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1 Mari Tatsch- Ecologia Veterinária Ciclos biogeoquímicos É um percurso realizado no meio ambiente por um elemento químico essencial à vida. Quando um elemento, exemplo da água, se relaciona com o “bio” (seres vivos), com o “geo” (parte geológica) e a parte química (as transformações). Em todo o ciclo, cada elemento é absorvido e reciclado por componentes bióticos e abióticos, podendo permanecer em um local por mais tempo. É por meio desse ciclo, que elementos químicos podem ser transferidos entre organismos e entre partes diferentes do planeta. Estudar esses ciclos, ajuda a identificar potenciais impactos ambientais, caudados por substâncias perigosas introduzidas no ecossistema. As relações entre os seres vivos e o ambiente é devido a uma constante permuta dos elementos, de forma cíclica, ou seja, os mesmos compostos químicos se reconstituem ao final do ciclo. Dessa forma, há uma espécie de intercâmbio contínuo entre a parte física (abiótica) e a parte biótica, de forma equilibrada, que faz com que as duas partes se mantêm praticamente constante. Os ciclos são divididos em: Ciclo do Nitrogênio, Ciclo da Água, Ciclo do Oxigênio, Ciclo do Fósforo, Ciclo do Cálcio, Ciclo do Carbono e Ciclo do Enxofre. Ciclo Hidrológico É o ciclo da água, refere-se à troca contínua de água na hidrosfera, entre a água do solo, atmosfera, águas subterrâneas, superficiais e das plantas. Hidrologia= a ciência que estuda o ciclo da água. A água se move através de cada uma dessas regiões, por meio dos seguintes processos: ▪ Evaporação: dos oceanos, rios, lagos e lagunas no ar e a evapotranspiração das plantas terrestres e animais para o ar. ▪ Precipitação: pela condensação do vapor de água do ar e caindo direto na terra ou no mar. ▪ Escoamento superficial: sobre a terra, geralmente atingem o mar. A água é a única substância que existe no estado sólio, líquido e gasoso (em condições normais) na natureza. Isso faz com que há um ciclo da água de um estado para o outro, do globo terrestre para a atmosfera- ciclo hidrológico. As nuvens são formadas devido a evapotranspiração (vapor da água obtido pela transpiração e pela evaporação), que condensa a água e forma gotículas que ficam suspensas na atmosfera. Dependendo, essas gotículas agregam-se e formam gotas maiores, ocasionando a chuva. Dessa forma, a chuva pode infiltrar-se e formar um aquífero ou um lençol freático ou pode escoar de formar superficial até chegar a um rio, oceano, lago, laguna, para continuar o ciclo. DA SUPERFÍCIE PARA A ATMOSFERA O ciclo da água tem início com a energia solar que incide na Terra. A transferência da água da terra para a atmosfera, passando do estado líquido para o gasoso, é por meio da evaporação direta- transpiração das plantas e dos animais e por sublimação (água sólida para o vapor). A vegetação tem um papel importante, pois parte da água que cai é absorvida pelas raízes e acaba voltando para a atmosfera pela transpiração ou pela simples e direta evaporação. Durante a mudança de estado físico, absorve calor, armazenando energia solar na molécula de vapor de água à medida que sobe à atmosfera. O vapor da água é transportado pelo ciclo da atmosfera e pode condensar em percursos variáveis, podem ultrapassar 1000km. Depois, pode voltar a superfície por alguma forma de precipitação, como chuva, granizo ou neve, ou voltar a atmosfera sem 2 Mari Tatsch- Ecologia Veterinária alcançar a superfície, pela chuva miúda quente. Em algumas situações, poderá se transformar em neve e cair no alto de uma montanha e permanecer lá por anos. Toda essa movimentação sofre influência da rotação da Terra e das correntes atmosféricas. A água, ao atingir o solo, pode ser devolvida à atmosfera por meio da evaporação, parte infiltra-se no solo alimentando os lençóis freáticos. Outra parte escorre sobre a superfície até rios, oceanos etc. A infiltração é a mais importante, pois regula a vazão dos rios, distribuindo-se durante todo o ano para evitar inundações. A água que é interceptada