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Ao redor do Marco Legal das Startups Rodrigo de Abreu Pinto Janeiro de 2021 Em 2020, as startups brasileiras ganharam fôlego inédito e até certo ponto surpreendente. Os anos anteriores já sinalizavam um crescimento contínuo do setor, a exemplo do número de empresas startups no país que triplicou entre 2015 e 2019 . A 1 pandemia, por sua vez, acelerou a digitalização e o uso de tecnologias por empresas interessadas em aumentar a produtividade e melhorar a oferta aos clientes, fenômeno que rapidamente turbinou a atratividade de empresas ofertantes de produtos e serviços inovadores como as startups. Contando ainda com a queda recorde da taxa Selic que incentivou a diversificação da carteira de ativos dos investidores, as startups brasileiras receberam aportes no total de aproximadamente R$ 16 bilhões, marca histórica do setor. Nos últimos dias do ano, encerrando o 2020 das startups com chave de ouro, a Câmara dos Deputados aprovou o texto-base do Marco Legal das Startups (Projeto de Lei Complementar nº 249/2020) com um placar expressivo de 361 votos a favor e 66 contrários, restando apenas que o projeto seja avaliado pelo Senado Federal. Sabendo que o Marco se propõe a corrigir as falhas de mercados e as limitações de políticas públicas que até então atrapalham o crescimento das startups, há razões de sobra para crer que o ecossistema de inovação está prestes a ganhar ímpeto por meio da aprovação definitiva do projeto. As consequências positivas disso, com efeito, não se restringem às startups e aos investidores, mas diz respeito ao Estado e a sociedade em geral que se beneficiarão das soluções inovadoras que muito em breve nascerão. O PLP 249/2020 foi desenvolvido no âmbito do Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia e apensado ao PLP 146/2019 pelo qual os deputados já vinham discutindo a regulação das startups desde o ano anterior. As discussões a respeito do Marco Legal das Startups envolveu a participação de entidades, empreendedores e sociedade civil em encontros presenciais, consultas e audiências públicas em que, de modo resumido, identificaram conjuntamente os desafios enfrentados pelas startups no Brasil, além de analisarem as legislações estrangeiras sobre o tema (em especial o Italian Startup Act, aprovado em 2012 e depois do qual o número de startups na Itália cresceu 13 vezes entre 2013 e 2016 ). As tantas 2 discussões resultaram no Marco Legal das Startups em que, como um “marco”, diferencia-se de uma “lei” pois voltado a estabelecer, de maneira ampla e geral, os princípios, garantias e direitos que organizarão o ecossistema das startups em seus mais variados domínios. Segundo dados da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), “de 2015 até 2019, o número de startups no país 1 mais que triplicou, passando de 4.151 para 12.727 (um salto de 207%)”. Disponível em: <https://abstartups.com.br/ crescimento-das-startups/>. Acessado em 20/01/2020. Segundo o Ministério de Desenvolvimento Econômico do país, o número de startups na Itália saltou de 479 para 6,4 2 mil entre 2013 e 2016. https://abstartups.com.br/crescimento-das-startups/ https://abstartups.com.br/crescimento-das-startups/ O seu primeiro princípio, segundo a enumeração do art. 3° do Marco, pauta o importante “reconhecimento do empreendedorismo inovador como vetor de desenvolvimento econômico, social e ambiental”. Nessa mesma linha, o marco relativo às Startups desponta na esteira de outros dois importantes marcos, o Marco Legal da Internet (2014) e o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação (2016), os quais se somam a legislações mais antigas como a Lei da Inovação e a Lei do Bem no intuito de atrelar, de modo definitivo, o fomento à inovação ao desenvolvimento econômico e social do país. As startups, empresas com alto potencial de escalabilidade e inovação tecnológicas, são o principal objeto do Marco Legal que atende, por um lado, as demandas de melhoria do ambiente de negócios e da segurança quanto ao patrimônio dos investidores, ao mesmo