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TEXTOS COMPLEMENTARES DE FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS - SUMÁRIO O PONTO DE VISTA DA SOCIOLOGIA, p. 1 AS EMPRESAS NA MIRA DOS ATIVISTAS, p. 5 A TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL p. 8 PROCESSOS DE SOCIALIZAÇÃO EM UMA LOJA DE DEPARTAMENTOS, p. 11 A DIFÍCIL MUDANÇA NA USIMINAS, p. 13 O CASO DOS SERTANEJOS OPERÁRIOS, p.17 CHOQUES CULTURAIS NA FOXCONN, p. 18 AS PANELINHAS CORPORATIVAS, p. 19 ESTÁ DIFICIL ATRAIR A CLASSE C, p. 21 A IMAGEM SOCIAL DAS EMPRESAS, p. 25 GLOBALIZAÇÃO E TRABALHO, p. 28 A SUCESSÃO NA EMPRESA SILVA E SILVA, p. 30 Material complementar da disciplina Fundamentos Sociológicos da Administração Unigranrio – Agosto de 2012 1 O PONTO DE VISTA DA SOCIOLOGIA No século XVIII, a Europa vivia um dos mais importantes momentos de sua história, pois as sociedades deixavam de ser rurais e se transformavam em sociedades urbanas e industriais. Toda conjuntura política, econômica e cultural passava por modificações: novos métodos de produção geravam o aumento da produtividade e muitos trabalhadores foram substituídos por máquinas. A falta de empregos aliada à falta de infra-estrutura nas cidades, que absorviam grandes levas de camponeses, levou a um estado de caos social: aumento da miséria, criminalidade, degradação ambiental, fome, alcoolismo, prostituição e suicídio. A sociologia surgiu neste contexto, como uma tentativa de explicar e propor soluções para essa nova realidade em que o mundo vivia, sobretudo no campo social. Alguns dos primeiros sociólogos que estudaram a sociedade industrial contribuíram com idéias que até hoje são debatidas e influenciam o pensamento ocidental. Karl Marx, sociólogo surgido na Alemanha no século XIX, estudou as condições de vida da classe operária, denunciando a exploração destes trabalhadores no regime capitalista. Marx propôs uma outra forma de organização econômica e social, onde não existiam empresas privadas, a qual chamou de socialismo. Outro sociólogo alemão do período, Max Weber, estudou a evolução das indústrias e dos governos, mostrando o surgimento das burocracias. Com sua teoria da burocracia, Weber exerceu grande influência sobre a administração. Émile Durkheim, sociólogo francês, procurou analisar o fenômeno do suicídio, que havia se agravado muito nas sociedades industrializadas, mostrando que, longe de ser apenas uma escolha individual, o suicídio era influenciado por certas condições sociais em que viviam as pessoas que cometiam este ato. Desde então, a sociologia tem se dedicado a estudar o comportamento humano perante seu meio social, em busca de compreender as relações sociais que ocorrem na sociedade. Assim, a sociologia tornou-se reconhecida como a ciência da vida social humana, dos grupos e das sociedades. Seu nível de abrangência varia desde a análise das interações dos indivíduos situados em um micro contexto social, 2 como, por exemplo, uma rede constituída de amigos, uma família ou uma empresa, até a investigação de processos sociais de nível global. O ponto de vista central da sociologia sempre busca as conexões entre a realidade humana e a sociedade mais ampla na qual está inserida. Dentro desta perspectiva, as ações das pessoas não se devem somente aos desejos e escolhas individuais, mas também a fatos ligados à sociedade, como a posição social ocupada no grupo, os papéis a serem desempenhados, as normas, valores e padrões que caracterizam o ambiente social do qual fazem parte os indivíduos. O simples ato de se vestir, por exemplo, ainda que pareça um gesto isolado de um indivíduo em função de seus gostos e preferências pessoais, é uma ação carregada de influências sociais, pois está conectada a um contexto social que o indivíduo leva em conta para desenvolver suas ações. A roupa escolhida para ir a uma festa é geralmente diferente daquela escolhida para o primeiro dia de trabalho no novo emprego. Levamos em conta o que as pessoas vão pensar de nós, e também procuramos influenciá-las, tentando direcionar a imagem que formarão a nosso respeito. Nossas ações vão mudando conforme mudam as pessoas ao nosso redor, não só porque os indivíduos são diferentes uns dos outros, mas porque essas pessoas, através de suas interações, criam normas, padrões e expectativas que influenciam nosso comportamento. De modo semelhante, podemos observar que o modo como as empresas se organizam e atuam no mundo também sofre modificações de acordo com as normas, padrões e valores dos grupos e sociedades com os quais interage. Quando surgiram as indústrias no mundo, não existiam leis trabalhistas, nem códigos de defesa do consumidor, sendo comuns jornadas de trabalho de 14 horas diárias e modos de produzir que causavam danos terríveis às pessoas e ao meio ambiente. O trabalho infantil, durante muito tempo foi socialmente aceito como um fato “normal”. Na atualidade, fatos como estes podem destruir a imagem de uma empresa. O estudo destes aspectos constitui o foco de interesse da sociologia. Para esta ciência, os aspectos sociais devem ter prioridade na explicação da realidade em que vive o homem. 3 Ao analisar os fenômenos sociais, a sociologia produz uma compreensão de seus mecanismos de funcionamento, ajudando a prever e a controlar suas manifestações. As áreas de trabalho do sociólogo podem, por exemplo, incluir a coleta e análise de indicadores sobre a pobreza nas grandes cidades a fim de fornecer subsídios à elaboração de programas sociais para combatê-la. De modo semelhante, estudos sobre o estilo de vida de um determinado segmento da sociedade podem nortear a adoção de estratégias de marketing de uma empresa. A sociologia aplicada ao campo da administração compreende aspectos que afetam a organização, tais como comportamento humano no trabalho, comportamento do consumidor, dinâmica de grupos sociais, estruturas de poder, transformações sociais, entre outros, e o faz de uma perspectiva particular, enfocando a dimensão social e cultural destes fenômenos. Esta abordagem nos permite, por exemplo, entender que o indivíduo não é um ser isolado na organização, mas um ser que atua em contextos sociais formados por grupos (internos e externos à empresa), organizações, sociedades e culturas e assim compreender melhor o comportamento humano na organização a partir da influência destes fatores. Por exemplo, a Sociologia questiona a idéia de que a motivação para o trabalho é algo herdado ou que já nasce com a pessoa. Na ótica da Sociologia, a motivação é vista como fruto de uma série de situações sociais que ligam as pessoas a determinados padrões existentes na empresa como, por exemplo, o modo como os grupos interagem, as normas e valores que estes grupos praticam, a cultura que a empresa desenvolve, os padrões estabelecidos para o desempenho das funções e as formas de reconhecimento tanto por parte da empresa quanto por parte do grupo de trabalho. Estes fatores não podem ser resumidos às atitudes individuais, pois pertencem a uma esfera coletiva, que não é fruto do desejo individual e que boa parte das vezes não pode ser modificada por esta vontade. São por isso fatores que chamamos de sociais. Por isso, para que um indivíduo se motive, é preciso que sua situação social mude, por exemplo, que sua identidade profissional (o modo como seu trabalho é visto pelos outros) evolua positivamente, produzindo uma valorização da função. Na perspectiva da sociologia, o indivíduo não é um ser milagroso que consegue sozinho mudar radicalmente uma empresa, determinando seu sucesso ou 4 seu fracasso. Mesmo um líder bem sucedido não age de modo unilateral na organização. Max Weber nos mostra que um líder só pode ser bem sucedido na medida em que sua ação corresponde às aspirações do grupo, e não apenas a seu carisma individual. É exatamente esta ligação que lhe confere legitimidade, isto é, que faz o grupo aceitar sua liderança. Portanto, mesmo