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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO POLO PAULO AFONSO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODERES- DEVERES DO GESTOR PÚBLICO MARIA NATHÁLIA CARDOSO DE ARAUJO PAULO AFONSO/BA 2018 UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO – POLO PAULO AFONSO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL MARIA NATHÁLIA CARDOSO DE ARAUJO PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODERES- DEVERES DO GESTOR PÚBLICO Produção de texto apresentado como requisito parcial de avaliação da disciplina O Público e o Privado na Gestão Pública, sob orientação do prof. Bruno Cezar Silva. PAULO AFONSO/BA 2018 PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODERES- DEVERES DO GESTOR PÚBLICO Por princípios, entende-se os pilares de uma ciência, aquilo que lhe é essencial, constituindo-se em proposições básicas. Os dois princípios fundamentais do Direito Administrativo, que assinalaram a bipolaridade existente entre a liberdade do particular e a autoridade da Administração Pública, são, respectivamente: legalidade e supremacia do interesse público. É importante que todo gestor público, bem como aqueles em formação, conheçam de forma minuciosa estes dois princípios. De acordo com Di Pietro 1(2011, p. 64), “sendo o Direito Administrativo, em suas origens, de elaboração pretoriana e não codificado, os princípios sempre representaram papel relevante nesse ramo do direito, permitindo à Administração e ao Judiciário estabelecer o necessário equilíbrio entre os direitos dos administrados e as prerrogativas da Administração.”. Além dos princípios previstos na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 37, caput, quais sejam: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência, diversos outros princípios regem o Direito Administrativo, a exemplo dos dispostos na Lei nº 9.784/99 (Lei do Processo Administrativo Federal) e Lei nº 8.666/93 (Lei de Licitações e Contratos). Passemos, agora, a analisar alguns deles de forma sucinta: 1. Legalidade De acordo com este princípio, a Administração Pública só pode fazer o que a lei permite ou expressamente autoriza. Segundo Di Pietro (2011, p. 65), “em decorrência disso, a Administração Pública não pode, por simples ato administrativo, conceder direitos de qualquer espécie, criar obrigações ou impor vedações aos administrados; para tanto, ela depende de lei.”. 2. Supremacia do interesse público Trata-se de um princípio bastante presente tanto no momento da elaboração das leis, pelo Poder Legislativo, quanto na aplicação destas, pelo Poder Judiciário e vincula toda 1 PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Direito Administrativo. 24ª ed., São Paulo: Atlas S.A., 2011. a atuação da autoridade administrativa. Significa, em suma, que os interesses públicos têm supremacia sobre os individuais. É o que dá subsídio legal, por exemplo, aos poderes que a Administração tem de desapropriar, intervir, punir, entre outros. Tem-se em vista, nestes casos, atender o interesse geral da população. 3. Impessoalidade De acordo com lição exarada por Di Pietro (2011, p. 68): Exigir impessoalidade da Administração tanto pode significar que esse atributo deve ser observado em relação aos administrados como à própria Administração. No primeiro sentido, o princípio estaria relacionado com a finalidade pública que deve nortear toda a atividade administrativa. [...] No segundo sentido, o princípio significa (...) que ‘os atos e provimentos administrativos são imputáveis não ao funcionário que os pratica, mas ao órgão ou entidade administrativa da Administração Pública’. Tal princípio relaciona-se com o estudado na 2ª etapa desta disciplina, pois, busca diferenciar a figura do agente público do cargo que exerce. 4. Moralidade A moralidade administrativa está insculpida na intenção do agente público, sendo conceito mais subjetivo, pois se relaciona com a honestidade. Tanto, que a ideia de imoralidade administrativa está ligada ao desvio de poder. Importante ressaltar, que há clara distinção entre legalidade e moralidade, pois, uma conduta legal não necessariamente será uma conduta moral. Desta forma, o gestor público precisa ter em mente que seus atos devem observar tanto a lei quanto a moral, para que não haja ofensa a tal princípio, que está previsto em nossa Carta Magna. De acordo com lição explanada por Coelho2 (2012, p. 55), “para que a Administração Pública aja de acordo com esse princípio, é essencial que os servidores, seus agentes, apresentem no seu comportamento as virtudes morais socialmente consideradas necessárias pela sociedade”. 2 COELHO, Ricardo Corrêa. O Público e o Privado na Gestão Pública. 2ª ed. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração/UFSC, 2012. 5. Publicidade De acordo com este princípio, previsto no caput do artigo 37 da Constituição Federal de 1988, a Administração Pública deve dar ampla divulgação a seus atos, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas em lei. No entanto, há que se observar também outros preceitos constitucionais, contidos no artigo 5º, que ora confirmam a publicidade dos atos, ora a restringe. A Lei nº 12.527/11, chamada Lei de Acesso a Informação, veio para regulamentar diversos dispositivos constitucionais relacionados ao princípio da publicidade. 