tempo que privilegia as compras públicas como meio de intensificar a oferta de capital às startups. Como lemos no artigo que abre a lei, o Marco Legal das Startups cumpre duas funções principais: a) apresenta medidas de fomento ao ambiente de negócios e ao aumento da oferta de capital para investimento em empreendedorismo inovador; e b) disciplina a licitação e a contratação de soluções inovadoras pela administração pública. Sabendo que o projeto será tão logo apreciado pelos senadores, procedo uma análise dos principais institutos do Marco com sugestões de ajustes possíveis, antes de concluir com a apresentação sumária dos próximos passos para o aprimoramento do ecossistema das startups. Muito embora reconhecendo os avanços do Marco Legal das Startups, há muito a ser feito para que o ambiente de inovação esteja à altura dos desafios de impulsionar o desenvolvimento do país. Definição de Startup Para enquadrar as empresas elegíveis às determinações da lei, o Marco modificou a definição de startups até então utilizada no ordenamento nacional com o intuito de torná- la mais precisa. A primeira aparição do termo é recente, somente a partir do Lei Complementar 67/2019, momento em que uma “startup” foi definida principalmente pelo seu caráter inovador, já que um modelo de empresa que “visa a aperfeiçoar sistemas, métodos ou modelos de negócio, de produção, de serviços ou de produtos”, além de “desenvolver suas inovações em condições de incerteza que requerem experimentos e validações constantes, inclusive mediante comercialização experimental provisória, antes de procederem à comercialização plena e à obtenção de receita” (art. 65-A, § 1° e 2°). O Marco Legal das Startups simplificou a definição ao concentrá-la em dois princípios - além do caráter inovador, a fase inicial de desenvolvimento - e especificar os 3 modos de identificação de ambos (art. 4º). Assim, para que a empresa seja considerada nascente (logo, uma startup), deve ter receita bruta de até dezesseis milhões de reais (um limite bem maior do que o aplicado para Micro e Pequenas Empresas pela Lei 123/2006) e até dez anos de existência. Já quanto ao caráter inovador, o marco estipula que as startups declarem em seu ato constitutivo a utilização de modelos de negócios inovadores para a geração de produtos ou serviços - ficando a sugestão aos senadores para que o Marco apresente uma lista não exaustiva de atividades que sejam automaticamente reconhecidas como inovadoras (tal como lemos na listagem das atividades de baixo risco do artigo 9° da Declaração de Liberdade Econômica). Instrumentos de investimento em startups O segundo princípio do Marco, listado no mesmo art. 3°, estabelece como diretriz o “incentivo à constituição de ambientes favoráveis ao empreendedorismo inovador, com valorização da segurança jurídica e da liberdade contratual como premissas para a promoção do investimento e do aumento da oferta de capital direcionado a iniciativas inovadoras”. Levando em conta ambas as premissas - a valorização da segurança jurídica e da liberdade contratual - o Marco acentuou a segurança nas relações entre investidores e startups pela listagem dos diferentes instrumentos de investimento usados no ecossistema de inovação do país: a opção de compra, a opção de subscrição, a debênture conversível, a sociedade em conta de participação, o contrato de participação da Lei Complementar 123/2006 e o mútuo conversível - todos esses instrumentos já utilizados com frequência, muito embora em contratos atípicos que oferecem menos segurança jurídica (art. 5°). Sem pretensão de inibir a criatividade contratual, a lista dos instrumentos é exemplificativa, e não exaustiva, reconhecendo no último inciso a possibilidade de existência de “outros instrumentos de aporte de capital em que o investidor, pessoa física ou jurídica, não integre formalmente o quadro de sócios da startup”.Muitos certamente notarão a ausência do quiçá mais tradicional meio de investimento numa empresa - a compra de participação societária - e isso ocorre porque a lei endereça a proteção especialmente