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Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania E-book 4 Yara Maria Gasbelotto Neste E-book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 CONSIDERAÇÕES SOBRE O AMBIENTE URBANO ����������������������������������4 As cidades pela perspectiva ecológica ������������������9 As cidades pela perspectiva urbanística ������������� 13 Como enxergar o processo de urbanização ������� 20 SUSTENTABILIDADE DOS AMBIENTES URBANOS ��������������������������� 22 AGENDA 2030 ��������������������������������������������26 Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ������������������������������������������������������������ 30 O Pacto Global (Global Compact) ������������������������ 34 A revisão de nossas sociedades ������������������������� 35 CONSIDERAÇÕES FINAIS ����������������������37 SÍNTESE �������������������������������������������������������38 2 E-book 4 Caminhos em Direção à Sustentabilidade E-book 4 INTRODUÇÃO Saudações, estudante! Vamos iniciar nosso quarto e último módulo da dis- ciplina Meio Ambiente, Sociedade e Cidadania� Para encerrar nossos estudos, vamos ter um panorama sobre as cidades e suas dinâmicas, uma vez que serão o local de convivência da maior parte das so- ciedades humanas� Em seguida, vamos analisar a sustentabilidade dos ambientes urbanos e a bus- ca pelo que se denomina cidade sustentável� Por fim, vamos conhecer a Agenda 2030, iniciativa da Organização das Nações Unidas para uma agenda global rumo às sociedades sustentáveis� 3 CONSIDERAÇÕES SOBRE O AMBIENTE URBANO No Módulo 3, observamos que poucos municípios brasileiros contam mais de 500�000 habitantes, e uma quantidade ainda menor conta mais de 1 milhão de habitantes� Estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que em 2018 somente 17 municípios possuíam mais de 1 milhão de habitantes que, juntos, somavam 45,7 milhões de pessoas (cerca de 22% da população do país)� O município de São Paulo é o mais populoso, com 12,2 milhões de habitantes� Rio de Janeiro, segundo maior município em termos populacionais, possui praticamente metade da população paulistana (6,7 milhões)� Brasília, que ocupa o terceiro lugar, pos- sui metade da população carioca (2,9 milhões)� Na Tabela 1, temos os maiores municípios brasileiros em tamanho de população� Municípios com mais de 1 milhão de Habitantes ORDEM UF MUNICIPIO POPULAÇÃO 1° SP São Paulo 12.176.866 2 ° RJ Rio de Janeiro 6.688.927 3 ° DF Brasília 2�974�703 4 ° BA Salvador 2.857.329 5 ° CE Fortaleza 2�643�247 6 ° MG Belo Horizonte 2�501�576 4 ORDEM UF MUNICIPIO POPULAÇÃO 7 ° AM Manaus 2�145�444 8 ° PR Curitiba 1.917.185 9 ° PE Recife 1.637.834 10 ° GO Goiânia 1�495�705 11 ° PA Belém 1.485.732 12 ° RS Porto Alegre 1�479�101 13 ° SP Guarulhos 1.365.899 14 ° SP Campinas 1�194�094 15 ° MA São Luís 1�094�667 16 ° RJ São Gonçalo 1.077.687 17 ° AL Maceió 1.012.382 TOTAL 45.748.378 % em relação ao total Brasil 21,9% TOTAL BRASIL 208.494.900 Tabela 1: Municípios brasileiros com mais de 1 milhão de habitantes. Fonte: IBGE (2018). A análise somente em nível municipal nos conduz ao entendimento de que as questões socioambientais urbanas são desafios que atingem pouco mais de 1/5 da população brasileira� Deve-se lembrar, po- rém, de que muitas cidades integram as Regiões Metropolitanas (RM) e Regiões Integradas de Desenvolvimento (Rides), que são áreas formadas por um núcleo urbano de alta densidade populacional geralmente conturbado, ou seja, núcleos urbanos de municípios distintos que se interligam de modo contínuo� 5 O IBGE (2018) indica que no Brasil há 28 regiões deste tipo, com população superior a 1 milhão de habitantes, somando 98,7 milhões de pessoas, ou 47,3% da população brasileira� A RM de São Paulo é a mais populosa, com 39 municípios que somam 21,6 milhões de pessoas� A RM do Rio de Janeiro, segunda mais populosa, soma 12,7 milhões, e a RM de Belo Horizonte contabiliza 5,9 milhões� Desta forma, os desafios socioambientais urbanos não se restringem ao território do município ou ao perímetro urbano de um município, pelo contrário, referem-se a um ambiente urbano composto por paisagens e dinâmicas sociais diferentes dos en- contrados no ambiente não urbano� Para nossos estudos − considerando o que já foi estudado no módulo anterior sobre município, ci- dade, área urbana e área rural −, apenas para facili- tar nossa leitura, vamos utilizar os termos “cidade”, “metrópole” e “ambiente urbano” como sinônimos a partir de agora� Vamos então passar do cenário nacional para o ce- nário mundial e notar que a Organização das Nações Unidas (ONU) possui o conceito de megacidade, ci- dades com mais de 10 milhões de habitantes� As megacidades da ONU, na verdade, são compostas por diversos municípios e equivalem às nossas regi- ões metropolitanas� Na Tabela 2, temos as maiores megacidades mundiais em 2010� 6 As maiores megacidades mundiais em 2010 Megacidade População (milhões de habitantes) 1� Tóquio (Japão) 36,0 2� Cidade do México (México) 19,4 3� Nova York (EUA) 18,7 4� São Paulo (Brasil) 18,3 5� Mumbai (Índia) 18,2 6� Nova