Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 I - CARACTERIZAÇÃO DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA EM ANGOLA Pelo facto do nosso trabalho ter como foco a descolonização, optamos por fazer uma breve abordagem sobre elementos que caracterizam o período colonial em Angola. Com fim do tráfico de escravos e da escravatura, um novo tipo de relações foi estabelecido entre os europeus e os africanos e assim, a aventura dos primeiros no século XIX foi muito animada pela necessidade económica, ou seja, pela competição económica entre os Estados europeus interessados no potencial do continente africano, fundamentalmente na matéria-prima que ajudariam na sustentabilidade da indústria europeia, tendo como foco de erguer o seu prestígio mundial e inculcar a cultura e civilização nos territórios africanos, Assim, a colonização a partir da segunda metade de século XIX, fundamenta-se nos interesses económicos e políticos dos Estados entre os Estados europeus interessados no potencial do continente negro, fundamentalmente a matéria-prima que ajudariam na sustentabilidade da indústria europeia, tendo como foco de erguer o seu prestígio mundial e inculcar a cultura e civilização nos territórios africanos. Assim, a colonização a partir da segunda metade do século XIX, fundamenta-se nos interesses económicos e políticos dos Estados europeus (Chimanda, 2010, p.11- 14). Na vertente político-administrativa 2 3 O processo de colonização no século XIX tem como marco a década de 1880, pois estabeleceu o reforço dos impérios europeus, definindo um novo alinhamento das políticas coloniais a partir da Conferência de Berlim. O período de descobrimento de África baseou-se também na imposição do domínio político, ideológico, económico e estratégico. Mas no caso de Portugal, a descoberta de África bem como a efectivação da sua presença no continente berço, significou o grande interesse estratégico, quer do ponto de vista económico, cultural, da acção religiosa e espiritual de apostolado, representando o ponto de vista civilizacional dos portugueses (Neves, 1974, p.25). É um dado adquirido que Angola foi uma colónia portuguesa, este regime colonial consolidado, vitimando os angolanos e explorando ferozmente os recursos naturais do território teve várias facetas. Assim, no contexto português, serão determinantes as décadas de 1930 e 1940, pois estabelece-se o Estado Novo, um regime fortemente marcado pela centralização e pelo autoritarismo, que provocou mudanças significativas de carácter político e administrativo nas colónias portuguesas tendo como desiderato uma intensificação do controlo sobre os territórios africanos, numa altura que Portugal já não contava com o Brasil desde 1822. Esse controlo visava o alcance de um equilíbrio económico tanto na metrópole como em todo o império, daí a importância do Estatuto dos Indígenas que estabeleceu uma distinção legal da população angolana, dividindo-a em civilizados, assimilados e indígenas, sendo estes últimos desprovidos de direitos políticos (Stefenson, 2009, p.19). Para dar corpo ao seu plano, o Estado Novo passou a incentivar a imigração portuguesa para as suas colónias, causando profundas transformações nos centros populacionais mais antigos, principalmente, onde o próprio processo de integração cultural se deu de forma mais intensa e num período mais longo. No contexto desta interação de séculos entre europeus e africanos, formaram-se grupos que se diferenciariam das demais populações africanas, e que viriam a sofrer directamente com a marginalização, inclusive espacial, acarretando na sua expulsão para zonas periféricas das cidades com a consequente expansão dos musseques, provocada pelo aumento da presença portuguesa (Pepetela, 1997, p. 91). Deve perceber-se que do ponto de vista político a colonização causou o fim dos reinos, minando autoridade dos reis com a introdução de práticas incomuns para o 4 africano, pois a organizaçao politica africana apresentava caracteriticas próprias que permitiam uma certa estabilidade e controlo dos seus povos. Assim, a presença portuguesa em Angola, fundamentalmente durante a década de 1930 a 1940, onde se dá o estabelecimento do estado novo em portugal, um regime fortemente marcado pela centralização e pelo autoritarismo, que vai imprimir várias transformações de carácter político-administrativo nas colonias em Africa, particularizando-se o caso da colonia de Angola (Stefenson, 2009, p.16). 1.1.1. Na vertente socio-cultural Durante a colonização, os governantes portugueses julgavam-se os donos da única verdade. Assim, julgavam-se no direito de condenar tudo o que fosse diferente da sua cultura. Subalternizavam todas as formas de práticas tradicionais, as cerimónias tradicionais dos rituais dos povos de Angola. Os africanos, na vertente cultural, segundo os portugueses, deveriam ter como ponto de referência a cultura europeia (Neto, 2014). O governo colonial português utilizou em Angola uma política assimilacionista, com pretexto de que os portugueses tinham a missão de “civilizar” as populações “indígenas”. A política assimilacionista portuguesa pretendia que os angolanos renunciassem os seus usos e costumes, às crenças tradicionais, suas línguas, etc., absorvendo a cultura portuguesa. José Mendes Norton de Matos foi um dos governantes de Angola que mais se preocupou com a assimilação dos angolanos e que proibiu a utilização das línguas angolanas no ensino e na catequese. A política de assimilação é oficializada a partir do pronunciamento do governador Marcelo Caetano, (1953/1954) numa conferência do Centro de Estudos Económicos da Associação comercial do Porto. No pronunciamento, ele apresenta o esquema de diferenças dos nativos sob o ponto de vista cultural. A política de assimilação começa a ser implementada à partir do recenseamento português de 1960, e os nativos começam a ser categorizados em dois grupos: os assimilados e os indígenas. 5 Indígenas eram considerados os nativos da raça negra e os seus descendentes, nascidos ou que habitassem permanentemente em Angola, que não tivessem nesta altura um nível de formação ou experiência pessoal ou social, considerada necessária no quadro da aplicação do Direito Público e Privado a cidadãos portugueses. Levava-se em consideração a raça, a origem, o local de nascimento e moradia, mas o principal traço de distinção entre assimilado e indígena fazia-se na esfera da cultura. Para conseguir o estatuto de “assimilado” e obter o direito de cidadão, o nativo tinha de atingir os 18 anos de idade, falar correctamente em português, ter uma profissão ou ocupação que lhe garantisse a si e aos seus familiares o mínimo necessário para viver, “comportar-se de forma digna”, possuir um determinado nível de formação e cultura dentro dos padrões portugueses e cumprir obrigatoriamente o serviço militar (Fituni, 1985, p.55, cit. por Neto, 2014, pp. 169 - 170). Os negros e mestiços, durante a colonização portuguesa em Angola lhes foi imposto a obrigação de assimilarem a cultura portuguesa tal qual era (pura), isto é, sem a mínima alteração que viesse das culturas africanas locais. Esta realidade fez com que antes de 1961, propriamente em 1950, houvesse menos de 1% dos africanos que eram legalmente classificados como assimilados. (Bender, 1980). (…) História de educação em Angola (que, de certa maneira, se confunde com a própria História de Angola, (…). O assimilacionismo, um princípio reitor da política de educação colonial em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, tinha como propósitos os seguintes: mudar valores e hábitos culturais africanos por europeus como forma de perpetuar a administração colonial; proporcionar aos africanos uma formação voltada, quase que exclusivamente para a religião e a actividade laboral, mas que evitasse a concorrência no mercado de trabalho com os portugueses, bem como qualquer aspiração políticados africanos a um maior sentido de autonomização. A história da educação em Angola não poderá continuar a passar ao lado dos planos de estudos da formação de professores, que, como interventores sociais de excelência, têm responsabilidade de formar o actuais e os futuros cidadãos para o trabalho, para a cultura e para o exercício pleno da cidadania, em contexto de harmonia e coesão social, tendo em vista a construção política da identidade nacional e o desenvolvimento do País. Não é desenhar o 6 futuro sem se levar em conta o passado. Como diria Séneca, “não há ventos favoráveis quando não se conhecem os rumos (Samuels, 2011). “Em 1950, a portaria 7079 instituiu o Ensino Rudimentar «exclusivamente destinado aos indígenas dos dois sexos, dos 7 anos aos 15 anos completos” (Gabriel, 1978, p. 500). O ensino rudimentar compreendia quatro classes, sendo a primeira uma classe de iniciação. Em seguida vinha o ensino primário elementar. Os indígenas, concluído o ensino rudimentar podiam matricular-se na terceira classe do ensino primário elementar. No entanto, para a matrícula neste nível era exigida a apresentação do Bilhete de Identidade dos pais do aluno e os indígenas não possuíam tal documento, não podendo, como consequência matricular os seus filhos (Gabriel, 1978). Em 1973 havia 5.888.000 habitantes na colónia de Angola, estando 3.245.000 em idade escolar, isto é, entre os 5 e os 24 anos. Da população em idade escolar estavam 18,8% a frequentar instituições escolares. Para um país que tinha 85% de analfabetos, esse “esforço de educação” era exíguo. E mais, se as estatísticas discriminassem os alunos em angolanos e portugueses, ver-se-ia que as crianças portuguesas eram todas escolarizadas o que não acontecia com as crianças angolanas. E além disso, a percentagem de angolanos ia decrescendo à medida que o ensino subia de nível, até atingir uma proporção ínfima no ensino universitário (Dilolwa, 1978). O ensino primário específico ministrado aos angolanos, classificados como indígenas, estava substancialmente sob a responsabilidade das missões católicas que colaboravam com as autoridades portuguesas na tarefa de destruir os fundamentos da cultura tradicional angolana (Neto, 2014). Os missionários católicos sempre manifestaram atitudes negativas para com a cultura e religião nativa, pois o objectivo principal era o de destruir a educação, cultura e a religião africana a qualquer preço. Assim, pregavam que o único e verdadeiro Deus era aquele cuja natureza e essência havia sido revelada pela Bíblia Sagrada, e todos os outros deuses não passavam de ilusões. Desse modo, os missionários católicos consideravam-se munidos de plenos poderes para conduzir todos os nativos de Angola ao domínio da Graça e da Salvação. 