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1 PROCESSOS QUALITATIVOS DA AUDITORIA EM SAÚDE 2 PROCESSOS QUALITATIVOS DA AUDITORIA EM SAÚDE DÚVIDAS E ORIENTAÇÕES Segunda a Sexta das 09:00 as 18:00 ATENDIMENTO AO ALUNO editorafamart@famart.edu.br 3 Sumário GESTÃO DA QUALIDADE ......................................................................................................... 4 BASES FUNDAMENTAIS PARA GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS DE SAÚDE .... 4 GARANTIA DA QUALIDADE EM SERVIÇOS DE SAÚDE ..................................................... 11 GERENCIAMENTO POR PROCESSOS ................................................................................. 15 GERENCIAMENTO DE RISCO CLÍNICO E NÃO CLÍNICO ................................................... 17 GESTÃO DE PESSOAS PARA A QUALIDADE ...................................................................... 26 PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO MODELO DE GESTÃO DA QUALIDADE .................. 29 INDICADORES E FERRAMENTAS PARA QUALIDADE ....................................................... 32 INDICADORES HOSPITALARES ............................................................................................ 33 SISTEMAS DE INFORMAÇÃO E PAINEL DE BORDO DE UM HOSPITAL .......................... 38 CONTROLE ESTATÍSTICO DO PROCESSO......................................................................... 42 PLANEJAMENTO DA MEDIÇÃO DE DESEMPENHO E DESDOBRAMENTO ESTRATÉGICO ........................................................................................................................ 46 AUDITORIA .............................................................................................................................. 53 CONCEITOS BÁSICOS PARA A AUDITORIA DA QUALIDADE ........................................... 53 METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA GESTÃO EM SAÚDE E TÉCNICAS BÁSICAS DE AUDITORIA DA QUALIDADE ....................................................... 56 AUDITORIA INTERNA E AUTOAVALIAÇÃO DOS PROCESSOS GERENCIAIS ................. 59 PLANO DE AUDITORIA, SELEÇÃO E PREPARAÇÃO DOS AUDITORES INTERNOS .................................................................................................................................................. 61 RELATÓRIO DE AUDITORIA .................................................................................................. 66 PROCESSO DE MELHORIA CONTÍNUA DA GESTÃO ......................................................... 69 ACREDITAÇÃO HOSPITALAR E CERTIFICAÇÕES ............................................................. 72 METODOLOGIAS DE ACREDITAÇÃO ................................................................................... 72 OS FUNDAMENTOS DO MODELO DE ACREDITAÇÃO....................................................... 78 SELOS DE QUALIDADE EM SERVIÇOS DE SAÚDE: JCI, ONA E PLANETREE ................ 79 JCI ............................................................................................................................................. 80 ONA .......................................................................................................................................... 80 A ESTRUTURA DO MANUAL BRASILEIRO DE ACREDITAÇÃO ......................................... 82 FERRAMENTAS PARA IMPLANTAÇÃO DA ACREDITAÇÃO ............................................... 91 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 92 4 GESTÃO DA QUALIDADE BASES FUNDAMENTAIS PARA GESTÃO DA QUALIDADE EM SERVIÇOS DE SAÚDE Bonato (2011) afirma que a “Qualidade” é uma práxis iluminada pela crítica e vice-versa; se entendida e tratada nessa perspectiva, representa uma importante contribuição para a existência, concretude e historicidade do setor. Para compreender o espaço da qualidade na avaliação, em um campo marcado por especificidades, é necessário reconhecer o caráter polissêmico da qualidade (UCHIMURA; BOSI, 2002). Vuori (1991, p. 19) aponta que o “conceito de qualidade em saúde tem muitas facetas e autores diferentes podem utilizar significados distintos para esse termo. O termo [...] denota um grande espectro de características desejáveis”. Para Bose, Pontes e Vasconcelos (2010), a complexidade do conceito qualidade exprime o do desafio de “interpretar a interpretação” da qualidade na avaliação operacionalizada pelos atores no nível central. A seguir, o Quadro apresenta alguns conceitos relacionados à Qualidade no sentido da Saúde. 5 QUADRO - CONCEITOS RELACIONADOS À QUALIDADE NO SENTIDO DA SAÚDE Autor Conceito Donabedian, 1980 “Propõe que na redefinição do sentido da qualidade, deve-se desenvolver a base científica para mensurar a efetividade e a eficiência; equilibrar a assistência efetivo e eficiente em termos de assistência à saúde, pois depende do conhecimento científico prévio, caso contrário os prestada nos aspectos técnicos e nas relações interpessoais; equilibrar, na assistência, a efetividade e os custos, assim como, os valores individuais e sociais. Lembra ainda, que é importante avaliar a habilidade para identificar o que é mais juízos sobre qualidade podem ser duvidosos.” Donabedian, 1985 “Considerou ainda, que existe uma Epidemiologia da Qualidade com sua tradicional tríade, envolvendo tempo, lugar e pessoas e que este modelo é aplicável para o estudo da melhoria da qualidade em saúde.” Organização Mundial de Saúde, 1993 “Assistência à saúde em função de um conjunto de elementos que incluem: um alto grau de competência profissional, a eficiência na utilização dos recursos, um mínimo de riscos e um alto grau de satisfação dos pacientes e um efeito favorável na saúde.” Graham, 1995 “A gestão da qualidade é a adoção de programas desenvolvidos internamente ou segundo padrões externos, capazes de comprovar um padrão de excelência assistencial, a partir da melhoria contínua da estrutura, dos processos e resultados.” 6 Paladini, 2007 “A qualidade é entendida pelo atendimento aos padrões técnicos estabelecidos e adotados em relação ao produto ou serviço. O produto ou serviço é considerado de qualidade quando atende perfeitamente, de forma confiável e segura e no tempo certo as necessidades dos clientes.” FONTE: D‘Innocenzo, Adami e Cunha, 2006, e Rothbarth, 2011. A Figura representa graficamente a evolução do conceito de qualidade, ilustrando a sua perspectiva ampla e contemporânea. FIGURA - EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE QUALIDADE FONTE: Melhado, 2009. 7 Diante da diversidade dos conceitos de qualidade, alguns autores (MEZOMO, 2001; MARSHALL JUNIOR, 2003; PALADINI, 2007) analisam que as várias definições têm algo em comum: confluem para a adequação do serviço/produto à demanda que busca atender (ROTHBARTH, 2011). Rever de maneira sucinta os conceitos básicos da Gestão Pela Qualidade Total e contribuir para reforçar as evidências de viabilidade da aplicação da gestão pela qualidade ao setor de prestação de serviços de saúde é o que vários estudiosos têm buscado (NOGUEIRA, 1999). A metodologia da “Qualidade Total” surge como ferramenta de apoio para tratar esta realidade e adota alguns significados, como: qualidade de trabalho, serviço, informação, processo, estrutura e pessoas. Implica a satisfação das expectativas e necessidades dos clientes por meio de uma gestão científica dos processos, baseada em fatos e dados, voltada para a correção e prevenção de erros. Deve serbaseada na manutenção e melhoria dos padrões de desempenho atuais, com produtos e serviços melhores e mais competitivos, participação e envolvimento dos membros da organização, considerando os aspectos éticos que envolvem a prestação dos serviços de saúde (BONATO, 2011). A autora apresenta também as seguintes recomendações: consolidar e aprofundar a aplicação de metodologias de qualidade para os serviços de saúde; gerar plano de desenvolvimento e capacitação efetiva de recursos humanos, como fator essencial de qualidade institucional; realizar pesquisa com as instituições que aplicaram as diferentes metodologias de “Qualidade”, buscando objetivamente avaliar “o antes e o depois” da aplicação, obtendo um panorama nacional dos avanços da gestão em saúde; incrementar ações de controle e avaliação de Programas de Qualidade voltados para a gestão da melhoria dos serviços do sistema de saúde. Alguns aspectos são relevantes na Gestão de Qualidade Total (GQT), que são: o controle, o processo, o produto e os clientes (itens que serão discutidos mais adiante). Analisar a administração em serviços de saúde, destacando-se as funções e responsabilidades da gerência, assim como as etapas para a implementação da qualidade nos serviços de saúde, desde os princípios básicos até a sua prática efetiva, tem sido o grande desafio, conforme afirma Mezomo (1995). 