os atores considerados geralmente os mais importantes em uma empresa não são independentes dos grupos que lideram.Daí a importância de examinar a relação entre o líder e o contexto social composto pelos grupos existentes na organização: para agir sobre um grupo, o líder deve compreender suas expectativas e expressá-las. A análise destes contextos indicados pela Sociologia amplia a compreensão dos administradores sobre as ações humanas que se desenrolam no mundo das empresas. Dentro desta perspectiva, a atenção às transformações dos padrões da sociedade, de seus valores, normas de comportamento e formas de organização, permite ampliar a compreensão das tendências sócio-culturais que se configuram, e que podem se manifestar, por exemplo, em novas oportunidades de negócio, novas expectativas de grupos e comunidades quanto à atuação das empresas ou, ainda, novos arranjos políticos que venham a influenciar os negócios. FONTE: SANTOS, Vania Martins dos. Sociologia da Administração. Rio de Janeiro: LTC, 2009. Cap. 01. KIRSHNER, Ana Maria. A sociologia diante da globalização: possibilidades e perspectivas da sociologia da empresa In: 24 Encontro da Anpad, 2000, Florianópolis. 5 AS EMPRESAS NA MIRA DOS ATIVISTAS As grandes empresas têm sido alvo de sistemáticos protestos por parte de ativistas do meio ambiente. Em maio de 2006, o Greenpeace, uma das maiores ONGs do mundo, espalhou ativistas fantasiados de frango por 30 lanchonetes do McDonald´s na Inglaterra, enquanto outros distribuíam cartazes com o personagens Ronald McDonald segurando uma motosserra. No mesmo ano, manifestantes acorrentaram-se às portas de fábricas da Cargill, gigante do agronegócio, paralisando o trabalho nestas indústrias. No Brasil, tem ocorrido um ruidosa batalha entre ONGs e empresas que atuam no país. Protestos de ambientalistas geraram problemas para os produtores de soja, negócio que rende 90 bilhões de dólares anualmente. O Greenpeace tem acusado os fazendeiros de praticarem desmatamento na Amazônia, responsabilizando também todas as empresas que fazem parte da cadeia de produção. O setor de papel e celulose, por sua vez, é confrontado por ativistas que invadem fábricas e destróem laboratórios de pesquisa. Recentemente, empresas da área tornaram-se alvo de reivindicações de quilombolas, comunidades de descendentes de escravos que querem de volta as terras onde teriam vivido seus antepassados. Um dos alvos principais deste setor é a empresa capixaba Aracruz, líder mundial na produção de celulose. Desde 1998, as propriedades da empresa já sofreram 20 invasões. Uma das mais violentas ocorreu no início de 2006, quando um grupo de mulheres ligado ao MST destruiu o laboratório da companhia no Rio Grande do Sul, provocando prejuízo de 20 milhões de dólares. Em setembro do mesmo ano, tribos indígenas tomaram áreas de floresta da empresa na cidade de Aracruz, no Espírito Santo. 6 Segundo a ideologia das ONGs, o mundo de hoje é dominado por grandes corporações interessadas em ganhar muito dinheiro às custas da saúde das pessoas e do meio ambiente, além de ampliar o fosso entre ricos e pobres. Segundo estudo da universidade de Harvard, as ONGs idealizam um capitalismo mais humano, embasado em conceitos de fraternidade e solidariedade, mas sem a idéia do controle dos meios de produção por parte do Estado, como era característico das ideologias comunistas. A força destes ativistas se apóia também em outro fenômeno recente: o aumento do poder dos consumidores nos principais países do mundo. Temerosas de sofrer boicotes por parte de seus consumidores, muitas empresas cedem aos apelos dos ativistas que, estrategicamente, dirigem suas ações para empresas que dependem diretamente do consumidor. A Starbucks, maior rede de cafeterias do mundo, vem sofrendo pressões por parte de uma ONG chamada Global Exchange. Durante certo período, seus ativistas praticamente acamparam na porta da empresa, nos EUA. Sua reivindicação para deixar o local e não expor de modo negativo a marca: a Starbucks deveria adquirir matéria-prima de pequenos agricultores da Colômbia, Tanzânia e Etiópia. A Starbucks cedeu e cumpriu ainda o seguinte detalhe: quem define o preço desta matéria-prima que a rede compra é a ONG. O princípio que guia a Global Exchange é o do “comércio justo no lugar do comércio livre”, argumentando que o preço estabelecido é o valor mínimo que garante uma vida digna aos produtores desses países. Do ponto de vista dos críticos destas organizações, entretanto, nem todas as entidades são sérias e acabam por empreender ações oportunistas e radicais, como a divulgação de informações sem fundamento, algumas delas com objetivos políticos. Para o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Mato Grosso (Famato), as ONGS têm “uma série de preconceitos contra o agronegócio”. Agricultores, por sua vez, afirmam que a maior parte dos cultivos na região Amazônica está de acordo com a lei, que permite a exploração de 20% da área de cada propriedade localizada dentro da floresta. Os produtores também argumentam que a soja só ocupa áreas previamente degradadas por madeireiros. Na ala mais radical dos defensores do cultivo da soja, argumenta-se que a oposição de ONGs à sojicultura é fruto de um complô internacional para diminuir a competitividade do produto no mercado externo. Em muitos aspectos da discussão, a razão perde para a emoção e o resultado é a proliferação de conflitos e de atividades clandestinas em algumas regiões do país. 7 Para o bem ou para o mal, as empresas são obrigadas a conviver com as forças do terceiro setor, e esse é um caminho sem volta. Muitas organizações atuam hoje quase como multinacionais movidas por causas. A WWF, ONG ambientalista, está presente em quase 100 países do mundo e possui orçamento anual de 500 milhões de dólares. “As ONGs substituem os velhos revolucionários e são mais eficazes, porque deixaram de lado os coquetéis molotov para usar terno e gravata”, afirmam especialistas do departamento de história da Universidade de Oxford. Em muitos casos, graças às pressões dos ambientalistas, evoluções foram obtidas nos processos produtivos, como é o caso da indústria de automóveis, que hoje se esforça para lançar carros menos poluentes, e também de grandes multinacionais, que baniram fornecedores que exploram trabalho infantil. Um dos marcos mundiais deste processo foi o caso ocorrido com a Nike, gigante americana do setor de materiais esportivos que, no final dos anos 90 foi processada sob a acusação de estar ligada a fornecedores asiáticos que violavam leis trabalhistas. O preço das ações da empresa despencou e, em 2003, a Nike fez uma acordo e pagou 1,5 milhão de dólares à Fair Labor Association, grupo de monitoramento de condições de trabalho no mundo. Aprendida a lição, a empresa modificou completamente suas práticas, passando a adotar um comportamento muito mais rigoroso na seleção de seus parceiros comerciais. Através dos caminhos abertos pela negociação entre empresários e movimentos ambientalistas, outros avanços ocorreram. A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) contratou consultores sobre como solucionar os conflitos atuais entre ambientalistas e sojicultores na Amazônia, obtendo acordos importantes. Em 2006, empresários do ramo se comprometeram a não comprar sequer um grão de soja de novas áreas devastadas na floresta. Em contrapartida, iniciaram-se as negociações entre representantes de ONGs, do agronegócio e do governo dos principais países produtores para a criação de um selo de certificação ambiental para a soja plantada na Amazônia e em outras regiões do mundo. Para administradores com habilidades de negociação, novos campos de trabalho se abrem. Como resultado de tanta pressão de movimentos sociais, os principais empresários passaram a procurar no mercado de trabalho profissionais capazes de dialogar com as ONGs. Fica uma fresta de esperança de que, através do diálogo, é possível encontrar um meio-termo entre o progresso e a preservação do meio ambiente. Fonte: Adaptadode matéria de Felipe Seibel e Tatiana Gianini para a revista EXAME (25/10/2006). 