7 Imbuídos da convicção de serem donos da única verdade, condenavam tudo o que fosse diferente. Pregavam contra todas as formas de práticas tradicionais, as cerimónias tradicionais dos ritos. De modo geral, tornar-se cristão significava deixar de ser africano e tomar como ponto de referência a cultura europeia. O cristianismo exercia uma força desagregadora sobre a cultura angolana. (Opuku,1991,p.536). Continuando fazer recurso a Neto (2014), os jesuítas padres integrantes da campanha de Jesus, criada por Inácio de Loyola, impuseram a educação, religião, ideologia e a metodologia ocidental como se elas tivessem validade universal. Assim, os missionários católicos se consideravam portadores da melhor educação, e cultura supostamente superior à dos nativos. Foi também este o período em que se quis fazer da educação a eclesiologia missionária unilateral, em que o verdadeiro deus era o Deus dos portugueses, e que a verdadeira educação era a portuguesa. Para efectivar essa defesa, os missionários católicos utilizavam um processo educacional baseado na indução para a conversão e na conquista espiritual. A medida em que iam construindo escolas, eram transmitidos os valores cristãos e a cultura portuguesa. Eram criadas as condições de colonização e abria-se espaço para a acção exploratória da metrópole. Para os portugueses, educar era portanto, sinónimo de desafricanização. Tanto que para melhor conseguirem seus objectivos, induziram e incentivaram os nativos a se desvirtuarem entre si, passando a denominá-los por gentios e pagãos. O sistema de educação colonial português deixou marcas na cultura dos angolanos. O processo educacional imposto aos angolanos pelos portugueses deixou marcas profundas nas elites de Angola (Samuels, 2011). Para se perceber a dimensão do colonialismo em relação a cultura dos povos colonizados é preciso perceber que o fenómeno colonial não foi apenas expansão e dominação económica, mas também dominação cultural e etnocentrista. Os assimilados foram um produto híbrido do colonialismo com os pés em África e a mente na Europa (Ki-zerbo, 2009). Em função dos contactos entre europeus e estruturas africanas, provocou mudanças profundas com a introdução de uma classe detentora do poder com decisivo impacto no modelo de classe pré-colonial. Assim, do ponto de vista social e cultural a colonização portuguesa trouxe para Angola a destruição e o 8 despovoamento de muitas regiões, levando os povos africanos a um processo de aculturação a culturas e práticas sociais ocidentais, provocando uma negação da cultura negro-africana, enquanto os costumes europeus iam-se afirmando como o modelo de civilização para todos os povos. Perante esta realidade, o africano sentiu-se incapaz e criou sérias dúvidas quanto aos seus costumes, criando um complexo de inferioridade em parte também motivado pelos anos do tráfico de escravos e escravatura (Pantoja, 2000,p.58). Os portugueses afectaram profundamente as estruturas e instituições socio- culturais dos africanos de Angola. O sentimento de repulsa por parte dos angolanos era inevitável, logo, a busca pela dignidade perdida era um imperativo histórico. 1.1.2. Na vertente económica No aspecto económico, a relação teve início no século XV, mas foi o século XVI fundamental para a criação de uma entidade económica portuguesa em de Angola, pois este século marca o fim da independência do reino dos Mbundu e o início da presença portuguesa permanente e estável em Angola com a fundação da capitania de Luanda em 1575. Com a presença portuguesa em África, Angola conhece uma nova era com a instalação de uma nova identidade que apresentava moldes diferentes daqueles tradicionais, passando a influenciar os poderes políticos e económicos, mas também no aspecto socio-cultural. Assim, rapidamente Angola transformou-se em um dos lugares de topo durante o tráfico e pós-tráfico, com características próprias, destacando-se a implementação de uma aliança internacional de classes, entre mercantilistas europeus e aristocratas africanos e o interesse de outras potências pelos escravos e pelas vias de escoamento após a abolição do tráfico de escravos e da escravatura (Miller,1995, p.98). Antes da presença portuguesa, o sector económico de Angola, conhecido como economia pré-colonial, apresentava características de uma economia de subsistência adaptada a estrutura social e política dos reinos tradicionais que em alguns aspectos tinham tendências de uma vida nómada. Essa estrutura social e política com características de um modelo federativo, tinha por base uma economia forte com a utilização de uma moeda devido a complexidade do volume de negócios na região da bacia do Congo. Com a presença portuguesa, começam a ser 9 estabelecidas relações comerciais entre Angola e Portugal que passaram a ser baseadas numa primeira fase pela igualdade e respeito mútuo, mas a ganância europeia transformou o modelo económico de Angola puramente colonial com a exportação de matérias-primas em bruto (Dilowa,2000, p.87). Assim, numa primeira fase, tal como aconteciaem todas as colónias, Angola servia de fornecimento da força de trabalho para as plantações na America, específicamente no Brasil, mas com o fim do tráfico de escravos e da escravatura, toda hegemonia perdeu a sua importância. Deste modo, o colonialismo português foi marcado pela violência sobre as populações, pelas conquistas territoriais do poder colonial e de alguns poderes pré-coloniais que foram utilizados como força de trabalho de baixo custo, situação que acabou por enfraquecer as soberanias locais com a criação de uma economia colonial de fraca produtividade dependente do mercado externo desde o século XV ao seculo XX. A presença portuguesa acabou por transformar o paradigma económico de Angola numa actividade económica de subsistencia precária. Lembrar que antes da chegada dos porugueses, a economia de subsistencia caracterizava as sociedades africanas, mas a sede de lucros dos europeus e a prática de tráfico de escravos arruinaram a estrutura económica de Angola. Em Angola, o sistema de monopolio comercial português e as coações militares sobre a fixação dos preços, impediam os chefes tradicionais de terem qualquer tipo de iniciativa económica, passando apenas a receber uma diminuta vantagem económica do comércio e pelas perdas de guerra (Birmingham, 1870,p.7) Os actos dos portugueses trouxeram para Angola o trabalho forçado, instituido após a abolição do tráfico de escravos e da escravatura, sendo os angolanos forçados a prestar serviços por contrato em alguns casos e quem se recusasse a prestar tais serviços era severamente castigado e muita das vezes acabava sendo morto, esse era um dos situações mais frequente. (…) populações face as inúmeras investidas do invasor que expropriava as suas terras, obrigando-os ao pagamento de impostos elevados de soberania, ao mesmo que impunha à população regimes de trabalho forçado. Essa situação levava o povo a pequenas revoltas, e a acção política dos poucos nacionalistas na altura concentrava-se na denúncia do roubo e pilhagem dos colonizados. (Capoco, 2013). 10 Os angolanos perante a necessidade de pagamento de imposto e o trabalho forçado, novas modalidades de exploração, eram obrigados a aceder as mesmas como forma de evitarem perda das suas terras, maus tratos e outras vicissitudes degradantes que eram sujeitos em caso de recusa. Do ponto de vista económico, a colonização portuguesa pode ser justificada pela intensa vontade do governo português curar as feridas deixadas pela independência do Brasil que se emancipou em 1822, já que economicamente subsistiu, desde o século XIX, a concepção liberal de que, perdido o Brasil, os territórios africanos seriam o sustentáculo da existência autónoma de Portugal. ÁFRICA E A EMANCIPAÇÃO COLONIAL A áfrica colonial foi dividida em colónias. Apenas a Etiópia e a Libéria conservaram suas independências. Todos os povos colonizados perderam o direito a cidadania e a liberdade. Os motivos da invasão do continente foram variados. No entanto, essencialmente estavam ligados ao desejo de aquisição de vantagens políticas e económicas. A possessão das colónias africanas transformou-se numa questão de prestígio nacionalista europeu. Em 1900, a partilha do continente estava quase completa, embora tivesse havido algumas excepções, o período de implantação do sistema colonial e de destruição dos últimos remanescentes da resistência armada africana prolongou-se até 1920, ou mais tarde em algumas colónias. De 1920 até cerca de 1950, foi um período central do domínio colonial (Kamabaya, 2003, p.78). A situação de dominação colonial insustentável para os africanos teria de ter fim. As premissas da acção reivindicativa tiveram motivações e suporte interno e externo. Assim sendo, acreditamos que houve influência das guerras mundiais para a descolonização do nosso continente. A luta pela