Buscar

PIM V

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 50 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM GESTÃO HOSPITALAR
UNIVERSIDADE PAULISTA
CAROLINE NASCIMENTO DA SILVA
RA: 0591474
HOSPITAL MUNICIPAL IRMÃ DULCE: PRAIA GRANDE - SP
PIM V
PRAIA GRANDE
2021
CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM GESTÃO HOSPITALAR
UNIVERSIDADE PAULISTA
CAROLINE NASCIMENTO DA SILVA
RA: 0591474
HOSPITAL MUNICIPAL IRMÃ DULCE: PRAIA GRANDE - SP
PIM V
Projeto Integrado Multidisciplinar V para
obtenção do título de Tecnólogo em
Gestão Hospitalar, apresentado a
Universidade Paulista – UNIP
Orientador: Prof.ª Me Ivete Rolim Daniel.
PRAIA GRANDE
2021
2
RESUMO
Neste estudo foi analisado Hospital Municipal Irmã Dulce de Praia Grande, a
fim de abordar os conceitos sobre as políticas de humanização e atendimento
hospitalar, a questão da importância do fenômeno cultural como parte integrante da
compreensão do homem em sociedade e em planejamento financeiro e orçamento
abordaremos as estratégias adotadas pela instituição. A metodologia utilizada foi a
pesquisa bibliográfica de natureza descritiva, a fim de reconhecer as questões
retratadas na literatura de maneira a poder compreender a importância da
humanização, da cultura na sociedade e do planejamento financeiro e orçamentário
no âmbito hospitalar.
Palavras-chave: Humanização; Competência Cultural; Planejamento Financeiro e
Orçamento
3
TABELAS
Tabela 1: Componentes Pré-fixados - Competência 2020……………………….......41
Tabela 2:Plano De Aplicação De Recursos Financeiros - Competência Anual 2020
…................................................................................................................................42
Tabela 3: Cronograma De Desembolso Do Componente Pré-Fixado…………….....43
4
SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO..........................................................................................................6
2.POLÍTICAS DE HUMANIZAÇÃO E ATENDIMENTO HOSPITALAR.......................8
2.1Política Nacional De Humanização Da Assistência Hospitalar (PNHAH) E Política
Nacional De Humanização (PNH)..............................................................................11
2.2A Estrutura Da Política Nacional De Humanização (PNH)...................................15
3.HOMEM E SOCIEDADE…………...........................................................................20
3.1O Conceito De Cultura…………………………………………………….…………...22
3.1.1O Contexto Da Cultura……………………………………….…………….………..25
3.1.2A Cultura No Cotidiano………………………….………………….………………..26
3.2Antropologia Médica…………………………………….……………...……….……..29
3.3Competência Cultural…………………………….………………..…….……………..31
4.PLANEJAMENTO FINANCEIRO E ORÇAMENTO...............................................34
4.1 Planejamento Financeiro E Controle Hospitalar………………………...……….…36
4.2Planejamento Orçamentário Hospitalar……………………….……....……………..38
5.CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................44
6.REFERÊNCIAS.......................................................................................................45
5
1.INTRODUÇÃO
O Hospital Municipal Irmã Dulce foi inaugurado em 2008, tendo mais de 11 mil
m2 de área construída, distribuídos num prédio com seis pavimentos. No espaço
abrigava parte das instalações da antiga Santa Casa de Praia Grande, na qual foram
totalmente reformadas.
Localizado na cidade de Praia Grande, litoral paulista, a unidade hospitalar é
referência regional em trauma e neurocirurgia e no atendimento de pacientes de
média e alta complexidade, além de ser responsável por 60% dos atendidos em
leitos disponibilizados com o apoio do Governo do Estado de São Paulo.
Referenciado do sistema informatizado CROSS (Central de Regulação de Ofertas
de Serviços de Saúde), na RUE/RRAS 07, o Complexo Hospitalar Irmã Dulce
passou a ser classificado como Hospital Estruturante para a Baixada Santista.
O Hospital Municipal Irmã Dulce dispõe de atendimento de urgência e
emergência em clínica médica, cirurgia geral, ginecologia e obstetrícia, pediatria,
cirurgia pediátrica, cirurgia de cabeça e pescoço, cirurgia vascular, cardiologia,
pneumologia, infectologia, nefrologia, urologia, otorrinolaringologia, cirurgia plástica,
psiquiatria, traumatologia bucomaxilofacial e UTI adulta, pediátrica e neonatal,
totalizando 221 leitos.
No início de 2019, a Associação Paulista para o Desenvolvimento da
Medicina (SPDM) assumiu a gestão do Complexo Hospitalar Irmã Dulce, em
parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Praia Grande.
A SPDM é uma associação civil sem fins lucrativos, de natureza filantrópica,
reconhecida de utilidade pública federal, estadual e no município de sua sede,
respectivamente pelos decretos nos. 57.925, de 04/03/1966, 40.103 de 17/05/1962 e
8.911, de 30/07/1970.
Fundada em 1933, é dirigida por um Conselho Administrativo eleito em
Assembleia Geral, constituído por professores da Universidade Federal de São
Paulo (UNIFESP) antiga Escola Paulista de Medicina com a qual mantém pautada a
relação e o objetivo de servir ao ensino, à pesquisa e à assistência médica.
A SPDM é mantenedora do Hospital São Paulo - Hospital Universitário da
6
UNIFESP e gerencia serviços de saúde de diversas instituições públicas, mediante a
celebração de convênios e contratos de gestão. Nesses anos, desenvolveu
atividades direta e indiretamente relacionadas à saúde em muitas cidades do país.
Tem sua estrutura formada por quatro grandes áreas: sendo três delas de caráter
assistencial, quais sejam o Hospital São Paulo, as Instituições Afiliadas, Programa
de Atenção Integral à Saúde (PAIS) e uma delas voltada à Educação.
A gestão da SPDM no Complexo Hospitalar Irmã Dulce, desenvolve através
das competências institucionais, ações voltadas para garantir que os processos da
estrutura organizacional sejam realizados com qualidade técnica e excelência.
A Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina tem como
princípios:
Missão: Atuar com excelência na atenção à saúde sem preconceito, distinção
ou classificação dos cidadãos.
Visão: Ser reconhecida como organização filantrópica brasileira em saúde de
maior abrangência e competência.
Valores: Capacitação, Compromisso social; Confiabilidade; Equidade; Ética;
Empreendedorismo; Humanização; Qualidade; Sustentabilidade ecológica,
econômica e social; Tradição e Transparência.
Política da Qualidade: Promoção de Cultura Organizacional com Qualidade,
em respeito à Missão, Visão e Valores Institucionais, focando a satisfação dos
clientes e reconhecimento de excelência na Gestão Integral em Saúde.
7
2.POLÍTICAS DE HUMANIZAÇÃO E ATENDIMENTO HOSPITALAR
Por muitas décadas o hospital era considerado somente como um depósito
de enfermos que não possuíam recursos financeiros para fazer um tratamento
particular, ou seja, o hospital tinha como finalidade mais o social do que o
terapêutico e não se falava em humanização hospitalar. Mas nos tempos atuais os
pacientes/clientes estão percebendo a necessidade de se sentirem mais acolhidos e
estar em um ambiente mais humanizado. (Louzada; Stang; Calabrez; 2008).
A Constituição Federal Brasileira em seu Artigo 196 (Brasil, 1988) afirma que
a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos ou acesso
universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação. Com isso a política de humanização se tornou mais intensa tendo
como sua base os preceitos constitucionais.
As instituições de saúde tanto as públicas como as privadas estão se
adaptando a essas novas exigências do mercado. O aspecto humano dentro das
instituições hospitalares é considerado um diferencial, cuidados especiais com os
pacientes/clientes vai melhorar seu bem estar, mas para que isso aconteça
precisamos ter uma gestão hospitalar que esteja preocupada com esse processo de
humanização. (Louzada; Stang; Calabrez; 2008).
Para Guedes e Castro (2009), nos hospitais de alta e média complexidade na
área da saúde,tem se a ideia de que seja um serviço complexo, onde a prática
profissional acaba por se distanciar de um modelo de humanização e integração
profissional e usuário, neste sentido, é preciso incorporar um olhar horizontal
profissional/paciente, para que neste período de hospitalização, criam se relações
dos usuários com o sistema de saúde, onde possamos propiciar com que
reorganizem suas vidas, ajudando os a adquirir novos hábitos de autocuidado e
autonomia, atuando na construção do ambiente hospitalar como um espaço de
promoção da saúde, de defesa da vida e da cidadania.
Os usuários dos serviços de saúde têm se tornado, de forma gradual, cada
vez mais consciente e exigente de seus direitos, diante disso, os programas e
projetos de humanização na assistência hospitalar devem ser planejados para que
possibilite a transformação de atitudes de todos os envolvidos no atendimento em
8
saúde, estabelecendo vínculos de solidariedade e participação coletiva entre
trabalhadores, gestores e usuários.
Hubert Lepargneur (2006, p. 61) compara os hospitais às empresas
complexas, onde as normas precisam ser observadas e onde existe um
indispensável jogo das liberdades individuais, ele diz que “cuidar da saúde de
pessoas não é como ajustar uma máquina qualquer”.
Reparamos ainda as diferenças de percepção do tempo. Para o médico
ocupado e a enfermeira em serviço, o tempo disponível é sempre curto; falta
tempo para preencher o programa do dia, o previsto e o imprevisto. Para o
doente, o tempo é o sofrimento e o sofrimento é o tempo que não passa,
seja ele tempo de espera ou tempo de dor. (Lepargneur, 2006, p. 63-64).
