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TEXTO DE APOIO - Da colinização á emancipação de Angola docx história

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1 
 
I - CARACTERIZAÇÃO DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA EM ANGOLA 
Pelo facto do nosso trabalho ter como foco a descolonização, optamos por fazer 
uma breve abordagem sobre elementos que caracterizam o período colonial em 
Angola. 
Com fim do tráfico de escravos e da escravatura, um novo tipo de relações foi 
estabelecido entre os europeus e os africanos e assim, a aventura dos primeiros 
no século XIX foi muito animada pela necessidade económica, ou seja, pela 
competição económica entre os Estados europeus interessados no potencial do 
continente africano, fundamentalmente na matéria-prima que ajudariam na 
sustentabilidade da indústria europeia, tendo como foco de erguer o seu prestígio 
mundial e inculcar a cultura e civilização nos territórios africanos, Assim, a 
colonização a partir da segunda metade de século XIX, fundamenta-se nos 
interesses económicos e políticos dos Estados entre os Estados europeus 
interessados no potencial do continente negro, fundamentalmente a matéria-prima 
que ajudariam na sustentabilidade da indústria europeia, tendo como foco de erguer 
o seu prestígio mundial e inculcar a cultura e civilização nos territórios africanos. 
Assim, a colonização a partir da segunda metade do século XIX, fundamenta-se 
nos interesses económicos e políticos dos Estados europeus (Chimanda, 2010, 
p.11- 14). 
Na vertente político-administrativa 
2 
 
 
3 
 
O processo de colonização no século XIX tem como marco a década de 1880, pois 
estabeleceu o reforço dos impérios europeus, definindo um novo alinhamento das 
políticas coloniais a partir da Conferência de Berlim. 
O período de descobrimento de África baseou-se também na imposição do domínio 
político, ideológico, económico e estratégico. Mas no caso de Portugal, a 
descoberta de África bem como a efectivação da sua presença no continente berço, 
significou o grande interesse estratégico, quer do ponto de vista económico, 
cultural, da acção religiosa e espiritual de apostolado, representando o ponto de 
vista civilizacional dos portugueses (Neves, 1974, p.25). 
É um dado adquirido que Angola foi uma colónia portuguesa, este regime colonial 
consolidado, vitimando os angolanos e explorando ferozmente os recursos naturais 
do território teve várias facetas. Assim, no contexto português, serão determinantes 
as décadas de 1930 e 1940, pois estabelece-se o Estado Novo, um regime 
fortemente marcado pela centralização e pelo autoritarismo, que provocou 
mudanças significativas de carácter político e administrativo nas colónias 
portuguesas tendo como desiderato uma intensificação do controlo sobre os 
territórios africanos, numa altura que Portugal já não contava com o Brasil desde 
1822. Esse controlo visava o alcance de um equilíbrio económico tanto na 
metrópole como em todo o império, daí a importância do Estatuto dos Indígenas 
que estabeleceu uma distinção legal da população angolana, dividindo-a em 
civilizados, assimilados e indígenas, sendo estes últimos desprovidos de direitos 
políticos (Stefenson, 2009, p.19). 
Para dar corpo ao seu plano, o Estado Novo passou a incentivar a imigração 
portuguesa para as suas colónias, causando profundas transformações nos centros 
populacionais mais antigos, principalmente, onde o próprio processo de integração 
cultural se deu de forma mais intensa e num período mais longo. No contexto desta 
interação de séculos entre europeus e africanos, formaram-se grupos que se 
diferenciariam das demais populações africanas, e que viriam a sofrer directamente 
com a marginalização, inclusive espacial, acarretando na sua expulsão para zonas 
periféricas das cidades com a consequente expansão dos musseques, provocada 
pelo aumento da presença portuguesa (Pepetela, 1997, p. 91). 
Deve perceber-se que do ponto de vista político a colonização causou o fim dos 
reinos, minando autoridade dos reis com a introdução de práticas incomuns para o 
4 
 
africano, pois a organizaçao politica africana apresentava caracteriticas próprias 
que permitiam uma certa estabilidade e controlo dos seus povos. Assim, a presença 
portuguesa em Angola, fundamentalmente durante a década de 1930 a 1940, onde 
se dá o estabelecimento do estado novo em portugal, um regime fortemente 
marcado pela centralização e pelo autoritarismo, que vai imprimir várias 
transformações de carácter político-administrativo nas colonias em Africa, 
particularizando-se o caso da colonia de Angola (Stefenson, 2009, p.16). 
 
1.1.1. Na vertente socio-cultural 
Durante a colonização, os governantes portugueses julgavam-se os donos da única 
verdade. Assim, julgavam-se no direito de condenar tudo o que fosse diferente da 
sua cultura. Subalternizavam todas as formas de práticas tradicionais, as 
cerimónias tradicionais dos rituais dos povos de Angola. Os africanos, na vertente 
cultural, segundo os portugueses, deveriam ter como ponto de referência a cultura 
europeia (Neto, 2014). 
O governo colonial português utilizou em Angola uma política assimilacionista, com 
pretexto de que os portugueses tinham a missão de “civilizar” as populações 
“indígenas”. 
A política assimilacionista portuguesa pretendia que os angolanos renunciassem 
os seus usos e costumes, às crenças tradicionais, suas línguas, etc., absorvendo 
a cultura portuguesa. José Mendes Norton de Matos foi um dos governantes de 
Angola que mais se preocupou com a assimilação dos angolanos e que proibiu a 
utilização das línguas angolanas no ensino e na catequese. 
A política de assimilação é oficializada a partir do pronunciamento do governador 
Marcelo Caetano, (1953/1954) numa conferência do Centro de Estudos 
Económicos da Associação comercial do Porto. No pronunciamento, ele apresenta 
o esquema de diferenças dos nativos sob o ponto de vista cultural. A política de 
assimilação começa a ser implementada à partir do recenseamento português de 
1960, e os nativos começam a ser categorizados em dois grupos: os assimilados e 
os indígenas. 
5 
 
Indígenas eram considerados os nativos da raça negra e os seus descendentes, 
nascidos ou que habitassem permanentemente em Angola, que não tivessem nesta 
altura um nível de formação ou experiência pessoal ou social, considerada 
necessária no quadro da aplicação do Direito Público e Privado a cidadãos 
portugueses. Levava-se em consideração a raça, a origem, o local de nascimento 
e moradia, mas o principal traço de distinção entre assimilado e indígena fazia-se 
na esfera da cultura. Para conseguir o estatuto de “assimilado” e obter o direito de 
cidadão, o nativo tinha de atingir os 18 anos de idade, falar correctamente em 
português, ter uma profissão ou ocupação que lhe garantisse a si e aos seus 
familiares o mínimo necessário para viver, “comportar-se de forma digna”, possuir 
um determinado nível de formação e cultura dentro dos padrões portugueses e 
cumprir obrigatoriamente o serviço militar (Fituni, 1985, p.55, cit. por Neto, 2014, 
pp. 169 - 170). 
Os negros e mestiços, durante a colonização portuguesa em Angola lhes foi 
imposto a obrigação de assimilarem a cultura portuguesa tal qual era (pura), isto é, 
sem a mínima alteração que viesse das culturas africanas locais. Esta realidade fez 
com que antes de 1961, propriamente em 1950, houvesse menos de 1% dos 
africanos que eram legalmente classificados como assimilados. (Bender, 1980). 
(…) História de educação em Angola (que, de certa maneira, se confunde com a 
própria História de Angola, (…). O assimilacionismo, um princípio reitor da política 
de educação colonial em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, tinha como 
propósitos os seguintes: mudar valores e hábitos culturais africanos por europeus 
como forma de perpetuar a administração colonial; proporcionar aos africanos uma 
formação voltada, quase que exclusivamente para a religião e a actividade laboral, 
mas que evitasse a concorrência no mercado de trabalho com os portugueses, bem 
como qualquer aspiração políticados africanos a um maior sentido de 
autonomização. A história da educação em Angola não poderá continuar a passar 
ao lado dos planos de estudos da formação de professores, que, como 
interventores sociais de excelência, têm responsabilidade de formar o actuais e os 
futuros cidadãos para o trabalho, para a cultura e para o exercício pleno da 
cidadania, em contexto de harmonia e coesão social, tendo em vista a construção 
política da identidade nacional e o desenvolvimento do País. Não é desenhar o 
6 
 
futuro sem se levar em conta o passado. Como diria Séneca, “não há ventos 
favoráveis quando não se conhecem os rumos (Samuels, 2011). 
“Em 1950, a portaria 7079 instituiu o Ensino Rudimentar «exclusivamente destinado 
aos indígenas dos dois sexos, dos 7 anos aos 15 anos completos” (Gabriel, 1978, 
p. 500). 
O ensino rudimentar compreendia quatro classes, sendo a primeira uma classe de 
iniciação. Em seguida vinha o ensino primário elementar. Os indígenas, concluído 
o ensino rudimentar podiam matricular-se na terceira classe do ensino primário 
elementar. No entanto, para a matrícula neste nível era exigida a apresentação do 
Bilhete de Identidade dos pais do aluno e os indígenas não possuíam tal 
documento, não podendo, como consequência matricular os seus filhos (Gabriel, 
1978). 
Em 1973 havia 5.888.000 habitantes na colónia de Angola, estando 3.245.000 em 
idade escolar, isto é, entre os 5 e os 24 anos. Da população em idade escolar 
estavam 18,8% a frequentar instituições escolares. Para um país que tinha 85% de 
analfabetos, esse “esforço de educação” era exíguo. E mais, se as estatísticas 
discriminassem os alunos em angolanos e portugueses, ver-se-ia que as crianças 
portuguesas eram todas escolarizadas o que não acontecia com as crianças 
angolanas. E além disso, a percentagem de angolanos ia decrescendo à medida 
que o ensino subia de nível, até atingir uma proporção ínfima no ensino universitário 
(Dilolwa, 1978). 
O ensino primário específico ministrado aos angolanos, classificados como 
indígenas, estava substancialmente sob a responsabilidade das missões católicas 
que colaboravam com as autoridades portuguesas na tarefa de destruir os 
fundamentos da cultura tradicional angolana (Neto, 2014). 
Os missionários católicos sempre manifestaram atitudes negativas para com a 
cultura e religião nativa, pois o objectivo principal era o de destruir a educação, 
cultura e a religião africana a qualquer preço. Assim, pregavam que o único e 
verdadeiro Deus era aquele cuja natureza e essência havia sido revelada pela 
Bíblia Sagrada, e todos os outros deuses não passavam de ilusões. Desse modo, 
os missionários católicos consideravam-se munidos de plenos poderes para 
conduzir todos os nativos de Angola ao domínio da Graça e da Salvação. 
7 
 