Délhi (Índia) 15,0 Tabela 2: Tabela 2. Maiores megacidades de 2010 em tamanho da população. Fonte: Leite e Awad (2012, p. 25). As grandes cidades não são um fenômeno recente, por isso é importante resgatar que Roma foi a maior cidade do mundo por mais de mil anos, teve seu ápice no final do século 1 a.C. com 1 milhão de habitantes e declinou para um tamanho irrisório de 20 mil habitan- tes na Idade Média. Estima-se que Bagdá, em seu auge entre 762 e 930 d.C., também teve 1 milhão de habitantes. Algumas cidades chinesas já foram imensas durante o auge do Império Chinês. Nova York, capital do sé- culo 20, era a única megacidade do mundo em 1950. A Grande Tóquio é a maior cidade do mundo hoje, com mais de 36 milhões de habitantes. Grandes cidades, portanto, não são um fenômeno novo. A diferença hoje não é a presença de uma ou de algumas grandes cidades líderes de seu tempo, mas, sim, a rá- pida emergência de um enorme número de 7 grandes concentrações humanas por todo o planeta (LEITE; AWAD, 2012, p. 20). Um estudo publicado pela Euromonitor International (2018), intitulado Megacities: developing country domination, indica que há 33 megacidades em todo o mundo, sendo duas delas no Brasil (as RM de São Paulo e do Rio de Janeiro)� Segundo o estudo, entre 2017 e 2030 há a perspectiva de seis novas megaci- dades entrarem para o cenário mundial� Na Figura 1, podemos verificar quais são as megacidades atuais. Figura 1: Localização das megacidades de 2018 por país/região. Fonte: Razvadauskas (2018). Com esse cenário mundial, fica mais evidente o grande desafio estratégico deste século, o de tornar sustentáveis estes imensos ambientes urbanos que concentram milhões de pessoas� 8 Analisar as grandes concentrações humanas é uma atividade que pode ser feita sob diversos ângulos, por diversas disciplinas acadêmicas tanto das ciên- cias naturais (como a Ecologia e a Geografia Física) quanto das ciências sociais (como a Antropologia e a Sociologia)� Traremos duas perspectivas diferentes para análise� As cidades pela perspectiva ecológica A Ecologia estuda a relação dos seres vivos entre si e com o meio físico em que habitam� Busca desvendar as leis universais que regem a relação dos indivídu- os dentro de uma espécie, a relação das diferentes espécies entre si e das populações de seres vivos com o meio físico� Por analogia, a Ecologia é a ciên- cia que estuda a relação do Homo sapiens com as demais espécies de seres vivos e com o meio em que se encontra� Genebaldo Freire Dias (2010) traz uma interessante análise das cidades pela ótica da Ecologia� Vamos nos basear nela para discutir esse item� Dentro da Ecologia, considera-se a existência de três níveis de existência: o físico, o biológico e o social; cada qual segue suas próprias leis� O mundo físico é composto pela atmosfera,hidrosfera e litosfera, sendo regido pelas leis da Física e da Química� O mundo biológico (biosfera) é composto por todas as 9 espécies de vida: de vírus e bactérias às aves e ma- míferos, de fungos e gramíneas às árvores de grande porte, sendo regido pelas leis da Física, Química, Biologia e Ecologia� O mundo social é o mundo das construções humanas, desde construções de máqui- nas e equipamentos até a construção de sociedades, governos, artes e religiões� Esse mundo social é regi- do pelas leis da Física, Química, Biologia, Ecologia e das sociedades humanas (leis escritas e não escritas, ou seja, constituições, regimentos, decretos e valores morais e éticos)� Já estudamos ao longo desta disciplina que as leis naturais são universais, mas as leis sociais não são, uma vez que as sociedades humanas variam ao lon- go do tempo e do espaço� Esses três mundos estão conectados por meio de sistemas complexos, com- postos pelos elementos em si e suas inter-relações, compondo um equilíbrio dinâmico� Por equilíbrio dinâmico, entende-se o equilíbrio em movimento, em oposição ao equilíbrio estático, no qual prevalece o repouso. Para exemplificar, os pratos de uma balança ou os assentos de uma gangorra, quando equilibrados, compõem um equilíbrio está- tico� Já os pratos do equilibrista de circo compõem um equilíbrio dinâmico: se o equilibrista parar de girá-los, os pratos caem do suporte� As populações de seres vivos que habitam esses sistemas complexos tendem a crescer enquanto as condições forem favoráveis, ou seja, enquanto houver alimento, água e abrigo, basicamente (lembra- 10 -se do primeiro módulo da disciplina?)