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Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 1 FICHA DE APOIO HISTÓRIA Índice Características da Historiografia Medieval ................................................................................ 3 Limitações da Historiografia Cristã Medieval ....................................................................... 3 Contexto histórico do renascimento ........................................................................................... 3 Características da Historiografia renascentista ...................................................................... 4 As Comunidades Primitivas de Caçadores e Recolectores (Khoisan) ....................................... 4 Características ........................................................................................................................ 4 A Expansão e Fixação Bantu em Moçambique ......................................................................... 5 Agropecuária e Metalurgia de Ferro ...................................................................................... 5 Causas da expansão Bantu ..................................................................................................... 5 A diferenciação etnolinguística em Moçambique...................................................................... 6 A formação etnolinguística em Moçambique ........................................................................ 6 Sociedades matrilineares ........................................................................................................ 6 Sociedades patrilineares ......................................................................................................... 7 Causas da penetração mercantil europeia no continente africano ............................................. 7 A procura de ouro, marfim e escravos ................................................................................... 7 O papel de Portugal na expansão ........................................................................................... 8 A descoberta do caminho marítimo para índia ...................................................................... 8 As razões da prioridade da expansão por parte de Portugal. ................................................. 8 A invasão, partilha e ocupação efectiva de áfrica ...................................................................... 9 Económicas ............................................................................................................................ 9 Políticas .................................................................................................................................. 9 Religiosas ............................................................................................................................... 9 Sociais .................................................................................................................................. 10 Culturais ............................................................................................................................... 10 Principais conflitos internacionais entre as potências na conquista de colónias em África .... 11 Causas da conferência de Berlim ............................................................................................. 12 Objectivos da conferência de Berlim ....................................................................................... 12 Principais deliberações tomadas na Conferência de Berlim ................................................ 12 Formas usadas pelas potências imperialistas para a penetração e ocupação de África ........... 13 Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 2 Métodos de Ocupação .......................................................................................................... 13 A resistência africana contra a presença colonial .................................................................... 13 Formas de Resistência Colonial ........................................................................................... 13 A Resistência no Senegal ..................................................................................................... 14 Resistência na Namíbia ........................................................................................................ 15 Teorias sobre a partilha de África ............................................................................................ 16 Teoria económica ................................................................................................................. 16 Teoria psicológica ................................................................................................................ 17 Teoria diplomática ............................................................................................................... 17 O Movimento de Libertação Nacional em África (M.L.N) ..................................................... 18 Causas do nacionalismo ....................................................................................................... 18 Forças motrizes do nacionalismo africano. .......................................................................... 18 A conferência de Brazaville ................................................................................................. 19 Decisões da Conferência ...................................................................................................... 19 A conferência de Bandung ................................................................................................... 19 Os Estados Mwenemutapa ....................................................................................................... 19 Limites do Estado Muenemutapa......................................................................................... 20 A comunidade aldeã ............................................................................................................. 20 Aristocracia dominante ........................................................................................................ 21 Articulação entre a aristocracia dominante e as comunidades Mushas ............................... 21 Obrigações das Mushas........................................................................................................ 22 Obrigações da Classe dominante ......................................................................................... 22 Papel das crenças mágico-religiosas ou aparato ideológico dos Mwenemutapa ................. 22 Causas da decadência do império de Muenemutapa ............................................................ 24 Os Prazos da Coroa do Vale do Zambeze ................................................................................ 25 Actividade Económica ......................................................................................................... 25 O aparato ideológico dos prazos de coroa do vale do Zambeze .......................................... 26 Razões da decadência dos Prazos ........................................................................................ 26 O Estado de Gaza ..................................................................................................................... 26 Factores que constituíram fortaleza, habilidade que fez com este Estado se mantivesse independente foram:............................................................................................................. 29 Debilidades do Estado.......................................................................................................... 29 O Nacionalismo Moçambicano................................................................................................ 29 Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/873441380 Fonte: MMO, et al. 3 Características da Historiografia Medieval – História Providencialista: é uma história que coloca por cima do homem a vontade Divina; – É uma história universalista que começa no tempo de Adão e Eva e termina com o fim do mundo; – É uma história onde toda a acção humana no tempo é impelida pelos dignos de Deus, o que fez da sabedoria da História sabedoria divina; – É uma história apologética, visto que prevê o fim do homem e do mundo, tomando assim o carácter apocalíptico; – É uma história repetitiva e cíclica; – É uma história de poucas críticas de documentos, sem profundeza pela veracidade dos factos, nem com a reconstituição fidedigna da história da humanidade. Limitações da Historiografia Cristã Medieval A vida da idade média esteve fortemente influenciada pela igreja católica que difundiu o cristianismo como forma de pensamento dominante entre a classe erudita e o povo, o que impediu a livre pesquisa provocando assim um forte retrocesso a história e de mais ciências. Contexto histórico do renascimento Este período é considerado período de estagnação económica, científica e cultural, não só para a Europa, como também para o resto do mundo, pelo menos aquelas regiões que estavam em contacto com a Europa. O que acontece é que tanto a destituição de um sistema que tende a extinguir-se como a estruturação de um sistema que tende a subsistir o anterior são fenómenos lentos e irregulares. Na Europa, é um período de transição do antigo regime, do feudalismo, ao capitalismo. O feudalismo e o capitalismo coexistiram como formas de oposição entre as classes que defendiam as estruturas feudais e com eles de identificavam e as classes que de posicionavam de forma idêntica perante as estruturas capitalistas. Na área política assiste-se ao desmoronamento do absolutismo. Na economia há uma crescente procura de metais preciosos (ouro e prata) termómetros que definiam o poderio de um estado, que veio a dar origem a primeira expansão europeia. No aspecto social e científico, desenvolve-se a imprensa com o alemão Gutemberg bem como a estimulação do desenvolvimento da cultura pelos mecenas. No campo religioso temos a reforma e contra- reforma. Enquanto a Historiografia Cristã Medieval era essencialmente uma historiografia teocêntrica, isto é, uma historiografia em que Deus figurava como o centro do processo histórico, a Historiografia do renascimento irá deslocar esse centro para o homem. Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 4 Foi assim que no século XV na Europa assiste-se a primeira expansão europeia, dinamizada pela Espanha e Portugal, com maior procura de metais preciosos para acumulação primitiva do capital, como foi o caso do ouro e da prata. Ainda foi na época do renascimento que a Europa ficou dividida em Europa católica e Europa reformista. Verifica-se a passagem de uma historiografia palaciana para uma historiografia antropocêntrica. Características da Historiografia renascentista – A mentalidade dominante é vincadamente humanista e individualista, racional e crítica, enciclopedista e prática. Exalta-se o livre árbitro, o valor da experiência, o desejo da glória individual, foi um fenómeno tipicamente urbano que atingiu a elite economicamente dominante; – Alarga-se a temática da história; – Houve maior defesa dos valores clássicos; – O valor da História traduz-se no papel educativo. As Comunidades Primitivas de Caçadores e Recolectores (Khoisan) Antes do povoamento Bantu em Moçambique, extensas áreas do nosso território eram ocupadas por comunidades de caçadores e recolectores, os Khoisan ou seja comunidade de Bosquimanos e Hotentotes. Características – Economia recolectora caça e pesca; – Sem organização social claramente definida, pois as suas relações eram de certa forma curtas e descontínuas; – Comunidades designadas paleolíticas, isto é, comunidades que ainda viviam a idade de pedra (predomínio da técnica lítica); – Fraco nível de desenvolvimento das forças produtivas, ou por outra, fraco conhecimento da natureza e consequentemente grande dependência em relação a ela; – Eram comunidades com o processo produtivo nulo (imediatismo na produção e consumo), por outra, iam buscar na natureza a sua subsistência sem a trabalhar nem a restaurar; – Eram nómados, facto que condicionou a