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Linguística - Aula 4

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LINGUÍSTICA I
As noções de língua e fala
“A linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro.”
Para Saussure a distinção entre linguagem, língua e fala é essencial para que se defina o verdadeiro objetivo da linguística: a língua. Por quê?
“Enquanto a linguagem é heterogênea, a língua assim delimitada, é de natureza homogênea, constitui-se num sistema de signos.”
A noção de língua como sistema é considerado, por muitos estudiosos, o mais importante conceito saussuriano.
A língua é o objeto de estudo da Linguística, pois a Linguística como ciência só pode estudar aquilo que é recorrente, constante e sistemático.
“A língua é um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos”
Por que “faculdade da linguagem?”	
Saussure afirma que no conjunto ao qual corresponde a linguagem podemos localizar a língua. No CLG (p.19), ele postula que duas pessoas estão conversando e que no cérebro de cada uma delas há um conjunto de signos linguísticos armazenados. 
Assim, temos um processo psíquico, seguido de um processo fisiológico: “[...] o cérebro transmite aos órgãos da fonação um impulso correlativo da imagem; depois, as ondas sonoras se propagam da boca de A até o ouvido de B: processo puramente físico. Em seguida o processo se prolonga em B numa ordem inversa: do ouvido ao cérebro, transmissão fisiológica da imagem acústica [...]”.
Por apresentar esse aspecto social mencionado, a língua só existe na massa. Esse aspecto social, ao lado da homogeneidade, é o responsável pela manutenção do sistema da língua. 
Você saberia dizer qual a relação entre...
LÍNGUA e a MASSA FALANTE? 
“Trata-se de um tesouro depositado pela prática da fala em todos os indivíduos pertencentes à mesma comunidade, um sistema gramatical que existe virtualmente em cada cérebro ou, mais exatamente, nos cérebros dum conjunto de indivíduos, pois a língua não está completa em nenhum, e só na massa ela existe de modo completo.” (CLG, p. 21)
Saussure compara a língua a um DICIONÁRIO, cujos exemplares tivessem sido distribuídos entre todos os membros de uma sociedade. Esse dicionário, que é a língua, existe no cérebro dos indivíduos como a soma de sinais todos idênticos. Ele é imposto como um código ao qual se deve obrigatoriamente seguir.
Isso significa que a língua é uma instituição social: compartilhamos um sistema linguístico, mas não podemos utilizá-lo da forma como quisermos. Isto fica claro quando tratamos do signo linguístico. 
Como fica a fala?
“A fala é, ao contrário, um ato individual de vontade e de inteligência [...]” (CLG, 22).  Por ser “individual”, Saussure considera que ela é heterogênea. Possui caráter privado: pertence ao indivíduo que a utiliza. 
Pessoas que falam a mesma língua conseguem se comunicar porque, apesar das diferentes falas, há o uso da mesma língua.  A heterogeneidade característica da fala não se presta a um estudo sistemático.
A heterogeneidade característica da fala não significa que as pessoas falem de forma tão diferente a ponto de não conseguirem se comunicar e sim que temos liberdade de escolha entre as estruturas da língua. 
É como se a língua equivalesse a roupas guardadas em gavetas e pudéssemos abri-la e escolher a que quiséssemos usar.
Os fatos da língua e os fatos da fala	
Saussure separa os fatos da língua dos fatos da fala: os fatos da língua dizem respeito à estrutura do sistema linguístico e os fatos da fala dizem respeito ao uso desse sistema.
Apesar de língua e fala serem estudadas separadamente, elas são interdependentes: “A língua é necessária para que a fala seja inteligível e produza todos os seus efeitos; mas esta é necessária para que a língua se estabeleça [...]”. (CLG, p. 27)
É a fala que faz evoluir a língua. Um sistema linguístico que não é mais falado e que não sofre modificações não evolui. Também não conseguimos nos comunicar sem um sistema linguístico.
 “A língua é uma Forma e não uma Substância”. (CLG, p. 141)
O sistema é superior ao indivíduo (supraindividual) e todo elemento linguístico deve ser estudado a partir de suas relações com outros elementos do sistema e de acordo com sua função.
Por que a língua é a forma? “Forma” para Saussure significa “essência”(= sistema e estrutura). A forma é constituída pela teia de relações entre os elementos da língua, enquanto que a substância é constituída pelos elementos dessa teia. 
Observe um exemplo retirado da linguagem coloquial:
a)“As menina é bonita”. Podemos produzir uma sentença como essa, pois ela apresenta alterações na substância, mas não na forma, já que é fundamental para o funcionamento do sistema linguístico.
b) Bonita é menina as. Essa sentença não deveria ser produzida porque apresenta problemas na forma, que é a essência do funcionamento do sistema linguístico.
Em 1929, o linguista romeno Eugênio Coseriu acrescentou o conceito de norma e reformulou a relação estabelecida por Saussure entre língua e fala.
Eugenio Coseriu e a crítica à dicotomia língua/fala
Em 1929, o linguista romeno Eugênio Coseriu acrescenta o conceito de norma e reformula a relação estabelecida por Saussure entre língua e fala. Segundo ele, as variantes linguísticas fazem parte do sistema da língua e, por isso, ele substitui ‘língua’ por ‘sistema’. 
Entre o sistema, abstrato, e a fala, uso concreto, haveria a norma, um nível intermediário, um conjunto de realizações consagradas pelo uso. Coseriu disse: “A norma é o como se diz e não o como se deve dizer”. 
Castelar de Carvalho também afirma que “A norma seria assim um primeiro grau de abstração da fala. Considerando-se a língua (o sistema) um conjunto de possibilidades abstratas, a norma seria então um conjunto de realizações concretas e de caráter coletivo da língua.”
Bibliografia
 
SAUSRURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix.
CARVALHO, Castelar de. Para Compreender Saussure: fundamentos e visão crítica. 9ª ed Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

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