8 A TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Da última vez em que o economista americano Jeremy Rifkin ficou badalado na imprensa mundial, foi apresentado como "inimigo da ciência". Na virada do século, a briga dele era contra transgênicos. Hoje, ele é um dos principais estrategistas da política energética da União Européia. Em seu novo livro, propõe uma idéia radical: o mundo está a poucos passos de iniciar uma nova revolução industrial. A internet está no centro dela. Mas ainda falta um detalhe para o processo se concretizar. O livro se chama "The Third Industrial Revolution" - A terceira revolução industrial. Segundo Rifkin, revoluções industriais ocorrem a partir do encontro de duas inovações tecnológicas. Uma é uma nova ferramenta de comunicação. A outra, uma solução energética mais eficiente do que o que havia antes. O resultado deste encontro é uma mudança profunda na economia, na sociedade, na política. A primeira teve início em meados do século XVIII e teve como principal marco a aplicação da energia a vapor na extração de minério e na produção têxtil (fabricação de fios e tecidos). A energia a vapor também facilitou o deslocamento de pessoas por navios e trens. Outra tecnologia, a impressão usando linotipo e rotativas acelerou a publicação de jornais, livros, revistas. Como fruto destas inovações, comida fresca e outros produtos começaram a chegar mais rápido. Nasceram as escolas públicas e o estado de bem estar social. Repentinamente, era possível ao Estado botar um livro na mão de cada aluno. A segunda tem início no final do século XIX, avançando pelo XX. Rádio e televisão de um lado, energia elétrica e motor a combustão do outro. Passaram a ser utilizadas energias que eram transmitidas em longas distâncias, gerando um custo menor se comparado ao vapor. 9 A criação da lâmpada incandescente estabeleceu um importante marco nos sistemas de iluminação dos grandes centros urbanos e industriais da época. O petróleo, que antes tinha uso somente para fazer funcionar sistemas de iluminação, passou a ter nova utilidade com a invenção do motor à combustão. Com isso, ao lado da eletricidade, este mineral passou a estabelecer um ritmo de produção ainda mais acelerado. Unidas, estas inovações criaram o mercado de amplo consumo e, com isso, países de classe média no Primeiro Mundo. Ficou incrivelmente mais barato distribuir produtos por todo canto, assim como a produção também barateou. Este foi um importante fator para o fortalecimento da sociedade de consumo. Diversos produtos passaram a ser produzidos e comercializados: automóvel, televisor, rádio, avião. A terceira revolução industrial tem início após a II Guerra Mundial. A tecnologia se refina, aprimorando antigas invenções, criando novas ou estabelecendo conexões inusitadas entre os diferentes ramos da ciência. A informática produz computadores e softwares; a microeletrônica, chips, e inúmeros produtos eletrônicos. Surge também a robótica. As telecomunicações, utilizando os satélites, viabilizam transmissões de rádio e televisão em tempo real. A telefonia - fixa e móvel -, conjugada à Internet, transforma a comunicação em um processo instantâneo. A indústria aeroespacial fabrica satélites e leva homens e robôs a novas fronteiras no espaço. Medicamentos, plantas e animais são transformados pela biotecnologia. O impacto das novas tecnologias da Terceira Revolução Industrial não se restringe apenas às indústrias, mas afeta as empresas comerciais, as prestadoras de serviços e até mesmo o cotidiano das pessoas comuns. Ou seja, trata-se de uma revolução muito mais abrangente. Em termos de magnitude e abrangência, a Terceira Revolução Industrial não se restringe a alguns países europeus, aos EUA e ao Japão, mas se espalha pelo mundo todo. É causa e, ao mesmo tempo, conseqüência da globalização. Revoluções industriais têm algumas características em comum, diz Rifkin. Uma delas é o controle sobre tempo e espaço. Fica mais fácil e rápido levar gente ou coisas a lugares. Assim como fica mais fácil circular ideias. O resultado destes 10 fenômenos é que as sociedades ficam complexas e sofisticam seus processos de inovação. No caso das duas primeiras revoluções industriais, ele continua, há outras características comuns. Foram centralizadoras e não é difícil entender o porquê. É que custaram caro. O tipo de infraestrutura exigida saiu por uma fortuna em ambos os casos. Eram caros os trens como eram caras as rotativas. E ainda mais caro saíram as redes de energia elétrica e as emissoras de TV. Os complexos industriais nascidos neste contexto se concentraram em algumas regiões para ter acesso à infraestrutura. Exigiram bancos grandes e fortes para seu financiamento. Assim como foi necessário um aparato militar de peso para garantir acesso a energia - seja no desenvolvimento da nuclear, seja no fornecimento do petróleo. E, com tanta concentração de poder na indústria, no setor financeiro e nas forças armadas, não surpreende que um governo central forte também tenha acompanhado o processo. Onde atingiram seu potencial máximo, as duas revoluções industriais geraram riqueza. Mas há um limite. Agora, segundo o economista, a segunda revolução industrial, ancorada pesadamente em combustíveis fósseis, entrou em colapso. Conforme a indústria neste modelo se espalharam por todo o mundo e novas sociedades enriqueceram, limites foram atingidos mais e mais rápido. Entrou em crise o setor financeiro, entrou em crise a política, os governos. E o planeta. A nova tecnologia de comunicação já está aí. Ela é diferente de todas as anteriores: não é centralizada, é distribuída. Hoje, dois bilhões de pessoas em todo o mundo têm acesso a publicar vídeos, fotos e textos simultaneamente na rede. É verdade que há cinco bilhões de excluídos. Porém dois bilhões é mais do que jamais foi possível. Um número inimaginável alcançado em apenas 15 anos. Falta, evidentemente, uma nova solução energética que não degrade o planeta. Não é um problema simples de resolver mas, se o economista estiver certo, ele será resolvido nas próximas décadas. Parece muito. Perante a História, é pouco. Mas o mundo mudará radicalmente. FONTES: http://oglobo.globo.com/tecnologia/a-3-revolucao-industrial-3078992#ixzz1kOnu4nIb http://www.brasilescola.com/historiag/segunda-revolucao-industrial.htm 11 PROCESSOS DE SOCIALIZAÇÃO EM UMA LOJA DE DEPARTAMENTOS O caso a seguir relata as experiências de Roberto, um candidato aprovado no processo seletivo de uma grande rede de lojas de departamento: Uma das primeiras informações recebidas pelo candidato durante a entrevista de seleção dizia respeito à filosofia central da empresa. O entrevistador explicou que a empresa funcionava como uma “família corporativa” e requeria um perfil bem específico das pessoas que pretendiam fazer parte dela, de modo que todos os que não estivessem dispostos a se dedicar com afinco ao trabalho e a suportar a pressão por resultados eram descartados. Os atributos considerados indispensáveis neste perfil, informou o entrevistador, eram: motivação, iniciativa e, principalmente, devoção em servir ao cliente. A mensagem do entrevistador era clara: quem não estivesse totalmente disposto a sorrir o tempo todo para o cliente e a fazer tudo o que fosse necessário para deixá-lo satisfeito, deveria procurar outra empresa para trabalhar. O entrevistador explicou também que na empresa todos os novatos começavam de baixo, trabalhando com vendas ou no setor de atendimento, lembrando que um dos mais reconhecidos diretores da organização começou no balcão de uma loja, resolvendo problemas de clientes. Após a aprovação nas demais etapas seletivas, Roberto passou os primeiros meses de