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Preceptores: Dr. Anízio Okasawara Dr. Charles Almeida Dr. João Guimarães Dr. José Silvio Rizzo Alunos: Robson N. Santos Felipe C. Sobreira Thiago C. Scobosa Abdome Agudo Obstrutivo z Definição: Abdome agudo obstrutivo corresponde a um quadro de dor abdominal provocada por uma obstrução intestinal com interrupção do trânsito, por diversos mecanismos. Como a progressão do conteúdo intestinal é interrompida, o paciente cursa com diversos sinais e sintomas, que podem levar a deterioração do seu estado clínico caso não seja definida uma conduta terapêutica de urgência, seja ela clínica ou cirúrgica. z Epidemiologia: Dentre os 05 tipos de abdome agudo, inflamatório, obstrutivo, perfurativo, hemorrágico e vascular, o obstrutivo é o segundo mais comum, e corresponde a aproximadamente 20% das cirurgias de emergência em pacientes com dor abdominal, sendo os do ID mais frequentes que do cólon; Acomete todas as idades; Letalidade de 7 a 30%. z Fatores de risco Histórico de cirurgia abdominal Processo inflamatório abdominal prévio Obstrução intestinal prévia Hérnias Ingestão de corpo estranho Radioterapia Risco aumentado para neoplasia z Tipos de obstrução Obstrução mecânica: É quando existe uma barreia física ocluindo o transito intestinal, podendo ser essa barreira intraluminal, intrínseca ou extrínseca. Obstrução funcional: É quando ocorre uma alteração na peristalse, devido à uma doença de base. z z z Etiologia conforme a idade Dividindo por faixas etárias, as principais causas de obstrução nas crianças são hérnias estranguladas, divertículo de Meckel e intussuscepção. Em adultos jovens, predominam as hérnias e as bridas. Nos idosos, as causas mais comuns são aderências, íleo biliar, hérnias e tumores. z Classificações Podemos dividir as obstruções intestinais mecânicas em: Obstruções simples ou complicadas; Obstrução alta ou baixa; Completas ou incompletas (Suboclusivas); Alça aberta ou fechada; Causas intrínsecas, extrínsecas ou intaluminal. z Obstruções Simples ou Complicadas Simples: É quando a alça intestinal não tem ainda sofrimento isquêmico ou estrangulamento. Dor tipo cólica, paciente não está toxemiado, não apresenta grande leucocitose, nem irritação peritoneal. Complicada: É quando a alça intestinal tem um sofrimento isquêmico ou estrangulamento. Possui peritonite, DB +, grandes leucocitoses, taquicardia, febre, hipotensão, sinal de choque séptico. z Obstruções Simples ou Complicadas Hérnias, volvos e intussuscepções intestinais são as formas de obstrução mais propensas ao estrangulamento. z Obstruções Alta ou Baixa Alta: São aquelas oclusões que ocorrem acima da válvula ileocecal (delgado). Baixa: São aquelas oclusões que ocorrem abaixo da válvula ileocecal (cólon). z z Obstruções Completas ou Incompletas Completa ou oclusiva: É quando a barreira física está ocluindo por completo o espaço intraluminal. Incompleta ou suboclusiva: É quando a barreira física está ocluindo parcialmente o espaço intraluminal, podendo apresentar diarreia paradoxal. z Obstruções de alças Fechada ou Aberta Alça Aberta: obstrução somente em ponto distal, ponto proximal pode ser descomprimido por vômitos ou sonda nasogástrica. Alça fechada: obstrução proximal e distal, maior acúmulo de liquido e gás acarretando em um maior risco para isquemia, volvo e perfuração. - A causa mais comum é a obstrução colônica + válvula ileocecal competente. z Alça fechada Precisamos saber se a alça ileocecal é COMPETENTE ou INCOMPETENTE! Deve-se realizar um RX simples de abdome Competente: o fluxo é unidirecional, impedindo o retorno do conteúdo para o delgado. Incompetente: as fezes podem retornar para o delgado e ocorrer o vômito fecalóide. Ceco >10cm: risco de romper / >12 cm: risco iminente de rompimento! z Causas intrínsecas, extrínsecas ou intraluminal Intrínsecas Extrínsecas Intraluminal Bridas/aderências Neoplasisas Neoplasias Hérnias externas ou internas Tumores Íleo biliar Volvo Intussuscepção Ascaris lumbricoides Abscessos intra-abdominais Doença de Crohn Bezoares Neoplasias extra-intestinais Divertículos de Meckel Corpo estranho Infecções (diverticulite, actinomicose Íleo meconial Enterolitos/fecalomas z Fisiopatologia - obstrução simples Obstrução mecânica simples ➜ Distensão intestino proximal ➜ Proliferação bacteriana ➜ Acumulo de liquido e gases ➜ Produção acentuada de gases ➜ Piora da distensão abdominal ➜ Extravasamento de liquido