Imbuídos da convicção de serem donos da única verdade, condenavam tudo o que 
fosse diferente. Pregavam contra todas as formas de práticas tradicionais, as 
cerimónias tradicionais dos ritos. De modo geral, tornar-se cristão significava deixar 
de ser africano e tomar como ponto de referência a cultura europeia. O cristianismo 
exercia uma força desagregadora sobre a cultura angolana. (Opuku,1991,p.536). 
Continuando fazer recurso a Neto (2014), os jesuítas padres integrantes da 
campanha de Jesus, criada por Inácio de Loyola, impuseram a educação, religião, 
ideologia e a metodologia ocidental como se elas tivessem validade universal. 
Assim, os missionários católicos se consideravam portadores da melhor educação, 
e cultura supostamente superior à dos nativos. Foi também este o período em que 
se quis fazer da educação a eclesiologia missionária unilateral, em que o verdadeiro 
deus era o Deus dos portugueses, e que a verdadeira educação era a portuguesa. 
Para efectivar essa defesa, os missionários católicos utilizavam um processo 
educacional baseado na indução para a conversão e na conquista espiritual. 
A medida em que iam construindo escolas, eram transmitidos os valores cristãos e 
a cultura portuguesa. Eram criadas as condições de colonização e abria-se espaço 
para a acção exploratória da metrópole. Para os portugueses, educar era portanto, 
sinónimo de desafricanização. Tanto que para melhor conseguirem seus 
objectivos, induziram e incentivaram os nativos a se desvirtuarem entre si, 
passando a denominá-los por gentios e pagãos. 
O sistema de educação colonial português deixou marcas na cultura dos 
angolanos. O processo educacional imposto aos angolanos pelos portugueses 
deixou marcas profundas nas elites de Angola (Samuels, 2011). 
Para se perceber a dimensão do colonialismo em relação a cultura dos povos 
colonizados é preciso perceber que o fenómeno colonial não foi apenas expansão 
e dominação económica, mas também dominação cultural e etnocentrista. Os 
assimilados foram um produto híbrido do colonialismo com os pés em África e a 
mente na Europa (Ki-zerbo, 2009). 
Em função dos contactos entre europeus e estruturas africanas, provocou 
mudanças profundas com a introdução de uma classe detentora do poder com 
decisivo impacto no modelo de classe pré-colonial. Assim, do ponto de vista social 
e cultural a colonização portuguesa trouxe para Angola a destruição e o 
8 
 
despovoamento de muitas regiões, levando os povos africanos a um processo de 
aculturação a culturas e práticas sociais ocidentais, provocando uma negação da 
cultura negro-africana, enquanto os costumes europeus iam-se afirmando como o 
modelo de civilização para todos os povos. Perante esta realidade, o africano 
sentiu-se incapaz e criou sérias dúvidas quanto aos seus costumes, criando um 
complexo de inferioridade em parte também motivado pelos anos do tráfico de 
escravos e escravatura (Pantoja, 2000,p.58). 
Os portugueses afectaram profundamente as estruturas e instituições socio-
culturais dos africanos de Angola. O sentimento de repulsa por parte dos angolanos 
era inevitável, logo, a busca pela dignidade perdida era um imperativo histórico. 
 
1.1.2. Na vertente económica 
No aspecto económico, a relação teve início no século XV, mas foi o século XVI 
fundamental para a criação de uma entidade económica portuguesa em de Angola, 
pois este século marca o fim da independência do reino dos Mbundu e o início da 
presença portuguesa permanente e estável em Angola com a fundação da 
capitania de Luanda em 1575. 
Com a presença portuguesa em África, Angola conhece uma nova era com a 
instalação de uma nova identidade que apresentava moldes diferentes daqueles 
tradicionais, passando a influenciar os poderes políticos e económicos, mas 
também no aspecto socio-cultural. Assim, rapidamente Angola transformou-se em 
um dos lugares de topo durante o tráfico e pós-tráfico, com características próprias, 
destacando-se a implementação de uma aliança internacional de classes, entre 
mercantilistas europeus e aristocratas africanos e o interesse de outras potências 
pelos escravos e pelas vias de escoamento após a abolição do tráfico de escravos 
e da escravatura (Miller,1995, p.98). 
Antes da presença portuguesa, o sector económico de Angola, conhecido como 
economia pré-colonial, apresentava características de uma economia de 
subsistência adaptada a estrutura social e política dos reinos tradicionais que em 
alguns aspectos tinham tendências de uma vida nómada. Essa estrutura social e 
política com características de um modelo federativo, tinha por base uma economia 
forte com a utilização de uma moeda devido a complexidade do volume de negócios 
na região da bacia do Congo. Com a presença portuguesa, começam a ser 
9 
 
estabelecidas relações comerciais entre Angola e Portugal que passaram a ser 
baseadas numa primeira fase pela igualdade e respeito mútuo, mas a ganância 
europeia transformou o modelo económico de Angola puramente colonial com a 
exportação de matérias-primas em bruto (Dilowa,2000, p.87). 
Assim, numa primeira fase, tal como aconteciaem todas as colónias, Angola servia 
de fornecimento da força de trabalho para as plantações na America, 
específicamente no Brasil, mas com o fim do tráfico de escravos e da escravatura, 
toda hegemonia perdeu a sua importância. Deste modo, o colonialismo português 
foi marcado pela violência sobre as populações, pelas conquistas territoriais do 
poder colonial e de alguns poderes pré-coloniais que foram utilizados como força 
de trabalho de baixo custo, situação que acabou por enfraquecer as soberanias 
locais com a criação de uma economia colonial de fraca produtividade dependente 
do mercado externo desde o século XV ao seculo XX. 
A presença portuguesa acabou por transformar o paradigma económico de Angola 
numa actividade económica de subsistencia precária. Lembrar que antes da 
chegada dos porugueses, a economia de subsistencia caracterizava as sociedades 
africanas, mas a sede de lucros dos europeus e a prática de tráfico de escravos 
arruinaram a estrutura económica de Angola. 
Em Angola, o sistema de monopolio comercial português e as coações militares 
sobre a fixação dos preços, impediam os chefes tradicionais de terem qualquer tipo 
de iniciativa económica, passando apenas a receber uma diminuta vantagem 
económica do comércio e pelas perdas de guerra (Birmingham, 1870,p.7) 
Os actos dos portugueses trouxeram para Angola o trabalho forçado, instituido após 
a abolição do tráfico de escravos e da escravatura, sendo os angolanos forçados a 
prestar serviços por contrato em alguns casos e quem se recusasse a prestar tais 
serviços era severamente castigado e muita das vezes acabava sendo morto, esse 
era um dos situações mais frequente. 
(…) populações face as inúmeras investidas do invasor que expropriava as suas 
terras, obrigando-os ao pagamento de impostos elevados de soberania, ao mesmo 
que impunha à população regimes de trabalho forçado. Essa situação levava o 
povo a pequenas revoltas, e a acção política dos poucos nacionalistas na altura 
concentrava-se na denúncia do roubo e pilhagem dos colonizados. (Capoco, 2013). 
 
10 
 
Os angolanos perante a necessidade de pagamento de imposto e o trabalho 
forçado, novas modalidades de exploração, eram obrigados a aceder as mesmas 
como forma de evitarem perda das suas terras, maus tratos e outras vicissitudes 
degradantes que eram sujeitos em caso de recusa. 
Do ponto de vista económico, a colonização portuguesa pode ser justificada pela 
intensa vontade do governo português curar as feridas deixadas pela 
independência do Brasil que se emancipou em 1822, já que economicamente 
subsistiu, desde o século XIX, a concepção liberal de que, perdido o Brasil, os 
territórios africanos seriam o sustentáculo da existência autónoma de Portugal. 
 
ÁFRICA E A EMANCIPAÇÃO COLONIAL 
A áfrica colonial foi dividida em colónias. Apenas a Etiópia e a Libéria conservaram 
suas independências. Todos os povos colonizados perderam o direito a cidadania 
e a liberdade. 
Os motivos da invasão do continente foram variados. No entanto, essencialmente 
estavam ligados ao desejo de aquisição de vantagens políticas e económicas. A 
possessão das colónias africanas transformou-se numa questão de prestígio 
nacionalista europeu. Em 1900, a partilha do continente estava quase completa, 
embora tivesse havido algumas excepções, o período de implantação do sistema 
colonial e de destruição dos últimos remanescentes da resistência armada africana 
prolongou-se até 1920, ou mais tarde em algumas colónias. De 1920 até cerca de 
1950, foi um período central do domínio colonial (Kamabaya, 2003, p.78). 
A situação de dominação colonial insustentável para os africanos teria de ter fim. 
As premissas da acção reivindicativa tiveram motivações e suporte interno e 
externo. Assim sendo, acreditamos que houve influência das guerras mundiais para 
a descolonização do nosso continente. 
 