� A Ecologia denomina capacidade de suporte a quantidade de vida que um ambiente natural consegue manter� Um deserto possui baixa capacidade de suporte, ao pas- so que florestas tropicais possuem alta capacidade de suporte� A partir destes conceitos principais de Ecologia, Dias (2010) afirma que as cidades podem ser vis- tas como um grande organismo vivo, imóvel e com alto metabolismo� Por ter alto metabolismo, conso- me grandes quantidades de oxigênio, combustíveis, água e alimentos� Por não ter mobilidade, depende do ambiente não urbano para fornecer aquilo de que necessita; alguns autores afirmam que as cidades não sobreviveriam dois ou três dias sem a entrada dos recursos naturais vindos de outros ambientes� As cidades seriam praticamente como parasitas do ambiente não urbano, uma vez que são sistemas complexos, mas não autossuficientes. Observe a Figura 2� 11 A CIDADE Entretenimento Informação Educação Tecnologia Pessoas Energia Solar Calor Ruído Água Esgotos Alimentos Lixos Serviços Bens manufaturados CombustíveisMatéria- prima Ar Ar poluído Figura 2: O metabolismo dos ecossistemas urbanos. Fonte: Dias (2010, p. 229). Assim, Se considerarmos as relações de alimentação do homem na cidade, descobriremos que o sistema urbano ao qual pertence não se limita a fronteiras geográficas definidas. Os alimen- tos consumidos na cidade, que é o final da cadeia alimentar, representam a produtividade de solos e outros recursos naturais de outras áreas; a água utilizada não é aquela que cai sobre a cidade, mas a que é trazida de longe; o lixo produzido não circula de volta para o solo que produziu o alimento, mas sim através de novas cadeias [...] Dessa forma, os ecos- sistemas urbanos, na verdade, afetam e são afetados pela biosfera como um todo, e o seu funcionamento interdepende não apenas de ecossistemas locais, mas da biosfera inteira (DIAS, 2010, p. 227). 12 Para Dias (2010), à medida que a estabilidade dos sistemas naturais aumenta com o crescimento da complexidade, os sistemas urbanos parecem ter tendência oposta, tornando-se mais frágeis e vulne- ráveis, inclusive tornando-se menos adequados para a vida humana� As sociedades urbanizadas estão desajus- tadas em relação à dinâmica dos ambientes naturais. O preço de morar em uma cidade é um estado constante de ansiedade. As pes- soas ficam expostas a mazelas biológicas e psicossociais como violência, perda de identi- dade, tensão, alta competitividade, frustração e conflitos de toda ordem [...] As cidades são os locais onde o homem produz o seu maior impacto sobre a natureza. A sua construção altera de modo drástico os ambientes naturais onde são erguidas, ciando um novo ambiente, com demandas únicas (DIAS, 2010, p. 228). As cidades pela perspectiva urbanística Outra perspectiva pode nos ser fornecida pelo urbanismo, ramo da Arquitetura responsável por desenvolver condições adequadas de habitação às populações das cidades e, em uma visão mais ampla, criar condições de vida satisfatórias nos 13 centros urbanos, atuando no planejamento das cidades� Carlos Leite e Juliana Awad (2012) trazem uma análise das cidades pela ótica da Arquitetura e do Urbanismo, na qual vamos nos basear para discutir este item� Os autores partem do princípio de que as grandes cidades ou metrópoles são o desafio estratégico do século 21, pois entendem que dois terços do con- sumo mundial de energia advêm das cidades, 75% dos resíduos são gerados nas cidades e vive-se um processo dramático de esgotamentos dos recursos hídricos e de consumo exagerado de água potável� Nesse cenário, se as cidades adoecem, o planeta torna-se insustentável, de modo que é necessária a reinvenção das metrópoles contemporâneas, com a criação de indicadores que mostrem oportunidades em termos de cidades mais sustentáveis e mais in- teligentes do que as que cresceram e se expandiram sem limites no século 20� Cidades como Barcelona, Vancouver, Bogotá e Curitiba são apontadas por terem desenvolvido diver- sas experiências urbanísticas que as colocaram na linha de frente como cidades mais verdes – mostran- do que as metrópoles se reinventam e se refazem� Os autores são categóricos: “A cidade é a pauta: o século 19 foi dos impérios, o século 20, das nações, o século 21 é das cidades� As megacidades são o futuro do planeta urbano� Devem ser vistas como 14 oportunidades e não como problema” (LEITE; AWAD, 2012, p� 15)� As oportunidades são percebidas porque a cidade é o lugar onde são feitas todas as trocas humanas, dos grandes e pequenos negócios à interação social e cultural� Para essas trocas, a alta densidade dos grandes centros urbanos é vista como uma carac- terística favorável, promovendo a criatividade e a inovação� Lembremo-nos de que ambientes com alta concentração de pessoas criativas crescem mais rapidamente e atraem mais gente de talento, conforme vem demonstrando os es- tudos de Richard Florida acerca das cidades criativas. Metrópoles com clusters de alta tec- nologia contêm maior número de pessoas de talento do que outras. Talento, tolerância e diversidade são os ingredientes indissociá- veis no crescimento destas metrópoles que lideram o ranking de cidades criativas. Outras pesquisas demonstram que maiores densidades populacionais urbanas estão dire- tamente ligadas a maior desenvolvimento de inovação urbana, gerando outro interessante debate contra o modelo de cidade-subúrbio (baixa densidade) e em defesa das grandes metrópoles com muito maior densidade (LEITE; AWAD, 2012, p. 12). 