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ACREDITAÇÃO HOSPITALAR E BIOSSEGURANÇA Gabriela Eyng Possolli Vanessa Duarte Gonçalves da Silva S aú d e A C R E D IT A Ç Ã O H O S P IT A L A R E B IO S S E G U R A N Ç A G ab rie la E yn g P os so lli Va ne ss a D ua rt e G on ça lv es d a S ilv a Curitiba 2021 Acreditacao Hospitalar e Biossegurança Gabriela Eyng Possoli Vanessa Duarte Gonçalves da Silva çã Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. P856a Possoli, Gabriela Eyng Acreditação hospitalar e biossegurança / Gabriela Eyng Possoli, Vanessa Duarte Gonçalves da Silva. – Curitiba: Fael, 2021. 323 p. il. ISBN 978-65-86557-31-2 1. Hospitais – Administração 2. Hospitais – Credenciamento I. Silva, Vanessa Duarte da II. Título CDD 362.11068 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlo Sardo Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Shutterstock.com/K90 estudio audiovisual Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Gestão da Qualidade: princípios, ferramentas e contexto organizacional da acreditação | 7 2. Gestão da Qualidade em saúde e acreditação: sistemas de saúde e hospitais | 39 3. Sistema nacional de auditoria, monitoramento e avaliação em saúde | 75 4. Auditoria interna e externa de sistemas de saúde, hospitais e serviços assistenciais | 109 5. Sistema Brasileiro de Acreditação Hospitalar e a garantia de qualidade em saúde | 139 6. Modelos de acreditação e certificações ISO 9000, ONA, MBNQA E EFQM | 165 7. Conceitos iniciais e contextualização da biossegurança | 193 8. Tipos, avaliação de risco e mapa de risco | 217 9. Normas básicas de biossegurança | 241 10. Equipamentos de proteção individual e coletiva | 265 Gabarito | 287 Referências | 307 Prezado(a) aluno(a), Esta obra tem o propósito de auxiliá-lo na construção do conhecimento sobre a gestão hospitalar. No que se refere à acreditação hospitalar, parte escrita pela autora Gabriela Eyng Possolli, serão encontrados temas referen- tes a boas práticas e modelos para atender os cidadãos com exce- lência, segurança nos procedimentos, uso racional de recursos, inovação tecnológica, sustentabilidade financeira, construção permanente de saberes e um conjunto de resultados infinitamente melhor em relação ao que temos visto há tanto tempo nos notici- ários e salas de espera em serviços de saúde. Carta ao Aluno – 6 – Acreditação Hospitalar e Biossegurança Já o conteúdo referente à biossegurança, parte escrita pela autora Vanessa Duarte Gonçalves da Silva, corrobora ao colocar que a biosse- gurança na gestão hospitalar é um conjunto de medidas que preconiza a redução ou até mesmo a erradicação dos riscos característicos às ati- vidades de saúde durante a exposição no ambiente de trabalho. Quando não empregada corretamente, pode acarretar danos para os mais diversos profissionais, para pacientes e causar prejuízos ao meio ambiente. Por esta razão, esta obra visa discriminar os principais pontos de relevância deste assunto para fins de melhor compreensão e esclarecimento para todos envolvidos neste âmbito. Com isso, o leitor estará apto a atuar de forma responsável e íntegra como cidadão e profissional. Uma boa leitura e excelentes estudos. 1 Gestão da Qualidade: princípios, ferramentas e contexto organizacional da acreditação Este capítulo busca abordar a Gestão da Qualidade como uma categoria conceitual fundamental para o entendimento da Acreditação Hospitalar. Sem um processo de gestão da qualidade coeso e articulado à cultura, às políticas e aos valores organiza- cionais, a acreditação será um sonho distante, e mesmo que seja obtida, será artificializada e não duradoura. Assim, é preciso ter em mente que sem Qualidade não há Acreditação, sem processos institucionais que sigam normativas e princípios de qualidade é impossível desenvolver uma imagem de excelência junto à popu- lação e consolidar certificações de qualidade de forma orgânica e continuada. Acreditação Hospitalar e Biossegurança – 8 – O primeiro tópico do capítulo aborda os Princípios da Gestão da Qualidade e a Acreditação, contemplando os dez princípios de qualidade de Feingenbaum e os oito princípios ISO. A partir da compreensão dos princípios, foram selecionados três para aprofundamento: Engajamento, Abordagem de processo e Pensamento sistêmico (cada um desses com um tópico de conteúdo dedicado nesse capítulo). Cada um dos princípios é detalhado em um viés teórico-prático, ressaltando sua relevância para a acreditação hospitalar. 1.1 Princípios da gestão da qualidade e a acreditação Conforme visto até aqui, na revisão conceitual e histórica, a quali- dade está vinculada a formas de administrar a organização, objetivando a satisfação de clientes, aproveitamento de recursos (para eliminar des- perdícios) e reduzindo custos. O controle eficiente de qualidade não pode ocorrer ao acaso, pois princípios precisam ser seguidos e algumas áreas de estudo têm classificado e compreendido critérios para que a qualidade se desenvolva. De acordo com Feingenbaum (1994, p. 287), devem-se consolidar dez princípios para que a qualidade se aprofunde: 1. qualidade deve ser extensiva a toda a organização. 2. qualidade é o que o consumidor pode perceber. 3. qualidade e redução de custos devem andar juntas. 4. qualidade exige empenho individual e coletivo. 5. qualidade muda o modelo de gestão empresarial. 6. qualidade e inovação são interdependentes. 7. qualidade é ética. 8. qualidade precisa de aprimoramento permanente. 9. qualidade é a via menos custosa para a produtividade. 10. qualidade opera um sistema abrangente, incluindo agentes inter- nos e externos. – 9 – Gestão da Qualidade: princípios, ferramentas e contexto organizacional da acreditação O esquema conceitual a seguir detalha aspectos envolvidos em cada um dos dez princípios e propõe uma articulação entre eles. Figura 1.1 – Esquema conceitual dos princípios da qualidade segundo Feingenbaum Fonte: elaborada pela autora com elementos de Shuttestock.com/Yevhen Tarnavskyi/ Aha-Soft /docstockmedia/Konstantinos Kokkinis/Max Griboedov/docstockmedia/Rashad Ashur/Graphic farm Nesses dez princípios pode-se perceber a conexão e interdependência entre eles, principalmente quando o primeiro deles destaca que a qualidade deve ser extensiva a toda a organização, ou seja, precisa estar sistemica- mente relacionada a todos os processos e setores, por isso o quarto prin- cípio destaca a necessidade de empenho individual e coletivo, e o décimo destaca que a qualidade mobiliza agentes internos e externos. Com base nessa perspectiva sistêmica e integradora da qualidade, certamente haverá Acreditação Hospitalar e Biossegurança – 10 – mudança no modelo de gestão (princípio 5) e será impulsionadora da ino- vação (princípio 6). É importante ressaltar que a qualidade deve ser percebida e referen- dada pelos clientes (princípio 2), ou na área da saúde, pelo paciente. Como alvo do serviço de saúde, dos cuidados administrados e da excelência que ela persegue, o paciente é o ponto chave para avaliar se a qualidade pre- tendida está de fato impactando a organização como um todo e dando resultados. Destaca-se ainda que, por ser um processo holístico e com- plexo, a qualidade exige melhoria continuada (princípio 8). Pode-se imaginar que um processo com qualidade, por exigir norma- tivas e cuidados específicos, irá gerar maiores investimentos, porém estu- dos comprovam que a qualidade e a redução de custos não apenas devem andar juntas, como destaca o terceiro princípio, mas que a qualidade é a via menos custosa para a produtividade (princípio 9). “Organizações de alta performance implementam programas de qualidade, cujos resultados não só garantem a satisfação dos clientes, como também reduzemos custos de operação, minimizando as perdas, diminuindo consideravelmente os cus- tos com serviços externos, otimizando a utilização dos recursos existentes e aumentando a produtividade” (CERQUEIRA NETO, 1991, p. 43). O sétimo princípio diz que qualidade é ética, com o que certamente, como consumidores de serviços e produtos, concorda-se: a garantia de qualidade por parte de uma empresa faz parte da sua conduta ética, como uma obrigação moral perante a sociedade. “A ética é representada pelos códigos ou regras de conduta e valores que têm que permear todas as pes- soas e todos os processos de todas as organizações que pretendem sobre- viver no mundo competitivo de hoje” (PORTOGENTE, 2016). A série de normas ISO1, criada pela Organização Internacional de Padronização (ISO), objetiva elevar a qualidade de produtos e serviços de organizações dos mais variados segmentos. Trata-se de uma das mais respeitadas instituições que, há quase 70 anos, cria e certifica normativas e padrões de qualidade no mundo. Normatização baseia-se em documentos e manuais elaborados por especialistas altamente capacitados que propor- 1 A série de normas ISO aplicáveis à acreditação hospitalar será tema de um capítulo es- pecífico no livro. – 11 – Gestão da Qualidade: princípios, ferramentas e contexto organizacional da acreditação cionam um modelo para implantação do Sistema de Gestão da Qualidade. No Brasil, essas normas são conhecidas NBRs. Conforme as normas Isso, oito princípios de Gestão da Qualidade são fundamentais para a família de certificações ISO 9001. Para organizações que buscam a melhoria contínua, os oito princípios guiarão a estruturação de seu programa de gerenciamento de qualidade, servindo de alicerce para que a empresa construa um sistema qualitativo eficaz e duradouro. São requisitos provenientes de experiências de inúmeras organizações, usados como base para a implementação em novas instituições, independentemente de sua área de atuação. Cada princípio deve ser analisado e estudado para que seja atingido o sucesso na implantação do modelo (ISO, 2008): 1. Foco no cliente – os clientes devem ser a preocupação central de uma organização. Os esforços dos colaboradores devem visar como finalidade máxima ao atendimento ao cliente de forma satisfatória e com excelência, buscando a fidelização. O objetivo principal da gestão da qualidade é atender às necessida- des dos clientes e fazer com que as empresas busquem exceder as expectativas dos clientes. Uma empresa obtém sucesso duradouro quando a confiança dos clientes é atraída e retida. Afinal de contas, o cliente é a verdadeira razão de ser de uma organização. Enten- der as necessidades atuais e futuras dos clientes, assim como fazer com que a interação com os clientes se torne uma oportunidade para agregar mais valor a eles, são pilares fundamentais para con- tribuir com o sucesso de uma empresa. (MIRET, 2018). 