Quando acontece o adoecimento, os indivíduos, que antes ocupavam um
espaço na sociedade e na família, passam a pertencer a um novo grupo social
específico que, fragilizados pela doença, se encontram internados em espaços
restritos para o cuidado com a saúde onde lhes são impostas determinadas regras
de convivência, muitas vezes com alguma dependência, e então o paciente agora
está longe da família, limitado, sem suas roupas e objetos pessoais, longe de sua
rotina.
A humanização no âmbito hospitalar, quando pautada no contato humano,
precisa ser feita de uma forma acolhedora, contemplando a integralidade dos
sujeitos e a cidadania, considerando assim, as circunstâncias sociais, étnicas,
educacionais e psíquicas que envolvem cada indivíduo.
No hospital, lugar de esperança e de vontade tanto quanto de trabalho e de
sofrimento, estão em jogo o corpo da vida e o espírito da vida. Mais do que
nunca o hospital atual deve constituir o anel que reconstitui o ser humano na
sua integralidade vacilante. Uma ética de cuidado cidadão exige o esforço
de uma difícil reconstrução dos comportamentos como dos valores e das
necessidades: verdadeira revolução tanto dos princípios quanto das práticas
(Hirsch, 1997, p. 115 apud Lepargneur, 2006, p. 68).
Dessa forma, o processo de humanização implica basicamente na evolução
do homem, já a humanização na saúde é uma mudança na gestão dos sistemas de
saúde e de seus serviços. É através dessa mudança que será alterado o modo
como os usuários e trabalhadores da área da saúde vão interagir entre si. Portanto a
humanização na área da saúde tem como principal objetivo fornecer um melhor
atendimento dos pacientes e melhores condições de trabalho para as equipes
9
envolvidas. Segundo Elias “por humanização entendemos a valorização dos
diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde: usuários,
trabalhadores e gestores”. (2015, p. 2).
Em 1990, a Lei 8.080, que regulamentou o SUS, determinou a criação de
comissões intersetoriais subordinadas ao Conselho Nacional de Saúde. No mesmo
ano, a Lei 8.142 definiu duas instâncias colegiadas: as Conferências de Saúde e os
Conselhos de Saúde. Os Conselhos de Saúde constituídos em 50% por
representantes dos usuários e em 50% por representantes do governo, prestadores
de serviços e profissionais de saúde - são órgãos deliberativos encarregados de
normatizar, recomendar, promover diligências, formular estratégias e controlar a
execução da política de saúde. As decisões devem ser referendadas pelos níveis
estadual e municipal de saúde e as suas principais estratégias de ação são a
negociação política, a ação judicial e o acionamento do Ministério Público quando as
resoluções não são cumpridas. (Brasil, 2000).
Hoje os desafios para um gestor em saúde são diversos, este precisa ter em
mente que estamos trabalhando com vidas, é necessário ser ético. Também precisa
ser levado em conta todas as peculiaridades da região onde está inserida a
organização de saúde e atender os aspectos legais, éticos e morais da gestão
pública sem com isso prejudicar a qualidade dos produtos adquiridos e
consequentemente dos serviços que são prestados na área da saúde. (Macedo;
Carvalho; Coutinho; 2014).
Humanizar o atendimento envolve, portanto, ser capaz de atender com
solidariedade, considerando as necessidades especiais e existenciais e ter
iniciativas pautadas na compreensão e respeito mútuos, caracterizando uma postura
diferenciada de profissionais, equipes e gestores.
Dessa forma, o Ministério da Saúde através de seu Programa Nacional de
Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) salienta que o desenvolvimento
científico e tecnológico vem trazendo uma série de benefícios para a assistência
hospitalar e diz que: “humanizar em saúde é resgatar o respeito à vida humana,
levando-se em conta as circunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas,
presente em todo o relacionamento humano”. (Brasil, 2000).
Esse programa nacional de humanização da assistência hospitalar procura
englobar ações integradas para uma melhoria na qualidade dos serviços prestados e
o aprimoramento das relações interpessoais dentro do ambiente hospitalar. O
10
desenvolvimento das ações propostas pela Política de Humanização da Assistência
à Saúde tem como princípios fundamentais o respeito às especificidades de cada
instituição, estimula a cooperação entre as mesmas pela troca de experiências
produzidas, que visam a qualificação do serviço público de saúde.
Essa política de humanização da assistência à saúde nos oferece uma diretriz
que contempla todos os projetos de caráter humanizador que são desenvolvidos nas
instituições de saúde, onde estimula a criação e sustentação permanente de
espaços de comunicação e divulgação que facilite e estimule o diálogo, o respeito, à
livre expressão e a solidariedade. (Brasil, 2000).
Com isso, a humanização hospitalar se tornou uma aliada para a melhora,
recuperação e satisfação do paciente. A assistência humanizada transmite alegria e
segurança por parte de quem presta o atendimento, mas não uma alegria superficial,
mas um sentimento de esperança a cada pequeno gesto. E a questão da segurança
do paciente está nas respostas firmes para cada dúvida do paciente, no
cumprimento de horários e na competência que os profissionais demonstram.
(Mezzomo, 2003).
2.1 POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA HOSPITALAR
(PNHAH) E POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO (PNH)
No ano de 2000 o Ministério da Saúde implantou a Política Nacional de
Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), tendo como proposta a de
desenvolver um conjunto de ações integradas para proporcionar uma mudança no
padrão de assistência ao usuário nos hospitais públicos do Brasil com o objetivo de
melhorar a qualidade e a eficácia dos serviços que são prestados por estas
instituições de cuidado com a saúde.
Com condições idênticas de trabalho, um hospital consegue melhores
resultados que outro se houver compromisso da liderança, qualidade na
gestão, competência e criatividade da equipe. Os bons resultados
dependem, em grande medida, da capacidade de o hospital oferecer um
atendimento humanizado à população. Para tanto, é necessário cuidar dos
próprios profissionais da área da saúde, constituindo equipes de trabalho
saudáveis e, por isso mesmo, capazes de promover a humanização doserviço. E, por profissionais de saúde, consideram-se aqui todas as pessoas
que trabalham nas unidades de saúde e não apenas médicos e
paramédicos. (PNHAH, 2001, p. 5).
11
A Política de Humanização da Assistência Hospitalar (2001) prevê a
elaboração de planos de ações concretas de humanização, tendo como intuito
realizar o resgate de valores como a autonomia, a liberdade e a responsabilidade,
considerando a natureza específica de cada realidade institucional.
Um das ações proposta pela PNHAH (2001) é a construção do Programa
Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar dirigido aos hospitais da rede
pública possui os seguintes objetivos: fortalecer e articular todas as iniciativas de
humanização já existentes na rede hospitalar pública; melhorar a qualidade e a
eficácia da atenção dispensada aos usuários da rede hospitalar brasileira
credenciadas ao SUS; modernizar as relações do trabalho no âmbito dos hospitais
públicos, tornando as instituições mais harmônicas e solidárias, de modo a recuperar
sua imagem pública junto a comunidade; capacitar os profissionais dos hospitais
para um novo conceito de atenção à saúde que valorize a vida humana e a
cidadania; conceber e implantar novas iniciativas de humanização nos hospitais que
venham a beneficiar os usuários e os profissionais de saúde; estimular a realização
de parcerias e trocas de conhecimento e experiências nesta área; desenvolver um
conjunto de indicadores e parâmetros de resultados e sistemas de incentivos ao
tratamento humanizado e por fim difundir uma nova cultura de humanização na rede
hospitalar credenciada ao SUS.
Para que aconteça essa gestão compartilhada onde os usuários,
trabalhadores e gestores da área da saúde participem das decisões de seus
interesses em um espaço coletivo, o Programa Nacional de Humanização da
Assistência Hospitalar (2001) orienta a criação de Grupos de Trabalho de
Humanização Hospitalar, conforme destacamos:
O trabalho nos hospitais prevê a criação de um Grupo de Trabalho de
Humanização Hospitalar, constituído por lideranças representativas do
coletivo de profissionais, que terá como atribuições: difundir os benefícios
da assistência humanizada; pesquisar e levantar os pontos críticos do
funcionamento da instituição; propor uma agenda de mudanças que possam
beneficiar os usuários e os profissionais de saúde; divulgar e fortalecer as
iniciativas humanizadoras já existentes; melhorar a comunicação e a
integração do hospital com a comunidade de usuários. (Brasil, 2001, p. 16).
Esses Grupos de Trabalho de Humanização são divididos em dois níveis
crescentes (B e A) que são:
12
Parâmetros Nível A: A criação do Grupo de Trabalho de Humanização (GTH)
com plano de trabalho implantado; a garantia de visita aberta por meio da presença
do acompanhante e de sua rede social, respeitando a dinâmica de cada unidade
hospitalar e as peculiaridades das necessidades do acompanhante, ter um canal de
ouvidoria em funcionamento; uma equipe multiprofissional de atenção à saúde para
atendimento dos pacientes internados, com horário estabelecido para atendimento à
família e/ou à sua rede social; que exista mecanismo de desospitalização, como as
de cuidados domiciliares; garantir a continuidade da assistência com sistema de
referência e contra referência, um conselho gestor local com funcionamento
adequado; a existência de acolhimento composto pela avaliação de risco nas áreas
de acesso (pronto atendimento, pronto-socorro, ambulatório, serviço de apoio
diagnóstico e terapia) e um plano de educação permanente para os trabalhadores
da instituição, abrangendo os temas de humanização em implementação.