8 Partindo do desenvolvimento da teoria da administração científica, no final do século XIX, passando pelas teorias clássicas da administração, as teorias neoclássicas até chegar às teorias mais atuais, é possível fazer uma revisão das principais abordagens teóricas da administração. Destacam-se suas contribuições e limitações para a organização do trabalho na sociedade, bem como a influência dessas teorias para a organização do trabalho no setor saúde. Resgatar as teorias administrativas em seus aspectos positivos e negativos contribui para a fundamentação de escolhas e para experimentação de novos modelos. O Quadro apresenta os teóricos e a evolução do conceito de Qualidade ao longo dos tempos. QUADRO - PRINCIPAIS TEÓRICOS E A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE QUALIDADE AO LONGO DOS TEMPOS Teórico Período Conceito Frederick W. Taylor “Administração Científica” 1856-1915 Fundamenta-se na aplicação de métodos da ciência positiva, racional e metódica aos problemas administrativos, a fim de alcançar a máxima produtividade. Henri Fayol “Teoria Clássica da Administração” (ou Fayolismo) 1910 Propôs a racionalização da estrutura administrativa e a empresa passa a ser percebida como uma síntese dos diversos órgãos que compõe a sua estrutura. Estabeleceu os princípios da boa administração, sendo dele a clássica visão das funções do administrador: organizar, planejar, coordenar, comandar e controlar. Henry Ford “Fordismo” 1913 Introduziu em sua fábrica de automóveis os princípios da linha de montagem, da produção em série e em alta escala, até hoje observados nas indústrias modernas. O modelo taylorista/fordista difundiu-se no mundo e influenciou fortemente todos os ramos da produção. Shewhart 1939 Desenvolveu estudos sobre Controle de Processos e Amostragens, com base no seu trabalho na Bell Telephone Co., hoje conhecido como Controle Estatístico de Qualidade. 9 Ishikawa Entre as décadas de 1960 e 1990. Introduziu a ideia dos Círculos de Controle da Qualidade (CCQ) que pode ser definido como “sendo um pequeno grupo voluntário de funcionários pertencentes ou não à mesma área de trabalho, treinados da mesma maneira, com compreensão da mesma filosofia e os mesmos objetivos, e que tentam melhorar o desempenho, reduzir os custos, aumentar a eficiência, etc., especialmente no que se refere à qualidade dos seus produtos ou de seu trabalho”. Crosby Considera a qualidade como a conformidade do produto/serviço com as exigências. Deming Refere que a qualidade deve ter como objetivo as necessidades do usuário, necessidades presentes e futuras. Juran Relaciona a adequação do produto/serviço à finalidade ou uso. Feigenbaum Considera o total das características de um produto/serviço referentes a marketing, engenharia, manufatura e manutenção, pelas quais o produto ou serviço, quando em uso, atenderá às expectativas do cliente. FONTE: Matos e Pires, 2006. É factível compreender que, a partir da década de 80, as alternativas administrativas, de gestão e organização do trabalho que estão associadas, frequentemente, à superação dos modelos tayloristas/fordistas de organização do trabalho, podem favorecer a participação dos trabalhadores nos processos de tomada de decisão. Destacam-se a cooperação; a valorização de grupos de trabalho; a diminuição de níveis hierárquicos; autogerenciamento por setores e áreas; delegação de tarefas, responsabilidade compartilhada e transparência nas decisões. No entanto, as teorizações das diversas correntes administrativas acerca da organização do trabalho encontram-se ainda bastante centradas no aumento da produtividade e eficiência da organização, permanecendo o trabalhador em segundo 10 plano, embora, nem sempre, esta condição seja explicitada. A discussão acerca dos modelos participativos traz uma contribuição diferenciada no sentido de aliar produtividade e participação. Porém, os modelos clássicos de gerenciamento influenciaram a administração de recursos humanos em saúde, o que, nas últimas décadas, tem levado as organizações a resultados insatisfatórios e ineficientes, pois não respondem às necessidades atuais (MATOS; PIRES, 2006). Para D'Innocenzo et al. (2010), a forma de gerir a qualidade nas organizações de saúde vem causando ao longo dos últimos anos uma inquietude nos gestores, dirigentes e nos profissionais da área de saúde. Isto reflete o descompasso existente entre as práticas de gestão, as exigências das organizações e as necessidades dos profissionais. Para minimizar essa disritmia exige-se o conhecimento de conceitos sobre indicadores, auditorias e certificações, e das várias ferramentas de qualidade para ajudar a compreender e a complementar as práticas renovadas na gestão das organizações de saúde enquanto prestadoras de serviços à população. As organizações de saúde precisam compreender a necessidade de mudar, avaliar, certificar e acreditar para assim responder às expectativas e necessidades dos clientes, encantando-os em um processo contínuo. Assim, os serviços de saúde iniciaram o engajamento no movimento pela qualidade já existente em outras áreas de atuação. Avedis Donabedian (ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA, 1998; DONABEDIAN, 1980), pediatra armênio radicado nos Estados Unidos, foi o pioneiro no setor de saúde, sendo o primeiro autor que se dedicou de maneira sistemática a estudar e publicar sobre qualidade em saúde. Esse autor absorveu da teoria de sistemas a noção de indicadores de estrutura, processo e resultado, adaptando-os ao atendimento hospitalar, abordagens que se tornaram um clássico nos estudos de qualidade em saúde (D‘INNOCENZO; ADAMI; CUNHA, 2006). A discussão sobre qualidade permite que se amplie o campo conceitual e facilite a operacionalização da avaliação da qualidade dos serviços de saúde (ACURCIO, 1991). Donabedian (1990) ainda estabeleceu sete atributos como os pilares de sustentação que definem a qualidade em saúde, quais sejam: a eficácia, efetividade, eficiência, otimização dos recursos, aceitabilidade, legitimidade e equidade. Também fazem parte de atributos da qualidade: equidade, acessibilidade,11 adequação e qualidade técnico-científica (VUORI, 1993). São citadas, ainda, a continuidade dos cuidados e a comunicação entre o profissional e o usuário (ACURCIO, 1991). Mais adiante serão apresentados e discutidos os princípios norteadores à Gestão da Qualidade e às práticas relacionadas à Garantia da Qualidade em Serviços de Saúde, ao Gerenciamento por Processos, ao Gerenciamento de Risco Clínico e Não Clínico, à Gestão de Pessoas para a Qualidade e o Processo de Implantação do Modelo de Gestão da Qualidade. GARANTIA DA QUALIDADE EM SERVIÇOS DE SAÚDE Com o objetivo de alcançar os mais elevados padrões assistenciais, os hospitais buscam iniciativas que respondem as necessidades dos clientes, e por isso a qualidade tornou-se um fator significativo, conduzindo instituições para os mercados nacionais e internacionais, buscando êxito organizacional e crescimento (BONATO, 2011). Nos serviços de saúde a qualidade pode ser percebida pelos clientes por meio dos seus componentes tangíveis e intangíveis. A tangibilidade de um serviço é aquilo que o cliente vê e sente, como a aparência física do local. Os componentes intangíveis são amabilidade e cordialidade, ou seja, os que estão diretamente ligados ao relacionamento da equipe profissional com os clientes (ANSUJ; ZENCKNER; GODOY, 2005). Segundo Las Casas (1999 apud FADEL; REGIS FILHO, 2009), as dimensões da qualidade em serviços são: confiabilidade – é importante para prestar serviços de qualidade, gerada pela habilidade de fornecer o que foi prometido de forma segura e precisa; segurança – clientes querem dos prestadores de serviços a habilidade de transmitir segurança e confiança, caracterizada pelo conhecimento e cortesia dos funcionários; aspectos tangíveis – os aspectos físicos que circundam a atividade de prestação de serviço também têm sua importância como fator de influência, como instalações, equipamentos, aparência dos funcionários etc.; 12 empatia – grau de cuidado e atenção pessoal dispensado aos clientes, como a capacidade de se colocar no lugar dos outros e, também, a receptividade, que é a disposição de ajudar os clientes e fornecer serviços com presteza. Fadel e Regis Filho (2009) concluem que: [...] o conhecimento da percepção dos clientes possibilita a elaboração de uma caracterização do serviço prestado, objetivando, por exemplo, subsidiar a construção dos instrumentos de avaliação para que seja possível correlacionar a qualidade percebida e a qualidade avaliada do serviço prestado. A avaliação permite que as organizações conheçam detalhadamente o seu desempenho, considerando os critérios de excelência. Não se trata apenas de organizar os serviços para a demanda, mas de ordená-los para as necessidades dos clientes que são e serão sempre sua razão de ser. (FADEL; REGIS FILHO, 2009) Neste sentido, a garantia da qualidade estará diretamente associada à elaboração de estratégias tanto para avaliação deste predicado quanto para implementação de padrões organizacionais (clínicos ou não) por meio de programas locais ou nacionais. A atenção deve estar direcionada para os atributos da qualidade, considerando o desejo de qualquer organização à sobrevivência e à satisfação dos clientes. Segundo Dellaretti Filho e Drumond (1994), a única forma de garantir a sobrevivência das organizações é buscar imprimir nelas os atributos da qualidade: moral, segurança, qualidade intrínseca e entrega e custo. Esses atributos podem ser mais bem explicados na figura a seguir. 