2. Liderança – os líderes da gestão organizacional precisam geram um ambiente propício para que os funcionários sejam de fato parte da empresa e trabalhem com afinco e responsabilidade coletiva para atingir metas traçadas. A liderança deve executar suas ações de forma democrática, com empatia e na esteira das inovações do mercado, assim como fornecer as ferramentas necessárias para que departamentos e profissionais executem os processos com eficácia e de maneira colegiada. Você pode ser um líder em seu setor, mesmo não sendo parte da alta direção da empresa. A Liderança eficiente com valores ligados à gestão da qualidade apresenta quatro características essenciais: Acreditação Hospitalar e Biossegurança – 12 – 1. capacidade de criar uma visão clara aliada aos obje- tivos organizacionais e ações de cada um; 2. capacidade de compartilhar a visão e de motivar cada membro da equipe a participar e prosseguir; 3. fornecimento da estrutura, instrumentos e infor- mações para o sucesso na realização da visão; 4. coordenar riscos e conflitos, com uma pos- tura proativa na atualização da visão. 3. Envolvimento de pessoas – a participação e o empenho dos funcionários são indispensáveis para a qualidade. Assim, cada um deve colocar suas habilidades à disposição da empresa, fazendo sua parte para que a qualidade seja um horizonte cons- tante nas ações com vistas à melhoria contínua que viabiliza a acreditação permanente. Quando as pessoas são envolvidas nos processos, elas compre- endem sua importância e seu papel na empresa, aceitando que são responsáveis pelos problemas e pelas soluções. Elas são motivadas a identificar os obstáculos e a avaliá-los; a aperfei- çoar seu conhecimento e experiência e a compartilhá-los, dis- cutindo os problemas abertamente. As pessoas passam a ter orgulho de fazer parte da organização, obtendo satisfação de seu trabalho e, por consequência, um bom representante junto aos clientes, à comunidade e ao público em geral. “As pessoas devem envolver-se com os problemas da organização, contri- buindo para sua melhoria através do desenvolvimento de seu potencial. Todos devemos buscar a oportunidade de desenvol- ver nossas competências e habilidades e compartilhá-las com a equipe, contribuindo efetivamente para a melhoria da organiza- ção” (MARTINS, 2012). 4. Abordagem de processo – cada atividade da empresa é um pro- cesso que pode ter impacto no resultado final. Logo, é preciso ficar de olho em todos os processos e verificar se estão mesmo de acordo com os padrões de qualidade. – 13 – Gestão da Qualidade: princípios, ferramentas e contexto organizacional da acreditação 5. Abordagem sistêmica para a gestão – não podemos ver os processos como atividades isoladas. Muito pelo contrário: precisamos entender que cada um deles está ligado aos outros, influenciando o desempenho da empresa como um todo. 6. Melhoria contínua – o aperfeiçoamento da qualidade deve ser o principal objetivo da empresa. 7. Abordagem factual para a tomada de decisões – as decisões não devem ser tomadas por intuição, mas sim com base em informações e fatos. 8. Benefício mútuo nas relações com fornecedores – é preciso criar laços de confiança e respeito com os fornecedores. Nas negociações, os dois lados devem ganhar. Na revisão conceitual e histórica empreendida nos primeiros capítulos, ficou claro que a gestão da qualidade efetiva e produz o caminho para certifi- cações de qualidade que são a Acreditação Organizacional, trazendo proces- sos certificados por instituições acreditadoras, estabelecendo padrões e segu- rança para a sociedade com relação aos serviços prestados, sobretudo na área da saúde. Para deixar clara a relação entre os princípios de gestão da qualidade ISO, que são os mais reconhecidos mundialmente, com a Acreditação Hospi- talar, o quadro a seguir vincula cada princípio a uma declaração a respeito da acreditação e a uma aplicação global para o contexto hospitalar: Quadro 1.1 – Relação entre os 8 princípios ISO, a acreditação e o contexto hospitalar Princípios de qualidade Relação com a acreditação Contexto hospitalar Foco no cliente “Melhora o desempe- nho da organização com o objetivo de aten- der as necessidades dos clientes”. O atendimento ao paciente desde a inter- nação até a alta envolve a compreensão de suas necessidades, o diagnós- tico, o tratamento e a ação direta das equipes médica e de enfermagem. Acreditação Hospitalar e Biossegurança – 14 – Princípios de qualidade Relação com a acreditação Contexto hospitalar Liderança “Delega poder e envol- vimento das pessoas para alcance dos objeti- vos organizacionais”. Os líderes de equipes são responsáveis para garan- tir a fluidez na comuni- cação entre os processos, gestão multiprofissional, visão sistêmica e promo- tores do engajamento. Envolvimento de pessoas (engajamento) “Pessoas são envolvidas na tomada de decisões e em processos de melho- rias”. A partir da formação profissional e da fun- ção interna, as pessoas desempenham seu papel no todo para atingiros objetivos organizacionais de qualidade e melhoria contínuas. Abordagem de processo “Processos focados resultam em custos mais baixos, prevenção de erros, controle da variabilidade, tempos de ciclo mais curtos e saí- das mais previsíveis”. Uma gestão eficaz de processos hospitalares resulta do envolvimento das equipes, engajamento multiprofissional e foco na melhoria contínua de cada etapa do processo. Abordagem sistêmica “Visão maior da eficácia de processos, relação todo-partes, propor- ciona um melhor enten- dimento das causas de problemas e ações de melhorias”. A complexidade dos pro- cessos hospitalares torna imprescindível a relação entre o trabalho de cada um e os resultados sistê- micos das ações de assis- tência em saúde. – 15 – Gestão da Qualidade: princípios, ferramentas e contexto organizacional da acreditação Princípios de qualidade Relação com a acreditação Contexto hospitalar Melhoria Contínua “Envolvimento das pes- soas na melhoria contí- nua de processos.” A gestão da qualidade deve articular a equipe multiprofissional para a fluidez dos processos com vista à acreditação a fim de atingir a excelên- cia no atendimento aos pacientes e à sociedade como um todo. Abordagem fac- tual para tomada de decisões “Informações e dados proporcionam a compre- ensão do desempenho de sistemas e processos que orientam para melhorias e prevenção de proble- mas futuros”. Tomada de decisões em organizações hospitalares devem basear-se em gestão de conhecimento, registros de prontuários e condutas técnicas a fim de definir prioridades e pontos frá- geis para aprimoramento. Benefício mútuo com fornecedores “Cria e gerencia relacio- namentos com fornece- dores para garantir for- necimentos sem defeito, dentro dos prazos, e confiáveis”. Relações externas são tão importantes quanto inter- nas. Em um hospital, a qualidade dos insumos for- necidos e sua conformidade com as diretrizes técnicas é fundamental para a qua- lidade do serviço de saúde. Fonte: elaborado pela autora. Serão detalhados a seguir, de maneira mais aprofundada, com base em vários autores, três dos princípios citados acima que são essenciais Acreditação Hospitalar e Biossegurança – 16 – para se conquistar e sustentar a qualidade organizacional. Esses princí- pios certamente levarão a organização a estar pronta para obter e manter certificações de acreditação em várias das áreas do saber, especialmente as organizações da saúde e hospitalares, em que a complexidade de suas ações coloca a exigência por qualidade em um nível mais elevado quando o elemento central é a qualidade de vida das pessoas. Abordaremos os princípios: engajamento (o princípio do envolvimento de pessoas), abor- dagem de processo e pensamento sistêmico. 