existência de fracos laços de parentesco, isto é, a constante deslocação a procura de melhores condições de vida originava uma instabilidade permanente e consequentemente inexistência de fortes laços de parentesco; – Sem exploração do Homem pelo Homem e consequentemente sem estado; – Divisão do trabalho por sexo e idade. Os rendimentos das operações de caça, eram instantâneos e quotidianos e exigiam cooperação para as operações de elevado rendimento (caçadas com redes ou para caça de grandes animais e para defesa contra os grandes predadores). https://escola.mmo.co.mz/historia/as-comunidades-primitivas-de-cacadores-e-recolectores-khoisan-2/ Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 5 Na África Austral, os povos com estas características foram os Khoi-Khoi e Sans ou Khoisan ou comunidade de Bosquimanos e Hotentotes. Os primeiros eram de estatura média e robustos, caçadores e os segundos eram altos e esquios reconhecidamente recolectores. O grupo remanescente desta comunidade ainda hoje vive no inóspero deserto de Kalahari. Foram estes povos que estavam em interacção ou foram dominados pelos povos de origem Bantu. A Expansão e Fixação Bantu em Moçambique Agropecuária e Metalurgia de Ferro Substituindo a comunidade primitiva e o predomínio da caça e da recolecção, vários grupos populacionais foram chegando a Moçambique desde há cerca de 1700 anos, povoando gradualmente as bacias fluviais costeiras e quase ao mesmo tempo as encostas e os planaltos do interior. Este processo de expansão ficou conhecido por expansão Bantu. A palavra Bantu tem uma conotação exclusivamente linguística e surgiu em 1862, sob proposta do linguista alemão Bleek, para assinalar o grande parentesco de cerca de 300 línguas, as quais utilizam esse vocábulo para designar os homens (singular Muntu). Porém, não existe uma raça Bantu. Por volta dos anos 200/300 ou um pouco antes, concretamente nos anos 1700, a região Austral da África, sofreu a penetração do povo Bantu, grupo etnolinguístico conhecedor da técnica de ferro, agricultura e pecuária. Foram estes que introduziram ou inauguraram a idade de ferro nesta região. O processo de expansão é ainda hoje motivo de controvérsia. Segundo a teoria do linguista J. H. Greemberg, o povoamento da população Bantu na África Austral teria resultado de um processo de expansão encetado na Orla Noroeste das grandes florestas congolesas a cerca de 300 anos, para a bacia do Congo e para África oriental e de uma migração relativamente rápida para o sul. A difusão quase em simultâneo da nova tecnologia de ferro, na zona dos grandes lagos e África Austral, entre cerca de 500 anos aC e o ano 0, teria acelerado o processo nos três anos seguintes. O que podemos acreditar como verdadeiras causas da expansão Bantu é que este fenómeno na África Austral ocorreu como resultado do conhecimento e da difusão de ferro, do conhecimento e difusão das actividades agro-pecuárias e do aumento populacional. Causas da expansão Bantu – Procura de terras férteis; – Aumento populacional; – O conhecimento e difusão da nova tecnologia de ferro; – O conhecimento e difusão da actividade agro-pecuária. Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 6 Com o conhecimento das actividades agro-pecuárias, criou uma estabilidade no núcleo Proto- Bantu, que entre outros aspectos representou uma melhoria das suas condições de vida, ocasionando o aumento populacional que levou a disputade terras férteis para a prática da agricultura, daí o movimento populacional. No que se refere a nova tecnologia de ferro, teve sua importância na migração Bantu, uma vez que a descoberta deste metal permitiu a esta população o fabrico de instrumentos mais cortantes, resistentes e eficazes, contribuindo desta maneira no aumento da produção e da productividade o que criou condições para o surgimento do excedente. Dentre os vários cereais cultivados pelo povo Bantu pode-se destacar a Mapira e a Mexoeira. A diferenciação etnolinguística em Moçambique A formação etnolinguística em Moçambique A população de Moçambique é maioritariamente de origem Bantu. Os principais grupos etnolinguísticos de Moçambique são: Cheua, Chona e Tsongas. A norte do Zambeze, os Cheuas e suas respectivas divisões: – A norte da Zambézia: Macuas e Lomué; – Alto da Zambézia, Nampula, Cabo-Delgado e Niassa: Ajaua, Nyanjas, Nsenga, Tauara, Tonga, Sena, Bárué e Yaus no Niassa e Tete; – Maconde no planalto de Moeda e Cabo-Delgado; – Kote, Nahara e Muani: na costa norte de Moçambique, Nampula e Cabo-Delgado. Ao sul do Zambeze os Tsongas e suas respectivas divisões: – Chopes, Rongas, Changanas, Tsua. Os Chonas e suas ramificações: Ainda encontramos os Chonas que se ramificam em Zezulus, Ndaus, Macorres, Tewes, Manhicas, Nhungues. Nesta região por ter apresentado condições propícias para a domesticação de animais, sobretudo o gado bovino, aliado a infertilidade do solo, conferiu ao homem poderes sobre a mulher. Sociedades matrilineares Como resultado da influência nesta região, assiste-se as diferenças entre a região norte e sul do Zambeze. A norte do Zambeze devido ao impacto da mosca Tsé-Tsé, impediu numa primeira fase a prática da pecuária, sobretudo o gado bovino e privilegiando a prática da agricultura, actividades que maioritariamente eram praticadas pelas mulheres, o que teria originado comunidades matrilineares. Estas sociedades desenvolveram-se no norte do Zambeze. Devido a prática da agricultura, conferiu a mulher poderes sobre o homem. Os filhos do casal pertencem ao grupo de parentesco da mãe e só as mulheres é que transmitem o parentesco. Os bens e poderes são herdados por via materna. O casamento na sociedade matrilinear, o homem fixa a sua residência na família da mulher, isto é, o casamento é Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 7 matrilocal. A esta prática chama-se uxorilocalidade. As funções políticas e jurídicas são desempenhadas pelo Tio materno. Nestas sociedades, se no casal a mulher morre, o homem era obrigado a casar-se com a irmã da sua defunta mulher. A esta prática chama-se Surrurato. Sociedades patrilineares Estas sociedades desenvolveram-se no sul do Zambeze. Devido a prática da pastorícia, actividade praticada pelo homem, conferiu ao homem poderes sobre a mulher. O estatuto de filho pertence a família do homem. A herança dos bens e poderes é feita por via paterna, do pi para filho. Nessa sociedade o poder passa do pai para o filho. O casal fixa a sua residência na casa do marido, ou por outra, o casamento é patrilocal. A esta prática chama-se virilocalidade. Os filhos pertencem a família do marido e se no casal o homem morre, a mulher tem a obrigação de casar-se com o irmão do seu defunto marido. A esta prática chama-se liverato. Causas da penetração mercantil europeia no continente africano Os europeus chegaram pela primeira à costa oriental de África em 1498, a caminho da índia. Pode se dizer que a penetração mercantil se iniciou aí e termino no século XIX, altura em que se iniciou a dominação colonial. Penetração mercantil – é o fenómeno da fixação e estabelecimento de contactos comerciais dos europeus no continente negro. Estabeleceram feitorias e fortalezas que eram simultaneamente entrepostos e defesa contras os inimigos. Era nestes edifícios que era realizada trocas comerciais. As principais fortalezas construídas naquele período em Moçambique foram as de Sofala (1505) e ilha de Moçambique (1506). A construção desta última foi ordenada por Vasco da gama durante a sua segunda viagem a índia. Quando os europeus chegaram á costa oriental de África, os árabes dominavam as trocas comerciais. Haviam-se fixado em pontos estratégicos do litoral, as trocas de ouro, marfim, âmbar e pedras preciosas com o interior eram feitas através de intermediários swahili. Para se apoderarem deste comércio, os europeus tiveram primeiro que lutar contra a presença árabe, destruindo as suas cidades e construindo os seus próprios fortes na costa. Depois de dominarem os pontos estratégicos do litoral, os europeus penetraram no interior para fazer trocas directamente com os chefes e as comunidades locais, contornando os intermediários swahili fieis aos árabes. A procura de ouro, marfim e escravos De entre os produtos procurados pelos europeus, os mais importantes eram o ouro, o marfim e, mais tarde, os escravos. O ouro foi transportado para a Europa e usado como moeda de troca na Índia, para a compra de especiarias. O marfim também serviu para produzir objectos de adorno. https://escola.mmo.co.mz/historia/causas-da-penetracao-mercantil-europeia-no-continente-africano/ Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 8 Os escravos foram usados massivamente nas plantações agrícolas da América do sul, a partir de finais do século XVI, como adiante iras estudar. A busca destas mercadorias levou os europeus a penetrarem, gradualmente, no interior, e a estabelecerem relações com os chefes africanos, interferindo muitas vezes na política dos estados africanos, como foi o caso do estado de Muenemutapa em Moçambique. O papel de Portugal na expansão Portugal teve um papel muito importante na expansão marítima Europeia, sobretudo com a exploração da costa ocidental africana e a descoberta do caminho marítimo para a Índia. Portugal foi pioneiro nas viagens exploratórias, iniciadas em 1415 com a conquista de Ceuta. Em 1488, Bartolomeu Dias dobra o cabo da boa Esperança (na África do sul). Este episódio encerra uma das etapas mais importantes nas viagens de exploração da costa ocidental africana. As viagens de exploração desta parte de África continuariam, mas agora sob a responsabilidade de particulares ao serviço da coroa portuguesa. A descoberta do caminho marítimo para índia Nos finais do século XV (1498), os Portugueses descobriram o caminho marítimo para Índia. O feito de Vasco da Gama só foi possível graças ao reconhecimento anteriormente feito de toda a costa ocidental de África. A experiencia acumulada e as informações transmitida pelos povos da costa ocidental Africana que faziam frequentes viagem a a Índia, foram muito importante para que Vasco da Gama e a sua esquadra chegassem ao oriente. Estes acontecimentos significaram o comprimento de um objectivo da Europa: descobrir uma rota comercial mas barata e segura para trazer especiarias e outros produtos do oriente. As razões da prioridade da expansão por parte de Portugal. Foram vários os factores que levaram Portugal a ser pioneiro na expansão europeia: Situação geográfica favorável – a longa extensão da costa Portuguesa fez com que desde muito cedo, os Portugueses adquirissem experiência marítima. Desde o século XII que aventurava do comércio marítimo de longa distância, entre a península Ibérica e o norte da Europa. Condições científicas e técnicas – dominavam a navegação astronómica, fazendo uso do astrolábio, do quadrante e da bússola. Possuíam ainda o conhecimento acumulado de outros povos marinheiros nas cartas de marear (italianos, muçulmanos e catalães). Construíam embarcações rápidas e versáteis, adequadas a navegação no Oceano. Condições políticas e sócias – a crise do século XIV tinha feito sentir a falta de metais preciosos, cereais, mão-de-obra e matérias-primas. Todos osgrupos sociais (clero, nobreza, e povo) eram favoráveis a expansão e viam-na como a solução dos problemas económicos. A coroa Portuguesa pretendia agradar ao papa com a conquista de novos territórios para a igreja cristã, espalhando a fé e lutando contra os inimigos muçulmanos do norte de África. Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 9 A invasão, partilha e ocupação efectiva de áfrica A evolução capitalista, através da revolução Industrial na Europa, iniciada pela Inglaterra, tornou inevitável a divisão do continente africano entre as grandes potências europeias. A própria lógica do desenvolvimento capitalista continha essa necessidade de expansão e anexação de outros territórios, sobretudo dos territórios onde a exploração capitalista não tinha ainda assentado arraiais. Tal desenvolvimento levou ao aumento das necessidades para fazer face a revolução industrial e aos produtos fabricados. Porém, quanto mais o capitalismo se desenvolve, mais se faz sentir a falta de matérias- primas, mais encarniçada se torna a concorrência e a procura de fontes de matérias-primas no mundo inteiro e mais brutal é a luta pela posse de colónias. No entanto, essas necessidades antes eram satisfeitas dentro da Europa pela anexação de certas zonas ricas entre as potências, como ocorreu entre a França e a Prússia, quando a Alemanha anexou as províncias de Alsácia e Lorena. Devido ao nacionalismo europeu que decorreu no século XIX e acompanhado pelo agravamento das rivalidades entre as grandes potências, fez com se recorre a África. A expansão e anexação foi, regra geral, precedida por “viagens de reconhecimento” levadas a cabo por missionários, aventureiros, etc, com frequências patrocinadas por organizações científicas ou filantrópicas, financiadas por associações e organizações científicas e filantrópicas. Com o desenvolvimento da actividade comercial e das rotas terrestres e marítimas de transporte a Europa sentiu necessidade de encontrar novos horizontes, sendo realizadas as primeiras viagens levadas a cabo por: Vasco da Gama, Marcopolos, Ferrão de Magalhães, Cristóvão Colombo entre outros. Estas viagens foram realizadas com certas motivações de carácter económicos, político, social, religioso e cultural que a seguir far-se-ão menção: Económicas No final do século XIX e começo do século XX, a economia mundial viveu grandes mudanças. A teoria da Revolução Industrial aumentou ainda mais a produção, o que gerou grandes necessidades de mercado consumidor para esses produtos pela saturação dos mercados europeus devido a concorrência no mercado e uma nova corrida por matérias- primas como o Ferro, Carvão, Alumínio e Petróleo. Assim, no final do século XIX e o começo do século XX, os países imperialistas se lançarem numa louca corrida pela conquista global o que desencadeou rivalidades entre os mesmos e concretizou o principal motivo da Primeira Guerra Mundial, dando princípio à “nova era imperialista” onde os EUA se tornaram o país cardeal. Políticas O nacionalismo europeu do século XIX fez crescer as rivalidades entre as nações da Europa. Com fronteiras bem definidas, territórios unificados, política centralizada e com governos fortemente estabilizados, a busca de prestígio só seria possível fora das fronteiras europeias e assim a primeira cobiça foi a África e Ásia. Religiosas Entre as causas desta expansão destaca-se a necessidade de expandir a fé cristã e salvar as almas dos infiéis (africanos) e contrapor a expansão do islamismo na Ásia. Havia entre outras https://escola.mmo.co.mz/historia/a-invasao-partilha-e-ocupacao-efectiva-de-africa/ Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 10 ideias a consideração de que os europeus eram mais civilizados em relação aos outros povos do mundo. Assim, era necessário civilizar os africanos. Havia uma grande necessidade de querer entravar o avanço do islamismo que era uma religião cujos objectivos eram semelhantes com os do cristianismo que consistiam em expandir a adoração de um só deus. No entanto, era lógico que estes rivais caminhassem em direcção à região de expansão e civilização. Sociais Procurava-se espaços em África para acomodar a população desempregada europeia a fim de se evitar tensões sociais causadas pela explosão demográfica. Culturais Os europeus por se considerarem mais civilizados vinham com a intenção de civilizar os africanos considerados povos não civilizados. Tratava-se duma nova fase, o imperialismo, consequência do desenvolvimento do modo de produção capitalista. A acumulação do capital, a procura de matérias-primas e a exportação de capitais constituíram momentos gerais e fundamentais do referido desenvolvimento. Entre 1886 e 1930, os capitais foram predominantemente investidos no comércio e na extracção de matérias-primas. A partilha e exploração do continente africano foi precedida de viagens de reconhecimento geralmente acobertadas sob motivos científicos e ou filantrópicos, formalizados na conferência de Berlim. Foi neste clima que os europeus iniciaram a enviar missionários e aventureiros para o interior do continente africano, testemunhado por seguintes exemplos: – David Livingstone, Missionário Inglês que entre 1840 e 1873 em sucessivas viagens percorreu o curso do rio Zambeze, o Lago Niassa e a região de Tanganhica, atingindo as nascentes do rio Zaize, descobrindo o lago Ngoni. – Stanley, que em 1871 parte zanzibar em direcção ao lago Tanganhica à procura de Livingstone, atravessando a África Equatorial, da Costa Oriental (Zanzibar) à Costa Ocidental (foz do Zaire), entre 1875-1877. – Savogan Brazza, que em 1873, empreendeu o reconhecimento da região equatorial na Costa Ocidental Africana, a norte do rio Zaire e Niassalândia. – Serpa Pinto e Roberto Ivans Brito, fizeram viagens para o interior africano, partindo de Moçãmedes em Angola até Quelimane em Moçambique. – Carl Peters (1856-1881) explorou a região dos grandes lagos. A certeza da existência de riquezas africanas, fez nascer neste período uma série de associações e sociedades de patrocínio a estas viagens. Teoricamente definidas como associações científicas e filantrópicas, organizadas com o objectivo de promover a exploração e a “civilização” africana, elas tiveram essencialmente fins políticos e não surgiram desligadas das rivalidades entre as potências europeias. Destacou-se aqui a Associação Internacional Africana, criada depois da Conferência Geográfica de 1876, que decorreu sob os auspícios do rei Leopordo II da Bélgica. Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 11 Entretanto, em Portugal que acompanhou o movimento, surgiu em 1875, a Sociedade de Geografia de Lisboa. Pouco tempo depois, em 1877, Serpa Pinto atravessou o continente de lés-a-lés e capelo e Ivens partindo de Moçâmedes até Quelimane, seguindo grande parte do rio Zambeze e centrando as suas atenções entre Angola e Moçambique, eixo das rivalidades luso-britânico. Após o reconhecimento, seguiu-se o processo de ocupação dos territórios reconhecidos, segundos os objectivos de cada potência. Esta corrida colonial ocorrida no último quartel do século XIX, veio agravar os conflitos já existentes entre as potências imperialistas, pela posse de zonas de influência para explorar mão-de-obra barata, matérias-primas e mercados consumidores dos produtos industrializados da Europa. O primeiro passo foi dado pela França, pela ocupação da Argélia, Tunísia, África Equatorial Francesa, Madagáscar e África Ocidental Francesa. Este processo foi seguido pela Bélgica de Leopordo II, com a tomada do Congo. A Inglaterra conquista na mesma sequência a região do Cabo na África do Sul, provocando o descontentamento dos bóers, obrigando-os a deslocarem para a região norte onde foram fundar o estado Livre do Órange e a República doTransval. Este processo ficou na História conhecido por Great Treck (grande marcha). Portugal conquista Moçambique, Cabo-Verde, Angola, Guiné-bissau e São Tomé Príncipe. A Espanha conquista o Marrocos, Guiné Espanhola. A Itália conquista a Eritreia, Somália e Líbia. A Alemanha conquista o Tanganhica e Namíbia. Principais conflitos internacionais entre as potências na conquista de colónias em África No final do século XIX e inícios do século XX, os países imperialistas lançaram-se numa louca corrida pela conquista global da África, o que desencadeou rivalidades entre os mesmos. A Inglaterra com a compra do cabo em 1815, tendo originado o conflito Anglo-boer, entre 1899-1902, disputando o controlo total de todas as regiões mineiras da África do sul. Entre Portugal e Inglaterra rebentou a guerra Luso-britânica, causada pela coincidência de projectos entre os dois países, pois Portugal pretendia materializar o seu projecto mapa-cor-de-rosa, segundo o qual Moçambique e Angola estariam geograficamente unidos, projecto este que ia contra os interesses de Cécil Rhodes, então comissário britânico, que pretendia construir uma linha férrea ligando o cabo ao cairo, para facilitar o escoamento das matérias-primas e dos produtos industrializados das colónias para a metrópole e vice-versa. Assim, a Inglaterra enviou um ultimato a 11 de Janeiro de 1890, num prazo de 48 horas pedindo a retirada das tropas portuguesas ali estacionadas. O não cumprimento deste ultimato implicaria o corte das relações diplomáticas entre os dois países. Com o eventual recurso ao uso da força e perante a impossibilidade de Portugal de enfrentar um inimigo tão poderoso, o governo português cedeu as regiões em causa na tarde do mesmo dia, principalmente nas regiões da Machonalândia e do Chire. Para além dos dois conflitos do extremo centro e sul, também no extremo norte Portugal envolveu-se em guerra com a Alemanha que ocupava o Tanganhica, actual Tanzânia, a chamada guerra Luso-germânica sobre a fixação da fronteira norte de Moçambique. A Alemanha hasteou a sua imperial bandeira em ambas margens do rio Rovuma tendo penetrado em 1894, na margem sul, expulsando a reduzida guarnição portuguesa ali estacionada, substituindo-a por uma alemã. Entretanto, este projecto alemão não se efectivou em virtude da Alemanha ter saído derrotada na primeira guerra, pois havia uma cláusula Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 12 definida na SDN segundo a qual, todas as potências derrotadas na primeira guerra Mundial deveriam perder todas as suas colónias e assim sendo, a Alemanha retirou-se nos territórios em causa. Em 1904-1905, rebentou a guerra Russo-japonesa, envolvendo países como a Rússia e o Japão pelo controlo da Manchúria chinesa e da correia. A anexação da Bósnia e da herzegovina pela Áustria Hungria, levou a eclosão da guerra de 1912-1913, as chamadas duas guerras balcânicas. Nesta guerra, a Rússia choca-se com a Alemanha que pretendia construir uma linha férrea Berlim-Bisáncio-Bagdad (B-B-B). As rivalidades agudizavam cada vez mais, levando a formação de alianças militares. Esta crescente luta era causada pela obtenção de zonas de influências donde poderia se obter matérias-primas a preço mais baixo, mão-de-obra barata e mercado para a venda dos seus produtos industriais. Porém, temendo a eclosão de um conflito de grande envergadura, os países europeus realizaram de 15 de Novembro de 1884 à 26 de Fevereiro de 1885 a conferência de Berlim, para a partilha da África, convocada por Otto Von Bismark da Alemanha, por ter-se lançado tarde na corrida imperialista devido a sua tardia unificação, pretendendo obter colónias em África, aproveita-se do conflito entre a Bélgica e a França sobre a região do Congo para convocar de 15 de Novembro de 1884 à 26 de Fevereiro de 1885 a conferência de Berlim. Referir que esta conferência foi um processo para se chegar na mesa de conversações sobre o delineamento de fronteiras com a finalidade de evitar futuros conflitos armados. Todavia, a partilha de África aquela que passou a vigorar nos mapas não se fez na conferência de Berlim, mas ela principiara antes e concretizou-se depois. O que se fez na conferência de Berlim foi uma série de conversações para se obter regras e princípios para uma ocupação efectiva oficial. Causas da conferência de Berlim A causa primordial da conferência de Berlim, foi o conflito entre a Bélgica e a França sobre a região do Congo e a intenção da Alemanha em criar um império colonial em África. Objectivos da conferência de Berlim – Obter um acordo de princípios entre as potências imperialistas/europeias para uma ocupação efectiva oficial; – Regular o comércio e a navegação nas bacias dos rios Níger e Congo. Principais deliberações tomadas na Conferência de Berlim – Decidiu-se que o comércio de todas as nações passaria a gozar de uma completa liberdade nas bacias dos rios Níger e Congo; – Reconhece-se o estado Congo-Belga; – Decidiu-se que todas as potências consignatárias deveriam abolir nas suas colónias o comércio de escravos; – Decidiu-se que em caso de dúvidas sobre a delimitação de fronteiras, devera-se resolver por meio de conversações; Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 13 – Estabeleceu-se o princípio de ocupação efectiva, segundo o qual todas as potências que tivessem colónias em África deveriam ocupar político e administrativamente as suas colónias sob risco de perdê-las. Assim, os territórios africanos deverão pertencer aos países que tivessem meios para