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DISCIPLINA: TEORIAS HUMANISTAS TURMA: 4º PERÍODO ALUNAS: MARIA CLARA PAGIO CASTILHO, MILCINEIA MACHADO RIBEIRO DE SOUZA COSTA, STEFHANIE DA SILVA BARBOSA, VANESSA QUIRINO ELIAS ONOFRE E VICTORIA ESTURIÃO PINTO CAPITULO 3 AS CARACTERISTICAS DE UMA RELAÇÃO DE AJUDA. Tenho há muito tempo a profunda convicção de que a relação terapêutica é apenas uma forma da relação interpessoal em geral, e que as mesmas leis regem todas as relações desse tipo. Meu interesse pela psicoterapia gerou meu interesse por toda espécie de relação de ajuda. Entendo por esta expressão uma relação na qual pelo menos uma das partes procura promover na outra o crescimento, o desenvolvimento, a maturidade, um melhor funcionamento e uma maior capacidade de enfrentar a vida. A relação de ajuda pode ser definida como uma situação na qual um dos participantes procura promover numa ou noutra parte, ou em ambas, uma maior apreciação, uma maior expressão e uma utilização mais funcional dos recursos internos latentes do indivíduo. É, no entanto, claro que uma definição desse gênero abrange toda uma série de relações cujo objetivo geral é facilitar o crescimento. A definição aplica-se à quase totalidade das relações terapeuta– cliente, quer se trate da orientação educacional, da orientação vocacional ou do aconselhamento pessoal. É natural que se comece por perguntar se existe uma investigação experimental que possa nos oferecer uma resposta objetiva a essas questões. Poucos estudos foram feitos neste domínio, até o presente, mas os que se fizeram são animadores e sugestivos. A maior parte dos estudos realizados são esclarecedores das atitudes da pessoa que ajuda, atitudes que nessa relação favorecem ou, pelo contrário, inibem o crescimento. Um estudo cuidadoso das relações pais–filhos que encerra interessantes informações. Entre os diferentes agrupamentos de atitudes dos pais para com os filhos, são as atitudes de “aceitação democrática” as que parecem melhor favorecer o crescimento. As crianças, quando são tratadas pelos pais com afeto e de igual para igual, revelam um desenvolvimento intelectual acelerado (QI mais elevado), maior originalidade, maior segurança e controle emocional, menor excitabilidade, do que as crianças que provêm de outros tipos de família. Quando as atitudes dos pais são classificadas como sendo de “rejeição ativa”, as crianças manifestam um leve retardamento no seu desenvolvimento intelectual, uma utilização relativamente pobre das suas capacidades e uma certa falta de originalidade. Essas crianças são emocionalmente instáveis, rebeldes, agressivas e agitadas. Os filhos de pais que apresentam outras síndromes de atitude tendem a situar-se entre estes dois extremos. Voltemos agora nossa atenção para outro estudo profundo realizado num campo muito diferente. Whitehorn e Betz estudaram o sucesso alcançado por jovens médicos internos no seu trabalho com pacientes esquizofrênicos numa enfermaria psiquiátrica. Os investigadores examinaram todas as causas suscetíveis de explicar em que é que o grupo A (o grupo bem-sucedido) era diferente do grupo B. Os médicos do grupo A tendiam a ver o esquizofrênico em termos da significação pessoal que determinados comportamentos tinham para o doente, de preferência a vê-lo como um caso clínico ou um diagnóstico descritivo. Ficou assim estabelecido que, na sua interação cotidiana, os médicos do grupo A tinham recorrido, sobretudo a uma participação pessoal ativa, Fizeram ainda menos uso de processos tais como a interpretação, a instrução ou os conselhos ou ainda outros, orientados para os cuidados materiais em relação ao doente. édico. Os autores, no entanto, sublinham prudentemente que essas conclusões só se aplicam ao tratamento dos esquizofrênicos, afirmação da qual estou inclinado a discordar. Heine estudou indivíduos que haviam recebido ajuda psicoterapêutica de psicanalistas, de terapeutas centrados no cliente e de adlerianos. O que aqui nos interessa de modo particular é a sua captação da relação com os terapeutas. O mais significativo era que todos estavam de acordo sobre os principais fatores que tinham achado benéficos. A relação com o terapeuta era responsável pelas modificações neles