A luta pela libertação dos povos africanos, ganhou peso logo após o fim da IIª 
guerra Mundial, uma vez que, com o fim desta guerra o Mundo ficou bipolarizado, 
passando os EUA e a URSS a dominarem o Mundo, enquanto as potências 
europeias perdiam seu lugar como principais potências mundiais. De modo a evitar 
futuras guerras, em 1945, a Organização das Nações Unidas substitui a Sociedade 
das Nações, passando a ser o organismo responsável pela paz e segurança 
11 
 
mundial, tendo novos modos operantes. Esse cenário mundial, serviu de alento 
para os MN africanos que passaram a olhar para o processo de emancipação com 
mais esperança e certeza. (Savite, 2014) 
Depois desta conflagração, a situação alterou-se e a causa da liberdade africana 
progrediu rapidamente em quase todas as colónias (Davidson, 1978, p.218). 
A participação de milhares de africanos na Guerra foi a ocasião de uma descoberta 
brutal do homem branco. Assim os africanos puderam observar as fraquezas do 
homem branco, puderam ver que os brancos trabalhavam com as suas próprias 
mãos, suavam, sentiam sede e fome, tinham relações carnais, havia brancos 
corajosos, mas também havia cobardes. Havia os que tremiam de medo, os que 
traiam e os que se matavam uns aos outros com raiva, em fim, os africanos 
puderam concluir que em algumas circunstâncias o branco era o lobo contra o 
próprio branco. Isto vinha em abono daquilo que David Livingstone ainda no século 
XIX havia afirmado com estas palavras: «Os negros não são melhores nem, piores 
que os homens das outras regiões do globo» (KI-Zerbo, 1972, p. 158). 
A alteração no equilíbrio político internacional provocada por essa guerra, veio 
fortalecer as pretensões de autonomia e de independência dos territórios africanos 
que se encontravam sob o domínio europeu. 
Destacar aqui a influencia dos EUA e a URSS, países que saíram vitoriosos deste 
grande conflito mundial, faziam pressão para que se construíssem nas colónias 
países autónomos, onde eles pudessem exercer a sua influência ideológica e 
aumentar os seus mercados, pelo que apoiaram os movimentos independentistas. 
Foi neste contexto que a Organização das Nações Unidas desenvolveu um 
conjunto de acções, defendendo o direito dos povos a sua autodeterminação, 
surgindo assim a Descolonização (Ki-Zerbo, 1972, p. 160). 
Além das forças acima referenciadas, intervieram outros factores, surgidos quer 
como consequência destas forças, quer de maneira independente, que vão 
fortemente influenciar a África, contribuindo para o despertar do seu nacionalismo. 
É importante ressaltar alguns congressos pan-africanos que deram origem as 
conferências dos povos africanos, a de Accra, Ghana, em 1957 e a de Túnis em 
1960, seguidas de outras conferências que de uma maneira geral reclamavam a 
libertação total do continente. O ponto mais alto destas conferências foi o da 
conferência de 1963, em Addis-Abeba, para a criação da Organização da Unidade 
12 
 
Africana (OUA). O discurso da abertura circunscreveu-se em dois temas principais 
da época, a emancipação e a unidade da África (Ibidem, p.160). 
No artigo 2 são enumerados os objectivos: reforçar a unidade e a solidariedade, 
cooperar e intensificar a cooperação, defender a soberania dos Estados, a sua 
integridade territorial e a sua independência, eliminar da África o colonialismo sob 
todas as suas formas, favorecer a cooperação internacional tendo em conta a Carta 
das Nações Unidas e Declaração Universal dos Direitos do Homem (Ki-zerbo,1972, 
p.402). 
É importante salientar que a conferência de Bandung, realizada em 1955, jogou 
também um papel importante para a autodeterminação dos povos colonizados. 
A conferência de Bandung, em 1955 marcaria o nascimento político do terceiro 
Mundo que além de se assumir como uma terceira força em relação aos blocos da 
guerra fria, proclamaria a necessidade de acabar com o colonialismo sob todas as 
formas e decidiria ajudar política e materialmente todos os povos e movimentos 
nacionais a conquistarem a independência (Rocha,2002, p.52). 
A literatura, a música, a cultura, enfim, jogaram um papel importante no processo 
de descolonização de África através das suas manifestações. Começaram a 
aparecer em Angola algumas revistas como: a Mensagem e a Cultura, onde apesar 
da censura, os militantes conscientes podiam desenvolver um trabalho de 
consciencialização. Divulgavam-se alguns aspectos da natureza do fascismo 1 e do 
colonialismo e de uma cultura nacional. Mesmo no estrangeiro, procurava fazer-se 
trabalho, chamando a atenção do mundo para a miséria do povo africano sob a 
exploração do colonialismo. As palavras de ordem começaram a ser espalhadas, 
tais como: A Luta pela independência e as Organizações africanas de massa, 
liquidação das barreiras artificiais entre africanos indígenas e assimilados (Rocha, 
2002). 
Outro factor que contribuiu para acentuar o sentimento anticolonial, foi o 
aparecimento de intelectuais que tomaram consciência da injustiça e da exploração 
de que as colónias estavam a ser vítimas, muitos desses membros tinham estudado 
nas metrópoles e passaram a liderar as lutas de libertação contra o jugo colonial. 
Por outro lado, a IIª Guerra Mundial tinha reduzido as capacidades económicas e 
 
1 Fascismo 
13 
 
militares das metrópoles, pelo que o domínio das colónias se traduziu num encargo 
acrescido. 
 
Não se pode deixar de destacar também a grande Influência das correntes 
africanistas do Pan-africanismo e da Negritude. Cabe aqui destacar o V Congresso 
Pan-africano realizado em Manchester em 1945, por ter dado um novo impulso 
representativo com a participação de “políticos, sindicalistas e estudantes, 
basicamente representantes das colónias inglesas, e a independência imediata e 
incondicional foi enfatizada como a maior de todas as reivindicações”, destacando 
a presença de lideranças africanas como Kwame Nkrumah, Wallace Johnson da 
Serra Leoa, e Jomo Kenyatta. (Ibidem, 2013). 
Do ponto de vista conceptual, George Padmore definiu o Pan-africanismo como 
pensamento político que procura realizar o governo dos africanos, por africanos e 
para os africanos, respeitando as minorias raciais e religiosas que desejem viver 
em África com a maioria negra. À luz desta visão resulta que se o Pan-africanismo 
consistiu na reivindicação dos direitos políticos para os africanos, de modo que a 
África “falasse pela voz dos seus filhos”, sustentando assim uma base ideológica 
da revolução anticolonial. A Negritude, assenta em aspectos culturais, pretende 
“defender a cultura africana”, através da literatura, da arte e da poesia, próprias da 
inteligência do negro africano (Capoco, 2013). 
 
1.1.3. As colónias portuguesas e a emancipação 
Sabe-se que, no final da década de 1950, viu-se o nascimento de dois Estados 
africanos, que acabaram por exercer grande influência para as independências de 
1960, o mesmo não se pode dizer das colonias portuguesas em África, visto que 
Portugal foi entre os Estados coloniais europeus, o que mais tarde procedeu a 
descolonização, já que para Portugal pouco importava o acompanhamento do 
movimento independentista surgido após a IIª guerra Mundial. 
A persistência portuguesa devia-se a três factores: politico, económico e histórico, 
pois em finais da década de 1950 Portugal era ainda uma ditadura, definida como 
Estado novo, e que tinha apoio da Grâ-Bretanha e dos Estados Unidos da América, 
facto que contribuiu para a manutenção das colónias na luta anticomunista a que 
as grandes potências ocidentais se entregaram. Do ponto de vista económico, a 
14 
 
perda do Brasil em 1822, fez com que Portugal encarasse as suas colonias 
africanas como último refúgio e por isso, seriam sustentáculo da sua existencia 
autonoma. No ponto de vista histórico, o governo do Estado novo, defendia que 
Portugal tinha direitos hitóricos sobre seus territórios em África, por ser pioneiro dos 
descobrimentos (Pinto, 2001, p.54). 
Outrossim, enquanto decorria o processo de descolonização nas colónias inglesas, 
francesas e belgas, as colónias portuguesas continuaram isentas de conflitos, pois 
os movimentos apresentavam-se com pouco espaço de manobra, apesar das 
várias pressões, e Portugal se mostrava intransigente quanto ao processo de 
autonomia das suas colónias, chegando mesmo a transformá-las em províncias 
ultramarinas. 
Segundo Maxwell (1985), existe uma relação decisiva entre a descolonização na 
África e a revolução em portugal. A combinação de Marxismo eclético e o 
nacionalismo dentro da filosofia do MFA, fornecia a base para a convergência entre 
o PAIGC e a FRELIMO de um lado, e o MFA do outro. Esta aliança única, embora 
temporária entre o corpo de oficiais colonialistas e os seus oponentes, foi possivel 
pela escolha do momento e das circunstâncias especiais das lutas dos 
movimentos de libertação e pelo subdesenvolvimento de portugal, de que os oficiais 
do MFA tanto se ressentiam. 
Esta aliança estava predestinada a ser temporária pois que ao contrário do MFA os 
movimentos de libertação tinham objectivos claros. Os movimentos de libertação 
estavam comprometidos por necessidade a uma condição permantente – A 
independencia nacional- , enquanto que o compromisso do MFA, por mais 
importante que fosse, permanecia um compromisso a um processo que acabaria 
no momento em que as colonias fossem libertadadas. Contudo, por mais 
temporária que tenha sido esta aliança, o impulso que a convergência de pontos 
de vistas entre antigos inimigos trouxe a politica interna de portugal, e ao calendario 
da descolonização da África portuguesa, provou ser irresistivel. Levou a uma rápida 
conciliação na Guine Bissau e em Moçambique, e culminou no acordo de Alvor, 
em 15 de Janeiro de 1975. 
15 
 
A luta armada é o inicio de uma nova história para Angola. Há uma carência quanto 
aos dados históricos do país, desde a sua descoberta até a sua independencia, 
originando divergência quanto aos periodos exactos. De acordo com historiadores, 
o MPLA não teve grande protagonismo no inicio da luta armada, pois ainda não 
estava devidamente organizado. Isto posto em certo afirmar que a UPA foi a 
responsavel pelo inicio da luta armada. (Bittencourt, 2011,p.34). 
 
O espírito de revolta em Angola foi também influenciado pelo clima independentista 
que se vivia por toda África, pois que, a luz do postulado pela ONU, que defendia 
a autodeterminação dos povos ao explicar no seu 73º artigo da Carta das Nações 
Unidas, que: “Os membros das Nações Unidas que tenham ou assumam a 
responsabilidade de administrar territórios cujos povos ainda não tenham 
alcançado a plenitude de um governo próprio, reconhecem o principio de que os 
interesses dos habitantes desses territórios estão acima de tudo, aceitam como um 
encargo sagrado a obrigação de promover, em tudo o que lhes for possível o ideal 
de assegurar o seu desenvolvimento político, económico, social e educativo” 
(Savite, 2014,p.147). 
Estavam reunidas as premissas internas para as lutas de emancipação, resumidas 
na situação de descontentamento dos povos colonizados, e as externas oferecidas 
pelo clima politico vivido nas colonias francesas e inglesas, movimentos Pan-
africanistas, posicionamento políticas da ONU, EUA e URSS em relação a 
emancipação dos territórios coloniais. 
 
