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UFCSPA – Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre Disciplina de Fisiologia Curso de Medicina – Turma D Alunos: Marcelo Martins, Mariana Debastiani, Natascha Tortorelli e Tereza Ko Reveja todas as aulas e estude individualmente a matéria de Fisiologia Renal conforme a bibliografia para poder integrar os conhecimentos e, incluindo a descrição das propriedades que regem a permeabilidade seletiva da parede glomerular e o que modula as forças de Starling no glomérulo, detalhe o papel do rim: Detalhe o papel do rim, incluindo a descrição das propriedades que regem a permeabilidade seletiva da parede glomerular e o que modula as forças de Starling no glomérulo: 1) na homeostasia da água corporal (incluindo o mecanismo de contracorrente, o papel do túbulo coletor medular e da ureia, e o papel da hemodinâmica nos capilares peri- tubulares descendentes e ascendentes) relacionado com a diurese; A água, assim como os íons, é de grande importância para o correto funcionamento do corpo humano, havendo um fino controle de suas quantidades, para que seja mantida a homeostasia. Para tal, o corpo apresenta diversas maneiras de controlar as quantidades de solutos e solvente, de modo que estejam nas quantidades adequadas. Os rins se apresentam como a via primária para perda de água e excreção de muitos dos íons, atuando finamente no controle da quantidade deles, dado que, quando se encontram fora de uma faixa adequada, são responsáveis por um desbalanço da homeostase. Um raciocínio importante acerca da manutenção do volume de água corporal nasce da necessidade dessa quantidade se manter constante, independente das taxas de ingestão e de excreção. O ganho de água em situações normais é fruto da ingestão pela dieta, assim como da sua formação a partir do metabolismo. Já a perda, dá-se pelo suor, pela respiração, pelas fezes e, em maior quantidade, pela urina. Assim, o rim é o órgão que torna o balanço de entrada e saída de água equilibrado, regulando finamente o quanto será excretado, para que o volume ganho seja contrabalanceado pelo volume perdido. O processo de formação da urina tem início com a chegada do sangue, pela arteríola renal, no glomérulo. É nesse local que ocorre a filtração glomerular, um processo que carrega um certo nível de promiscuidade, ou seja, com uma baixa seletividade, levando aos túbulos renais um filtrado composto de água e solutos, cuja composição é igual à plasmática, à exceção das proteínas plasmáticas. Tal evento ocorre no corpúsculo renal, formado pelo glomérulo renal e pela cápsula de Bowman. O sangue que chega pela arteríola renal aferente terá parte de seu plasma filtrado antes que chegue ao lúmen tubular. Para que tal evento ocorra, o plasma passará por uma espécie de filtro composto por: o endotélio do capilar glomerular, a lâmina basal e o epitélio da cápsula de Bowman. Como primeira barreira, o endotélio contém diversas fenestras, grandes o suficiente para permitirem a passagem da maioria dos constituintes plasmáticos, mas pequena o suficiente para impedir a passagem das células sanguíneas. Ainda, as proteínas carregadas negativamente na superfície desses poros formam uma barreira que tem a função de repelir eletrostaticamente proteínas, carregadas positivamente. Os componentes que conseguirem cruzar essa barreira encontrarão a lâmina basal, constituída por glicoproteínas carregadas negativamente, colágeno e outras proteínas, o que fornece um novo obstáculo às proteínas plasmáticas. Por último, o epitélio da cápsula de Bowman, com os podócitos envolvendo os capilares glomerulares, formará as fendas de filtração, fechadas por uma membrana semiporosa. Esse fluxo de substâncias do plasma para os túbulos renais é, em última instância, promovido pela pressão arterial, que gera uma pressão hidrostática, uma das forças de Starling. Vale acrescentar que a força motriz resultante ainda conta com a pressão coloidosmótica - promovida pelas proteínas plasmáticas -, outra das forças de Starling, e a pressão hidrostática do fluido na cápsula de Bowman, que favorecem o movimento de fluxo em direção aos capilares. O balanço entre tais forças fornece um fator externo que resulta na taxa de