15 SAIBA MAIS A Unesco, agência da ONU para educação, ciên- cia e cultura, possui uma plataforma internacio- nal que conecta cidades para compartilhar ex- periências, ideias e melhores práticas no campo das indústrias criativas e do desenvolvimento ur- bano� Saiba mais assistindo ao vídeo da Rede de Cidades Criativas da Unesco disponível em: ht- tps://youtu.be/1Lr5rd-DaSU� Acesso em: 19 mai� 2019� Por esse entendimento, cidades são mais sustentá- veis quanto mais compactas forem, quanto maior sua densidade populacional� Isso porque maior den- sidade significa menos consumo de energia, seja a energia dos combustíveis usados na locomoção de grandes distâncias, seja energia das próprias pes- soas, gastas nas horas perdidas de deslocamen- tocotidiano (lembra-se do conceito de movimento pendular?)� Para compactar as cidades, os projetos urbanos devem instrumentalizar a recuperação dos vazios centrais, transformando-as em redes estratégicas de núcleos policêntricos compactos e densos, otimi- zando infraestruturas e liberando territórios verdes� Aqui vale uma observação relevante: é sempre bom nos lembrarmos de que os modelos urbanísticos não compõem uma ciência exata ou natural, estan- do sempre vinculados aos conceitos e valores das sociedades que os elabora� Assim, se em um dado 16 momento histórico os bairros exclusivamente resi- denciais são valorizados, os modelos baseados em condomínios afastados dos centros dominam o mer- cado imobiliário – como é o caso dos residenciais Alphaville e similares� Se, posteriormente, entende-se que a alta densidade é melhor, chegam ao mercado imobiliário os condomínios mistos, que unem torres residenciais com as comerciais� Da mesma forma, nas décadas de 1950 e 1960, a ideia motriz do planejamento urbano era a separação dos usos da cidade� Assim foi construída a cidade de Brasília, por exemplo, com setores exclusivos de moradia, estudo ou serviço� Esse modelo setoriza- do, como pode ser percebido pelas colocações de Carlos Leite e Juliana Awad, está sendo substituído pelo uso sobreposto do território urbano, compondo núcleos policêntricos� Assim, se Brasília fosse construída hoje, certamente ela teria amplas calçadas e ciclovias, mas menos vias de alta velocidade� Possivelmente, seus quarteirões contemplariam simultaneamente moradias, serviços e comércio, compondo estruturas urbanas quase que independentes umas das outras� Entender essa variação do conceito de cidade pela ótica da variação da própria sociedade humana torna- -se relevante, pois é a base do argumento de que as cidades podem ser reinventadas� Leite e Awad (2012) afirmam que as cidades se reinventam, pois não são fossilizadas; dentro desse argumento, comparam também as cidades a organismos vivos: as melho- 17 res cidades, aquelas que continuamente sabem se renovar, funcionam similarmente a um organismo – quando adoecem, se curam, mudam� Um organismo que consome os recursos naturais provenientes do ambiente externo, mas que em contrapartida fornece produtos, serviços e tecnologia que beneficiam a todos, em todos os ambientes� Essa perspectiva em relação às cidades analisa tam- bém a desigualdade social como uma consequência da atratividade que as metrópoles exercem sobre as pessoas: [...] as pessoas se mudam para as cidades na busca por uma vida melhor, e normalmen- te conseguem, mesmo vivendo em favelas. Ainda que vivendo em condições precárias nas grandes cidades, a população vai a elas porque sabe que é ali que estão as oportuni- dades, por mais difícil que seja. Afinal, mais da metade do produto interno bruto (PIB) dos países deriva de atividades econômicas urba- nas (LEITE; AWAD, 2012, p. 22). Para sanar ou minimizar os efeitos negativos dessa desigualdade, são necessários investimentos consi- deráveis em infraestrutura urbana, especialmente em saneamento básico, para dar condições adequadas de vida a essa parcela da população urbana� Por outro lado, devemos nos atentar para o fato de que o crescimento da população mundial está de- 18 sacelerando, isto é, em diversas cidades de países desenvolvidos, observa-se um encolhimento da popu- lação. Essa mudança demográfica certamente trará consequências às dinâmicas de nossas sociedades urbanas que já poderão ser percebidas nos próximos 10 a 15 anos� De qualquer maneira, o que a perspec- tiva urbanística nos traz é: nas megacidades que acontecem as maiores transformações, gerando uma demanda iné- dita por serviços públicos, matérias-primas, produtos, moradias, transportes e empregos. Trata-se de um grande desafio para os gover- nos e a sociedade civil, que exige mudanças na gestão pública e nas formas de governan- ça, obrigando o mundo a rever padrões de conforto típicos da vida urbana – do uso ex- cessivo do carro à emissão de gases (LEITE; AWAD, 2012, p. 23). SAIBA MAIS O vídeo Cidade de Papel, produzido pela ONU-Ha- bitat, aborda a questão do planejamento urbano para as cidades e está disponível em: https://you- tu.be/pj2Xwrq2n-o� Acesso em: 19 mai� 2019� 19 Como enxergar o processo de urbanização Até o momento, trouxemos duas perspectivas distin- tas sobre o ambiente urbano contemporâneo, com a intenção de exemplificar uma linha de pensamento muito enraizada quando se fala de ambiente urbano e ambiente rural: a noção de que ambos ambientes são opostos um ao outro, sendo seus limites bastante claros e identificáveis. De