verificadas: a confiança que tinham sentido no seu terapeuta. Por outro lado, esses pacientes estavam amplamente de acordo, fosse qual fosse a orientação do seu terapeuta, sobre os elementos desfavoráveis na relação. Quanto aos procedimentos, consideravam desfavoráveis aqueles em que o terapeuta dava conselhos diretos e precisos ou em que concedia uma grande importância ao passado em vez de enfrentar os problemas atuais. Quanto à qualidade afetiva da relação, Seeman conclui que o bom resultado em psicoterapia está intimamente ligado à simpatia e ao respeito crescente que se estabelecem entre cliente e terapeuta. Verificou que sempre que a atitude do terapeuta tende, mesmo ligeiramente, para um menor grau aceitação, o número de desvios bruscos da resposta psicogalvânica sofre um aumento significativo. Um deles é o fato de que as atitudes e os sentimentos do terapeuta são mais importantes que sua orientação teórica. Seus procedimentos e suas técnicas são menos importantes do que suas atitudes. Verplanck, Greenspoon e outros mostraram que é possível o condicionamento operante do comportamento verbal numa relação. Muito resumidamente, se o experimentador diz “Hum” ou “Bem”, ou ainda se faz um sinal aprovador com a cabeça ao ouvir palavras ou frases, estas tenderão a ser empregadas com maior freqüência porque foram reforçadas. A pessoa não tem a menor consciência de estar sendo influenciada de alguma maneira por esse reforço. Lindsley , levando mais adiante os princípios de condicionamento operante desenvolvido por Skinner e por seu grupo, demonstrou que um esquizofrênico crônico pode ser colocado numa “relação de ajuda” com uma máquina. No princípio, ela simplesmente recompensa o comportamento de apertar um botão. A satisfação sentida pelo paciente é de natureza altruísta. Lindsley nos diz que alguns pacientes sofreram um progresso clínico importante. O experimentador decidiu estudar a extinção experimental, o que, em termos mais pessoais, significava que o paciente podia pressionar o botão milhares de vezes sem que houvesse qualquer recompensa. O paciente regrediu gradualmente, passou a descuidar da higiene, tornou-se não comunicativo, e a liberdade de circular que lhe fora concedida teve de ser revogada. Este incidente, que me parece particularmente dramático, parece indicar que, mesmo quando se trata de uma relação com uma máquina, só pode ajudar uma relação em que a confiança tenha um lugar importante. Trabalhando com casos crônicos de alcoólatras hospitalizados, tentaram três métodos diferentes de psicoterapia de grupo. O método que eles consideravam mais eficaz era uma terapia baseada numa teoria da aprendizagem com dois fatores; a terapia centrada no cliente viria em seguida; e a orientação psicanalítica parecia-lhes que deveria ser o menos eficaz. Os resultados demonstraram que a terapia baseada na teoria da aprendizagem não só não ajudava como era até prejudicial. As conseqüências eram piores do que se manifestavam no grupo de controle que não estava submetido a nenhum tratamento. A terapia de orientação psicanalítica teve certos resultados positivos, mas foi a terapia centrada no cliente que provocou uma considerável alteração positiva. Esta terapia consiste essencialmente: a) em anotar e classificar os comportamentos que se mostram como não satisfatórios b) em explorar objetivamente com o cliente as razões desses comportamentos e c) em estabelecer, através da reeducação, hábitos mais adequados para resolver os problemas. O terapeuta “nas suas atividades, acentua o anonimato da sua personalidade; ou seja, deve evitar cuidadosamente influenciar o paciente com as qualidadesindividuais da sua própria personalidade”. É esta a explicação ma is provável do fracasso desse método, quando procuro interpretar os fatos à luz de outras investigações. Parece evidente que as relações de ajuda eficazes têm características diversas das que não o são. Estas características diferenciais dizem essencialmente respeito às atitudes da pessoa que ajuda, por um lado, e à percepção da relação por aquele que é ajudado, por outro. Parece igualmente evidente que os estudos feitos até agora não nos dão as respostas finais sobre o que é uma relação de ajuda, nem sobre o modo como formá-la. Não podemos seguir de uma maneira cega e mecânica essas conclusões ou então destruímos as qualidades pessoais que esses estudos põem precisamente em relevo. Mais do que tentar dizer a vocês como utilizar os resultados que lhes apresentei, prefiro indicar-lhes o tipo de questão que me suscitam esses estudos e a minha própria experiência clínica. Procurarei dar-lhes algumas hipóteses variáveis que orientam o meu comportamento quando mergulho numa relação que eu desejaria que fosse de ajuda. 