aos investidores que não integram o capital social da empresa. Tais investidores preterem a compra de participação societária em relação aos demais instrumentos de investimentos já que, uma vez que se tornem quotistas, acionistas ou sócios da startup, estariam sujeitos a responsabilização pelas dívidas das empresas em caso de desconsideração da personalidade jurídica. Contra isso, o Marco O artigo 25 da Lei 221, de 17 de dezembro de 2012 define a chamada “startup innovativa” de modo semelhante ao 3 Marco brasileiro uma vez que frisa o estágio inicial de desenvolvimento e o interesse acentuado em inovação, muito embora ainda exija que a startup preencha pelo menos um dos seguintes requisitos: (a) pelo menos 15% da diferença entre receitas e custos operacionais são gastos em pesquisa e desenvolvimento anualmente; (b) pelo menos 1/3 dos empregados são candidatos de doutoramento ou são PhD, ou pelo menos 2/3 dos empregados, acionistas ou colaboradores possuem um mestrado; ou (c) a empresa possui ou licencia uma patente ou um software registrado. garante que os investidores contratantes de qualquer dos instrumentos listados só serão considerados sócios após a conversão do instrumento do aporte em efetiva e formal participação societária, assegurando que antes disso o investidor “não responderá por qualquer dívida da empresa, inclusive em recuperação judicial” (art. 8°, II). O erro do Marco Legal das Startups está em asseverar que o investidor, uma vez que não será considerado ou acionista, também “não possuirá direito a gerência ou a voto na administração da empresa, conforme pactuação contratual” (art. 8°, I). Descrever de tal forma o vínculo entre o investidor e a startup é restritivo porque, segundo as práticas e costumes vigentes no ecossistema de inovação, os investidores não agregam apenas valor financeiro, mas também comercial e de networking (o denominado smartmoney), da maneira que estarão sujeitos ao ao risco de que os juízes interpretem tais atividades como a “gerência” vedada pela lei e assim caracterizem o investidor como sócio da sociedade para os demais efeitos jurídicos . Curiosamente, uma descrição mais completa 4 da atividade do investidor foi dada no próprio Marco, entre as disposições finais que alteram artigos de outras leis, em que frisou que o investidor do contrato de participação da LC 123/2006 “não será considerado sócio nem terá qualquer direito a gerência ou a voto na administração da empresa, resguardada a possibilidade de participação nas deliberações em caráter estritamente consultivo”. Cabe que os senadores apliquem o mesmo complemento para os investidores dos demais contratos de investimento, e não apenas do contrato de participação. Licitação e a contratação de soluções inovadoras pela administração pública O Marco Legal das Startups é pretensioso e não menos eficaz em sua ambição de intensificar a cooperação entre os setores público e privado . Por um lado, o Marco 5 privilegia “o Estado empreendedor [que] investe em áreas não quais o setor privado não investiria mesmo que tivesse os recursos” , como defende a economista Mariana 6 Mazzucato. Por outro lado, em termos da elaboração dos contratos entre a administração pública e os agentes privados, a lei leva em conta as particularidades das empresas, em linha com o terceiro princípio do Marco que ratifica a “importância das empresas como agentes centrais do impulso inovador em contexto de livre mercado”. Uma primeira novidade envolve a disposição de que as startups poderão testar técnicas e tecnologias experimentais em meio ao chamado sandbox regulatório, Tratando da Sociedade em Conta de Participação, o Código Civil prevê essa consequência no art. 993, parágrafo 4 único, onde se lê que “sem prejuízo do direito de fiscalizar a gestão dos negócios sociais, o sócio participante não pode tomar parte nas relações do sócio ostensivo com terceiros, sob pena de responder solidariamente com este pelas obrigações em que intervier”. Além das disposições que citaremos abaixo, algumas previsões presentes na PLP 146/2019 envolvendo