13 FIGURA - DIMENSÕES DA QUALIDADE FONTE: Adaptada de Dellaretti Filho; Drumond, 1994. A partir da ilustração compreende-se que a “Moral” representa a base de uma empresa, ou seja, o alicerce, e possui relação direta com o clima organizacional e o nível de motivação dos colaboradores; e, os pilares de sustentação de uma empresa visam atender às expectativas dos clientes ou, “Preferência do Cliente”, e apoiam-se na qualidade intrínseca, entrega, custo e segurança. O processo de garantia da qualidade deve ser catalisado a partir do pressuposto de que “o produto nos serviços de saúde é o resultado do contato direto entre profissionais e pacientes e das ações e interações que constituem essa relação” (SERAPIONI, 2000, p. 209). A amplitude da qualidade nos serviços de saúde deve ser compreendida e aplicada sob a lógica do gerenciamento de processos, do gerenciamento de risco e da gestão de pessoas, em suas distintas dimensões. A garantia da qualidade 14 tornar-se-á evidente a partir da utilização de parâmetros de desempenho, muitas vezes classificados e monitorados por indicadores, por meio de processos de auditorias. Ratifica-se a necessidade de parâmetros legítimos e validados para uma avaliação confiável. Tomando como norte os processos de avaliação para garantia da qualidade, pode-se dizer que os selos conferidos por meio desses processos traduzem positivamente os resultados obtidos por estes indicadores e, contudo, o desempenho do serviço ou da empresa. Cabe destacar que a metodologia de avaliação escolhida pela empresa é livre e voluntária, e não está condicionada a nenhum tipo de obrigação fiscal. Nos serviços de saúde, estes processos de avaliação, geralmente, recebem o nome de acreditação (ver Glossário) ou, simplesmente, certificação (ver Glossário), cujo objetivo é de estimular a melhoria contínua da qualidade da assistência, permitindo, desta forma, que os hospitais acreditados sigam critérios básicos comuns, conquistando a confiança dos usuários, independente do local em que estes sejam atendidos. No Brasil, principalmente a partir dos anos 90, instituições públicas e privadas estão desenvolvendo estratégias no sentido de adotarem programas de garantia da qualidade (MALIK; TELES, 2001). No Estado de São Paulo, em 1991, foi criado o Programa de Controle da Qualidade Hospitalar (CQH), patrocinado pela Associação Paulista de Medicina (APM) e pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP). Esta proposta tem apoiado os esforços da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) para implantar no Brasil um Programa Nacional de Acreditação Hospitalar contando com a adesão de aproximadamente cem hospitais do Estado e tem como objetivo principal realizar avaliação do atendimento médico-hospitalar prestado à comunidade, de maneira responsável, isenta e transparente, possibilitando a adoção de um novo modelo de serviço e introdução de instrumentos gerenciais que conduzam a maior eficácia e eficiência (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 1995). Iniciativas semelhantes às do CQH ocorreram em outros estados brasileiros alinhados aos princípios do Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar. 15 GERENCIAMENTO POR PROCESSOS O planejamento, a revisão de processos e o acompanhamento de performance, assim como melhorias constantes, passaram a ser vitais para o posicionamento das organizações no mercado. Sistemas de Qualidade foram adotados na busca de competitividade, de eficiência e eficácia dos processos e dos altos índices de desempenho com resultados de sucesso. Esse movimento refletiu mudanças na gestão das organizações, cujo olhar dirigiu-se à reestruturação, inovação e para a busca de excelência, por meio de práticas mais racionais e focadas nas demandas dos clientes. Dentre as mudanças requeridas, destacam-se: a visão sistêmica da organização dos seus processos institucionais; a transformaçãodos indivíduos, com ações dirigidas por novos paradigmas, buscando autorrealização e inovação; estímulo ao desenvolvimento de novas capacidades, da criatividade e alta produtividade, mobilizando sujeitos mais capazes, criativos e produtivos. Verifica-se, por parte das organizações, tendência à valorização dos talentos humanos para atuarem como agentes participativos do (re)planejamento e da ressignificação do contexto do trabalho vigente. Constata-se, portanto, que os profissionais vêm sofrendo influências diversas. Entre elas, o trabalho que contribuiu para mudanças no plano profissional e pessoal, exigindo do trabalhador postura ativa, participativa e transformadora, afetando diretamente as relações com as organizações e o modo de fazer (BONATO, 2011). De acordo com Bittar (1999) um dos primeiros passos para o entendimento da gestão de processos é o estudo do modelo de Fleming. FIGURA - MODELO DE FLEMING FONTE: Fleming (1981) apud Bittar (1999). 16 Fleming (1999) o define como toda tecnologia envolvida nos cuidados ao paciente, e também pode ser definido como um conjunto de atividades de trabalho inter-relacionados que se caracteriza por requerer certos insumos e tarefas particulares, implicando em um valor agregado com vistas a obter resultados. Donabedian (1980) absorveu da teoria de sistemas a noção de indicadores de estrutura, processo e resultado, conforme ilustra a Figura 3, adaptando-os ao atendimento hospitalar, abordagens que se tornaram um clássico nos estudos de qualidade em saúde, sendo: O componente “Estrutura” corresponde às características relativamente estáveis e necessárias ao processo assistencial, abrangendo a área física, recursos humanos (número, tipo, distribuição e qualificação), recursos materiais e financeiros, sistemas de informação e instrumentos normativos técnico-administrativos, apoio político e condições organizacionais. O componente “Processo” corresponde à prestação da assistência segundo padrões técnico-científicos, estabelecidos e aceitos na comunidade científica sobre determinado assunto e, a utilização dos recursos nos seus aspectos quanti- qualitativos. Inclui o reconhecimento de problemas, métodos diagnósticos, diagnóstico e os cuidados prestados. O componente “Resultados” corresponde às consequências das atividades realizadas nos serviços de saúde, ou pelo profissional em termos de mudanças verificadas no estado de saúde dos pacientes, considerando também as mudanças relacionadas a conhecimentos e comportamentos, bem como a satisfação do usuário e do trabalhador ligada ao recebimento e prestação dos cuidados, respectivamente. Bittar (1999) apresenta um modelo acerca do meio ambiente ou meio, em que demonstra os inúmeros fatores com suas variáveis interferindo no processo de produção de programas e serviços. Observe ainda que esses processos necessitam de planejamento, organização, coordenação/direção, onde necessidades e desejos são levantados e posteriormente atendidos por intermédio de programas e serviços. 17 Em síntese, Nogueira (2003) cita “a importância de seguir um processo, ou seja, um conjunto de meios para se chegar a um fim”. O processo seria uma sequência de ações (passos) que norteiam as atividades a serem desenvolvidas. Ao conhecer e controlar os processos menores pode-se localizar os problemas e agir sobre a causa fundamental. GERENCIAMENTO DE RISCO CLÍNICO E NÃO CLÍNICO De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a qualidade da assistência à saúde envolve um conjunto de elementos que incluem: um alto grau de competência profissional, a eficiência na utilização dos recursos, um mínimo de riscos e um alto grau de satisfação dos pacientes e um efeito favorável na saúde (OMS, 1993 apud D‘INNOCENZO; ADAMI; CUNHA, 2006, p. 85). Considerando a prerrogativa da OMS, o gerenciamento de risco em serviços de saúde e, sobretudo no ambiente hospitalar, deve ser imperativo, garantindo ao cliente, tanto interno quanto externo, uma assistência livre de riscos e danos. É comum a Gestão de Risco comportar a Farmacovigilância, a Tecnovigilância, a Hemovigilância e a vigilância de Saneantes. Observa-se em algumas instituições a formação de uma Comissão de Gestão de Risco, muitas vezes, compreendida e/ou denominada de Segurança do Paciente. Rothbarth (2011) afirma que esse programa prevê o gerenciamento de todos os riscos descritos no Manual Brasileiro de Acreditação e, assim, é subdividido em outros projetos. O gerenciamento de risco é recente na realidade brasileira, entretanto, observa-se a preocupação das instituições em aderir a esta prática que busca garantir a segurança do paciente, dos profissionais, da instituição e do meio ambiente. Neste sentido, aborda não somente os riscos assistenciais, mas prevê os ocupacionais, institucionais, administrativos e civis, implicando sua identificação e gerenciamento, mediante ações corretivas e/ou preventivas. A Análise de Risco é o processo sistemático de Identificação, Avaliação e Tratamento das possíveis perdas ou eventos, sejam elas relacionadas a questões financeiras (diminuição da rentabilidade), patrimoniais (quebra, perda de capital) ou 18 de prestígio profissional (perda da imagem do estabelecimento, pela sinistralidade) que permanentemente qualquer instituição de saúde está exposta todos os dias do ano, durante as 24 horas (MARIONA, 2000). A ocorrência de um