libertação dos povos africanos, ganhou peso logo após o fim da IIª guerra Mundial, uma vez que, com o fim desta guerra o Mundo ficou bipolarizado, passando os EUA e a URSS a dominarem o Mundo, enquanto as potências europeias perdiam seu lugar como principais potências mundiais. De modo a evitar futuras guerras, em 1945, a Organização das Nações Unidas substitui a Sociedade das Nações, passando a ser o organismo responsável pela paz e segurança 11 mundial, tendo novos modos operantes. Esse cenário mundial, serviu de alento para os MN africanos que passaram a olhar para o processo de emancipação com mais esperança e certeza. (Savite, 2014) Depois desta conflagração, a situação alterou-se e a causa da liberdade africana progrediu rapidamente em quase todas as colónias (Davidson, 1978, p.218). A participação de milhares de africanos na Guerra foi a ocasião de uma descoberta brutal do homem branco. Assim os africanos puderam observar as fraquezas do homem branco, puderam ver que os brancos trabalhavam com as suas próprias mãos, suavam, sentiam sede e fome, tinham relações carnais, havia brancos corajosos, mas também havia cobardes. Havia os que tremiam de medo, os que traiam e os que se matavam uns aos outros com raiva, em fim, os africanos puderam concluir que em algumas circunstâncias o branco era o lobo contra o próprio branco. Isto vinha em abono daquilo que David Livingstone ainda no século XIX havia afirmado com estas palavras: «Os negros não são melhores nem, piores que os homens das outras regiões do globo» (KI-Zerbo, 1972, p. 158). A alteração no equilíbrio político internacional provocada por essa guerra, veio fortalecer as pretensões de autonomia e de independência dos territórios africanos que se encontravam sob o domínio europeu. Destacar aqui a influencia dos EUA e a URSS, países que saíram vitoriosos deste grande conflito mundial, faziam pressão para que se construíssem nas colónias países autónomos, onde eles pudessem exercer a sua influência ideológica e aumentar os seus mercados, pelo que apoiaram os movimentos independentistas. Foi neste contexto que a Organização das Nações Unidas desenvolveu um conjunto de acções, defendendo o direito dos povos a sua autodeterminação, surgindo assim a Descolonização (Ki-Zerbo, 1972, p. 160). Além das forças acima referenciadas, intervieram outros factores, surgidos quer como consequência destas forças, quer de maneira independente, que vão fortemente influenciar a África, contribuindo para o despertar do seu nacionalismo. É importante ressaltar alguns congressos pan-africanos que deram origem as conferências dos povos africanos, a de Accra, Ghana, em 1957 e a de Túnis em 1960, seguidas de outras conferências que de uma maneira geral reclamavam a libertação total do continente. O ponto mais alto destas conferências foi o da conferência de 1963, em Addis-Abeba, para a criação da Organização da Unidade 12 Africana (OUA). O discurso da abertura circunscreveu-se em dois temas principais da época, a emancipação e a unidade da África (Ibidem, p.160). No artigo 2 são enumerados os objectivos: reforçar a unidade e a solidariedade, cooperar e intensificar a cooperação, defender a soberania dos Estados, a sua integridade territorial e a sua independência, eliminar da África o colonialismo sob todas as suas formas, favorecer a cooperação internacional tendo em conta a Carta das Nações Unidas e Declaração Universal dos Direitos do Homem (Ki-zerbo,1972, p.402). É importante salientar que a conferência de Bandung, realizada em 1955, jogou também um papel importante para a autodeterminação dos povos colonizados. A conferência de Bandung, em 1955 marcaria o nascimento político do terceiro Mundo que além de se assumir como uma terceira força em relação aos blocos da guerra fria, proclamaria a necessidade de acabar com o colonialismo sob todas as formas e decidiria ajudar política e materialmente todos os povos e movimentos nacionais a conquistarem a independência (Rocha,2002, p.52). A literatura, a música, a cultura, enfim, jogaram um papel importante no processo de descolonização de África através das suas manifestações. Começaram a aparecer em Angola algumas revistas como: a Mensagem e a Cultura, onde apesar da censura, os militantes conscientes podiam desenvolver um trabalho de consciencialização. Divulgavam-se alguns aspectos da natureza do fascismo 1 e do colonialismo e de uma cultura nacional. Mesmo no estrangeiro, procurava fazer-se trabalho, chamando a atenção do mundo para a miséria do povo africano sob a exploração do colonialismo. As palavras de ordem começaram a ser espalhadas, tais como: A Luta pela independência e as Organizações africanas de massa, liquidação das barreiras artificiais entre africanos indígenas e assimilados (Rocha, 2002). Outro factor que contribuiu para acentuar o sentimento anticolonial, foi o aparecimento de intelectuais que tomaram consciência da injustiça e da exploração de que as colónias estavam a ser vítimas, muitos desses membros tinham estudado nas metrópoles e passaram a liderar as lutas de libertação contra o jugo colonial. Por outro lado, a IIª Guerra Mundial tinha reduzido as capacidades económicas e 1 Fascismo 13 militares das metrópoles, pelo que o domínio das colónias se traduziu num encargo acrescido. Não se pode deixar de destacar também a grande Influência das correntes africanistas do Pan-africanismo e da Negritude. Cabe aqui destacar o V Congresso Pan-africano realizado em Manchester em 1945, por ter dado um novo impulso representativo com a participação de “políticos, sindicalistas e estudantes, basicamente representantes das colónias inglesas, e a independência imediata e incondicional foi enfatizada como a maior de todas as reivindicações”, destacando a presença de lideranças africanas como Kwame Nkrumah, Wallace Johnson da Serra Leoa, e Jomo Kenyatta. (Ibidem, 2013). Do ponto de vista conceptual, George Padmore definiu o Pan-africanismo como pensamento político que procura realizar o governo dos africanos, por africanos e para os africanos, respeitando as minorias raciais e religiosas que desejem viver em África com a maioria negra. À luz desta visão resulta que se o Pan-africanismo consistiu na reivindicação dos direitos políticos para os africanos, de modo que a África “falasse pela voz dos seus filhos”, sustentando assim uma base ideológica da revolução anticolonial. A Negritude, assenta em aspectos culturais, pretende “defender a cultura africana”, através da literatura, da arte e da poesia, próprias da inteligência do negro africano (Capoco, 2013). 1.1.3. As colónias portuguesas e a emancipação Sabe-se que, no final da década de 1950, viu-se o nascimento de dois Estados africanos, que acabaram por exercer grande influência para as independências de 1960, o mesmo não se pode dizer das colonias portuguesas em África, visto que Portugal foi entre os Estados coloniais europeus, o que mais tarde procedeu a descolonização, já que para Portugal pouco importava o acompanhamento do movimento independentista surgido após a IIª guerra Mundial. A persistência portuguesa devia-se a três factores: politico, económico e histórico, pois em finais da década de 1950 Portugal era ainda uma ditadura, definida como Estado novo, e que tinha apoio da Grâ-Bretanha e dos Estados Unidos da América, facto que contribuiu para a manutenção das colónias na luta anticomunista a que as grandes potências ocidentais se entregaram. Do ponto de vista económico, a 14 perda do Brasil em 1822, fez com que Portugal encarasse as suas colonias africanas como último refúgio e por isso, seriam sustentáculo da sua existencia autonoma. No ponto de vista histórico, o governo do Estado novo, defendia que Portugal tinha direitos hitóricos sobre seus territórios em África, por ser pioneiro dos descobrimentos (Pinto, 2001, p.54). Outrossim, enquanto decorria o processo de descolonização nas colónias inglesas, francesas e belgas, as colónias portuguesas continuaram isentas de conflitos, pois os movimentos apresentavam-se com pouco espaço de manobra, apesar das várias pressões, e Portugal se mostrava intransigente quanto ao processo de autonomia das suas colónias, chegando mesmo a transformá-las em províncias ultramarinas. Segundo Maxwell (1985), existe uma relação decisiva entre a descolonização na África e a revolução em portugal. A combinação de Marxismo eclético e o nacionalismo dentro da filosofia do MFA, fornecia a base para a convergência entre o PAIGC e a FRELIMO de um lado, e o MFA do outro. Esta aliança única, embora temporária entre o corpo de oficiais colonialistas e os seus oponentes, foi possivel pela escolha do momento e das circunstâncias especiais das lutas dos movimentos de libertação e pelo subdesenvolvimento de portugal, de que os oficiais do MFA tanto se ressentiam. Esta aliança estava predestinada a ser temporária pois que ao contrário do MFA os movimentos de libertação tinham objectivos claros. Os movimentos de libertação estavam comprometidos por necessidade a uma condição permantente – A independencia nacional- , enquanto que o compromisso do MFA, por mais importante que fosse, permanecia um compromisso a um processo que acabaria no momento em que as colonias fossem libertadadas. Contudo, por mais temporária que tenha sido esta aliança, o impulso que a convergência de pontos de vistas entre antigos inimigos trouxe a politica interna de portugal, e ao calendario da descolonização da África portuguesa, provou ser irresistivel. Levou a uma rápida conciliação na Guine Bissau e em Moçambique, e culminou no acordo de Alvor, em 15 de Janeiro de 1975. 