1. Poderei conseguir ser de uma maneira que possa ser apreendida pela outra pessoa como merecedora de confiança, como segura ou consistente no sentido mais profundo do termo? Tanto a investigação como a experiência nos indicam que isso é muito importante. Comecei a reconhecer que ser digno de confiança não implica ser coerente de uma forma rígida, mas sim que se possa confiar em mim como realmente sou. 2. Poderei ser suficientemente expressivo enquanto pessoa para que o que sou possa ser comunicado sem ambigüidades? Julgo que a maioria dos meus fracassos em realizar uma relação de ajuda se deveu a uma resposta não satisfatória a essas duas questões. Quando no papel de pai, terapeuta, professor ou administrador deixam de ouvir o que se passa em mim, devido à minha própria atitude de defesa que me impede de discernir os meus próprios sentimentos, é nessa altura que parece dar-se esses tipo de fracasso. 3. A terceira questão é: serei capaz de vivenciar atitudes positivas para com o outro – atitudes de calor, de atenção, de afeição, de interesse, de respeito? Tememos que, se nos deixarmos ficar abertos à experiência desses sentimentos positivos para com o outro, poderemos ser enredados por eles. 4. Poderei ser suficientemente forte como pessoa para ser independente do outro? Serei capaz de respeitar corajosamente meus próprios sentimentos, minhas próprias necessidades, assim como as da outra pessoa? Quando puder sentir livremente esta força de ser uma pessoa independente, então descobrirei que posso me dedicar completamente à compreensão e à aceitação do outro porque não tenho o receio de perder a mim mesmo. 5. A questão seguinte está estreitamente ligada à anterior. Estarei suficientemente seguro no interior de mim mesmo para permitir ao outro ser independente? Ligado a esse aspecto, estou pensando no curto mas interessante estudo de Farson , que descobriu que os terapeutas menos bem adaptados e menos competentes têm tendência a induzir conformidade a si mesmos, isto é, para terem pacientes que os tomem como modelo. 6. Poderei permitir-me entrar completamente no mundo dos sentimentos do outro e das suas concepções pessoais e vê-los como ele os vê? No que me diz respeito, é mais fácil para mim sentir este tipo de compreensão e comunicá-lo a um cliente individualmente do que a estudantes numa aula ou a colegas num grupo de que participe. Sinto uma forte tentação de corrigir o raciocínio dos estudantes ou de indicar a um colega os erros da sua maneira de pensar 7. Uma outra questão é saber se posso aceitar todas as facetas que a outra pessoa me apresenta. Poderei aceitá-la como ela é? Segundo a minha experiência, quando minha atitude é condicional, o cliente não pode mudar nem desenvolver-se nesses aspectos que não sou capaz de aceitar completamente. Para poder prestar uma maior ajuda é necessário que me desenvolva e aceite esses sentimentos em mim mesmo. 8. Um aspecto bastante prático surge da questão precedente: serei capaz de agir com suficiente sensibilidade na relação para que meu comportamento não seja percebido como uma ameaça? O trabalho que começamos a realizar ao estudar os aspectos fisiológicos que acompanham a psicoterapia confirma as investigações de Dittes, mostrando como é fácil os indivíduos sentirem-se ameaçados num nível fisiológico. O reflexo psicogalvânico – a medida da condutibilidade da pele – salta bruscamente quando o terapeuta reage com uma palavra que é um pouco mais forte do que os sentimentos do cliente 9. Há um aspecto específico da questão anterior que também tem importância: poderei libertá-lo do receio de ser julgado pelos outros? Na maior parte das fases da nossa vida – em casa, na escola, no trabalho – achamo-nos dependentes das recompensas e dos castigos que são os juízos dos outros. Tais juízos fazem parte da nossa vida, desde a infância até a velhice. Creio que têm uma certa utilidade social em instituições e em organizações tais como as escolas e as profissões. 