filtração glomerular, a qual, ainda pode ser modulada internamente, como pela alteração do diâmetro das arteríolas aferentes e eferentes, a fim de que seja mantida uma relativa constância na taxa. Diariamente, o sistema renal filtra cerca de 180L para dentro do néfron, mas apenas excreta 1,5L desse total. Logo, a solução que é filtrada deve ter sua composição alterada de modo que apenas o necessário chegue ao ducto coletor como urina formada. Para tal, um dos processos de maior importância é a reabsorção, que retorna ao corpo mais de 99% de todo o filtrado, excretando apenas aquilo que não se faz necessário para a manutenção da homeostase corporal. A reabsorção ocorre, em sua grande parte, no túbulo contorcido proximal, com nutrientes, como glicose ou intermediários do ciclo do ácido cítrico, retornando à corrente sanguínea de maneira muito eficiente, assim como a água – que tem sua maior reabsorção nessa porção inicial do néfron – e íons. O sódio tem um papel de grande importância nesse processo, estando por trás da geração de uma força motriz que irá desencadear a reabsorção. O processo pode ser explicado didaticamente como tendo seu início com um transportador Na+/K+ - ATPase, presente na porção basolateral da célula epitelial tubular, que faz o bombeamento de sódio para o líquido intersticial, ocasionando uma diminuição da concentração do íon no meio intracelular, que se traduzirá em um transporte passivo de Na+, através de transportadores como o NHE (trocador Na+-H+) ou o ENaC (canal de Na+ epitelial), do lúmen tubular para o interior da célula tubular. Um outro desses transportadores é o SGLT (cotransportador Na+/Glicose), capaz de fornecer, através de um simporte com o Na+, um caminho para a reabsorção de glicose, que entrará no epitélio tubular e, então será encaminhado ao interstício por um GLUT. O transporte de Na+ cria um gradiente eletroquímico transepitelial, de modo que o interior do túbulo se torna mais negativo que o líquido extracelular, com isso, ânions, que são carregados negativamente, irão seguir o Na+ na tentativa de se atingir o equilíbrio, um movimento que leva à reabsorção de diversos solutos, caso o epitélio seja permeável a eles. A reabsorção de água, por sua vez, também se dará como consequência desse fluxo, visto que o meio extra tubular estará mais concentrado que o lúmen tubular, ocasionando a osmose. Com a diminuição de solvente luminal, o filtrado, que antes era muito próximo ao plasma, se tornará mais concentrado, visto que há uma menor quantidade de água para uma mesma quantidade de um dado soluto. A ureia é um dos solutos que tem sua reabsorção por esse mecanismo: a reabsorção de água torna o lúmen tubular mais concentrado para ureia do que o líquido intersticial, levando a ureia a ser reabsorvida. Como resultado do processo de reabsorção no túbulo contorcido proximal, tem-se um intenso fluxo de solutos, e consequentemente de água, que agora já teve 70% de seu volume reabsorvido. Assim, obtém-se uma solução luminal isosmótica em relação ao interstício, a qual parte, então, para a alça de Henle. Com relação à concentração de solutos, o córtex renal tem a mesma osmolalidade sanguínea, 300 mOsM. Até chegar na alça de Henle, o filtrado que acaba de sair do túbulo contorcido proximal apresenta esse mesmo valor. Todavia, esse valor da osmolalidade intersticial sofre alterações à medida que os néfrons penetram na medula, podendo atingir 1200 mOsM, como mostrado na Figura 1. Esse valor elevado de solutos no espaço intersticial tem, em parte, sua explicação nas propriedades da alça de Henle e dos vasos retos – a continuação da arteríola aferente, que se desmembrouem glomérulo renal e agora forma os vasos que possuem íntima relação com os túbulos renais. O filtrado que percorre a porção descendente da alça de Henle perde água para o interstício, um movimento que acompanha a crescente osmolalidade em direção à medula real, e, ao atingir a curvatura da alça, tem sua osmolalidade equivalente à da medula. Contudo, na porção ascendente da alça de Henle, há uma alteração de permeabilidade da parede tubular, visto que as células da porção espessa são impermeáveis à água. Assim, o que se tem é um ativo transporte de íons para fora do lúmen tubular (Na+, K+, Cl-), que não é seguido pelo transporte do solvente, formando um líquido tubular diluído, com uma osmolalidade que chega a 100 mOsM, além de produzir um interstício hiperosmótico na medula. Cabe ainda ressaltar que não são apenas íons como Na+ e Cl- que são responsáveis pela alta concentração de solutos no interstício medular, sendo a ureia o componente responsável por metade dos solutos nesse compartimento. Para que essa concentração seja atingida, há duas famílias de transportadores para ureia nos ductos coletores e na alça de Henle: uma família de carreadores por difusão facilitada e outra com transportadores ativos secundários acoplados ao Na+. Nesse contexto de reabsorção de água pelo ramo descendente, é de se imaginar que essa quantidade de água iria levar a uma progressiva diluição do conteúdo medular. Entretanto, devido ao sistema em contracorrente renal, essa lógica não é atendida, e a medula consegue manter seu gradiente de concentração – tão importante para o correto funcionamento do sistema renal. Esse sistema é um tanto simples, baseando-se na disposição anatômica próxima entre vasos retos e o túbulo renal e nas diferenças de osmolalidade entre o sangue presente no interior dos vasos e no interstício renal. Assumindo previamente que os capilares peritubulares possuam um conteúdo isosmótico ao córtex renal, cerca de 300 mOsM, quando eles penetram a medula – em íntimo contato com o ramo ascendente da alça de Henle –, há a perda de água progressiva para o interstício, devido à diferença de osmolalidade, mas também há a reabsorção de daqueles íons que foram exportados do túbulo renal para o interstício, de modo que, ao atingir o fundo da alça, o sangue nos vasos é isosmótico ao interstício medular. No caminho de volta ao córtex renal, os vasos retos, agora em contato com o ramo descendente da alça de Henle, têm uma alta concentração de solutos em seu interior, o que dá a eles a capacidade de reabsorver a água perdida pelo túbulo renal em seu trajeto em direção à medula. Como consequência desse sistema em contracorrente, os eletrólitos enviados ao interstício pela alça ascendente, assim como a água enviada pela alça descendente, voltam ao sistema circulatório. O líquido agora passará por uma regulação mais fina de sua composição, seguindo as necessidades fisiológicas do indivíduo, que serão traduzidas em hormônios, os quais alterarão os padrões de reabsorção e secreção renal. Como balanço geral, é possível, pois, entender que a urina excretada é o resultado do que é filtrado nos glomérulos, menos o que será reabsorvido ao longo dos túbulos, mais o que será adicionado ao lúmen tubular pelo processo de secreção. Como é possível perceber, os rins exercem um papel chave na manutenção da homeostase hídrica, sendo capazes de excretar maior ou menor quantidade de água através da urina, modificando, a partir da quantidade reabsorvida de água e Na+, sua concentração (osmolalidade). Figura 1. Mecanismo de contracorrente. (Silverthorn, 2017 - Adaptado) Dessa forma, em situações em que a eliminação do excesso de água se faz necessária, há a produção de quantidades significativas de urina diluída. Para que tal processo ocorra, o rim precisa reabsorver solutos sem, contudo, permitir a passagem de água. Como dito anteriormente, o córtex renal tem a mesma osmolalidade sanguínea, 300 mOsM, sendo a reabsorção no túbulo proximal isosmótica, o filtrado, até atingir a alça de Henle, mantém esse valor de osmolalidade. O valor da osmolalidade intersticial sofre alterações, à medida que os néfrons penetram na medula, podendo atingir 1200 mOsM. Dessa forma, o filtrado que percorre a porção descendente da alça de Henle perde água para o interstício e, ao atingir a curvatura da alça, tem sua osmolalidade equivalente à da medula. Todavia, na porção ascendente da alça de Henle, há uma alteração de permeabilidade da parede tubular, visto que as células da porção espessa são impermeáveis à água. Assim, essas células, ao transportarem íons para fora do lúmen tubular, não permitem o movimento de água, mantendo o líquido tubular diluído. O líquido que deixa a alça de Henle é hiposmótico, apresentando valores de osmolalidade de aproximadamente 100 mOsM (Figura 2). Em