15 A luta armada é o inicio de uma nova história para Angola. Há uma carência quanto aos dados históricos do país, desde a sua descoberta até a sua independencia, originando divergência quanto aos periodos exactos. De acordo com historiadores, o MPLA não teve grande protagonismo no inicio da luta armada, pois ainda não estava devidamente organizado. Isto posto em certo afirmar que a UPA foi a responsavel pelo inicio da luta armada. (Bittencourt, 2011,p.34). O espírito de revolta em Angola foi também influenciado pelo clima independentista que se vivia por toda África, pois que, a luz do postulado pela ONU, que defendia a autodeterminação dos povos ao explicar no seu 73º artigo da Carta das Nações Unidas, que: “Os membros das Nações Unidas que tenham ou assumam a responsabilidade de administrar territórios cujos povos ainda não tenham alcançado a plenitude de um governo próprio, reconhecem o principio de que os interesses dos habitantes desses territórios estão acima de tudo, aceitam como um encargo sagrado a obrigação de promover, em tudo o que lhes for possível o ideal de assegurar o seu desenvolvimento político, económico, social e educativo” (Savite, 2014,p.147). Estavam reunidas as premissas internas para as lutas de emancipação, resumidas na situação de descontentamento dos povos colonizados, e as externas oferecidas pelo clima politico vivido nas colonias francesas e inglesas, movimentos Pan- africanistas, posicionamento políticas da ONU, EUA e URSS em relação a emancipação dos territórios coloniais. ACÇÃO POLÍTICA E MILITAR DOS MOVIMENTOS NACIONALISTAS 1- Origem do Nacionalismo Angolano Segundo Capoco (2013), o Nacionalismo angolano tem suas origens na resistência das populações face as inúmeras investidas do invasor que expropriava as suas terras, obrigando-os ao pagamento de impostos elevados de soberania, ao mesmo 16 que impunha à população regimes de trabalho forçado. Essa situação levava o povo a pequenas revoltas, e a acção política dos poucos nacionalistas na altura concentrava-se na denúncia do roubo e pilhagem dos colonos. O nacionalismo angolano e toda a sua evolução no século XX foi fundamentalmente, aexpressão de um sentimento de repúdio contra a dominação colonial portuguesa, a supremacia dos ocidentais sobre os africanos de Angola e o controlo da vida política angolana pelas autoridades coloniais portuguesas. É, por isso, um nacionalismo anticolonial, um nacionalismo sem Estado, sem bases jurídicas, mas que invoca o cumprimento dos direitos do homem como parte dos objectivos políticos consagrados (Capoco, 2013). Para Batsikama (2015), o nacionalismo angolano é precedido de um protonacionalismo caracterizado por duas dimensões «espaço e tempo». Na nossa abordagem, nos focaremos apenas no espaço. Para este autor, em relação ao espaço, o protonacionalismo difere-se do meio rural ou meio urbano. No meio rural fala-se, geralmente, de reacções anticoloniais, ao passo que no meio urbano são reacções protonacionalistas. As diferenças situam-se nos objectivos: no rural, a administração colonial assinala várias rebeliões ou insurreições/guerras locais e regionais; são chefes tradicionais que lideram estas sublevações e que, além de simbolizar espaços geograficamente determinados, são iletrados e desconhecem a ‘acção colonizadora’, ao ponto de confundir o ‘branco colonizador’ do ‘branco angolano’. No meio urbano, as coisas são diferentes: são elites urbanas, aquelas educadas à maneira europeia (letradas) que criam associações (ou uniões, partidos, ou grémios ou ainda igrejas) e são multiétnicas e multirraciais. No meio urbano o embrionário das elites revolucionárias aspiravam o fim da dominação, a mudança do curso dos acontecimentos, e enfim, mais tarde a luta para instaurar um “governo de Angola liderado pelos próprios angolanos”. Foi na sequência destas aspirações, que os grupos de estudantes angolanos em Portugal e em Paris constituíram espaços de reflexão e associações culturais, recreativas e de entreajuda, onde se discutiam temas da identidade africana e de crítica ao sistema fascista e colonialista. Destas associações, as mais influentes apareceram em Portugal, como: 1- A Casa dos Estudantes do Império (CEI); 17 2- O Centro de Estudos Africanos (CEA); 3- O Clube Marítimo Africano (CMA). As mesmas associações, por sua vez, davam continuidade a pequenas formas de protestos anticoloniais que eram sobretudo de ordem cultural, desenvolvidas por brancos pro-angolanos, mestiços e negros assimilados em Luanda, que reclamavam uma identidade angolana, que em 1948 deram origem, sob a liderança de Viriato da Cruz, ao Movimento dos Jovens e Intelectuais de Angola (MJIA). O despertar do Nacionalismo Angolano foi influenciado por vários factores, de entre eles temos, segundo Capoco: O aparecimento das elites intelectuais angolanas, tanto no interior de Angola como na diáspora, a emigração de angolanos para os países vizinhos e a informação/comunicação com as massas populares, contribuiu para o despertar da tomada de consciência (Capoco, 2013, p. 6). A política económica da década de 50, marcada pela modernização das infra- estruturas empresariais e a construção de infra-estruturas rodoviárias e industriais tinha aumentado o trabalho forçado dos indígenas. A vida dos trabalhadores angolanos e das suas famílias enfrentava uma realidade difícil, vivendo-se a frustração da repressão (Capoco, 2013). A solução de inúmeras famílias passava por emigrar, como refere Edmundo Rocha: «Para escapar ao contrato e fugir à miséria, observam-se desde os anos quarenta fortes correntes migratórias (…) para as minas do Sudoeste Africano (Namíbia), para a Rodésia do Norte (Zâmbia), mas sobretudo para o Congo Belga (Catanga e Leopoldoville), onde as oportunidades de trabalho eram melhor remuneradas e em melhores condições, podendo mesmo prosperar como comerciantes, ter acesso às escolas (Capoco, 2013). Estava lançada a semente para a contestação política em Angola visando a conquista da liberdade e soberania nacional. 2.2- Surgimento dos Movimentos Políticos Visando dar corpo as acções politicas e espaços de reflexão das associações culturais, recreativas e de entreajuda, onde se discutiam temas da identidade africana e de crítica ao sistema fascista e colonialista, os angolanos deram um salto qualitativo na luta contra o sistema colonial português em Angola criando movimentos nacionalistas esta nova forma de organização política tornou-se crucial para a luta de libertação nacional. 18 O surgimento dos movimentos nacionalistas angolanos remonta à década de 1950 e 1960 com o propósito de reivindicar e exaltar a cultura e os valores de uma nação africana (Matumona, 2004, p. 46) Capoco (2013), o processo de luta anti-colonial é fortemente marcado pelo aparecimento de pequenas organizações que mais tarde transformaram-se em movimentos de libertação nacional que começaram a formar-se na década de 50 do século XX. Mas, muito deles acabaram por fundir-se para dar seguimento ao processo de luta. Passamos a apresentar de forma resumida os processos históricos do surgimentos dos Movimentos de Libertação Nacional em Angola. FNLA - Frente Nacional de Libertação de Angola De acordo com Mbah (2010), não se pode entender a formação da FNLA, sem estudar o surgimento de duas organizações: a UPNA, surgida em 1954, a UPA, surgiu em 1958, que mais tarde uniu-se ao PDA para dar corpo a FNLA. As duas primeiras organizações, a UPNA e a UPA, surgem, a primeira com o objectivo de apoiar um herdeiro protestante que pretendia ocupar o lugar deixado pelo rei Bacongo. Já a segunda, surge para contrapor a ideia do regionalismo na luta anti- colonial. o nascimento do movimento independentista com a sigla FNLA, só aparece em 1962, como refere um comunicado da PIDE de 5 de Abril desse ano, que anunciava a fusão de dois grupos. O documento dizia «consta que os representantes da UPA e do PDA, anunciaram no dia 29 de Março de 1962, numa conferência de imprensa realizada em Leopoldoville, a formação de uma frente comum a que deram o nome de FNLA (Capoco, 2013, p.93). figura 1: Esquema do surgimento da FNLA 19 fonte: Elaboração própria MPLA - Movimento Popular de Libertação De Angola A fundação do MPLA pode ser situada em meados da década de 1950, quando surge o Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola (PLUAA), em 1953. Assim em 1956, os líderes do PLUAA e de outras organizações publicam e aplaudem em manifesto a formação de uma ampla fusão, dando origem ao MPLA (Andrade, 1962). Assim, o surgimento do MPLA apresenta algumas similitudes ao surgimento da FNLA, pois os dois, surgem da fusão de várias organizações anti-coloniais. Apesar de algumas disparidades quanto ao surgimento do MPLA. Do ponto de vista histórico, tem sido consensual que o surgimento do MPLA como um movimento de luta contra o regime colonial português situa-se na década de 1950, embora haja controvérsia quanto a data do seu surgimento. Correcto é afirmar que o MPLA surge da fusão de várias organizações políticas, fundadas antes de 1956. Assim, o MPLA será o resultado da aglutinação de todas as tendências nacionalistas: O Exército para a Libertação de Angola (ELA), a Luta para a União de Angola (LUA), o Movimento para a Independência de Angola (MIA), o Movimento de Libertação de Angola (MLA), o Movimento de Libertação Nacional (MLN), o Movimento de Libertação Nacional de Angola (MLNA), o Movimento para a Idependencia Nacional de Angola (MINA), o Partido Comunista de Angola (PCA), o Partido de Luta Unida dos Africanos de Angola (PLUAA), a Comissão Federal do Partido Comunista Português (CFPCP), a Comissão de Luta contra o Imperialismo Português (CLIP). (Andrade, 1962). A tese sustentada pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), este foi criado em 10 de Dezembro de 1956, data que coincide com o lançamento do 1954 UPNA 1958 UPA PDA 1962 UPA +PDA FNLA d Realce d Nota O MPLA SURGIU DA FSÃO DE VÁRIAS ORANIZAÇÕES