1.1.1 Engajamento Engajar pessoas para que todos se integrem e cooperem em suas fun- ções para que os processos de trabalho fluam em direção da qualidade é provavelmente o fator mais desafiador para um gestor, e assim, há um vínculo forte desse princípio com a liderança. As pessoas são o ativo mais importante de qualquer negócio, uma vez que, na era do conhecimento, a informação e os saberes em ação (competência técnica) são considerados o diferencial competitivo das organizações, como o pai da administração contemporânea, Peter Drucker, pontua: “A sociedade pós-capitalista é a sociedade do conhecimento, em que ele é o principal ativo organizacio- nal. Nela o conhecimento é o recurso chave e os trabalhadores do conhe- cimento são o grupo dominante na força de trabalho desta sociedade” (DRUCKER, 2001, p. 3). Se o desempenho da equipe não está gerando os resultados espera- dos e ocorre aquém do esperado, é evidente que a produtividade da orga- nização despencará, tornando os resultados frágeis e com repercussão negativa. A partir desse entendimento, fazer com que os colaboradores desempenhem seu maior potencial deve ser uma finalidade prioritária e constante em uma organização em que a melhoria contínua e a formação continuada são motores para a inovação, a competitividade e a constante busca por aprofundamento em qualidade. O que nos leva a perguntar: O que torna a gestão de pessoas mais eficiente tendo como horizonte de che- gada a acreditação? Um elemento da resposta é justamente o engajamento, sem o qual a organização não funcionará como um organismo sistêmico que trabalha para o crescimento interno e externo que passa necessaria- – 17 – Gestão da Qualidade: princípios, ferramentas e contexto organizacional da acreditação mente pelo desenvolvimento de cada profissional e vinculação e comple- mentação com os demais. Mas afinal, o que são profissionais engajados? Antes de uma definição objetiva, deve-se deixar claro que um profissional engajado não é apenas alguém motivado ou compromissado, o conceito vai além e tem na relação com o outro e na alteridade uma questão central. Vamos à conceituação: Profissional engajado é sinônimo de uma pessoa com proatividade, esforçada e em constante aperfeiçoamento, com o objetivo de alcançar o melhor para a organização e ser parte, sempre se perce- bendo no todo, e das inter-relações, como promotor do sucesso da missão institucional com base na visão e valores guia das metas em processo de atingimento. São trabalhadores que não apenas “vestem a camisa” da organização, mas que se veem como alavancas para os demais, profundamente comprometidos, demonstrando em suas ações individuais e em equipe um projeto de vida e de sociedade, para além de tarefas laborais isoladas. Stephen Harding (2013), consultor e gestor organizacional britânico, ampliou o conceito ao detalhar que o engajamento é constituído por três dimensões: “Pen- sar: o profissional entende e aceita os objetivos, valores e estratégias estabelecidos pela empresa da qual faz parte; Sentir: o colaborador sente orgulho da organização e gosta do que faz; Agir: quando um funcionário acredita em uma empresa e se sente bem em trabalhar nela, fará o necessário para que os negócios tenham sucesso”. As três dimensões de Harding são indissociáveis e compõem um tripé comportamental e ativo importante para que o engajamento ocorra, sendo sempre um pensar-sentir-agir. Para o engajamento orgânico, as pessoas pre- cisam ver aquilo que fazem em suas funções como o que a organização busca em sua missão, visão e valores, para que assim o seu pensar e sentir este- jam afinados com suas ações profissionais, não falte paixão e, consequente- mente, comprometimento. Assim, torna-se imprescindível aplicar práticas de engajamento nas empresas capazes de impulsionar essas três dimensões de maneira integrada, atingindo todos os membros da organização. Profissionais engajados são os principais incentivadores para que uma organização obtenha resultados cada vez mais expressivos em qualidade Acreditação Hospitalar e Biossegurança – 18 – com vistas à acreditação. Se as metas estratégicas estão direcionadas a fazer com que os negócios cresçam de forma sustentável e com excelência, é necessário investir na gestão de pessoas, por meio de capacitação e integra- ção para engajar os colaboradores internos e externos. Para aprimorar a ges- tão de pessoas em uma organização e, por conseguinte, sua produtividade, determinadas ações de engajamento podem ser determinantes e alavancado- ras de inovação. Conforme Doyle (2018) sete ações são essenciais: 1. Excelência em liderança – liderança ruim é responsável pela falta de produtividade e desmotivação de uma equipe de tra- balho. Dessa forma, é importante haver um acompanhamento interno para que as condutas dos gestores sejam avaliadas. Os líderes devem conhecer os profissionais da equipe, traçar per- fis de características, habilidades e necessidades, motivar cada um para que se sintam valorizados e contribuam de verdade para o desempenho da empresa. Os gestores não devem agir simplesmente revestidos de seu cargo, mas liderar de forma carismática. Os colaboradoresprecisam ter no chefe alguém realmente inspirador, um líder genuíno que seja capaz de pro- mover autoestima, cooperação e autodesenvolvimento. 2. Propósito – para um engajamento profundo e duradouro, os cola- boradores devem ver e sentir que estão realizando ações relevantes na empresa e na sociedade. “Como ter a vontade de ‘colocar a mão na massa’ se há a impressão de que um trabalho duro não faz muita diferença? Por isso, um papel dos gestores é o de demons- trar de maneira constante que as funções desempenhadas pelos funcionários são importantes e que geram consequências diretas para a organização” (DOYLE. 2018). Para que o valor do traba- lho de cada um seja evidenciado, o líder deve estabelecer metas claras e estimular os recursos humanos a atingi-las coletivamente. É importante incentivar a autonomia dos colaboradores, criando condições para o desenvolvimento de iniciativa, delegando tare- fas e tornando a tomada de decisões participativa. 3. Crescimento profissional – plano de carreira bem estruturado e reais oportunidades de crescimento na empresa são capazes de alavancar o desenvolvimento dos colaboradores, que passam a – 19 – Gestão da Qualidade: princípios, ferramentas e contexto organizacional da acreditação traçar objetivos profissionais a serem alcançados. Quando uma pessoa sabe que, apesar de seus esforços, é muito difícil atin- gir um novo cargo ou uma evolução laboral na empresa, certa- mente não se sentirá motivada para entregar o seu melhor e não se envolverá profundamente com as metas organizacionais. Não há nada mais desmotivante para um funcionário do que perceber que não é possível sair do lugar na carreira, na empresa em que está. Isso se torna um entrave, impedindo que a pessoa se sinta engajada e se envolva realmente com as metas estabelecida. A razão para isso é simples: o ser humano não se envolve mental e emocionalmente com uma empresa que não se interessa de verdade pela sua evolução e o seu crescimento. O investimento em plano de carreira dos funcionários é um fator decisivo para atrair e reter talentos e deve ser uma preocupação constante da gestão organizacional. Os líderes são fundamentais para isso, como detalhado no item anterior. Eles devem delegar novas res- ponsabilidades conforme o perfil de cada um e propor tarefas desafiadoras que possibilitem crescimento profissional e apren- dizado contínuo, sempre vinculando a isso o reconhecimento da equipe e gratificações em salário. 4. Recompensas – dentre as principais ações de engajamento está oferecer recompensas. Os colaboradores devem saber que seu trabalho não apenas rende resultados, mas que estão sendo valo- rizados pessoalmente. Recompensas como premiações e reco- nhecimento interno, divisão de lucros e aumentos de salários são opções reconhecidamente eficazes para dar reconhecimento ao trabalho bem feito. Deve-se frisar que recompensas podem ser apenas financeiras, enquanto elogios ao bom desempenho profis- sional, celebração por conquistas e incentivos públicos para ações importantes são formas de incentivo para toda a equipe. Guia empreendedor (2017) pontua que os sistemas de recompensa “são ótimas alternativas para incentivar o desempenho diferenciado das equipes. Estão vinculados a metas atingidas ou superadas. Quando essas metas são coletivas, também é possível estimular o trabalho em equipe. Prêmios financeiros, presentes, viagens ou dias de folga são exemplos de recompensas possíveis”. No con- Acreditação Hospitalar e Biossegurança – 20 – texto hospitalar existem instituições que aplicam a política de par- ticipação nos lucros, conforme cumprimento de metas. 5. Educação permanente – juntamente com ações de crescimento profissional e a implementação de recompensas, desenvolver programas internos de aprimoramento aos funcionários, como cursos, oficinas e palestras, é uma forma importante de aumentar o engajamento da equipe. A criação de convênios com univer- sidades ou instituições educacionais, cursos online e parcerias com outras empresas para fornecer capacitação são estratégias importantes para aprimorar o conhecimento da equipe, ampliar habilidades e fornecer conhecimentos necessários para a cons- trução de soluções e a elevação da qualidade das ações institu- cionais. A Educação Permanente apresenta um grande impacto no processo de acreditação, quando demandas, erros e necessi- dades de formação são levantados, e a melhoria contínua é colo- cada em operação a partir do aprimoramento dos profissionais e das ações de trabalho multiprofissional. 6. Diálogo – o diálogo deve ocorrer em tempos e espaços propícios para isso, e de forma sistemática. Compreender as necessidades, expectativas e ideias dos colaboradores, assim como aferir o grau de satisfação de cada um, reconhecendo problemas motivacio- nais, é algo fundamental para que as ações de engajamento surtam os resultados esperados. Para promover o diálogo efetivo não é suficiente ter um gestor de equipe com boa intuição, comunicativo ou que saiba identificar comportamentos. Isso porque o diálogo não pode ser unidirecional e monopolizado pelo gestor, assim, é preciso criar um ambiente de disponibilidade para diálogos que incentive a comunicação interna como via de mão dupla. Sempre podem existir situações não percebidas pelos líderes que interferem silenciosamente no engajamento. Dessa forma, é importante incor- porar rotinas de pesquisas de clima organizacional, formulários de sugestões para os colaboradores, inserindo nessas condutas itens relacionados aos processos de trabalho, relato de ocorrências, bem- -estar, motivação e satisfação no ambiente de trabalho. As institui- ções hospitalares têm aderido à prática de canais diretos, utilizando – 21 – Gestão da Qualidade: princípios, ferramentas e contexto organizacional da acreditação consultorias especializadas, para ouvir os relatos dos colaboradores e direcionar, de forma ética, as denúncias e relatos. Não basta dar voz aos colaboradores se ações práticas não emergirem das pesqui- sas realizadas. Os resultados devem ser levados a sério por meio do planejamento de medidas e mudanças para minimizar os pontos negativos e aprofundar os positivos indicados pelos colaboradores. 