seguida, o líquido atinge o néfron distal, onde as células tubulares têm permeabilidade à água variável e sob controle hormonal. Ainda, é possível que haja a reabsorção de uma pequena quantidade de soluto durante a passagem pelo ducto coletor, diluindo ainda mais o líquido. Em contrapartida, em situações que exigem maior conservação de água por parte dos rins, a concentração da urina pode se elevar consideravelmente – até quatro vezes maior que a do sangue, devido a mecanismos especializados na medula renal. Tal feito só será possível a partir da reabsorção de água sem, no entanto, deixar passar solutos. Para que isso ocorra, as células do epitélio tubular do néfron distal, sob controle hormonal, inserem poros em suas membranas apicais, o que as confere permeabilidade à água, a qual, por osmose, sai do lúmen em direção ao interstício. Dessa forma, quando a permeabilidade é máxima, a remoção de água do túbulo é tão eficiente que a concentração da urina pode chegar a 1200 mOsM. Figura 2. Mudanças na osmolalidade durante a passagem do líquido pelo néfron. (Silverthorn, 2017) De maneira mais detalhada, nessa manutenção da homeostasia hídrica há o controle da reabsorção da água por meio da vasopressina, hormônio antidiurético (ADH). Esse processo envolve a adição e a remoção de poros de água (aquaporinas), na membrana apical sob estímulo do ADH. Quando a vasopressina atua nas células-alvo - epitélio do ducto coletor -, torna-o permeável à água, permitindo sua saída do lúmen tubular, uma vez que a osmolalidade das células tubulares e do líquido intersticial medular são maiores em comparação à do líquido tubular. Na ausência de ADH, por sua vez, o ducto coletor é impermeável à água. Entretanto, a permeabilidade não é um fenômeno tudo ou nada, e sim, dependente da quantidade de vasopressina presente. Um efeito gradual do hormônio permite que o corpo regule a concentração de urina de acordo com as necessidades, ou seja, quanto maiores os níveis de ADH, mais água é reabsorvida. Esse controle da permeabilidade do epitélio do ducto coletor se dá a partir da presença das aquaporinas 2 (AQP2), que podem ser encontradas em dois locais nas células do ducto coletor: na membrana apical e na membrana das vesículas de armazenamento, no citoplasma. A fim de que o controle seja efetivo, as células dos ductos coletores apresentam poucas aquaporinas em sua membrana apical e estocam seus AQP2 nas vesículas citoplasmáticas de armazenamento. Dessa forma, quando a vasopressina chega ao ducto coletor, ela se liga aos receptor V2 na membrana basolateral, o que ativa a proteína G e o sistema de 2º mensageiro do AMPc. A fosforilação das proteínas intracelulares faz com que as vesículas de AQP2 se movam para a membrana apical, fundindo-se e se inserindo nela, o que torna a célula permeável à água - processo denominado reciclagem da membrana (Figura 3). Figura 3. Ação da vasopressina no ducto coletor (Silverthorn, 2017) Para a liberação de vasopressina, são necessários estímulos como: a osmolalidade plasmática,o volume sanguíneo e a pressão arterial (Figura 4). Entre esses, o aumento da osmolalidade plasmática - estímulo mais potente - é monitorado por osmorreceptores - neurônios sensíveis ao estiramento, localizados no hipotálamo - que se retraem e disparam para estimular a liberação de vasopressina quando a osmolalidade está acima de 280 mOsM; quando abaixo, não disparam. A diminuição da PA e do volume sanguíneo, todavia, são menos poderosos para estimular a liberação de ADH. Nessas situações, os receptores atriais de estiramento detectam a redução do estiramento atrial devido ao baixo volume sanguíneo, enquanto os barorreceptores carotídeos e aórticos detectam a diminuição da PA. Dessa forma, quando a PA ou o volume sanguíneo diminuem, esses receptores sinalizam para o hipotálamo secretar vasopressina, a fim de conservar o líquido corporal. Além disso, sabe-se, hoje, que a secreção de ADH também apresenta um ritmo circadiano, com secreção aumentada durante a noite. Como resultado, menos urina é produzida durante a noite e a primeira urina excretada pela manhã é a mais concentrada. Figura 4. Controle da vasopressina (Silverthorn, 2017) 2) no metabolismo da glicose, incluindo seu mecanismo de