os ocupar de facto. Nesta conferência participaram 15 países, designadamente: Alemanha, Império Austro- Húngaro, Bélgica, Dinamarca, França, Espanha, Portugal, Inglaterra, Itália, Reino dos países baixos, Rússia, Suécia, Noruega, Turquia e os EUA. Após a conferência, seguiu-se o processo de ocupação efectiva da África, segundo a cláusula de ocupação da África definida. Assim, a ocupação da África pelas potências europeias resultou numa autêntica partilha e divisão de África sem respeitar nem a história, nem as relações étnicas ou mesmo familiares do continente. Formas usadas pelas potências imperialistas para a penetração e ocupação de África Para a ocupação dos territórios africanos, as potências coloniais usaram diferentes formas de penetração, destacando-se as seguintes: – Companhias militares (França e Portugal); – Companhias comerciais (Inglaterra). Métodos de Ocupação – Tratados de amizades; – Conquistas militares; – Diplomacia. A resistência africana contra a presença colonial Formas de Resistência Colonial Davidson (1991:703-706), apresenta várias formas de resistência contra a presença colonial em África. Dentre elas destaca-se as seguintes: – A primeira forma de resistência consistia em pegar em armas. Esta forma de luta foi abandonada no final da primeira guerra mundial, pois era um recurso sem esperança e condenado ao fracasso, pois as armas haviam sido confiscadas em sua maior parte e a pólvora não era encontrada. – A segunda forma era a retirada, pois quando a situação se tornava intolerável, aldeias inteiras abandonavam os campos e partiam para zonas situadas fora do alcance das autoridades coloniais. – A terceira solução forma de resistência residia nos cultos religiosos ou messiânicos fundados pelos africanos em reacção a religião europeia. Essa revolta metafísica dos africanos aparentemente tinha poucas raízes locais. https://escola.mmo.co.mz/historia/a-resistencia-africana-contra-a-presenca-colonial/ Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 14 Enquanto maior parte dessas formas de oposição tinham a base rural, os intelectuais e jornalistas assimilados, denunciavam os abusos do colonialismo e reafirmavam a sua identidade africana. De facto, desde meados do século XIX,existia uma tradição de oposição literária muito rica. Era quase sempre difundida pelos imperialistas europeus que África era uma espécie de vazio político onde tinha livre curso a anarquia e selvajaria sangrenta e gratuita a escravidão, a ignorância, miséria e ainda ausência total do nacionalismo entre os africanos. A atitude dos africanos aquando da chegada dos europeus no século XIX foi muito variada. A primeira reacção dos africanos raramente foi de hostilidade. A hostilidade pôde provir da circunstância do tráfico de escravos haver atingido sobretudo as pequenas tribos desorganizadas e se estas terem tendências para ver qualquer expedição conduzida por estrangeiros como um prelúdio ao comércio negreiro. De facto existiam diferentes ideias no seio dos africanos em relação aos brancos, como por exemplo, nos povos “bornus” os brancos eram olhados com horror porque se suspeitava que fossem leprosos ou infiéis. Na região do Kanu (Hanças) imaginavam que esses tinham poder sobrenatural como de transformar as pessoas em animais. É importante realçar que todos os primeiros viajantes estrangeiros conheceram a hostilidade (oposição) dos africanos. Muito rapidamente e principalmente desde finais do século XIX, os africanos se aperceberam que aqueles estrangeiros não eram como os outros (asiáticos). Vai assim a resistência tomar as suas raízes na consciência de um perigo mortal para as colectividades dos africanos. Surgirá ela de início da reacção dos chefes locais que viam na invasão europeia uma ameaça aos seus valores ideológicos e aos seus privilégios comerciais. A resistência africana surge após a instalação do sistema colonial com as suas humilhações, os seus crimes e especialmente a proibição ao tráfico de escravos que era a principal fonte de rendimento dos chefes locais. Assim, desperta uma resistência em geral mais popular que tomou as formas mais variadas desde a fuga á sublevação armada. Com o intuito de cristianizar os africanos, os europeus entraram em choque com o aparato ideológico local, visto que estes já dispunham das suas crenças, hábitos e costumes e já tinham sofrido uma forte influência do islamismo. O período colonial é considerado por africanos como sendo o “tempo de força”, pois foi na verdade pela força, pela coerção e violência física que se estabeleceu este regime. A Resistência no Senegal Numerosos reinos africanos do Senegal reagiram contra a dominação francesa. Importa destacar a figura de Mamadou Lamine chefe dos Soninke. Em 1880, os Soninke viviam em parte sob dominação francesa e participavam coercivamente na construção de estradas e de linhas de telégrafos. Este trabalho era bastante esgotante e a precariedade das condições de vida implicava altas taxas de mortalidade. Foi essa a origem de pretextos voltado não só contra as humilhações diárias, mas em particular contra a dominação estrangeira. Mamadou Lamine, apoiado pelo princípio religioso que proibia os muçulmanos viver sob uma autoridade não islâmica, “doutrina sanusya” desencadeia uma série de ataques contra os franceses. Os Soninke condenavam os franceses e seus aliados africanos como Omar Penda e alguns fazendeiros. Alguns Soninke ao serviço dos franceses aderiram ao campo de Mamadou Lamine enquanto outros transmitiam informações aos franceses. Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 15 Face ao inimigo dotado de armamento superior, Lamine contava com a superioridade numérica e fanatismo religioso das suas tropas, convencidas que estavam lutando por Deus e sua pátria, (guerra santa). Derrotado em Bakel, Lamine adopta a táctica de guerrilha, organizando um bloqueio a cidade, ocupando todas as vias de acesso. O Capitão francês Jolly viu-se obrigado a retirar-se. Em Julho de 1887 a aliança entre Gallienne e Ahmadu contra os Soninke, precipitou o fracasso da revolta. Em Dezembro do mesmo ano, Lamine era finalmente abatido pelos franceses, com ajuda de auxiliares africanos. Após a morte de Lamine, Lat-Dior-Diop seguiu em frente com a resistência. Os franceses ao penetrarem no reino de Caior pautaram por estabelecer pacto de amizade com a estrutura local de modo a que realizassem livremente o comércio na região. Em 1879, os franceses decidem construir uma linha férrea de Dakar a São Luís de modo a que impulsionasse o comércio. Lat-Dior-Diop suficientemente esperto constata que o homem que está de passagem não constrói, revoltasse e refugia-se para Baol. Os franceses substituem-no pelo sobrinho Samba Laobé Fall de 24 anos. Em 26 de Outubro de 1886, Diop realiza uma guerrilha contra os franceses, acabando por cair nas rédeas do inimigo. Porém, foram as tenções internas da sociedade senegalesa bem como a superioridade bélica francesa que condenaram o Senegal a uma infalível colonização. Resistência na Namíbia A partir da década de 1880, a Namíbia sofreu o domínio da colonização Alemã. A essa dominação opuseram-se quatro grupos populacionais Khoisan: os Namas, os Hereros, os Sans e os Ovambos. Dentre estes grupos populacionais os que mais efectuaram resistência foram os dois primeiros: Hereros e os Namas. Os Hereros estavam organizados em principados separados e os Namas em clãs de diferentes dimensões. Em 1883, um comerciante alemão Franz Luderiz recebeu do seu governo a permissão para fazer tratados com os chefes africanos e comprar os seus territórios. Foi o que aconteceu por exemplo naantiga Luderiz Bay. Embora os britânicos e os africânderes não gostassem da presença de Luderiz na região por causa dos seus interesses principalmente no porto de Walvis Bay. Assim sendo, os alemães entraram na Namíbia a força reconhecendo Samuel Maherero como chefe supremo, para esmagar a oposição a dominação colonial por parte dos outros chefes. Na verdade os chefes africanos estavam relutantes em assinar tratados que pouco depois revogavam. Os chefes Hereros aliavam-se aos alemães na perspectiva de limitar a penetração colonial Britânica e a dos africânderes, mas porém, nada sabiam das pretensões alemãs em dominar a região. Enquanto Samuel Maherero optava por realizar tratados de protecção, primeiro com a colónia do cabo e depois com a Alemanha, Hendrik Witbooi chefe dos Namas opunha-se a assinar tratados de protecção pois para ele “todos os protegidos são súbditos de quem os protege”. Com a presença alemã, os africanos viram expropriadas as suas terras, sendo forçados a aceitar trabalhos a troco de baixos salários nas fazendas ou minas de ouro. Em 1903, o governador alemão temendo uma possível rebelião por parte dos africanos pela perda das terras, decidiu criar reservas para ao Namas e os Hereros. Porém, essa atitude foi mal interpretada pelos nativos pois temiam a expropriação definitiva das suas terras. Devido a Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 16 interferência colonial crescente, desencadeou-se uma resistência sucessivamente mais coesa em toda a Namíbia. Segundo Chanaiwa (1991:234), em Janeiro de 1904, os Hereros revoltaram-se aproveitando da retirada das tropas alemãs que haviam partido para subjugar os Bondelswarts, tendo matado 100 alemães, destruindo várias fazendas. Em conformidade com Gentil (1998:171), face a essa situação, o general Von Trotha apoiado pelos soldados vindos da Alemanha, comandou uma acção de extermínio, onde todos os Hereros que caíssem nas mãos das tropas eram mortos. Temendo a morte, maior parte destes refugiou-se no deserto oriental. Cerca de 2000 Hereros conseguiram refugiar-se na Bechunalândia e na África do Sul. No fim da guerra das 80.000 pessoas, apenas restavam 16.000. Ainda neste ano, os Namas de Hendrik Witbooi, se revoltaram, adoptando tácticas de guerrilha eficazes. A rebelião teve sucesso até a morte de Witbooi, em Outubro de 1905. A partir daí, a resistência Nama foi continuada por Jacob Murenga e Simon Kooperaté 1907/8. Jacob Murenga foi um dos últimos chefes da resistência a dominação colonial alemã na Namíbia. Foi o mais forte e duradouro dos principais comandantes do sul. Na guerra de guerrilha era efectivamente o mestre, abastecendo as suas forças nas fazendas com armas. Foi preso e assassinado em coordenação com as autoridades do Cabo. Fracassada a resistência, os alemães dominaram o território do sudoeste africano (Namíbia). Em Junho de 1915, a última guarnição alemã teve que se render e a partir desse momento a Namíbia ficou sob ocupação militar sul-africana e na sequência do tratado de Versalhes e da SDN a Namíbia passou sob sistema de mandatos, sob administração da Inglaterra. Em suma, muitas das resistências africanas contra a presença colonial fracassaram devido: – A superioridade bélica, logística e militar dos europeus em relação aos africanos; – Falta de unidade entre os africanos; – Alianças efectuadas por alguns chefes africanos ao colonialismo na luta pela sobrevivência e pela sucessão ao poder político. Teorias sobre a partilha de África Existem quatro teorias que explicam as razões da partilha e colonização da África a destacar: Teoria económica, teoria Psicológica, Teoria diplomática ou política e teoria de dimensão africana. Teoria económica Remonta desde 1900 e foi defendida inicialmente pelos sociais-democratas alemães. A Rosa Luxemburgo defende que o imperialismo é que está na base da partilha de África como o último estágio do capitalismo. John Hubson (858-1940), defende que a ocupação de África deveu-se aos excedentes de capitais, pois que os europeus pretendiam áreas para investir. Deveu-se no entanto da superprodução e do sob consumo o que levou a procura de novos mercados para venderem os seus produtos industriais. Vladimir Lenine sustenta que a partilha de África deveu-se a passagem do capitalismo da livre concorrência para o https://escola.mmo.co.mz/historia/teorias-sobre-a-partilha-de-africa/ Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 17 capitalismo monopolista, pois a característica principal do imperialismo é a partilha do mundo. O capitalismo monopolista exporta capitais para investir a fim de obter os melhores lucros