outra licitação, o que facilita a 
dinâmica entre a administração pública e as startups. De modo resumido: o período de 
teste é de 12 meses e, caso funcione, a startup pode ser recontratada para escalar a 
produção com dispensa de licitação (art. 15). 
 Ainda que, aqui, a administração pública não esteja contratando as startups para desenvolverem um produto do zero, 8
mas para que essas apliquem o seu produto ao problema enfrentado pelo Estado
A esperada simplificação das Sociedades Anônimas 
Uma das grandes expectativas quanto ao Marco Legal das Startups envolvia as 
facilidades para que as startups se constituíssem como sociedade anônima (SA) já nos 
primeiros ciclos de vida. As mudanças na Lei das SA (Lei 6404/76) poderiam beneficiar as 
empresa que por enquanto adiam ao máximo a constituição na forma de SA por causa 
dos custos e das formalidades exigidas, além da vedação de usufruto quanto ao usufruto 
do regime tributário especial do Simples. 
No PLP 146/2019 que iniciou as discussões sobre startups na Câmara, encontramos 
uma série de inovações sobre o tema dentre as quais se destacam: a) a criação da 
Sociedade Anônima Simplificada (SAS), um regime menos custoso e burocrático para que 
microempresas e empresas de pequeno porte se constituíssem como sociedades 
anônimas ; b) a permissão para que essas SAS usufruíssem do Simples ; c) a previsão 9 10
expressa para que microempresas e empresas de pequeno porte emitissem títulos 
mobiliários, o que facilitaria a emissão de debêntures por sociedades limitadas por 
exemplo . Contudo, o projeto final do Marco Legal das Startups não incluiu tais 11
previsões, resultando num desalento para as empresas de inovação que ambicionavam 
aproveitar dos benefícios da SA desde cedo. 
Ainda assim, embora não sejam modificações especialmente enquadradas para as 
startups como a SAS, o Marco realizou algumas modificações na Lei das SA que facilitam 
a constituição de empresas na forma de SA, a exemplo da permissão para que a Diretoria 
da SA seja composta por apenas um membro e que as publicações e livros sejam 12
ordenadas de forma eletrônica . Para companhias de receita bruta anual inferior a 13
quinhentos milhões de reais (um limite muito acima daquele estabelecido para as startups 
pelo Marco), a lei passa a caracterizar tais empresas como companhia de menor porte, 
 Art. 294-A É facultado à sociedade anônima, cuja receita bruta anual esteja dentro dos limites estabelecidos na no art. 9
3o, da Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006, constituir-se sob regime especial da sociedade anônima 
simplificada (SAS) ou a ele aderir a qualquer tempo.
 Art. 6o. O art. 18 da Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006, passa a vigorar com a seguinte redação: 10
“Art. 18. § 5o-C Sem prejuízo do disposto no § 1o do art. 17 desta Lei Complementar, as seguintes atividades serão 
tributadas de forma diferenciada com base em tabelas do anexo a serem definidas em regulamento específico, hipótese 
em que não estará incluída no Simples Nacional a contribuição prevista no inciso VI do caput do art. 13 desta Lei 
Complementar: VIII – Empresas startups, nos termos do Art. 2o desta lei.”
 PLP 146, Art. 63-A. Microempresas e empresas de pequeno porte, e também as startups, poderão emitir títulos 11
mobiliários, que conferirão aos seus titulares direito de crédito contra a emissora, nas condições constantes da escritura 
de emissão e, se houver, do certificado, observado, quando aplicável, o disposto nos artigos 52 a 72 da Lei no 6.404, de 
15 de dezembro de 1976.
 Art. 21. A Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 143. A 12
Diretoria será composta por 1 (um) ou mais membros eleitos e destituíveis a qualquer tempo pelo conselho de 
administração ou, se inexistente, pela assembleia geral”.
 Art. 21. A Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 294. A 13
companhia fechada que tiver menos de 30 (trinta) acionistas, com receita bruta anual de até R$ 78.000.000,00 (setenta 
e oito milhões de reais), poderá: III - realizar as publicações ordenadas por esta Lei de forma eletrônica, em exceção ao 
disposto no art. 289 desta Lei; e IV - substituir os livros de que trata o art. 100 desta Lei por registros mecanizados ou 
eletrônicos.
para as quais garante flexibilizações como a dispensa da obrigatoriedade de instalação 14
do conselho fiscal e de intermediação de instituição financeira em distribuições públicas 
de valores mobiliários . 15
A renitente falta de uma política tributária eficiente 
O lado mais deficiente do Marco Legal das Startups envolve as raras novidades 
quanto as questões tributárias . A única boa notícia é a possibilidades aberta para que 16
investidores compensem eventuais perdas - nos casos em que investiu numa startup que 
faliu por exemplo - episódio em que poderá subtrair a perda dos ganhos de capital no 
momento de apuração do imposto (o que é extremamente importante já que o investidor 
costuma realizar aportes em diversas startups, esperando que ao menos uma delas lhe 
dê retorno). Essa compensação de perdas e ganhos, no entanto, foi dada apenas a 
investidores pessoas físicas enquanto as pessoas jurídicas permanecem excluídas , em 17
sintonia, portanto, com a timidez geral do Marco no quesito tributação. 