7. Eventos de integração da equipe – momentos de integração e contato informal entre as equipes e os diversos setores são muito importantes para reforçar laços e ampliar relacionamentos. Deve- -se estabelecer um calendário de eventos com a finalidade de promover a integração da equipe. Esses eventos podem ser um happy hour, comemorações temáticas, mutirões de trabalho filan- trópico em benefício de uma ONG, encontros para praticar algum esporte ou realizar gincanas. Nesses momentos, deve-se não ape- nas fortalecer a cultura da organização, mas especialmente criar um ambiente leve e agradável para que o diálogo e a interação fluam. Já que os seres humanos são essencialmente sociáveis, é preciso promover momentos para que essa interação extrapole as reuniões e rotinas de trabalho. “Uma organização com problemas no trabalho em equipe é praticamente uma verdadeira receita para o desastre. Um ambiente amigável, com sincronia e com um forte vínculo emocional entre os colaboradores é o ideal para qualquer organização” (DOYLE, 2018). Ao se estabelecer um ambiente de diálogo, em que cada um pode se expressar, valorizarem-se os talentos e estabelecerem-se ações para desenvolvimento pessoal, buscando sempre a integração da equipe, evidentemente o engaja- mento será uma estratégia importante para os negócios. O engajamento da equipe de saúde é especialmente importante dada a complexidade e interdependência das ações de uma equipe multiprofis- sional de saúde. Sem engajamento, o trabalho multiprofissional em saúde, conforme preconizado por diversas políticas e diretrizes, torna-se muito difícil e fica artificializado. Quando se objetiva elevar a qualidade do ser- viço prestado com vistas à acreditação hospitalar, o engajamento ganhaespecial importância para o processo de obtenção de certificações e é parte dos itens avaliados em visitas de acreditação. Acreditação Hospitalar e Biossegurança – 22 – 1.1.2 Abordagem de processo O segundo princípio de qualidade que será abordado aqui é a Abor- dagem de Processo, que é uma dimensão da gestão da qualidade essen- cial para que a Acreditação seja alcançada. A gestão eficiente, integrada, cooperativa e inovadora dos processos produtivos e da comunicação intra e interinstitucional é essencial para a melhoria contínua e para o alcance e a manutenção das diretrizes solicitadas em processo de acreditação. Para introduzir os pressupostos fundamentais da gestão de processos, o modelo de Fleming é muito usado como base estrutural nas organizações, no qual interagem as categorias Estrutura, Meio Ambiente, Resultados e Processo (Figura 1.2). Figura 1.2 – Modelo de Fleming de Gestão de Processos Fonte: elaborada pela autora. Nesse modelo, os resultados vinculam-se aos processos que depen- dem da estrutura e do meio ambiente. Define-se a estrutura pelos insu- mos da organização: espaço físico e predial, recursos humanos, recursos materiais (equipamentos, instrumentais, utensílios, mobiliário, material de consumo, próteses, medicamentos, etc.), modelos de gestão, incluindo ainda a estrutura organizacional (organograma, estrutura profissional e estratégica) e os modelos teóricos que embasam as questões operacionais. Fleming define toda tecnologia envolvida nos cuidados ao paciente como um processo que necessita de planejamento e gestão. Esse pensamento está em consonância com o que preconizam os estudiosos da filosofia da tecnologia ao definir a tecnologia como processo resultante da cultura, – 23 – Gestão da Qualidade: princípios, ferramentas e contexto organizacional da acreditação portanto pautada em valores. Seu “foco recai sobre a crítica dos seus efei- tos humanos e sociais, positivos e negativos” (FREITAS, 2017). Os estu- diosos da filosofia da tecnologia como Martin Heidegger e os representan- tes da Escola de Frankfurt compreendem a tecnologia a partir da reflexão de que se “os seres humanos – enquanto indivíduos e coletividades – são capazes de controlar (democraticamente) a tecnologia ou se é ela que os controla, como um poder autônomo” (idem). O processo organizacional pode ser definido como conjunto de ati- vidades com certos tipos de entrada (input) que são operacionalizados e geram uma saída (output) relevante para o cliente. O termo Processo tam- bém está relacionado com o conjunto de afazeres de trabalho que exigem insumos e outros afazeres particulares, com valor agregado na obtenção de resultados. (HAMMER; CHAMPY, 1994). Estruturas e processos constituem o ambiente interno de uma instituição. O meio externo pode ser compreendido de forma mais detalhada por meio do modelo de Bittar (Figura 1.3) que apresenta diversos fatores que interferem no processo produtivo de programas e serviços. Figura 1.3 – Modelo de Bittar de Gestão de Processo em Saúde Fonte: Bittar (1997). Acreditação Hospitalar e Biossegurança – 24 – O modelo de Bittar traz uma representação interessante dos proces- sos em organizações da saúde e da forma como questões externas devem ser tratadas nas ações internas, nos processos de gestão e técnicas de tra- balho. Nesse modelo, o meio externo congrega a Demografia/Geografia, Educação, questões Psicossociais, Cultura, Legislação, Política, Economia, Condições e Instituições de Saúde e também o cenário de desenvolvimento tecnológico, que irão disparar a análise de necessidades e relações com a comunidade. No meio interno, os recursos humanos e materiais são mobili- zados como insumos dos processos que iniciam com a Análise de condições internas. A partir da Análise de condições externas e internas é realizado o Planejamento Estratégico que mobiliza a Comunicação entre os agen- tes, recursos e ações envolvidas nos processos de trabalho (promoção de saúde, prevenção de doenças, diagnóstico, tratamento, reabilitação, ensino e pesquisa – que operacionalizam a distribuição de funções, trabalho mul- tiprofissional e custos de operação). A partir desses processos de trabalho e análise de resultados, são levantados indicadores hospitalares e junto à comunidade. Esses indicadores retroalimentam os processos para busca da melhoria contínua da qualidade, implementação de programas de educação permanente, criação de novas especialidades e condutas técnicas. Esses processos necessitam de “planejamento, organização, coorde- nação/direção, onde necessidades e desejos são levantados e atendidos através de programas e serviços. Além de interferências internas e exter- nas nos processos de produção, outras ainda ocorrerão na comunicação e na distribuição dos programas e serviços” (BITTAR, 1999, p. 360), reper- cutindo nas ações de efetivação e na qualidade final alcançada. No setor da saúde no qual recursos não são abundantes, em que se tra- balha com a complexidade de eventos não previsíveis e com funcionamento 24 horas por dia, a variável custo é crucial para a tomada de decisões, com repercussões diretas sobre a qualidade e para os investimentos necessários para o engajamento. Os processos materializados em programas e serviços precisam ser analisados e controlados com relação à efetividade, à eficácia, à produtividade, à qualidade e à prevenção de morbimortalidade, além da imagem construída na sociedade e perante seus usuários. Para consolidação da imagem interna e externa da instituição de saúde, deve-se compreender que a percepção e satisfação daqueles que realizam os processos é essencial. – 25 – Gestão da Qualidade: princípios, ferramentas e contexto organizacional da acreditação Os profissionais da saúde, incluindo suas condições de trabalho e plane- jamento de desenvolvimento pessoal, são o elemento central para que as ações e processos de acreditação alcancem êxito. Os processos em saúde possuem particularidades e interseções com outras áreas. Podemos classificar os processos entre aqueles que se aplicam diretamente aos pacientes e aqueles que suportam o atendimento das res- pectivas áreas e subáreas de um serviço de saúde. Na Lista de Procedimen- tos Médicos da Associação Médica Brasileira (AMB, 1996) encontram-se 3.877 processos clínicos e hospitalares. Para que esses processos ocorram, há a necessidade de infraestrutura, comunicação e capacidade técnica ade- quadas. São processos que possuem entre si aspectos como intersetoriali- dade, diversidade, complexidade e cooperação como nas seguintes ações: 2 um mesmo processo para pacientes diferentes pode exigir medi- camentos específicos, assim como uma mesma doença pode ter tratamentos diferentes, invasivos ou não invasivos; 2 uma mesma doença pode exigir diferentes exames para chegar a um diagnóstico; 2 a gestão da equipe multiprofissional em saúde é complexa ao trabalhar com diferentes categorias profissionais, atuantes sob diferentes condutas técnicas; 2 os conhecimentos das categorias profissionais são específicos e, para atuarem cooperativamente, é preciso haver uma interface comunicativa para que eles possam se entender e agir juntos, como em uma corrida de bastões; 2 o recrutamento, a seleção e a permanência de profissionais devem ser direcionados pelas especificidades profissionais. Para o desenvolvimento de recursos humanos deve-se considerar o trabalho em turnos, periculosidade, condições estressantes, capacitação técnica, conhecimentos interdisciplinares; 2 capacitação e desenvolvimento de habilidades são fundamentais devido à complexidade, à responsabilidade com a vida e à diver- sidade de processos e intercorrências que os contextos de saúde congregam. O desenvolvimento de pessoas é uma forma sólida Acreditação Hospitalar e Biossegurança – 26 – de gerar qualidade, alta produtividade e baixo custo aos proces- sos de trabalho; 2 um contato inicial com o público por meio da recepção ou serviço detelefonia já caracteriza um processo que pode faci- litar ou dificultar o relacionamento com os profissionais