os setores 5 público e privado acabaram excluídas do projeto final, como a exigência de que os fundos constitucionais destinassem recursos para fundos de investimento em participações e de que os bancos - comerciais, de desenvolvimento, Caixa, BNDEs e Finep - mantivessem linhas de crédito específicas e taxas diferenciadas para startups. MAZZUCATO, M. O Estado Empreendedor: Desmascarando o Mito do Setor Público vs. Setor Privado. São Paulo: 6 Portfolio-Penguin, 2014. Pág. 52. compreendido como um ambiente aberto pelos órgãos e entidades da administração pública que flexibilizam um conjunto de regras setoriais em benefício de startups em estágio inicial para que essas, enfim, deem os primeiros passos em um ambiente menos burocrático (art.11). Sendo uma experiência crescentemente implementada em países emergentes com sucesso, a importação do modelo ao ambiente de negócios do Brasil segue a o estabelecido pelo quarto princípio do Marco que preconiza a “modernização do ambiente de negócios brasileiro, à luz dos modelos de negócios emergentes”. Ao lado dessa facilidade desburocratizante, o Marco Legal das Startups cria novos instrumentos públicos voltados ao aumento da oferta de capital para as startups que, por sua vez, seguem as diretrizes do quinto ao oitavo princípio do lei, tal como descritor no art. 3°: V - fomento ao empreendedorismo inovador como meio de promoção da produtividade e da competitividade da economia brasileira e de geração de postos de trabalho qualificados; VI - aperfeiçoamento das políticas públicas e dos instrumentos de fomento ao empreendedorismo inovador; VII - promoção da cooperação e da interação entre os entes públicos, entre os setores público e privado e entre empresas, como relações fundamentais para a conformação de ecossistema de empreendedorismo inovador efetivo; VIII - incentivo à contratação, pela administração pública, de soluções inovadoras elaboradas ou desenvolvidas por startups, reconhecidos o papel do Estado no fomento à inovação e as potenciais oportunidades de economicidade, de benefício e de solução de problemas públicos com soluções inovadoras; A nova lei determina, por exemplo, que as obrigações de investimento em pesquisa e inovação, decorrentes de outorgas ou delegações firmadas por meio de agências reguladoras, podem ser cumpridas, por um lado, por meio de investimentos em fundos patrimoniais e de investimento voltados às startups. Ou, por outro lado, as mesmas obrigações podem ser executadas através de investimentos em programas, editais ou concursos que serão criados - seja por institutos de pesquisa, universidades ou bancos de fomento - especialmente para o financiamento, a aceleração e a escalabilidade de startups, conforme determinação do próprio Marco (art. 9°). A principal novidade diz respeito a estipulação de licitações e contratações como instrumentos de fomento ao empreendedorismo inovador . O incentivo à contratação de 7 soluções inovadoras desenvolvidas por startups pela administração pública incentiva o É bem verdade que, ao menos desde a edição da Lei 12.349/2010, as contratações públicas estão vinculadas ao 7 objetivo de promover o desenvolvimento nacional sustentável. setor conhecido como B-to-G - Business to Government - em que temos uma relação que une o Estado ineficiente com empresas voltadas a remediar ineficiências por meio de tecnologias e formas inovadoras de atuar em segmentos tradicionais.É assim que o Estado empreendedor tanto incentiva a inovação ao protagonizar o papel de garantidor da demanda no momento em que a startup ainda está tomando escala, quanto se beneficia da inovação numa relação simbiótica entre o setor privadoe o público em que esse último aproveita as oportunidades de economicidade, de benefício e de solução de problemas públicos com soluções inovadoras. Os formatos de licitações e contratos estabelecidos pelo Marco tem os objetivo descritor na própria lei: a) resolver demandas públicas que exijam solução inovadora com emprego de tecnologia; b) promover a inovação no setor produtivo por meio do uso do poder de compra