POLÍTICASFUNADAS ANTES DE 1956 20 Manifesto de Viriato da Cruz, na província de Luanda, o qual teria resultado da unificação do Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola (PLUAA) com outros grupos nacionalistas (Silva, 201, p. 110) Figura 2: Esquema do surgimento do MPLA Fonte: elaboração própria UNITA - União Nacional para a Independência Total de Angola Diferente do MPLA e da FNLA, a UNITA não surge da fusão de movimentos de luta anti-colonial. Esta força de luta colonial aparece como um projecto pessoal de Jonas Savimbi, que fez parte da FNLA/GRAE, onde exercia o cargo de secretário- geral e Ministro das Relações Exteriores. A falta de entendimento com o líder da FNLA/GRAE, baseada fundamentalmente na visão política que cada um tinha sobre a situação colonial e as ideias que Holden Roberto dava para a luta contra o regime colonial português deram origem a ruptura entre Savimbi e a FNLA. Assim a UNITA, surge em 1966 devido a uma dissidência entre Holden Roberto e Jonas Savimbi. Assim, com Savimbi vieram outros membras da FNLA, destacando-se João Liahuca e Tony Fernandes (Muekhalia, 2010). O problema da divisão interna da FNLA/GRAE, que se acentuara devido ao desentendimento de liderança, bem como o diferendo com Holden Roberto, levou Savimbi a demitir-se do cargo e abandonar a organização, num acto simbólico de grande importância política perante numerosos líderes africanos. Como refere Jorge Valentim: para a sua saída da FNLA, Jonas Savimbi escolheu o momento oportuno para a formalização da sua ruptura com Holden Roberto: “na altura da realização da conferencia da OUA, a nível dos Ministros dos Negócios Estrangeiro, em Julho de 1964, demitiu-se e, perante estas instancias, apresentou uma 1953 PLUAA MINA PCA CFPCP e outros MPLA 21 declaração muito crítica contra o presidente da FNLA e do GRAE, o senhor Holden Roberto”. Em vitude das más relações no interior do GRAE, Savimbi procurou descrever no acto da sua demissão, a situação que para ele não encontrava um caminho seguro para resolver o problema da libertação de Angola e, argumentava que as forças divididas impedem a mobilização da massa angolana, o que segundo ele, causava o fracasso da luta de libertação (Capoco, 2013, p.95-96). Estavam criadas os três Movimentos de Libertação nacional(MLN) de Angola que acabaram por protagonizar a luta de libertação nacional. 2.4- A Acção dos Movimentos Nacionalistas para a Emancipação de Angola Perante a intransigência do governo colonial português em conceder a independência de Angola de forma negociada provocou a necessidade de uma luta armada por parte dos nacionalistas. “O ataque feito as cadeias de Luanda por nacionalistas angolanos munidos de catanas onde a então polícia do regime colonial português mantinham presos muitos companheiros que na altura se opunham à opressão portuguesa, foi o ponto de partida para o início generalizado da LLN. Foi assim que, em função dos maus tratos de que eram vitimas os reclusos angolanos, na madrugada de 4 de Fevereiro, atacamos as áreas indicadas (cadeia de são Paulo, casa reclusão comarca de Luanda e outras) ” 2. Este acontecimento foi precedido por uma grave sublevação na Baixa de Cassange, a leste de Malanje, iniciada a 11 de Janeiro de 1961, de motivação laboral, numa área de cultivo de algodão em regime de monocultura. A revolta foi gerada pela COTONANG3 e incentivada pelo Partido Solidário Africano (PSA), partido congolês com influências transfronteiriças, segundo (Nunes, 2009), citado por Silva (2014). Foi assim que, no dia 4 de Fevereiro de 1961, em Luanda, ocorreram várias tentativas de assalto ao estabelecimento prisional de São Paulo de Luanda, a esquadra da Polícia de Segurança Pública (PSP) e à Casa de Reclusão de Luanda 2 Bernardo Armando da Silva: Tenente general da reforma. Integrou o grupo de destemidos nacionalistas que iniciou as acções armadas em prol da Luta Armada de Libertação Nacional, no âmbito da gesta heróica do 4 de Fevereiro de 1961. 3 COTONANG 22 (CRL), com o propósito de libertar os presos políticos que se encontravam detidos nestas prisões. Silva (2014), elucida que, o facto mais surpreendente é que nenhuma das organizações nacionalistas, nem nenhuma personalidade activa do nacionalismo angolano assumiu imediatamente a autoria e responsabilidade dos ataques. O MPLA face a esta situação aproveitou-se instantaneamente da ocasião para reclamar a autoria dos ataques produzidos em Luanda, declarando o seguinte: “Nunca cessámos de repetir que as massas populares de Angola, impossibilitadas de exprimir as suas legítimas reivindicações, reclamam com insistência junto dos responsáveis dos movimentos nacionalistas pelos meios necessários para poderem passar à acção directa, a fim de liquidarem definitivamente o colonialismo português. Estes acontecimentos são prova de como o governo português, apesar das propostas apresentadas pelo MPLA com vista a uma resolução pacífica da questão colonial, se obstina em manter a sua dominação clássica e o seu sistema de opressão” (Lara, 1997, p.427). Esta atitude fez com que o MPLA fosse encarado como a primeira organização nacionalista a desencadear a luta armada contra as forças coloniais portuguesas. A questão da autoria do MPLA nos levantamentos populares do 4 de Fevereiro de 1961 foi-se complicando com o passar do tempo por diversas razões: ➢ Primeiro, nem todas as personalidades ligadas ao MPLA partilham da opinião de que os ataques do dia 4 de Fevereiro foram da autoria desse movimento; ➢ Segundo, hoje tem-se conhecimento da existência de outras forças envolvidas nos ataques e que durante muito tempo eram desconhecidas; ➢ Por último, o MPLA depara-se com uma nova situação, na qual lhe é retirado o protagonismo dos ataques de 4 de Fevereiro, actualmente atribuído à FNLA, movimento político que foi o seu principal adversário político (Silva, 2014). O 4 de Fevereiro, também, não integrou simplesmente o MPLA porque os nossos avós foram presos e nem sequer faziam parte de um partido. Tendo sido presos em 61 em Nova Lisboa e cumpriram as prisões aqui em Sá da Bandeira. Nesta 23 altura muitos deles eram apenas pastores de igrejas e foram levados porque eram pessoas já com um horizonte visual e académico já largo e longo4. A 15 de Março, dá-se outra insurreição armada protagonizada por alguns nacionalistas filiados à UPA, aos quais se juntaram grande parte de trabalhadores nos distritos do Cuanza Norte, Uíge e Zaire. Estas insurreições no Norte de Angola deram-se de forma anárquica, apresentando deste modo, uma total falta de estratégia organizacional. As personalidades envolvidas nos assaltos de 15 de Março, sendo na sua maioria desprovidas de formação política e ideológica, não souberam fazer nenhuma distinção entre objectivos militares, símbolos do domínio colonial português e a população civil portuguesa. Esses mesmos indivíduos, “levados pela sua exaltação, executaram alguns dos seus compatriotas cuja única culpa era serem mestiços, negros assimilados, ou ainda terem nascido na região Sul de Angola” (Mbah, 2010, p.152). Segundo Silva (2014), este novo ataque contra as forças portuguesas, executado essencialmente por militantes da UPA, iria mais tarde fazer a sua entrada na história de Angola e do nacionalismo angolano contemporâneo, para estigmatizar o início da libertação nacional, levada avante desta feita sob a conduta da UPA. Depois de algumas hesitações, os dirigentes da UPA, acabaram por reivindicar a autoria desses ataques armados. Assim, sobre os ataques de 15 de Março de 1961, Pélissier (1979), citado por Mbah (2010), defendeu duas teses, a saber: “A primeira estava relacionada com a revolta programada, na qual colocava a UPA no centro dos ataques de 15 de Março; a segunda estava relacionada com a revolta espontânea, na qual colocava os trabalhadoresangolanos explorados no ponto dianteiro dos acontecimentos, deixando em segundo plano o movimento de Holden Roberto” (Mbah,2010,p. 162). Foi assim que, de acordo com Pélissier, o presidente da UPA ao ter conhecimento dos preparativos dos debates em torno da situação de Angola nas Nações Unidas, emitiu novas ordens aos seus militantes, para que esses pudessem dar início a novos ataques armados, provavelmente para ser visto como um ataque prolongado 4 Entrevista realizada na quarta-feira, 7 de Outubro de 2020 as 19 horas 30 minutos 24 das insurreições de 4 de Fevereiro (Pélissier, 1978), e o movimento de Holden Roberto encontrava-se novamente numa situação em que o contexto internacional lhe era favorável, sendo que o Conselho de Segurança das Nações Unidas estava disposto a debater questões relacionadas com o território angolano. Pode-se acrescentar ainda as conclusões de Pélissier referentes a esta temática, segundo o qual “a data de 15 de Março constituía uma escolha táctica da UPA” (Pélissier,1979, p.473). “O Conselho acabou por unanimemente adoptar a data do l5 de Março, primeiro porque, nesse preciso momento, desenrolavam-se na ONU os debates sobre os massacres de Fevereiro de 1961 em Luanda, massacres esses perpetrados pelas forças portuguesas por ocasião da tentativa de levantamento organizado por certas organizações que queriam que ele coincidisse com a eventual chegada do paquete Santa Maria” (Mbah, 2010, p.163). 