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Concepções de Comportamento na Psicologia

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Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 22, n. 30, p. 27-40, jan./jun. 2010
ISSN 0104-4443
Licenciado sob uma Licença Creative Commons
[T]
Mente e comportamento
[I]
Mind and behavior
[A]
João de Fernandes Teixeira
Doutorado (PhD) em Filosofia pela University of Essex, professor titular do Departamento de 
Filosofia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos, SP - Brasil, e-mail: 
jteixe@terra.com.br
[R]
Resumo
O artigo analisa a concepção de comportamento na psicologia. Duas 
concepções de comportamento são apresentadas, a primeira segundo 
o behaviorismo metodológico (Watson) e a segunda na concepção 
desenvolvida pelo behaviorismo radical (Skinner). Apontamos para 
a existência de uma grande diferença entre essas duas concepções. 
Apontamos também para uma nova possibilidade de compreensão da 
noção de comportamento no behaviorismo radical, segundo a qual 
comportamento é essencialmente interpretação. Essa ideia é desenvolvida 
num texto publicado por Skinner em 1988, na sua maturidade. Com 
isso buscamos lançar uma nova luz sobre o behaviorismo radical, no 
qual a noção de comportamento é distinta daquela presente na psico-
logia popular.
[P]
Palavras-chave: Comportamento. Skinner. Watson. Behaviorismo meto-
dológico. Behaviorismo radical.
TEIXEIRA, J. de F.
Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 22, n. 30, p. 27-40, jan./jun. 2010
28
[B]
Abstract
The paper focuses on the notion of behavior in psychology. Two con-
ceptions of behaviorism, namely, methodological (Watson) and radical 
(Skinner) are focused and a major difference between them is detected. A 
new view of the notion of behavior in Skinner´s behaviorism is brought 
to light in his mature text of 1988. According to such a view behavior is 
mainly interpretation and not observable physical/muscular motion. This 
is a new view to radical behaviorism, one that distinguishes it from our 
folk psychological conception of behavior, which is also the conception 
implicit in methodological behaviorism.
[K]
Keywords: Behavior. Skinner. Watson. Methodological behaviorism. 
Radical behaviorism.
Pode parecer estranho contribuir para uma edição especial desta 
revista, dedicada à filosofia da mente, com um artigo sobre a noção de com-
portamento e nele discutir teorias behavioristas. Falar de comportamento não 
está na moda. Esse tema pouco integra a pauta da filosofia da mente dos 
séculos XX e XXI. Poucas filosofias da mente, como é o caso da de Dennett 
([1978] 1999), fazem alguma referência explícita ao comportamento. Mesmo 
assim, ele só aparece colateralmente na sua teoria dos sistemas intencionais, 
pois Dennett rejeita todos os tipos de behaviorismo. 
A desaparição de uma reflexão sobre a natureza do comportamento 
se deve, em grande parte, à ascensão do cognitivismo, que, segundo alguns, 
se fez por contraposição aos behaviorismos, já exaustos a partir dos anos 
1960. Não fosse pelo aparecimento da neurociência cognitiva na década 
do cérebro, esse tópico permaneceria banido da agenda da filosofia da 
mente até hoje.
O que distingue o comportamento de um termostato do comporta-
mento de um ser humano? O conceito de comportamento é um dos problemas 
mais difíceis da filosofia da psicologia e, ao mesmo tempo, algo que se apre-
senta como extremamente intuitivo e trivial. A ideia cotidiana derivada da psi-
cologia popular (folk psychology) e também adotada por alguns behavioristas 
metodológicos é que o comportamento pode ser identificado com movimento 
muscular observável.
Mente e comportamento
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Certamente, não é esse o conceito de comportamento que encon-
tramos na obra de Skinner. Ele rompe com a visão filosoficamente ingênua 
que o concebe como movimento muscular observável e que era típica do 
behaviorismo metodológico, ou seja, do behaviorismo de Watson.
Da perspectiva de Watson, o comportamento observável deveria ser 
o ponto de partida e o caminho privilegiado para o estudo da mente. Watson 
define o comportamento em termos de estímulos e respostas; as leis para a 
regulação do comportamento são as leis de “ajustamento”, que ele conceitua-
lizou como relações entre respostas e estímulos. Uma resposta abrange atos 
definidos em termos de categorias de ação (por exemplo: conversar, nadar) ou 
de ação dirigida a um fim, como ocorre quando se escreve uma carta. O 
mental não é observável, nem tampouco detectável, e, por isso, ele não pode-
ria participar da ciência, a não ser indiretamente. A solução dada por Watson 
para esse problema foi excluir o mental do discurso da psicologia e, junto com 
ele, todo vocabulário mentalista, ou seja, toda referência a estados subjetivos. 