acordo com o IBGE (2017), essa visão dicotômica tem origem na virada do século 19, sendo uma con- sequência de intensas transformações e problemas resultantes do rápido processo de urbanização nos países europeus e ondas migratórias na América do Norte� Essa visão tem gerado dois pontos de vista divergen- tes� Um é claramente antiurbano, ou seja, idealiza-se a vida rural pela sua proximidade com a natureza e seu desaparecimento é lamentado; com isso, o am- biente urbano, pelo seu distanciamento da natureza, é um ambiente “ruim”� A perspectiva ecológica que trouxemos exemplifica esse ponto de vista. O outro ponto de vista é pró-urbano, em que se con- sidera a urbanização o motor do progresso, da ino- vação e da modernização� A perspectiva urbanística que trouxemos exemplifica esse ponto de vista. A verdade, porém, é que está cada vez mais difícil delimitar as fronteiras entre o urbano e o rural, pois 20 você encontra áreas em uma cidade similares a áre- as rurais e áreas na zona rural com características consideradas urbanas� O fato é que a urbanização é reconhecidamente um fenômeno transformador e um dos principais vetores de transformação do século 20 e início deste século 21� Deste modo, a busca por melhores condições de vida para as sociedades humanas passa, necessariamente, pela busca por cidades sustentáveis� Vamos entender melhor esse conceito a seguir� 21 SUSTENTABILIDADE DOS AMBIENTES URBANOS Muito tem se falado em cidades sustentáveis e, em especial, muito tem se discutido sobre sustentabili- dade� A adoção do termo sustentabilidade na agenda global é resultado das agendas ambientais da ONU, e ilustra bem as diferentes formas das sociedades humanas enxergarem sua relação com o mundo à sua volta� Em uma breve retomada, estudamos que a princípio o homem se considerava à parte e acima do mundo natural� De um lado, estão as sociedades humanas e, de outro, a “natureza”� Conforme o homem percebe- -se integrante inevitável dos ciclos naturais, começa a utilizar o termo “meio ambiente”� Inicialmente, o termo refere-se apenas aos ambientes naturais, mas aos poucos os ambientes construídos pelo homem passam a compor o entendimento de meio ambiente� Surge então o termo “desenvolvimento sustentável” que abarca, além do homem e da natureza, a dimen- são econômica das sociedades humanas� No início do século 21, surge o termo “sustentabilidade”, que engloba a natureza, o homem, a dimensão econômi- ca e a dimensão social� Mas afinal, o que significa sustentabilidade? Sustentabilidade não é um conceito científico, e sim 22 uma representação social, portanto, adquire signi- ficados diferentes para grupos sociais diferentes. Um entendimento interessante nos é fornecido pelo teólogo Leonardo Boff: Na raiz de “sustentabilidade” e de “sustentar” está a palavra latina sustentare com o mes- mo sentido que possui em português. [...] nos oferecem dois sentidos: um passivo e outro ativo. O passivo diz que “sustentar” significa segurar por baixo, suportar, servir de escora, impedir que caia, impedir a ruína e a queda. Neste sentido “sustentabilidade” é, em termos ecológicos, tudo o que fizermos para que um ecossistema não decaia e se arruíne. [...] O [outro] sentido enfatiza o conservar, manter, proteger, nutrir, alimentar,fazer prosperar, sub- sistir, viver, conservar-se sempre à mesma al- tura e conservar-se sempre bem [...]. Estes sentidos são visados quando falamos hoje em dia de sustentabilidade, seja do uni- verso, da Terra, dos ecossistemas e também de inteiras comunidades e sociedades: que continuem vivas e se conservem bem (BOFF, 2012, pp. 31-32). Construir cidades sustentáveis é, portanto, mais do que investir em infraestrutura urbana, é investir na qualidade de vida de seus habitantes� Em outras 23 palavras, mesmo que uma cidade tenha esgoto co- letado e tratado, excelente qualidade do ar e muita área verde bem distribuída pelo território, se o índice de violência ou de desemprego for alto, não haverá qualidade de vida. Os desafios socioambientais tra- tados no módulo anterior são fundamentais para a qualidade ambiental urbana, mas não são suficientes para se atingir a sustentabilidade dos ambientes ur- banos, a qual exige a promoção de maior equidade social de seus habitantes� Assim, podemos definir cidade sustentável como aquela em que se conciliam o crescimento econô- mico aliado à proteção ambiental e a redução das desigualdades sociais� Não parece um processo simples, e realmente não é� Ana Carolina Evangelista (2013) aponta um conjunto de compromissos que devem ser assumidos para se concretizar esse ambiente urbano ideal: • Compromissos relacionados à governança e à gestão de políticas públicas, buscando fortalecer a participação social nos processos de tomada de decisão� • Compromissos relacionados à proteção e melhoria da qualidade ambiental urbana, incluindo a busca por padrões mais responsáveis de produção e consumo, e por um planejamento urbano mais inclusivo� • Compromissos relacionados à equidade social, buscando universalizar o acesso a serviços públicos de qualidade e promover dinâmicas