em um serviço de saúde. Todas as áreas administrativas que apoiam o trabalho dos profissionais de saúde são importantes para a satis- fação do cliente e a qualidade global do serviço prestado; 2 na rotina hospitalar, os profissionais que ordenam as despesas não são os mesmos que autorizam a compra. Médicos e demais profissionais que conduzem os tratamentos ordenam as despe- sas, e por vezes desconhecem o custo dos processos. “Os médi- cos são responsáveis pelo contrato entre o paciente e o hospital, que é o prontuário do paciente, que nem sempre é legível e deta- lhado como necessário” (BITTAR, 1999, p. 362), o que aumenta a complexidade dos processos e compromete a qualidade; 2 o ambiente físico interfere nos processos, por exemplo: o fluxo de insumos como lixo e materiais biológicos exige manipula- ção e descarte especial, com uma séria de cuidados para evitar infecção hospitalar. Uma organização racional e planejada dos espaços contribui para a qualidade dos processos, reduzindo deslocamentos, aumentando a agilidade e reduzindo custos; 2 deve-se ter especial atenção para a escolha e padronização de medicamentos, materiais de consumo, equipamentos e outros insumos, tendo critérios para seleção de fornecedores devido à grande oferta de mercado e tendo em conta as inovações e novos produtos existentes. Atrasos e incorreções no fornecimento des- ses insumos comprometem os processos; 2 o comprometimento da equipe de profissionais é um fator indis- pensável para o sucesso dos processos, como vimos no item sobre engajamento; 2 a comunicação viabiliza processos, de forma que o registro e a troca de informações de rotina devem estar seguros, acessíveis para tomada de decisões de saúde; – 27 – Gestão da Qualidade: princípios, ferramentas e contexto organizacional da acreditação 2 os equipamentos de precisão são utilizados para processos técnicos e operacionais, de modo que esses equipamentos devem ser utilizados com base em manuais e procedimentos específi- cos, passando por calibração e manutenção constantes; 2 a gestão inadequada dos processos gera retrabalho, que pode ocorrer pelo uso de insumos de baixa qualidade, por recursos humanos despreparados, gerando custo operacional elevado. Na saúde, a execução de um processo possui inúmeras interações, tornando complexa a rastreabilidade quando há não conformi- dade, exigindo maior carga de trabalho dos profissionais; 2 as circunstâncias de urgência e emergência em programas e ser- viços de saúde impõem um curto tempo de resposta do processo, “reforçando a necessidade de as ações estarem descritas, trei- nadas, confiáveis e com clara determinação de responsabilida- des. Na maioria das vezes, as atividades dos processos podem estar em série (na sequência) ou em paralelo (simultaneamente)” (BITTAR, 1997, p. 362), levando ao desenvolvimento de uma logística bem estruturada para se desenvolver; 2 as implicações externas e internas no desenvolvimento de pro- cessos hospitalares, clínicos e administrativos estabelecem a necessidade de estruturação de programas de qualidade e sua consequente certificação/acreditação; 2 a avaliação de processos torna-se difícil quando há muita depen- dência de mão de obra especializada, também devido à com- plexidade tecnológica, questões ambientais, diversidade na mor- talidade local e regional, cultura institucional, redes internas e externas de relacionamento. 1.1.3 Gestão de processos para acreditação Recursos humanos e materiais são associados para levar a cabo os processos, operar com a estrutura do ambiente organizacional com- posta por insumos, profissionais, tecnologias e métodos que, por meio de modelos de gestão, obtêm processos de excelência para alcançar resul- tados na prevenção de doenças, promoção da saúde e da reabilitação. Acreditação Hospitalar e Biossegurança – 28 – Existem processos técnicos e processos administrativos. Os primeiros são aqueles que beneficiam diretamente o paciente, já os administrati- vos apoiam diversas subáreas para manutenção das rotinas no trabalho cotidiano. Os administrativos estão ligados à infraestrutura, bem como outras áreas não relacionadas apenas com os cuidados diretos aos pacien- tes. Processos técnicos exigem mão de obra capacitada e equipamentos específicos. Outros podem até mesmo se assemelhar à produção em linha, como ocorre na lavanderia. Segundo a OPAS (1998), em seu relevante manual de acreditação de hospitais para a América Latina e o Caribe, a realização de programas visando à garantia de qualidade é uma necessidade para obter acredita- ção e melhoria contínua dos processos internos, além de ser uma obri- gação ética e moral. Para obter acreditação, a sistematização da oferta de cuidados e a integração entre os departamentos hospitalares referen- tes às áreas assistencial, administrativa, médica, tecnológica, financeira, ensino e pesquisa, entre outras, são benéficas e emancipatórias para pacientes e comunidade. Há uma distinção entre os termos “certificação” e “acreditação”. O primeiro termo é utilizado com base na Norma ISO 9000 e o segundo por instituições como a Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations (JCAHO), o Ministério da Saúde brasileiro e a Organização Mundial de Saúde (OMS). O Instituto Nacional de Metrologia, Normaliza- ção e Qualidade Industrial (INMETRO) usa o termo credenciamento nos processos de avaliação e certificação de laboratórios clínicos. Há outros termos, com aplicações diferentes como: classificação e habilitação, que não são objeto dessa discussão. A avaliação de processos depende de verificações integradas de estru- tura e de resultados de ações de qualidade e melhoria contínua de condu- tas internas e externas, considerando as implicações e consequências no meio ambiente. Um exemplo disso é o lançamento de dejetos hospitalares na rede pública de saneamento. A utilização de processos de acreditação, segundo Pickering (1992), envolve os seguintes aspectos: 2 a força de programas de garantia de qualidade torna-se pouco efe- tiva sem que conduzam a programas de acreditação hospitalar; – 29 – Gestão da Qualidade: princípios, ferramentas e contexto organizacional da acreditação 2 as consequências positivas mais importantes de programa de acreditação estão nas fases preparatórias e posteriores à avalia- ção com a significativa melhora na comunicação, capacitação de profissionais, trabalho em equipe, autoavaliação dos processos individuais e coletivos; 2 programas de acreditação levam os hospitais a decisões deli- cadas que geralmente não estão dispostos a enfrentar, especial- mente com relação à conduta médica. A ideia de que hospital é um local em que profissionais da saúde estão somente para trabalhar, passa a ser substituída pela visão de que há também responsabilidade organizacional e pertencimento; 2 a acreditação hospitalar melhora o ânimo interno e a coopera- ção, aumentando a satisfação dos profissionais, uma vez que estão fornecendo assistência médico-hospitalar de alta quali- dade à sociedade; 2 programas de acreditação elevam o nível dos debates sobre saúde, direitos humanos, políticas de saúde e hospitalar, intensificando a difusão de conhecimentos sobre práticas clínicas e gestão. A série de normas ISO 9000 tem requisitos que devem ser observados pelos processos gerenciais, não tratando dos pormenores da operacionali- zação de programas e serviços de acreditação. São requisitos genéricos e independentes do setor econômico específico. São vinte requisitos, entre eles: objetivos, concepções, responsabilidade da gestão, projetos, produ- tos e serviços, diretrizes, ações preventivas e corretivas, monitoramento, inspeções e estatísticas. Dentre os requisitos que afetam diretamente a acreditação em saúde destacam-se os seguintes (ISO, 1997): 2 normas ISO não são específicas para área da saúde;2 avaliação feita por meio de documentos de normalização, com definição de conformidades; 2 não são estabelecidos prazos de implementação e avaliação final, assim a equipe pode acionar os auditores a qualquer momento; 2 reavaliações para manutenção da certificação ocorrem de seis meses a um ano; Acreditação Hospitalar e Biossegurança – 30 – 2 a ênfase da ISO está na rastreabilidade de produtos ou serviços; 2 são mais aderentes para áreas de produção, como laboratórios e nutrição, bem como para infraestrutura, como farmácia, mate- riais e recursos humanos (enfermagem) que possuam grande quantidade de clientes internos; Nas acreditações hospitalares, a partir da família de normas ISO 9000, os seguintes processos são implementados para viabilizar a certificação: 2 a definição de conformidade de produtos e serviços é específica para a área da saúde, valendo-se de dados clínicos, epidemioló- gicos, administrativos, financeiros e sociológicos; 2 as avaliações se embasam em documentos como normativas, regimentos, condutas, atas, assim como em resultados ope- racionais obtidos em processos bem estruturados. Processos clínicos são fortemente baseados em protocolos, em condutas operacionais e controles, sendo fundamental o registro escrito; 2 normas ISO contribuem para todas as áreas organizacionais hos- pitalares, porém são mais aderentes às áreas de infraestrutura como farmácia, laboratórios, expedição, manutenção e recur- sos humanos; 2 considera com seriedade o perfil de diversos comitês interseto- riais e multiprofissionais; 2 reavaliações para manutenção da acreditação são realizadas em períodos de cerca de um ano, com possibilidade de prorrogação por alguns meses. 