 
 
 
ACÇÃO POLÍTICA E MILITAR DOS MOVIMENTOS NACIONALISTAS 
1- Origem do Nacionalismo Angolano 
Segundo Capoco (2013), o Nacionalismo angolano tem suas origens na resistência 
das populações face as inúmeras investidas do invasor que expropriava as suas 
terras, obrigando-os ao pagamento de impostos elevados de soberania, ao mesmo 
16 
 
que impunha à população regimes de trabalho forçado. Essa situação levava o 
povo a pequenas revoltas, e a acção política dos poucos nacionalistas na altura 
concentrava-se na denúncia do roubo e pilhagem dos colonos. 
 O nacionalismo angolano e toda a sua evolução no século XX foi 
fundamentalmente, aexpressão de um sentimento de repúdio contra a dominação 
colonial portuguesa, a supremacia dos ocidentais sobre os africanos de Angola e o 
controlo da vida política angolana pelas autoridades coloniais portuguesas. É, por 
isso, um nacionalismo anticolonial, um nacionalismo sem Estado, sem bases 
jurídicas, mas que invoca o cumprimento dos direitos do homem como parte dos 
objectivos políticos consagrados (Capoco, 2013). 
Para Batsikama (2015), o nacionalismo angolano é precedido de um 
protonacionalismo caracterizado por duas dimensões «espaço e tempo». Na nossa 
abordagem, nos focaremos apenas no espaço. Para este autor, em relação ao 
espaço, o protonacionalismo difere-se do meio rural ou meio urbano. No meio rural 
fala-se, geralmente, de reacções anticoloniais, ao passo que no meio urbano são 
reacções protonacionalistas. As diferenças situam-se nos objectivos: no rural, a 
administração colonial assinala várias rebeliões ou insurreições/guerras locais e 
regionais; são chefes tradicionais que lideram estas sublevações e que, além de 
simbolizar espaços geograficamente determinados, são iletrados e desconhecem 
a ‘acção colonizadora’, ao ponto de confundir o ‘branco colonizador’ do ‘branco 
angolano’. No meio urbano, as coisas são diferentes: são elites urbanas, aquelas 
educadas à maneira europeia (letradas) que criam associações (ou uniões, 
partidos, ou grémios ou ainda igrejas) e são multiétnicas e multirraciais. 
No meio urbano o embrionário das elites revolucionárias aspiravam o fim da 
dominação, a mudança do curso dos acontecimentos, e enfim, mais tarde a luta 
para instaurar um “governo de Angola liderado pelos próprios angolanos”. Foi na 
sequência destas aspirações, que os grupos de estudantes angolanos em Portugal 
e em Paris constituíram espaços de reflexão e associações culturais, recreativas e 
de entreajuda, onde se discutiam temas da identidade africana e de crítica ao 
sistema fascista e colonialista. Destas associações, as mais influentes apareceram 
em Portugal, como: 
1- A Casa dos Estudantes do Império (CEI); 
17 
 
2- O Centro de Estudos Africanos (CEA); 
3- O Clube Marítimo Africano (CMA). 
As mesmas associações, por sua vez, davam continuidade a pequenas formas de 
protestos anticoloniais que eram sobretudo de ordem cultural, desenvolvidas por 
brancos pro-angolanos, mestiços e negros assimilados em Luanda, que 
reclamavam uma identidade angolana, que em 1948 deram origem, sob a liderança 
de Viriato da Cruz, ao Movimento dos Jovens e Intelectuais de Angola (MJIA). 
O despertar do Nacionalismo Angolano foi influenciado por vários factores, de entre 
eles temos, segundo Capoco: 
O aparecimento das elites intelectuais angolanas, tanto no interior de Angola como 
na diáspora, a emigração de angolanos para os países vizinhos e a 
informação/comunicação com as massas populares, contribuiu para o despertar da 
tomada de consciência (Capoco, 2013, p. 6). 
A política económica da década de 50, marcada pela modernização das infra-
estruturas empresariais e a construção de infra-estruturas rodoviárias e industriais 
tinha aumentado o trabalho forçado dos indígenas. A vida dos trabalhadores 
angolanos e das suas famílias enfrentava uma realidade difícil, vivendo-se a 
frustração da repressão (Capoco, 2013). A solução de inúmeras famílias passava 
por emigrar, como refere Edmundo Rocha: «Para escapar ao contrato e fugir à 
miséria, observam-se desde os anos quarenta fortes correntes migratórias (…) para 
as minas do Sudoeste Africano (Namíbia), para a Rodésia do Norte (Zâmbia), mas 
sobretudo para o Congo Belga (Catanga e Leopoldoville), onde as oportunidades 
de trabalho eram melhor remuneradas e em melhores condições, podendo mesmo 
prosperar como comerciantes, ter acesso às escolas (Capoco, 2013). 
Estava lançada a semente para a contestação política em Angola visando a 
conquista da liberdade e soberania nacional. 
2.2- Surgimento dos Movimentos Políticos 
Visando dar corpo as acções politicas e espaços de reflexão das associações 
culturais, recreativas e de entreajuda, onde se discutiam temas da identidade 
africana e de crítica ao sistema fascista e colonialista, os angolanos deram um salto 
qualitativo na luta contra o sistema colonial português em Angola criando 
movimentos nacionalistas esta nova forma de organização política tornou-se crucial 
para a luta de libertação nacional. 
18 
 
O surgimento dos movimentos nacionalistas angolanos remonta à década de 1950 
e 1960 com o propósito de reivindicar e exaltar a cultura e os valores de uma nação 
africana (Matumona, 2004, p. 46) 
Capoco (2013), o processo de luta anti-colonial é fortemente marcado pelo 
aparecimento de pequenas organizações que mais tarde transformaram-se em 
movimentos de libertação nacional que começaram a formar-se na década de 50 
do século XX. Mas, muito deles acabaram por fundir-se para dar seguimento ao 
processo de luta. 
Passamos a apresentar de forma resumida os processos históricos do surgimentos 
dos Movimentos de Libertação Nacional em Angola. 
 
FNLA - Frente Nacional de Libertação de Angola 
De acordo com Mbah (2010), não se pode entender a formação da FNLA, sem 
estudar o surgimento de duas organizações: a UPNA, surgida em 1954, a UPA, 
surgiu em 1958, que mais tarde uniu-se ao PDA para dar corpo a FNLA. As duas 
primeiras organizações, a UPNA e a UPA, surgem, a primeira com o objectivo de 
apoiar um herdeiro protestante que pretendia ocupar o lugar deixado pelo rei 
Bacongo. Já a segunda, surge para contrapor a ideia do regionalismo na luta anti-
colonial. 
o nascimento do movimento independentista com a sigla FNLA, só aparece em 
1962, como refere um comunicado da PIDE de 5 de Abril desse ano, que anunciava 
a fusão de dois grupos. O documento dizia «consta que os representantes da UPA 
e do PDA, anunciaram no dia 29 de Março de 1962, numa conferência de imprensa 
realizada em Leopoldoville, a formação de uma frente comum a que deram o nome 
de FNLA (Capoco, 2013, p.93). 
 
 
figura 1: Esquema do surgimento da FNLA 
 
19 
 
 
 fonte: Elaboração própria 
 
MPLA - Movimento Popular de Libertação De Angola 
A fundação do MPLA pode ser situada em meados da década de 1950, quando 
surge o Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola (PLUAA), em 1953. Assim 
em 1956, os líderes do PLUAA e de outras organizações publicam e aplaudem em 
manifesto a formação de uma ampla fusão, dando origem ao MPLA (Andrade, 
1962). 
Assim, o surgimento do MPLA apresenta algumas similitudes ao surgimento da 
FNLA, pois os dois, surgem da fusão de várias organizações anti-coloniais. Apesar 
de algumas disparidades quanto ao surgimento do MPLA. Do ponto de vista 
histórico, tem sido consensual que o surgimento do MPLA como um movimento de 
luta contra o regime colonial português situa-se na década de 1950, embora haja 
controvérsia quanto a data do seu surgimento. 
Correcto é afirmar que o MPLA surge da fusão de várias organizações políticas, 
fundadas antes de 1956. 
Assim, o MPLA será o resultado da aglutinação de todas as tendências 
nacionalistas: O Exército para a Libertação de Angola (ELA), a Luta para a União 
de Angola (LUA), o Movimento para a Independência de Angola (MIA), o Movimento 
de Libertação de Angola (MLA), o Movimento de Libertação Nacional (MLN), o 
Movimento de Libertação Nacional de Angola (MLNA), o Movimento para a 
Idependencia Nacional de Angola (MINA), o Partido Comunista de Angola (PCA), 
o Partido de Luta Unida dos Africanos de Angola (PLUAA), a Comissão Federal do 
Partido Comunista Português (CFPCP), a Comissão de Luta contra o Imperialismo 
Português (CLIP). (Andrade, 1962). 
A tese sustentada pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), este 
foi criado em 10 de Dezembro de 1956, data que coincide com o lançamento do 
1954
UPNA
1958
UPA
PDA
1962
UPA +PDA
FNLA
d
Realce
d
Nota
O MPLA SURGIU DA FSÃO DE VÁRIAS ORANIZAÇÕES POLÍTICASFUNADAS ANTES DE 1956
20 
 
Manifesto de Viriato da Cruz, na província de Luanda, o qual teria resultado da 
unificação do Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola (PLUAA) com outros 
grupos nacionalistas (Silva, 201, p. 110) 
 