possíveis. Teoria psicológica Esta teoria é diferenciada por três principais correntes a destacar: Darwinismo Social, Cristianismo Evangélico e o Atavismo Social. Darwinismo Social: defende que a ocupação de África consistiu na transposição da teoria de Charles Darwin para a população. Ela defendia que na luta pela sobrevivência o mais forte domina o mais fraco e assim sendo, os europeus por se acharem superiores em relação aos africanos e que estavam em crise, acabaram dominando os mais fracos (africanos). Cristianismo Evangélico: defende que a partilha de África consistiu num impulso humanitário de missionários de resgatar os africanos mergulhados na escuridão, a fim de lhes salvar dos pecados. Segundo esta teoria, era a segunda intervenção de Deus depois da escolha dos Judeus para salvar a humanidade. Atavismo Social: defende que a ocupação de África era a consequência da materialização do impulso de dominar por dominar ou de os estados mais fortes dominar os mais fracos. Teoria diplomática Esta teoria também é diferenciada por três correntes principais destacar: prestígio Nacional, equilíbrio de forças e estratégia global. Prestígio Nacional: foi defendida por Carlton Hayes, que segundo ele a partilha de África deveu-se a necessidade que cada potência tinha de manter e mostrar o seu orgulho nacional. Vemos por exemplo quando a França perdeu as suas ricas províncias de Alsácia e Lorena na guerra franco-prussiana teve que dominar os territórios ultramarinos, exemplo seguido pela Inglaterra. Porém para Carlton a partilha de Africa deveu-se ao orgulho Nacional. Equilíbrio de forças: foi defendida por Friedrich Hinsley que segundo ele, devido a existência de blocos militares que se temiam mutuamente, resolveram partilhar a África e manter a paz e tranquilidade na Europa. Estes blocos lutavam pela anexação de alguns territórios dentro da europa, o que deu origem ao nacionalismo europeu e como tal a única saída para resolver estes conflitos era a partilha de África. Estratégia Global: defendida por Ronaldo Robnson e John Gsllegher, segundo os quais a ocupação de África deveu-se sobretudo em questões estratégicas, visto que a África constituía uma um ponto estratégico pelo qual podia se tomar o então o centro do mundo que nessa altura era o médio oriente, concretamente na Índia. Esta corrente defende ainda que a África não possuía recursos que lhe levassem a sofrer colonização, mas sim constituía o ponto estratégico. Assim, a ocupação ocorreu quando os africanos resistiram, perante estes projectos. Teoria de dimensão africana: defende que a partilha de África tem a sua origem na passagem do comércio ilegal para o comércio legal ou legítimo, ou melhor no período da abolição do comércio de escravos. Em algumas sociedades ou regiões esta transição foi turbulenta que levou a desagregação de alguns estados, pois esta actividade então abolida constituía a base para fortificar o poder de alguns chefes e dos estados. A abolição fez com que alguns estados entrassem em conflitos ou em guerras contra os seus vizinhos, na tentativa de manter o seu rendimento. Estes conflitos provocaram uma instabilidade que logo foi Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 18 aproveitada pelos europeus, conseguindo dominar a África. Estas lutas frequentes provocaram uma fragilidade de defesa. Assim a ocupação de áfrica deveu-se a dois factores: Externos dentre os quais a procura de matérias-primas, mercados, mão-de-obra barata e internos dentre os quais os conflitos e rivalidades. Os defensores da dimensão africana são: George Hardy, A.George Hopkins, Carlton Hayes, J.S. Kelve O Movimento de Libertação Nacional em África (M.L.N) A partir da 2ª Guerra Mundial, os africanos começaram a ter ideias mais precisas sobre como pôr fim ao colonialismo. Começou-se a compreender que a exploração colonial não era apenas de uma Tribo ou região, mas sim de todo o povo. Nacionalismo: são ideias com um carácter nacional e não tribal ou regional. Ou por outra, foi um movimento caracterizado pela união dos povos que tinham em vista lutar contra o sistema de dominação colonial em África. Causas do nacionalismo – O abalo da 2ª Guerra Mundial e as suas consequências, incentivou o surgimento do Nacionalismo, uma vez que milhares de africanos participaram na Guerra ao lado dos seus colonizadores lutando contra outras potências e ao regressarem aos seus respectivos países juntaram-se a um movimento de pretexto político contra o domínio colonial. A Segunda Guerra Mundial transformou-se numa guerra anti-racista e anticolonial. – A política dos E.U.A, imposta no fim da 1ª Guerra Mundial, pelo presidente Wilson, o chamado sistema de mandatos das Sociedades das Nações aos territórios das potências vencidas na 1ª Guerra Mundial. Esta foi a concepção tida pelos EUA de que todas as colónias e terras de domínio dos países derrotados na 1ª Guerra mundial deviam estar sob domínio das potências vencedoras até que estas colónias e terras estivessem suficientemente desenvolvidas para se governarem por si próprias. – A revolução Socialista de Outubro de 1917, contribuiu na difusão de ideias sobre a igualdade, a liberdade e o direito de auto-determinação dos povos, o que incentivou os povos colonizados a lutar pela sua libertação e auto-determinação. – O papel da ONU. A ONU criada em São Francisco em 1945, que defende e o direito de todos os povos à liberdade, o direito a auto-determinação dos povos. Destacou-se o princípio de igualdade e o direito de dispor de si mesmo. – A emancipação asiática e as independências na África do norte imprimiu aideia de união dos povos da Ásia e da África para a liquidação definitiva do colonialismo nos dois continentes. – Uma das outras causas foi as contradições internas do colonialismo. Forças motrizes do nacionalismo africano. – A acção dos intelectuais, – Os sindicatos, – O movimento dos estudantes, Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 19 – A acção das igrejas, – As greves. A conferência de Brazaville Depois da 2ª Guerra Mundial, a França começou a delinear uma série de estratégias de reformas nas suas colónias que visavam abafar as vozes africanas que reclamavam as suas independências. O 1º passo foi a conferência africana francesa de Brazaville em 1944, onde participaram os governadores da África Negra e os altos funcionários da administração francesa. De salientar que nesta conferência nenhum africano participou. Tratava-se de um encontro de carácter unilateral para a auscultação de ideias sobre o futuro das colónias francesas após a 2ª Guerra Mundial. Decisões da Conferência 1. Suprimiu-se progressivamente o regime de indigenato, 2. foi reconhecida a integração dos territórios africanos numa comunidade francesa, 3. introduziu-se a descentralização administrativa, 4. preconizou-se a criação de assembleias representativas compostas por partes de europeus e em parte de indígenas. Estas assembleias detinham o controlo sobre as finanças das colónias. Estas reformas vão despertar a consciência de vários partidos nacionalistas africanos. O partidos que surgiu depois da conferência africana de Brazaville, foi designada nas colónias por recimbrement democratique africain. A conferência de Bandung A conferência de Bandung realizada em 1955, na Indonésia pelos países que não aceitavam a divisão do mundo entre os Estados Unidos e a União Soviética. A partir dessa conferência da qual só participaram nações africanas e asiáticas como a China, Índia, Egipto, Indonésia e outras recém independentes, o processo de descolonização ganhou nova força. Nesta conferência, os países participantes, unidos por interesses comuns, assumiram uma posição política de neutralidade em relação às grandes potências, notadamente Estados Unidos e União Soviética. Definiam-se assim como pertecentes ao terceiro mundo, em oposição à divisão em Primeiro Mundo (Capitalista) e Segundo Mundo (Socialista). Defenderam a tese do desarmamento, a participação de todos os países nas questões internacionais, o direito à vida e á liberdade, a união entre eles como fundamental na luta contra o colonialismo. Condenaram toda a forma de racismo e afirmaram a igualdade entre as raças. Os Estados Mwenemutapa Falar Mwenemutapa ou Muenemutapa é falar da mesma coisa. Que a grafia não confunda a mente dos leitores. Por volta de 1450, o Grande Zimbabwe foi abandonado pela maior parte dos seus habitantes. O Estado de Muenemutapa é formado a partir de um movimento migratório do Grande Zimbabwe, dos povos Caranga-Chona, para a região do vale do Zambeze, na sequência da https://escola.mmo.co.mz/historia/os-estados-mwenemutapa-muenemutapa/ Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 20 invasão e da conquista por exércitos dirigidos por Nhatsimba Mutota, ocorrida por volta de 1440-1450. Desenvolveu-se entre, os rios Mazoe e Luia, o centro de um novo Estado chefiado pela dinastia dos Muenemutapa, que dominou e subordinou a população pré- existente. A capital do império era Dande. O grosso dos efectivos do grupo invasor deu origem no vale do Zambeze a uma etnia denominada pelos povos locais por Macorecore. Constituíram excepção da subordinação os Tonga, matrilineares porque não falavam a língua Chona. Limites do Estado Muenemutapa Norte – rio Zambeze; Sul – Rio Limpopo; Este – Oceano Índico; Oeste – deserto de Kalahari. O núcleo central que a dinastia governava directamente entre, os rios Mazoe e Luia, era circundado por uma cintura de Estados Vassalos cujas classes dominantes constituídas por parentes dos Muenemutapas e opor estes a rebelar-se quando o poder central enfraquecia. Entre os Estados vassalos do Estado de Muenemutapa encontravam-se Sedanda, Quissanga, Quiteve, Manica, Bárrué e Maungwe. Os seus chefes pagavam tributo ao Muenemutapa reinante e eram confirmados por este quando subiam ao poder. Os Muenemutapas dominaram a sul do Zambeze até finais do século XVII, perdendo depois a sua posição em favor da dinastia dos Changamires, cujo papel no levante armado contra a penetração mercantil portuguesa. Nos seus traços mais gerais, a sociedade Chona caracterizava-se pela coabitação no seu seio de dois níveis sócio-económicos distintos: de um lado a comunidade aldeã, designada por Musha ou Incube, relativamente autárcica e estruturada pelas relações de parentesco; do outro lado a aristocracia dominante (que se confundia com a família que reinava e esta com o Estado), que controlava o comércio a longa distância e dirigindo a vida das comunidades. A comunidade aldeã A actividade produtiva essencial das comunidades aldeãs Chona baseava-se na agricultura. Os principais cereais cultivados eram aMapira, a mexoeira, o naxemim e o milho. Ao longo dos rios e sobretudo na zona costeira e solos aluvionares, cultivava-se oarroz, usualmente para venda. O nível das forças produtivas ainda era baixo. Nos trabalhos agrícolas utilizavam a enxada de cabo curto e a agricultura praticava-se sobre queimadas. A pecuária, a pesca, a caça, bem como o artesanato surgiram como apêndices complementares da agricultura, submetendo-se aos imperativos do ciclo agrícola. O trabalho nas minas aparecia como imposição do exterior (da aristocracia dominante ou de comerciantes estrangeiros), não fazendo parte integrante da actividade produtiva normal. Com o decorrer do tempo, a penetração árabe-persa e portuguesa trouxe novas necessidades (bens de prestígio), as quais voluntária ou coercivamente levavam a população das comunidades a praticar a mineração do ouro em escala considerável. O ouro localizava-se nas regiões como: Chidima, Dande, Butua e Manica Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 21 As Mushas que integravam no geral uma família no sentido lato ou um grupo de famílias com o mesmo antepassado, o muri, viviam num regime de auto-subsistência e estavam fundamentalmente orientadas para a produção de valores de uso. Todas as relações entre os membros da sociedade Chona, ao nível das Mushas, eram fundadas no parentesco. Acima das Mushas, como entidade superior erguia-se a aristocracia dominante. Aristocracia dominante Na sociedade Chona, o Estado era personificado na pessoa do soberano, o Mambo, que devia desligar-se da sua origem terrena para conferir à realeza, um carácter sagrado. Tornava-se assim o representante supremo de todas as comunidades, o símbolo da unidade de interesses dessas comunidades. Para quebrar todas as ligações com a sua linhagem, e se tornar representante de toda a sociedade, indiferente às rivalidades familiares, o Mambo cometia no momento da sua entronização, o incesto com uma parente próxima, infringindo desse modo o mais absoluto interdito. Daí que a principal mulher do Monomotapa era a sua própria irmã. A autoridade efectiva do Mambo processava-se através dos seus subordinados territoriais que integravam um complexo aparelho de Estado. Esquematicamente a estrutura político administrativa pode ser representada da seguinte maneira: 1. Mambo: chefe supremo. 