1.1.4 Abordagem sistêmica A visão sistêmica desloca o foco das pessoas, para os processos e a rede de relacionamentos. Segundo Deming (1982), mais de 90% dos problemas ou oportunidades de melhoria nas organizações estão no – 31 – Gestão da Qualidade: princípios, ferramentas e contexto organizacional da acreditação sistema e não nos profissionais em si. O foco nas pessoas em vez de no sistema faz parte das nossas experiências pessoais e culturais, portanto não adianta culpar as pessoas pelos fracassos. Ao examinar uma orga- nização, a atenção pode se ater às diversas funções, porém, “a visão sistêmica sugere que a perspectiva individual não permite compreen- der como o trabalho é realmente feito, e isso é precursor necessário ao aperfeiçoamento do desempenho nas organizações. Quando cada função luta para atender seus objetivos, precisamos olhar os proces- sos, pois a visão sistêmica otimiza a análise” (RUMMLER; BRACHE, 1992, p. 54). A otimização funcional da visão sistêmica é imprescindível para que os processos fluam. O enfoque em atividades individuais contribui para a inércia da organização como um todo. Sem uma abordagem sistê- mica prática, os assuntos interfuncionais, a gestão integrada e o trabalho multiprofissional não são abordados, criando “espaços em branco” na organização hospitalar, já que o conhecimento não está apenas em cada função, mas também na interseção e interdependência entre os trabalhos de cada profissional. As mais significativas oportunidades de melhoria contínua de proces- sos estão nas interfaces funcionais, na ação coletiva, no trabalho conjunto interprofissional. Estão sobretudo nas ações em que o bastão é passado de um profissional para o outro, em que a visão sistêmica de uma organização é o início para a criação e gestão de organizações eficientes. O pensamento sistêmico estabelece uma mudança no modelo de gestão, passando de uma perspectiva mecanicista de mundo, própria da divisão racional do trabalho, em que as funções e divisão de tarefas pre- valecem, para um novo modelo, em que as relações, a rede de atividades coletivas e os processos são mais importantes que a simples soma das partes. A figura a seguir demonstra as características do pensamento meca- nicista e do pensamento sistêmico a fim de compreender as mudanças de paradigma nas organizações. Acreditação Hospitalar e Biossegurança – 32 – Figura 1.4 – Pensamento Mecanicista X Pensamento Sistêmico Fonte: elaborada pela autora. O pensamento sistêmico é uma abordagem holística, integrada, para compreender e agir nos processos organizacionais, entendendo as ati- vidades profissionais como subsistemas interligados, em que ações em uma parte refletem no todo, como uma estrutura em rede. A percepção de que cada parte tem participação no conjunto, compreendendo a ins- tituição como um organismo interdependente, impacta o modo de agir e se relacionar, bem como os processos funcionais, a cultura interna e a visão organizacional. No processo de avaliação para acreditação, quando evidenciada a presença de uma mesma falha em mais de um setor, a ins- tituição recebe não conformidade sistêmica, colocando em risco o selo de acreditada. “Sem o pensamento sistêmico, a semente da visão cai em solo estéril.” (SENGE, 2013, p. 37). A gestão de processos sem o entendimento de como cada parte fun- ciona e interage com o todo leva a uma gestão obsoleta e engessada. A gestão sistêmica conduz à posição de que não há apenas um responsável, um setor ou processo que é mais relevante ou culpado pelo insucesso de ações ou projeto. Para entender como a falta de pensamento sistêmico repercute negativamente, deve-se pontuar que as empresas não pensam sistemicamente quando (KWINTNER, 2019): 1. estrutura organizacional e hierarquia não funcionam, com falta de clareza e definição de papéis, organogramas e nos fluxogra- mas de processos. – 33 – Gestão da Qualidade: princípios, ferramentas e contexto organizacional da acreditação 2. uma liderança tóxica adoece os processos com um clima interno pouco empático, chefia autoritária, estresse, cobranças, postura agressiva, em que não existem feedbacks de crescimento e a equipe não é motivada. 3. falta reconhecimento dos colaboradores, valorização das pessoas por preferências pessoais sem levar em consideração o desem- penho e o esforço, faltam programas de educação corporativa, gestão de pessoas desorganizada e desvalorização das pessoas e seus relacionamentos. 4. há encaminhamento aleatório de prioridades e dificuldade para gerir conflitos e urgências. Com problemas na rotina, o foco acaba sendo “apagar incêndios”. 5. planejamentos financeiros e estratégicos são ausentes ou inade- quados, faltam indicadores e métricas, ou há metas impossíveis. 6. se desconsidera visão e satisfação de cliente, colaboradores, mercado e comunidade. 7. não há controles internos, auditorias, avaliações, mapeamento de processos. Um ponto importante para a visão sistêmica é trazer o olhar externo sobre a organização, analisando e mapeando processos, não apenas em auditorias, mas em rotinas regulares de registro, reflexão e autoavaliação institucional. Trata-se de uma análise externa por meio de especialis- tas que não estejam envolvidos nos processos, mas que os conheçam tecnicamente, a fim de emitir pareceres e orientações com uma visão diferenciada, superando vícios e adequando fluxos internos. Os especia- listas externos atuarão sistemicamente a fim de concatenar os processos analisados com os demais, estabelecendo redes e fluxos de atividades e informações a serem normatizados e compreendidos coletivamente pelos colaboradores envolvidos. Dessa forma, uma gestão sistêmica diz respeito à percepção e à ação no sentido de que tudo é afetado por processos anteriores e impacta em processos posteriores. O Manual de Acreditação da OPAS (1998) destaca a importância da articulação sistê- mica dos processos e pessoas: Acreditação Hospitalar e Biossegurança – 34 – A qualidade do trabalho realizado em uma organização é resul- tado não somente do funcionamento dos processos individuais, mas também de quão bem esses processos se conectam como um sistema. Um sistema em uma organização é um grupo interdepen- dente de itens, pessoas ou processostrabalhando juntos em direção a um propósito comum. A otimização de um sistema é o processo de orquestração dos esforços de todos os componentes de um sis- tema em direção ao alcance de um propósito declarado. As pessoas que trabalham em um sistema devem ser encorajadas a operar sua parte na direção comum de todo o sistema. Duas características relevantes sobre os sistemas são: propósito e interdependência. Sem propósito comum, metas claras e planejamento não há sistema. A interdependência pode ser definida como interação sig- nificativa entre as partes de um sistema de modo que não conseguem agir isoladamente. Para implantar mudanças eficientes e duradouras, deve- -se reconhecer o caráter interdependente das relações entre as partes do sistema organizacional (itens, pessoas e processos). Em um sistema, as partes não podem ser analisadas isoladas do todo, já que não apenas as partes, mas também os relacionamentos e as conexões entre as partes, são fonte de conhecimento e apresentam oportunidades estratégicas de melhoria. Quanto maior a coesão e a interdependência no sistema, maior é a necessidade de cooperação. A função de cada profissional não deve ser o seu próprio desempenho, mas contribuir para o crescimento do sistema. Entender um sistema significa entender as pessoas que fazem parte dele e suas relações, orientá-las e coordenar esforços para o crescimento sistê- mico da organização. Da teoria à prática Não é simples manter uma organização hospitalar atuando de forma sustentável e eficaz, sendo uma instituição funcionante 24 horas por dia e sete dias por semana. Para entregar produtos ou serviços a um cliente final, uma série de processos é realizada sequencialmente e de forma interdepen- dente. Para que uma organização hospitalar evolua de forma sustentável, os custos precisam estar bem dimensionados, assim como as relações entre profissionais e fluxos de informação. A compreensão aprofundada dos pro- cessos na estrutura organizacional colabora para torná-los mais eficientes – 35 – Gestão da Qualidade: princípios, ferramentas e contexto organizacional da acreditação e qualificados, gerando menos custo e mais resultado. A fim de auxiliar no registro e entendimento do funcionamento de processos, utiliza-se a meto- dologia de mapeamento de processos, seguindo alguns passos: 2 determinar objetivos do processo; 2 identificar entradas e saídas; 2 caracterizar os agentes do processo; 2 estabelecer limites do processo (quando começa e termina); 2 identificar fornecedores e interventores do processo; 2 construir um diagrama de processo, especificando seus elemen- tos, fluxos informacionais e conexões entre eles. Um dos mais importantes processos que uma organização de saúde precisa dominar para desenvolver processo de qualidade e obter certifica- ções de acreditação é o de melhoria contínua. É mediante esse processo que outros processos são aperfeiçoados, otimizados e automatizados, aumentando a produtividade e a eficiência institucional. Figura 1.5 – Mapeamento do processo de melhoria contínua Fonte: Setting Consultoria (2019). Acreditação Hospitalar e Biossegurança – 36 – Síntese Nesse capítulo compreendemos os princípios de gestão da qua- lidade de Feingenbaum e também os princípios da família de normas ISO. A partir da compreensão dos princípios, aprofundamos três dos princípios ISO: Engajamento, Abordagem de processo e Pensamento sistêmico. Vimos que o Engajamento vai além da simples motivação e que um profissional engajado se foca nas relações com os demais e na alteridade. O profissional engajado é proativo e está em constante aperfeiçoamento, objetivando crescer e obter o melhor para a organi- zação, como parte de um todo sistêmico, um verdadeiro promotor da missão institucional. O segundo princípio estuda foi a Abordagem de Processo, enten- dendo que um processo organizacional pode ser definido como conjunto de atividades com certos tipos de entrada (input) que são operaciona- lizadas e geram uma saída (output) relevante para