transporte tubular, e o que ocorre com a insulina em sua passagem pelos rins. Uma vez que o sangue passa pelos capilares na cápsula de Bowman, as substâncias filtradas deixam de ser parte do meio interno corporal e estão destinadas a serem excretadas na urina, a não ser que sejam reabsorvidas. A maior parte da reabsorção renal total acontece no túbulo proximal, sendo que no néfron distal também há reabsorção, apesar de essa ser mais controlada de acordo com as necessidades fisiológicas do estado momentâneo do corpo. Em seu metabolismo, a glicose é reabsorvida nos rins de forma ativa, pois tem a concentração no lúmen do túbulo proximal igual à do plasma sanguíneo, logo, não forma um gradiente de concentração. Nesse sentido, muitos solutos são co-transportados pelo sódio. O transporte ativo do íon de sódio se dá do lúmen do túbulo proximal para o líquido extracelular (LEC), criando um gradiente elétrico no túbulo. A saída desse ânion do filtrado o deixa mais negativo e diluído, proporcionando aumento da concentração e carga do LEC. Como o filtrado está menos concentrado, é criado o gradiente de concentração, permitindo que íons façam a difusão para fora do lúmen caso haja permeabilidade. Os solutos podem utilizar a via paracelular de transporte, em que passam entre as células vizinhas, ou a via transcelular, passando pelas membranas apical e basolateral das células. O túbulo proximal reabsorve 67% de água e sais do ultrafiltrado glomerular, utilizando- se de energia derivada da bomba de sódio e potássio na membrana basolateral, e há pouca variação da concentração de sódio no túbulo. As porções iniciais do túbulo proximal têm maior área de membrana apical e maior número de mitocôndrias, assim, tem maior taxa de reabsorção de solutos. O transporte, entretanto, é mais rápido nas porções finais. Não são formados grandes gradientes de concentração de soluto entre o lúmen tubular e o sangue peritubular, pois as vias paracelulares são permeáveis. É na fase mais proximal que nutrientes essenciais, especialmente a glicose, e o bicarbonato são reabsorvidos. A segunda fase, mais distal, reabsorve NaCl, principalmente. Em condições ideais, um indivíduo adulto filtra e reabsorve 1,5 Kg de glicose diariamente, sendo a carga filtrada do açúcar até 40 vezes maior do que a utilização diária. A glicose filtrada é reabsorvida, principalmente, na porção inicial do túbulo proximal, mas se a sua reabsorção proximal é inibida com utilização de diuréticos, ácido maleico ou com a expansão de volume, os segmentos distais do néfron são capazes de efetuar a reabsorção. Há três mecanismos principais de transporte de sódio no segmento inicial do túbulo proximal, sendo eles o cotransporte com solutos, o cotransporte neutro de Na+/H+, e o cotransporte neutro com ânions orgânicos. A reabsorção de glicose acontece pelo primeiro mecanismo (cotransporte de sódio com solutos orgânicos), e a energia para esse transporte é advinda do gradiente de sódio entre o lúmen e a célula, criado pela bomba Na+/K+-ATPase. A glicose e os demais solutos orgânicos deixam a célula por difusão, pois ficam com concentração elevada, e vão para o sangue capilar peritubular, voltando a circulação sistêmica. A figura 5 demonstra o cotransporte de glicose com sódio na membrana apical, assim como a sua saída da célula para o interstício, por difusão. Figura 5: Cotransporte de substâncias entre o lúmen tubular e a célula, e entre a célula e o interstício. Atenta-se para a parte superior da imagem, que demonstra o cotransporte do íon sódio e glicose, assim como a bomba de sódio e potássio e a difusão da glicose. (Aires, 2018) No caso da glicose, há uso de transporte transcelular, sendo esse ativo e secundário, por meio de uma proteína de membrana que faz o simporte com sódio (cotransportador de Na+- glicose SGLT). É importante salientar que o transporte da glicose é independente de insulina no rim. No túbulo contorcido proximal, principalmente no terço inicial (segmento S1), tem-se o seguinte cenário: no filtrado e no LEC há alta concentração de Na+ e baixa de glicose, enquanto no líquido intracelular a concentração de Na+ é baixa e a de glicose, alta. O Na+ utiliza a proteína SGLT, na superfície apical, para levar a glicose