evento deverá ser analisada por uma comissão, geralmente vinculada à gestão de risco hospitalar, que deverá se desenvolver por meio de um mapeamento sério e minucioso, na tentativa de buscar as causas do evento. Devem-se buscar as causas e não exatamente os “culpados”. Outro item importante é que o evento pode ou não estar relacionado a uma não conformidade, mas se as medidas preventivas forem suficientes, nem toda não conformidade produzirá um evento. Da mesma forma, nem sempre os eventos atingirão o paciente – convencionalmente estes eventos são chamados de near miss – e mesmo quando atingirem nem sempre produzirão danos, porém na ocorrência de danos denominamos o evento como adverso e, desta forma, algumas medidas deverão ser tomadas, como a notificação às Agências Reguladoras. Compreenda o termo evento como um incidente definido como uma circunstância que poderia ter resultado, ou resultou, em dano desnecessário ao paciente. Independente da ocorrência de dano, os eventos devem ser notificados à Gestão do Risco em nível institucional, que promoverá o mapeamento e irá construir junto à equipe envolvida um plano de ação. Cabe à Gestão do Risco o acompanhamento do plano de ação. Mais ainda, a Gestão de Risco deve estar instrumentalizada de ferramentas para detecção de incidentes e, principalmente, munida de know-how (ver Glossário) para estabelecimento de ações que possam prevenir ou moderar a progressão de um incidente causar dano ao paciente, o que chamamos de “fator de mitigação”. Neste sentido, o gerenciamento de risco deve fazer parte de um programa maior, que é o Programa de Segurança do Paciente. Esse programa é parte das propostas de Gestão da Qualidade. Um programa de Segurança do Paciente deve apresentar princípios básicos em Segurança do Paciente, incluindo o entendimento dos Fatores Humanos e o Erro na Interface Homem-Máquina, de modo a criar uma Cultura de Segurança, observando a relação Segurança versus Qualidade. 19 Deve-se ter atenção especial ao mapeamento de erros e falhas, ou até mesmo “quase-falhas”, pois estes estão relacionados a uma cascata de eventos e não somente a uma determinada pessoa. O fator humano deve ser analisado na produçãode um incidente, mas como uma das dimensões e não somente como fator isolado e único. A criação de uma atmosfera de culpa e punição de colaboradores envolvidos na produção de um incidente gera uma cultura de medo que, naturalmente, faz com que haja subnotificação dos eventos, o que, consequentemente, afeta a qualidade. Observe o quadro a seguir que traz alguns dos termos aplicados à Segurança do Paciente. QUADRO - TAXONOMIA E CLASSIFICAÇÃO DOS EVENTOS FONTE: Classificação Internacional para Segurança doPaciente/Organização Mundial de Saúde (IPCS/OMS) A Estrutura Conceitual da Classificação Internacional para Segurança do Paciente (CISP) visa caracterizar os incidentes por meio de classes de conceitos. Estas classes de conceitos conseguem trazer todas as características do incidente à 20 tona, e mais ainda, permitem sua análise e fundamentação para melhorias no sentido de diminuir os riscos de novos incidentes. De modo geral, a análise de risco e o compromisso institucional com a segurança do paciente são fatores inerentes a uma política de qualidade, que dependem do estabelecimento de uma cultura de qualidade organizacional. Os gestores necessitam de estratégias claras, confiáveis e validadas e os colaboradores precisam compreender a estrutura, devem ser coparticipantes das ações e entender que o processo visa melhorias contínuas. Gerenciamento de risco, clínico ou não, utilizam indicadores com metas predefinidas que fornecerão informações para tomada de decisão. FIGURA - ESTRUTURA CONCEITUAL FONTE: Classificação Internacional para Segurança do Paciente/Organização Mundial de Saúde(IPCS/OMS) 21 Cabe destacar que o Gerenciamento de Risco deve ter um fluxo de notificação que seja claro e esteja amplamente divulgado na instituição. Importante que este sistema de notificação forneça aos colaboradores a garantia do sigilo, a fim de evitar exposições desnecessárias e punições descabidas. Os formulários ou fichas de notificação devem ser de fácil preenchimento e devem estar acessíveis a todos, independente do nível hierárquico. A proposta é que qualquer colaborador possa em qualquer tempo fazer a notificação. Caberá à Gestão do Risco o mapeamento. A título de exemplo, segue um modelo de ficha de notificação onde será definido o plano de ação. FIGURA - FICHA DE NOTIFICAÇÃO DE EVENTOS 22 São muitas as ferramentas e metodologias para mapear o evento/incidente. Todas buscam de alguma forma compreender os múltiplos fatores envolvidos na gênese do evento, assim conhecer as fragilidades do processo. O plano de ação terá como ponto de ataque as fragilidades neste processo, seja para corrigir o problema (ação reativa) ou evitá-lo (ação pró-ativa). O ponto chave da questão é tomar consciência das fragilidades e estabelecer intervenções de forma compartilhada e pactuada com os diferentes atores do processo. São premissas importantes à análise do evento: O erro/acidente nunca é unifatorial; é sistêmico e, portanto, não é uma questão de se procurar um culpado, mas de encontrar a falha do processo; e, os perigos estão latentes no sistema, basta que haja uma falha em barreiras para que ele se transforme em um evento. Uma forma simples para compreender o aspecto multifatorial é o entendimento do modelo conhecido como “Modelo do Queijo Suíço”, proposto por James Reason (2000). Na prática, as barreiras defensivas são como fatias de queijo suíço, com muitos furos. Somente quando os furos (erros latentes), nas várias camadas defensivas, estão momentaneamente dispostos em uma mesma linha permite-se que a trajetória do acidente venha a ocorrer. 23 FIGURA - MODELO DO QUEIJO SUÍÇO FONTE: Reason, 2000. Esse modelo visa substituir o jogo da culpa e da vergonha por uma abordagem conhecida como “modelo mental sistêmico”, que pressupõe à condição humana o erro, isto é, humanos erram – e conclui que a segurança depende da criação de sistemas que antecipem o erro. Tentar alcançar o comportamento humano perfeito e mais ainda, a tentativa de encolher os buracos do queijo (erros latentes), assim como criar múltiplas camadas sobrepostas (barreiras), podem diminuir a probabilidade de que os “buracos” se alinhem novamente. Observe no quadro a seguir a proposta do Sistema de Gerenciamento e Vigilância do Risco do Hospital Albert Einstein. 24 QUADRO - DECÁLOGO DE SEGURANÇA FONTE: Hospital Albert Einstein, Gerenciamento e Vigilância do Risco, Divisão de Prática Assistencial, Qualidade, Segurança e Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.einstein.br/Ensino/eventos/Documents/sistema-einstein-de- gerenciamento-e-vigilancia.pdf>. A gestão do risco pode ser estabelecida no contexto pró-ativo, bem como reativo, e para cada uma destas categorias se inserem as seguintes vertentes: 1) estabelecimento do contexto de gestão de risco pró-ativo (mapeamento de riscos): análise geral de riscos; identificação dos riscos; análise dos riscos; tratamento dos riscos; 25 estabelecimento de aceitabilidade; promoção de mudanças no contexto; monitoramento da eficácia. 2) estabelecimento do contexto de gestão de risco reativo (gestão de eventos adversos): sistema de notificação de eventos adversos; classificação de eventos adversos; investigação; análise; tratamento dos riscos; estabelecimento de aceitabilidade; promoção de mudanças no contexto; monitoramento de eficácia; processo de disclosure; processo de monitoramento de reincidências. Dentre as ferramentas para a Gestão de Risco podem ser elencadas as seguintes, de acordo com o objetivo: 1) busca de informação: levantamento de risco (Bow-tie, FMEA, COSO, mapeamento de processo, etc.); investigação de evento adverso (DEPOSE, Tripod); análise das causas (ACR; ferramentas da qualidade, etc.); melhoria de processo (PDCA, Lean, Kaizen, etc.). 2) análise de riscos: classificação dos riscos segundo frequência e gravidade; matriz de esforço; 26 ferramentas epidemiológicas e estatísticas. Essas ferramentas devem ser selecionadas de acordo com as necessidades do serviço/situação, considerando a aplicabilidade e as limitações de cada uma. GESTÃO DE PESSOAS PARA A QUALIDADE É impossível falar de gerência de qualidade sem considerar, em primeiro lugar, desenvolvimento de Recursos Humanos. As organizações que conhecemos, envolvidas no processo de implantação deste tipo de atitude (entendendo, portanto, gerência de qualidade, acima de tudo, como atitude), defrontam-se com a necessidade de desenvolver um novo “pacto” interno, em que a valorização do trabalhador é um passo inicial e pré-requisito para qualquer seguimento. Desta forma, também se conhecem organizações que não conseguem desencadear o processo por recearem os investimentos necessários. A administração da qualidade não é receita, nem deve ser encarada corno modismo. Por isto, seguir receitas é arriscado, quando não danoso. A criatividade deve ser a bússola da organização, se e quando esta considerar oportuno mudar sua cultura para oferecer serviços mais adequados às necessidades percebidas. As técnicas já desenhadas são, sem dúvida, úteis, mas não são mais que técnicas. Neste caso, o fundamental são os princípios, entre os quais oséticos, que devem sair dos discursos e chegar às práticas (MALIK, 1992). Os recursos humanos de uma instituição representam pontos-chave para a Gestão da Qualidade, como possíveis agentes de transformação, e principais fatores de melhoria e garantia da qualidade onde desenvolvem sua prática profissional (PALADINI, 2007). Além disso, a qualidade requer mudanças comportamentais por parte dos profissionais, por meio do conhecimento e sua disseminação, desenvolvimento de habilidades e consequente modificação de atitudes (OLIVEIRA, 2009). A mudança implica no desenvolvimento da consciência dos profissionais, bem como de todos os envolvidos, por que são os profissionais que mudam a trajetória da instituição relacionada à qualidade (MEZOMO, 2001). 