o cliente. A palavra processo relaciona-se a um conjunto de afazeres de trabalho que reque- rem insumos e outros afazeres particulares que possuem valor agregado na obtenção de resultados. Compreendemos o mapeamento de processos a partir da perspectiva de Bittar e de Fleming, abordando ainda em um item específico a Gestão de Processos para Acreditação. Sintetizando, vimos que processos necessitam de planejamento, organização e gestão, em que necessidades e anseios são levantados e atendidos em programas e serviços específicos. Por fim abordamos o princípio da Abordagem Sistêmica como fun- damental para a qualidade e a acreditação hospitalar. Sem uma abordagem sistêmica prática, assuntos interfuncionais, gestão integrada e trabalho multiprofissional não são efetivados. As mais significativas oportunidades de melhoria contínua de processos estão nas interfaces funcionais, na ação coletiva, no trabalho conjunto interprofissional, ou seja, no entendimento e no fluir prático do hospital como um sistema. Assim, o pensamento sis- têmico estabelece uma mudança no modelo de gestão, um novo modelo em que as relações, a rede de atividades coletivas e os processos são mais importantes do que a simples soma das partes. – 37 – Gestão da Qualidade: princípios, ferramentas e contexto organizacional da acreditação Atividades 1. Vimos com base nos estudos de Feingenbaum (1994) que exis- tem pelo menos dez princípios para que a qualidade se apro- funde nas organizações. São eles: 1. Qualidade deve ser exten- siva a toda organização; 2. Qualidade é o que o consumidor pode perceber; 3. Qualidade e redução de custos devem andar juntas; 4. Qualidade exige empenho individual e coletivo; 5. Qualidade muda o modelo de gestão empresarial; 6. Qualidade e inovação são interdependentes; 7. Qualidade é ética; 8. Qualidade pre- cisa de aprimoramento permanente; 9. Qualidade é a via menos custosa para a produtividade; 10. Qualidade opera um sistema abrangente, incluindo agentes internos e externos. Escolha 3 desses 10 princípios e crie um exemplo de ação que ajude a reforçá-lo em uma organização hospitalar. Princípio Exemplos de ação 1. 2. 3. 2. Para organizações que buscam a melhoria contínua, os oito prin- cípios de qualidade das normas ISO conduzem à estruturação de programas de gestão da qualidade, como base para que uma insti- tuição construa um sistema de qualidade eficaz. São requisitos pro- venientes de experiências de inúmeras organizações, usados como base para a implementação em novas instituições, independente- mente de sua área de atuação. Nesse capítulo, vimos o detalha- mento de três desses princípios: pensamento sistêmico, abordagem de processo e engajamento. Dentre os outros cinco princípios não detalhados, escolha dois deles e escreva meia página sobre cada um deles, relatando os resultados mais interessantes que obteve com a sua pesquisa, indicando livros, artigos, vídeos, sites e demais materiais interessantes que encontrou sobre cada um. Acreditação Hospitalar e Biossegurança – 38 – 3. O conceito de Processo relaciona-se ao conjunto de atividades laborais que requerem insumos somados a outros afazeres par- ticulares que possuem valor agregado para atingir resultados. O processo organizacional pode ser definido como conjunto de ati- vidades com certos tipos de entrada (input) que são operacionali- zados e geram uma saída (output) relevante para o cliente. Estru- turas e processos constituem o ambiente interno da instituição. O meio externo é compreendido de forma mais detalhada por meio do modelo de Bittar, que apresenta diversos fatores que interfe- rem no processo produtivo de programas e serviços. Com base no modelo de Bittar (figura 1.3) escolha um processo hospitalar e faça um diagrama com base na organização proposta por Bittar. 4. Se o desempenho da equipe não estiver gerando os resultados esperados e ocorrer aquém do esperado, é evidente que a pro- dutividadeda organização despencará, tornando os resultados frágeis e com repercussão negativa. A partir desse entendimento, fazer com que os colaboradores desempenhem seu maior poten- cial deve ser uma finalidade prioritária e constante em uma orga- nização em que a melhoria contínua e a formação continuada são motores para a inovação, a competitividade e a constante busca por aprofundamento em qualidade. O que nos leva a pergun- tar: O que torna a gestão de pessoas mais eficiente tendo como horizonte de chegada a acreditação? Um elemento da resposta é justamente o engajamento, sem o qual a organização não funcio- nará como um organismo sistêmico que trabalha para o cresci- mento interno e externo que passa necessariamente pelo desen- volvimento de cada profissional e vinculação e complementação com os demais. Nessa parte do texto há uma referência à relação entre engajamento e pensamento sistêmico. Como base na sua compreensão desses dois princípios importantes para acredita- ção, elabore um parágrafo de 8 a 10 linhas estabelecendo essa relação e destacando a importância do engajamento sistêmico para a acreditação hospitalar. 2 Gestão da Qualidade em saúde e acreditação: sistemas de saúde e hospitais Neste capítulo busca-se evidenciar as práticas gerenciais mais utilizadas para condução de processos organizacionais, cir- cunscritos na finalidade de mensurar as metas de qualidade defi- nidas e aferir os resultados obtidos com essas práticas com vistas à Acreditação Algumas dessas ferramentas são citadas ao longo do livro, sendo detalhadas aqui de forma resumida: Diagrama de Pareto, Diagrama de causa e efeito e Brainstorming. O foco será detalhar a aplicação dessas ferramentas na gestão hospitalar, estabelecendo um conjunto de princípios, análises e ações que vão da qualidade à acreditação, ou seja, compreender como essas ferramentas podem contribuir no aprimoramento de processos organizacionais com vistas à acreditação em saúde. A segunda parte do capítulo aborda a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que cumpre uma função central no Brasil para garantir a segurança sanitária de uma série de pro- dutos e serviços que consumimos todos os dias, definindo dire- trizes, monitorando e controlando os processos de produção e oferta de serviços que impactam a saúde humana. Acreditação Hospitalar e Biossegurança – 40 – Vários esforços estão sendo direcionados a fim de ajustar estra- tégias da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) para avançar na qualidade na Atenção Básica (AB), objetivando ampliar o acesso à saúde com um padrão de oferta e segurança aos pacientes. A qualidade da gestão e das práticas de equipes de saúde no SUS, com ações de educação, prevenção e diagnóstico precoce de patologias, tem assumido importância estratégica na última década. Nesse sentido, a última parte do capítulo é o programa implementado pelo Ministério da Saúde vol- tado para qualificação e aprofundamento técnico da Atenção Básica: o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ). 2.1 Ferramentas Gerenciais: Caminho da Qualidade à Acreditação em Saúde Ferramentas gerenciais e indicadores de qualidade são aplicados à gestão de serviços de saúde, utilizados na elevação da excelência técnica, satisfação do cliente, gerenciamento de risco e segurança do paciente, estratégias que criam as condições propícias para certificação de qua- lidade (acreditação hospitalar e de serviços de saúde). É importante lembrar que o foco nunca deve ser a Acreditação como um fim em si mesma, mas sim, conquistar níveis mais elevados de qualidade, de efi- cácia, resultados mais altos em cura e qualidade de vida, tornando-se uma instituição relevante socialmente e reconhecida por sua excelência. A Acreditação é resultado da qualidade orgânica de processos e ações já existentes, da capacitação dos profissionais e da infraestrutura que atende a critérios internacionais, que, por meio de auditorias internas e externas, mostra-se adequada aos padrões avaliados por instituições certificadoras, em processo de verificação dentro das especificidades da organização a ser acreditada. A Gestão da Qualidade organizacional tradicionalmente ao longo das últimas décadas tem adotado algumas ferramentas gerenciais como Método de Solução de Problemas PDCA, Programa 5S, Diagrama de – 41 – Gestão da Qualidade em saúde e acreditação: sistemas de saúde e hospitais Pareto, Fluxograma, Gráficos de dispersão, Diagrama de controle, Dia- grama de causa e efeito, Histograma, Brainstorming, Folha de verifica- ção, entre outras. Essas ferramentas aplicadas à qualidade em hospital visam identificar cenários e problemáticas, mensurar, analisar e propor soluções para consolidação e progresso da cultura da qualidade com vistas à acreditação. As ferramentas de qualidade se baseiam em téc- nicas usadas para conceber, aferir, analisar e estruturar soluções para questões que impactam no desempenho dos processos de trabalho, lem- brando que qualidade hoje é uma exigência em todos os nichos e áreas econômicas, em serviços ou produtos em saúde para garantia da segu- rança sanitária e excelência na qualidade de vida da população como um todo. (PRADO, 2015). Não é o propósito deste livro aprofundar a discussão sobre ferramen- tas gerenciais em saúde, mas é importante citar as principais e relacioná- -las com a qualidade e a acreditação nos serviços de saúde. O quadro a seguir traz uma definição dessas ferramentas e estratégias de gestão e a relação com a gestão em saúde. Quadro 2.1 – Ferramentas estratégicas para gestão em saúde Ferramenta Definição Aplicação em saúde Brainstorming Significa tempestade de ideias, e consiste em uma reunião de pessoas concen- tradas em um determinado assunto ou problema a resolver. As pessoas men- cionam livremente suas ideais, hipóteses e propos- tas para a temática, que posteriormente são agrupa- das e a discussão aprofun- dada para transformá-las em ações. Levantamento