2.4.1. Acção Política e Militar da FNLA Obtido o apoio das forças externas, os movimentos irão definir o caminho ideológico a seguir, ocasionando divergências que acabaram por marcar tanto a luta colonial como a luta pós independência. Os movimentos nacionalistas angolanos assimilaram ideologias que eram dominantes na altura, em função das suas relações com os grandes regimes ou em conformidade com o clima geopolítico da altura, buscando sua projecção regional e internacional (Capoco, 2013, p.110) 2.4.1.1. Política Partindo da sua génese, UPNA, UPA e FNLA, é considerada um movimento ligado ao grupo etnolinguítico Bakongo, tendo como pretensões o resurgimento do famoso reino do Congo. Surge como movimento tribalista que lutava por uma parte do territorio nacional. Por esta razão, Capoco (2013), afirmou que o contexto cultural que levou a formação deste movimento, derivou de várias formações tribais apegadas às tradições do seu passado, passando a defender ideias monárquicas, tendo como objectivo a restauração do antigo reino do Congo. A FNLA é caracterizada por um tradicionalismo histórico, com grande sentimento de apego ao passado com pretenção de restaurar os valores e tradições dos antepassados, 25 tendo como ideologia um conservadorimos da direita que prtende a manutenção dos valores, da cultura e da reabilitação das instituições tradicionais (Muekália, 2010). A FNLA definia o seu alinhamento com o modelo capitalista aplicado pelos EUA, mas assentava sua luta no tradicionalismo cultural, defendendo para o efeito a revitalização das instituições antigas. Esta realidade tornava a FNLA num movimento mais regionalista que defende princípios ligados ao reino do Congo formado pelo grupo etno-linguístico Bakongo, mas para dar azo a sua luta nacional, os líderes deste movimento foram mudando ao longo da sua história a sua designação, passando de UPNA em 1954, para FNLA em 1962. Assim, o que caracterizava a ideologia da FNLA foi a pretensão de restaurar os valores e tradições dos antepassados, dai que defendia o tradicionalismo cultural (Silva, 2008, p.145). Uma das realizações políticas da FNLA foi a criação do GRAE visando encetar acções politicas para apoiar e fortificar as reivindicações contra a presença portuguesa em Angola. No entanto, Segundo Mbah (2010) entre momentos áureos e cisões, em Junho de 1964 a FNLA depara-se com mais uma crise no seio do movimento, a demissão do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Jonas Malheiro Savimbi, no final do mesmo mês, a demissão de outros membros do movimento, José João Liahuca, Director do Serviço de Assistência dos Refugiados de Angola (SARA) e de Alexandre Taty, cujos motivos que estiveram na origem da demissão destas personalidades, eram sobretudo a “falta de eficiência da FNLA/GRAE, a falta de unidade existente no interior do movimento nacionalista e, mais grave do que todo o resto, a falta de apoio às forças que se encontravam dentro de Angola” . Nos meses finais do ano de 1965, registava-se grande desorganização no sistema de apoio externo da FNLA, o que originou uma drástica redução no fornecimento de material e na ajuda financeira. Esta dificuldade resultava das limitações impostas pelo Congo Leopoldville, onde o chefe do governo daquele país, o general Mobutu, “se debatia com dificuldades decorrentes da mudança de regime e da consolidação da sua própria posição, como primeiro passo para a implantação de uma ditadura pessoal” (EME, 2006, p.36). Como consequência disso, houve várias discórdias e 26 divergências no seio da FNLA/GRAE, as quais por vezes assumiram o aspecto de autênticas lutas internas. A partir de Julho de 1966, a situação de instabilidade que a FNLA enfrentava foi ultrapassada, pois o movimento “começou a beneficiar do crescente apoio de Mobutu, ao mesmo tempo que as viagens de Holden Roberto aos países estrangeiros lhe granjearam prestígio e lhe deram a certeza de que o GRAE seria o beneficiário do apoio da OUA” (Ibidem, p. 37). Nesta mesma altura, a FNLA recebeu por parte dos tunisinos o primeiro fornecimento de material. 2.4.1.2. Militar Fortalecida pelo capital e simpatia de que usufruía no plano internacional, a UPA beneficiava do apoio diplomático e militar de países africanos como a Tunísia, a Argélia, o Marrocos e o Congo Leopoldville, este último servindo de base da retaguarda para os seus combatentes. O apoio do Zaire foi de extrema importância do ponto de vista estratégico, uma vez que lhe permitia fazer as operações de guerrilha contra as forças portuguesas a partir da fronteira que separa Angola do Zaire ao longo de mais de 2.000 quilómetros. A partir dos anos 61 a FNLA foi o partido que melhor esteve organizado, equipado e o melhor exército de guerrilha. Embora seu protagonismo interno se resumisse em alguns raides de que foram fazendo “guerra de fronteira” a partir do Congo Zaire. A FNLA foi a partido que muito cedo foi mais forte e mais rapidamente se esvaiu por falta de estruturas sólidas dentro do partido5. Em 1962 o Movimento apresentava definitivamente sinais de grande desenvolvimento, sendo que: “ (…) Tinha fortalecido o apoio financeiro e militar que recebia do exterior; a isto foi adicionado o indispensável apoio da igreja Baptista, que prestava ajuda médica e medicamentosa aos refugiados e combatentes da UPA; o apoio da Frente de Libertação Nacional Argelina (FLNA), que formou militarmente os primeiros quadros da UPA nas suas bases tunisinas; o apoio financeiro vindo dos EUA, bem como o estatuto internacional que gozava o presidente da UPA/FNLA” (Bittencourt, 2008, p. 97), citado por Silva (2014). Em Junho de 1962, a UPA/FNLA recebeu os primeiros guerrilheiros formados na Tunísia pela Frente de Libertação Nacional Argelina. Ainda no decorrer do mesmo ano, o governo congolês prestou o seu apoio ao GRAE, disponibilizando o campo de treino de Kinkuzu, a 21 de Agosto de 1962, contribuindo, desta forma, para o 5 Entrevista realizada na quarta-feira, 7 de Outubro de 2020 pelas 19 horas e 30 minutos. 27 “desenvolvimento da actividade de guerrilha no território angolano” (Wheeler & Pélissier, 2009, p.291). Para homenagear este bom momento de apoio intra- africano, o movimento de Holden Roberto abriu um escritório na região de Lubumbashi, que serviria em caso de ausência de vitórias militares sobre as forças portuguesas, uma vantagem sobre o MPLA, queera o seu principal opositor político. Entretanto, a principal base militar da FNLA continuava a estar localizada no Congo Kinshasa, sendo que o grosso das suas forças de guerrilha permanecia na região de Kinkuzu. O movimento de Holden Roberto não criou novos teatros de guerra para além da região onde se desenvolvera a revolta de 15 de Março de 1961, não houve grande evolução no que diz respeito às actividades militares desenvolvidas, exceptuando as tradicionais emboscadas perpetradas pelos seus combatentes (Maciel, 1963). Deste modo, a nível militar, a FNLA não fizera grandes progressos, mas a sua presença era fundamental para reduzir os movimentos das forças portuguesas em Angola, que apesar de não sofrerem grandes embates, com a sua presença e permanência no território angolano exerciam uma actividade muito dispendiosa. Adiciona-se neste mal momento militar da FNLA a presença de Moisés Tshombé a frente do governo do Congo-Kinshasa que, tinha proibido a circulação de armamentos entre a fronteira do seu país e o território angolano. Este interregno militar viu-se engatinhar em Novembro de 1965, quando Joseph Mobutu veio melhorar significativamente as perspectivas futuras do presidente da FNLA. Nesta medida, a partir de 1965 as linhas de movimentação das forças da FNLA no Congo Leopoldville, passaram a estar bem definidas e, era do conhecimento das forças portuguesas, sendo que as suas acções consistiam essencialmente em “golpes de mãos, acções de intimidação e colocação de minas antipessoal e anticarro” (EME, 1998, p. 570). O Movimento de Holden Roberto envolve praticamente todo o território Norte de Angola, a partir da base de Kinkuzu, e avança ainda a partir do Congo Leopoldville em direcção ao Este e Sudoeste de Cabinda. Destaca-se a importância da base militar de Kinkusu, que se encontrava em posição central para prestar o apoio 28 directo às acções do movimento em praticamente toda a região Norte de Angola. (EME, 1998), citado por Silva (2014). Com a ascensão de Mobutu ao poder no Zaire a FNLA ganha um novo folego e reestruturou a sua organização militar, criou novas bases de apoio junto das fronteiras, fazia chegar em plena normalidade o reabastecimento aos guerrilheiros no interior de Angola, bem como reabriu algumas zonas de infiltração na região Norte de Angola, como foi o caso da «Frente do Cuango». Durante os anos de 1967 a 1970, a actividade da FNLA no território angolano aumentou significativamente. O movimento de Holden Roberto, que sempre fora apoiado pelo pró-ocidental Congo Leopoldville não podia perder espaço na corrida pela hegemonia na condução da guerra. No ano de 1970, a FNLA considerava ter no Congo Leopoldville cinco «Zonas Militares» de apoio, que eram: Zona Militar de Cabinda; Zona Militar de Songololo; Zona Militar Kasongo/Lunda; Zona Militar de Tashikapa e a zona Militar do Katanga. Silva (2014). Todas estas zonas apoiavam três frentes no interior do território angolano: “Frente Norte, a mais activa, nas províncias de Luanda, Cuanza Norte, Uíge e Zaire, Frente Nordeste, nas províncias do Uíge (fronteira do rio Cuango), Malange e parte das Lundas e a Frente Leste, onde infiltrava grupos a partir da área de Teixeira de Sousa para o alto da Chicapa, pela linha do Caminho de Ferro de Benguela” (EME, 2006, p.39). Entre 1971 e 1972, não houve grande alteração nas actividades desenvolvidas pela FNLA no interior de Angola, mas a partir do final de 1971, registou-se uma certa agitação no seio do movimento, sendo que as principais personalidades ligadas ao ELNA e ao GRAE estavam em desacordo. Este ambiente conflituoso agravou-se ao longo de 1972 e culminou, em Março deste ano, com acções de desordem no centro da sua principal base militar em Kinkusu, que foi apaziguada pelas Forças Armadas do Congo Leopoldville, a pedido de Holden Roberto. No entanto, restabelecida a situação, o presidente da FNLA introduziu profundas alterações