27 É preciso considerar que o comprometimento e envolvimento dos recursos humanos dependem de vários fatores, tais como motivação, capacitação e metodologia de trabalho. Partindo-se da premissa de que a motivação é algo pessoal e interno, é preciso criar ambientes de motivação, bem como estabelecer mecanismos de reconhecimento e recompensas àqueles que obtêm os melhores (ROTHBARTH, 2011). A adoção de modelos mais democráticos e participativos implica em “mexer em esquemas de poder” e isto envolve uma gama de trabalhadores no meio hospitalar. Qualquer mudança na estrutura de gerenciamento destas organizações implica em negociações com os diversos segmentos para que se concretize (MATOS; PIRES, 2006). O programa de qualidade deve ter objetivos claros e metas alcançáveis. A metodologia escolhida pela instituição, que geralmente está relacionada a um processo de certificação ou acreditação, deve ser amplamente divulgada. Os colaboradores, ou seja, os recursos humanos devem ser entendidos na lógica do capital de maior relevância neste processo, e devem receber tratamento ético. Os gestores devem ter cuidado com as cobranças e a produção de ambientes sob alta pressão e estresse. A mudança de comportamento por parte dos colaboradores dependerá daquilo que a instituição cultivar. Os recursos humanos necessitarão de treinamento e capacitação para ideal compreensão das propostas da “qualidade”. Quanto à capacitação, tem-se nos treinamentos a busca da sensibilização e envolvimento dos profissionais. Autores (KURGANT, 2005; OLIVEIRA, 2009) destacam que para um bom desempenho da Gestão da Qualidade o treinamento é imprescindível, especialmente para a média gerência e a área operacional. Isso por que a implantação de processo de qualidade e a obtenção de seu sucesso estão atreladas, em parte, ao preparo das pessoas para o desenvolvimento de ações e estabelecimento de uma cultura da qualidade. Há que se estabelecer, porém, estratégias adequadas à estruturação de programas da qualidade voltados para a capacitação e produção de benefícios para os funcionários, os quais não se restrinjam, exclusivamente, a prêmios em dinheiro ou promoções. Outros recursos podem ser utilizados, tais como: destaques para a 28 unidade que atingiu as metas, a exemplo do que é observado nos Círculos de Controle da Qualidade, cujas premiações acontecem sob a forma de presentes, certificados e diplomas; ou pequenas premiações em dinheiro para custear algumas despesas do próprio grupo (CAMPOS, 2004). É muito comum a criação de “times”, onde cada grupo fica responsável por um conjunto de ações, abrangendo vários aspectos, como: acompanhamento de indicadores, treinamento, auditorias internas. O importante na formação de times é identificar as lideranças, desenvolver competências e habilidades, estimular o trabalho em equipe e compartilhar as responsabilidades. Naturalmente, cria-se um clima de trabalho mais harmônico e as poucos a cultura de qualidade vai sendo impregnada na rotina de trabalho. A realização de jogos interativos, atividades lúdicas e, por exemplo, a criação de um dia da semana dedicado à qualidade, em que os colaboradores utilizem assessórios que remetam à política de qualidade (camisa institucional, botons/broches, boné etc.) e realizem propostas vinculadas ao programa, tem sido estratégias de sucesso em alguns hospitais, com resultados positivos. O importante é envolver e sensibilizar os colaboradores para os avanços que um programa de qualidade imprime diretamente na assistência prestada ao cliente e os benefícios associados também às rotinas de trabalho. Os serviços de recursos humanos devem estar preparados para inovar e criar atividades de sensibilização e capacitação. Igualmente, o próprio serviço deve possuir indicadores com metas bem definidas que possam avaliar a sua progressão e desenvolvimento dentro do programa de qualidade. Dentre esses indicadores destacam-se os relacionados à Educação Continuada: Treinamentos oferecidos, adesão dos colaboradores aos treinamentos, eficácia dos treinamentos. E os relacionados ao departamento de pessoal, recrutamento e seleção de pessoas: programa de retenção de talentos, absenteísmos, turnover, dentre outros. Cabe também à Gestão de Recursos Humanos a implantação de um sistema de comunicação eficaz e de relacionamento interpessoal. Um exemplo interessante e que pode ser mediado pela Gestão de Recursos Humanos é a formação de uma comissão de qualidade, constituída por colaboradores de diferentes áreas, pessoas estas identificadas pelo desempenho, 29 habilidades, compromisso, liderança, dentre outros atributos, e que desejam trabalhar em prol da qualidade, onde assumirão competências gerenciais para tomada de decisão e, futuramente, poderão formar multiplicadores em suas áreas de abrangência. Desta forma, a cultura de qualidade vai se disseminando em toda instituição, de forma gradativa e natural. PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO MODELO DE GESTÃO DA QUALIDADE Conforme já foi discutido nos tópicos anteriores, a implantação de um modelo de qualidade em uma instituição hospitalar demanda tempo e investimentos tanto financeiro como de capital humano. As organizações hospitalares e de saúde de um modo geral, por si só, são complexas. A assistência ao cliente engloba o envolvimento de equipes multidisciplinares em uma estrutura que comporta sistemas e serviços altamente especializados. Por outro lado, os serviços de apoio a essa estrutura exigem extremo zelo e segurança quanto às práticas e técnicas aplicadas. Neste sentido, um modelo de qualidade irá garantir a segurança necessária à excelência na prestação dos serviços oferecidos. As instituições hospitalares são livres para escolher o modelo que melhor convenha a sua estrutura e também a sua missão, visão e valores institucionais. A busca por um selo de qualidade em instituições hospitalares tem sido cada vez maior, tanto pela preocupação com a oferta de serviços de qualidade como pela competitividade de mercado. A metodologia pode ser em nível de certificação ou acreditação hospitalar, nacional ou internacional. A seguir, o quadro ilustra as principais metodologias. 30 QUADRO - METODOLOGIAS PARA GESTÃO DA QUALIDADE HOSPITALAR 31 Metodologia Propósito International Organization for Standardization (ISO) A ISO é uma federação mundial atualmente com 90 membros, composta pelos organismos nacionais de normalização da cada país, no Brasil representada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Organização Nacional de Acreditação (ONA) A ONA é uma organização não governamental. Trata- se de pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos e de interesse coletivo, que tem atuação nacional. Tem definido como sua visão se tornar o Sistema Brasileiro de Acreditaçãoe a Organização Nacional de Acreditação até 2010. Aplica as regras do Manual Brasileiro de acreditação Hospitalar. O programa se divide em três níveis. Consórcio Brasileiro de Acreditação de Sistemas e Serviços de Saúde (CBA) O Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA) é o único representante da Joint Commission International (JCI) no Brasil. Avaliadores verificarão a conformidade da estrutura, dos processos e dos resultados obtidos pelo hospital comparados com padrões do manual. Controle de Qualidade Hospitalar (CQH) O CQH é um sistema de informações que visa a avaliar a qualidade do atendimento médico- hospitalar, baseado no registro, na análise de dados, na aferição da adequação dos serviços em conformidades com as suas normas e critérios. Canadian Council on Health Services Accreditation (CCHSA) A Acreditação Canadense tem como foco a segurança do paciente e as boas práticas no atendimento. Prêmio Nacional de Gestão em Saúde (PNGS) O Prêmio Nacional da Gestão em Saúde (PNGS) foi criado em 2003, a partir da iniciativa da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) e do Controle da Qualidade Hospitalar (CQH), com o objetivo de incentivar as organizações da área da saúde a avaliarem e buscarem melhorias contínuas de seus sistemas de gestão. FONTE: Bonato, 2011. 