Figura 2: Esquema do surgimento do MPLA 
 
 
Fonte: elaboração própria 
UNITA - União Nacional para a Independência Total de Angola 
Diferente do MPLA e da FNLA, a UNITA não surge da fusão de movimentos de luta 
anti-colonial. Esta força de luta colonial aparece como um projecto pessoal de 
Jonas Savimbi, que fez parte da FNLA/GRAE, onde exercia o cargo de secretário-
geral e Ministro das Relações Exteriores. A falta de entendimento com o líder da 
FNLA/GRAE, baseada fundamentalmente na visão política que cada um tinha 
sobre a situação colonial e as ideias que Holden Roberto dava para a luta contra o 
regime colonial português deram origem a ruptura entre Savimbi e a FNLA. Assim 
a UNITA, surge em 1966 devido a uma dissidência entre Holden Roberto e Jonas 
Savimbi. Assim, com Savimbi vieram outros membras da FNLA, destacando-se 
João Liahuca e Tony Fernandes (Muekhalia, 2010). 
O problema da divisão interna da FNLA/GRAE, que se acentuara devido ao 
desentendimento de liderança, bem como o diferendo com Holden Roberto, levou 
Savimbi a demitir-se do cargo e abandonar a organização, num acto simbólico de 
grande importância política perante numerosos líderes africanos. Como refere 
Jorge Valentim: para a sua saída da FNLA, Jonas Savimbi escolheu o momento 
oportuno para a formalização da sua ruptura com Holden Roberto: “na altura da 
realização da conferencia da OUA, a nível dos Ministros dos Negócios Estrangeiro, 
em Julho de 1964, demitiu-se e, perante estas instancias, apresentou uma 
1953
PLUAA
MINA PCA
CFPCP e 
outros
MPLA
21 
 
declaração muito crítica contra o presidente da FNLA e do GRAE, o senhor Holden 
Roberto”. Em vitude das más relações no interior do GRAE, Savimbi procurou 
descrever no acto da sua demissão, a situação que para ele não encontrava um 
caminho seguro para resolver o problema da libertação de Angola e, argumentava 
que as forças divididas impedem a mobilização da massa angolana, o que segundo 
ele, causava o fracasso da luta de libertação (Capoco, 2013, p.95-96). 
Estavam criadas os três Movimentos de Libertação nacional(MLN) de Angola que 
acabaram por protagonizar a luta de libertação nacional. 
 
2.4- A Acção dos Movimentos Nacionalistas para a Emancipação de Angola 
Perante a intransigência do governo colonial português em conceder a 
independência de Angola de forma negociada provocou a necessidade de uma luta 
armada por parte dos nacionalistas. 
“O ataque feito as cadeias de Luanda por nacionalistas angolanos munidos de 
catanas onde a então polícia do regime colonial português mantinham presos 
muitos companheiros que na altura se opunham à opressão portuguesa, foi o ponto 
de partida para o início generalizado da LLN. Foi assim que, em função dos maus 
tratos de que eram vitimas os reclusos angolanos, na madrugada de 4 de Fevereiro, 
atacamos as áreas indicadas (cadeia de são Paulo, casa reclusão comarca de 
Luanda e outras) ” 2. 
Este acontecimento foi precedido por uma grave sublevação na Baixa de 
Cassange, a leste de Malanje, iniciada a 11 de Janeiro de 1961, de motivação 
laboral, numa área de cultivo de algodão em regime de monocultura. A revolta foi 
gerada pela COTONANG3 e incentivada pelo Partido Solidário Africano (PSA), 
partido congolês com influências transfronteiriças, segundo (Nunes, 2009), citado 
por Silva (2014). 
Foi assim que, no dia 4 de Fevereiro de 1961, em Luanda, ocorreram várias 
tentativas de assalto ao estabelecimento prisional de São Paulo de Luanda, a 
esquadra da Polícia de Segurança Pública (PSP) e à Casa de Reclusão de Luanda 
 
2 Bernardo Armando da Silva: Tenente general da reforma. Integrou o grupo de destemidos nacionalistas 
que iniciou as acções armadas em prol da Luta Armada de Libertação Nacional, no âmbito da gesta heróica 
do 4 de Fevereiro de 1961. 
3 COTONANG 
22 
 
(CRL), com o propósito de libertar os presos políticos que se encontravam detidos 
nestas prisões. 
Silva (2014), elucida que, o facto mais surpreendente é que nenhuma das 
organizações nacionalistas, nem nenhuma personalidade activa do nacionalismo 
angolano assumiu imediatamente a autoria e responsabilidade dos ataques. 
O MPLA face a esta situação aproveitou-se instantaneamente da ocasião para 
reclamar a autoria dos ataques produzidos em Luanda, declarando o seguinte: 
“Nunca cessámos de repetir que as massas populares de Angola, impossibilitadas 
de exprimir as suas legítimas reivindicações, reclamam com insistência junto dos 
responsáveis dos movimentos nacionalistas pelos meios necessários para 
poderem passar à acção directa, a fim de liquidarem definitivamente o colonialismo 
português. Estes acontecimentos são prova de como o governo português, apesar 
das propostas apresentadas pelo MPLA com vista a uma resolução pacífica da 
questão colonial, se obstina em manter a sua dominação clássica e o seu sistema 
de opressão” (Lara, 1997, p.427). 
Esta atitude fez com que o MPLA fosse encarado como a primeira organização 
nacionalista a desencadear a luta armada contra as forças coloniais portuguesas. 
A questão da autoria do MPLA nos levantamentos populares do 4 de Fevereiro de 
1961 foi-se complicando com o passar do tempo por diversas razões: 
➢ Primeiro, nem todas as personalidades ligadas ao MPLA partilham da 
opinião de que os ataques do dia 4 de Fevereiro foram da autoria desse 
movimento; 
➢ Segundo, hoje tem-se conhecimento da existência de outras forças 
envolvidas nos ataques e que durante muito tempo eram desconhecidas; 
➢ Por último, o MPLA depara-se com uma nova situação, na qual lhe é retirado 
o protagonismo dos ataques de 4 de Fevereiro, actualmente atribuído à 
FNLA, movimento político que foi o seu principal adversário político (Silva, 
2014). 
O 4 de Fevereiro, também, não integrou simplesmente o MPLA porque os nossos 
avós foram presos e nem sequer faziam parte de um partido. Tendo sido presos 
em 61 em Nova Lisboa e cumpriram as prisões aqui em Sá da Bandeira. Nesta 
23 
 
altura muitos deles eram apenas pastores de igrejas e foram levados porque eram 
pessoas já com um horizonte visual e académico já largo e longo4. 
A 15 de Março, dá-se outra insurreição armada protagonizada por alguns 
nacionalistas filiados à UPA, aos quais se juntaram grande parte de trabalhadores 
nos distritos do Cuanza Norte, Uíge e Zaire. Estas insurreições no Norte de Angola 
deram-se de forma anárquica, apresentando deste modo, uma total falta de 
estratégia organizacional. As personalidades envolvidas nos assaltos de 15 de 
Março, sendo na sua maioria desprovidas de formação política e ideológica, não 
souberam fazer nenhuma distinção entre objectivos militares, símbolos do domínio 
colonial português e a população civil portuguesa. Esses mesmos indivíduos, 
“levados pela sua exaltação, executaram alguns dos seus compatriotas cuja única 
culpa era serem mestiços, negros assimilados, ou ainda terem nascido na região 
Sul de Angola” (Mbah, 2010, p.152). 
Segundo Silva (2014), este novo ataque contra as forças portuguesas, executado 
essencialmente por militantes da UPA, iria mais tarde fazer a sua entrada na história 
de Angola e do nacionalismo angolano contemporâneo, para estigmatizar o início 
da libertação nacional, levada avante desta feita sob a conduta da UPA. Depois de 
algumas hesitações, os dirigentes da UPA, acabaram por reivindicar a autoria 
desses ataques armados. Assim, sobre os ataques de 15 de Março de 1961, 
Pélissier (1979), citado por Mbah (2010), defendeu duas teses, a saber: 
“A primeira estava relacionada com a revolta programada, na qual colocava a 
UPA no centro dos ataques de 15 de Março; a segunda estava relacionada com a 
revolta espontânea, na qual colocava os trabalhadoresangolanos explorados no 
ponto dianteiro dos acontecimentos, deixando em segundo plano o movimento de 
Holden Roberto” (Mbah,2010,p. 162). 
Foi assim que, de acordo com Pélissier, o presidente da UPA ao ter conhecimento 
dos preparativos dos debates em torno da situação de Angola nas Nações Unidas, 
emitiu novas ordens aos seus militantes, para que esses pudessem dar início a 
novos ataques armados, provavelmente para ser visto como um ataque prolongado 
 
4 Entrevista realizada na quarta-feira, 7 de Outubro de 2020 as 19 horas 30 minutos 
24 
 
das insurreições de 4 de Fevereiro (Pélissier, 1978), e o movimento de Holden 
Roberto encontrava-se novamente numa situação em que o contexto internacional 
lhe era favorável, sendo que o Conselho de Segurança das Nações Unidas estava 
disposto a debater questões relacionadas com o território angolano. Pode-se 
acrescentar ainda as conclusões de Pélissier referentes a esta temática, segundo 
o qual “a data de 15 de Março constituía uma escolha táctica da UPA” (Pélissier,1979, 
p.473). 
“O Conselho acabou por unanimemente adoptar a data do l5 de Março, primeiro 
porque, nesse preciso momento, desenrolavam-se na ONU os debates sobre os 
massacres de Fevereiro de 1961 em Luanda, massacres esses perpetrados pelas 
forças portuguesas por ocasião da tentativa de levantamento organizado por certas 
organizações que queriam que ele coincidisse com a eventual chegada do paquete 
Santa Maria” (Mbah, 2010, p.163). 
2.4.1. Acção Política e Militar da FNLA 
 