livre de hipóteses para reflexão sobre a solução de pro- blemas em saúde, sobre- tudo para diagnóstico e tratamento. É funda- mental dada a complexi- dade das ações na área. Acreditação Hospitalar e Biossegurança – 42 – Ferramenta Definição Aplicação em saúde Diagrama de causa e efeito Também chamado de dia- grama de Ishikawa (criado por Kaoru Ishikawa) ou diagrama de espinha de peixe, é uma ferramenta de análise de dispersões para verificação de processos. A ferramenta considera seis diferentes tipos de causas que influenciam proces- sos: Método, Máquina, Medida, Meio Ambiente, Mão de Obra, Material. Em saúde, a correlação entre métodos, máquina, medidas, meio ambiente, colaboradores e mate- riais envolve questões estratégicas e apoio à decisão que repercutem na gestão da qualidade e no processo de acredita- ção hospitalar. Diagrama de controle Permite visualizar o com- portamento e evolução de um processo ou ação ativi- dade, conforme a variação em determinado período, visando identificar a pre- visibilidade de ocorrên- cias e variações. É importante controlar eventos e métricas de qualidade em saúde ao longo do tempo, a fim de mapear inconsistências, gatilhos de problemas e hipóteses de soluções. Diagrama de Pareto Usado para identificar itens responsáveis por erros ou problemas, permitindo a fácil visualização das cau- sas mais relevantes para planejar a centralização de esforços sobre eles. É uma importante estra- tégia para identificar 20% de causas que são responsáveis por 80% de resultados com várias aplicações em saúde e no contexto hospitalar. – 43 – Gestão da Qualidade em saúde e acreditação: sistemas de saúde e hospitais Ferramenta Definição Aplicação em saúde Folha de verificação Auxilia a coleta de dados a partir de observações com a finalidade de definir modelos e conduzir a aná- lise de informações. Folhas de verificação poupam tempo, reduzindo retraba- lho e facilitando mapea-mento de processos. Facilitam e agilizam processos em saúde que, devido a sua com- plexidade, precisam de checklists e métodos de verificação de processos para evitar erros e regis- trar eventos de rotina. Fluxograma É uma das Sete Ferramen- tas da Qualidade. Muito utilizado em fábricas e indústrias para a organiza- ção de produtos e proces- sos. É um tipo de diagrama feito por meio de gráficos que ilustram de forma des- complicada a transição de informações entre os ele- mentos que o compõem. Funciona como mapas conceituais que ajudam a organização sistêmica de ideias, procedimen- tos, projetos e ações, favorecendo a resolução de problemas em trata- mentos, pesquisa e con- dutas na área da saúde. Gráficos de dispersão Analisa a influência de um fator sobre outro, a fim de compreender se há correla- ção entre eles. Não é uma relação de causa e efeito. Visa aferir se a mudança de um fator provoca alteração em outro, de forma posi- tiva, negativa ou nenhuma. Na área da saúde, fatos, processo e ações multi- profissionais apresentam interdependência e os gráficos de dispersão são fundamentais para com- preender a ligação e tipo de influência no fluxo de processos e informações. Acreditação Hospitalar e Biossegurança – 44 – Ferramenta Definição Aplicação em saúde Histograma Representação gráfica quantitativa em classes de frequência, usada para mos- trar e aferir a assiduidade com que algo acontece. Histogramas auxiliam na análise estatística de ocorrência como óbi- tos, nascimentos, cirur- gias, atendimentos, e também no controle de eventos críticos de qua- lidade em hospitais. Metodologia 5S Metodologia japonesa de qualidade total com o objetivo de orientar orga- nizações para disciplina e melhorias de processos para redução de desperdí- cio e aumento da eficiência operacional. Princípios: utilização, organização, limpeza, padronização/ saúde e disciplina. Metodologia que favo- rece a organização do ambiente e fluxos de trabalho, aumentando a produtividade, funda- mental em organizações de saúde, como hospitais que funcionam 24 horas. PDCA Ciclo PDCA se destina a planejar processos, aplicá- -los, prever falhas, solu- cioná-las e conferir resulta- dos (planejar (Plan), fazer (Do), checar (Check) e agir (Act). Tem vasto campo de aplicação, útil a diferentes organizações, focando na melhoria contínua. Ciclo de planejar, fazer, checar e agir, funciona como processo contínuo e refinamento de proces- sos com vistas ao aprimo- ramento contínuo e ado- ção de melhores práticas, o que é fundamental para a saúde e a garantia da segurança do paciente. – 45 – Gestão da Qualidade em saúde e acreditação: sistemas de saúde e hospitais Ferramenta Definição Aplicação em saúde 5W2H – Plano de Ação Uma das principais ferra- mentas de gestão para ela- boração de planos de ação, em que se podem identi- ficar todos os elementos para execução de um plano de ação, aplicável a um plano estratégico, tático e operacional. Bastante usada para ela- boração de projetos em saúde, especialmente em hospitais. Requer resposta a sete pergun- tas: O quê? (What), Por quê? (Why), Onde? (Where), Quando? (When), Quem? (Who), Quanto? (How much), Como? (How). Fonte: elaborado pelo autor. Algumas dessas ferramentas são citadas ao longo do livro, sendo detalhadas aqui de forma resumida: Diagrama de Pareto, Diagrama de causa e efeito e Brainstorming. O foco será detalhar a aplicação dessas fer- ramentas na gestão hospitalar, estabelecendo um conjunto de princípios, análises e ações que vão da qualidade à acreditação, ou seja, compreender como essas ferramentas podem contribuir no aprimoramento de processos organizacionais com vistas à acreditação em saúde. Os indicadores que facilitam o acompanhamento dos resultados da aplicação de ferramentas gerenciais como essas três que iremos ver com mais detalhes, consistem em variáveis aplicáveis à mensuração, quali e quantitativa do estado atual e das mudanças, tendo em vista critérios de qualidade pré-estabelecidos. Várias dessas ferramentas baseiam-se em métricas quantitativas que permitem uma verificação mais precisa e concreta da evolução ou involução dos processos, como é o caso do Dia- grama de Pareto, Histograma e Gráficos de dispersão. São instrumentos baseados em estudos bastante consolidados em pesquisas científicas em Acreditação Hospitalar e Biossegurança – 46 – muitas instituições, de vários segmentos, inclusive saúde, que demons- tram a eficácia nessas métricas para mensuração da qualidade, da produ- tividade, do progresso nas ações e técnicas. Esses instrumentos utilizam indicadores e métricas quantitativas para contabilizar e acompanhar o atendimento ou não a determinados princípios, bem como demonstrar a progressão, o aumento ou os decréscimos, no atendimento aos critérios definidos. Esses critérios podem ser próprios das ferramentas gerenciais, ou ainda, podem ser criados ou utilizados instrumentos específicos para determinadas certificações de acreditação, como é o caso dos oito princí- pios ISO 9000 vistos no capítulo anterior. Conforme Donabedian (1988), os indicadores de qualidade em saúde podem ser classificados em três tipos: Estrutura, Processo e Resultado. A Estrutura contempla recursos humanos, físicos, materiais e financeiros, os equipamentos, as políticas de educação permanente e o estabelecimento de protocolos assistenciais. Processo – corresponde ao conjunto de ati- vidades na produção e no setor da saúde, relações estabelecidas entre os profissionais e os usuários, incluindo a busca pelo diagnóstico e pela tera- pêutica empregada. Resultado – consiste na obtenção das características desejáveis dos produtos ou serviços, retratando os efeitos da assistência à saúde do paciente e da população, o custo mensurado e se esse é compatí- vel com a sustentabilidade da organização 2.1.1 Diagrama de Pareto O diagrama de Pareto, também chamado de curva ABC ou Princí- pio 80/20, foi desenvolvido por Joseph Juran, um consultor de qualidade que, por meio de pesquisa, chegou à conclusão de que, em linha gerais, 80% dos problemas são causados por 20% dos fatores. A denominação “Pareto” é uma referência que Juran fez ao economista Vilfredo Pareto, que realizou um estudo de observação econômica, percebendo que 80% da riqueza na Itália pertencia a 20% da população. Já o nome Curva ABC se deve à metodologia utilizada da seguinte forma: Classe A: classe mais elevada em valor ou quantidade com 20% do total; Classe B: importân- cia intermediária, correspondente a 30%; Classe C: menor importância ou quantidade, com 50% de ocorrência total. (HENRIQUE, 2010). – 47 – Gestão da Qualidade em saúde e acreditação: sistemas de saúde e hospitais As descrições base desses parâmetros ABC não significam uma norma matematicamente absoluta. São categorias que podem variar con- forme a organização ou o segmento de atuação, sendo que os percentuais não são fixos, porém guardam uma proporção de prevalências, indo do mais importante e mais raro, para o mais comum e com maior ocorrência. Isso exige cuidado na realização de uma análise baseada em Curva ABC, para que essa flexibilidade na definição de itens de análise não faça com que o método perca seu critério. Para exemplificar um uso corriqueiro, o diagrama de Pareto destina- -se ao gerenciamento de estoques, para um controle específico dos produ- tos em estoque, segundo padrões de utilização e consumo, auxiliando na redução de custos sem impactar a qualidade e o atendimento ao cliente. O grande objetivo do diagrama de Pareto nesse caso é classificar os itens de estoque segundo sua relevância no processo administrativo. Outra apli- cação frequente dessa ferramenta está na identificação de causas para determinados padrões em gestão da qualidade, auxiliando na compreen- são dos 20% de causas que geram a maior parte dos padrões de ação e comportamento observados em uma organização. Também tem aplicação
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