do Estado (art. 12, I e II). A Modalidade Especial de Licitação para startups, tal como estabelecido pelo Marco, não só desburocratiza e flexibiliza as exigências da contratação por agentes públicos, mas vai além e fornece um escopo mais bem adaptado às startups e a sua estratégia de solução de problemas, sobretudo porque fornece melhores garantias jurídicas aos gestores do que a Lei de Licitação então vigente (Lei 8.666/93). Sabendo que se tratam de empreendimentos de risco, o Marco dispõe que “a delimitação do escopo da licitação poderá restringir-se à indicação do problema a ser resolvido e dos resultados esperados pela administração pública, incluídos os desafios tecnológicos a serem superados, dispensada a descrição de eventual solução técnica previamente mapeada e suas especificações técnicas, e caberá aos licitantes propor diferentes meios para a resolução do problema”. Ou, ainda, tal modalidade especial de licitação inclui a possibilidade da administração pública de selecionar mais de uma proposta para a celebração do contrato, já que a contratação não envolve a solução propriamente dita, e sim “o teste de soluções inovadoras por elas [startups] desenvolvidas ou a ser desenvolvidas” (art. 13). Após a licitação, o Marco também delimita o chamado Contrato Público para Solução Inovadora que contém formas contratuais convenientes ao modelo de negócio em questão, inclusive com a possibilidade do empreedimento não dar certo - o que é comum no universo das startups - sem prejuízo do reembolso de custos mais a 8 remuneração segundo o critério adotado (art. 14). Ao final desse primeiro contrato, o Marco ainda estipula o Contrato de Fornecimento que garante que a mesma empresa, até então fornecedora do produto ou serviço por ter sido vencedora no processo licitatório, continue a fornecer a solução sem a necessidade de outra licitação, o que facilita a dinâmica entre a administração pública e as startups. De modo resumido: o período de teste é de 12 meses e, caso funcione, a startup pode ser recontratada para escalar a produção com dispensa de licitação (art. 15). Ainda que, aqui, a administração pública não esteja contratando as startups para desenvolverem um produto do zero, 8 mas para que essas apliquem o seu produto ao problema enfrentado pelo Estado A esperada simplificação das Sociedades Anônimas Uma das grandes expectativas quanto ao Marco Legal das Startups envolvia as facilidades para que as startups se constituíssem como sociedade anônima (SA) já nos primeiros ciclos de vida. As mudanças na Lei das SA (Lei 6404/76) poderiam beneficiar as empresa que por enquanto adiam ao máximo a constituição na forma de SA por causa dos custos e das formalidades exigidas, além da vedação de usufruto quanto ao usufruto do regime tributário especial do Simples. No PLP 146/2019 que iniciou as discussões sobre startups na Câmara, encontramos uma série de inovações sobre o tema dentre as quais se destacam: a) a criação da Sociedade Anônima Simplificada (SAS), um regime menos custoso e burocrático para que microempresas e empresas de pequeno porte se constituíssem como sociedades anônimas ; b) a permissão para que essas SAS usufruíssem do Simples ; c) a previsão 9 10 expressa para que microempresas e empresas de pequeno porte emitissem títulos mobiliários, o que facilitaria a emissão de debêntures por sociedades limitadas por exemplo . Contudo, o projeto final do Marco Legal das Startups não incluiu tais 11 previsões, resultando num desalento para as empresas de inovação que ambicionavam aproveitar dos benefícios da SA desde cedo. Ainda assim, embora não sejam modificações especialmente enquadradas para as startups como a SAS, o Marco realizou algumas modificações na Lei das SA que facilitam a constituição de empresas na forma de SA, a exemplo da permissão para que a Diretoria da SA seja composta por apenas um membro e que as publicações e livros sejam 12 ordenadas de forma eletrônica . Para companhias de receita bruta anual inferior a 13 quinhentos milhões de reais (um limite muito acima daquele estabelecido para