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Gabriela Gomes 1 Priapismo • Ereção total ou parcial, dolorosa ou indolor que continua por mais de 4 horas com ou sem estimulação sexual • Classificações: ➢ Priapismo isquêmico: veno-oclusivo ou baixo fluxo ➢ Priapismo recorrente: ou intermitente ➢ Priapismo não isquêmico: arterial ou de alto fluxo PRIAPISMO ISQUÊMICO • Tipo mais frequente • Geralmente tem início após estimulação sexual ou administração de agentes farmacológicos • Característica clínica: ➢ Ereção persistente dolorosa que não é aliviada mesmo após a ejaculação ou a tentativa de reversão farmacológica • Exame físico: ➢ Rigidez do corpo cavernoso, sem acometimento do corpo esponjoso e da glande ➢ Após 6-8 horas de evolução, o paciente, tipicamente, relata dor causada pela morte celular consequente ao processo de isquemia dos tecidos penianos • Fisiopatologia: ➢ Oclusão do retorno venoso peniano com consequente diminuição ou cessação de fluxo arterial, que leva á hipóxia, hipercarbia e acidose ➢ Após 12 horas: edema intersticial, destruição progressiva do endotélio sinusoidal, exposição da membrana basal e aderência de trombócitos ➢ Após 48 horas: trombos nos espaços sinusoidais, além de necrose da musculatura lisa e substituição do tecido cavernoso por fibroblastos • Causa mais frequente é idiopática • Fatores de risco são as discrasias sanguíneas • Principais agentes causais: ➢ Agentes facilitadores ou indutores da ereção (oral ou intracavernoso) ➢ Drogas ilícitas (principalmente a cocaína) • Priapismo iatrogênico: quando o PI ocorre após o tratamento da disfunção erétil com injeção intracavernosa, inibidores de fosfodiesterase-5 ou outras medicações • Se o tratamento for devidamente instituído, as taxas de preservação da função erétil são de 100% para até 12 horas de evolução, 78% para 12-24 horas, 44% para 24- 36 horas e 0% para evolução maior que 36 horas • Emergência urológica CAUSAS • Antagonistas de receptor α-adrenérgicos: ➢ Prazosina ➢ Terazosina ➢ Doxazosina ➢ Transulosina ➢ Ansiolíticos (Hidroxizina) ➢ Anticoagulantes (heparina; varfarina) • Antidepressivos e Antipsicóticos: ➢ Trazodona ➢ Bupropiona ➢ Fluoxetina ➢ Sertralina ➢ Lítio ➢ Clozapina ➢ Risperidona ➢ Olanzapina ➢ Clorpromazina ➢ Tioridazina ➢ Fenotiazinas • Anti-hipertensivos: ➢ Hidralazina ➢ Guanetidina ➢ Propranolol ➢ Drogas para déficit de atenção e hiperatividade: metilfenidatos (ritalina), atomoxetina (Strattera) • Drogas recreacionais: ➢ Álcool ➢ Cocaína ➢ Crack ➢ Maconha • Condições gerais: ➢ Lesão em espada ➢ Lesão coital ➢ Chute no pênis ou períneo ➢ Cirurgia de by-pass arteriovenosa ou arteriocavernosa ➢ Retenção urinária • Discrasias hematológicas: ➢ Doença falciforme ➢ Talassemia ➢ Leucemia granulocítica ➢ Leucemia mieloide ➢ Leucemia linfocítica ➢ Mieloma múltiplo ➢ Hemoglobina variante Olmsted ➢ Embolia gordurosa associada à hiperalimentação ➢ Hemodiálise Gabriela Gomes 2 ➢ Deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase • Hormonais: ➢ Tumor liberador de gonadotrofinas ➢ Testosterona • Causas infecciosas (mediadas por toxinas): ➢ Picada de escorpião ➢ Mordida de aranha ➢ Raiva ➢ Malária • Condições metabólicas: ➢ Amiloidose ➢ Doença de Fabry ➢ Gota • Causas neoplásicas: ➢ Próstata ➢ Uretra ➢ Testículos ➢ Bexiga ➢ Reto ➢ Pulmão ➢ Rim • Condições neurogênicas: ➢ Sífilis ➢ Lesão da medula espinhal ➢ Compressão de cauda equina ➢ Neuropatia autonômica ➢ Hérnia de disco lombar ➢ Estenose espinhal ➢ Acidente vascular cerebral ➢ Tumor cerebral ➢ Anestesia espinhal • Agentes vasoativas para ereção: ➢ Papaverina ➢ Fentolamina ➢ Prostaglandina E1 ➢ Inibidores da fosfodiesterase tipo 5 ➢ Terapia intracavernosa combinada PRIAPISMO RECORRENTE • Tipo de PI, caracterizado pelo padrão de recorrência, descrito como ereções dolorosas indesejadas e recorrentes em portadores de anemia falciforme • Geralmente se iniciam na adolescência e vão se tornando mais prolongadas e frequentes até culminaram com o desenvolvimento de PI • Fatores que antecipam: ➢ Ereções noturnas ou matinais ➢ Desidratação ➢ Febre ➢ Exposição ao frio • Fator de risco: ➢ Priapismo veno-oclusivo PRIAPISMO NÃO ISQUÊMICO • Tipo menos frequente • Aumento de influxo de sangue arterial no corpo cavernoso de modo diferente do fisiológico, isto é, pela dilatação das artérias cavernosas e helicinais • Fisiopatologia: ➢ Trauma peniano contuso ou penetrante, que promove uma laceração da artéria cavernosa ou de um dos seus ramos (helicinais) culminando com a formação de uma fístula sinusoidal arterial, que enche os corpos cavernosos sem ocorrer uma dilatação arterial fisiológica. O sangue rico em oxigênio que entra no corpo cavernoso por essa via alternativa (fístula) promove uma ereção parcial e não causa isquemia nos tecidos eréteis do pênis • Causa mais comum de fístulas sinusoidais: ➢ Trauma contuso perineal com lesão na região crural do pênis • Outras causas de fístulas sinusoidais: ➢ Traumatismo coital ➢ Chutes no pênis ou períneo ➢ Fraturas pélvicas ➢ Trauma do canal de parto para o recém-nascido masculino ➢ Lacerações por punção ➢ Complicações de doenças penianas • Exame físico: ➢ Ereção geralmente surge após 24 horas de trauma ➢ Tumescência não rígida, persistente e indolor e, às vezes, pulsátil • Não se identifica como uma emergência urológica PRIAPISMO EM CRIANÇAS • Está mais associado aos portadores de anemia falciforme • Possíveis causas de Policitemia, transfusão sanguínea e trauma no canal de parto • A maioria dos casos são tratados de forma conservadora DIAGNÓSTICO • Laboratoriais: ➢ Hemograma e coagulograma a fim de identificar anemia, infecção ou anormalidades hematológicas, além de servirem como exames pré-operatórios para intervenções cirúrgicas, se o tratamento inicial falhar Gabriela Gomes 3 ➢ Caso haja suspeita de anemia falciforme: contagem de reticulócitos e eletroforese de hemoglobina deve ser solicitada DIFERENCIAR PI E PNI • Anamnese dirigida para duração da ereção, presença ou ausência de dor, episódios prévios e método de tratamento utilizado, função erétil prévia, uso de medicações ou dietas para tratamento de disfunção erétil, medicações de uso contínuo ou recente, uso de drogas recreacionais ilícitas e antecedentes patológicos (anemia falciforme, hemoglobinopatias, traumas, manipulação cirúrgica) • Gasometria do sangue aspirado do corpo cavernoso para avaliar pH e os níveis dos gases sanguíneos (pO2 e pCO2): ➢ PI: ▪ pH: < 7,25 ▪ pCO2: > 60 mmHg ▪ pO2: < 30 mmHg ▪ Condizentes com o processo isquêmico e a acidose metabólica instalados ➢ PNI: ▪ pH: em torno de 7,4 ▪ pCO2: < 40 mmHg ▪ pO2: > 90 mmHg ▪ Sangue arterial normal • Durante a aspiração inspecionar a cor e consistência do sangue: ➢ PI: vermelho escuro, característico de sangue pobre em oxigênio ➢ PNI: vermelho rutilante e rico em