No seu texto ele afirma:
A Psicologia, tal como o behaviorista a vê, é um ramo puramente objetivo 
e experimental da ciência natural. A sua finalidade teórica é a previsão e 
o controle do comportamento. A introspecção não constitui parte essen-
cial dos seus métodos e o valor científico dos seus dados não depende do 
fato de se prestarem a uma fácil interpretação em termos de consciência 
(WATSON, 1913a, p. 158).
É preciso notar que, com tais declarações, o behaviorismo metodo-
lógico acaba, paradoxalmente, abraçando uma visão cartesiana. A exclusão 
do mental separa radicalmente mente e corpo tanto quanto Descartes o fez. O 
mental não pode ser objeto de ciência. À psicologia só restaria falar do corpo, 
por ser ele a entidade observável que se movimenta.
No seu manifesto, Watson (1913a) afirma que o comportamento hu-
mano possui, essencialmente, as mesmas características do comportamento de 
outros animais. Consequentemente, ambos poderiam ser estudados utilizando 
os mesmos métodos de investigação. No entanto, o autor faz uma ressalva, ao 
reconhecer o importante papel da linguagem no estudo da percepção, e admite 
que os métodos por ele propostos poderiam ser insuficientes ao estudo 
de “formas mais complexas do comportamento, como a imaginação [...]” 
(WATSON, 1913b, p. 173). De qualquer forma, continuou sustentando a afir-
mação de que os processos responsáveis pelos hábitos explícitos são também 
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responsáveis pelos hábitos internos. Dessa forma, todo comportamento 
poderia ser descrito em termos de reflexo, ou seja, em termos de ação sensório-
motora. Assim, o pensamento efetivo, por exemplo, poderia ser visto como a 
adaptação de respostas privadas da laringe à demanda crescente da estimu-
lação ambiental.
Contudo, as concepções do behaviorismo metodológico revelaram-
se insuficientes para explicar comportamentos complexos como os dos seres 
humanos. Nem todos os comportamentos podiam ser descritos como resul-
tando de uma trajetória direta entre estímulo e resposta, como queria Watson. 
Havia comportamentos que não eram produzidos por estímulos observáveis. 
E havia também os comportamentos improvisados, cuja explicação também 
constituía um grande problema para esse tipo de behaviorismo.
As críticas mais contundentes ao behaviorismo metodológico 
vieram da filosofia. Foi Gilbert Ryle quem desfechou o ataque mais no-
tável ao behaviorismo em geral. Ele não distinguia entre behaviorismo 
metodológico e radical, tomando-os como um bloco monolítico. Embora 
tenha sido contemporâneo de Skinner e um filósofo da mente notável 
para sua época, não parece ter havido contato entre os dois. Em sua obra 
The Concept of Mind, publicada em 1949, Skinner é mencionado apenas 
uma vez.
Ryle afirmava que, por critérios behavioristas, não podemos distin-
guir quando um palhaço cai por acaso ou de propósito. No ensaio The thinking 
of thoughts: what is ‘le penseur’ doing? ([1968] 2009) ele descreve uma 
situação peculiar. Ryle considera a situação hipotética de dois garotos numa 
reunião de condomínio. Ambos piscam simultânea e rapidamente um de seus 
olhos. Em um deles, esse é um tique involuntário, no outro é uma piscadela 
conspiratória para um amigo. Ora, vendo essacena por meio de uma câmera, 
ou seja, a partir de uma observação fenomenalista, não poderíamos saber 
qual deles estava piscando por motivos conspiratórios e qual por conta de um 
tique nervoso.
O piscador voluntário está se comunicando de uma forma precisa e 
especial:
a) deliberadamente; 
b) para alguém em particular; 
c) transmitindo uma mensagem específica; 
d) de acordo com um código socialmente estabelecido; 
e) sem o conhecimento dos demais companheiros. 