Uma série de aperfeiçoamentos demandados pelos participantes do ecossistema 
das startups não foram abordados pelo Marco aprovado no Congresso. Dentre os quais, a 
dedutibilidade dos investimentos em startups da base de cálculo do Imposto de Renda de 
Pessoa Física e Jurídica (IRPF e IRPJ); a isenção do IR sobre o ganho de capital 
decorrente do desinvestimento; a diminuiçãoda alíquota sobre os rendimentos da 
participação do investidor anjo da LC 145. Enquanto isso, mesmo investimentos de menor 
risco e menor retorno social, como os investimentos em letras de câmbio e títulos de 
dívida pública, recebem o benefício de taxas regressivas de impostos, sem que o mesmo 
ocorra sobre os investimentos de alto risco em startups - inclusive com efeitos positivos 
sobre a arrecadação de impostos em virtude do efeito multiplicados e benefícios para a 
produtividade da economia referentes aos desembolsos em startups. A permanência de 
tais obstáculos tributários constituem empecilhos para a conquista da competitividade 
necessária a internacionalização dos produtos ou serviços, tal como disposto pelo último 
princípio do Marco que espera “promoção da competitividade das empresas brasileiras e 
da internacionalização e da atração de investimentos estrangeiros”. 
 Art. 21. A Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 294-A. A 14
Comissão de Valores Mobiliários regulamentará as condições facilitadas para o acesso de companhias de menor porte 
ao mercado de capitais, e será permitido dispensar ou modular a observância ao disposto: (…)”
 Além dessas, o Marco também garantiu a dispensa de recebimento de dividendo obrigatório; e ainda outras 15
facilidades que a CVM envolvendo obtenção de registro de emissor, distribuições públicas de valores mobiliários de sua 
emissão e a elaboração e prestação de informações.
 Em âmbito trabalhista, onde o consenso no Congresso é dificílimo, o projeto final acabou sem as novidades presentes 16
na PLP nº 146/2019 tais como o aumento do tempo de dois para quatro anos do contrato por prazo determinado e o 
aumento do prazo do contrato de experiência (que passaria a ser de 180 dias para as startups). Com exceção de uma 
pequena mudança na tributação da stock option, o Marco não trouxe maiores novidades.
 Com exceção da possibilidade, também trazida pela lei via alteração do art. 17, VII, da Lei n° 11.196/2005, do 17
abatimento, para efeito de apuração do lucro líquido, do valor integralizado em quota de Fundos de Investimento em 
Participações da Categoria Capital Semente (FIP – Capital Semente) que se destinem exclusivamente à capitalização 
de pessoas jurídicas em cujos projetos haja pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica.
Conclusão 
Se realmente queremos que o ambiente das startups siga crescendo de maneira 
autônoma - e portanto menos dependente da redução da taxa Selic ou de eventos 
exógenos como a pandemia - é importante que tomemos o Marco Legal das Startups 
como um ponto de partida, e não de chegada. Como inspiração aos próximos passos, fica 
a lição sobre os benefícios da feitura coletiva do Marco, envolvendo vários atores tanto do 
setor público quanto do privado, e os avanços trazidos pelos dispositivos da lei, sobretudo 
no que diz respeito a segurança jurídica dos investimentos e o papel do Estado no 
aumento da oferta de capital. Para o futuro próximo, fica certeza de que ainda precisamos 
de uma ampla reforma que torne o sistema tributário não apenas menos complexo, mas 
também prenhe de incentivos à pesquisa em inovação, além de políticas de estímulo a 
formação de mão-de-obra qualificada e ao desenvolvimento de soluções sustentáveis 
para o meio-ambiente. 
Desde já, ficamos na torcida para que o Senado realize as modificações que 
estejam à vista, enquanto os demais agentes, dentre os quais me incluo, já estão 
mergulhados em novas discussões e empenhos para os próximos projetos que hão de 
seguir desbravando o ambiente de inovação do país. 
Bibliografia 
CAMINHA, Lucas. COELHO, Gustavo Flausino. Captação de recursos por startups. São Paulo : 
Almedina, 2020. 
FEIGELSON, Bruno. NYBO, Erik Fontenele. FONSECA, Victor Cabral. Direito das Startups. São 
Paulo: Editora Saraiva, 2018. 
KLEINDIENST, Ana Cristina. Estudos aplicados de direito empresarial: societário. São Paulo: 
Almedina, 2018. 
MAZZUCATO, M. O Estado Empreendedor: Desmascarando o Mito do Setor Público vs. Setor 
Privado. São Paulo: Portfolio-Penguin, 2014. 
MORETTI, Eduardo. OLIVEIRA, Leandro Antonio Godoy. Startups: aspectos jurídicos relevantes. 
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019. 
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