oxigênio • Ultrassom com doppler colorido do pênis e do períneo, juntamente com a gasometria do aspirado do corpo cavernoso TRATAMENTO EREÇÃO PROLONGADA • Geralmente ocorre após o uso de alprostadil como terapia intracavernosa da disfunção erétil • Tratamento inicial: ➢ Fármacos simpaticomiméticos orais (etilefrina, pseudoefedrina, fenilpropanolamina e terbutalina) com taxas de reversão de 28% a 36%, sendo os melhores resultados obtidos com terbutalina • Caso o tratamento inicial não dê certo: ➢ Injeção de um agente alfa-adrenérgico no corpo cavernoso • Evitar a progressão para um quadro isquêmico completo PRIAPISMO ISQUÊMICO • Agentes orais não são recomendados • Tratamento inicial: ➢ Realizar a descompressão do corpo cavernoso com punção e aspiração, que alivia a dor e a tumescência➢ A punção deve ser realizada na base do pênis às 3 ou 9 horas com scalp calibroso • Caso o tratamento inicial não dê certo: ➢ Injeção ou irrigação de um agente alfa-adrenérgico ➢ Fenilefrina ➢ Etilefrina ➢ Efedrina ➢ Epinefrina ➢ Norepinefrina ➢ Metaraminol • Em caso de anemia falciforme: ➢ Urologista deve solicitar consulta hematológica para auxiliar o manejo clínico especializado de meninos e homens, visando melhores resultados para o paciente • Falha no tratamento clínico: ➢ Manejo cirúrgico o mais precocemente possível, sendo este fundamentado na confecção de uma fístula ou shunt arteriovenoso • Objetivo do tratamento cirúrgico: ➢ Reoxigenar a musculatura lisa do corpo cavernoso • Cirurgia: ➢ Comunicação entre glande, corpo esponjoso, veia dorsal ou veia safena com corpo cavernoso, para que ocorra a drenagem do sangue não oxigenado retido ➢ Técnicas distais são as de escolha para o primeiro tratamento cirúrgico devido à maior facilidade técnica e menor incidência de efeitos colaterais ➢ Verificar após shunt: verificar seu sucesso através da avaliação da evacuação bem-sucedida do trombo, do restabelecimento do fluxo cavernoso e da permeabilidade do shunt ➢ Complicações de derivação: edema peniano, hematoma, infecção, fístula uretral, necrose peniana e embolia pulmonar, além de fechamento precoce do shunt • Caso não resolva: ➢ Completa disfunção erétil ➢ Implante de prótese peniana que pode ser imediata ou tardia Gabriela Gomes 4 • PI muito prolongado e > 48 horas cursa com baixas taxas de sucesso, independentemente do procedimento realizado PRIAPISMO RECORRENTE • Agonistas α-adrenérgicos orais e injetáveis, terbutalina, digoxina, hidroxicarbamida (hidroxiureia), estrógenos, análogos do hormônio de liberação de gonadotrofina (GnRH), antiandrogênios, baclofeno, gabapentina e recentemente inibidores de PDE-5 • Visam diminuir as ereções, principalmente as noturnas PRIAPISMO NÃO ISQUÊMICO • Resolução espontânea pode ocorrer em mais de 60% dos casos • Não há impacto na função erétil • Para aqueles que precisam de tratamento precoce é necessário fazer embolização arterial, que é feita pela cateterização da artéria pudenda interna • Taxas de sucesso variam de 89 a 100% • Função erétil normal é reportado em 75 a 86% dos pacientes • Taxa de recorrência é de 30% • Ligadura cirúrgica da fístula • Para pacientes que não desejam uma terapia expectante ou aqueles que não são candidatos ou que recusam a angioembolização • Para pacientes em locais sem maiores recursos e para aqueles onde a angioembolização não foi efetiva
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