Mente e comportamento
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Segundo Ryle, o piscador voluntário executa duas ações, contrair a 
pálpebra e piscar, enquanto o que tem tique nervoso executou apenas uma, ou 
seja, contraiu a pálpebra. A diferença entre um tique nervoso e uma piscadela 
é grande. Poderia, ainda, ser o caso de que o piscador voluntário, que pisca 
para o outro em atitude conspiratória, esteja fazendo isso apenas para imitar 
a existência de uma possível conspiração. Também poderia haver um terceiro 
tipo de ação: a de alguém que imitasse a ação dos outros dois apenas para 
ridicularizá-los.
Como o behaviorista, ou seja, alguém na posição de estar apenas 
assistindo um filme do que aconteceu, poderia saber se há duas ou até três 
ações numa piscadela? Essa era a pergunta de Ryle.
Na verdade, o que Ryle perguntava, com o relato dessa situação, era 
se o comportamento, para existir, não dependeria da existência de uma inter-
pretação. Só interpretando podemos distinguir se uma piscadela é involun-
tária, conspiratória ou apenas uma imitação de conspiração feita apenas para 
debochar dos participantes da reunião. Certamente, essa é uma boa objeção 
ao behaviorismo metodológico. Ou seja, não podemos conceber o comporta-
mento apenas a partir da percepção do movimento muscular. 
Em sua concepção de comportamento, o behaviorismo metodológico 
sucumbe à do senso comum. Ryle mostra o quanto ela é insuficiente. Para dis-
tinguir uma piscadela involuntária de uma conspiratória é preciso descrever o 
comportamento usando uma linguagem mentalista. Uma conspiração exige 
a atribuição de crenças e intenções a alguém; sem isso, não existe atitude 
conspiratória e nem podemos descrevê-la. 
Ao admitirmos a necessidade da descrição intencional – seja com 
“c” ou com “s” –, parece que chegamos ao limite de qualquer abordagem 
psicológica que reduza o mental ao comportamento. O mentalismo sempre 
entra pela porta dos fundos. Pior do que isso: mesmo que se mostre que 
esses eventos privados são materiais – como é o caso de Fodor, que diz 
poder conciliar o mentalismo com o materialismo –, ainda assim eles são 
essencialmente eventos internos privados que desafiam qualquer descri-
ção periferalista do comportamento. Fica difícil sustentar o behaviorismo 
metodológico.
Mas, e quanto ao behaviorismo radical de Skinner, será que ele 
sucumbe à crítica de Ryle? Para Skinner, à diferença de Watson, estados mentais 
existem, embora sejam causalmente inoperantes. A situação não parece mudar 
muito, mas vale a pena começarmos por nos interrogar acerca da concepção 
de comportamento do behaviorismo radical de Skinner.
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Em 1937, Skinner criou a ideia de comportamento operante e, com 
isso, inaugurou o behaviorismo radical. No comportamento operante, o 
estímulo pode ser inobservável. E nele as consequências do comportamento 
podem retroagir sobre o organismo. Ao contrário do que acontece no com-
portamento reflexo ou no comportamento respondente (como é o analisado 
por Watson), no comportamento operante há variáveis que tornam mais 
provável sua ocorrência e não simplesmente estabelecem uma relação direta 
de causa e efeito. 
Primeiramente, há o tipo de resposta que é eliciada por uma estimulação 
específica, em que a correlação entre a resposta e o estímulo é um reflexo 
no sentido tradicional. Irei classificar esse reflexo de respondente. [...] Mas 
há também um tipo de resposta que ocorre espontaneamente na ausência 
de qualquer estimulação com a qual ela possa estar especificamente corre-
lacionada. [...] É da natureza desse tipo de comportamento ocorrer sem um 
estímulo eliciador, embora estímulos discriminativos sejam praticamente 
inevitáveis após o condicionamento. Não é necessário identificar unidades 
específicas antes do condicionamento, mas durante o condicionamento elas 
poderão se estabelecer. Irei chamar tais unidades de operantes, e o compor-
tamento em geral de comportamento operante (SKINNER, 1961c, p. 378).
É nesse texto que pela primeira vez Skinner utilizou o termo “ope-
rante” (SKINNER, 1980/1998). O operante exigiria outra estratégia, já que 
não haveria relações respondentes previamente identificáveis ou estímulos 
eliciadores específicos (SKINNER, 1937/1961a). Na definição do reflexo, a 
única propriedade que devemos considerar é a própria relação, isto é, a coin-
cidência da ocorrência de um estímulo seguida da ocorrência de uma resposta. 