2. Mazarira, Inhahanca e Nambuiza: três principais esposas do soberano com importantes funções na administração. 3. Nove altos funcionários: responsáveis pela defesa, comércio, cerimónias mágico- religiosas, relações exteriores, festas, etc. 4. Fumos ou Encosses: chefes provinciais 5. Mukuru ou Mwenemusha: chefes das comunidades aldeãs ou das Mushas. 6. As Mushas O mambopossuía alguns funcionários subalternos: Mutumes (mensageiros) e os Infices (guarda pessoal do soberano – Mambo). Há que notar aqui que elegia-se Fumo a quem tivesse maior riqueza material. Depois que ficara pobre, a comunidade destituía-o através de uma cerimónia pela qual lhe eram atribuídos certos símbolos de prestígio (um bordão e um chapéu de palha). O fumo deposto passava a pertencer ao grupo dos “grandes” por mérito. Salientar que semelhante controlo não operava ao nível dos Mambos, geralmente oriundos da aristocracia invasora descendente de Mutota, na qual a transmissão do poder se fazia por via hereditária. Articulação entre a aristocracia dominante e as comunidades Mushas A articulação entre a aristocracia dominante e as comunidades aldeãs encerrava relações de dominação/subordinação e exploração do homem pelo homem, materializadas pelas obrigações e direitos que cada uma das partes tinha para com a outra. As comunidades aldeãs (Mushas) sob direcção dos Mwenemushas, garantiam com o seu trabalho a manutenção e reprodução da aristocracia dominante e esta concorria para o equilíbrio e reprodução social de toda a sociedade Shona com o desenvolvimento de inúmeras actividades não directamente produtivas. Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 22 Obrigações das Mushas – Prestar 7 dias de trabalho mensais nas machambas do Mambo; – Construção de casas para os membros da classe dominante (ZUNDE); – Mineração do ouro para alimentar o comércio a longa distância que garantia a importação de produtos para a sociedade Shona, os quais ascendiam a categoria de bens de prestígio (missangas, tecidos, louça, porcelana, vidros, etc). – Pagamento de imposto em primícias das colheitas (tributo simbólico) e uma parte da produção agrícola (regular); – Entrega de marfim, peles de animais e penas de algumas aves; – Entrega de materiais de construção de residências da Classe dominante, como pedras, estaca, palha, etc. Obrigações da Classe dominante – Orientar as cerimónias da invocação da Chuva; – Pedir aos Muzimos reais (espíritos dos antepassados reais) a fertilidade do solo, o sucesso das colheitas; – Garantir a segurança das pessoas e dos seus bens; – Assegurar a estabilidade política e militar no território; – Servir de intermediário fiel entre os vivos e s mortos; – Orientar as cerimónias mágico-religiosas contra as cheias, epidemias e outras calamidades. Os mambos eram garantes da fecundidade da terra e depositários da ordem do território e constituíam os antídotos mais eficazes contra o caos. A sua morte significava a perda da estabilidade. Quando morria um Mwenemutapa e até a eleição do novo mambo, o poder era exercido por um personagem que usava o nome de Nevinga. Sem ser portador de qualquer atributo régio, era morto logo após a eleição de um mambo de direito. A eleição do verdadeiro mambo, constituía motivo de festa porque se acreditava ter a ordem sido reposta com o importantíssimo papel de mambo vivo, que tamanha admiração e entusiasmo causa aos seus crédulos adoradores. Papel das crenças mágico-religiosas ou aparato ideológico dos Mwenemutapa As crenças mágico-religiosas sempre jogaram um papel muito importante para a manutenção do poder e da coesão social. Praticavam cultos dedicados aos espíritos dos antepassados. Existiam alguns termos que serviam para designar Deus: Mulungu, utilizado nas terras marítimas, ao longo do vale do Zambeze e a nordeste do planalto zimbabueano e Mwari a sul do planalto. Entre os Muzimu mais temidos eram os dos reis. Esta prática regular as classes dominantes do estado dos Muenemutapas e dos estados satélites contactarem regularmente com os seus Muzimu através de especialistas médiuns designados por Pondoros ou Mondoros (leões). O Muenemutapa Matope, o segundo da dinastia declarou que o seu espírito era imortal, esse metamorfoseava num Leão, pelo que matar um Leão era considerado um crime imperdoável. Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 23 Os médiuns (Swikiros) estavam estreitamente associados ao poder político e especialmente às sucessões. Deviam conhecer profundamente a História genealógica e na sua maioria eram estrangeiros, para assegurar imparcialidade em caso de arbitragem nos conflitos sucessórios. Os Swikiros constituíam os suportes das classes dominantes e estas as executoras das ordens dos antepassados, mortos em vida e vivos na morte. Todo esse aparato ideológico contribuía para assegurar a reprodução social Chona e das desigualdades sociais existentes. Porém, o poder dos Muenemutapas e dos mambos em geral, não advinha apenas das rendas e dos tributos que recebiam regularmente. O comércio a longa distância (ouro) era a outra fonte do poder dos mambos. A fixação portuguesa fez-se inicialmente no litoral, com a fundação da feitoria de Sofala em 1505 e na ilha de Moçambique em 1507. Esperavam através de Sofala, controlar as vias de escoamento do ouro e do marfim em pequena escala do interior. Muito antes da chegada dos mercadores portugueses em Moçambique, os Swahili-Árabes se encontravam na região, controlando o ouro vindo do império de Muenemutapa através do rio Zambeze até aos portos de Quelimane e Angoche. A partir de 1530, os portugueses penetraram no vale do Zambeze fundando as feitorias de Sena e Tete em 1530 e a do Quelimane em 1544. Trata-se agora de não controlar as vias de escoamento do ouro, mas sim do próprio acesso as zonas produtoras do ouro, entrando em contradição com os Swahili- Árabes. Na sua penetração, os portugueses utilizaram a religião cristã católica, organizando assim em 1561 uma expedição missionária a corte do Mwenemutapa reinante chefiada pelo padre Jesuíta Gonçalo da Silveira com o objectivo de converter a classe dominante à religião católica tendo conseguido baptizar o Mwenemutapa e a sua família com o nome de D. Sebastião. Para os portugueses ter o Muenemutapa e a sua família baptizados serviria de trampolim para a concretização dos seus planos: – Marginalizar os mercadores asiáticos; – Influenciar as decisões políticas do imperador em seu benefício; – Monopolizar o comércio do ouro; – Promover manobras no sentido de se alargar o período que os camponeses dedicavam á produção de valores de troca (ouro) em detrimento da produção de valores de uso e consumo (agricultura). O padre Gonçalo da Silveira é acusado de feiticeiro e é morto e como retaliação aos acontecimentos de 1561, os portugueses enviam uma expedição militar chefiada por Francisco Barreto em 1571 com o objectivo de conquistar as zonas produtoras do ouro e punir o imperador reinante. Devido a grande coesão no seio da classe dominante e as doenças tropicais explicam em grande medida a derrota que sofreram. A primeira década do século XVII, marcou o início de uma nova era no estado dos Muenemutapas. A classe dominante encontrava-se envolvida em profundas contradições e lutas intra e interdinásticas. Gatsi-Lucere, imperador sentindo-se militarmente impotente para debelar a revolta comandada por Mathuzianye, viu-se obrigado a solicitar o apoio militar português. Como recompensa, o Muenemutapa reinante prometeu em 1607 a concessão aos portugueses de todas minas do estado. Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 24 Com a morte de Lucere, em 1627, o imperador Capranzina que representava uma facção oposta aos interesses mercantis portugueses foi deposto e substituído por seu Tio Mavura. Os portugueses baptizaram Mavura pelo nome de Filipe. O processo do comprometimento do novo imperador culminou com a assinatura no mesmo ano (1629) do tratado, designado por tratado de Mavura que transformou o império num estado vassalo de Portugal. Por este tratado, a aristocracia de Muenemutapa ficou obrigada a: – Permitir a livre circulação de homens e mercadoriasisentas de qualquer tributo; – A obrigatoriedade de o Muenemutapa consultar o capitão português antes de tomar qualquer decisão importante; – Não exigir aos funcionários e mercadores portugueses a observância das regras protocolares quando recebidos por autoridades e altos dignatários da corte (descalçar os sapatos, tirar o chapéu, bater palmas, ajoelhar, etc); – Não obrigar os mercadores portugueses a pagarem impostos inerentes a sua actividade; – Aceitar uma força constituída por 50 soldados portugueses na corte; – Expulsar os mercadores asiáticos do império; – Permitir a construção de igrejas no território. O imperador com o tratado de vassalagem deixou de representar e executar a vontade dos antepassados para agir como um simples intermediário entre os interesses do capital mercantil português e as comunidades aldeãs. Os camponeses das muchas eram obrigados a trabalharem mais tempo na mineração do ouro em prejuízo da agricultura. A fome, as epidemias, a morte de mulheres e crianças nas minas passaram a caracterizar a sociedade Shona. O fim da presença portuguesa no império de Muenemutapa deu-se em 1693 quando Changamire Dombo, chefe de Bútua levou a cabo a uma expedição militar contra os portugueses, tendo em dois anos expulsado os portugueses e obrigando-os a atravessar o rio Zambeze e se fixarem na margem esquerda, marcando assim o fim da fase do ouro e início da fase de marfim. Causas da decadência do império de Muenemutapa – Fixação dos mercadores portugueses na costa; – Lutas pela sucessão; – Falta de um exército permanente; – A interferência dos estrangeiros, sobretudo dos portugueses nos assuntos internos do estado; – Invasão dos Ngunis; – Alianças dos sucessores dos Muenemutapa reinante aos portugueses. Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 25 Os Prazos da Coroa do Vale do Zambeze Foi na segunda metade do século XVI que os portugueses estabeleceram no Vale do Zambeze uma nova instituição – os prazos da coroa. Prazos: eram unidades políticas onde a classe dominante era formada por mercadores portugueses estabelecidos como proprietários de Terras, terras essas que tinham sido doadas, compradas e até mesmo conquistadas aos chefes locais. Ou por outra, eram territórios concedidos por um período de três gerações aos mercadores portugueses e indianos. A transferência era feita por via feminina. Os prazos da coroa foram inicialmente quer terras conquistadas por aventureiros, soldados e mercadores de missanga, à testa de exércitos de cativos, quer terras que chefes locais lhes cederam em troca de saguates ou de ajuda militar contra chefes rivais. Pode-se sustentar que os prazos nasceram com a penetração portuguesa no vale a partir de 1530. Portugal ao criar os prazos pretendia criar bases para uma ocupação efectiva de Moçambique garantindo a montagem da administração colonial. Na realidade, no que respeita aos objectivos políticos, os Prazeiros passaram a gozar de uma independência quase total, não se subordinando à Coroa Portuguesa; não promoveram a ocupação efectiva do território á favor da Coroa; e no que se refere aos objectivos ideológicos não espalharam a civilização portuguesa e a cristianização, pelo contrário africanizaram-se, não podendo cumprir com os objectivos políticos e ideológicos para que foram criados. Porém, os prazos que muitos historiadores pretendiam ver como a primeira forma de colonização portuguesa em Moçambique e particularmente no vale do Zambeze, acabaram sendo essencialmente bolsas de escoamento de mercadorias (ouro, marfim numa primeira fase e de escravos numa segunda fase) que aproveitaram o rio Zambeze como via natural. Todavia, os prazos foram o resultado do cruzamento de dois sistemas sociais de produção: um pré-existente na sociedade Chona, com dois níveis o dos camponeses das mushas vivendo num regime de relativa autarcia e o da aristocracia dominante formada pelos mambos e fumos e outro sistema que se sobrepôs ao primeiro composto pelos prazeiros (mercadores, ex-soldados desertados, fugitivos que cumpriam penas de degredo), elite dominante e por exércitos de cativos guerreiros, os chamados A-chicunda. Por outras palavras, os prazeiros mantiveram o sistema social anterior. Actividade Económica O ouro e do marfim configurou a base da economia dos Prazos da coroa até finais do século XVIII e dos escravos mais tarde. Os camponeses das Mushas tinham a seu cargo a produção material de subsistências canalizadas parcialmente para a aristocracia prazeira através da relação de produção expressa no mussoco, uma renda em géneros. Porém, milhares de cativos alimentados pelos camponeses garantiam a segurança militar dos Prazos e o livre escoamento dos produtos excedentários dos camponeses. A esses cativos eram conhecidos por A- chicundas. Os A-chicundas garantiam a defesa dos Prazos, organizavam as operações de caça aos escravos nos territórios vizinhos e cobravam impostos e estavam divididos em regimentos chamados Butacas, (herança). Havia dentro dos Prazos um grupo de mercadores negros especializados designados Mussambazes. Havia ainda uma espécie de inspectores que residiam junto dos Mambos e Fumos que davam informação regular aos prazeiros, conhecidos por Chuangas. Há que referir a um grupo de cativas organizadas em colectivos de trabalho designados por Ensacas, cujas chefes destas ensacas conhecidas por Niacodas. https://escola.mmo.co.mz/historia/os-prazos-da-coroa-do-vale-do-zambeze/ Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 26 Na sua maioria, prazeiro era um indivíduo de origem portuguesa ou indiana a quem a coroa portuguesa atribuía no sentido de regulamento extensas áreas por um período de 3 gerações, herdadas por via feminina. Ao surgirem os prazos, a coroa portuguesa pretendeu nacionalizá-los, outorgando-lhes um estatuto legal e atribuindo aos prazeiros a obrigação de pagarem foros. Com isto pretende-se afirmar que Portugal pretendeu dar aos prazos do vale do Zambeze, o estatuto de feudos portugueses e a natureza da estrutura feudal que dominava a sua sociedade, actuando numa espécie de senhor feudal na colónia. Existiam três modalidades de aquisição de terras que deram origem aos prazos a designar: Terras compradas aos chefes africanos pelos mercadores; terras conquistadas aos chefes por exércitos dos mercadores ricos e terras doadas pelos chefes africanos. A estrutura política e administrativa dos prazos obedecia a seguinte hierarquia: Senhor Prazeiro, Mambos, Fumos e A-chicundas. O aparato ideológico dos prazos de coroa do vale do Zambeze O aparato ideológico nativo foi quase integralmente aproveitado pelos prazeiros. A utilização do Muári (uma beberagem tóxica que se acreditava poder mostrar a culpabilidade de alguém num determinado delito ou numa acusação de feitiçaria). Praticavam cultos aos espíritos antepassados para a evocação da chuva e garantiam a reprodução das relações de produção vigentes. A morte de um prazeiro gerava a criação ritual de uma situação de caos generalizado. A esses rituais do caos se chamavam Choriros. Esses rituais funcionavam como uma espécie de válvulas de escape para as tensões sociais de perigo para o statu quo. Razões da decadência dos Prazos – O desenvolvimento do tráfico de escravos que chegou a obrigar alguns prazeiros a sacrificar os camponeses residentes no seu território e os A-chicundas, seu exército; – As invasões Nguni resultantes do movimento Mfecane. O Estado de Gaza O Estado de Gaza, também conhecido como império de Gaza, abrangia no seu apogeu toda a área costeira entre-os-rios Zambeze e Maputo e tinha a sua capital em Manjacaze na actual província Moçambicana de Gaza. Foi fundado por Sochangane, também conhecido por Manicusse (1821-1858) como resultado do M´fecane. Havia um grande número de chefaturas e de reinoscom agregados populacionais entre três e vinte mil habitantes e cujos chefes tinham um nível de vida superior ao da população, devido aos tributos que dela recebiam. Uma grande parte da África Austral, conheceu uma estrutura política semelhante. Esta situação modificou-se como resultado de um período de lutas e de transformações políticas conhecidas por M’Fecane que tiveram lugar numa região a que veio a ser conhecida por Zululândia. Importa referir que este período de lutas e de transformações políticas foi seguido de um extenso movimento de emigrantes Ngunis. Estas migrações que ocorreram por volta da segunda metade do século XVIII, tiveram como causas: https://escola.mmo.co.mz/historia/o-estado-de-gaza/ Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 27 – O crescimento da actividade comercial com a baia de Maputo (os Ngunis exportavam marfim e importavam missangas e outras especiarias), provocando conflitos inter-linhagens para o controlo das rotas comerciais ao longo do litoral e para o interior. – Nos finais do século XVIII e princípios do século XIX, os conflitos foram agudizados por uma crise ecológica, pois que seguiram-se sucessivos anos de seca e fome. Esta crise teria feito oscilar a estabilidade agropecuária anterior, intensificando os conflitos inter-linhagens para o controlo dos recursos económicos mais favoráveis para a agricultura e para a pastorícia. Durante as lutas, o número dos reinos tendia a diminuir e entre 1810-1815, tinha-se destacado dois principais reinos: o reino de Nduandue, chefiado por Zuide e o reino de Mtetua chefiado por Dingsuayo. Os outros ou tinham desaparecido ou se tinham tornado vassalos destes dois principais reinos. O exército destes reinos era formado por jovens da mesma idade recrutados dos reinos vassalos. As promoções destes jovens dependiam do desempenho de cada um ou do prestígio da sua família. Entre 1816-1821, estes dois reinos entraram em conflitos culminando com a derrota e morte de Dingsuayo, rei de Mtetua. Com a morte do rei Dingsuayo um dos seus chefes militares Shaca tomou o poder entre 1818-1828, sendo este da linhagem Zulu e ficando o reino conhecido por Zulu. Após um novo confronto sob tutela de Shaca, o reino Mtetua alcançou a victória. Assim, uma parte dos Nduandue submeteu-se ao vencedor e outra entre 1820-1821 refugiou-se em terras fora do alcance imediato de Shaca. Entre os emigrantes encontravam-se Zuangedaba, Ngaba Msane, Nguana Maseko e o Sochangane. Este último é que veio a se fixar na região onde se formou o estado de Gaza. O Sochangane fundador, se tornou o primeiro rei de Gaza entre 1821-1858. Ele conseguiu efectuar várias conquistas através de uma política de assimilação dos povos locais. O poder do Estado de Gaza aumentou na medida que aumentavam os súbditos. O rei de Gaza vendia marfim que recebia como tributo e pronunciou-se contra a exportação clandestina de escravos. O espaço geográfico ocupado pelo Estado de Gaza correspondia as actuais províncias moçambicanas de Gaza, Inhambane, Maputo, Manica e Sofala, habitado por vários grupos étnicos como os Tsongas, Chopis, Bitongas, Ndaus, Shonas e a população mista goesa- portuguesa, resultante dos prazos. Depois da morte de Sochangane, subiu ao trono, o seu filho Maueue. Este novo rei no sentido de aumentar o seu património, resolveu atacar os seus irmãos, hostilizou os seus vassalos e alguns povos vizinhos, criando um grande número de inimigos internos e externos, pois atacava os caçadores de elefantes que vinham de Lourenço Marques. Em 1861, uma coligação formada por descontentes da aristocracia Nguni e por algumas populações do vale do Inkomati e por alguns comerciantes de Marfim, interessados na caça ao elefante decidem apoiar Mzila, irmão mais velho de Maueue. Depois de um longo período de guerras que se prolongou até 1864, Mzila sai vitorioso. Em 1862, a capital de Gaza é transferida para Mossurize, ao norte do rio Save, nas vertentes orientais de Chimanimani, onde Ngungunhana filho de Mzila ascendeu ao poder, já em 1884. A mudança da capital para Mossurize, deve-se a instabilidade da região entre a Baia de lagoa Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 28 e Swazilândia por causa da fome e uma forte epidemia de varíola como consequência da guerra civil. Novamente a capital de Gaza é transferida para Mandlakazi (grande força), actual Manjakaze em 1889. Uma das razões da mudança da capital teria sido de evitar pressões de Manica, pois os portugueses e os ingleses queriam recomeçar a mineração do ouro. Outro factor teria sido o facto de que o vale do Limpopo e as zonas vizinhas possuíam todos os recursos que já começavam a escassear em Mossurize. Este praticava a caça e a pesca. Praticavam a agricultura, cultivando a Mapira, Mexoeira, Milho e a Mandioca, para além da criação do gado bovino. Todos os reis de Gaza fixavam as suas residências em zonas adaptadas a criação de gado Bovino e à Cultura de Milho.já antes da vinda dos Ngunis, as zonas montanhosas de Mossurize eram conhecidas pelo seu gado bovino. Tanto nas sociedades satélites, como no núcleo central Nguni do Estado, existia uma nítida divisão em classes sociais. O núcleo central encontrava-se no topo uma alta aristocracia de elementos da linhagem do rei (descendentes do avô ou do bisavô paterno do rei), depois uma média aristocracia composta por Nguni de menor categoria e ainda uma camada de assimilados, muitos dos quais tinham sido originariamente cativos de guerra. Estes últimos eram designados por cabeças (Tinhloko). As mulheres e raparigas capturadas eram dadas como esposas a Nguni sem que os maridos tivessem de pagar o Lobolo. Porém, a estrutura política de Gaza, era administrada pelo rei, com o auxílio da rainha, conselheiros, família real, governadores provinciais e dos comandantes militares. No Estado de Gaza, o imperador acumulava todos os poderes, dividia o império em capitais que serviam de templos, tribunais, cemitérios, fortalezas, quartéis e escolas de recrutas, dirigidas pelo próprio rei que passava a receber o título de Inkosi. As pessoas imprtantes da capital erm a rainha (Inkosikasi) e o governador (Hossana). O território do Inkosi encontrava-se dividido em provínciasn chefiadas por governadores (Hossana) cujas funções eram: nomear os indunas, resolver os litígios, mobilizar os regimentos, manter a ordem e cobrar o tributo. As províncias por sua vez subdividiam-se em distritos chefiados por Induna, nomeado por Hossana, cuja função era a indicação da área a ser ocupada pela povoação familiar (o Muti), chefiada por Mununusana. O estatuto de cativo não era hereditário, mas as guerras e as acções punitivas constantes, no interior fizeram com que houvesse sempre um bom número de cativos nas unidades domésticas Nguni. Sobre os cativos recaiam muitas tarefas produtivas, como o cultivo dos campos dos aristocratas Nguni, a pastagem do gado, o corte e transporte de lenha. As populações não integradas na estrutura dominante tinham a designação Tonga. O exercício do poder real, entre os Ngunis não estava dissociado do exercício das cerimónias mágico religiosas. Todos os anos o rei chefiava alguns rituais ligados ao ciclo agrário. O mais importante destes rituais celebrava-se em Fevereiro e era determinado pelo aparecimento dos primeiros frutos. Era o Nkwaya (Incuala). O Incuala tinha a função de libertar as tensões sociais e transformava-se em factor de unidade e de prosperidade. Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 29 Factores que constituíram fortaleza, habilidade que fez com este Estado se mantivesse independente foram: – A existência de maior número de habitantes nos finais do século XIX, criando obstáculo para os portugueses; – O centralismo do Estado e o reforço do poder local, pois que esteEstado elegia indivíduos da confiança do rei para administrar os Estados distantes; – A mobilização constante dos súbditos num exército permanente, constituído por indivíduos da mesma idade designados regimentos (Butakas) que aprendiam as tácticas de guerra e os usos e costumes dos Ngunis. Esta aprendizagem ia até aos seus 50 anos. Debilidades do Estado – O Estado de Gaza foi um estado que resultou de uma conquista militar e era contestado com os grupos étnicos submetidos no estado; – A irritação do clã real por causa do intenso favoritismo de Ngungunhana em relação a muitos grupos não Ngunis, que passaram a ocupar cargos importantes o que era contestado. Isto criou um certo descontentamento dos grupos Angunis; – Esclerose da táctica militar, visto que Ngungunhana mantinha-se a carga com o seu exército empenhando a zagaias, enquanto do outro lado, estavam homens armados. Estes foram alguns aspectos que contribuíram para a decadência do Estado de Gaza. O Nacionalismo Moçambicano O nacionalismo moçambicano, como praticamente todo o nacionalismo africano, foi fruto directo do colonialismo europeu. A base mais característica da unidade nacional moçambicana é a experiência comum (em sofrer) do povo durante os últimos cem anos de controle colonial português. Uma das bases fundamentais da crescente exploração que Portugal quis implementar em Moçambique após 1930, era a repreensão político fascista, que impediu o desenvolvimento de organizações anti-coloniais. A luta dos moçambicanos contra a dominação e exploração colonial capitalista nunca esteve apagada. No entanto, ela foi adquirindo formas e dimensões diversas de acordo com as circunstâncias da exploração e preensão colonial. Antes do fim na Segunda Guerra Mundial, exerceu-se uma luta através de jornais e outras publicações como é o caso das pinturas, denunciando os abusos, arbitrariedades, actos injustos e imorais praticados por agentes da autoridade colonial. Caso típico destes jornais foi o Brado e Grémio Africano, liderados pelos irmãos João e José Albasini. Nestes jornais procuravam denunciar aos abusos cometidos pelo colonialismo. Por outro lado, criaram-se em Moçambique associações legais de carácter cultural e recreativo que procuravam divulgar os valores africanos em geral e moçambicanos em particular e fazer valer a personalidade moçambicana. https://escola.mmo.co.mz/historia/o-nacionalismo-mocambicano/ Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 30 Pouco depois da 2ª Guerra Mundial formou-se em Moçambique o Movimento dos Jovens Democratas Moçambicanos (MJDM), cujo objectivo era fazer uma intensa propaganda contra a política clandestina. A liderança deste movimento esteve a cargo de Sobral de Campos (antigo consultor jurídico da Confederação Geral de Trabalho e outros organismos operários portugueses radicados em Moçambique), Sofia Pomba Guerra e Raposo Beirão (Advogado). João Mendes, Ricardo Rangel (fotografo) e Noémia de Sousa (poetisa), faziam também parte do movimento. O MJDM pretendia combater as grandes injustiças sociais de que estavam a ser vítimas os trabalhadores por parte dos patrões e promover a unidade de todos os africanos. Todavia, vigiado pela polícia e limitado pelas divisões raciais impostas ao movimento associativo, o MJDM não podia ter um impacto fora do seu fundador. Em 1948-1949, o regime reprimiu o movimento. O Centro Associativo de Lourenço dos Negros de Marques, as Associações Africanas de Lourenço Marques e de Quelimane e o Núcleo Negrófilo de Manica e Sofala, constituíram parte do aparelho legal através do qual o regime colonial pretendeu enquadrar as aspirações culturais e políticas da pequena burguesia. Igualmente, foi criada a Associação dos naturais Moçambicanos. Em 1949, formou-se em Lourenço Marques, com cerca de 20 membros, o Núcleo dos Estudantes Secundários de Moçambique (NESAM) que funcionava dentro do Centro Associativo dos Negros. Esta organização, pretendeu representar os poucos estudantes que conseguiram matricular-se nas Escolas secundárias da colónia ou que obtiveram a sua formação na África do Sul. O objectivo do Núcleo era fomentar a Unidade e Capacidade intelectual, espiritual e física para melhor servir a sua comunidade e acabar com o colonialismo. A este núcleo pertenceram Joaquim Alberto Chissano, Mariano Matsinhe, Pascoal Adelina Mocumbi, Luís Bernardo Honwana, Armando Emílio Guebuza e Filipe Samuel Magaia. Apesar do espaço limitado de acção e dos seus membros, estas organizações foram gradualmente inculcando os ideais nacionalistas na juventude instruída, contribuindo para valorizar a cultura nacional e oferecendo a ocasião única de estudar Moçambique e de falar por si próprio. Além disso, e mais evidente, no caso da NESAM, foram cimentados contactos e laços pessoais que facilitaram o estabelecimento de uma rede de comunicação à escala nacional, que se mostrou de grande utilidade para a formação do futuro movimento clandestino de apoio à luta independentista. Ainda neste período através da música, da canção, da literatura, das artes plásticas e da imprensa se vão também veiculados valores da cultura moçambicana, denunciando as frustrações e as humilhações sofridas pelos moçambicanos. A difusão de artigos e de poemas nos jornais, possibilitaram a transmissão de mensagens invocando a reafricanização, destacadamente na música de Fany Mpfumo, na poesia de Noémia de Sousa e de José Craverinha, nos escritos de João Dias, Marcelino dos Santos e de Luís Bernardo Honwana, nas obras plásticas de Bertina Lopes, Malangatana Ngwenya e Alberto Chissano. Todavia, em 1960, os moçambicanos de Moeda foram ao administrador colonial pedir o aumento salarial, o que culminou com a prisão de muitos moçambicanos que haviam se pronunciado sobre o acto. Em resposta, o administrador colonial ordenou a prisão dos actores da reivindicação do aumento salarial, o que criou uma ira a população presente. Esta ira levou ao administrador de Moeda a abrir fogo contra os moçambicanos aí presentes, tendo massacrado mais de 600 pessoas, ao que veio a se designar de massacre de Moeda, acto ocorrido a 16 de Junho de 1960. Esta violência de Moeda marcou uma etapa decisiva na tomada de consciência de um verdadeiro sentimento nacional, passando o povo moçambicano a pensar seriamente na independência de Moçambique. Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 31 Este sentimento levou a muitos moçambicanos a residir fora do País, nos países vizinhos e organizam-se criando em 1959 a MANU (União Nacional Africana de Moçambique), fundada no Quenia, liderada por Mateus Mole; a UDENAMO (União Democrática Nacional de Moçambique) em 1960, formada na Antiga Rodésia do Sul, actual Zimbabwe e liderada por Adelino Gwambe e que mais tarde teve que mudar a sua sede para Tanzania devido a perseguições da PIDE e a UNAMI (União Nacional Africana para Moçambique Independente), em 1961, que tinha a sua sede no Malawi, liderada por Baltazar Chagonga. Estes três movimentos lutavam sob um carácter Tribal, razão pela qual não conseguiam vencer o colonialismo. Porém, no período de 1945-1961, a luta anti-colonial foi desenvolvida em várias formas, entre as quais de destacam a resistência contra aspectos da exploração económica colonial, que culminou com a formação de movimentos dentro e fora do país e o seu acompanhamento cultural e intelectual. A repreensão colonial fascista impediu e perseguiu os líderes destes movimentos. Com o lançamento dos ideais de Unidade para os povos africanos por líderes como Francis Kwame Nkrumah, Patrice Lumumba, Julyus Nherere e outros líderes africanos, levam Eduardo Mondlane a unir os três movimentos e funda-se a Frete de Libertação de Moçambique (FRELIMO), em 25 de Junho de 1962, em Dar-Es-Salaam, na república da Tanzania. Porém, a FRELIMO sob liderançade Mondlane, realiza o seu primeiro congresso de 23 à 28 de Setembro de 1962 o seu primeiro congresso, onde definiu a unidade Nacional como arma fundamental da Luta de Libertação Nacional e que a divisão foi sublinhada como a maior causa do fracasso da resistência histórica da luta do povo moçambicano contra a dominação colonial portuguesa. Também decidiu-se neste congresso que deveria se formar quadros/militares para a frente da luta armada. Em seguida iniciou-se o processo de recrutamento e treinamento dos jovens que haveriam de participar na luta contra o colonialismo português, onde muitos deles foram sendo formados em Nachingueya e Kongua na Tanzania, na Argélia, Marrocos, China e na União Soviética, actual Rússia. Sob direcção da FRELIMO e após o insucesso das tentativas de negociações com o governo de Lisboa, iniciava-se a luta armada a 25 de Setembro de 1964, em Chai, na província de Cabo-Delgado, cujo objectivo principal era libertar o Homem e a Terra. O processo desencadeou-se em três frentes designadamente a de Tete, que teve de ser fechada por dificuldade de trânsito de guerrilheiros e de armas através do Malawi e que veio a ser reaberto em Março de 1968; a segunda em Cabo-Delgado e Niassa. .Estas frentes deram origem as chamadas zonas libertadas, passando a Frelimo a controlar um quinto do território moçambicano. Com a morte de Eduardo Chivambo Mondlane, a 03 de Fevereiro de 1969, Samora Moisés Machel assume a direcção da FRELIMO e conduz o processo de Luta Armada já em curso. Em 1970, o governo português leva acabo a operação Nó Górdio, sob comando de Laulza de Arriaga, procurando eliminar este movimento nacionalista. Como resposta, Samora Moisés Machel abre a frente de Sofala e Manica, tornando-se o verdadeiro símbolo do fracasso da política colonial portuguesa em Moçambique. Esta derrota do governo português na operação Nó Górdio provoca um elevado nível de descontentamento do povo português que cansado de perder seus filhos, condiciona para a Adaptado por: Alberto Tembe 841441380/ 873441380 Fonte: MMO, et al. 32 queda do regime português em 25 de Abril de 1974, acelerando o fim do colonialismo português em Moçambique. Contudo, após o sucesso do golpe militar de 25 de Abril de 1974 em Portugal, as novas autoridades portuguesas decidiram encetar negociações com todos os movimentos de libertação das colónias portuguesas. Os líderes da FRELIMO para acelerar o processo das negociações para a independência, abriram outras frentes na Zambézia. Logo quase do fim da luta armada ou mesmo durante as negociações para o cessar-fogo entre o governo colonial português e o da FRELIMO, foram fundadas em Moçambique organizações fantoches que pretendiam ser confundidas como se fossem a FRELIMO e que fossem acreditadas pelo povo, compostas por reaccionários e oportunistas, como foi o caso da FICO, GUMO, MOCOMO, FRECOMO, MIM e outras, tendo valido a atenção do povo em afastar-se destas organizações. Todavia, derrotados os portugueses, em 07 de Setembro de 1974 o governo português chefiado por Melo Antunes e delegações da FRELIMO chefiadas por Samora Moisés Machel, assinaram o acordo de Lusaka, capital da Zâmbia, após 10 anos de guerra, um acordo que tinha como objectivo principal, o cessar-fogo, dando fim a guerra de libertação em Moçambique. No mesmo instante em que se desenrolavam as conversações de Lusaka, um grupo auto- denominado “Moçambique Livre”, em oposição ao acordo, ocupou em Lourenço Marques, ao fim da tarde do dia 07 de Setembro, a estação da Rádio Clube de Moçambique, situação que durou alguns dias. Tratava-se de um movimento desorganizado e de maioria branca, mas que se envolveram moçambicanos negros que tinham militado na FRELIMO, como Urias Simango, Mateus Gwenjere e Joana Simeão, movimento dirigido por Gomes dos santos ex oficial do exército português e Velez Grilo, advogado em Lourenço Marques. Este movimento veio a ser desmantelado definitivamente a 10 de Setembro de 1974. Todavia, a 25 de Setembro de 1974, tomou posse o governo de transição chefiado por Joaquim Alberto Chissano, como primeiro-ministro, composto ainda por: mariano Matsinhe; Gideon Ndombe, José Óscar Monteiro, Salomão Munguambe, Mário Machungo, Rui Baltazar santos Alves pertencentes à FRELIMO e Eugénio Picolo, Rui Paulino e Alcântara Santos, nomeados pelo governo português, onde definiu-se a data da independência. A 25 de Junho de 1975, Moçambique ficava independente, com Samora Moisés Machel como presidente da República Popular de Moçambique. Bom trabalho!