para o terceiro espaço z Fisiopatologia – obstrução complicada Distensão exacerbada ➜ compressão de vasos da parede intestinal ➜ isquemia ➜ necrose ➜ perfuração ➜ peritonite fecal z Quadro clínico sistêmico Desidratação Taquicardia Distúrbios metabólicos (alcalose metabólica e acidose metabólica) Distúrbios hidroeletrolíticos (Hipocloremia e Hipocalemia) z Quadro clínico da obstrução alta Dor abdominal • cólica difusa Náuseas e vômitos precoces Parada de eliminação de gases Pouca distensão abdominal Tempo curto de história z Quadro clinico da obstrução baixa Dor abdominal • cólica difusa Vômitos tardios (podendo ter conteúdo fecaloide) Parada precoce de eliminação de gases Distensão abdominal pronunciada Maior tempo de história z Quadro clínico da diarreia paradoxal A diarreia paradoxal é presente nos casos de suboclusão da luz intestinal e podemos encontrar: Eliminação diarreica do conteúdo intestinal distal; Aumento da peristalse, estase e hiperproliferação bacteriana; Tentativa de expulsar o conteúdo obstruído; Fenômeno transitório. z Quadro clínico do estrangulamento de alça Dor contínua e intensa; Leucocitose com desvio à esquerda; Febre; Oligúria; Taquicardia e taquipnéia; Mal estado geral ( alteração do nível de consciência); Sangue ao toque z Anamnese e exame físico Anamnese completa: início e ordem dos sintomas, história prévia de cirurgias Exame físico: INSPEÇÃO: cicatrizes de cirurgias prévias, peristalse, pesquisa de hérnias AUSCULTA: RHA aumentados (“sons metálicos” no início) e RHA diminuídos ou ausentes tardiamente PERCUSSÃO: timpanismo/hipertimpanismo (distensão) z Anamnese e exame físico Caso o paciente apresente os sintomas, deve-se realizar o toque retal, em busca de encontrar fecaloma, gases, fezes, massa ou ampola retal vazia. Toque retal: Se a ampola estiver vazia, é sugestivo de uma obstrução mecânica total, enquanto que se estiver cheia é sugestivo de uma obstrução funcional Sinal de Gersuny: crepitação ao descomprimir o abdômen (fecaloma); Sinal de Hochemberg (ampola retal totalmente livre de fezes) z Diagnóstico Exame clínico Exame físico Exames complementares (Laboratoriais, RX 3 incidências, TC) z Exames laboratoriais HMG: leucocitose com desvio à esquerda Eletrólitos (ex: hipocloremia, hipocalemia); Ureia; Creatinina; Amilase/Lipase. z Radiografia Deve ser feito em 3 incidências: Tórax AP (pneumoperitonio – Sinal de Chilaiditi) + Abdome AP ortostático (níveis hidroaéreos) e decúbito dorsal. É utilizado para definir apenas o sítio de obstrução. Achados no RX - Delgado: Distensão central (até 5 cm) e pregas coniventes (empilhamento de moedas). - Cólon: Distensão periférica (até 12 cm, >12 cm = cirurgia), Haustrações colônicas. z z Sinais Hidroaéreos A: Decúbito B: Ortostático z z Empilhamento de moedas z z Haustrações colônicas z z Sinal de Chilaiditi z Tomografia Caso o RX seja inconclusivo, deve-se solicitar uma TC. Diagnóstico de confirmação e complicação; Pode ser útil para diagnosticar a obstrução do intestino delgado e volvos; z z Tratamento inicial Tratamento de suporte: Dieta zero Hidratação venosa Sonda nasogástrica Corrigir distúrbios hidroeletrolíticos Corrigir distúrbios metabólicos (ácido-base) z Tratamento conforme a causa Obstrução mecânica: - Parcial e não complicada: Suporte eobservar (24 a 48h) - Total ou complicada: Cirurgia Obstrução funcional: - Conservador z Tratamento cirúrgico Ausência de melhora com o tratamento clínico; Presença de peritonite, alça fechada; Obstrução completa; Suspeita de estrangulamento (sofrimento vascular); Via laparoscópica ou laparotomia; Dependente da etiologia e da localização da obstrução z Tratamento cirúrgico z z Bridas ou aderências z Bridas ou aderências DEFINIÇÃO: são traves de fibrose formadas entre duas alças intestinais ou entre uma alça intestinal e a parede abdominal; É a principal causa de obstrução do intestino delgado no adulto; Histórico de cirurgia prévia do abdome, processos inflamatórios abdominais e endometriose nas mulheres; Corpo-estranho, infecções e isquemia. z Tratamento Não complicada: Suporte (48 horas) + gastrografin* Refratário ou complicada: Lise de aderências (aberta ou vídeo) OBS: De preferencia deve-se optar por vídeo, uma vez que brida é resultado de uma cirurgia prévia, outra cirurgia aberta aumentaria a chance de recidiva. * Gastrografin: Contraste hidrossolúvel hiperosmolar: Melhora o edema da parede intestinal e da para saber se a oclusão