Parâmetros de nível B: Grupos de Trabalho de Humanização (GTH)
existentes e com plano de trabalho definido, a garantia de visita aberta que
possibilite a presença do acompanhante e de sua rede social, respeitando a
dinâmica da unidade hospitalar e as peculiaridades que envolvam as necessidades
do acompanhante, que tenha mecanismos de recepção com acolhimento aos
usuários, e de escuta para a população e os trabalhadores, uma equipe
multiprofissional com no mínimo o médico e o enfermeiro de atenção à saúde para
acompanhamento dos pacientes internados e com horário disponível para
atendimento à família e/ou à sua rede social, que exista mecanismos de
desospitalização, visando a alternativas às práticas hospitalares, como as de
cuidados domiciliares e a garantia de continuidade de assistência com um sistema
de referência e contrarreferência.
O “HumanizaSUS” do Ministério da Saúde (2004), mais conhecido como
Rede Humaniza Sus, é um portal colaborativo para produção e difusão de
informações em humanização da saúde entre gestores e trabalhadores da saúde,
pesquisadores, estudantes e profissionais de diferentes áreas. Todos com um
interesse comum conhecer melhor, ampliar e debater o tema da humanização.
A Rede Humaniza Sus define o GTH como sendo um encontro de pessoas
que tem como interesse, discutir os serviços de saúde nas instituições que
trabalham ou que utilizam, além de discutir as relações que são estabelecidas entre
13
si e como estes serviços podem funcionar de forma a melhorar o processo de
trabalho e assim produzir serviços de saúde com qualidade para todos.
Estes grupos vão atuar diretamente na articulação da política de
humanização do atendimento à saúde e a instituição para a implementação das
ações dentro do ambiente hospitalar, tendo como responsabilidade, a de conduzir
um processo de mudança cultural de atendimento à saúde, promovendo o respeito à
dignidade humana.
Segundo a Política Nacional de Humanização (PNH) lançada em 2003, é
preciso entender e valorizar os diferentes sujeitos envolvidos nos processos de
cuidado em saúde sendo eles, os usuários, os trabalhadores e os gestores, tendo
como valores norteadores a autonomia e o protagonismo dos sujeitos, com a
intenção de pôr em prática os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) no
cotidiano dos serviços de saúde e produzir mudanças nos modos de gerir e cuidar,
levando em consideração a insatisfação dos usuários, principalmente, nos aspectos
de relacionamento com os profissionais da saúde.
A Política Nacional de Humanização (Brasil, 2004) define a humanização em
saúde nas seguintes palavras:
Por humanização entendemos a valorização dos diferentes sujeitos
implicados no processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e
gestores. Os valores que norteiam esta política são a autonomia e o
protagonismo dos sujeitos, a co-responsabilidade entre eles, o
estabelecimento de vínculos solidários e a participação coletiva no processo
de gestão [...] Um dos aspectos que mais tem chamado a atenção quando
da avaliação dos serviços é o despreparo dos profissionais para lidar com a
dimensão subjetiva que toda prática de saúde supõe. Ligado a esse
aspecto, um outro que se destaca é a presença de modelos de gestão
centralizados e verticais desapropriando o trabalhador de seu próprio
processo de trabalho. O cenário indica, então, a necessidade de mudanças.
Mudanças no modelo de atenção que não se farão, a nosso ver, sem
mudanças no modelo de gestão. (Brasil, 2004, p. 8-9).
A humanização do atendimento como política, tem a responsabilidade de
proporcionar mudanças nos princípios e modos de cuidar que envolvem o conjunto
das relações entre profissionais e usuários da área da saúde, caracterizando uma
construção coletiva na cultura e atenção aos usuários.
Segundo Diniz e Chachan (2002 apud Lopes 2016 p. 16) o movimento a
favor da humanização começa a se desenhar na década de 1950, por meio do
Movimento Feminista, que apresenta entre suas bandeiras, a humanização do
14
atendimento, ao questionar os valores instrumentais e masculinos da sociedade
industrial, criticar a medicalização do parto e a transformação do nascimento em
modelo biomédico que “trata o parto como um evento patológico e arriscado, que
utiliza tecnologia agressiva, invasiva e potencialmente perigosa”.
Como ética, a humanizaçãodeve tomar a defesa da vida como o eixo
principal de suas ações. De acordo com essa política, a humanização é um
processo amplo e constante que envolve mudanças no comportamento de pessoas
e instituições de cuidados com a saúde, sua implementação pressupõe eixos de
ação com o objetivo da apropriação dos resultados esperados pela sociedade.
2.2 A ESTRUTURA DA POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO (PNH)
A PNH é constituída por princípios, métodos, diretrizes e dispositivos, sendo:
Os princípios da Política Nacional de Humanização (2004), a
Transversalidade, a Indissociabilidade entre atenção e gestão, o Protagonismo, a
Corresponsabilidade e a Autonomia dos sujeitos e coletivos.
A Transversalidade: Reconhecer que as diferentes especialidades e práticas
de saúde podem interagir com a experiência daquele que é assistido, é a
corresponsabilidade construída pelo conjunto de saberes envolvidos no atendimento
em saúde.
A Indissociabilidade entre a atenção e gestão: Entendendo que as decisões
da gestão interferem diretamente na atenção à saúde, todos os envolvidos no
cuidado e atendimento a saúde, devem conhecer o funcionamento da gestão dos
serviços e da rede de saúde, participar ativamente do processo das tomadas de
decisão nas organizações e nas ações de saúde coletiva, envolvendo não só as
equipes de trabalho, mas também os usuários e seus familiares.
O Protagonismo: A corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e coletivos,
é preciso reconhecer o papel de cada um como cidadãos de direito, valorizando a
vida e incentivando a participação e atuação nos processos que envolvem os
cuidados em saúde.
O método da PNH (2004) está baseado na tríplice inclusão: inclusão dos
diferentes sujeitos, sendo os gestores, os trabalhadores e usuários, na produção da
autonomia e do protagonismo através da corresponsabilidade nos processos, a
inclusão dos analisadores sociais, com a intenção de acolher e potencializar os
15
processos de mudança, com a análise coletiva de conflitos e da força crítica das
crises e a inclusão do coletivo, por movimentos sociais organizados ou dos
trabalhadores de saúde, com o fomento das redes.
Como diretrizes gerais da Política Nacional de Humanização (2004),
destacamos: Aumentar o diálogo entre os profissionais e a população e entre os
profissionais e a administração, organizar e regular o uso de medicamentos,
estimular o conceito de clínica ampliada, melhorar os sistemas de comunicação e
informação para promover o desenvolvimento pessoal, incentivar e valorizar a
jornada integral ao sistema único de saúde (SUS), o trabalho em equipe, a
participação em processos permanentes de educação e qualificação.
Os dispositivos descritos na PNH (2004) são; Grupo de Trabalho de
Humanização (GTH) e Câmara Técnica de Humanização (CTH), Colegiado Gestor,
Contrato de Gestão, Sistemas de escuta qualificada para usuários e trabalhadores
da saúde, Visita Aberta e Direito à Acompanhante, Programa de Formação em
Saúde do Trabalhador (PFST) e Comunidade Ampliada de Pesquisa (CAP), Equipe
Transdisciplinar de Referência e de Apoio Matricial, Projetos Co-Geridos de
Ambiência, Acolhimento com Classificação de Riscos, Projeto Terapêutico Singular,
Projeto de Saúde Coletiva e Projeto Memória do SUS que dá certo.
Dentre as prioridades da PNH (2004), temos: a redução das filas, a ampliação
do acesso aos serviços de saúde, o atendimento integral, acolhedor e resolutivo com
base em critérios de risco, possibilitar aos usuários conhecerem os profissionais e a
rede de serviços de seu território, além de uma educação permanente para que os
trabalhadores e usuários participem da gestão dos serviços.
Segundo Bettinelli, Waskievicz e Erdmann, (2006, p. 92) em seu artigo sobre
a “humanização do cuidado no ambiente hospitalar” diz que, no contexto atual, onde
o sistema de cuidados é influenciado pela busca de resultados em relação aos
ganhos financeiros, com possível diminuição da sensibilidade humana, existem dois
caminhos possíveis de humanização do cuidado, no primeiro, é preciso um
reposicionamento por parte dos profissionais de saúde e da sociedade para que a
vida seja valorizada e aconteça uma melhor compreensão do ser humano e do
processo de cuidado, com a reavaliação dos valores que foram fragmentados ao
longo do tempo, o outro caminho é fazer uma opção; em vez de continuar
mercantilizando a doença, cuidar realmente dos seres humanos, respeitar a sua
autonomia e a sua dignidade.
16
Ainda conforme os autores, a exigência de padronização e rigidez das
atividades em um cotidiano hospitalar, são fatores que podem levar a uma pouca
demonstração de sensibilidade e ainda a impessoalidade das relações, e nesse
mesmo cotidiano, o ser humano também vai poder exercitar variadas formas de
interação nas relações, tanto afetivas/sociais, como de trabalho.
Nessa perspectiva, os programas e projetos devem ser pensados para
facilitar a comunicação, o acesso aos tratamentos e o bem-estar dos profissionais
envolvidos para que consigam lidar com o processo saúde doença, seus conflitos e
frustrações considerando a individualidade dos sujeitos, sejam estes pacientes ou
trabalhadores da área de saúde.
O Ministério da Saúde criou o "HumanizaSUS'' em 2003, apostando na
inclusão dos trabalhadores, usuários e gestores na produção e também na gestão
do cuidado e seus respectivos processos de trabalho em saúde, orientados por
princípios e diretrizes.
O caderno “HumanizaSUS” (Brasil, 2004, p. 7) destaca que:
Como política, a Humanização deve, portanto, traduzir princípios e modos
de operar no conjunto das relações entre profissionais e usuários, entre os
diferentes profissionais, entre as diversas unidades e serviços de saúde e
entre as instâncias que constituem o SUS. O confronto de ideias, o
planejamento, os mecanismos de decisão, as estratégias de implementação
e de avaliação, mas principalmente o modo como tais processos se dão,
devem confluir para a construção de trocas solidárias e comprometidas com
a produção de saúde, tarefa primeira da qual não podemos nos furtar. De
fato, nossa tarefa se apresenta dupla e inequívoca, qual seja, a da produção
de saúde e a da produção de sujeitos. (Brasil, 2004, p.7).