Obtido o apoio das forças externas, os movimentos irão definir o caminho ideológico 
a seguir, ocasionando divergências que acabaram por marcar tanto a luta colonial 
como a luta pós independência. 
Os movimentos nacionalistas angolanos assimilaram ideologias que eram 
dominantes na altura, em função das suas relações com os grandes regimes ou em 
conformidade com o clima geopolítico da altura, buscando sua projecção regional 
e internacional (Capoco, 2013, p.110) 
2.4.1.1. Política 
Partindo da sua génese, UPNA, UPA e FNLA, é considerada um movimento ligado 
ao grupo etnolinguítico Bakongo, tendo como pretensões o resurgimento do famoso 
reino do Congo. Surge como movimento tribalista que lutava por uma parte do 
territorio nacional. Por esta razão, Capoco (2013), afirmou que o contexto cultural 
que levou a formação deste movimento, derivou de várias formações tribais 
apegadas às tradições do seu passado, passando a defender ideias monárquicas, 
tendo como objectivo a restauração do antigo reino do Congo. A FNLA é 
caracterizada por um tradicionalismo histórico, com grande sentimento de apego 
ao passado com pretenção de restaurar os valores e tradições dos antepassados, 
25 
 
tendo como ideologia um conservadorimos da direita que prtende a manutenção 
dos valores, da cultura e da reabilitação das instituições tradicionais (Muekália, 
2010). 
A FNLA definia o seu alinhamento com o modelo capitalista aplicado pelos EUA, 
mas assentava sua luta no tradicionalismo cultural, defendendo para o efeito a 
revitalização das instituições antigas. Esta realidade tornava a FNLA num 
movimento mais regionalista que defende princípios ligados ao reino do Congo 
formado pelo grupo etno-linguístico Bakongo, mas para dar azo a sua luta nacional, 
os líderes deste movimento foram mudando ao longo da sua história a sua 
designação, passando de UPNA em 1954, para FNLA em 1962. Assim, o que 
caracterizava a ideologia da FNLA foi a pretensão de restaurar os valores e 
tradições dos antepassados, dai que defendia o tradicionalismo cultural (Silva, 
2008, p.145). 
Uma das realizações políticas da FNLA foi a criação do GRAE visando encetar 
acções politicas para apoiar e fortificar as reivindicações contra a presença 
portuguesa em Angola. 
No entanto, Segundo Mbah (2010) entre momentos áureos e cisões, em Junho de 
1964 a FNLA depara-se com mais uma crise no seio do movimento, a demissão do 
seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Jonas Malheiro Savimbi, no final do 
mesmo mês, a demissão de outros membros do movimento, José João Liahuca, 
Director do Serviço de Assistência dos Refugiados de Angola (SARA) e de 
Alexandre Taty, cujos motivos que estiveram na origem da demissão destas 
personalidades, eram sobretudo a “falta de eficiência da FNLA/GRAE, a falta de 
unidade existente no interior do movimento nacionalista e, mais grave do que todo 
o resto, a falta de apoio às forças que se encontravam dentro de Angola” . 
Nos meses finais do ano de 1965, registava-se grande desorganização no sistema 
de apoio externo da FNLA, o que originou uma drástica redução no fornecimento 
de material e na ajuda financeira. Esta dificuldade resultava das limitações impostas 
pelo Congo Leopoldville, onde o chefe do governo daquele país, o general Mobutu, 
“se debatia com dificuldades decorrentes da mudança de regime e da consolidação 
da sua própria posição, como primeiro passo para a implantação de uma ditadura 
pessoal” (EME, 2006, p.36). Como consequência disso, houve várias discórdias e 
26 
 
divergências no seio da FNLA/GRAE, as quais por vezes assumiram o aspecto de 
autênticas lutas internas. 
A partir de Julho de 1966, a situação de instabilidade que a FNLA enfrentava foi 
ultrapassada, pois o movimento “começou a beneficiar do crescente apoio de 
Mobutu, ao mesmo tempo que as viagens de Holden Roberto aos países 
estrangeiros lhe granjearam prestígio e lhe deram a certeza de que o GRAE seria 
o beneficiário do apoio da OUA” (Ibidem, p. 37). Nesta mesma altura, a FNLA 
recebeu por parte dos tunisinos o primeiro fornecimento de material. 
2.4.1.2. Militar 
Fortalecida pelo capital e simpatia de que usufruía no plano internacional, a UPA 
beneficiava do apoio diplomático e militar de países africanos como a Tunísia, a 
Argélia, o Marrocos e o Congo Leopoldville, este último servindo de base da 
retaguarda para os seus combatentes. O apoio do Zaire foi de extrema importância 
do ponto de vista estratégico, uma vez que lhe permitia fazer as operações de 
guerrilha contra as forças portuguesas a partir da fronteira que separa Angola do 
Zaire ao longo de mais de 2.000 quilómetros. A partir dos anos 61 a FNLA foi o 
partido que melhor esteve organizado, equipado e o melhor exército de guerrilha. 
Embora seu protagonismo interno se resumisse em alguns raides de que foram 
fazendo “guerra de fronteira” a partir do Congo Zaire. A FNLA foi a partido que muito 
cedo foi mais forte e mais rapidamente se esvaiu por falta de estruturas sólidas 
dentro do partido5. Em 1962 o Movimento apresentava definitivamente sinais de 
grande desenvolvimento, sendo que: 
 “ (…) Tinha fortalecido o apoio financeiro e militar que recebia do exterior; a isto foi 
adicionado o indispensável apoio da igreja Baptista, que prestava ajuda médica e 
medicamentosa aos refugiados e combatentes da UPA; o apoio da Frente de 
Libertação Nacional Argelina (FLNA), que formou militarmente os primeiros quadros 
da UPA nas suas bases tunisinas; o apoio financeiro vindo dos EUA, bem como o 
estatuto internacional que gozava o presidente da UPA/FNLA” (Bittencourt, 2008, 
p. 97), citado por Silva (2014). 
Em Junho de 1962, a UPA/FNLA recebeu os primeiros guerrilheiros formados na 
Tunísia pela Frente de Libertação Nacional Argelina. Ainda no decorrer do mesmo 
ano, o governo congolês prestou o seu apoio ao GRAE, disponibilizando o campo 
de treino de Kinkuzu, a 21 de Agosto de 1962, contribuindo, desta forma, para o 
 
5 Entrevista realizada na quarta-feira, 7 de Outubro de 2020 pelas 19 horas e 30 minutos. 
27 
 
“desenvolvimento da actividade de guerrilha no território angolano” (Wheeler & 
Pélissier, 2009, p.291). Para homenagear este bom momento de apoio intra-
africano, o movimento de Holden Roberto abriu um escritório na região de 
Lubumbashi, que serviria em caso de ausência de vitórias militares sobre as forças 
portuguesas, uma vantagem sobre o MPLA, queera o seu principal opositor 
político. 
Entretanto, a principal base militar da FNLA continuava a estar localizada no Congo 
Kinshasa, sendo que o grosso das suas forças de guerrilha permanecia na região 
de Kinkuzu. O movimento de Holden Roberto não criou novos teatros de guerra 
para além da região onde se desenvolvera a revolta de 15 de Março de 1961, não 
houve grande evolução no que diz respeito às actividades militares desenvolvidas, 
exceptuando as tradicionais emboscadas perpetradas pelos seus combatentes 
(Maciel, 1963). 
Deste modo, a nível militar, a FNLA não fizera grandes progressos, mas a sua 
presença era fundamental para reduzir os movimentos das forças portuguesas em 
Angola, que apesar de não sofrerem grandes embates, com a sua presença e 
permanência no território angolano exerciam uma actividade muito dispendiosa. 
Adiciona-se neste mal momento militar da FNLA a presença de Moisés Tshombé a 
frente do governo do Congo-Kinshasa que, tinha proibido a circulação de 
armamentos entre a fronteira do seu país e o território angolano. Este interregno 
militar viu-se engatinhar em Novembro de 1965, quando Joseph Mobutu veio 
melhorar significativamente as perspectivas futuras do presidente da FNLA. Nesta 
medida, a partir de 1965 as linhas de movimentação das forças da FNLA no Congo 
Leopoldville, passaram a estar bem definidas e, era do conhecimento das forças 
portuguesas, sendo que as suas acções consistiam essencialmente em “golpes de 
mãos, acções de intimidação e colocação de minas antipessoal e anticarro” (EME, 
1998, p. 570). 
O Movimento de Holden Roberto envolve praticamente todo o território Norte de 
Angola, a partir da base de Kinkuzu, e avança ainda a partir do Congo Leopoldville 
em direcção ao Este e Sudoeste de Cabinda. Destaca-se a importância da base 
militar de Kinkusu, que se encontrava em posição central para prestar o apoio 
28 
 
directo às acções do movimento em praticamente toda a região Norte de Angola. 
(EME, 1998), citado por Silva (2014). 
Com a ascensão de Mobutu ao poder no Zaire a FNLA ganha um novo folego e 
reestruturou a sua organização militar, criou novas bases de apoio junto das 
fronteiras, fazia chegar em plena normalidade o reabastecimento aos guerrilheiros 
no interior de Angola, bem como reabriu algumas zonas de infiltração na região 
Norte de Angola, como foi o caso da «Frente do Cuango». 
Durante os anos de 1967 a 1970, a actividade da FNLA no território angolano 
aumentou significativamente. O movimento de Holden Roberto, que sempre fora 
apoiado pelo pró-ocidental Congo Leopoldville não podia perder espaço na corrida 
pela hegemonia na condução da guerra. No ano de 1970, a FNLA considerava ter 
no Congo Leopoldville cinco «Zonas Militares» de apoio, que eram: Zona Militar de 
Cabinda; Zona Militar de Songololo; Zona Militar Kasongo/Lunda; Zona Militar de 
Tashikapa e a zona Militar do Katanga. Silva (2014). Todas estas zonas apoiavam 
três frentes no interior do território angolano: 
“Frente Norte, a mais activa, nas províncias de Luanda, Cuanza Norte, Uíge e 
Zaire, Frente Nordeste, nas províncias do Uíge (fronteira do rio Cuango), 
Malange e parte das Lundas e a Frente Leste, onde infiltrava grupos a partir da 
área de Teixeira de Sousa para o alto da Chicapa, pela linha do Caminho de Ferro 
de Benguela” (EME, 2006, p.39). 
Entre 1971 e 1972, não houve grande alteração nas actividades desenvolvidas pela 
FNLA no interior de Angola, mas a partir do final de 1971, registou-se uma certa 
agitação no seio do movimento, sendo que as principais personalidades ligadas ao 
ELNA e ao GRAE estavam em desacordo. Este ambiente conflituoso agravou-se 
ao longo de 1972 e culminou, em Março deste ano, com acções de desordem no 
centro da sua principal base militar em Kinkusu, que foi apaziguada pelas Forças 
Armadas do Congo Leopoldville, a pedido de Holden Roberto. No entanto, 
restabelecida a situação, o presidente da FNLA introduziu profundas alterações no 
GRAE,“ extinguindo o Estado-Maior central e criando em sua substituição, um Alto 
Comando das Forças Armadas e três Corpos de Estado-maior, um por cada Frente, 
29 
 