trabalho junto a uma equipe de pessoas experientes e identificadas com a empresa, que apresentaram histórias lendárias sobre os vendedores que se destacaram pelo excelente padrão no relacionamentocom o cliente. A gerente da loja em que foi trabalhar lhe explicou que as avaliações feitas pelos clientes nas pesquisas de satisfação ou espontaneamente por meio de e-mails e de telefonemas eram o critério decisivo da empresa na hora de pontuar as lojas que disputavam os prêmios mensais. Quando o vendedor de uma loja era sucessivamente bem avaliado pelo cliente, ele se transformava em um “campeão do atendimento”, e recebia bonificações e descontos para compras na rede. A gerente disse ainda que a ousadia nas metas de vendas era muito bem vista pela empresa e que os vendedores que conseguiam ultrapassá-las recebiam o título de “fora-de-série”, ganhando, além das premiações financeiras, cumprimentos pessoais dos diretores nos eventos sociais da empresa. Nas reuniões conjuntas das equipes, Roberto percebeu que as metas de vendas eram periodicamente revistas e anunciadas em público, recebendo calorosos aplausos ou vaias dos colegas, dependendo da ousadia da meta declarada. O ranking de vendas dos funcionários era exposto ao final de cada mês no quadro de avisos do escritório da loja. 12 Um dos integrantes de seu grupo de trabalho, “campeão de vendas” da loja, lhe sugeriu que participasse dos seminários de motivação promovidos pela empresa, pois neles sempre aprendeu técnicas úteis para manter o moral elevado. Era prática da equipe, aliás, como logo percebeu Roberto, gritar frases motivadoras quando se reuniam antes do expediente (“nós somos os melhores!”). Sempre que entrava no escritório da loja, Roberto não deixava de perceber os pequenos “lembretes” espalhados pelas mesas: “nós contamos com sua dedicação” ou então “o que você está fazendo para sair da mesmice de vendas?”. Durante os dez meses que se passaram, Roberto foi se sentindo cada vez mais deslocado na empresa. Embora estivesse se saindo bem, não alcançou nenhum desempenho excepcional. Nunca tinha sido cumprimentado por um diretor, não se tornara um “campeão de vendas”, muito menos um “fora-de-série”. Além disso, estava sendo deixado para trás até por novatos, que se identificavam mais rapidamente com a filosofia da organização do que ele. Um ano depois de entrar para a empresa, Roberto decidiu pedir demissão. FONTE: SANTOS, Vania Martins dos. Sociologia da Administração. Rio de Janeiro: LTC, 2009. Cap. 05. 13 A DIFÍCIL MUDANÇA NA USIMINAS Raras vezes uma disputa interna pelo poder de uma empresa foi tão escancarada como a que recaiu sobre a Usiminas, uma das maiores companhias siderúrgicas do Brasil. Nos últimos dois anos, seu presidente, Marco Antonio Castello Branco, 49 anos, travou uma batalha ferrenha – e à luz do dia – para mudar a cultura paternalista da empresa, liderada por duas décadas pelo seu antecessor, Rinaldo Soares. Para isso, não mediu esforços e, muito menos, o peso e as consequências de suas atitudes. Castello Branco, que até então havia trabalhado por mais de dez anos na Europa, onde chegou a ocupar a presidência da divisão de tubos do grupo francês Vallourec&Mannesmann, chegou à Usiminas como um trator. Demitiu três mil funcionários, trouxe novos diretores e inovou no mercado de capitais do Brasil ao revelar seu próprio salário e de toda a diretoria da empresa. Como em todo ambiente onde o status quo é quebrado, Castello Branco gerou reações e se viu no meio de uma guerra. Na semana passada, seu futuro foi decretado. Castello Branco Wilson Brumer Pressionado pelos acionistas controladores, foi tirado do comando da Usiminas. Em seu lugar, entra Wilson Brumer, que já presidia o conselho da empresa e tem uma vasta experiência no setor de siderurgia. “Os acionistas entenderam que não seria bom nem para a Usiminas nem para ele permanecer na empresa”, disse Brumer à DINHEIRO. “Trarei paz, diálogo e tranquilidade. Outro estilo de gestão.” As palavras de Brumer dão o tom do clima nos corredores da empresa e revelam a alta tensão em que a companhia se encontrava. “Queremos apagar da memória a passagem de Castello Branco no comando da Usiminas”, diz Luiz Carlos de Miranda, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Ipatinga, cidade mineira que abriga a sede da companhia. 14 À frente da empresa, Castello Branco colecionou inimigos e uma fila de problemas. Um dos mais graves chegou sob a forma de denúncia ao Ministério do Trabalho. Duas ex-funcionárias reclamaram da conduta do antropólogo e psicólogo Ely Bonini, 79 anos, contratado por Castello Branco para iniciar um trabalho de mudança cultural entre os executivos de alto escalão da Usiminas. De acordo com as denúncias, Bonini teria assediado moralmente e sexualmente as ex-funcionárias. Dono de métodos pouco ortodoxos de treinamento, Bonini causou um choque de grandes proporções na empresa. “Um de seus assistentes fez executivos ficarem de quatro, como cachorrinhos, para introjetar humildade”, diz um ex-funcionário da empresa. Indagado em uma recente entrevista sobre o efeito dos métodos de Bonini, Castello Branco explicou suas reais intenções com a contratação da consultoria. “É preciso situar a nossa empresa no contexto brasileiro. Nós somos um povo colonizado. Nessa região de Minas Gerais, nós vivemos o coronelismo. Quando você vai para o chão de fábrica, o supervisor tem o papel do sargento. Isso faz parte da nossa história.” Um dos pivôs da queda de Castello Branco foi Rinaldo Soares. Ex-presidente da empresa, com forte ligação com a Caixa dos Empregados da Usiminas (CEU), dona de 10% do capital votante da companhia, ele teria atuado nos bastidores para minar as forças de Castello Branco. “Não quero comentar a queda dele para evitar polêmicas”, disse Soares à DINHEIRO. “Essa foi uma decisão dos acionistas. Compare a empresa que foi entregue ao Castello Branco com a de hoje.” Ao sair da Usiminas, exatos dois anos atrás, Soares deixou a empresa com lucro líquido de R$ 3,2 bilhões. No ano passado, o resultado alcançou R$ 1,3 bilhão. “Mas é bom lembrar que o Rinaldo não passou por nenhuma crise econômica mundial tão forte como a que vivemos recentemente”, diz Rafael Weber, analista de siderurgia da corretora Geração Futuro. “O preço do aço no mercado internacional caiu 30%.” Só agora é que as empresas estão conseguindo voltar aos patamares pré-crise. “Este e o próximo ano serão de recuperação”, explica Germano Mendes de Paula, professor da Universidade Federal de Uberlândia. Denúncias de assédio moral e sexual envolvendo consultores contratados pela empresa abalaram a gestão de Castello Branco. 15 Qualquer que seja o resultado em 2010, a Usiminas já está com o orgulho ferido. É que, depois de muitos anos, a companhia apresentou uma receita líquida menor do que a rival CSN. Enquanto a Usiminas surge com R$ 10,9 bilhões, em 2009, a concorrente aparece com um resultado de R$ 11 bilhões. Cabe agora a Brumer aparar as arestas e fazer com que a empresa volte aos bons tempos. Para isso, ele precisará de um bom jogo de cintura. “Os meus anos de experiência no governo de Minas vão me ajudar nas negociações”, diz Brumer, referindo-se ao tempo em que ocupou a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado. Curiosamente, Brumer já passou por um processo parecido com o que Castello Branco atravessa hoje. Na década de 90, depois de presidir a Vale do Rio Doce, Brumer chegou ao comando da Acesita. Na época, a empresa também vinha de uma gestão paternalista e muito fechada, o que gerou problemas para Brumer quando resolveu dar um choque de gestão na companhia. O executivo tinha uma visão muito peculiar do setor e pretendia unir as várias siderúrgicas brasileiras de modo a criar um grande grupo internacional. Não deu certo. Mas, se o projeto tivesse avançado, hoje o mercado mundial poderia estar nas mãos de uma empresa brasileira e não sob