Em seu folheto de divulgação, o “HumanizaSUS” traz a informação de que
busca transformar as relações de trabalho a partir da ampliação do grau de contato
e da comunicação entre as pessoas e grupos, tirando-os do isolamento e das
relações de poder hierarquizadas.
A PNH (2010) diz que estas orientações são clínicas, políticas e éticas e
tomam sentido no acolhimento, na clínica ampliada, na democracia das relações, na
valorização do trabalhador, na garantia dos direitos dos usuários e no fomento de
redes.
É nesta articulação entre princípios, método e diretrizes que os processos de
formação têm sido propostos e organizados. As diretrizes dos processos de
formação da PNH se assentam no princípio de que a formação é inseparável dos
17
processos de mudanças, ou seja, que formar é, necessariamente, intervir, e intervir é
experimentar em ato as mudanças nas práticas de gestão e de cuidado, na direção
da afirmação do SUS como política inclusiva, equitativa, democrática, solidária e
capaz de promover e qualificar a vida do povo brasileiro. (Brasil, 2010, p. 8).
Para a humanização dos serviços de saúde, a PNH ressalta ainda
importância de estimular a comunicação entre gestores, trabalhadores e usuários na
construção de processos coletivos para enfrentar as relações de poder, trabalho e
afeto que muitas vezes acabam produzindo atitudes e práticas desumanizadoras;
onde: “Humanizar se traduz, então, como inclusão das diferenças nos processos de
gestão e de cuidado. Tais mudanças são construídas não por uma pessoa ou grupo
isolado, mas de forma coletiva e compartilhada. Incluir para estimular a produção de
novos modos de cuidar e novas formas de organizar o trabalho”. (PNH, 2013, p. 4).
A humanização do atendimento em saúde em um hospital de alta
complexidaderefere-se não só aos cuidados com os pacientes, mas também com
os responsáveis pelo cuidado, sejam eles os profissionais da área da saúde ou os
funcionários da instituição que estão envolvidos nos processos de administração,
manutenção e atendimento.
Pessini (2006) ressalta que a humanização das instituições de saúde está
relacionada também com a humanização da sociedade como um todo, pois uma
sociedade violenta, iníqua e excludente, acaba por interferir em todo contexto destas
instituições. Sobre humanizar o cuidar, ele diz que:
O cuidar humanizado implica, por parte do cuidador, a compreensão do
significado da vida, a capacidade de perceber e compreender a si mesmo e
ao outro, situado no mundo e sujeito se sua própria história. A humanização
no atendimento exige dos profissionais da saúde, essencialmente,
compartilhar com seu paciente experiências e vivências que resultem na
ampliação do foco de suas ações, via de regra restritas ao cuidar como
sinônimo de ajuda às possibilidades da sobrevivência. Em outras palavras,
exercer na prática o re-situar das questões pessoais num quadro ético, em
que o cuidar se vincula à compreensão da pessoa em sua peculiaridade e
em sua originalidade de ser. (Pessini, 2006, p.3).
Nessa perspectiva, a mudança deve acontecer também nas relações entre
equipes profissionais, gestores e usuários dos serviços, trazendo a
corresponsabilidade do cuidado que vai afetar a cultura da atenção em saúde nos
processos de trabalho, desta forma, todas as propostas contidas na PNH precisam
18
ser pensadas dentro de um contexto de mudanças socioculturais, de mudanças nos
processos de formação e de gestão.
O Hospital Irmã Dulce na gestão da SPDM vem expandindo sua área de
atuação, com projetos em desenvolvimento na área da Assistência Social. Assim
contribuindo de forma efetiva para a melhoria contínua dos serviços prestados pelo
Sistema Único de Saúde do Brasil, visando principalmente garantir a universalidade
e as oportunidades de acesso à saúde, necessárias ao desenvolvimento humano e
social do cidadão. Para tanto, associa a tecnologia com atendimento médico de
qualidade, respaldado por equipes multiprofissionais, formadas por enfermeiros,
fisioterapeutas, farmacêuticos, nutricionistas, fonoaudiólogos, bioquímicos,
psicólogos, tecnólogos, assistentes sociais e dentistas, entre outros.
Uma dessas mudanças é o Programa de Atenção Integral à Saúde (PAIS)
iniciou suas atividades no ano de 2001 no município de São Paulo, se estendendo
para outros municípios e estados. Desde o início de suas atividades, o PAIS busca,
em parceria com a gestão pública, o crescimento e a consolidação dos serviços de
saúde ofertados aos usuários do SUS.
O Programa foi implantado no Hospital Irmã Dulce no início de 2019 e tem
como objetivo garantir mudanças nos indicadores e na qualidade de vida da
população, pautado, entre outros, pelos princípios da integralidade e da equidade,
com uma visão estratégica da gestão dos serviços de saúde, definida em um
processo de aprimoramento contínuo.
Entre os projetos de humanização implantados no Hospital Irmã Dulce estão
a Visita Aberta, a Terapia Assistida por Animais (chamada Pet Terapia) e a
comemoração de datas festivas.
Para a implantação da Visita Aberta, que faz parte das diretrizes da Política
Nacional de Humanização do SUS, a direção do hospital realizou reunião com as
chefias de Enfermagem de todas as unidades. O objetivo foi sensibilizar as equipes
sobre a importância deste avanço e coordenar o fluxo de visitantes nos cinco
andares. Outros setores, como Hotelaria, Recepção, Vigilância e Serviço Social,
também participaram.
O Hospital Municipal Irmã Dulce aceitou a proposta encaminhada pela
Comissão de Humanização e instituiu a Visita Aberta em março de 2010 para seus
pacientes. O benefício atinge setores como Maternidade, Clínica Geral, Clínica
19
Cirúrgica, Pediatria e Psiquiatria. Estes espaços passam a receber visitas todos os
dias das 8 às 20 horas.
A flexibilidade no horário atinge também pacientes das Unidades de Terapia
Intensiva (UTI) Neonatal, Pediátrica e Adulto. As visitas podem ser feitas das 15 às
20 horas, considerando a necessidade de adequação especial do fluxo de pessoas
nesses ambientes.
Antes da implantação da Visita Aberta, os visitantes tinham apenas um
horário de visita, que já havia sido ampliado para dois, manhã e tarde, de uma hora
cada. Nas UTIs eram dois horários, tarde e noite, de meia hora cada.
O acompanhante não conta como visita e que cada paciente poderá receber
um visitante por vez, para que a quantidade de pessoas junto aos leitos não
prejudique o atendimento. Na Maternidade, os pais já têm fluxo livre para conhecer
seus filhos a qualquer hora. O mesmo ocorre com pais de bebês e crianças
internadas nas UTIs Neonatal e Pediátrica. Por lei, menores de 12 anos e maiores
de 60 precisam ter acompanhantes.
Um dos projetos mais bem sucedidos na área de humanização implantados
no Hospital Irmã Dulce é a Pet Terapia ou Terapia Assistida por Animais. Iniciado em
2012 se tornou programa em outubro de 2013 com a atuação da ONG Cão Amor.
A Pet Terapia é uma interação entre pessoas e animais como ferramenta de
estímulo. As propostas são: Atividade Assistida por Animais (AAA) e Terapia
Assistida por Animais (TAA). Na AAA, a proposta é a recreação dos pacientes por
meio de atividades onde o cão apenas os distrai, servindo como terapia, uma vez
que os tratamentos são cansativos e dolorosos. Na TAA, o animal ajuda no
tratamento, servindo como instrumento e estímulo para a realização dos
movimentos. Os voluntários do projeto Cão Amor realizam visitas a cada 15 dias aos
pacientes do hospital. O programa conta com cerca de 20 voluntários e 12 cães, de
várias raças. Os cães recebem adestramento e são avaliados pelos adestradores e
veterinários parceiros do projeto.
3.HOMEM E SOCIEDADE
Keesing e Strathern (1998) definem uma sociedade como compreendendo
“Um sistema social total cujos membros compartilham uma linguagem e tradição
cultural comuns” as quais geralmente a diferenciam das populações circundantes.
20
As fronteiras entre as sociedades algumas vezes são vagas, mas em geral cada
uma tem sua própria identidade territorial e política. A maioria das sociedades está
tornando-se cada vez mais diversificada devido à imigração e a outros fatores. Ao
estudar qualquer sociedade, os antropólogos investigam como os seus membros se
organizam em vários grupos, hierarquias e papéis. Essa organização é revelada em
sua ideologia e religião dominantes, em seus sistemas políticos e econômicos, nos
tipos de ligações que o parentesco ou a residência próxima criam entre as pessoas,
em suas hierarquias de poder e prestígio e na divisão do trabalho entre pessoas de
diferentes origens e gêneros. As regras que indicam a organização de uma
sociedade e a forma como ela é simbolizada e transmitida fazem parte da cultura
dessa sociedade.
O campo da antropologia apresenta vários ramos de estudo. A antropologia
física também conhecida como biologia humana é o estudo da evolução da espécie
humana e preocupa-se em explicar as causas da atual diversidade das populações
humanas. Em sua investigação da pré-história humana, a antropologia física usa as
técnicas da arqueologia, da paleontologia, da genética e da sorologia, bem como o
estudo do comportamento dos primatas e a ecologia. A cultura material trata da arte
e dos artefatos do gênero humano, tanto no presente quanto no passado. Ela
abrange os estudos das artes, dos instrumentos musicais, das armas, das roupas,
das ferramentas e dos implementos agrícolas de diferentes populações e de todos
os outros aspectos da tecnologia que os seres humanos utilizam para controlar,
moldar, explorar e melhorar os seus ambientes sociais ou naturais. A antropologia
social e a cultural tratam, respectivamente, do estudo comparativo das sociedades
humanas contemporâneas e dos seus sistemas culturais, embora haja uma
diferença na ênfaseentre essas duas abordagens.