10. Uma última questão: serei capaz de ver esse outro indivíduo como uma pessoa em processo tornar-se ela mesma, ou estarei prisioneiro do meu passado e do seu passado? Se aceito a outra pessoa como alguma coisa definida, já diagnosticada e classificada, já cristalizada pelo seu passado, estou assim contribuindo para confirmar essa hipótese limitada. Se a aceito num processo de tornar-se quem é, nesse caso estou fazendo o que posso para confirmar ou tornar real as suas potencialidades. CAPITULO 7 PSICOTERAPIA COMO UM PROCESSO Gostaria que me acompanhassem numa viagem de exploração. O objetivo da viagem, a meta da investigação, é procurar obter informações sobre o processo da psicoterapia, ou seja, o processo através do qual a personalidade se altera. Quando resolvi, fazer nova tentativa para compreender o modo como se dão essas modificações, comecei por considerar as diversas maneiras de descrever a experiência terapêutica em termos de um outro quadro de referência qualquer. Há muito me sentia atraído pela teoria da comunicação, com os seus conceitos de feedback , com os sinais “de entrada e de saída”, e assim por diante. Desde o ano passado, empreguei o método que muitos de nós utilizamos para levantar hipóteses, um método que os psicólogos do nosso país parecem relutantes em expor ou comentar. Usei-me como instrumento. Como instrumento, tenho qualidade e defeitos. Durante muitos anos vivenciei a terapia como terapeuta. Fiz a experiência do outro lado da mesa, como cliente. Durante este último ano, passei muitas horas a ouvir gravações de entrevistas terapêuticas – tentando ouvi-las tão ingenuamente quanto possível. A fase seguinte consistiu em reunir essas observações e abstrações elementares e formulá-las de modo a poder destacar imediatamente hipóteses verificáveis. Se a experiência passada for de algum modo um guia, alguns anos serão possíveis determinar com clareza o grau de verdade e de falsidade das afirmações que se seguem. Gostaria de fazê-los participar intensamente das alegrias e desânimos do esforço para compreender o processo terapêutico. Gostaria de lhes contar uma descoberta que fiz recentemente sobre a maneira como os sentimentos “tocam” os clientes – um termo que eles empregam freqüentemente. O cliente está falando sobre um tema importante quando, subitamente, é “tocado” por um sentimento – nada que tenha um nome ou uma classificação, mas a experiência de algo desconhecido que deve ser cuidadosamente explorado, mesmo antes que se lhe possa apontar uma designação. Um outro assunto de interesse foi a variedade dos caminhos seguidos pelos clientes para entrarem em contato com seus próprios sentimentos. Esses sentimentos vêm à superfície como “bolhas de ar”, eles “brotam”. O cliente “mergulha”nas suas emoções, muitas vezes com cautela e com receio: “Eu queria mergulhar neste sentimento, mas você sabe como isso é difícil”. Outra dessas observações naturalistas liga-se à importância que o cliente atribui à exatidão da simbolização. Ele quer exatamente a palavra precisa com a qual possa exprimir o sentimento por que passou. Uma aproximação não lhe basta. Acabei, desse modo, por reconhecer o valor dos chamados “momentos dinâmicos”, isto é, aqueles em que parece que uma mudança realmente ocorre. Queria igualmente mencionar o profundo sentimento de desespero que por vezes sinto, ingenuamente perdido na inacreditável complexidade da relação terapêutica. Ao teorizar sobre o processo da modificação da personalidade em psicoterapia, tenho de aceitar um conjunto ótimo de condições constantes que facilitem essa modificação. Ao longo de toda a exposição que se segue, parto do princípio de que o cliente se sente plenamente aceito. Com isso pretendo significar que, sejam quais forem os seus sentimentos, seja qual for o seu modo de expressão, seja qual for a impressão sobre a sua situação nesse momento, ele sente que está sendo psicologicamente aceito tal qual é, pelo terapeuta. Isto implica, portanto, o conceito de uma compreensão por empatia e o conceito de