a batuta do indiano Lakshmi Mittal, o controlador da Arcelor Mittal. “Hoje não há mais espaço para um projeto como esse. As empresas nacionais estão consolidadas”, diz Brumer. A Usiminas tem a seu favor uma vantagem competitivaque poucas companhias apresentam no mercado: a posse de uma mina de ferro com capacidade de suprir parte de suas próprias necessidades. De acordo com um relatório preparado pela corretora Brascan, 60% do minério de ferro usado pela empresa até o fim do ano virá de sua mina. E as previsões apontam que, nos próximos anos, atenderá 100%. A Usiminas é dona de uma reserva no Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais com cerca de um bilhão de toneladas e deverá criar uma nova empresa de mineração. “Ainda estamos estudando a melhor maneira de fazer isso. Mas pretendemos primeiro nos associar a uma empresa de logística para depois fazer o IPO”, diz Brumer. Analistas enxergam o movimento da empresa com bons olhos. “Ela terá capacidade de produzir 29 milhões de toneladas de minério de ferro até 2015”, diz Pedro Montenegro, analista de siderurgia da Brascan. Antes disso, entretanto, Brumer projeta um investimento de R$ 3 bilhões em novos equipamento até o fim do ano e 16 outros bilhões na inauguração de uma nova planta em Santana do Paraíso (MG). “Todos os planos de investimentos serão mantidos”, diz Brumer. “Agora vamos olhar para a frente.” FONTE: Matéria de Carlos Sambrana. ISTO É DINHEIRO. Disponível em: http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/19961_O+CLIMA+ESQUENTOU+NA+USIMINAS 17 O CASO DOS SERTANEJOS OPERÁRIOS Nas margens do rio São Francisco, em pleno agreste, geólogos de uma importante fábrica sulista descobriram uma grande jazida de magnesita. Foram, então, construídas próximo a um vilarejo instalações industriais com o objetivo de extrair e dar uma primeira queima no minério. Surgiram com isto oportunidades de trabalho que significaram a salvação para os sertanejos que por ali residiam e que viviam até então sujeitos a uma vida de subemprego crônico em atividades precárias de pecuária e agricultura. Para as minas foi enviado um gerente sulista reconhecido por sua capacidade de direção e organização. Contudo, falhou tão drasticamente que nem sabia qual a razão de seus erros. Seu substituto foi ainda mais bem selecionado, mas teve a mesma sorte do antecessor. Foram então mandados dois gerentes, um administrativo e outro técnico, porém o pouco que conseguiram produzir era irregular e de baixa qualidade. Um geólogo, enviado para estudar a qualidade do minério, ao chegar, encontrou-os completamente deprimidos por não terem conseguido tornar produtivas pessoas tão necessitadas de emprego. O geólogo, que era natural do sertão de um estado do Nordeste, observou dois aspectos que poderiam estar interferindo na produtividade das minas: os sertanejos, embora estivessem de fato interessados no serviço, eram pouco disciplinados em relação ao horário de trabalho. Assim, coisas simples como o apito para iniciar e terminar a jornada diária não tinha o menor significado para aquelas pessoas que nunca tiveram hora para o trabalho. Por outro lado, os sertanejos esperavam que o gerente sulista, tal como faziam os fazendeiros com quem trabalhavam anteriormente, atendesse a seus problemas financeiros, de saúde e até mesmo familiares. Depois de atendidos pelos gerentes tais aspectos peculiares e sem alterar a estrutura organizacional, foram feitas adaptações nas práticas administrativas, por exemplo, o número de horas de trabalho deixou de ser fixo, pois o apito somente soava no caso de tudo estar efetivamente em condições para o início da jornada ou no fim do turno, se a descarga do forno tivesse sido completada. Com essas e outras medidas as minas tornaram-se produtivas. FONTE: BERNARDES, Cyro; MARCONDES, Reynaldo C. Sociologia aplicada à administração. São Paulo: Saraiva, 2001. 18 CHOQUES CULTURAIS NA FOXCONN No início de 2012, funcionárias da unidade de fabricação de computadores da Foxconn em Jundiaí foram surpreendidas ao chegar ao trabalho, no ônibus da empresa. Ao invés de seguirem normalmente para seus lugares na linha de produção, tiveram que formar uma fila indiana. Seguiram todas, uma atrás da outra, sem saber se riam ou se disfarçavam o incômodo de se sentirem em um colégio interno. Dentro da fábrica, mas uma novidade. Idas ao banheiro também tinham uma nova regra: só com acompanhante. E a fila indiana se repetiu no caminho para o refeitório, e no fim do expediente. Após a reclamação dos funcionários ao Sindicato dos Metalúrgicos local, as normas, que haviam sido negociadas com a empresa, estão sendo revistas. Tem sido assim a cada tentativa de implantação do modo de ser chinês nas fábricas brasileiras, desde o início da operação da primeira unidade da Foxconn em Jundiaí, em 2007. A empresa tem tido dificuldades em se adaptar fora de seu país. A líder sindical dentro da Foxconn relatou que houve um momento em que foi preciso dizer que ali não era a China, partindo para o enfrentamento com a empresa. “Mas o diálogo se abriu e se tornou a melhor saída”, contou a líder. A própria presença da líder sindical dentro da fábrica já foi um grande ganho, pois de início os chineses se assustaram com a movimentação das brasileiras para reivindicar melhores condições de trabalho, transporte e alimentação, além de participação nos lucros. Não foram poucas as paralisações das trabalhadoras e a briga foi dura até que a empresa entendesse que a legislação brasileira oferece certas condições aos trabalhadores que a legislação chinesa ignora. Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Jundiaí, as brigas por melhores condições de trabalho na região não ocorrem somente com os trabalhadores da Foxconn, mas destacou que há fatores que tornam particularmente difícil a relação com a companhia. O principal é a falta de transparência: “os chineses são muito fechados, lidam com as informações como se fossem sigilosas, até mesmo quando têm que passar dados obrigatórios à Prefeitura. No início, a relação com o sindicato foi na base do porrete, mas aos poucos eles estão se abrindo”. Segundo um consultor da diretoria geral da empresa, a Foxconn tem encarado o Brasil como um desafio que tem exigido alto grau de adaptação. Fonte: Jornal O Globo (27/03/12) 19 AS PANELINHAS CORPORATIVAS Era uma vez um executivo que foi contratado para comandar as operações brasileiras de uma companhia com sede no exterior. Logo que assumiu o poder, convidou os amigos da empresa em que trabalhara antes. E foi mandado embora por isso. O grupo formado por este profissional passou a criar obstáculos para o pessoal da matriz. As informações solicitadas não eram divulgadas e, quando isso acontecia, a equipe sempre passava aquilo que queria informar, nunca o que de fato estava acontecendo. Após a demissão do executivo, foi contratado um outro, que conseguiu desmontar rapidamente a “panelinha” anterior. Porém, para cada pessoa que demitia, contratava um amigo de sua própria “panela”. As “panelinhas” comportam-se como círculos sociais fechados, que desenvolvem normas particulares e que não aceitam bem a convivência com estranhos. O termo “estranhos”, neste caso, não se refere necessariamente a pessoas de fora da organização, mas pode ser um colega da mesa ao lado, que não faz parte da “panela” – ou porque não foi aceito ou porque não se afina com as idéias defendidas pelo grupo. Meio propício para se “fritar” ou colocar alguém em “banho maria”, as panelas são um dos principais canais de disseminação de fofocas. Ao fazer parte de grupos como esses, as pessoas passam a se defender e a atacar quem está “do lado de fora”. Algumas “panelas” podem se tornar verdadeiras facções dentro das organizações, chegando até mesmo a comprometer resultados, quando colocam seus interesses acima de todo o grupo de trabalho. As “panelas” têm princípios de funcionamento e de