No Reino Unido, a antropologia social é a abordagem dominante e enfatiza as
dimensões sociais da vida humana. Ela vê as pessoas como animais sociais,
organizados em grupos que regulam e perpetuam a si mesmos, e é a experiência da
pessoa como membro da sociedade que molda sua visão de mundo. Nesta
perspectiva, a cultura é vista como um dos modos pelos quais o homem organiza e
legitima sua sociedade, fornecendo a base para sua organização social, política e
econômica. Nos Estados Unidos, a antropologia cultural concentra-se mais nos
sistemas de símbolos, idéias e significados que compreendem uma cultura e dos
quais a organização social é apenas uma expressão. Na prática, as diferenças na
21
ênfase entre a antropologia social e a cultural fornecem perspectivas valiosas e
complementares sobre dois aspectos centrais: como os grupos humanos se
organizam e como eles encaram o mundo em que habitam. Em outras palavras, ao
estudar um grupo de seres humanos, é necessário estudar as características tanto
de sua sociedade como de sua cultura.
3.1 O CONCEITO DE CULTURA
Para Tylor (1871) cultura é definida como “Aquele complexo integral que inclui
conhecimento, crenças, arte, moral, leis, costumes e quaisquer outras capacidades
e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”.
Spencer-Oatey (2012) diz que cultura é “Um conjunto difuso de premissas e
valores fundamentais, orientações para a vida, crenças, políticas, procedimentos e
convenções comportamentais que são compartilhadas por um grupo de pessoas e
que influenciam (mas não determinam) o comportamento de cada membro e suas
interpretações do “significado” do comportamento de outras pessoas”.
Keesing e Strathern (1998) em sua definição, destacam o aspecto ideacional
da cultura. Isto é, as culturas compreendem “sistemas de idéias compartilhadas,
sistemas de conceitos e regras e significados que subjazem e são expressos nas
maneiras como os seres humanos vivem”.
A partir dessas definições, pode-se ver que a cultura é um conjunto de
orientações (tanto explícitas quanto implícitas) que os indivíduos herdam como
membros de uma sociedade particular, as quais lhes influenciam como ver o mundo,
como experimentá-lo emocionalmente como se comportar em relação a outras
pessoas, às forças sobrenaturais ou aos deuses e ao ambiente natural. Ela também
fornece aos indivíduos um modo de transmitir essas orientações para a próxima
geração pelo uso de símbolos, linguagem, arte e rituais.
Para Helman (2009) a cultura pode ser encarada como uma “lente” herdada
através da qual o indivíduo percebe e compreende o mundo em que habita e
aprende a viver dentro dele. Crescer dentro de qualquer sociedade é uma forma de
enculturação, que é o processo através do qual uma pessoa aprende as exigências
da cultura na qual ela está inserida, e adquire valores e comportamentos que são
tidos como apropriados ou necessários naquela cultura.
22
Dessa forma o indivíduo lentamente adquire a sua “lente”. Sem este tipo de
percepção compartilhada do mundo, tanto a coesão como a continuidade de
qualquer grupo humano seriam impossíveis.
Segundo Weaver (1986) a cultura pode ser analisada em diferentes camadas,
como um iceberg. A parte mais superficial, a parte “visível” da cultura, seria o
comportamento humano. Aquilo que se exterioriza e que é possível observar, no
entanto, muitas vezes é difícil de interpretar, como expressões artísticas, modo de
comer, vestir e se relacionar com os outros. O segundo nível, já submerso, seria a
motivação para determinado comportamento e está relacionada a normas, objetivos
e valores. Seria a interpretação que as próprias pessoas fazem de seu
comportamento, e portanto consciente, podendo ser acessada por meio do diálogo.
Mas, para de fato entender uma cultura, é necessário ir ainda mais profundo e
alcançar as motivações ocultas nas quais os valores e normas se baseiam. São
premissas fundamentais, relacionadas ao que as pessoas entendem sobre a
natureza humana, relacionamentos humanos, educação de filhos, conceito de tempo
e espaço, o que é bom ou ruim, certo ou errado, aceitável ou inaceitável. Crenças
acerca do que é a natureza e a causa das doenças ou do bem-estar.
Outro aspecto crucial da “lente” de qualquer cultura é a divisão do mundo e
das pessoas dentro dele em diferentes categorias, cada uma com seu próprio nome.
Por exemplo, todas as culturas dividem seus membros em diferentes categorias
sociais como homens ou mulheres, crianças ou adultos, jovens ou velhos,
conhecidos ou estranhos, de classe alta ou baixa, capazes ou incapazes, normais
ou anormais, belos ou feios, loucos ou maus, saudáveis ou doentes. Todas as
culturas possuem maneiras elaboradas de mover as pessoas de uma categoria
social para outra (como de “pessoa doente” para “pessoa saudável”) e de confiná-las
algumas vezes contra a sua vontade dentro de categorias nas quais foram
colocadas (como “louco”, “incapacitado” ou “idoso”).
Leach (1976) destaca que praticamente todas as sociedades possuem mais
de uma cultura dentro de suas fronteiras. Por exemplo, a maioria das sociedades
tem alguma forma de estratificação social em classes sociais, castas ou categorias,
e cada estrato é marcado pelos seus próprios atributos culturais distintos, incluindo
uso da linguagem, costumes, estilos de vestir, padrões de alimentação e moradia e
assim por diante. Ricos e pobres, poderosos e destituídos de poder, cada um terá
herdado sua própria perspectiva cultural. Até certo ponto, tanto os homens quanto
23
as mulheres podem ter suas próprias “culturas” distintas dentro da mesma
sociedade, e espera-se que sigam diferentes normas e atendam a diferentes
expectativas. Crianças, adultos e idosos estão todos sujeitos às diferentes regras de
comportamento e possuem diferentes visões de mundo. Além dos estratos sociais,
pode-se observar que, embora as sociedades complexas mais modernas, como as
na América do Norte e na Europa ocidental, possuem suas próprias tradições
culturais exclusivas, elas agora incluem, dentro de suas fronteiras, minorias
religiosas e étnicas, turistas, estudantes estrangeiros, imigrantes recentes,
refugiados políticos e trabalhadores migrantes, cada um com sua própria cultura.
Muitos desses grupos sofrerão um certo grau de aculturação (processo de
modificação cultural de indivíduo, grupo ou povo que se adapta a outra cultura ou
dela retirar traços significativos) com o tempo enquanto incorporam alguns dos
atributos culturais da sociedade maior, mas não outros. Além disso, cada vez mais
seguidores de diferentes religiões novas, cultos e estilos de vida estão surgindo na
maioria das sociedades ocidentais, cada um com sua própria visão exclusiva de
mundo.
Uma subdivisão da cultura dentro de sociedades complexas é vista nas várias
subculturas profissionais existentes, como medicina, enfermagem, direito ou
profissões militares. Em cada caso, estas pessoas formam um grupo à parte, com
seus próprios conceitos, regras e organização social. Embora cada subcultura tenha
se desenvolvido a partir da cultura maior e compartilhe muitos de seus conceitos e
valores, ela também possui características próprias exclusivas e distintas. Os
estudantes nessas profissões sobretudo em medicina e enfermagem também
sofrem uma forma de enculturação ao adquirir, gradualmente, a “cultura” da carreira
escolhida. Ao fazê-lo, eles também adquirem uma perspectiva de vida muito
diferente da que têm aqueles que estão fora da profissão. No caso da profissão
médica, sua subcultura também reflete muitas das divisões sociais e dos
preconceitos da sociedade maior e isso pode interferir com os cuidados de saúde e
com a comunicação médico-paciente ou enfermeiro-paciente.
Tudo isso significa que as sociedades mais complexas nunca são
homogêneas e são hoje uma “colcha de retalhos” de diferentes subculturas, com
diferentes visões de mundo coexistindo algumas vezes de modo desconfortável
dentrodo mesmo território. Assim, a “cultura” é um conceito cada vez mais fluido
que, na maioria das sociedades, está sofrendo um processo constante de mudança
24
e adaptação. Pode-se dizer que, agora, muitos indivíduos, famílias e mesmo
comunidades ocupam duas ou mesmo mais culturas ao mesmo tempo. Este
biculturalismo (e com frequência bilinguismo) é especialmente verdadeiro para os
migrantes novos, nos quais a cultura tradicional da primeira geração muitas vezes
coexiste com as culturas bastante diferentes adquiridas pelos seus filhos e netos.
3.1.1 O CONTEXTO DA CULTURA
De modo geral, portanto, a origem cultural tem uma influência importante em
muitos aspectos da vida das pessoas, incluindo crenças, comportamento,
percepções, emoções, linguagem, religião, rituais, estrutura familiar, dieta, modo de
vestir, imagem corporal, conceitos de espaço e de tempo e atitudes em relação à
doença, dor e outras formas de infortúnio todos podendo ter importantes implicações
para a saúde e os cuidados de saúde.
Porém, a cultura em que você nasceu, ou na qual você vive, nunca é a única
influência. Ela é apenas uma de várias influências sobre as crenças e os
comportamentos relacionados à saúde, que incluem: fatores individuais (como
idade, gênero, tamanho, aparência, personalidade, inteligência, experiência, estado
físico e emocional); fatores educacionais (tanto educação formal quanto informal,
inclusive educação em uma subcultura religiosa, étnica ou profissional); fatores
socioeconômicos (como pobreza, classe social, status econômico, ocupação ou
desemprego, discriminação ou racismo, bem como redes de suporte social de outras
pessoas); fatores ambientais (como clima, densidade populacional ou poluição do
habitat, mas incluindo também tipos de infraestrutura disponível, como moradia,
estradas, pontes, transporte público e serviços de saúde).