pelas folhas que cobrem a superfície, volta à atmosfera na forma de vapor. O ciclo da água atua como um modelador da crosta terrestre, devido á erosão e ao transporte e deposição de sedimentos por via hidráulica, condicionando toda a vida na terra. Esse ciclo é um dos pilares fundamentais do ambiente, como uma destilação global. O aquecimento das regiões tropicais devido à radiação, provoca a evaporação contínua da água dos oceanos, que por evaporação é levada a outras regiões. Durante essa transferência, parte do vapor é condensado devido ao arrefecimento, já ao retornar a origem, ocorre a infiltração e escoamento superficial e subterrâneo proveniente dos rios e das correntes marítimas. PROCESSOS Precipitação: é o vapor de água condensado que cai sobre a superfície terrestre (chuva). Infiltração: é o fluxo de água da superfície que se infiltra no solo. Escoamento: é o movimento das águas na superfície terrestre para os mares. Evaporação: é a transformação da água no seu estado líquido para o estado gasoso. Transpiração: é a forma como a água existente nos organismos passa para a atmosfera. Evapotranspiração: é o processo conjuntivo pelo qual a água que cai é absorvida pelas plantas, voltando à atmosfera por meio da transpiração ou evaporação direta. Condensação: é a transformação do vapor de água em água líquida (nuvens e nevoeiros). Ciclo de nitrogênio ou ciclo do azoto É o processo pelo qual o nitrogênio circula através das plantas e do solo pela ação dos organismos vivos. Tem sua importância, pois é usado pelos seres vivos para a produção de moléculas complexas necessárias para seu desenvolvimento como, aminoácidos, proteínas e ácidos nucleicos. O principal repositório de nitrogênio é a atmosfera (composta por 78% na forma de gás N2), outros repositórios são a matéria orgânica, nos solos e oceanos. O nitrogênio é um nutriente limitante para as plantas, nas quais só conseguem usar esse composto em forma de íon de amônio (NH), íon de nitrito (NO) e íon de nitrato (NO), no qual são escassos e são obtidos pela fixação e nitrificação. A maioria obtém o nitrogênio necessário através do nitrato, pois o amônio em maiores concentrações torna-se tóxico para elas. Já os animais recebem nitrogênio das plantas e de outra matéria orgânica (animais vivos ou mortos). FIXAÇÃO É o processo no qual o nitrogênio é capturado da atmosfera em estado gasoso (N2) e convertido em formas úteis como, amoníaco (NH3), nitrato (NO) e nitrito (NO). Pode ocorrer de diversas formas: FIXAÇÃO BIOLÓGICA Algumas bactérias são capazes de capturar moléculas de N2 e transformá-las em componentes úteis. Algumas estabelecem uma relação de simbiose com algumas plantas e bactérias que 3 Mari Tatsch- Ecologia Veterinária vivem livre no solo, por meio do consumo de amoníaco por parte das plantas (produzido pelas bactérias que vivem nas raízes dessas plantas). FIXAÇÃO ATMOSFÉRICA Ocorre através de relâmpagos, na qual a energia separa as moléculas de nitrogênio e permite que estas se liguem a moléculas de O2, formando monóxido de nitrogênio (NO), que é dissolvido na água da chuva e depositado no solo. FIXAÇÃO INDUSTRIAL Por meio de processos industriais, é possível produzir amoníaco a partir do azoto (N2) e hidrogênio (H2). É produzido, principalmente, para uso como fertilizante, na qual a aplicação sustenta certa de 40% da população mundial. ASSIMILAÇÃO Os nitratos formados por nitrificação são absorvidos pelas plantas e transformados em compostos carbonados para produzir aminoácidos e outros compostos orgânicos de nitrogênio (geralmente nas células jovens em crescimento das raízes). MINERALIZAÇÃO Através da mineralização oudecomposição, a matéria orgânica morta é transformada no íon de amônio (NH), por bactérias aeróbicas, anaeróbicas e alguns fungos. NITRIFICAÇÃO É o processo que produz nitratos a partir do amoníaco (NH) (oxidação do amoníaco). Esse processo ocorre por meio de bactérias (bactérias nitrificantes) em dois passos: primeiro o amoníaco é convertido em nitritos, segundo, os nitritos são convertidos em