A resposta operante é essencialmente uma ação do organismo que 
produz efeitos no ambiente. As consequências, por sua vez, são as modi-
ficações geradas pela resposta do organismo. Para Skinner, o organismo 
sempre está inserido em um ambiente. No caso do respondente, os estímulos 
eliciadores são eventos ambientais responsáveis diretamente pela ocorrência 
da resposta reflexa. Já no operante, o ambiente é constituído por estímulos 
discriminativos. 
A diferença essencial é que, ao invés de eliciarem a resposta, os 
estímulos discriminativos constituem a ocasião em que uma dada resposta 
operante será seguida da consequência reforçadora (SKINNER, [1945] 1961c, 
[1953] 1965, 1966c, 1967, 1975). É importante ressaltar que, embora não atue 
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diretamente como causa da resposta, tal como ocorre no respondente, o estí-
mulo discriminativo é também responsável pelo controle do comportamento 
no âmbito operante (SKINNER, [1953] 1965, 1966c, 1989). Avalia-se o grau 
de controle do estímulo discriminativo de acordo com as variações na fre-
quência de respostas, o que nos possibilita inferir a probabilidade de que uma 
resposta possa ocorrer numa dada ocasião (SKINNER, 1969).
A ocorrência de uma resposta nunca é idêntica à ocorrência de outra. 
É por isso que no behaviorismo radical fala-se de “classes de respostas” e 
“classes de estímulos” e é justamente por isso, também, que Skinner ([1935] 
1961a, [1938] 1966b, 1979, [1980] 1998) afirma que os estímulos e as res-
postas são conceitos de natureza genérica, passíveis de identificação apenas 
por meio das relações funcionais estabelecidas entre os eventos estudados. 
Contudo, se uma resposta nunca é idêntica à outra, como uma conse-
quência poderia surtir qualquer efeito na resposta que já ocorreu? Ou seja, 
como seria possível o processo de condicionamento? De acordo com Skinner 
([1953] 1965, 1989), as consequências não alteram as respostas que já ocorre-
ram, mas sim a probabilidade de que respostas que pertencem à mesma classe 
possam ocorrer no futuro. É nesse contexto que o termo “reforço” faz sentido. 
Dizemos que um evento é reforçador quando ele fortalece a classe operante 
da qual faz parte no sentido de aumentar a probabilidade de que respostas que 
pertençam à mesma classe ocorram (SKINNER, [1953] 1965, 1974).
Com essas novas ideias acerca do comportamento, Skinner teria 
dado um grande passo para além da psicologia estímulo-resposta, comumente 
vista como mecanicista. O modelo de comportamento inspirado no operante 
tem raízes adaptativas, darwinianas, por contraposição ao proposto inicial-
mente por Watson (e antes dele, por Pavlov). No behaviorismo radical o dado 
experimental básico é a frequência das respostas que, por sua vez, são funcio-
nalmente classificadas dentro de uma mesma classe, de acordo com as conse-
quências reforçadoras que as seguem. Diferentemente do modelo watsoniano 
e pavloviano,não é preciso sustentar também uma relação do tipo “tudo ou 
nada”, já que estamos lidando com probabilidades de ocorrência de respostas 
pertencentes a uma classe.
Mas o que é comportamento para o behaviorismo radical? Até que 
ponto as idéias de Skinner podem nos ajudar a superar os problemas levan-
tados por Ryle? 
Sem dúvida, Skinner rompe com a tradição de Watson e também 
com uma percepção intuitiva do comportamento, que o identifica com o mo-
vimento muscular observável. A ideia de probabilidade introduz um termo 
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teórico na percepção do comportamento. A percepção do movimento muscu-
lar passa a ser teórico-carregada (theory-laden). Ou, em outras palavras, há 
muito mais no comportamento do que aquilo que simplesmente nos é dado 
pela sua percepção.
Ecos de que Skinner reconhece a persistência do problema levan-
tado por Ryle é o seu reconhecimento, num texto de maturidade, que o 
comportamento é interpretação.1 Em 1988, Skinner, em uma de suas respostas 
a várias objeções levantadas por ocasião de um simpósio na revista Brain and 
Behavioral Science, nos diz que:
Não existe uma essência do comportamento. A própria expressão “o que 
o organismo faz” é problemática, pois ela implica que o organismo inicie 
seu comportamento. [...] Não penso que comportamento seja, necessaria-
mente, ação muscular. Nós o observamos seja através da introspecção [...] 
ou através de medidas fisiológicas que “invadem a privacidade”. Na falta 
de dados melhores, uma ciência do comportamento só pode oferecer uma 
interpretação (SKINNER, 1988, p. 469).