lealdade próprios, muitas vezes atrelados a propósitos diferentes dos estabelecidos pela empresa. Este fenômeno é bastante difícil de ser evitado e, é bom que se diga, não é exclusividade de qualquer nível hierárquico da organização. Até mesmo na cúpula de empresas observa-se a tendênciade se colocar pessoas de interesse de certos “grupos” nas posições relevantes. Muitas companhias, entretanto, valorizam estes grupos, acreditando que eles estimulam a concorrência entre equipes, fazendo com que todos, no final das contas, dêem o melhor de si para vencê-la. Para alguns profissionais de gestão, a ocorrência demasiada das “panelas” está diretamente ligada à forma como os líderes conduzem a organização. Quando a empresa não se posiciona em termos de missão e de valores, quando o líder da equipe não toma as rédeas da situação, criam-se os espaços para estes polêmicos grupos. Líderes que não compartilham informações ou que tomam decisões sem 20 ouvir a ninguém estimulam as pessoas a se unirem para compartilhar suas insatisfações. Especialistas em estudos organizacionais aconselham perspicácia ao lidar com este fenômeno na organização, para que seja possível detectar os principais interesses das pessoas que se agrupam e quem são os seus líderes. Afinal, a estrutura destas redes pode ser utilizada em favor dos objetivos organizacionais, conforme a empresa crie canais eficientes de comunicação. Tais canais servem não só para que as informações corretas sejam disseminadas, como também para permitir certo nível de expressão dos funcionários, assim reduzindo boatos, boicotes e desinformação. Se os líderes informais têm mais poder e influência que a direção formal, é sinal de que as estratégias de liderança e comunicação devem ser revistas urgentemente. Fonte: adaptado de YOUNG, Cybele; CARVALHO, Gumae. Panelinhas corporativas. Melhor: gestão de pessoas, ano 14, n. 224, pp.38-48, jul. 2006. 21 ESTÁ DIFICIL ATRAIR A CLASSE C Uma equipe de 15 gerentes da subsidiária brasileira da fabricante de produtos de higiene Kimberly-Clark, com sede em São Paulo, partiu em janeiro para uma missão de resgate na periferia de Fortaleza, no Ceará. Durante um mês, o grupo conversou com pequenos varejistas locais, treinou demonstradoras em supermercados e promoveu encontros para falar sobre cuidados pessoais com moradores de bairros pobres da região. O objetivo era reanimar as vendas da fralda Mágica, lançada em outubro de 2009 para conquistar os consumidores de baixa renda. O preço era 25% menor em relação ao modelo mais barato da empresa, em boa parte graças a um inédito cinto elástico reutilizável. Criada nos laboratórios de inovação da Kimberly, a Mágica parecia ser o ovo de colombo para conquistar o maior mercado do país. Faltou só combinar com o consumidor. As vendas do produto chegaram apenas à metade do planejado — uma meta inicial de 120 milhões de reais por ano. Apesar do trabalho intensivo no Nordeste, que chegou a impulsionar em 20% as vendas na região, a Kimberly decidiu tirar o produto do mercado em todo o país em julho, após quase dois anos de tentativas. “O investimento necessário para relançar a fralda nacionalmente e explicar seu conceito aos consumidores tornaria o produto inviável”, diz Marco Antônio Iszlaji, diretor de assuntos legais e corporativos da Kimberly-Clark. “Por isso, decidimos recuar e reavaliar o projeto.” Centro de distribuição da Kimberly (SP): após dois anos de tentativas, a fralda para a baixa renda saiu do mercado 22 Empresas de diversos setores começam a perceber que vender para a classe C — um contingente de mais de 100 milhões de consumidores — nem sempre é tão fácil como pode parecer. Uma pesquisa recente feita pelo instituto Data Popular com executivos de 210 companhias com faturamento acima de 100 milhões de reais mostra que 77% deles admitem que suas empresas ainda não estão preparadas para atrair as classes emergentes. Em alguns segmentos, como o da indústria, esse percentual sobe para 83%. As dificuldades ocorrem em diversas frentes — da estratégia à distribuição. “É um mundo ainda pouco conhecido para executivos que, por muito tempo, criaram produtos para um consumidor muito parecido com eles próprios”, diz Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular. O levantamento mostra que ainda existe uma enorme distância entre o que os homens e as mulheres de negócios pensam e o que os consumidores de fato desejam. A maioria dos executivos declarou, por exemplo, que o preço é o principal fator nas escolhas de compra da classe C. Na opinião dos próprios consumidores, porém, a decisão é balizada sobretudo pela qualidade. “Com orçamento restrito, na dúvida, eles preferem levar para casa um produto com qualidade mesmo pagando um pouco mais por isso”, diz Meirelles. Foi o que a Kimberly-Clark percebeu — da maneira mais difícil — com sua fralda Mágica. No caso da operação brasileira da fabricante japonesa de equipamentos eletrônicos Sony, ultrapassar essas barreiras exigiu dois anos de acompanhamento da rotina de consumidores da classe C. Ao longo dos últimos 18 meses, mais de 70 executivos — 40 deles vindos da matriz — visitaram cerca de 200 casas de brasileiros em cidades como Feira de Santana, na Bahia, Manaus e Porto Alegre. Alguns desses executivos chegaram a passar 48 horas com consumidores — e até dormir na casa deles. “O trabalho nos ajudou a quebrar dogmas sobre a classe média emergente, como o que eles não usam todas as funcionalidades do equipamento”, afirma Carlos Paschoal, gerente de inovação e marketing da Sony Brasil, que também participou das imersões. 23 Carlos Paschoal e executivos da Sony: dois anos de imersão na classe C Neste ano, a subsidiária ganhou carta branca da matriz para investir em produtos exclusivos para esse público. Um deles é um aparelho de som residencial, lançado em outubro, que conta com luzes vermelhas e azuis que piscam conforme o ritmo da música tocada — o recurso foi incluído depois que os executivos da Sony observaram que os equipamentos são usados não apenas dentro de casa, mas também para animar festas. Outro senso comum é o que os consumidores da classe C sempre reagem bem à abordagem da venda direta. Um caso que desmente essa percepção é o da companhia aérea Gol. Até 2004 a nova classe média representava apenas 10% de sua base de passageiros. Nos anos seguintes, com o aumento de renda desse público, os executivos da companhia decidiram estudar novos modelos para atendê-lo. Em 2008, bilhetes aéreos passaram a ser vendidos no modelo porta a porta, por meio de 400 vendedoras espalhadas pelas ruas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. O formato foi abandonado dois anos depois, após problemas de tecnologia — o aparelho utilizado pelas funcionárias da Gol frequentemente não se conectava às centrais de venda. Segundo a companhia, o fator novidade também foi um empecilho. “Boa parte dos consumidores nunca havia voado de avião, tampouco conhecia a companhia e, por isso, preferia um contato mais direto conosco”, diz Eduardo Bernardes, diretor comercial da Gol. “Esse aprendizado nos incentivou a montar o projeto das lojas físicas.” Com o fim do porta a porta, a Gol acelerou a abertura das lojas — hoje são oito, em bairros como São Mateus, na zona leste de São Paulo, e em estações de metrô da capital paulista. 