econômicas locais� 24 • Compromissos que conectam as cidades ao cená- rio global, buscando a promoção da paz e da justiça social� E a autora continua: Cidades sustentáveis seriam, assim, o resulta- do de um conjunto articulado de ações, nas es- feras pública e privada, que progressivamente criem um ambiente urbano economicamente viável, ambientalmente sustentável e social- mente justo (EVANGELISTA, 2013, p. 142). Como podemos articular e fazer funcionar esse con- junto de ações? Talvez o próximo item nos forneça uma ferramenta possível para esse processo� 25 AGENDA 2030 Em setembro de 2015, durante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, foi lançada a Agenda 2030, uma ousada iniciativa que sintetiza tudo o que foi abordado em nossa disciplina, por isso é o retrato da busca pela sustentabilidade que nossas sociedades estão vivenciando� Antes de 2015, agências especializadas da ONU atu- avam com duas agendas: uma com foco na dimen- são social e outra com foco na dimensão ambiental� A Agenda 2030 tem raízes históricas nestes dois movimentos da própria ONU que se desenvolveram paralelamente� Pela vertente ambiental, podemos destacar a Agenda 21, o principal documento resultante da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD ou Eco-92), realiza- da no Rio de Janeiro� Trata-se de um plano de ação pautado no conceito do desenvolvimento sustentá- vel, que estabelecia ações a serem efetivadas pelos Estados-membro da ONU até o início do século 21� O termo “agenda” foi utilizado exatamente com a ideia de planejamento, de estabelecimento de com- promissos para o século que se iniciava – daí seu nome Agenda 21� Saiba um pouco mais sobre o tema em Agenda 21� Podcast 1 26 Pela vertente social, em 2000 a ONU estabeleceu os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), uma agenda voltada à erradicação da pobreza e ao estímulo ao desenvolvimento social� Foram determi- nados oito grandes objetivos e respectivas metas, bem como um trabalho de monitoramento que seguiu até 2015, que foi o ano final estabelecido. O sucesso alcançado pelos ODM evidenciou que es- tabelecer objetivos globais é um eficiente mecanismo para alcançar melhores resultados de desenvolvi- mento, de modo que em setembro de 2015 a ONU convocou a Cúpula do Desenvolvimento Sustentável, com objetivo de propor uma nova agenda de desen- volvimento para o período de 2015 a 2030 (ONU BRASIL, 2019)� Saiba um pouco mais sobre o tema em Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio� Podcast 2 Esta nova agenda concilia e unifica as duas agendas anteriores� Por um lado, dá continuidade ao legado dos ODM; por outro lado, revisita o desenvolvimento sustentável com uma visão integrada e equilibrada de suas dimensões principais� Para a ONU, A agenda é única em seu apelo por ação a todos os países – pobres, ricos e de renda média. Ela reconhece que acabar com a pobre- za deve caminhar lado a lado com um plano 27 que promova o crescimento econômico e res- ponda a uma gama de necessidades sociais, incluindo educação, saúde, proteção social e oportunidades de trabalho, ao mesmo tempo em que aborda as mudanças climáticas e pro- teção ambiental. Ela também cobre questões como desigualdade, infraestrutura, energia, consumo, biodiversidade, oceanos e indus- trialização (ONU BRASIL, 2019). A Agenda 2030 é composta de uma Declaração, um quadro de resultados e um roteiro para acom- panhamento e revisão� O quadro de resultados abar- ca 17 grandes objetivos (Figura 3), os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que formam o núcleo da Agenda� Nos próximos anos de implementação da Agenda 2030, os ODS e suas metas deverão estimu- lar e apoiar ações em áreas de importância crucial para a humanidade: Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parcerias� 28 Figura 3: Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Fonte: ONU Brasil (2019). 29 Importante lembrar que a Agenda 2030 não é le- galmente vinculante, ou seja, não tem peso de lei internacional� Porém, espera-se que os países se apropriem da Agenda e estabeleçam um arcabouço nacional que permita alcançar os objetivos no prazo proposto, uma vez que todos os países signatários – incluindo o Brasil – se comprometeram a empreender esforços para alcançar seus objetivos e metas até o ano de 2030 (ONU BRASIL, 2019)� SAIBA MAIS Veja o vídeo institucional de lançamento da Agen- da 2030, que fornece um panorama da importân- cia desta agenda� Disponível em: https://youtu. be/u2K0Ff6bzZ4� Acesso em: 19 mai� 2019� Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são integrados e indivisíveis, mesclando de forma equilibrada as três dimensões do desen- volvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental� São como uma lista de tarefas a serem cumpridas pelos governos, pela sociedade civil e pelo setor privado no percurso coletivo rumo a um 2030 sustentável: • Objetivo 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares� 30 • Objetivo 2. Acabar com a fome, alcançar a segu- rança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável� • Objetivo 3. Assegurar uma vida saudável e pro- mover o bem-estar para todos, em todas as idades� • Objetivo 4. Assegurar a educação inclusiva e equi- tativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos� • Objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e em- poderar todas as mulheres e meninas� • Objetivo 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos� • Objetivo 7. Assegurar o acesso confiável, susten- tável, moderno e a preço acessível à energia para todos� • Objetivo 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos� • Objetivo 9. Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação� • Objetivo 10. Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles� • Objetivo 11. Tornar as cidades e os assenta- mentos humanosinclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis� • Objetivo 12. Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis� 31 • Objetivo 13. Tomar medidas urgentes para comba- ter a mudança do clima e seus impactos� • Objetivo 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável� • Objetivo 15� Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertifi- cação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade� • Objetivo 16. Promover sociedades pacíficas e in- clusivas para o desenvolvimento sustentável, pro- porcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis� • Objetivo 17� Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável� Observe que os ODS 6, 13, 14 e 15 referem-se a as- pectos da biosfera; os ODS 1, 2, 3, 4, 5, 7, 11 e 16 referem-se a aspectos da sociedade; os ODS 8, 9, 10 e 12 referem-se a aspectos econômicos� O ODS 17 trata das parcerias e é um objetivo relacionado a todos os demais� SAIBA MAIS O IBGE elaborou uma série especial de vídeos so- bre os ODS que vale a pena assistir! Comece pelo vídeo introdutório, depois assista ao vídeo do 32 ODS 1 e continue a sequência no próprio canal do Instituto� Os vídeos são curtos e bastante didáti- cos� Disponível em: https://youtu.be/Fev2MHAa- -qo� Acesso em: 19 mai� 2019� Cabe aos governos nacionais adequar as metas e indicadores para sua realidade e incentivar que todo o conjunto da sociedade se envolva no cumprimento deste desafio global. No Brasil, a adequação das 169 metas globais à nossa realidade ficou sob responsa- bilidade do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que após longo processo de consulta técnica e consulta popular apresentou um relatório no qual aponta que das 169 metas globais, apenas 2 foram consideradas como não aplicáveis ao Brasil� Durante o processo de adequação, 128 metas tiveram seu texto alterado, seja para conferir mais clareza ao seu conteúdo original seja para ser possível quantificá-la com mais precisão� Foram criadas oito novas metas, totalizando 175 metas nacionais� As empresas possuem um papel estratégico na Agenda 2030, não apenas apoiando políticas públicas e acompanhando os resultados, mas principalmente incorporando em sua estrutura uma gestão respon- sável que valorize o equilíbrio entre crescimento eco- nômico, inclusão social e proteção ao meio ambiente (ONU BRASIL, 2019)� No próximo item, vamos estudar as empresas que já vêm se articulando em torno desta temática muito antes desta iniciativa� 33 SAIBA MAIS Você pode conhecer a Agenda 2030 na íntegra! Disponível em: https://nacoesunidas.org/pos2015/ agenda2030/� Acesso em: 19 mai� 2019� O Pacto Global (Global Compact) Da vontade de mobilizar a comunidade empresarial para a adoção de valores fundamentais e interna- cionalmente aceitos em suas práticas de negócios, nasceu o Pacto Global� Lançado em 2000, não é um instrumento regulatório nem um código de conduta obrigatório, mas uma iniciativa voluntária que for- nece diretrizes para a promoção do crescimento sustentável e da cidadania, por meio de lideranças corporativas comprometidas e inovadoras (PACTO GLOBAL, 2019)� De acordo com a iniciativa, atualmente são quase 13 mil signatários articulados em mais de 160 países� Fazem parte pequenas, médias e grandes empresas, além de organizações da sociedade relacionadas ao setor privado� O Pacto Global estabelece 10 Princípios a serem observados, envolvendo quatro áreas: Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Combate à Corrupção� 34 Ao aderir ao Pacto Global, a organização assume o compromisso de implementar os 10 Princípios em suas estratégias de negócio e operações diárias; para tornar esse compromisso público e transpa- rente, deve publicar relatórios periódicos sobre os progressos realizados� Você sabia que o Brasil possui uma rede de empre- sas engajadas no Pacto Global? A Rede Brasil conta com mais de 770 signatários, entre grandes empre- sas nacionais, pequenas e médias empresas, fede- rações de indústrias e organizações da sociedade civil� É a terceira maior rede do mundo em empresas signatárias, atrás somente da Espanha e da França� Com o lançamento da Agenda 2030, a Rede Brasil do Pacto Global planeja expandir o número de parcerias para disseminar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no setor privado� A revisão de nossas sociedades Para finalizar nossa