está total ou parcial. z z Volvos z Definição Torção da alça intestinal sobre o próprio eixo. Ceco, gástrico, sigmóide (+ comum 60 a 75% dos casos) É uma obstrução em alça fechada – em 2 pontos simultâneos Distensão abdominal mais rápida z Diagnóstico O diagnóstico pode ser feito de duas maneiras: Radiografia: sinal do grão de café ou do U invertido Enema baritado: sinal do bico de papagaio z Sinal do grão de café ou do U invertido z Sinal do bico de pássaro z Tratamento do Volvo Não complicada: sem sinais de toxemia (irritação peritoneal) Tratamento é clínico inicialmente, com a descompressão endoscópica, visando tirar o paciente do quadro de emergência; Tende a recorrência; Descompressão endoscópica com colonoscopia ou retossigmoidoscopia flexível + colocação sonda endoanal + sigmoidectomia eletiva. Complicada: com sinais de irritação peritoneal ou refratária Cirurgia de Hartmann z Tratamento cirúrgico - Volvo z Íleo biliar Ocorre a obstrução do intestino delgado por um cálculo biliar. Fisiopatologia: Colecistite ➜ fístula entre vesícula biliar e duodeno ➜ passagem de cálculos pela fístula ➜ cálculos no duodeno ➜ aumento de tamanho do calculo ao longo do intestino ➜ impactação no íleo distal ➜ obstrução mecânica. Diagnóstico: É feito mediante a radiografia ou TC Tríade de Rigler = aerobilia + calculo ectópico + distensão do delgado z z Triade de Rigler z Tratamento do íleo biliar Suporte (medidas gerais) Enterotomia para retirada do cálculo; Caso o paciente tolere, deve-se fazer na mesma cirurgia a colecistectomia z Síndrome de Bouveret A síndrome de Bouveret tem a fisiopatologia semelhante ao Ileo biliar, entretanto, a formação da fístula ocorre em local mais alto: estômago ou duodeno. A clínica é a mesma do Íleo biliar. z Intussuscepção intestinal Invaginação de uma alça na outra. Causa mais comum de obstrução na infância. É idiopático na criança e no adulto pode ser causado por pólipos, divertículo ou tumor. No USG podemos encontrar o sinal do alvo e sinal do pseudorim z Clínica da intussuscepção intestinal Dor abdominal (paroxística e intermitente). Massa em salsicha. Fezes em framboesa. z Tratamento da intussuscepção intestinal Redução com enema baritado, hidrossolúvel ou ar. Refratário ou em adulto não se usa enema, deve-se fazer cirurgia. z z Intussuscepção intestinal z Bezoar DEFINIÇÃO: acúmulo de corpos estranhos indigeríveis ao longo do tubo digestivo; Síndrome de Rapunzel: Tricobezoar; Ingestão de fibras e sementes: Fitobezoar; TRATAMENTO É CIRÚRGICO!!! z z Bezoar z z Ascaris z z z z Íleo paralítico É uma obstrução intestinal funcional na qual a peristalse de encontra ausente em todo intestino. Causas: Pós operatório (fisiológico) – Delgado volta em 24h, estomago em 48h e cólon em 72h. - Drogas (opioide), distúrbio hidroeletrolítico, processos inflamatórios. z Tratamento do Íleo paralítico Deve-se descartar causas de obstrução mecânica, após isso o tratamento é de suporte (Dieta zero, hidratação venosa, sonda nasogástrica, corrigir distúrbios hidroeletrolíticos, corrigir distúrbios metabólicos (ácido-base)) z Síndrome de Ogilvie Apenas o cólon fica paralisado; Ausência de componente mecânico; Após traumas, cirurgias ortopédicas/pélvicas; Risco de perfuração do ceco z Tratamento da Sindrome de Ogilvie Excluir causas de obstrução mecânica ➜ suporte ➜ se não obteve resposta em 48 a 72h ➜ uso de NEOSTIGMINA (parassimpático mimético) ➜ caso ainda não obteve-se resposta ➜ descompressão colonoscópica ➜ caso nenhuma das alternativas acima tenha tido efeito, deve-se oprtar pela cirurgia (cecostomia percutânea ou cirúrgica) z Referências 1. MONTEIRO, Alexandra Maria V.; LIMA, Cláudio Márcio A. de O.; RIBEIRO, Érica B.. Diagnóstico por Imagem no Abdome Agudo Não Traumático. Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, Uerj, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 11-30, jun. 2009. Disponível em: https://www.epublicacoes.uerj.br/index.php/revistahupe/article/view/9229/7124. Acesso em: 10 ago. 2021. 2. GROSSMAN, I.; D'HIPOLITTO, G. Imagem in: Abdome Agudo Obstrutivo Atheneu, cap. 8, 2007. 3. PORTO, C. C.; Semiologia Médica. 7.ed. Guanabara Koogan. 2014. 4. SABISTON. Tratado de cirurgia: A base biológica da prática cirúrgica moderna. 18.ed. Saunders. Elsevier. 2008. 4. Sabiston Textbook of Surgery, 20ª edição, Towsend and Beauchamp. Clínica Cirurgica USP, editora manole, 2 volumes. z
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