nitratos (NO), prontos para serem assimilados pelas plantas. DESNITRIFICAÇÃO É o processo pelo qual o azoto volta à atmosfera em forma de gás quase inerte (N2). Isso ocorre por meio de algumas espécies de bactérias (Pseudomonas e Clostridium) em ambiente anaeróbico. Elas utilizam nitratos alternativamente ao oxigênio como forma de respiração e liberam azoto em estado gasoso. EUTROFIZAÇÃO São alterações de um corpo de água como resultado de adição de azoto ou fósforo. Os compostos de azoto que estão no solo são transportados por meio de cursos de água, aumentando a concentração nos depósitos, fazendo com que estes sejam cobertos por algas que podem ser nocivas para o ecossistema. Ciclo do oxigênio É o movimento do oxigênio entre os seus três reservatórios principais: atmosfera (os gases que rodeiam a superfície da Terra), a biosfera (organismos vivos e o ambiente) e a litosfera (parte sólida exterior da Terra). Este ciclo é mantido por processos geológicos, físicos, hidrológicos e biológicos. O oxigênio molecular (O2) compõe 21% da atmosfera, ele satisfaz todas as necessidades dos organismos que o respiram. É o elemento mais abundante em massa 4 Mari Tatsch- Ecologia Veterinária na crosta terrestre e nos oceanos, e o segundo na atmosfera. A principal fonte de oxigênio é a fotossíntese, que regula a relação gás carbônico/gás oxigênio na atmosfera. Há relação entre a construção de compostos de carbonos (fotossíntese) e a degradação de compostos de carbono (respiração, decomposição). Ela é realizada por todas as plantas clorofiladas, algas e algumas bactérias; estas transformam água e gás carbônico na presença de luz e clorofila em compostos orgânicos bem mais energéticos e oxigênio. OZÔNIO Com a presença de oxigênio na atmosfera, formou- se o ozônio e a camada de ozônio na estratosfera, esta absorve a radiação ultravioleta nociva. A energia solar absorvida aumenta a temperatura da atmosfera na camada de ozônio. Isso faz com que se crie uma barreira térmica que ajuda a manter a atmosfera por baixo. Ciclo do fósforo O fósforo é um elemento químico não-metal multivalente pertencente à serie química do nitrogênio, encontrado na natureza combinado, formando fosfatos inorgânicos, inclusive nos seres vivos. É o único macronutriente que não existe na atmosfera, somente quando está em forma sólida nas rochas. Ao ser mineralizado, é absorvido pelas raízes das plantas e se incorpora a cadeia dos consumidores, sendo devolvido ao solo (excrementos ou morte). Uma parte é transportado por correntes de água, que se incorpora na cadeia trófica marinha ou se perde nos solos marinhos, não pode ser aproveitada pelos seres vivos, até que as algas profundas possam usá- lo na cadeia trófica. Ciclo de cálcio O cálcio é naturalmente encontrado em forma de fosfatos ou carbonatos nas rochas. Somente quando dissolvido, está disponível para os seres vivos, fazendo parte dos esqueletos, conchas, carapaças, paredes celulares das células vegetais, cascas calcárias de ovos, além de atuar em alguns processos fisiológicos (contração muscular e a coagulação do sangue nos vertebrados), quando esses animais morrem, o cálcio é devolvido ao ambiente. A queima de combustíveis fósseis, como o carvão e o petróleo, vem contribuindo cada vez mais para aumentar a acidez dos oceanos. Esse processo liberta CO2 na atmosfera que, quando absorvido pela água, se transforma em ácido carbônico (H2CO3), alternando a dinâmica da hidrosfera. A ação desse ácido afeta o esqueleto calcário de muito organismos aquáticos, com isso, os componentes da biosfera sofrem perturbações e o equilíbrio das cadeias tróficas é quebrado. Ciclo do enxofre 5 Mari Tatsch- Ecologia Veterinária É o conjunto de processos pelos quais o enxofre se desloca para as mineiras (incluindo os cursas de água) e os sistemas vivos. Este ciclo se assemelha ao ciclo do nitrogênio, fora a inserção desse elemento vindo da litosfera através da atividade vulcânica e a ausência do processo biológico de fixação do enxofre da atmosfera à terra ou água. As proteínas dependem