Com isso Skinner rejeita explicitamente a associação entre compor-
tamento e movimento muscular perceptível. Skinner nunca abraçou a con-
cepção de comportamento herdada pelo senso comum e compartilhada com o 
behaviorismo metodológico. Não se pode confundir behaviorismo radical com 
behaviorismo metodológico. Mas por que a concepção de comportamento de 
Skinner é frequentemente confundida com a do behaviorismo metodológico? 
A confusão vem do viés neopositivista com que a obra de Skinner 
é frequentemente interpretada. O neopositivismo defendia que a psicologia 
devia ter uma linguagem estritamente fisicalista – ou seja, dela devia ser 
extirpado todo vocabulário psicológico, pois não é possível retraçar sua origem 
no mundo sensível. 
 Ao introduzir a ideia de comportamento como interpretação, Skinner 
se situa fora da tradição empirista e do neopositivismo também. Pois se trata 
de afirmar que a observação do comportamento é mais do que teórico-carre-
gada. Não há observação do comportamento que não seja simultaneamente 
interpretação. Creio que isso pode mudar a compreensão do behaviorismo 
radical que tivemos até hoje. 
1 Agradeço a Diego Zílio por ter me chamado a atenção para o trecho de Skinner que segue.
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Uma das consequências desse trecho de Skinner, escrito em 1988, 
é que ele reconhecia – ou pelo menos reconheceu na sua maturidade – que o 
sonho de uma ciência psicológica que pudesse preencher o ideal das ciências 
naturais não seria possível. O ideal de precisão de uma ciência inteiramente 
escrita em linguagem extensional tem de ser abandonado. A psicologia tem de 
ser uma ciência soft. Não importa, tampouco, que estejamos falando de com-
portamento como fenômeno biológico. A biologia também é uma ciência soft, 
pois não é inteiramente escrita em vocabulário extensional. 
Podemos ver como, a partir desse trecho, a articulação teórica do 
behaviorismo radical torna-se mais clara. Por exemplo, ao tratar o compor-
tamento como algo teórico-carregado (probabilidade) e como interpretação, 
Skinner pôde ampliar o behaviorismo, estendendo-o para a compreensão dos 
fenômenos mentais também. Falar de interpretação abre a porta para a intro-
dução do inobservável no discurso da psicologia. Isso permitiu que, em vez 
de pura e simplesmente desprezar o vocabulário mentalista e tentar varrê-lo 
para debaixo do tapete, o mental passasse a ser considerado como um tipo 
de comportamento. Pensar, calcular e raciocinar são, na visão skinneriana, 
comportamentos encobertos. O comportamento encoberto é uma interpreta-
ção da atividade cerebral como uma classe de comportamentos que não são 
diretamente observáveis.
Para o behaviorismo radical, a mente é uma coleção de comporta-
mentos encobertos. O behaviorismo de Skinner torna-se radical quando engloba 
também o psiquismo, entendido nessa acepção. Na verdade, o que Skinner faz 
é reincluir a mente na psicologia, apesar de considerar a consciência como 
inteiramente constituída pela linguagem – a linguagem que ele quer estudar 
na forma de comportamento lingüístico.
Se há críticas ao behaviorismo skinneriano, elas não devem recair 
no estereótipo de que ele seria uma “psicologia sem mente”. O pensamento 
é um comportamento não observável. Anima vem de “animado”, ou o que 
se movimenta, tanto visível como invisivelmente. Pensar é movimentar-se, 
da mesma maneira que nossos músculos se movimentam e formam nossa 
concepção de comportamento derivada do senso comum, ou seja, sua visão 
apenas como macrofenômeno observável.
A ideia de comportamento encoberto como fenômeno invisível 
também rompe com o mito neopositivista de que só se pode falar daquilo que, 
em última análise, é rastreável na experiência sensível ou em algo observável. 
Skinner não segue essa tradição neopositivista – como muitos pensam – só 
porque foi contemporâneo dela. Mas também não endossa a oposta, o 
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dualismo, ou a ideia de que mente/corpo deveriam ser separados, e de que o 
mental seria uma entidade inescrutável por não ser acessível à observação. 