para superintender no planeamento e na sua condução das operações militares” 
(EME, 2006, p. 41). 
As personalidades nomeadas para ocuparem os novos cargos depois dos graves 
acontecimentos de Março de 1972 (na base de kinzusu) não possuíam qualificação 
adequada, sendo que muitos deles ainda tinham ideias «tribalistas». Estas 
particularidades tinham grande implicância no interior de Angola, onde o Exército 
da FNLA se debatia ainda com pequenas divergências entre os guerrilheiros 
formados no exterior e os instruídos no interior, além de que os militantes e a 
população que se encontrava sob o seu domínio apresentavam sinais de cansaço 
e desmoralização (Bittencourt, 2008). 
Em 1973, as actividades militares das forças da FNLA, nomeadamente na Frente 
Nº 2 – Lunda, estavam praticamente estagnadas. Esta frente apoiava-se 
exclusivamente na base de Kizamba, de onde grande parte dos guerrilheiros, com 
a moral muito afectada, desertava frequentemente. Na sua Frente Leste Nº 3, as 
forças da FNLA haviam abandonado a área dos rios Cassai-Munhango e tinham-
se deslocado para as áreas do Buçaco- Léua e rio Lualo, a sul de Nova Chaves. 
Durante o mês de Novembro do mesmo ano, diversos grupos haviam saído do 
território angolano, num total de 100 guerrilheiros, 27 milícias e cerca de 250 
elementos da população (EME, 2006, p.438). 
Deste modo, concluímos que apesar do apoio financeiro e militar concedido pela 
comunidade africana e internacional à FNLA, esse movimento nunca conseguiu 
desenvolver uma actividade de guerrilha em todo território angolano. 
2.4.2. Acção Política e Militar do MPLA 
O MPLA é considerado desde a sua fundação como sendo um rio que bebe água 
em muitas fontes, surge em meios urbanos e rapidamente passou a ser identificado 
como movimento dos assimilados, movimento daqueles jovens considerados os 
intelectuais da época, angolanos descontentes com a situação colonial que já tinha 
atingido um estado social diferente da maior parte da população. Mas em termos 
geográficos actuava e tinha grande influencia sobre o grupo etnolinguístico 
Kimbundu ou Ambundu, apesar de ter também grande influência sobre a 
miscigenação portuguesa que se opunha ao colonialismo. Do ponto de vista 
30 
 
internacional, o MPLA gozava simpatia com os movimentos alinhados com o 
Socialismo (António, 2013). 
2.4.2.1. Política 
O MPLA teve um protagonismo alçado pelo estrangeiro, na altura havia um 
programa radiofónico emitido a partir de Brazzaville “Angola combatente” e 
naturalmente era mais escudado em Ponta negra -Cabinda 6. 
Capoco (2013), enfatiza que, na luta colonial e no pós independência, o MPLA 
contou com o apoio da Cuba, da URSS e do Congo Brazzaville. Tendo por isso 
revelado uma profunda inclinação no modelo soviético marxista-leninista7 com 
inspiração no modelo dos países da Europa do Leste que eram apoiados pela 
URSS. 
Para Sebastião (2015), o MPLA aparecia como um movimento firme e melhor 
estruturado na sua ideologia revolucionária, já de cariz comunista, que compunha 
as razões e objectivos dispostos num “programa mínimo” que definia uma 
orientação da acção revolucionaria e guerrilheira. O horizonte ideológico pauta-se 
nos ideais de luta pelo direito de liberdade e esta não poderia ser dissociada da luta 
pela instauração do Estado. Com este ideal do Estado, o MPLA definiu 
consequentemente, um “programa maior”. 
A direcção do MPLA sediada em Conacry necessitava urgentemente de se 
aproximar de Angola, a fim de dirigir a actividade política e militar no interior do país. 
No entanto, “a reputação de organização Marxista que o movimento tinha granjeado 
e as suas conotações notórias com os países do bloco socialista e com 
organizações de extrema-esquerda da Europa Ocidental levantaram sérias 
dificuldadesà sua instalação no Congo-Leopoldville, país onde a UPA, dirigida por 
Holden Roberto, beneficiava de uma forte implantação junto das populações 
angolanas emigradas e dos refugiados de guerra, de maioria bacongo, e também 
de fortes simpatias junto do governo congolês pró-ocidental” (Rocha, 2009, p.247). 
Segundo Lara (2008, p.149) foi no início de Setembro de 1961, que o MPLA 
pretendia transferir a sua direcção para Leopoldville, com o objectivo de fazer 
daquele território uma base político-militar, porém, o Movimento depara-se com um 
espaço territorial praticamente monopolizado, política e militarmente, pela FNLA, o 
 
6 Entrevista realizada na quarta-feira, 7 de Outubro de 2020, 18 horas 20 minutos. 
7 Marxismo-Leninismo 
31 
 
que impossibilitava a sua instalação naquele espaço territorial. Nesta medida, 
“todas as tentativas de penetração ao interior do território angolano organizadas 
pelo MPLA através da fronteira congolesa eram bloqueadas pelas forças militares 
da UPA/FNLA”. 
A direcção provisória do MPLA em Conacri imaginou uma estratégia que 
permitisse a entrada dos seus dirigentes políticos no Congo-Leopoldville, sob forma 
de uma acção humanitária, através do Corpo Voluntário Angolano de Assistência a 
Refugiados (CVAAR)8. Nesta medida, as autoridades do governo congolês, ainda 
no decorrer do ano 1961, apesar de ainda estarem política e materialmente mais 
favoráveis ao movimento de Holden Roberto, aceitam a presença do MPLA no seu 
território. Porém, esta atitude do governo do Congo Leopoldville resulta, em certa 
medida, do facto de existirem no seio do MPLA muitos militantes com formação 
superior pertencentes ao CVAAR e estarem, por isso, em condições de ajudar 
aquele país, sobretudo na área da saúde, resultante da partida de quadros belgas 
aquando da independência do Congo (Rocha, 2009, 247). 
Depois de penetrar em Leopoldville, o MPLA evidenciou esforços para que 
houvesse uma fusão entre este Movimento e a UPA/FLNA. Para isso, MPLA entrou 
em contactos com a UPA/FNLA a fim de convencer esse movimento 
a fazer parte da Frente Revolucionária Africana (FRAIN), através de uma 
organização denominada Conferência das Organizações Nacionalistas 
Portuguesas (CONCP), fundada em Abril de 1961, cerca de um mês depois dos 
ataques de Março de 1961. Em 1962, a chegada de Agostinho Neto à direcção do 
MPLA provocou um cenário de crise no seio do Movimento, motivada pelas 
sucessivas tomadas de posição de determinados dirigentes e militantes do MPLA, 
nos meses que antecederam a Conferência Nacional do MPLA, que se ia realizar 
em Dezembro de 1962. Todas estas tomadas de posição por parte de diversos 
militantes e dirigentes do MPLA contribuíram para que o movimento adoptasse uma 
configuração bipolar, um espaço de relações de forças corporizado em dois grupos: 
o denominado «grupo Viriato» e o denominado «grupo Neto» (Reis, 2010, p.199). 
 
8 CVAAR 
32 
 
Do ponto de vista político-institucional, deu-se o afastamento de Viriato da Cruz da 
direcção política e a consagração de Agostinho Neto como Presidente do MPLA. 
Do ponto de vista político-ideológico foi reafirmada a necessidade de militarização 
do MPLA como organização, o que originou a criação do Comité-Político Militar, o 
principal órgão condutor da guerra de libertação (Lara, 2006). Deste modo, para 
efeitos da luta e da expansão da guerrilha, o Movimento dividiu o território angolano 
em regiões militares que estavam subdivididas em zonas militares e que mais tarde 
foram designadas por Regiões Político-Militares (RPM) (Carreira, 1996) (Nunes, 
2010), citados por Silva (2014). 
Dado o favoritismo político que o Congo concedia a FNLA, causou uma 
instabilidade por parte do MPLA, que se encontrava perante uma crise interna 
profunda como também não encontrava soluções para o entendimento político com 
a FNLA. As autoridades governamentais congolesas decidiram, em Outubro de 
1963, encerrar as instalações do MPLA naquele país, passando este Movimento a 
ter como alternativa fixar-se no Congo Brazzaville, de modo a poder dar 
continuidade às suas actividades político-militares. 
Todavia, com a mudança de governo em Brazzaville, a consequente viragem para 
a esquerda daquele país, e acima de tudo, “a chegada de uma substancial ajuda 
russa e até chinesa” fortaleceu o movimento, beneficiando do estatuto de ser o 
único movimento de libertação angolano instalado em Brazzaville (Pélissier 
&Wheeler, 2011, p.305). 
 2.4.2.2. Militar 
Logo depois dos actos que marcaram a existência do descontentamento em Angola 
perpetrados sob os ataques de 4 de Fevereiro, o Movimento Popular de Libertação 
de Angola, não exerceu quase nenhuma actividade militar de realce no interior do 
território angolano, pois nessa época, a UPA pelas suas acções de guerrilha ou 
através de promessas, conquistou o apoio da maior parte dos alegados apoiantes 
do MPLA nas regiões dos Dembos e em Nambuangongo. 
Sem a necessidade de esconder suas convicções e suas actividades, em Julho de 
1964, o Congo-Brazzaville sob a liderança de Massemba-Débat, autorizou que o 
Movimento recebesse um significativo carregamento de armas e equipamentos 
33 
 