basicamente do enxofre, este encontrado no solo em combinações de sais de sulfato, sulfetos e minério. Nas proximidades de vulcões, o enxofre é encontrado na sua forma original (há muitas explorações nestas regiões). O ciclo do enxofre compreende 6 etapas: 1. as plantas absorvem compostos contendo enxofre, além dos sulfatos; 2. na produção de aminoácidos das plantas, o hidrogênio substitui o oxigênio na composição dos sulfatos; 3. os seres vivos se alimentam das plantas; 4. microrganismos decompõem os aminoácidos que contêm enxofre nos restos de animais e plantas, criando sulfeto de hidrogênio; 5. o enxofre é extraído do sulfeto por bactérias e microrganismos; 6. sulfatos são produzidos pela ação de microrganismos na combinação do enxofre com o oxigênio. Na atmosfera, o enxofre existe combinado com o oxigênio, formando o SO2 (dióxido de enxofre), outra forma está como anidrido sulfídrico (SO3). Esses óxidos de enxofre (SO2 e SO3) incorporam- se ao solo com as chuvas, sendo transformados em íons de sulfato (SO). Podem ser capturados diretamente pelas folhas das plantas (absorção). O único retorno natural do enxofre para a atmosfera é através da ação de decompositores que produzem o gás sulfídrico. As sulfobactérias fazem o processo inverso, uma forma de energia para a quimiossíntese. Ciclo do carbono Existem duas formas de carbono, a orgânica (nos organismos vivos e mortos, não decompostos) e inorgânicas (nas rochas). Ele é lançado no ambiente pela respiração, decomposição e combustão e retirado, pela fotossíntese. Seu ciclo biogeoquímico é dividido em: Ciclo “lento” ou geológico: Inicia-se com o dióxido de carbono (CO2) da atmosfera que é combinado com água, formando o ácido carbônico, este reage de forma lenta com o cálcio e com o magnésio da crosta terrestre, formando carbonatos. Por meio da chuva, os carbonatos são levados até os oceanos, onde se acumulam formando rochas sedimentares, por exemplo, as rochas calcárias. Após esse percurso, as rochas sedimentares são levadas para o manto da Terra (pelas placas tectônicas). Dessa forma, as rochas estão sujeitas a altas pressões e temperaturas; isso faz com que estas derretam e entrem em contato com outros minerais, liberando CO2 por meio de atividades vulcânicas, completando seu ciclo. Esse ciclo faz com que ocorra o balanço de CO2 na atmosfera. Os segmentos mais antigos são 100x mais concentrados de CO2 que os atuais, isso faz com que proporcione um forte efeito estufa. Ciclo “rápido” ou biológico: Renovação do carbono mais ou menos em 20 anos. Sem a influência do homem, nesse ciclo existe 3 reservatórios ou “stocks”, o terrestre, a atmosfera e os oceanos; o fluxo de carbono tem um papel muito importante nesses locais, pela fotossíntese e pela respiração. Pela fotossíntese, as plantas absorvem energia solar e CO2 da atmosfera, produzindo oxigênio e hidratos de carbono, base para seu crescimento. Dessa forma, os animais e as plantas utilizam os hidratos de carbono pelo processo de respiração, emitindo CO2. Após, com a decomposição orgânica, a respiração devolve o carbono (fixado nos stocks terrestres) para a atmosfera. Fotossíntese 6CO2 + 6H2O + energia (luz solar) →C6H12O6 + 6O2 Respiração 6 Mari Tatsch- Ecologia Veterinária C6H12O6 (matéria orgânica) + 6O2 → 6CO2 + 6 H2O + energia A maior troca entre o stock terrestre e o atmosférico é por causa da fotossíntese e da respiração; as plantas absorvem luz solar e CO2 da atmosfera e os animais, micróbios e plantas devolvem o CO2 pela respiração. O stock atmosférico é o menor, mas é o que determina a concentração de CO2, no qual pode influenciar o clima terrestre. O stock oceano é o meio dos três, a quantidade de CO2 que este absorve depende da sua temperatura e da concentração já presente; quanto mais baixa a temperatura, ocorre maior absorção do CO2 atmosférico, já temperaturas mais altas resultam na emissão de CO2. Já os fluxos que sofrem interferência da ação humana são quase equivalentes, variando de forma lenta.
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