Ao admitir que o comportamento é, sempre, uma leitura possível do 
movimento, seja esta atividade do psiquismo (comportamentos encobertos), 
seja uma atividade que se traduz em movimento muscular, Skinner reco nhece a 
dificuldade levantada pela crítica de Ryle. O comportamento, mesmo como ati-
vidade unicamente muscular, está impregnado de crenças, intenções, desejos, 
etc. Ora, seriam essas entidades inevitáveis na descrição do comportamento? 
Haverá, na descrição do comportamento, resíduos mentalistas inelimináveis? 
São esses resíduos inelimináveis que nos permitem identificar e, ao 
mesmo tempo, depurar os usos abusivos da noção de comportamento quando 
falamos do “comportamento de um termostato” ou “comportamento de um 
carro na pista de corrida”. Esses “comportamentos” não poderiam ser descritos 
a partir de intenções e crenças, a não ser que façamos um esforço linguístico 
visivelmente inapropriado. Isso quer dizer que toda descrição do comporta-
mento humano tem que incluir algum termo mentalista. O termo mentalista 
é a interpretação de que nos fala Skinner. É ele que distingue nosso compor-
tamento do comportamento de um termostato, e também do comportamento 
concebível unicamente como movimento muscular observável.
Chegamos então a algo parecido com uma definição: comportamento 
é uma descrição mentalista do movimento. Uma descrição que pode ser 
estendida também ao funcionamento cerebral. Isso é algo bem diferente do 
que pensa o senso comum e também o neopositivista.
Crenças, intenções e desejos podem também ser vistas como enti-
dades teóricas que projetamos sobre o movimento muscular para torná-lo 
inteligível. Se despirmos o comportamento dessas entidades teóricas – como 
Watson gostaria de ter feito –, despimo-lo também de sentido. Sentido não 
pode ser mapeado no mundo físico. Comportamento é um modo de descrição 
do movimento – o modo que interessa à psicologia. À fisiologia, por exemplo, 
interessará outro recorte. A fisiologia das pernas dos jogadores de futebol não 
explica como se joga esse tipo de jogo. As descrições do fisiologista e do 
jogador de futebol não são incompatíveis,embora tenham focos ou pontos 
de partida diferentes e definam níveis de descrição também diferentes. Da 
mesma maneira, o que interessa à psicologia é um tipo específico de descrição 
do movimento, que não inclui sua decomposição em propriedades biológicas. 
O limite da psicologia experimental é a descrição puramente fisica-
lista do comportamento. A psicologia não pode se furtar da elaboração teórica, 
mesmo quando feita unicamente em laboratório. Isso não significa diminuir a 
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importância dos experimentos, mas, apenas, enfatizar igualmente a relevância 
das análises funcionais. Será a partir desta que se definirão os experimen-
tos cruciais a serem realizados no laboratório. Infelizmente, parece que 
os skinnerianos têm dado maior preponderância aos aspectos empíricos do 
comportamento, como se as análises funcionais pudessem ser ignoradas. Em 
outras palavras, os skinnerianos continuam neopositivistas, embora Skinner 
nunca o tenha sido.
Esquecer os aspectos funcionais e interpretativos do comportamento 
tem levado a paradoxos como, por exemplo, montar modelos behavioristas 
para o comportamento sadomasoquista. Não se pode pretender que tais modelos 
imitem esse tipo de comportamento, pois, no máximo, consegue-se imitar os 
movimentos musculares que o compõem. Tampouco poderíamos dizer que 
um animal treinado para guardar notas de Real em seu ninho tenha aprendido 
o valor do dinheiro. Faz-se, aqui, um mesmo tipo de transgressão categorial 
inversa à que ocorre na nossa linguagem cotidiana ao falarmos de comporta-
mento do termostato ou de um robô. Ou seja, atribui-se à descrição fisicalista 
do comportamento mais do que ela pode conter.
Sabemos que um dos grandes méritos de Skinner foi livrar-se das 
concepções mecanicistas de comportamento, de acordo com as quais estímulo 
e comportamento seriam separáveis do mesmo modo que causa e efeito. O 
modelo do comportamento reflexo é mecânico: o estímulo S elicia a resposta 
R. Mas no operante proposto por Skinner, o modelo é biológico, pois há uma 
seleção natural do comportamento mais adequado na sua interação e retroação 
com o meio ambiente.