Em qualquer caso particular, além disso, todos esses fatores vão
desempenhar algum papel, mas em proporções diferentes. Assim, em algumas
situações dependendo do contexto as pessoas agem mais “culturalmente” do que
em outras. Em outras ocasiões, seu comportamento pode ser determinado mais pela
sua personalidade, pelo status econômico, por algo em que a educação os ensinou
a acreditar ou pelas características do ambiente em que vivem.
25
3.1.2 A CULTURA NO COTIDIANO
O conceito de cultura em si tem sido algumas vezes incompreendido ou
mesmo usado de forma errada. Por exemplo, as culturas nunca são homogêneas, e
assim, deve-se sempre evitar usar generalizações ao explicar as crenças e os
comportamentos das pessoas. Não se pode fazer generalizações amplas sobre os
membros de qualquer grupo humano sem levar em conta o fato de que as
diferenças entre os membros do grupo podem ser tão marcantes como aquelas
entre os membros de diferentes grupos culturais. Dessa forma, deve-se diferenciar
entre as regras de uma cultura, que determinam como alguém deveria pensar e se
comportar, e a forma como as pessoas realmente se comportam na vida real.
As generalizações também podem ser perigosas, pois frequentemente levam
ao desenvolvimento de estereótipos e então a equívocos culturais, preconceitos e
discriminação. Outra razão para não generalizar é que as culturas nunca são
estáticas, elas geralmente são influenciadas pelos outros grupos humanos em torno
delas e, na maior parte do mundo, estão em um processo constante de adaptação e
mudança. Cada vez mais isso se deve à globalização econômica e ao crescimento
dos sistemas de comunicação global como rádio, televisão e internet, bem como às
viagens aéreas, ao turismo de massa e ao aumento dos níveis de migração.
Para algumas comunidades de migrantes, isso pode significar que o
relacionamento previamente íntimo entre sua cultura e sua área geográfica de
origem torna-se mais fraco com o tempo à medida que eles gradualmente são
assimilados em outro ambiente cultural. Para outros, porém, a escolha pode ser a
tentativa de manter o máximo possível de sua identidade original, por exemplo,
usando sempre a língua materna em casa, consumindo seus alimentos tradicionais
e assistindo aos programas de televisão por satélite somente de seu país natal.
Tudo isso significa que agora é difícil generalizar sobre os grupos culturais,
especialmente em sociedades mais complexas. Nesta era moderna de fluxo
constante e movimento populacional, o que é verdadeiro sobre a cultura de um
grupo particular em um ano pode não ser verdadeiro no ano seguinte.
Assim, a visão moderna da cultura é destacar a importância de considerá-la
sempre dentro de seu contexto particular. Esse contexto é composto de elementos
históricos, econômicos, sociais, políticos e geográficos e significa que a cultura de
qualquer grupo de pessoas, em qualquer ponto particular no tempo, é sempre
26
influenciada por muitos outros fatores. Portanto, pode ser impossível isolar as
crenças e os comportamentos culturais “puros” do contexto social e econômico em
que eles ocorrem. Por exemplo, as pessoas podem agir de um modo particular
(consumir certos alimentos, viver em uma casa com muitas pessoas ou não ir ao
médico quando adoecem) não porque seja parte de sua cultura fazer isso, mas
porque simplesmente são pobres demais para agir de outra forma. Elas podem ter
altos níveis de ansiedade em suas vidas diárias não porque sua cultura as torna
ansiosas, mas porque estão sofrendo discriminação ou perseguição por outras
pessoas. Portanto, ao compreender saúde e doença, é importante evitar “culpar a
vítima", isto é, ver a má saúde de uma população como o resultado exclusivo de sua
cultura em vez de considerar também sua situação econômica ou social particular.
No cuidado clínico, o mau uso do conceito de cultura pode ocorrer quando
sua influência é enfatizada excessivamente na interpretação de como algumas
pessoas apresentam seus sintomas aos profissionais de saúde. Os sintomas ou
alterações de comportamento podem ser atribuídos à “cultura” de uma pessoa
quando na verdade são causados por um distúrbio físico ou mental subjacente. Por
exemplo, as doenças físicas do cérebro (como tumores ou encefalite) podem ser
confundidas com doença mental em certos contextos culturais e sociais. Weiss
(1988) descreveu que, na Índia e em outros lugares, alguns casos de malária
cerebral foram erroneamente diagnosticados como doença mental. Outro mau uso
sério do conceito ocorre quando o comportamento antissocial perigoso ou mesmo
homicida de um indivíduo é atribuído à sua “cultura” quando na verdade não tem
relação.
Os fatores econômicos e a desigualdade social são algumas das causas mais
importantes de má saúde, pois a pobreza pode resultar em desnutrição, condições
de vida em aglomerações, roupas inadequadas, níveis ruins de educação, casa ou
trabalho situados em áreas com riscos ambientais maiores (como nas proximidades
de fábricas que produzem resíduos tóxicos), bem como exposição à violência física
e psicológica, estresse psicológico e abuso de drogas e álcool. A distribuição
desigual de riqueza e recursos e de acesso aos serviços de saúde tanto entre os
países quanto dentro de cada país também pode levar a esta situação.
Segundo Gomes e Marli (2018), desde que se tem registro, o Brasil ocupa
uma posição de destaque quanto à desigualdade social. Aproximadamente 30% da
renda do Brasil está nas mãos de apenas 1% dos habitantes. Essa desigualdade
27
tem raízes históricas no processo de colonização e repercute na maioria dos
problemas enfrentados pela população hoje, inclusive na falta de acesso a serviços
de saúde.
A declaração de Alma-Ata (1978) previa saúde para todos até 2000. No
entanto, já se passaram vários anos e metade da população mundial ainda não tem
acesso a nenhum tipo de serviço de saúde. Mesmo num país como o Brasil, que
ainda oferece um sistema de saúde universal e gratuito, populações minoritárias,
seja por etnia, identidade de gênero, orientação sexual ou condição socioeconômica,
ainda enfrentam barreirasde acesso a esses serviços e apresentam piores
indicadores de saúde. As pessoas negras, por exemplo, têm pior autoavaliação de
saúde e estão mais expostas a viver em domicílios com condições precárias quando
comparadas à população hegemônica branca. Além disso, sofrem mais com a falta
de equilíbrio nas relações de poder na dinâmica médico-paciente, muitas vezes por
preconceito e falta de treinamento desses profissionais para atuar com pessoas de
diferentes cenários culturais.
O reconhecimento das características culturais dos grupos sociais e de suas
diferentes necessidades e concepções do processo saúde-doença é, segundo
Starfield (2002) um importante atributo derivado da atenção primária: a competência
cultural. Por meio desse atributo é possível desenvolver laços fortes com as pessoas
e famílias alvo dos cuidados em saúde, obtendo-se maior satisfação, diagnósticos
mais precisos e maior adesão ao tratamento. Apesar dos esforços do governo
federal para diminuir a desigualdade em saúde mediante políticas públicas com o
Programa Mais Saúde (2006) como a Política Nacional de Saúde Integral da
População Negra, Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e
da Floresta, Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis e Transexuais, Política Nacional para a População em Situação de Rua e
antes mesmo, por meio da criação de um Subsistema de Saúde Indígena (1992), às
normativas ainda são incapazes de garantir que a cultura seja utilizada como um
critério para a consolidação de práticas que valorizem as diversas interpretações e
modos de intervenção na área da saúde. Nesse contexto, fica evidente a
necessidade de treinamento adequado dos profissionais de saúde para o
desenvolvimento da competência cultural.
Também no mundo em desenvolvimento, qualquer que seja a cultura local, a
má saúde geralmente está associada à baixa renda e pobreza, pois esta influencia o
28
tipo de alimento, água, roupas, saneamento, moradia e cuidados médicos pelos
quais as pessoas podem pagar. As disparidades de saúde e o ambiente físico em
que as comunidades mais pobres vivem podem ter um impacto direto em sua saúde,
resultando, por exemplo, em uma incapacidade de pagar por um suprimento de
água potável ou pela coleta de esgotos adequada.
Outro fator é o grau de coesão social existente, e o fato de o indivíduo estar
envolvido em redes de suporte de família, amigos ou colegas de trabalho. Em nível
nacional, Marmot (2004) observa que as sociedades caracterizadas pela alta coesão
social, quer sejam ricas ou pobres, “têm saúde melhor do que outras com a mesma
riqueza porém menor coesão social”.
De modo geral a “cultura” não pode nem deve ser considerada em um vácuo.
A cultura “pura” dificilmente existe, é apenas um componente de uma mistura
complexa e diversificada de fatores que exercem influência sobre as crenças das
pessoas, sobre a forma como elas vivem o seu cotidiano e sobre sua saúde e
doença.
3.2 ANTROPOLOGIA MÉDICA
Embora a antropologia médica seja um ramo da antropologia social e cultural,
suas raízes também se situam profundamente dentro da medicina e de outras
ciências naturais, pois está relacionada com uma ampla variedade de fenômenos
biológicos, sobretudo em relação à saúde e à doença.
Foster e Anderson (1978) a define como “uma disciplina biocultural voltada
tanto para os aspectos biológicos como para os aspectos socioculturais do
comportamento humano e particularmente, para a maneira como os dois interagiram
ao longo da história humana para influenciar a saúde e a doença”.