no GRAE,“ extinguindo o Estado-Maior central e criando em sua substituição, um Alto Comando das Forças Armadas e três Corpos de Estado-maior, um por cada Frente, 29 para superintender no planeamento e na sua condução das operações militares” (EME, 2006, p. 41). As personalidades nomeadas para ocuparem os novos cargos depois dos graves acontecimentos de Março de 1972 (na base de kinzusu) não possuíam qualificação adequada, sendo que muitos deles ainda tinham ideias «tribalistas». Estas particularidades tinham grande implicância no interior de Angola, onde o Exército da FNLA se debatia ainda com pequenas divergências entre os guerrilheiros formados no exterior e os instruídos no interior, além de que os militantes e a população que se encontrava sob o seu domínio apresentavam sinais de cansaço e desmoralização (Bittencourt, 2008). Em 1973, as actividades militares das forças da FNLA, nomeadamente na Frente Nº 2 – Lunda, estavam praticamente estagnadas. Esta frente apoiava-se exclusivamente na base de Kizamba, de onde grande parte dos guerrilheiros, com a moral muito afectada, desertava frequentemente. Na sua Frente Leste Nº 3, as forças da FNLA haviam abandonado a área dos rios Cassai-Munhango e tinham- se deslocado para as áreas do Buçaco- Léua e rio Lualo, a sul de Nova Chaves. Durante o mês de Novembro do mesmo ano, diversos grupos haviam saído do território angolano, num total de 100 guerrilheiros, 27 milícias e cerca de 250 elementos da população (EME, 2006, p.438). Deste modo, concluímos que apesar do apoio financeiro e militar concedido pela comunidade africana e internacional à FNLA, esse movimento nunca conseguiu desenvolver uma actividade de guerrilha em todo território angolano. 2.4.2. Acção Política e Militar do MPLA O MPLA é considerado desde a sua fundação como sendo um rio que bebe água em muitas fontes, surge em meios urbanos e rapidamente passou a ser identificado como movimento dos assimilados, movimento daqueles jovens considerados os intelectuais da época, angolanos descontentes com a situação colonial que já tinha atingido um estado social diferente da maior parte da população. Mas em termos geográficos actuava e tinha grande influencia sobre o grupo etnolinguístico Kimbundu ou Ambundu, apesar de ter também grande influência sobre a miscigenação portuguesa que se opunha ao colonialismo. Do ponto de vista 30 internacional, o MPLA gozava simpatia com os movimentos alinhados com o Socialismo (António, 2013). 2.4.2.1. Política O MPLA teve um protagonismo alçado pelo estrangeiro, na altura havia um programa radiofónico emitido a partir de Brazzaville “Angola combatente” e naturalmente era mais escudado em Ponta negra -Cabinda 6. Capoco (2013), enfatiza que, na luta colonial e no pós independência, o MPLA contou com o apoio da Cuba, da URSS e do Congo Brazzaville. Tendo por isso revelado uma profunda inclinação no modelo soviético marxista-leninista7 com inspiração no modelo dos países da Europa do Leste que eram apoiados pela URSS. Para Sebastião (2015), o MPLA aparecia como um movimento firme e melhor estruturado na sua ideologia revolucionária, já de cariz comunista, que compunha as razões e objectivos dispostos num “programa mínimo” que definia uma orientação da acção revolucionaria e guerrilheira. O horizonte ideológico pauta-se nos ideais de luta pelo direito de liberdade e esta não poderia ser dissociada da luta pela instauração do Estado. Com este ideal do Estado, o MPLA definiu consequentemente, um “programa maior”. A direcção do MPLA sediada em Conacry necessitava urgentemente de se aproximar de Angola, a fim de dirigir a actividade política e militar no interior do país. No entanto, “a reputação de organização Marxista que o movimento tinha granjeado e as suas conotações notórias com os países do bloco socialista e com organizações de extrema-esquerda da Europa Ocidental levantaram sérias dificuldadesà sua instalação no Congo-Leopoldville, país onde a UPA, dirigida por Holden Roberto, beneficiava de uma forte implantação junto das populações angolanas emigradas e dos refugiados de guerra, de maioria bacongo, e também de fortes simpatias junto do governo congolês pró-ocidental” (Rocha, 2009, p.247). Segundo Lara (2008, p.149) foi no início de Setembro de 1961, que o MPLA pretendia transferir a sua direcção para Leopoldville, com o objectivo de fazer daquele território uma base político-militar, porém, o Movimento depara-se com um espaço territorial praticamente monopolizado, política e militarmente, pela FNLA, o 6 Entrevista realizada na quarta-feira, 7 de Outubro de 2020, 18 horas 20 minutos. 7 Marxismo-Leninismo 31 que impossibilitava a sua instalação naquele espaço territorial. Nesta medida, “todas as tentativas de penetração ao interior do território angolano organizadas pelo MPLA através da fronteira congolesa eram bloqueadas pelas forças militares da UPA/FNLA”. A direcção provisória do MPLA em Conacri imaginou uma estratégia que permitisse a entrada dos seus dirigentes políticos no Congo-Leopoldville, sob forma de uma acção humanitária, através do Corpo Voluntário Angolano de Assistência a Refugiados (CVAAR)8. Nesta medida, as autoridades do governo congolês, ainda no decorrer do ano 1961, apesar de ainda estarem política e materialmente mais favoráveis ao movimento de Holden Roberto, aceitam a presença do MPLA no seu território. Porém, esta atitude do governo do Congo Leopoldville resulta, em certa medida, do facto de existirem no seio do MPLA muitos militantes com formação superior pertencentes ao CVAAR e estarem, por isso, em condições de ajudar aquele país, sobretudo na área da saúde, resultante da partida de quadros belgas aquando da independência do Congo (Rocha, 2009, 247). Depois de penetrar em Leopoldville, o MPLA evidenciou esforços para que houvesse uma fusão entre este Movimento e a UPA/FLNA. Para isso, MPLA entrou em contactos com a UPA/FNLA a fim de convencer esse movimento a fazer parte da Frente Revolucionária Africana (FRAIN), através de uma organização denominada Conferência das Organizações Nacionalistas Portuguesas (CONCP), fundada em Abril de 1961, cerca de um mês depois dos ataques de Março de 1961. Em 1962, a chegada de Agostinho Neto à direcção do MPLA provocou um cenário de crise no seio do Movimento, motivada pelas sucessivas tomadas de posição de determinados dirigentes e militantes do MPLA, nos meses que antecederam a Conferência Nacional do MPLA, que se ia realizar em Dezembro de 1962. Todas estas tomadas de posição por parte de diversos militantes e dirigentes do MPLA contribuíram para que o movimento adoptasse uma configuração bipolar, um espaço de relações de forças corporizado em dois grupos: o denominado «grupo Viriato» e o denominado «grupo Neto» (Reis, 2010, p.199). 8 CVAAR 32 Do ponto de vista político-institucional, deu-se o afastamento de Viriato da Cruz da direcção política e a consagração de Agostinho Neto como Presidente do MPLA. Do ponto de vista político-ideológico foi reafirmada a necessidade de militarização do MPLA como organização, o que originou a criação do Comité-Político Militar, o principal órgão condutor da guerra de libertação (Lara, 2006). Deste modo, para efeitos da luta e da expansão da guerrilha, o Movimento dividiu o território angolano em regiões militares que estavam subdivididas em zonas militares e que mais tarde foram designadas por Regiões Político-Militares (RPM) (Carreira, 1996) (Nunes, 2010), citados por Silva (2014). Dado o favoritismo político que o Congo concedia a FNLA, causou uma instabilidade por parte do MPLA, que se encontrava perante uma crise interna profunda como também não encontrava soluções para o entendimento político com a FNLA. As autoridades governamentais congolesas decidiram, em Outubro de 1963, encerrar as instalações do MPLA naquele país, passando este Movimento a ter como alternativa fixar-se no Congo Brazzaville, de modo a poder dar continuidade às suas actividades político-militares. Todavia, com a mudança de governo em Brazzaville, a consequente viragem para a esquerda daquele país, e acima de tudo, “a chegada de uma substancial ajuda russa e até chinesa” fortaleceu o movimento, beneficiando do estatuto de ser o único movimento de libertação angolano instalado em Brazzaville (Pélissier &Wheeler, 2011, p.305). 2.4.2.2. Militar Logo depois dos actos que marcaram a existência do descontentamento em Angola perpetrados sob os ataques de 4 de Fevereiro, o Movimento Popular de Libertação de Angola, não exerceu quase nenhuma actividade militar de realce no interior do território angolano, pois nessa época, a UPA pelas suas acções de guerrilha ou através de promessas, conquistou o apoio da maior parte dos alegados apoiantes do MPLA nas regiões dos Dembos e em Nambuangongo. Sem a necessidade de esconder suas convicções e suas actividades, em Julho de 1964, o Congo-Brazzaville sob a liderança de Massemba-Débat, autorizou que o Movimento recebesse um significativo carregamento de armas e equipamentos 33 militares, sendo que ainda no mesmo ano, o Movimento abriu a II RPM, instalando- se em força na fronteira de Cabinda. Deste modo, o Movimento de Agostinho Neto criou “uma grande base, prudentemente afastada da fronteira, em Dolisie, junto da qual funcionava um Centro de Instrução Revolucionário (CIR) que era um órgão encarregado de ministrar cursos de formação política e militar a indivíduos de ambos os sexos” (Reis, 2010, p. 195). O MPLA dispunha ainda de uma “boa máquina de propaganda, com aproveitamento da Emissora Radiofónica de Brazzaville, muito ouvida em Cabinda, através do qual emitia um programa bissemanal que tinha apreciável popularidade” (EME, 2006, p. 125). O MPLA desenvolveu, em Junho de 1964, uma intensa actividade militar, organizada a partir de duas