as startups pelo Marco), a lei passa a caracterizar tais empresas como companhia de menor porte, Art. 294-A É facultado à sociedade anônima, cuja receita bruta anual esteja dentro dos limites estabelecidos na no art. 9 3o, da Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006, constituir-se sob regime especial da sociedade anônima simplificada (SAS) ou a ele aderir a qualquer tempo. Art. 6o. O art. 18 da Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006, passa a vigorar com a seguinte redação: 10 “Art. 18. § 5o-C Sem prejuízo do disposto no § 1o do art. 17 desta Lei Complementar, as seguintes atividades serão tributadas de forma diferenciada com base em tabelas do anexo a serem definidas em regulamento específico, hipótese em que não estará incluída no Simples Nacional a contribuição prevista no inciso VI do caput do art. 13 desta Lei Complementar: VIII – Empresas startups, nos termos do Art. 2o desta lei.” PLP 146, Art. 63-A. Microempresas e empresas de pequeno porte, e também as startups, poderão emitir títulos 11 mobiliários, que conferirão aos seus titulares direito de crédito contra a emissora, nas condições constantes da escritura de emissão e, se houver, do certificado, observado, quando aplicável, o disposto nos artigos 52 a 72 da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Art. 21. A Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 143. A 12 Diretoria será composta por 1 (um) ou mais membros eleitos e destituíveis a qualquer tempo pelo conselho de administração ou, se inexistente, pela assembleia geral”. Art. 21. A Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 294. A 13 companhia fechada que tiver menos de 30 (trinta) acionistas, com receita bruta anual de até R$ 78.000.000,00 (setenta e oito milhões de reais), poderá: III - realizar as publicações ordenadas por esta Lei de forma eletrônica, em exceção ao disposto no art. 289 desta Lei; e IV - substituir os livros de que trata o art. 100 desta Lei por registros mecanizados ou eletrônicos. para as quais garante flexibilizações como a dispensa da obrigatoriedade de instalação 14 do conselho fiscal e de intermediação de instituição financeira em distribuições públicas de valores mobiliários . 15 A renitente falta de uma política tributária eficiente O lado mais deficiente do Marco Legal das Startups envolve as raras novidades quanto as questões tributárias . A única boa notícia é a possibilidades aberta para que 16 investidores compensem eventuais perdas - nos casos em que investiu numa startup que faliu por exemplo - episódio em que poderá subtrair a perda dos ganhos de capital no momento de apuração do imposto (o que é extremamente importante já que o investidor costuma realizar aportes em diversas startups, esperando que ao menos uma delas lhe dê retorno). Essa compensação de perdas e ganhos, no entanto, foi dada apenas a investidores pessoas físicas enquanto as pessoas jurídicas permanecem excluídas , em 17 sintonia, portanto, com a timidez geral do Marco no quesito tributação. Uma série de aperfeiçoamentos demandados pelos participantes do ecossistema das startups não foram abordados pelo Marco aprovado no Congresso. Dentre os quais, a dedutibilidade dos investimentos em startups da base de cálculo do Imposto de Renda de Pessoa Física e Jurídica (IRPF e IRPJ); a isenção do IR sobre o ganho de capital decorrente do desinvestimento; a diminuiçãoda alíquota sobre os rendimentos da participação do investidor anjo da LC 145. Enquanto isso, mesmo investimentos de menor risco e menor retorno social, como os investimentos em letras de câmbio e títulos de dívida pública, recebem o benefício de taxas regressivas de impostos, sem que o mesmo ocorra sobre os investimentos de alto risco em startups - inclusive com efeitos positivos sobre a arrecadação de impostos em virtude do efeito multiplicados e benefícios para a produtividade da economia referentes aos desembolsos em startups. A permanência de tais obstáculos tributários constituem empecilhos para a conquista da competitividade necessária a internacionalização dos