32 Compreender como se efetiva a “Qualidade” e como os diferentes Sistemas de Avaliação são praticados, qual a percepção dos diferentes atores sociais que participam nesse processo, nos diferentes níveis de ação em saúde, é um desafio constante a ser realizado pelo gestor, é o que afirma Bonato (2011). O autor cita também que o planejamento, a revisão de processos e o acompanhamento de performance, assim como melhorias constantes, passaram a ser vitais para o posicionamento das organizações no mercado, onde os Sistemas de Qualidade foram adotados na busca de competitividade, de eficiência e eficácia dos processos e dos altos índices de desempenho com resultados de sucesso. O processo de implantação de um modelo de gestão de qualidade revela-se a partir de um movimento com mudanças na gestão das organizações, dentre as quais se destacam: a visão sistêmica da organização dos seus processos institucionais; a transformação dos indivíduos, com ações dirigidas por novos paradigmas, buscando autorrealização e inovação; estímulo ao desenvolvimento de novas capacidades, da criatividade e alta produtividade, mobilizando sujeitos mais capazes, criativos e produtivos. Conforme discutido anteriormente, verifica-se, por parte das organizações, tendência à valorização dos talentos humanos para atuarem como agentes participativos do replanejamento sob a ótica da qualidade. Bonato (2011) sugere, em seu artigo, algumas recomendações relacionadas à busca pela qualidade, considerando o processo de implantação de um modelo de gestão diferenciado: consolidar e aprofundar a aplicação de metodologias de qualidade para os serviços de saúde; gerar plano de desenvolvimento e capacitação efetiva de recursos humanos, como fator essencial de qualidade institucional; realizar pesquisa com as instituições que aplicaram as diferentes metodologias de “Qualidade”, buscando objetivamente avaliar “o antes e o depois” da aplicação, obtendo um panorama nacional dos avanços da gestão em saúde; incrementar ações de controle e avaliação de Programas de Qualidade voltadas para a gestão da melhoria dos serviços e sistema de saúde. INDICADORES E FERRAMENTAS PARA QUALIDADE 33 Para avaliar a qualidade da assistência é necessário traduzir os conceitos e definições gerais, da melhor maneira, em critérios operacionais, parâmetros e indicadores, validados e calibrados pelos atributos da estrutura, processo e resultados (DONABEDIAN, 1980). INDICADORES HOSPITALARES Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), indicadores são marcadores da situação da saúde, performance de serviços ou disponibilidade de recursos definidos para permitir a monitorização de objetivos, alvos e performances (WHO, 1996). Os indicadores de saúde podem ser de três tipos: resultados (outcomes – situação de saúde ou mortalidade); processos (assistência e gestão de saúde); determinantes (fatores comportamentais e conhecimento público). Os indicadores proporcionam as informações necessárias e mensuráveis para descrever tanto a realidade como as modificações devidas à presença do serviço ou assistência (SARACENO; LEVAV, 1992; GASTAL, 1995). Os principais indicadores, segundo Takashina (2004), são: a) indicadores estratégicos – informam o “quanto” a organização se encontra na direção da consecução de sua visão. Refletem o desempenho em relação aos fatores críticos para o êxito; b) indicadores de produtividade (eficiência) – medem a proporção de recursos consumidos com relação às saídas do processo; c) indicadores de qualidade (eficácia) – focam as medidas de satisfação dos clientes e as características do produto/serviço; d) indicadores de efetividade (impacto) – focam as consequências nos produtos/serviços. Fazer a coisa certa da maneira certa; e) indicadores de capacidade – medem a capacidade de resposta de um processo por meio da relação entre as saídas produzidas por unidade de tempo. 34 A avaliação da situação de saúde de uma comunidade pode ser complementada por coeficientes e índices provenientes de medidas de avaliação hospitalar, também conhecidas como medidas hospitalares ou indicadores hospitalares (LAURENTI et al., 1987). Os indicadores hospitalares são instrumentos utilizados para avaliar o desempenho hospitalar, envolvendo sua organização, recursos e metodologia de trabalho. Os dados coletados nas diversas áreas do hospital, quando relacionados entre si, transformam-se em instrumentos de gestão úteis para a avaliação da assistência prestada, quantidade e tipo de recursos envolvidos, controle dos custos gerados na produção dos serviços e seu grau de resolutividade (APM; CRM/SP, 1992). De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), os indicadores podem ser agrupados nas seguintes categorias: coeficientes hospitalares, coeficientes de mortalidade, coeficientes de morbidade e coeficientes com Autorização de Internação Hospitalar (AIH). Observe o quadro a seguir e visite a página da ANVISA indicada, para conhecer melhor estes indicadores. QUADRO - INDICADORES PARA AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE - Coeficientes hospitalares Censo médio diário; Duração média da internação; Porcentagem de ocupação; Coeficiente de mortalidade hospitalar; Coeficiente específico de mortalidade hospitalar; Coeficiente de necropsia; Taxa de mortalidade neonatal hospitalar (TxMNeH); Taxa de mortalidade pós- operatório (TxMPO); Taxa de cesarianas (TxCe); Taxa de ocupação hospitalar (TxOH); Taxa de produtividade hospitalar (TxPH); Taxa de média de permanência (TxMP); Taxa de mortalidade hospitalar (Tx MH); Taxa de mortalidade operatória; Taxa de pacientes com infecção hospitalar (Tx); Taxa de complicação hospitalar; 35 Taxa de intercorrência obstétricas (TxIO); Índice de renovação ou giro de renovação; Índice intervalo de substituição; Relação funcionários por leito. - Coeficientes de Mortalidade Coeficiente de mortalidade materna; Coeficiente de mortalidade infantil tardia ou pós-neonatal; Coeficiente de mortalidade neonatal; Coeficiente de mortalidade infantil; Coeficiente geral de mortalidade. - Coeficientes com AIH Índice de gastos com hospitalização por faixa etária (e/ou sexo, geral ou por causa); Índice de hospitalização por faixa etária(e/ou sexo, geral ou por causa); Taxa de utilização por faixa etária (e/ou sexo, geral ou por causa); Mortalidade hospitalar geral ou por alguma causa ou procedimentos específicos; Utilização de UTI (ou insumos especiais); Proporção de internação por causa ou procedimento selecionado; Valor médio da internação, geral ou por alguma causa específica; Tempo médio de permanência ou por alguma causa específica. - Coeficientes de Morbidade Coeficiente de incidência; Coeficiente de prevalência; Coeficiente de letalidade. FONTE: ANVISA. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/avalia/indicadores/index.htm#3>. Ainda de acordo com a ANVISA, uma ressalva a ser considerada é a grande dificuldade existente em definir e interpretar gold standards para a performance de hospitais. A alternativa é acompanhar indiretamente o desempenho ao longo do tempo, na própria instituição e comparativamente a outros hospitais, por meio de indicadores. 36 A critério da organização hospitalar outros indicadores poderão ser acompanhados para avaliação do desempenho e da qualidade dos serviços oferecidos. E, dependo da metodologia de avaliação da qualidade escolhida pela empresa, alguns indicadores poderão ser sugeridos para monitoramento de parâmetros que possam ser considerados essenciais. Como exemplos, podem ser citados os indicadores relacionados à qualificação e educação continuada de recursos humanos, que dependendo da abordagem poderão ser solicitados e acompanhados. Observe no quadro a seguir os indicadores de educação continuada acompanhados por uma rede hospitalar, cuja metodologia escolhida foi a Joint Commission International (JCI), organização americana com sede nos Estados Unidos da América e não governamental que se dedica à acreditação de padrões de qualidade em serviços de saúde desde 1953. QUADRO - INDICADORES RELACIONADOS À EDUCAÇÃO CONTINUADA EM UM HOSPITAL ÚM. ITEM DE CONTROLE FREQ. UNIDADE FÓRMULA OBSERVAÇÕES /FONTE 1 Tempo Médio de Seleção Mensa l Dias (Tempo 1 + Tempo 2 + Tempo n) / n Recursos Humanos 2 Turn Over de 90 dias Mensa l % (Quant. de saídas com 90 dias) / (Quant. de admissões nos 90 dias) x 100 3 Índice de Satisfação do colaborador com o treinamento Mensa l % (Quant. respostas satisfatórias / total de respostas) x 100 Amostragem. Média de todos os treinamentos. 37 4 Índice de Eficácia do Treinamento Mensa l % [ (Pós Teste – Pré- teste) / Pré-teste ] x 100 Média para todos os treinamentos aplicáveis 5 Horas x homem de treinamento Mensa l h/homem [Somatório (horas do treinamento x participantes)] / Quant. funcionários Evolução mensal com consolidação anual 6 Índice de treinamentos realizados ( em relação ao plano) Mensa l % Quantidade de treinam realizados / Quantidade de treinam previstos x 100 Evolução mensal com consolidação anual 7 Índice de Pessoal contemplado na LNT (Levantamento de Necessidades de Treinamento) Anual % (Quant. Pessoal na LNT / Quant. Total de Pessoal Enfermagem) x 100 ____ 8 Custo do Setor Mensa l R$ Soma dos custos nos diversos centros de custo do setor ____ 9 Média de Candidatos participantes no final dos processos de seleção Mensa l Quantidad e Somatório (quant. de participantes por processo) / quant. de processos _____ 10 Quantidade de currículos válidos no banco reserva Mensa l Quantidad e Quantidade de currículos válidos existentes no banco reserva _____ FONTE: Metodologia Internacional de Acreditação da JCI. 38 O mapa de indicadores deverá ser planejado de acordo com o planejamento estratégico da empresa. As metas deverão ser definidas com base em um recorte histórico de acompanhamento ou em padrões aceitos e validados por instituições conhecidas. A organização e integração desses indicadores, assim como o monitoramento das metas, serão discutidas no próximo tópico, quando falaremos dos sistemas de informação e do painel de bordo de um hospital. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO E PAINEL DE BORDO DE UM HOSPITAL O baixo custo de hardware e a oferta de diversos softwares especializados vêm despertando a comunidade médica para a importância da informática, fazendo-lhe ver como ela pode aumentar a sua produtividade e, consequentemente, os seus benefícios. Apesar disso, os investimentos para se desenvolver ou implantar um SIH em um hospital de médio ou grande porte ainda são consideravelmente altos em equipamentos, softwares e serviços. Embora existam diversas empresas na área de informática dedicadas ao setor de hospitais, ainda há dificuldades em se encontrar produtos adequados e flexíveis que atendam às necessidades de grandes hospitais, sendo difícil a escolha de um software que atenda aos requisitos de especificação dos gestores e se enquadre no perfil das novas tendências tecnológicas. Um SIH deve facilitar a coleta, o armazenamento, o processamento e a integração das informações entre os diversos setores (área-fim e área-meio), de modo que a instituição funcione harmoniosamente no cumprimento de seus objetivos (ANDRADE; FALK, 2001). Rodrigues Filho, Xavier e Adriano (2001) afirmam que um sistema de informação hospitalar integrado, como qualquer outro de área distinta, consiste em dois componentes: hardware e software. Contém diversos módulos ou subsistemas, dentro dos seguintes grupos funcionais: administração, gerenciamento de pacientes, aplicações médicas e sistema médico-técnico. 39 FIGURA - SISTEMA DE INFORMAÇÃO HOSPITALAR INTEGRADO FONTE: Rodrigues Filho, Xavier e Adriano, 2001. Alinhadas às tecnologias da informação, surgem as tentativas para tornar evidentes os processos estratégicos para gerenciamento dos padrões de qualidade. Assim, os indicadores podem ser monitorados por um sistema de sinalização gráfica que facilitará o trabalho dos gestores, bem como, a transparência deste gerenciamento, no que se refere ao acompanhamento de metas. O painel de bordo pode ser facilmente compreendido nesta lógica. O termo “painel de bordo”, também conhecido como cockpit ou dashboard, foi “transferido” da aviação e do automobilismo para os sistemas de gestão, mais especificamente o gerenciamento da qualidade, a metodologia de sinalização por códigos baseados na construção de um painel de indicadores e metas previamente estipuladas para o monitoramento do desempenho da organização. Os indicadores coletados podem ser exibidos de forma individual ou em forma de dashboard (painel de indicadores), em gráficos do tipo voltímetro (ou 40 velocímetro) e também em gráficos de linhas mostrando sua evolução. No gráfico de evolução podemos visualizar além dos indicadores mês a mês, a meta de cada indicador a cada mês e também o valor médio do período. Importante destacar que as perspectivas a serem acompanhadas pela organização deverão ser personalizadas e definidas estrategicamente. Estas perspectivas envolvem, de um modo geral, os aspectos relacionados à gestão, aos processos e aos resultados. Os objetivos deverão ser definidos linearmente para cada perspectiva. Indicadores e metas deverão ser traçados. Após a definição dos parâmetros cria-se a apresentação gráfica do sistema e os graus de permissão para que os usuários do sistema possam visualizar e/ou editar as informações. Observe a Figura e compreenda melhor como deve ser feita essa descrição. FIGURA - PAINEL DE BORDO DE UM HOSPITAL ILUSTRANDO A PERSPECTIVA DO RESULTADO PARA A SOCIEDADEhttp://www.sesa.pr.gov.br/arquivos/ O painel de bordo torna as informações mais objetivas e integradas e o apelo visual definido pela apresentação gráfica em sistemas de cores, geralmente averde, a amarela e a vermelha, indicam facilmente os pontos (indicadores) 41 que merecem atenção especial. Observe que o padrão de cores usado pode variar, mas o exemplo citado remete à sinalização de cores do semáforo universalmente conhecida. Desta forma, haverá a gestão integrada de indicadores para acompanhamento e avaliação da performance da organização. A seguir, a figura ilustra um modelo de painel de bordo desenvolvido pela empresa “TNT Technology®” que busca por meio da utilização de tecnologia da informação contribuir para melhoria da qualidade. Observe que o sistema busca a otimização de processos, a implantação de ferramentas de desempenho e a capacitação do capital humano de forma a promover o diferencial competitivo. FIGURA - PAINEL DE INDICADORES DE DESEMPENHO DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR <http://www.tnttec.com.br/tnt/index_tec.jsp>. Esse exemplo ilustra o ambiente tecnológico para gestão de alta performance de instituições de ensino, porém sua nomenclatura pode ser extrapolada para área da saúde/hospitalar. 42 O painel de bordo do hospital é composto por vários indicadores, destacam-se: a) taxa de ocupação hospitalar; b) tempo médio de permanência (dias); c) taxa de mortalidade institucional; d) taxa de cirurgias suspensas; e) índice de exames laboratoriais por internação; f) índice de exames de diagnóstico por imagem por internação; g) taxa de cesáreas; h) taxa de infecção hospitalar; i) taxa de absenteísmo; j) taxa de rotatividade; k) índice de treinamento; l) taxa de acidente de trabalho. Estar atento às tendências de mercado e às novas tecnologias de gestão faz parte do processo de inovação de uma organização. Entender que a tecnologia da informação pode ser uma aliada à gestão da qualidade oferecerá à empresa um diferencial competitivo. Investir em programas e modelos informatizados para integração de indicadores e monitoramento de performance é ter a convicção de que haverá retorno operacional, tático e estratégico, para tomada de decisão segura e eficaz. CONTROLE ESTATÍSTICO DO PROCESSO Um dos fatores importantes para a aplicação da ferramenta de qualidade é a coleta dos dados. Os funcionários responsáveis pelas notificações devem registrar e enviar ao setor estatístico (ou similar) as informações para que os gestores responsáveis pela área possam proceder às análises e, em conjunto com o setor de qualidade ou comissões específicas, desenvolver a estratégia para tomada de decisão. É importante envolver os funcionários na construção de estratégias. 43 A estatística, segundo Murray (1993), está interessada nos métodos científicos para coleta, organização, resumo, apresentação e análise de dados, bem como na obtenção de conclusões válidas e na tomada de decisões razoável baseada em tais análises. A primeira aplicação dos gráficos de controle na área da saúde ocorreu no ano de 1946, por Rich e Terry (ALVES, 2004), que usaram os gráficos para análise estatística de frequência de morbidade e mortalidade com vistas à identificação e estudo de epidemias. O controle estatístico de processos (CEP) tem por objetivo conhecer o processo, monitorando sua estabilidade e acompanhando seus parâmetros ao longo do tempo, estando fundamentado em técnicas estatísticas (ROSA, 2009). O trabalho estatístico desenvolve-se em cinco fases (VIEIRA; DETONI; BRAUM, 2006): levantamento de dados, coleta de dados, crítica dos dados, descrição dos dados e apresentação dos dados. Os indicadores originam-se, de acordo com Couto e Pedrosa (2003, p. 47- 55), das seguintes fórmulas básicas da estatística: média – é a soma das n observações de uma variável dividida pelo número de observações avaliadas; taxa – é a relação entre a capacidade operacional instalada e a produção efetiva, expressa em percentual; desvio-padrão – é uma medida do grau de dispersão dos resultados em torno da média, isto é, um número que mede o quanto os graus estão mais ou menos dispersos em relação à média. De acordo com Vieira, Detoni e Braum (2006), na área hospitalar, o Ministério da Saúde, por meio da Portaria nº 312, de 2 de maio de 2002, estabeleceu a Padronização da Nomenclatura no Censo Hospitalar, assim, os indicadores hospitalares consistem em (BRASIL, 2002): a) média de pacientes/dia – relação entre o número de pacientes/dia e o número de dias, em determinado período. Representa o número médio de pacientes em um hospital; 44 b) média de permanência – relação entre o total de pacientes/dia e o total de pacientes que tiveram saída do hospital em determinado período, incluindo os óbitos. Representa o tempo médio em dias que os pacientes ficaram internados no hospital; c) taxa de ocupação hospitalar – relação percentual entre o número de pacientes/dia e o número de leitos-dia em determinado período, porém considerando-se para o cálculo dos leitos dia no denominador os leitos instalados e constantes do cadastro do hospital, incluindo os leitos bloqueados e excluindo os leitos extras; d) taxa de ocupação operacional – relação percentual entre o número de pacientes/dia e o número de leitos/dia em determinado período; e) taxa de ocupação planejada – relação percentual entre o número de pacientes/dia e o número de leitos/dia em determinado período, porém considerando-se para o cálculo dos leitos/dia no denominador todos os leitos planejados no hospital, inclusive os não instalados ou desativados; f) taxa de mortalidade hospitalar – relação percentual entre o número de óbitos ocorridos em pacientes internados e o número de pacientes que tiveram saída do hospital, em determinado período. Mede a proporção dos pacientes que morreram durante a internação hospitalar; g) taxa de mortalidade institucional – relação percentual entre o número de óbitos ocorridos em pacientes após 24 horas de internação e o número de pacientes que tiveram saída do hospital, em determinado período. Mede a mortalidade ocorrida até 24 horas após a internação hospitalar. A seguir, o quadro apresenta as formulas para obtenção dos principais indicadores. Couto e Pedrosa (2003) explicam que os indicadores são valores que se originam da visão de um numerador (número de eventos ocorridos) por um denominador (população exposta ao evento). O número obtido nesta divisão é chamado de taxa e os resultados podem ser expressos em percentagem ou por mil, de acordo a cada situação. 