aceitação. Ao procurar captar e conceituar o processo de mudança, comecei por buscar os elementos suscetíveis de caracterizarem a própria mudança. Pensava na mudança como uma entidade e procurava seus atributos específicos. Pouco a pouco, fui compreendendo, à medida que me expunha à matéria bruta da mudança, que se tratava de um “contínuo” de uma espécie diferente daquele que eu antes imaginara. a mobilidade, da estrutura rígida para o fluxo, da estase para o processo. Emiti a hipótese provisória de que talvez as qualidades da expressão do cliente pudessem, em qualquer momento, indicar a sua posição nesse contínuo, indicar onde se encontra no processo de mudança. Desenvolvi progressivamente esse conceito de processo, distinguindo nele sete fases. Contudo, o processo que pretendo descrever relaciona-se mais propriamente com determinados domínios das significações pessoais. Primeiro estágio: O indivíduo que se encontra neste estágio de fixidez e de distanciamento da sua experiência não virá seguramente de boa vontade à terapia. O indivíduo tem pouco ou mesmo nenhum reconhecimento do fluxo e do refluxo da sua vida afetiva. O indivíduo não se comunica e não comunica senão aspectos exteriores. Ele tende a se ver como não tendo problemas, ou os problemas que reconhece são apreendidos como completamente exteriores a si mesmo. O indivíduo, nesse estágio, está representado por termos como estase, fixidez, em oposição a fluxo ou mudança. Segundo estágio do processo: Quando a pessoa no primeiro estágio pode vivenciar a si mesma como é totalmente aceita, segue-se então o segundo estágio. Parecemos saber muito pouco sobre como proporcionar a experiência de ser aceito para a pessoa no primeiro estágio, mas por vezes isso se consegue pela terapia lúdica ou em grupo. Não existe o sentimento de responsabilidade pessoal em relação aos problemas. Como comentário a esse segundo estágio do processo pode-se dizer que um determinado número de clientes que vêm voluntariamente à terapia estão nessa fase, mas nós conseguimos obter um grau muito modesto de resultados favoráveis ao trabalhar com eles. Terceiro estágio: Se a leve maleabilidade e o início do fluxo no segundo estágio não forem bloqueados e o cliente se sentir sob esses aspectos totalmente aceitos tal qual é, dá-se uma maior maleabilidade e fluência da expressão simbólica. Julgo evidente que muitas das pessoas que vêm à procura de ajuda psicológica se situam aproximadamente nesse terceiro estágio. Podem permanecer aí durante muito tempo, descrevendo sentimentos que não sentem no momento e explorando seu eu como um objeto, antes de estarem preparadas para passar à próxima fase. Quarto estágio: Quando o cliente se sente compreendido, bem-vindo, aceito tal como é nos vários aspectos da sua experiência, no nível do terceiro estágio, dá-se então uma maleabilidade gradual de seus construtos e uma fluência mais livre dos sentimentos, características de movimento no contínuo. O indivíduo toma consciência da sua responsabilidade perante os seus problemas pessoais, mas com alguma hesitação. Embora uma relação estreita ainda lhe pareça perigosa, o cliente aceita o risco até certo grau de afetividade. Aquele onde o paciente diz: “Bem, não tenho confiança em você.” Não há dúvida de que essa fase, bem como a seguinte, constitui a maior parte da psicoterapia. Seria bom recordar outra vez que uma pessoa nunca está exclusivamente nesse ou naquele estágio do processo. Ouvindo as entrevistas e examinando as transcrições datilografadas, sou levado a crer que as expressões de um cliente numa dada entrevista podem incluir frases e comportamentos que são sobretudo característicos da terceira fase, com momentos freqüentes de rigidez da segunda fase ou com maior maleabilidade da quarta fase. O quinto estágio: Se o cliente se sente aceito nas suas expressões, comportamentos e experiências no quarto estágio, isso irá favorecer uma maleabilidade ainda maior e uma renovada liberdade no fluxo organísmico. Os sentimentos são expressos livremente como se fossem experimentados no presente. O indivíduo aceita cada vez com maior facilidade a sua própria responsabilidade perante os problemas que tem de enfrentar, e preocupa-se mais em determinar como contribui para