produtos ou serviços, tal como disposto pelo último princípio do Marco que espera “promoção da competitividade das empresas brasileiras e da internacionalização e da atração de investimentos estrangeiros”. Art. 21. A Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 294-A. A 14 Comissão de Valores Mobiliários regulamentará as condições facilitadas para o acesso de companhias de menor porte ao mercado de capitais, e será permitido dispensar ou modular a observância ao disposto: (…)” Além dessas, o Marco também garantiu a dispensa de recebimento de dividendo obrigatório; e ainda outras 15 facilidades que a CVM envolvendo obtenção de registro de emissor, distribuições públicas de valores mobiliários de sua emissão e a elaboração e prestação de informações. Em âmbito trabalhista, onde o consenso no Congresso é dificílimo, o projeto final acabou sem as novidades presentes 16 na PLP nº 146/2019 tais como o aumento do tempo de dois para quatro anos do contrato por prazo determinado e o aumento do prazo do contrato de experiência (que passaria a ser de 180 dias para as startups). Com exceção de uma pequena mudança na tributação da stock option, o Marco não trouxe maiores novidades. Com exceção da possibilidade, também trazida pela lei via alteração do art. 17, VII, da Lei n° 11.196/2005, do 17 abatimento, para efeito de apuração do lucro líquido, do valor integralizado em quota de Fundos de Investimento em Participações da Categoria Capital Semente (FIP – Capital Semente) que se destinem exclusivamente à capitalização de pessoas jurídicas em cujos projetos haja pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica. Conclusão Se realmente queremos que o ambiente das startups siga crescendo de maneira autônoma - e portanto menos dependente da redução da taxa Selic ou de eventos exógenos como a pandemia - é importante que tomemos o Marco Legal das Startups como um ponto de partida, e não de chegada. Como inspiração aos próximos passos, fica a lição sobre os benefícios da feitura coletiva do Marco, envolvendo vários atores tanto do setor público quanto do privado, e os avanços trazidos pelos dispositivos da lei, sobretudo no que diz respeito a segurança jurídica dos investimentos e o papel do Estado no aumento da oferta de capital. Para o futuro próximo, fica certeza de que ainda precisamos de uma ampla reforma que torne o sistema tributário não apenas menos complexo, mas também prenhe de incentivos à pesquisa em inovação, além de políticas de estímulo a formação de mão-de-obra qualificada e ao desenvolvimento de soluções sustentáveis para o meio-ambiente. Desde já, ficamos na torcida para que o Senado realize as modificações que estejam à vista, enquanto os demais agentes, dentre os quais me incluo, já estão mergulhados em novas discussões e empenhos para os próximos projetos que hão de seguir desbravando o ambiente de inovação do país. Bibliografia CAMINHA, Lucas. COELHO, Gustavo Flausino. Captação de recursos por startups. São Paulo : Almedina, 2020. FEIGELSON, Bruno. NYBO, Erik Fontenele. FONSECA, Victor Cabral. Direito das Startups. São Paulo: Editora Saraiva, 2018. KLEINDIENST, Ana Cristina. Estudos aplicados de direito empresarial: societário. São Paulo: Almedina, 2018. MAZZUCATO, M. O Estado Empreendedor: Desmascarando o Mito do Setor Público vs. Setor Privado. São Paulo: Portfolio-Penguin, 2014. MORETTI, Eduardo. OLIVEIRA, Leandro Antonio Godoy. Startups: aspectos jurídicos relevantes. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019. OIOLI, Erik Frederico Oioli (org.). Manual de direito para startups. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020. REIS, Edgar Vidigal de Andrade. Startups: Análise de estruturas societárias e de investimentos no Brasil (Coleção Insper). São Paulo: Almedina Brasil, 2018. WARDE JR, Walfrido Jorge. NETO, Ruy de Mello Junqueira. Direito societário aplicado: baseado nos precedentes das câmaras reservadas de direito empresarial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. São Paulo: Saraiva, 2014.
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