Segundo Helman (2009) os antropólogos que estudam a faixa sociocultural
deste espectro têm indicado que, em todas as sociedades humanas, as crenças e
práticas relativas aos problemas de saúde são uma característica central da cultura.
Frequentemente, elas estão ligadas às crenças sobre a origem de uma variedade
muito maior de infortúnios (incluindo acidentes, conflitos interpessoais, desastres
naturais, quebras de safra, roubos e perdas), dos quais a má saúde é apenas uma
forma. Em algumas sociedades, todo o espectro desses infortúnios é atribuído às
29
forças sobrenaturais, à retribuição divina ou à malevolência de um bruxo ou
feiticeiro.
Os valores e costumes associados à má saúde são parte da cultura mais
ampla e com certeza não podem ser estudados isoladamente. Não se pode de fato
compreender como as pessoas reagem à doença, à morte ou a outros infortúnios
sem uma compreensão do tipo de cultura em que elas cresceram ou que adquiriram,
isto é, das “lentes” através das quais elas percebem e interpretam seu mundo. Além
do estudo da cultura, também é necessário examinar a organização social da saúde
e da doença na sociedade (o sistema de cuidados de saúde), que inclui a forma
como as pessoas são reconhecidas como doentes, o modo como elas apresentam
essa doença a outras pessoas, os atributos daqueles a quem elas apresentam sua
doença e as maneiras pelas quais a doença abordada.
Este grupo de “curadores” ou “agentes de cura” é encontrado em diferentes
formas em todas as sociedades humanas. Helman (2009) relata que os
antropólogos estão particularmente interessados nas características desse grupo
social especial: seleção, treinamento, conceitos, valores e organização interna. Eles
também estudam o modo como essas pessoas se ajustam no sistema social como
um todo: sua posição na hierarquia social, seu poder econômico ou político e a
divisão do trabalho entre eles e outros membros da sociedade. Em alguns grupos
humanos, os agentes de cura desempenham outros papéis além de suas funções de
cura, eles podem agir como “integradores” da sociedade, verificando regularmente
os valores dela ou como agentes de controle social, ajudando a marcar e a punir
comportamentos socialmente desviantes .
Seu foco pode não ser apenas o indivíduo doente, e sim sua família,
comunidade, vila ou tribo “doentes”. Assim, ao estudar como esses indivíduos em
uma dada sociedade percebem e reagem à má saúde e os tipos de cuidados de
saúde que eles fornecem, é importante saber algo sobre os atributos culturais e
sociais da sociedade em que eles vivem. Esta é uma das principais tarefas da
antropologia médica.
Na faixa biológica do espectro, a antropologia médica alimenta-se das
técnicas e dos achados da ciência médica e de seus vários campos subordinados,
incluindo a microbiologia, bioquímica, genética, parasitologia, patologia, nutrição e
epidemiologia. Em muitos casos, é possível ligar as alterações biológicas
encontradas com o uso dessas técnicas a fatores sociais e culturais em uma
30
sociedade particular. Por exemplo, uma doença hereditária transmitida por um gene
recessivo pode ocorrer com uma frequência maior em uma dada população devido à
sua preferência cultural pela endogamia (casamento somente dentro da própria
família ou do grupo local de parentesco). Para desvendar este problema, são
necessárias várias perspectivas: medicina clínica, para identificar a manifestação
clínica da doença; patologia, para confirmar a doença em nível celular ou
bioquímico; genética, para identificar e prever a base hereditária da doença e sua
ligação com um gene recessivo; epidemiologia, para mostrar sua alta incidência em
uma dada população em relação ao acúmulo de genes recessivos e certos
costumes de casamento; antropologia social ou cultural, para explicar os padrões de
casamento daquela sociedade e para identificar quem pode casar-se dentro dela.
A antropologia médica tenta resolver esse tipo de problema clínico utilizando
não somente os achados antropológicos, mas também aqueles das ciências
biológicas sendo, em outras palavras, uma “disciplina biocultural”.
3.3 COMPETÊNCIA CULTURAL
Nos últimos anos, o conceito de competência cultural tornou-se popular entre
os planejadores de saúde, bem como entre médicos e enfermeiros. Isso resultou,
em boa parte, no aumento da diversidade cultural e étnica da população e na
necessidade de melhorara comunicação com as minorias e os imigrantes, bem
como de melhorar a qualidade de seus cuidados médicos.
Para Anand e Lahiri (2010), competência cultural pode ser definida como a
“capacidade de realizar um cuidado efetivo, compreensivo e respeitoso, de maneira
compatível com as crenças e práticas culturais de saúde do usuário, e no idioma de
sua preferência”. Esse termo, criado no cenário americano, é o mais utilizado na
literatura, no contexto da saúde, para se referir à relação intercultural
médico-pessoa.
Campinha-Bacote (2002) define competência cultural como:
O processo pelo qual um profissional de saúde se empenha para se tornar
capaz de trabalhar adequadamente/efetivamente dentro do contexto cultural
da pessoa, família ou comunidade que necessita de seus cuidados. Sendo
resultado, antes de tudo, necessário haver um desejo/uma motivação
cultural para o desenvolvimento de consciência cultural, habilidades
culturais e encontros culturais. (Campinha-Bacote, 2002, p. 181-184).
31
Segundo Tervalon e Murray-García (1998), num contexto onde
generalizações, estereótipos, privilégios e racismo estão arraigados na sociedade, e
também presentes na relação médico-paciente, a competência cultural poderia ser
mais bem descrita como “humildade cultural”: “Um compromisso vitalício de
autoavaliação e autocrítica, para os desequilíbrios de poder existentes na relação
médico-paciente; desenvolver parcerias clínicas de benefícios mútuos; e advocacia
não paternalista com as comunidades, em nome de indivíduos e populações”.
Nessa concepção, a competência cultural possui seis componentes: mente
aberta, consciência de si,ausência de ego, autorreflexão, autocrítica e solidariedade.
Melhorar a sensibilidade dos profissionais de saúde às crenças culturais,
práticas, expectativas e origens de seus pacientes e suas comunidades (como as
crenças sobre as origens da má saúde, o papel maior da família em tomar decisões
relacionadas à saúde ou a preferência que têm algumas pacientes mulheres por
serem examinadas somente por um profissional de saúde do sexo feminino).
Melhorar o acesso aos cuidados de saúde, eliminando as barreiras estruturais
aos cuidados de saúde de qualidade para as minorias (fornecendo intérpretes,
dietas hospitalares de acordo com crenças religiosas, períodos de espera mais
curtos para consultas e materiais de educação em saúde culturalmente
apropriados). Também incluídas aqui estão as dificuldades que as minorias
encontram em obter consultas médicas regulares ou em ser encaminhadas a um
especialista.
Reduzir as barreiras organizacionais, como o pequeno número de
profissionais de saúde, administradores e elaboradores de políticas selecionados
dentre comunidades de minorias, os quais poderiam planejar serviços de saúde
mais apropriados culturalmente.
Outro aspecto da competência cultural é o consentimento informado para
tratamentos médicos, testes ou pesquisas. Essa noção moderna de apresentar
informação a um paciente esperando que ele a compreenda plenamente e então
decida por si mesmo se concorda ou não pode estar em conflito com os valores
culturais de alguns grupos étnicos. Indivíduos desses grupos podem recusar-se a
assinar um formulário de consentimento informado por serem analfabetos ou por
procederem de uma sociedade em que os compromissos verbais são altamente
considerados, e os contratos escritos merecem desconfiança. Eles também podem
não compartilhar das noções ocidentais de autonomia e individualidade, pelas quais
32
os indivíduos tomam decisões por si mesmos, para si mesmos, e não em nome de
um grupo.
Uma série de benefícios, assim, pode surgir do aumento da competência
cultural do profissional de saúde, que pode melhorar não somente a comunicação
médico-paciente, mas também a satisfação do paciente e a adesão (como menos
faltas a consultas). Ela também pode ter um impacto positivo no diagnóstico e no
tratamento das doenças, bem como uso adequado dos recursos médicos. Além
disso, a longo prazo, ela pode reduzir disparidades na saúde entre as minorias e a
população majoritária.
Para Helman (2009) apesar da utilidade óbvia do conceito de competência
cultural, é importante notar que ela não é um substituto para competência clínica.
Ser culturalmente competente não necessariamente significa que se é um bom
médico ou enfermeiro. A competência clínica é uma importante habilidade
complementar que deve ser adquirida por todos os profissionais de saúde, seja qual
for o contexto em que trabalhem. Além de lidar com uma população diversificada,
essa habilidade é essencial porque as relações entre os profissionais de saúde e
seus pacientes de qualquer origem muitas vezes podem ser descritas como um
“choque de culturas” em si.
De modo geral, a competência cultural nunca é suficiente para lidar com
disparidades de saúde dentro de uma sociedade. Como os cuidados de saúde
nunca ocorrem em um vácuo, todas as realidades sociais, culturais e econômicas
mais amplas da sociedade como suas relações de poder e desigualdades sempre
precisam ser levadas em conta ao se tentar melhorar os cuidados de saúde para
todos os setores da sociedade. Por fim, a competência cultural sempre exige
reflexão por parte dos profissionais de saúde: a capacidade de examinar
honestamente sua própria “bagagem” cultural, como preconceitos ou crenças
particulares que podem interferir com a administração bem-sucedida e humana dos
cuidados de saúde.
A diretriz primordial da Associação Paulista para o Desenvolvimento da
Medicina é sua inserção no sistema de saúde direcionada ao tratamento, prevenção
de doenças e à promoção da saúde primária, secundária e terciária, estreitando
laços com a comunidade local e reafirmando seu compromisso social de atender a
todos, sem discriminação.
33
A gestão da SPDM no Hospital Irmã Dulce oferece oportunidades de trabalho
para pessoas com deficiência física e intelectual com plano de carreira, auxiliando
na inclusão e no crescimento profissional.