A adaptabilidade – conceito subjacente ao de comportamento ope-
rante – é também uma entidade não observável e intensional. Características 
que dão adaptabilidade a um organismo num ambiente podem não ser adapta-
tivas em outro. Isto quer dizer que não existe nada intrinsecamente adaptável e 
que ao falarmos de adaptabilidade não estamos nos referindo nunca a um 
conjunto de propriedades enumeráveis que encontraríamos em todos os orga-
nismos que pertencem a um determinado meio ambiente. A adaptabilidade 
também é uma interpretação, tanto quanto a teoria da evolução, que é um modo 
de contar a história da natureza. E talvez o mesmo possamos dizer do ope-
rante, que, embora definido apenas em termos biológicos, talvez não possa 
prescindir das noções mentalistas de agradável/desagradável para o organismo.
A maioria dos behavioristas radicais leu mal a obra de Skinner. 
Assumiu, implicitamente, uma concepção de comportamento derivada da psi-
cologia popular e que foi reforçada pela interpretação neopositivista. O pano 
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de fundo foi a proposta da possibilidade da psicologia adotar um discurso ex-
clusivamente fisicalista, como foi defendido por Carnap. Mas Skinner não era 
nem neopositivista nem antimentalista. Seu antimentalismo restringe-se ao 
anticartesianismo. A mente não pode ser algo imaterial, que misteriosamente 
interage com o corpo. Ele concordaria com Fodor, no sentido de que não existe 
incompatibilidade entre mentalismo e materialismo. A mente é a interpretação 
de um comportamento encoberto, qual seja, o metabolismo do cérebro.
Quem ainda faz uma interpretação neopositivista de Skinner – o que 
é ainda muito comum – presta um desserviço à história das ideias psicoló-
gicas. Afinal, comportar-se não é só mexer-se; falar de comportamento 
envolve também uma percepção específica daquilo que se mexe. Não podemos 
traçar uma distinção inteiramente nítida entre observação e interpretação. 
Skinner concordaria com isso e, ao fazê-lo, rompe com a tradição neopositi-
vista. Nesse sentido, poderíamos afirmar, com ele, que nem tudo que se mexe 
se comporta, e nem tudo o que se comporta se mexe. 
O que foi exposto não deve ser interpretado como uma defesa dos 
méritos de Skinner. Trata-se tão somente de evitar interpretações errôneas 
do conceito de comportamento, que pode ter efeitos deletérios sobre o beha-
viorismo radical. É preciso enfatizar que Skinner é materialista, mas não 
reducionista. No behaviorismo radical não se busca uma redução de termos 
intencionais a comportamento observável. Esse é um programa neopositivista 
cujas raízes provavelmente estão no behaviorismo metodológico e na concep-
ção de comportamento que nos é dada pela psicologia popular.
O behaviorismo metodológico parece estar sendo reavivado pela 
neurociência cognitiva. Não nos cabe aqui, por falta de espaço, discutir um 
tema tão amplo como as relações entre behaviorismo e neurociência cognitiva. 
Cabe, entretanto, assinalar que as modernas técnicas de neuroimagem baseiam-
se num esquema S-R, no qual os estímulos são procurados dentro do cérebro. 
A caixa preta cerebral tende a ser aberta. Skinner menciona isso 
no texto de 1998 que reproduzimos acima. Mas o programa reducionista ex-
plícito de muitos neurocientistas cognitivos não ameaça uma ciência do 
comportamento. Esse programa reducionista ainda não dá conta das retroa-
ções do comportamento que dependem do meio ambiente para se realizarem. 
Ou seja, a neurociência cognitiva pode deixar de dar conta das consequências 
do comportamento. O cérebro não pode representar completamente o ambiente 
onde ele mesmo se encontra.
Tampouco o neurocientista deixa de interpretar os comportamentos 
antes de relacioná-los com a ativação de algumas áreas cerebrais. O sujeito 
Mente e comportamento
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da neuroimagem também interpreta o que supostamente está ocorrendo no 
seu cérebro. Só então pode ser estabelecida uma relação entre área cerebral 
ativada e comportamento.
O caráter intensional de comportamento faz com que ele só se cons-
titua se estiver conectado a objetos fora do cérebro. Ou, em outras palavras, a 
ciência do comportamento não é redutível a uma ciência do cérebro, tal como 
ela é concebida pelos neurocientistas cognitivos. Mas esse é, certamente, tema 
para outro artigo.
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Recebido: 23/04/2010
Received: 04/23/2010
Aprovado: 12/05/2010
Approved: 05/12/2010

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