eles. O diálogo interior torna-se mais livre, melhora a comunicação interna e reduz-se o seu bloqueio . Em primeiro lugar, essa fase está, psicologicamente, a muitos quilômetros do primeiro estágio descrito. Nesse ponto, muitos aspectos da personalidade do cliente tornaram-se móveis, ao contrário da rigidez do primeiro estágio. A experiência é muito mais diferenciada e, portanto, a comunicação interior, já fluente, pode ser muito mais exata. O sexto estágio: Se consegui dar uma idéia da extensão e da natureza da maleabilidade crescente dos sentimentos, das vivências e das construções em cada estágio, podemos então passar ao estágio seguinte, que surge, a quem o observa, como crucial. Um sentimento que antes estava “bloqueado”, inibido na sua evolução, é experimentado agora de um modo imediato. A experiência é vivida subjetivamente e não como objeto de um sentimento. O eu, nesse momento, é esse sentimento. O eu é, subjetivamente, no momento existencial. Não é alguma coisa que se percebe. Uma outra característica desse estágio do processo é a maleabilidade fisiológica que o acompanha . Os olhos úmidos, as lágrimas, os suspiros, o relaxamento muscular são freqüentemente evidentes. Proporei de bom grado a hipótese de que nessas ocasiões, tendo meios para o observar, descobriríamos uma melhoria da circulação e da condutividade dos impulsos nervosos. Nessa fase, a comunicação interior é livre e relativamente pouco bloqueada. O construto pessoal correspondente dissolve-se no momento dessa experiência e o cliente sente-se separado do seu quadro de referência anterior estável. O momento da vivência integral torna-se uma referência clara e definida. O sétimo estágio: Nas áreas em que se atingiu o sexto estágio, já não é tão necessário que o cliente se sinta plenamente aceito pelo terapeuta, embora isso ainda pareça ser de grande ajuda. Esse estágio ocorre tanto fora da relação terapêutica como dentro dela, e é muitas vezes relatada mais do que vivenciada no decurso da sessão terapêutica. Vou procurar descrever algumas das suas características como as julgo ter observado. São experimentados novos sentimentos de modo imediato e com uma riqueza de detalhes, tanto na relação terapêutica como fora dela. A experiência de tais sentimentos é utilizada como um claro ponto de referência. Ocliente procura com absoluta consciência utilizar esses pontos de referência para saber de uma forma mais clara e mais diferenciada quem é, o que deseja e quais são as suas atitudes. Isto é verdade mesmo que os seus sentimentos sejam desagradáveis ou provoquem temor. Tentemos antecipar alguns problemas que se poderiam levantar a propósito do processo que procurei descrever. Talvez existam diferentes tipos de processos de modificação da personalidade. Talvez as abordagens terapêuticas que acentuam bastante os aspectos cognitivos e menos os aspectos emocionais da experiência possam provocar um processo de mudança completamente diferente. O processo de mudança pode ser facilmente evitado pela redução ou pela eliminação das relações em que o indivíduo seja plenamente aceito como é. Um cliente pode iniciar um tratamento próximo do segundo estágio e terminá-lo por volta do quarto, ficando tanto o cliente como o terapeuta absolutamente satisfeitos com os progressos substanciais que foram atingidos. De um modo geral, o processo parte de um ponto de fixidez onde todos os elementos e linhas de força acima descrita são facilmente discerníveis e compreensíveis isoladamente, até o ponto culminante da terapia em que todas essas linhas de força convergem de modo a formar um todo homogêneo. O indivíduo modificou-se, mas o que parece ser mais significativo é o fato de ele ter se tornado um processo integrado de transformação. REFERÊNCIAS ROGERS, Carl R. As características de uma relação de ajuda. In: ROGERS, Carl R. TORNAR-SE PESSOA. SÃO PAULO: [s. n.], 2017. cap. 03, p. 52-72. Disponível em: https://docero.com.br/doc/e10cscx. Acesso em: 1 set. 2021. ROGERS, Carl R. As características de uma relação de ajuda. In: ROGERS, Carl R. TORNAR-SE PESSOA. SÃO PAULO: [s. n.], 2017. cap. 07, p. 134-169. Disponível em: https://docero.com.br/doc/e10cscx. Acesso em: 1 set. 2021.
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