24 Segundo a empresa, os espaços físicos dão a sensação de segurança para o consumidor, especialmente para o passageiro de primeira viagem. “Essa operação tem hoje o papel estratégico de atrair novos consumidores”, diz Bernardes. Desconstruir os mitos sobre a classe C se torna cada vez mais urgente à medida que esse público deixa de ser um nicho para se transformar no principal mercado consumidor de muitas empresas. No setor de eletroeletrônicos, por exemplo, essa faixa da população já representa metade das vendas — em 2001, sua participação era de 20% das receitas. Para as companhias de aviação, a nova classe média já fornece 48% dos passageiros. “Hoje, mais do que nunca, uma estratégia equivocada significa prejuízos milionários”, diz André Torretta, da consultoria A Ponte, especializada em baixa renda. “Mas pior do que errar é ficar de fora desse mercado.” Fonte: Matéria de Marianna Aragãopara a REVISTA EXAME - 19/10/2011 Disponível em: http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1002/noticias/esta-dificil- atrair-a-classe-c 25 A IMAGEM SOCIAL DAS EMPRESAS A rede de varejo Wal-Mart, uma das gigantes do mundo corporativo global, foi durante certo tempo um dos principais alvos de organizações não- governamentais e movimentos sociais que dirigiam à empresa pesadas críticas por sua política de relações de trabalho. O Wal-Mart foi acusado por estes grupos de explorar mão-de-obra barata, limitar ao máximo os benefícios aos empregados e pressioná-los para que não se sindicalizassem, com o objetivo de manter sua agressiva estratégia de baixos custos e elevada eficiência. De acordo com estas críticas, as empresas que formavam a grande rede de fornecedores tecida pelo Wal-Mart mantinham trabalhadores em regime de semi-escravidão, para conseguir vender para a grande corporação produtos a preços extremamente baixos (revendidos nas lojas da rede com altas margens de lucro). Em 2005, o Wal-Mart chegou a ser objeto de um documentário (“Wal Mart: O alto custo dos preços baixos”), que mostrava os impactos das estratégias comerciais agressivas da empresa sobre os salários dos trabalhadores e os negócios de pequeno e médio porte das regiões onde instalavam filiais. Sua capacidade sem igual de vender produtos a preços baixos geralmente desequilibra o comércio local, levando concorrentes à falência, o que tem gerado bastante resistência de comerciantes das regiões afetadas por este padrão de condução de negócios. Quando anunciou sua chegada em uma cidade do México, o Wal-Mart teve de enfrentar um movimento articulado por comerciantes locais, que temiam pelo desaparecimento de seus negócios. Depois, foi a vez dos habitantes de Greenfield, em Massachusetts (EUA), tentarem impedir a chegada do Wal-Mart, alegando que a loja, do tamanho de 3 estádios de beisebol, causaria poluição, caos no trânsito e a destruição do comércio local. Em Outubro daquele ano, a população da cidade votou contra a instalação da loja na região. A empresa também foi alvo da maior ação trabalhista conjunta por discriminação sexual da história dos Estados Unidos, na qual milhares de funcionárias acusaram a companhia de adotar tratamento diferenciado entre homens e mulheres na concessão de salários, benefícios e promoções. Outro grupo de trabalhadores também se reuniu para denunciar as tentativas da empresa de inibir a sindicalização de seus funcionários. Em 2000, a seção de corte de um açougue do Wal-Mart no Texas (EUA) aderiu a uma organização operária. A empresa suprimiu esse serviço e demitiu os "rebeldes". A atitude ilegal gerou um processo interminável. Fato semelhante ocorreu em Quebec, Canadá, onde trabalhadores também quiseram ser representados por um sindicato. O Wal-Mart fechou a loja e explicou: "Esta loja não seria viável. Avaliamos que o sindicato 26 queria alterar totalmente nosso sistema de ação habitual”. Além disso, a empresa, que compra bilhões de dólares em mercadorias produzidas na China e as revende em supermercados espalhados pelo mundo, foi acusada de alimentar um sistema cruel de exploração do trabalho neste país, visando exclusivamente à obtenção mercadorias baratas que pudessem ser revendidas a um preço competitivo. Os grandes embates entre o Wal-Mart e os movimentos organizados na sociedade civil chegaram à mídia e começaram a afetar a imagem da empresa. Em 2004, um relatório da renomada consultoria McKinsey, apontou que entre 2% e 8% dos consumidores da rede tinham parado de freqüentar suas lojas por conta das acusações veiculadas na mídia contra a empresa. O relatório sugeriu que a empresa modificasse sua postura perante a sociedade, adotando alguma causa socialmente importante. A empresa passou então a concentrar esforços de marketing na construção de sua imagem como empresa ecologicamente correta, estabelecendo metas ambiciosas para reduzir a produção de lixo, adotar energia renovável e vender produtos que não agridem o meio ambiente. Com seu poder de negociação diante dos fornecedores, a mudança de atitude do Wal-Mart acabou por mexer com toda a cadeia produtiva, por conta da adoção de critérios mais rígidos na seleção dos produtos que são revendidos na rede. Ao invés da limitação aos tradicionais critérios de qualidade e preço, tornou-se importante saber também de onde vem o produto, como ele é fabricado, transportado e embalado e sob quais condições de trabalho. Os fornecedores que não se adaptarem às novas regras terão seus contratos cancelados. “Se a sua companhia vende tênis para o Wal-Mart, nossa expectativa será que você saiba – e nos informe – não só onde esse tênis é costurado, mas quais empresas subcontratadas estão ligadas à sua fabricação”, disse Mike Duke, vice-presidente da divisão internacional do Wal-Mart, aos fornecedores. “Se houver algum problema na fabricação, esperamos que você tenha as respostas e se responsabilize até a raiz da questão.” Além de auditar as próprias fábricas, as empresas serão submetidas aos auditores do Wal-Mart e a outros, independentes. Em termos práticos, o Wal-Mart reuniu, num hotel de luxo em Pequim, cerca de mil fornecedores chineses. Estavam lá Rob Walton, presidente do conselho de administração e filho do fundador, Sam Walton, assim como vários outros executivos do alto escalão da rede nos Estados Unidos e na Ásia. O tema do encontro: sustentabilidade. Diante de uma platéia formada por empresários, representantes do governo chinês, acadêmicos, fornecedores vindos de outros cantos do mundo e ativistas de dezenas de ONGs, os executivos do Wal-Mart anunciaram que “todas as fábricas que fornecem produtos para nós deverão 27 atender ou ir além das leis e regulamentações sociais e ambientais”. “Não se trata de algo opcional. Acredito firmemente que uma empresa que trapaceia na carga horária e na idade de sua força de trabalho, que joga lixo e químicos nos rios, que não paga impostos e não honra seus contratos irá, em algum momento, trapacear na qualidade de seus produtos. E isso é o mesmo que trair os consumidores. Não vamos tolerar isso no Wal-Mart”, afirmou Walton. Por conta de sua relação com a sociedade, o Wal-Mart, uma das mais poderosas e influentes empresas globais, teve de enfrentar o desafio de refazer sua imagem social, pois estava se tornando um grande símbolo de tudo o que existe de pior no mundo capitalista corporativo. Fonte: COSTA, Arnaldo Della. Wal-Mart e o poder dos conglomerados econômicos no mundo globalizado. V Workshop Empresa, Empresários e Sociedade. Porto Alegre, 2006. 