Todas as ações e projetos desenvolvidos pela SPDM são pautadas na
missão institucional que é atuar com excelência na atenção à saúde sem
preconceito, distinção ou classificação dos cidadãos. Com base em princípios de
ética, transparência e integridade, a SPDM defende, preserva e promove um
conjunto de valores: capacitação; compromisso social; confiabilidade;
empreendedorismo; equidade; ética; humanização; qualidade; sustentabilidade
ecológica, econômica e social; tradição e transparência.
A SPDM em conjunto com os gestores locais contribui para a implantação de
programas de saúde e capacitação dos profissionais na busca de criar condições
para construção de um modelo de atenção à saúde participativo e solidário em um
modelo de gestão de serviços de saúde que busca a excelência de forma integrada.
4.PLANEJAMENTO FINANCEIRO E ORÇAMENTO
Os hospitais têm sido observados pela literatura como instituições complexas
que lidam com a vida do ser humano (Glouberman; Mintzberg; 1996). No entanto,
qual é o valor limite gasto para salvar uma vida? Essa decisão está diante dos
gestores dos hospitais, os quais trabalham com orçamentos em que os recursos são
escassos.
Essa complexidade se dá pela dificuldade de medir a qualidade do serviço
prestado devido à sua intangibilidade, aos métodos orçamentários não espelharem
essa qualidade, à dificuldade em estabelecer procedimentos para uma tarefa incerta,
tendo que confiar na cultura da instituição, na produção e no consumo do serviço,
com ocorrência simultânea e aparente dissociação entre área médica e área
administrativa (Pettersen, 1995; Pettersen; Nyland; 2006).
Os hospitais consomem quase a metade das despesas destinadas ao setor
da saúde (Rotta, 2004), no entanto, não é possível estabelecer um padrão de
financiamento destes, uma vez que são financiados por diversas fontes de receitas,
diversos convênios e contratos com o Sistema Único de Saúde (SUS), receitas
financeiras, entre outros (Bittar; Magalhães, 2010).
34Os hospitais conveniados com o SUS são remunerados considerando uma
tabela de pagamento preestabelecida, no entanto, há evidências que mostram que
esses valores são menores que o custo real quando se trata de procedimentos de
baixa complexidade, podendo chegar a 30% do custo mas, para alguns
procedimentos de alta complexidade (transplantes e cirurgias cardíacas, por
exemplo) as evidências apontam remuneração superior ao custo (La Forgia;
Couttolenc, 2009). Sendo assim, a complexidade de uma entidade hospitalar,
somada a fontes de recursos que podem não cobrir o gasto efetivo de determinado
procedimentos, faz com que a gestão desses hospitais se torne um desafio, uma vez
que, teoricamente, exige elevada eficiência quanto à gestão dos recursos (Bonacim;
Araujo, 2010).
É possível encontrar hospitais públicos gerenciados por meio de ferramentas
de gestão como orçamentos. Essa ferramenta refere-se a um plano que a
organização usa para obter e consumir recursos financeiros e não financeiros
durante um período de tempo (Lu, 2011). O orçamento pode ser usado como um
mecanismo de gestão, como forma de autorização a gestores para que gastem
determinada quantidade de recursos, como forma de planejamento e controle, como
uma ferramenta para influenciar o comportamento do gestor e motivar
financeiramente suas práticas de tomada de decisão, como forma de julgamento do
desempenho do gestor e cálculo de remuneração (Macinati, 2010). Sendo assim,
essa ferramenta poderia contribuir com a melhoria da gestão, desde que
incorporadas as características específicas da atividade.
Ainda na gestão hospitalar, há evidências da caracterização da separação
entre as atividades de gestão e atividades médicas (Lapsley, 2001). Por um lado há
a discussão sobre a liberdade média e por outro a limitação de recursos da entidade.
Enquanto no primeiro a decisão da alocação dos recursos ficaria com o próprio
médico, no segundo há a escassez de recursos devido à extensão dessa decisão
para pacientes com quadros clínicos semelhantes no presente e no futuro. (Preston;
Cooper; Coombs, 1992).
As pressões orçamentárias, com o objetivo de nortear a prática médica para
que o médico não renuncie à eficiência, seriam transmitidas pela hierarquia,
acompanhada de sanções caso houvesse o descumprimento, como um possível
meio de forçá-los a priorizar ou repensar suas prioridade entre a saúde e a
rentabilidade da organização (Georgescu; Naro, 2012).
35
Acrescenta-se a esses conflitos entre as atividades de gestão e médicas a
influência das escolhas intertemporais do gestor, pois a ferramenta orçamentária
com excessivo foco no curto prazo pode desencorajar ideias novas, cujas despesas
incorrem no longo prazo (Merchant, 1990; Liebermann; Ungar, 2002).
Alinhando a especificidade da fonte de recursos de cada hospital público,
como apontado por Bittar e Magalhães (2010), com o processo orçamentário
utilizado, somado a isso os desafios da gestão, e suas escolhas que envolvem o
bem-estar da vida humana e a finitude da vida, e considerando, também, as
particularidades do sistema de remuneração de um hospital público.
4.1 PLANEJAMENTO FINANCEIRO E CONTROLE HOSPITALAR
A função planejamento, no contexto da ciência administrativa, constitui-se em
uma das principais ferramentas à disposição dos gestores de qualquer área da
organização. Ela está presente em todos os níveis de decisão e, portanto,
reveste-se de grande importância para a concretização dos objetivos e metas
previamente estabelecidos, na busca do processo de continuidade dos negócios.
Mosimann e Fisch (1999, p. 45) conceitua o planejamento como sendo “a
determinação dos objetivos a serem atingidos e dos meios pelos quais esses
objetivos devem ser alcançados. É a ponte que serve de elo entre o estágio onde
estamos e o estágio para onde vamos”.
Para Sanvicente e Santos (1995, p.16) planejar é:
Estabelecer com antecedência as ações a serem executadas, estimar os
recursos a serem empregados e definir as correspondentes atribuições de
responsabilidades em relação a um período futuro determinado, para que
sejam alcançados satisfatoriamente os objetivos porventura fixados para
uma empresa e suas diversas unidades. (Sanvicente; Santos, 1995, p.16).
Dessa forma, o planejamento é permeado pelo estabelecimento de um
conjunto de procedimentos com vistas à operacionalização das ações
administrativas, tendo como base os objetivos a serem atingidos e a capacidade
organizacional em termos de recursos disponibilizados pelo fator capital. Assim, a
referida atividade precisa ser implementada por meio de técnicas e procedimentos
adequados ao modelo de gestão em que os agentes estão inseridos, sempre
alinhada com a missão e os valores característicos da organização .
36
Dentro de uma visão de emprego amplo, ou seja, envolvendo todos os níveis
da atividade administrativa, a atividade de planejamento, segundo discutido pela
maioria dos autores, é tratada, basicamente, em três níveis: estratégico, tático e
operacional.
Segundo Welsch (1983, p. 21), “O planejamento e controle de resultados
pode ser definido, em termos amplos, como um enfoque sistemático e formal à
execução das responsabilidades de planejamento, coordenação e controle da
administração”.
O autor especifica as referidas atividades da seguinte forma, assegurando
que elas envolvem a preparação e utilização de: objetivos globais e de longo prazo
da empresa; um plano de resultados em longo prazo; um plano de resultados em
curto prazo detalhado de acordo com diferentes níveis relevantes de
responsabilidade (divisões, produtos, projetos, etc.); e um sistema de relatórios
periódicos de desempenho, mais uma vez para os vários níveis de
responsabilidades.
Desta forma Welsch (1983), coloca a administração como o principal fator de
êxito da empresa em longo prazo. A empresa deve possuir um procedimento
sistemático regular, considerando a quantidade e a qualidade de seus recursos,
coletando informações sobre as condições do ambiente externo que a circunda.
Essas informações não apenas permitem uma elaboração mais realista de planos,
como também determina as ações corretivas com maior rapidez do que se fossem
comunicadas por meio de relatórios isolados.
A partir da constatação dessa realidade, o papel da controladoria passa a ter
destaque nas organizações. A controladoria, no processo de gestão das
organizações, tem o propósito de oferecer o devido suporte e apoio à consecução
dos objetivos institucionais. Mosimann e Fisch (1999, p.88) afirmam que:
A controladoria, assim como todas as áreas de responsabilidade de uma
empresa, deve esforçar-se para garantir o cumprimento da missão e a
continuidade da organização. Seu papel fundamental, nesse sentido,
consiste em coordenar os esforços para conseguir um resultado global
sinérgico, isto é, superior à soma dos resultados de cada área. (Mosimann;
Fisch, 1999, p.88).
37
A controladoria, conforme Catelli (1999), “deve atuar em todas as etapas do
processo de gestão da empresa, sob pena de não exercer adequadamente sua
função de controle e reporte na correção do planejamento”.
Assim, a controladoria, cuja função básica é prover e gerenciar informações
de suporte ao processo decisório, além de motivar e coordenar a ação dos diversos
gestores nas tomadas de decisões, reveste-se de fundamental importância dentro
do contexto de organizações.
Em um ambiente hospitalar, seja qual for a sua modalidade ou dimensão,
encontra-se presente uma grande diversidade de materiais, equipamentos, serviços
e profissionais, os quais exigem da administração a utilização de instrumentos
sofisticados de gestão e agentes altamente especializados para desempenhar a
administração dessa complexa organização.
Para atingir a sua missão, a controladoria é responsável pela execução das
seguintes atividades: desenvolvimento de condições para a realização da gestão
econômica; subsídio ao processo de gestão com informações em todas as suas
fases, gestão dos

Continue navegando