6. Eficiência O princípio da eficiência foi introduzido no caput do artigo 37 da CF/88 através da Emenda Constitucional nº 19/98. Em lição trazida por Hely Lopes Meirelles na obra de Di Pietro (2011, p. 84), tal autor evidencia que “é o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros”. 7. Presunção de legitimidade/veracidade Tal princípio incide sob os atos administrativos, em dois aspectos: a) presunção de que os fatos são verdadeiros; b) presunção de que os atos são/foram praticados com observância das normas legais. 8. Autotutela Este princípio norteia o controle que a Administração tem sobre seus próprios atos, conferindo as possibilidades de anular os ilegais e revogar os inconvenientes e/ou inoportunos, independentemente de recurso ao Poder Judiciário. 9. Continuidade do serviço público Segundo lição de Di Pietro (2011, p. 71), “por esse princípio entende-se que o serviço público, sendo a forma pela qual o Estado desempenha funções essenciais ou necessárias à coletividade, não pode parar”. 10. Motivação De acordo com este princípio, a Administração Pública deve fundamentar todas as suas decisões, tanto em relação aos fatos quanto ao direito. Trata-se de requisito obrigatório de todos os atos administrativos, uma vez que são passíveis de controle de legalidade pelo Poder Judiciário. Visto alguns dos princípios que norteiam o Direito Administrativo e, portanto, os gestores públicos, passemos a analisar os poderes e deveres do Gestor Público. De acordo com COELHO (2012, p. 58), “a todo poder exercido pela Administração Pública corresponde um conjunto de deveres, e essa correspondência não é aleatória, mas logicamente derivada dos seus princípios orientadores que acabamos de examinar”. Segundo Di Pietro (2011, p. 90), “tais poderes são inerentes à Administração Pública pois, sem eles, ela não conseguiria fazer sobrepor-se a vontade da lei à vontade individual, o interesse público ao interesse privado”. O poder hierárquico é aquele que confere ao chefe do Executivo, poder para distribuir competências e funções dentro de seus órgãos. Dele, podemos depreender os seguintespoderes: a) editar atos normativos; b) dar ordens aos subordinados; c) controle dos atos, podendo revogar os inconvenientes e inoportunos e anular os ilegais; d) aplicar sanções em casos de infrações disciplinares; e) avocar atribuições; e f) delegar atribuições. O poder disciplinar, por sua vez, é aquele que confere à Administração Pública legitimidade para apurar infrações e aplicar penalidades, sejam aquelas cometidas por seus servidores ou por terceiros sujeitos à disciplina do órgão administrativo. Não se pode confundir o poder disciplinar com o poder de polícia, pois este diz respeito à prerrogativa do Estado em limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do interesse público. De acordo com Coelho (2012, p. 59), o poder de polícia “é exercido pela Administração Pública com a finalidade de conter os abusos de indivíduos e grupos na sociedade civil no exercício da sua liberdade negativa”, possuindo como atributos: a) discricionariedade; b) autoexecutoriedade; e c) coercibilidade. Dentre os poderes da Administração Pública, temos, também, o chamado poder normativo, cuja essência é a de conferir à Administração que possa emanar normas, ou seja, atos com efeitos gerais e abstratos, a serem seguidos pela sociedade. Este tanto pode ser exercido pelo Poder Legislativo quanto pelo Poder Executivo. Se, por um lado, a Administração Pública e seus agentes estão investidos dos poderes supracitados, por outro, estão imbuídos também em deveres, que servem justamente para que os atos praticados não sejam arbitrários, abusivos. São alguns desses deveres: 1. Dever de agir – Relaciona-se com o princípio da legalidade. Os agentes públicos só podem e devem fazer o que a lei obrigar ou expressamente autorizar. Desta forma, entende-se, também, que os agentes públicos não podem ser omissos, pois, se há dever de agir legal, não há espaço para abstenção; 2. Dever de prestar contas – Relaciona-se com o princípio da publicidade. O dever de prestar contas não diz respeito apenas do servidor para seu chefe imediato, mas também aos órgãos de controle (internos e externos), bem como aos cidadãos em geral; 3. Dever de eficiência – Deriva do princípio da eficiência, previsto na Constituição Federal de 1988, caput do artigo 37; 4. Dever de probidade – Guarda relação com o princípio constitucional da moralidade. Tem como oposto legal a “improbidade administrativa”, prevista na Lei nº 8.429/92. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA COELHO, Ricardo Corrêa. O Público e o Privado na Gestão Pública. 2ª ed. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração/UFSC, 2012. PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Direito Administrativo. 24ª ed., São Paulo: Atlas S.A., 2011.