45 QUADRO - FÓRMULAS PARA OBTENÇÃO DOS PRINCIPAIS INDICADORES HOSPITALARES FONTE: Adaptado de Couto e Pedrosa, 2003, apud Vieira, Detoni e Braum, 2006. 46 PLANEJAMENTO DA MEDIÇÃO DE DESEMPENHO E DESDOBRAMENTO ESTRATÉGICO De acordo com Pertence e Melleiro (2010) as ferramentas de qualidade surgem como um relevante instrumento para a consecução de processos avaliativos e, sobretudo, para o alcance da qualidade nos serviços de saúde. As ferramentas de qualidade são técnicas utilizadas com a finalidade de definir, mensurar, analisar e propor soluções para os problemas que interferem no bom desempenho dos processos de trabalho (MALIK; SCHIESARI, 1998). Inúmeras são as ferramentas que podem ser empregadas na implantação e consolidação do processo de gestão de qualidadee produtividade de uma instituição, tais como: metodologia do programa 5S, método PDCA, diagrama de Pareto, fluxograma, gráficos de dispersão, diagrama de controle, folha de verificação, diagrama de causa e efeito, histograma e brainstorming (PERTENCE; MELLEIRO, 2010). A seguir, são ilustradas algumas ferramentas que podem auxiliar no processo de gestão da qualidade. Os exemplos foram extraídos do livro “Indicadores, auditorias e certificações”, de D’Innocenzo (2010): a) brainstorming – expressão do inglês, que significa tempestade de ideias ou tempestade cerebral. Muito usado para o levantamento de dados sobre um determinado aspecto; 47 QUADRO - PASSOS PARA EXECUÇÃO DO BRAINSTORMING FONTE: D’Innocenzo, 2010, p. 73. b) GUT – um acrônimo que significa gravidade(G), urgência (U) e tendência (T). Permite decidir que ações devem ser priorizadas; QUADRO - MATRIZ GUT FONTE: D’Innocenzo, 2010, p. 75. 48 QUADRO - APLICAÇÃO DA MATRIZ GUT FONTE: D’Innocenzo, 2010, p. 76. c) diagrama de Pareto – é um histograma ou gráfico de barras que mostra a partir das mais altas o que deve ser priorizado; 49 QUADRO - ILUSTRAÇÃO DO DIAGRAMA DE PARETO FONTE: Martins, 2006. <http://www.citynet.com.br/phoenix/MonoDebateEAD2Gleez.htm>. d) diagrama de causa e efeito – também conhecido como diagrama de Ishikawa ou espinha de peixe. Mostra a relação entre uma característica de qualidade (efeito) e os fatores que a influenciam (causas); 50 QUADRO - RELAÇÃO ENTRE CAUSA E EFEITO ILUSTRADA NO DIAGRAMA DE ISHIKAWA Bertoncini, 2008. Disponível em: <http://dc299.4shared.com/doc/ARNEqKY- /preview.html>. e) 5W 2H – é um tipo de check list utilizado para condução detalhada de um problema ou processo, visando a tomada de decisão. Cada um dos cinco “Ws” corresponde a uma palavra derivado do inglês (what, who, where, when e why), da mesma forma, os “Hs” correspondem a how e how much. No exemplo, os termos aparecem traduzidos. 51 QUADRO - APLICAÇÃO DO CHECK LIST “5W 2H” FONTE: D’Innocenzo, 2010, p. 82. f) ciclo PDCA – as letras que formam a sigla “PDCA” correspondem a Plan (Planejamento), Do (Executar/Fazer), Check (Checar/Verificar) e Action (Ação/Consolidar). É uma ferramenta que visa à melhoria contínua dos processos. FIGURA - GESTÃO HOSPITALAR ESTRATÉGICA FONTE: EstraTec. Disponível em: <http://www.stratec.com.br/pdca>. 52 QUADRO - MODELO ESQUEMÁTICO RELACIONANDO AS FASES DO CICLO PDCA ÀS FERRAMENTAS DE GESTÃO FONTE: D’Innocenzo, 2010, p. 85. É importante que estejam claras as etapas do plano operacional que indicarão as etapas do plano estratégico. Observe no quadro a seguir o conjunto destas etapas descrito por Ivana Rodrigues em matéria ao Compromisso com a Qualidade Hospitalar (CQH) (ver Glossário). QUADRO - ETAPAS DOS PLANOS OPERACIONAL E ESTRATÉGICO Etapas da Construção do Plano Operacional: 1. Identificar os “produtos/serviços” que a organização gera e para quem; 2. Identificar os principais processos; 3. Identificar as pessoas que desenvolvem esses processos; 4. Identificar os insumos necessários para executá-los e seus respectivos fornecedores; 5. Identificar os grupos que representam a sociedade; 6. Identificar os recursos necessários para o desenvolvimento desses processos; 53 7. Identificar para cada item acima relacionado, os indicadores adequados para a medição de resultados. Desdobramento para as etapas do Plano Estratégico 1. Análise do Ambiente; 2. Definir Diretrizes Estratégicas; 3. Definir Objetivos estratégicos; 4. Para cada Objetivo associar um Indicador e Meta; 5. Organizar os Planos de Ação para o cumprimento destas metas; 6. Organizar a alocação de recursos para o cumprimento dos Planos de Ação. O desdobramento estratégico relativo ao acompanhamento da performance da empresa ocorrerá por vias administrativas, de processos e de gestão. Alicerçado à missão, visão e valores da empresa a interpretação dos indicadores fornecerá subsídios para intervenção e melhorias contínuas. Medidas corretivas, assim como as preventivas poderão ser aplicadas em tempo, tendo como base o monitoramento dos padrões considerados essenciais/vitais. O rastreamento de indicadores e a perseguição das metas promoverão uma busca contínua pelos padrões de qualidade, com reflexos palpáveis na qualidade da assistência prestada ao cliente. AUDITORIA CONCEITOS BÁSICOS PARA A AUDITORIA DA QUALIDADE Vejamos a seguir alguns conceitos sobre a auditoria da qualidade. QUADRO - CONCEITOS DE AUDITORIA DA QUALIDADEReferência Conceito Aquino, 1980. Considera auditoria como uma investigação profunda sobre o sistema, em seus aspectos qualitativos e não apenas rotineiros e burocráticos, podendo ser definida como um conjunto de técnicas analíticas destinadas a efetuar diagnósticos, prognósticos e recomendações. 54 Chiavenato, 1985. A auditoria é um sistema de revisão de controle, para informar a administração sobre a eficiência e eficácia dos programas em desenvolvimento; sua função não é somente indicar os problemas e as falhas, mas, também, apontar sugestões e soluções, assumindo, portanto um caráter eminentemente educacional. Instituto Brasileiro de Petróleo, 1987. Uma auditoria da qualidade é uma avaliação planejada, programada e documentada, executada por pessoal independente da área auditada, a fim de verificar a eficácia do sistema de qualidade implantado, através da constatação de evidências objetivas e da identificação de não conformidades, servindo como mecanismo de realimentação e aperfeiçoamento do sistema da qualidade. Mills, 1994. Um exame sistemático e independente para determinar se as atividades da qualidade e respectivos resultados cumprem as providências planejadas e se estas providências são implementadas de maneira eficaz, e se são adequadas para atingir os objetivos. Paterno, 1997. Entende como um conjunto de medidas através das quais peritos internos ou externos revisam as atividades operacionais de determinados setores de uma instituição, com a finalidade de medir a qualidade dos serviços prestados. Motta, 2003. A auditoria trata da avaliação sistemática da qualidade da assistência prestada ao cliente, e hoje esse trabalho tomou grandes proporções no contexto dos hospitais e operadoras de planos de saúde; com isso é necessário que a prática, em qualquer ramo da auditoria, seja baseada em evidências por meio da formação de conceitos sólidos fundamentando a prática. 55 Aquino (1980) considera ainda que a auditoria pode ser desenvolvida em vários setores da saúde e por diferentes profissionais. Destacam-se dois setores: a auditoria médica, que, segundo Loverdos (2003): [...] é a análise, à luz das boas práticas de assistência à saúde e do contrato entre as partes – paciente, médico, hospital e patrocinador do evento – dos procedimentos executados e conferindo os valores cobrados, para garantir que o pagamento seja justo e correto. (LOVERDOS, 2003) a auditoria de enfermagem, conceituada como tratar da Avaliação sistemática da qualidade da assistência de enfermagem prestada ao cliente (MOTTA, 2003). Ambas as auditorias dispõem de áreas específicas de atuação, sendo que a
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