28 GLOBALIZAÇÃO E TRABALHO Em recente operação que fiscalizou oficinas subcontratadas de fabricante de roupas da Zara, 15 pessoas, incluindo uma adolescente de 14 anos, foram libertadas de trabalho escravo em plena capital paulista. São Paulo (SP) - Por três vezes, equipes de fiscalização trabalhista flagraram trabalhadores estrangeiros submetidos a condições semelhantes à escravidão produzindo peças de roupa da marca internacional Zara, do grupo espanhol Inditex. Na mais recente operação que vasculhou subcontratadas de uma das principais "fornecedoras" da rede, 15 pessoas, incluindo uma adolescente de apenas 14 anos, foram libertadas de escravidão contemporânea de duas oficinas - uma localizada no Centro da capital paulista e outra na Zona Norte. "Por se tratar de uma grande marca, que está no mundo todo, a ação se torna exemplar e educativa para todo o setor", observa Giuliana Orlandi, auditora fiscal que participou da fiscalização. A ação serve também para chamar a atenção sobre a relação da escravidão com hábitos de consumo. "Mesmo um produto de qualidade, comprado no shopping center, pode ter sido feito por trabalhadores vítimas de trabalho escravo", disse a auditora. Quem vê as blusas de tecidos finos e as calças da estação nas vitrines das lojas da Zara não imagina que algumas delas foram feitas em ambientes apertados, sem ventilação, sujos,com crianças circulando entre as máquinas de costura e a fiação elétrica toda exposta. Principalmente porque as peças custam caro. Por fora, as oficinas parecem residências, mas todas têm em comum as poucas janelas, quase sempre fechadas. Tecidos escuros pendurados impedem a visão do que acontece do lado de dentro das células de produção têxtil ocultas e improvisadas. O quadro encontrado pelos agentes do poder público incluía contratações ilegais, trabalho infantil, condições degradantes, jornadas de até 16h diárias e abuso de autoridade. Dois cadernos foram apreendidos no local, mostrando alguns dos salários recebidos pelos empregados: de R$ 274 a R$ 460, bem menos que o salário mínimo vigente no país. Apesar do clima de medo, um dos trabalhadores explorados confirmou que só conseguia sair do trabalho com a autorização do dono da oficina, concedida apenas em casos urgentes, como quando teve de levar seu filho às pressas ao médico. As cadeiras nas quais os trabalhadores passavam sentados por mais de 12 horas diárias eram completamente improvisadas. Alguns colocavam espumas para torná-las mais confortáveis. Para Giuliana, a superexploração dos empregados, que têm seus direitos laborais e previdenciários negados, é motivada essencialmente pelo aumento das margens de lucro. "Com 29 isso, há uma redução do preço dos produtos, caracterizando o dumping social, uma vantagem econômica indevida no contexto da competição no mercado, uma concorrência desleal". As vítimas libertadas pela fiscalização foram aliciadas na Bolívia e no Peru. Em busca de melhores condições de vida, estes trabalhadores deixam os seus países em busca do que hoje está se configurando como "sonho brasileiro"- a idealização de um país que prospera economicamente e que oferece muitas oportunidades de trabalho. Por triste ironia, a fiscalização detectou também que estes imigrantes, especialmente os de origem indígena, recebiam tratamento ainda pior do que o dispensado a trabalhadores brasileiros. "Observa-se com nitidez a atitude empresarial de discriminação. Todos os trabalhadores brasileiros encontrados trabalhando em qualquer um dos pontos da cadeia produtiva estavam devidamente registrados em CTPS [Carteira de Trabalho e Previdência Social], com jornadas de trabalho condizentes com a lei, e garantidos em seus direitos trabalhistas e previdenciários", destaca o relatório da fiscalização. "Por outro lado, os trabalhadores imigrantes indígenas encontravam-se em situação de trabalho deplorável e indigno, em absoluta informalidade, jornadas extenuantes e meio ambiente de trabalho degradante". FONTE: http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1925 Publicado em 16/08/2011 30 A SUCESSÃO NA EMPRESA SILVA E SILVA A Silva e Silva, empresa de porte médio do ramo de tecidos, funcionava, no começo dos anos 90, como se fosse uma extensão de seu proprietário-fundador, um líder benevolente e centralizador, considerado por todos como “grande comandante” da organização. Os funcionários da empresa, por sua vez, pareciam fazer parte de um “clube” de pessoas que “falavam a mesma língua” e pensavam de modo bastante semelhante, interagindo no dia-a-dia da empresa em pequenos círculos de relacionamentos íntimos, cujo nível de proximidade com o proprietário determinava o nível de influência sobre a organização. Estes círculos estruturavam-se basicamente por meio de relações de confiança e as pessoas tratavam-se de modo bastante personalizado. O filho mais velho do proprietário já trabalhava há alguns anos na empresa, ajudando a cuidar da área financeira, com o intuito de obter experiência sobre a organização e assumir o comando da empresa quando seu pai viesse a deixá-la. Entretanto, ao longo do anos 90, o ambiente de negócios da Silva e Silva passou por mudanças intensas. A empresa começou a sofrer a concorrência de uma fábrica estrangeira, muito habilidosa na inovação de produtos. Coincidindo com este período de turbulências, o líder fundador começou apresentar alguns problemas de saúde, o que antecipou o processo de sucessão na empresa. O filho mais novo do proprietário, que estudava em uma universidade do exterior, já havia alertado o pai de que novos processos tecnológicos no ramo de atividade da empresa começavam a surgir, aconselhando-o a buscar o apoio de profissionais de gestão qualificados no assunto. O fundador ficou bastante preocupado com a defasagem tecnológica de sua empresa e percebeu que seu filho mais velho, embora perfeitamente ambientado na empresa, não estava ainda preparado para este suporte. A alternativa encontrada foi a de buscar no mercado um gestor qualificado, que pudesse auxiliar na condução dos negócios da empresa dali em diante. O escolhido para a nova função foi um candidato que apresentava excelente formação educacional e uma boa experiência no setor produtivo de duas outras empresas. Ao longo de sua ambientação na Silva e Silva, o novo administrador não pôde deixar de observar certos padrões de funcionamento que lhe pareciam inadequados diante do desafio que a empresa tinha pela frente. Ele não conseguia entender como a organização podia funcionar como um aglomerado de pequenas células, sendo que nenhum delas parecia dar muita importância ao que os outras faziam. Em cada setor parecia haver uma pessoa com influência preponderante, 31 porém cada um agia como se estivesse em seu próprio território. Os responsáveis pelo controle de desempenho de certas funções eram muitas vezes difíceis de identificar, dada a inconsistência do organograma. Outro aspecto que pertubava era a ausência de um sistema claro de promoções, o que constantemente gerava atritos entre pessoas que disputavam cargos. Autorizado pelo proprietário a iniciar algumas mudanças na organização da empresa, o novo gestor reuniu os funcionários e explicou-lhes as medidas que deveriam ser tomadas pela empresa, em função das necessidades impostas pelo mercado. Na implementação do novos padrões de funcionamento da empresa, entretanto, ocorreram muitas resistências por parte dos funcionários, que faltavam aos cursos de treinamento, questionavam a enxurrada de protocolos que tinham que seguir para alcançar as novas metas de produção e encontravam inúmeras formas de burlar os sistemas de avaliação de desempenho implantados. Ao final de um ano, os resultados não foram muito favoráveis e, em uma conversa com o proprietário, o gestor sugeriu que a estrutura da empresa poderia ser “enxugada” com a demissão de alguns funcionários, produzindo um impacto positivo na redução de custos da organização. Esclareu ainda que, diante da negativa de colaboração dos funcionários, esta seria a medida correta a tomar. O proprietário conversou com alguns de seus funcionários e ouviu de um dos empregados com quem tinha maior proximidade, que o comentário geral das pessoas nos corredores era o de que ninguém havia entendido porque chamar alguém “de fora” da organização para tentar modificar o que sempre havia funcionado bem. E que muitos, quando souberam dos boatos das demissões que estariam por vir, comentaram que “tantos diplomas” do gestor contratado não haviam melhorado em nada a empresa. Para este funcionário, o único fator que lhe parecia ter mantido a empresa de pé durante o último ano era a expectativa de que o filho mais velho do proprietário assumisse logo o controle da empresa, para que as coisas pudessem, enfim, voltar ao normal. FONTE: SANTOS, Vania Martins dos. Sociologia da Administração. Rio de Janeiro: LTC, 2009.
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