disciplina, vamos trazer uma reflexão de Leonardo Boff (2012), na qual ele afirma que a busca pela sustentabilidade passa pela revisão do que entendemos por sociedade� Toda sociedade humana baseia-se em três eixos in- ter-relacionados: o econômico, o político e o ético� O eixo econômico garante a infraestrutura material para a vida; o eixo político define o tipo de organização que as pessoas desejam e as formas de exercício e 35 distribuição do poder; o eixo ético compõe os valores e os princípios que orientam as práticas cotidianas e dão sentido coletivo à vida social (BOFF, 2012)� Especialmente após a Revolução Industrial, o que se observou foi a centralidade do eixo econômico como estruturador exclusivo da organização social, condu- zindo por seus interesses o eixo político e deixando em plano secundário as questões éticas e sociais� Não se pode falar em sociedade sustentável sem antes refazer o equilíbrio perdido dos três eixos es- truturadores da convivência social� Em sociedades coesas e sadias a economia vem submetida à políti- ca, a política se orienta pela ética, e a ética se inspira em valores intangíveis e espirituais que assinalam um sentido transcendente à vida e à história, pois tal preocupação está sempre presente nos seres humanos em sociedade (BOFF, 2012, p� 126)� 36 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste quarto e último módulo, tivemos contato com um panorama nacional das grandes cidades, conhe- cendo os municípios e regiões metropolitanas mais populosos, constatando que os desafios urbanos não se limitam ao perímetro dos municípios, mas compõem um ambiente diferenciado a ser estudado� Conhecemos as megacidades da ONU e as milhões de pessoas, em todo o mundo, que ocupam estes ambientes� Pudemos analisar as cidades por duas perspectivas distintas: a ecológica e a urbanística, e por meio delas conhecer a visão dicotômica que ainda marca a discussão sobre ambiente urbano e ambiente rural� É preciso cautela para não cair em uma visão exclusivamente antiurbana ou exclusi- vamente pró-urbana na análise das cidades� Na se- quência, estudamos a noção de sustentabilidade e sua aplicação no ambiente urbano, conhecendo o percurso multidimensional de compromissos que conduz a uma cidade sustentável� Finalmente, conhe- cemos a Agenda 2030 da ONU e seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que pode vir a ser uma ferramenta oportuna para se alcançar cidades economicamente viáveis, ambientalmente sustentá- veis e socialmente justas� 37 • Como enxergar o processo de urbanização • As cidades pela perspectiva urbanística • A revisão de nossas sociedades • O Pacto Global • As cidades pela perspectiva ecológica CAMINHOS EM DIREÇÃO À SUSTENTABILIDADE Considerações sobre o ambiente urbano • Os 17 Objetivos de Desenvolvimen- to Sustentável A sustentabilidade dos ambientes urbanos Agenda 2030 SínteSe Referências BOFF, L� Sustentabilidade: o que é, o que não é� Petrópolis: Vozes, 2012� IBGE� INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Classificação e caracterização dos espaços rurais e urbanos do Brasil: uma primeira aproximação� Rio de Janeiro: IBGE, 2017� Estudos e Pesquisas. Informação Geográfica. n. 11. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/ liv100643.pdf� Acesso em: 19 mai� 2019� IBGE� INSTITUTO BRASILEIRODE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA� IBGE divulga as estimati- vas de população dos municípios para 2018. Agência IBGE Notícias. 2018. Disponível em: https:// agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala- -de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/relea- ses/22374-ibge-divulga-as-estimativas-de-popula- cao-dos-municipios-para-2018. Acesso em: 19 mai. 2019. IPEA� INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA� Metas Nacionais dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Brasília: IPEA, 2018. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/ stories/PDFs/livros/livros/180801_ods_metas_nac_ dos_obj_de_desenv_susten_propos_de_adequa. pdf� Acesso em: 19 mai� 2019� DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São Paulo: Gaia, 2010. EVANGELISTA, A. C., Cidades Sustentáveis. In: DI GIOVANNI, G.; NOGUEIRA, M. A. (Orgs.). Dicionário de Políticas Públicas. São Paulo: Fundap, 2013. pp. 141-142. EUROMONITOR INTERNATIONAL. Megacities: develop- ing country domination. Euromonitor International, 2018. Disponível em: https://go.euromonitor.com/stra- tegy-briefing-cities-2018-megacities.html� Acesso em: 19 mai� 2019� LEITE, C�; AWAD, J� C� M� Cidades sustentáveis, cida- des inteligentes: desenvolvimento sustentável num planeta urbano� Porto Alegre: Bookman, 2012� ONU BRASIL. Disponível em: https://nacoesunidas.org/ pos2015. Acesso em: 19 mai. 2019. PACTO GLOBAL. Disponível em: http://pactoglobal.org. br. Acesso em: 19 mai. 2019. RAZVADAUSKAS, F. V. Megacities: developing coun- try domination. Euromonitor International, 2018. Disponível em: https://go.euromonitor.com/strategy- -briefing-cities-2018-megacities.html� Acesso em: 19 mai� 2019�
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