bases principais sediadas no Congo-Brazzaville: “a de Kimongo, a norte, para o apoio das actividades em Cabinda, na fronteira de Miconge e a de Banga, a leste, para as acções na região de Chimbete- Sangamongo” (Ibidem, p.125). No decorrer do ano de 1965, o MPLA apareceu na região de Cabinda muito moralizado, tendo criado mais duas bases militares, em Kimpeze e Ilpanga, tal como os anteriores situados no Congo-Brazzaville. Deste modo, o Movimento efectuou acções militares no Enclave de Cabinda a partir das bases de Banga e Kimongo, provocando muitas baixas às Forças Armadas Portuguesas mas, confrontado com a completa falta de adesão dos povos cabindenses, viu-se obrigado a transferir o seu esforço principal para o Leste de Angola. Nesse ano, o movimento conseguiu um grande rendimento nas suas actividades de guerrilha, sendo responsável por grande parte de baixas causadas às forças portuguesas. “O MPLA preparou e abriu, também em 1966, nos Dembos, a partir do Congo- Leopoldville, que lhe era hostil e proibia as suas actividades, a I RPM, que Agostinho Neto considerava essencial para concretizar a sua estratégia” (EME, 2006, p.109). Para constituir a I RPM o MPLA pretendeu infiltrar em Angola três colunas: a Coluna Cinfuegos, a Coluna Camy e a Coluna Bomboko. A primeira comandada por Jacob Caetano, sendo que esta coluna chegou ao seu destino numa marcha considerada heróica mas a Coluna Camy, comandada por Kiluanji, só conseguiu fazer chegar 34 alguns elementos que se juntaram à primeira. Perante este fracasso “a Coluna Bomboko foi deslocada para a Zâmbia com a missão de atingir a I RPM pelo Leste, intensão que saiu fracassada” (Ibidem, 110). O MPLA conseguiu reunir um numeroso grupo de guerreiros bem armados que se instalou na região de N’Galamba-Piri. Desta área, que era considerada estrategicamente bem situada, o MPLA desenvolvia contactos com a Região de Catete e, através desta, às células clandestinas deLuanda, onde se encontrava localizado o Comité de Acção Clandestina de Luanda (CACL). (Nunes, 2013). Do ponto de vista das operações militares, a ofensiva do MPLA ganha mais consistência a partir de 1967, quando diferentes destacamentos do Movimento são infiltrados através da zona do Cazombo, na província do Moxico onde a actuação era dirigida em ataques a postos administrativos e controle militares. Outros grupos do Movimento se aproximavam do Rio Kasai, onde poderia haver uma possibilidade de contacto com os trabalhadores do Caminho de Ferro de Benguela (CFB). Deste modo, não só o nome do Movimento e a sua acção se expandiram, como o recrutamento de indivíduos destes grupos seria fortalecido, fazendo com que o MPLA ao longo dos anos 1967 e 1968 avançasse para o interior de Angola, instalando algumas centenas de guerrilheiros nas áreas de Lumege e Chafinda, na parte mais ao Norte do rio Kasai. Depois destas operações, o Movimento cria assim a IVª RPM que compreendia os distritos da Lunda e de Malange, enquanto a III RPM abrangia os distritos de Moxico e Cuando Cubango. (Bittencourt, 2008, p.47). A fim de se estabilizar em todo o Leste e parte sul do território de Angola, o MPLA criou em Junho de 1969 a Vª RPM, que correspondia aos distritos do Bié e Huambo. No início de 1969, a actividade militar no Leste de Angola seria seguida da palavra de ordem, dada pelo Agostinho Neto, onde o presidente ressaltou a existência de três frentes de batalha: Cabinda, Cuanza Norte e Moxico e, por conta disso, defendem a ideia de que o MPLA era o único movimento angolano a executar a luta anticolonial no interior de Angola em cinco regiões, em três das quais a campanha não se baseava na influência étnica, destacando desta forma a importância da «politização das massas populares», como forma de expandir a luta (Nunes, 2013). 35 A estratégia territorial no Leste visava, entre outros objectivos, obter: “o domínio territorial e estabelecer a ligação entre a III à I RPM instalada no Norte, a que se chamou de Rota Agostinho Neto; pretendia também destruir a UNITA na sua zona de refúgio e alcançar o Bié por dois eixos principais de penetração ao mesmo tempo que, para iludir as forças portuguesas, utilizava outros eixos mais curtos e secundários. Um dos eixos estratégicos acompanhava parte do curso do rio Cuando e seguia em direcção ao Alto Kuito e, o outro, seguia em direcção ao rio Luena” (EME, 2006, p. 202). Pela rota do rio Cuando, planeava alcançar as regiões populosas e ricas do Bié e do Planalto Central do Huambo (Nova Lisboa) que, por si só, são o coração de Angola; dali, controlaria todo o território angolano e, pelo vale do Cuanza, poderia chegar a Malange. Na posse deste planalto, “o MPLA ficaria em condições de controlar o Caminho-de-Ferro de Malange (CFM), que acompanhava o curso do rio Cuanza, desde a nascente no Bié até perto de Luanda, onde desagua, com apoio da sua I RPM, no norte” (Nunes, 2010, p.130). O sucesso do MPLA ficou a dever-se, em grande parte, à falta de interferência por parte da UPA e também ao apoio de alguns grupos dos Lunda, Quioco, Luena, bem como os Nganguela e Kimbundo. O momento vivido na altura era sem dúvida favorável para o movimento, principalmente quando comparado aos anos antecedentes, tendo para isso, “contribuído as alianças internacionais e o crescimento do movimento” (Carreira, 1996, p. 205). Apesar das dificuldades que eram impostas pelas forças portuguesas, que se mostravam preocupadas com o alastramento militar do MPLA, o MPLA continuou a estabelecer bases militares no interior de Angola e, teve também grupos de guerrilheiros que exerciam actividades junto às populações do norte no distrito do Cuando Cubango, no centro sul da Lunda, no leste de Malange e Bié e em todo o Moxico (Nunes, 2013). Entre os dias 23 e 25 de Agosto de 1968, foi realizada a Primeira Assembleia Regional da III RPM do MPLA. Essa assembleia reforçou a ideia de que era preciso aprofundar as actividades ofensivas militares do interior, orientando os militantes a uma participação maior e, no caso dos que estavam em cursos universitários e técnicos no exterior, a regressarem o quanto antes para que 36 pudessem dar a sua contribuição e reforçar a luta, como foi o caso, por exemplo, de José Eduardo dos Santos. Ainda no decorrer do ano de 1970, o MPLA encontrava-se em desagregação na sua I RPM por dificuldades impostas pelas forças portuguesas e pelas forças da FNLA. Havia também dissidência entre os seus guerrilheiros bem como o descontentamento da população, o que motivou algumas apresentações às autoridades portuguesas, “facto que obrigou alguns chefes a impor uma disciplina mais rígida e exigente para manter o controlo e subordinação” (EME, 2006, p. 202). Deste modo, o ano de 1970 marca o início de uma etapa difícil no seio do MPLA na luta contra as forças portuguesas em Angola. As dificuldades crescentes do ponto de vista militar e da manutenção dos contactos com as populações “fariam explodir projectos alternativos, contraditórios, e consequentemente o surgimento de lideranças a defenderem tais propostas, além de sentimentos e aspirações menos nobres, baseados em ressentimentos, preconceitos e ambições” (Bittencourt, 2008, p. 81). Apesar do MPLA estar perante uma crise profunda, ainda assim no ano de 1971, o Movimento infiltrou no território angolano dois esquadrões com missões especiais. A um deles, designado de «Angola Livre» terá sido atribuída a missão de, como força de intervenção, combater a UNITA, cortando-lhe a ligação com a Zâmbia e desalojando-a das suas tradicionais zonas de refúgio. O Movimento de Agostinho Neto nunca conseguiu realizar com êxito essa missão. O outro esquadrão, de nome «Victória», destinar-se-ia a fazer parte de uma futura «Coluna Invasora Victória é Certa» “cuja missão estaria relacionada com a ligação à I RPM” (EME, 2006, p.439). Em meados de 1973, estimava-se que o MPLA tivesse 1400 guerrilheiros na Zâmbia e igual número de guerrilheiros em território de Angola (Ibidem, p.440). Todavia, face à insistente actividade operacional das Forças Armadas Portuguesas, o seu dispositivo estava desarticulado, e em completa retracção, particularmente nas suas III e IV RPM. Para evitar danos maiores, que poderiam por em causa os propósitos de uma luta prolongada, o MPLA iniciara a retirada para a Zâmbia de importantes efectivos combatentes e de populações sob o seu controlo. A esta retirada estratégica correspondia uma sensível redução das áreas de fixação e acentuada quebra do potencial e de eficiência para o combate. Na mesma época, 37 ocorrera também no Leste, fruto da desorganização e debilitação em que a guerrilha caíra, uma dissidência liderada por Daniel Chipenda contra a direcção orientada por Agostinho Neto. Esta cisão atingiu tal gravidade que, em Dezembro de 1972, foram suspensos o Comité Director do MPLA e o Comité de Coordenação Político Militar e criada em sua substituição a Comissão Nacional do Movimento de Reajustamento da Frente Norte e da Frente Leste. Apesar dos seus esforços na luta e do seu voluntarismo, o MPLA não conseguiu obter grandes sucessos nas suas actividades militares até finais do ano 1973, por várias razões: “em primeiro lugar por falta de meios logísticos que eram de elevada importância para a condução da guerra, principalmente o armamento pesado, que lhe teria permitido conservar durante muito tempo as posições conquistadas; segundo, pelo facto do Movimento se encontrar ameaçado por dentro, por duas facções dissidentes (Silva, 2010, p.39). Estas dissidências que também eram conhecidas pelo nome de «Revolta do Leste» e «Revolta Activa» contribuíram para que as forças coloniais portuguesas reocupassem o terreno militar em Angola e reduzissem significativamente os esforços do MPLA a nível da luta armada. 2.4.3. Acção Política
Compartilhar