militares, sendo que ainda no mesmo ano, o Movimento abriu a II RPM, instalando-
se em força na fronteira de Cabinda. Deste modo, o Movimento de Agostinho Neto 
criou “uma grande base, prudentemente afastada da fronteira, em Dolisie, junto da 
qual funcionava um Centro de Instrução Revolucionário (CIR) que era um órgão 
encarregado de ministrar cursos de formação política e militar a indivíduos de 
ambos os sexos” (Reis, 2010, p. 195). O MPLA dispunha ainda de uma “boa 
máquina de propaganda, com aproveitamento da Emissora Radiofónica de 
Brazzaville, muito ouvida em Cabinda, através do qual emitia um programa 
bissemanal que tinha apreciável popularidade” (EME, 2006, p. 125). 
O MPLA desenvolveu, em Junho de 1964, uma intensa actividade militar, 
organizada a partir de duas bases principais sediadas no Congo-Brazzaville: “a de 
Kimongo, a norte, para o apoio das actividades em Cabinda, na fronteira de 
Miconge e a de Banga, a leste, para as acções na região de Chimbete-
Sangamongo” (Ibidem, p.125). 
No decorrer do ano de 1965, o MPLA apareceu na região de Cabinda muito 
moralizado, tendo criado mais duas bases militares, em Kimpeze e Ilpanga, tal 
como os anteriores situados no Congo-Brazzaville. Deste modo, o Movimento 
efectuou acções militares no Enclave de Cabinda a partir das bases de Banga e 
Kimongo, provocando muitas baixas às Forças Armadas Portuguesas mas, 
confrontado com a completa falta de adesão dos povos cabindenses, viu-se 
obrigado a transferir o seu esforço principal para o Leste de Angola. Nesse ano, o 
movimento conseguiu um grande rendimento nas suas actividades de guerrilha, 
sendo responsável por grande parte de baixas causadas às forças portuguesas. 
“O MPLA preparou e abriu, também em 1966, nos Dembos, a partir do Congo-
Leopoldville, que lhe era hostil e proibia as suas actividades, a I RPM, que 
Agostinho Neto considerava essencial para concretizar a sua estratégia” (EME, 
2006, p.109). 
Para constituir a I RPM o MPLA pretendeu infiltrar em Angola três colunas: a Coluna 
Cinfuegos, a Coluna Camy e a Coluna Bomboko. A primeira comandada por Jacob 
Caetano, sendo que esta coluna chegou ao seu destino numa marcha considerada 
heróica mas a Coluna Camy, comandada por Kiluanji, só conseguiu fazer chegar 
34 
 
alguns elementos que se juntaram à primeira. Perante este fracasso “a Coluna 
Bomboko foi deslocada para a Zâmbia com a missão de atingir a I RPM pelo Leste, 
intensão que saiu fracassada” (Ibidem, 110). 
O MPLA conseguiu reunir um numeroso grupo de guerreiros bem armados que se 
instalou na região de N’Galamba-Piri. Desta área, que era considerada 
estrategicamente bem situada, o MPLA desenvolvia contactos com a Região de 
Catete e, através desta, às células clandestinas deLuanda, onde se encontrava 
localizado o Comité de Acção Clandestina de Luanda (CACL). (Nunes, 2013). 
Do ponto de vista das operações militares, a ofensiva do MPLA ganha mais 
consistência a partir de 1967, quando diferentes destacamentos do Movimento são 
infiltrados através da zona do Cazombo, na província do Moxico onde a actuação 
era dirigida em ataques a postos administrativos e controle militares. Outros grupos 
do Movimento se aproximavam do Rio Kasai, onde poderia haver uma possibilidade 
de contacto com os trabalhadores do Caminho de Ferro de Benguela (CFB). Deste 
modo, não só o nome do Movimento e a sua acção se expandiram, como o 
recrutamento de indivíduos destes grupos seria fortalecido, fazendo com que o 
MPLA ao longo dos anos 1967 e 1968 avançasse para o interior de Angola, 
instalando algumas centenas de guerrilheiros nas áreas de Lumege e Chafinda, na 
parte mais ao Norte do rio Kasai. Depois destas operações, o Movimento cria assim 
a IVª RPM que compreendia os distritos da Lunda e de Malange, enquanto a III 
RPM abrangia os distritos de Moxico e Cuando Cubango. (Bittencourt, 2008, p.47). 
A fim de se estabilizar em todo o Leste e parte sul do território de Angola, o MPLA 
criou em Junho de 1969 a Vª RPM, que correspondia aos distritos do Bié e Huambo. 
No início de 1969, a actividade militar no Leste de Angola seria seguida da palavra 
de ordem, dada pelo Agostinho Neto, onde o presidente ressaltou a existência de 
três frentes de batalha: Cabinda, Cuanza Norte e Moxico e, por conta disso, 
defendem a ideia de que o MPLA era o único movimento angolano a executar a 
luta anticolonial no interior de Angola em cinco regiões, em três das quais a 
campanha não se baseava na influência étnica, destacando desta forma a 
importância da «politização das massas populares», como forma de expandir a luta 
(Nunes, 2013). 
35 
 
A estratégia territorial no Leste visava, entre outros objectivos, obter: “o domínio 
territorial e estabelecer a ligação entre a III à I RPM instalada no Norte, a que se 
chamou de Rota Agostinho Neto; pretendia também destruir a UNITA na sua zona 
de refúgio e alcançar o Bié por dois eixos principais de penetração ao mesmo tempo 
que, para iludir as forças portuguesas, utilizava outros eixos mais curtos e 
secundários. Um dos eixos estratégicos acompanhava parte do curso do rio 
Cuando e seguia em direcção ao Alto Kuito e, o outro, seguia em direcção ao rio 
Luena” (EME, 2006, p. 202). 
Pela rota do rio Cuando, planeava alcançar as regiões populosas e ricas do Bié e 
do Planalto Central do Huambo (Nova Lisboa) que, por si só, são o coração de 
Angola; dali, controlaria todo o território angolano e, pelo vale do Cuanza, poderia 
chegar a Malange. Na posse deste planalto, “o MPLA ficaria em condições de 
controlar o Caminho-de-Ferro de Malange (CFM), que acompanhava o curso do rio 
Cuanza, desde a nascente no Bié até perto de 
Luanda, onde desagua, com apoio da sua I RPM, no norte” (Nunes, 2010, p.130). 
O sucesso do MPLA ficou a dever-se, em grande parte, à falta de interferência por 
parte da UPA e também ao apoio de alguns grupos dos Lunda, Quioco, Luena, bem 
como os Nganguela e Kimbundo. O momento vivido na altura era sem dúvida 
favorável para o movimento, principalmente quando comparado aos anos 
antecedentes, tendo para isso, “contribuído as alianças internacionais e o 
crescimento do movimento” (Carreira, 1996, p. 205). 
Apesar das dificuldades que eram impostas pelas forças portuguesas, que se 
mostravam preocupadas com o alastramento militar do MPLA, o MPLA continuou 
a estabelecer bases militares no interior de Angola e, teve também grupos de 
guerrilheiros que exerciam actividades junto às populações do norte no distrito do 
Cuando Cubango, no centro sul da Lunda, no leste de Malange e Bié e em todo o 
Moxico (Nunes, 2013). Entre os dias 23 e 25 de Agosto de 1968, foi realizada a 
Primeira Assembleia Regional da III RPM do MPLA. Essa assembleia reforçou a 
ideia de que era preciso aprofundar as actividades ofensivas militares do interior, 
orientando os militantes a uma participação maior e, no caso dos que estavam em 
cursos universitários e técnicos no exterior, a regressarem o quanto antes para que 
36 
 
pudessem dar a sua contribuição e reforçar a luta, como foi o caso, por exemplo, 
de José Eduardo dos Santos. 
Ainda no decorrer do ano de 1970, o MPLA encontrava-se em desagregação na 
sua I RPM por dificuldades impostas pelas forças portuguesas e pelas forças da 
FNLA. Havia também dissidência entre os seus guerrilheiros bem como o 
descontentamento da população, o que motivou algumas apresentações às 
autoridades portuguesas, “facto que obrigou alguns chefes a impor uma disciplina 
mais rígida e exigente para manter o controlo e subordinação” (EME, 2006, p. 202). 
Deste modo, o ano de 1970 marca o início de uma etapa difícil no seio do MPLA na 
luta contra as forças portuguesas em Angola. As dificuldades crescentes do ponto 
de vista militar e da manutenção dos contactos com as populações “fariam explodir 
projectos alternativos, contraditórios, e consequentemente o surgimento de 
lideranças a defenderem tais propostas, além de sentimentos e aspirações menos 
nobres, baseados em ressentimentos, preconceitos e ambições” (Bittencourt, 2008, 
p. 81). 
Apesar do MPLA estar perante uma crise profunda, ainda assim no ano de 1971, o 
Movimento infiltrou no território angolano dois esquadrões com missões especiais. 
A um deles, designado de «Angola Livre» terá sido atribuída a missão de, como 
força de intervenção, combater a UNITA, cortando-lhe a ligação com a Zâmbia e 
desalojando-a das suas tradicionais zonas de refúgio. O Movimento de Agostinho 
Neto nunca conseguiu realizar com êxito essa missão. O outro esquadrão, de nome 
«Victória», destinar-se-ia a fazer parte de uma futura «Coluna Invasora Victória é 
Certa» “cuja missão estaria relacionada com a ligação à I RPM” (EME, 2006, p.439). 
Em meados de 1973, estimava-se que o MPLA tivesse 1400 guerrilheiros na 
Zâmbia e igual número de guerrilheiros em território de Angola (Ibidem, p.440). 
Todavia, face à insistente actividade operacional das Forças Armadas Portuguesas, 
o seu dispositivo estava desarticulado, e em completa retracção, particularmente 
nas suas III e IV RPM. Para evitar danos maiores, que poderiam por em causa os 
propósitos de uma luta prolongada, o MPLA iniciara a retirada para a Zâmbia de 
importantes efectivos combatentes e de populações sob o seu controlo. A esta 
retirada estratégica correspondia uma sensível redução das áreas de fixação e 
acentuada quebra do potencial e de eficiência para o combate. Na mesma época, 
37 
 
ocorrera também no Leste, fruto da desorganização e debilitação em que a 
guerrilha caíra, uma dissidência liderada por Daniel Chipenda contra a direcção 
orientada por Agostinho Neto. Esta cisão atingiu tal gravidade que, em Dezembro 
de 1972, foram suspensos o Comité Director do MPLA e o Comité de Coordenação 
Político Militar e criada em sua substituição a Comissão Nacional do Movimento de 
Reajustamento da Frente Norte e da Frente Leste. Apesar dos seus esforços na 
luta e do seu voluntarismo, o MPLA não conseguiu obter grandes sucessos nas 
suas actividades militares até finais do ano 1973, por várias razões: “em primeiro 
lugar por falta de meios logísticos que eram de elevada importância para a 
condução da guerra, principalmente o armamento pesado, que lhe teria permitido 
conservar durante muito tempo as posições conquistadas; segundo, pelo facto do 
Movimento se encontrar ameaçado por dentro, por duas facções dissidentes (Silva, 
2010, p.39). 
Estas dissidências que também eram conhecidas pelo nome de «Revolta do Leste» 
e «Revolta Activa» contribuíram para que as forças coloniais portuguesas 
reocupassem o terreno militar em Angola e reduzissem significativamente os 
esforços do MPLA a nível da luta armada. 
2.4.3. Acção Política

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