para dentro da célula, contra o seu gradiente de concentração. No segmento S1, o transportador apical é o SGLT2, de alta capacidade e baixa afinidade, transportando em proporções iguais íons de sódio e moléculas de glicose. No segmento S3, o transportador é o SGLT1, de alta afinidade e baixa capacidade, transportando uma molécula de glicose para cada dois íons de sódio. A glicose se difunde para o interstício pela superfície basolateral utilizando a proteína GLUT2 no segmento S1 e GLUT3, no S3, sendo esses transportadores independentes do íon sódio. Para haver reabsorção de glicose é necessário que a concentração intracelular de Na+ permaneça baixa, de modo a manter o movimento passivo do íon do lúmen tubular para célula pela formação de gradiente eletroquímico. A proteína SGLT, por cotransporte, aumenta a concentração do íon sódio no interior da célula, pois usa o gradiente desse para fornecer a energia necessária para o transporte de glicose em um transporte ativo secundário. Logo, é necessário reestabelecer o gradiente de sódio, sendo função da Na+/K+-ATPase bombear o íon pela membrana basolateral da célula. A figura 6 resume o processo de reabsorção da glicose. Figura 6: Resumo da reabsorção de glicose no túbulo proximal. (Silverthorn, 2017) O balanço glomerulotubular, que tem como função a manutenção do volume de líquido extracelular, é a modificação do ritmo de filtração glomerular acompanhada da alteração proporcional de reabsorção tubular. Um dos fatores que impactam no balanço glomerulotubular é o aumento da concentração de glicose no filtrado, que aumenta a reabsorção de sódio pelo seu mecanismo de cotransporte e também pela reabsorção passiva de Na+ pela criação de gradientes. A maior reabsorção provoca aumento da filtração glomerular e, logo, aumento da carga filtrada de solutos e, pelo aumento das reabsorções totais, haverá o balanço glomerulotubular para sódio e água. A saturação é uma característica do néfron, pois ele usa proteínas de membrana, fazendo transporte mediado. A saturação é a taxa de transporte máximo, ocorrendo quando todos os transportadores de certa substância estão ocupados pelo substrato a ser carregado, sendo o limiar renal a concentração plasmática em que a saturação ocorre. Caso haja transportadores livres, a taxa de transporte dessa substância é proporcional a sua disponibilidade. A reabsorçãode glicose no néfron é muito relacionada ao conceito de saturação. Quando está em uma concentração normal no plasma, a glicose entra no néfron e é reabsorvida em sua totalidade no túbulo contorcido proximal, antes mesmo de chegar ao seu fim. O epitélio do túbulo é suprido com muitos transportadores SGLT para capturar a glicose quando essa passa através dele. Quando a concentração de glicose é excessiva no plasma, acima do limiar renal, os transportadores ficam todos ocupados, acontecendo o processo de saturação e a não reabsorção de parte da glicose. A faixa normal aproximada de concentração de glicose no plasma é de 100 a 200 mg/100 ml, sendo que a reabsorção dessa substância é diretamente proporcional a sua disponibilidade no plasma até a sua concentração atingir o limiar renal, em aproximadamente 300mg/100ml de glicose. A excreção de glicose é zero até atingir o limiar renal, sendo que o transporte máximo é atingido quando a taxa de reabsorção da glicose alcança 375mg/min. A excreção da glicose na urina é chamada de glicosúria, acontecendo em patologias em que a concentração de glicose no sangue é muito alta, como na diabetes melito, ou em alterações genéticas em que o néfron não produz transportadores suficientes, havendo glicosúria em concentrações normais de glicose. O aparecimento de glicose na urina é um fenômeno gradativo, havendo um desvio da linearidade em sua curva de titulação, como demonstrado na figura 7. Esse desvio deve-se a existência de néfrons com capacidade variável de reabsorção de glicose, havendo saturação em níveis mais baixos, o que causa o glicosúria antes mesmo de todos os transportadores de todos os néfrons serem saturados, como demonstrado na figura 8. Figura 7. Relação entre a filtração, reabsorção e excreção de glicose. (Silverthorn, 2017) Figura 8. Curva de titulação da glicose. (Aires, 2018) A reabsorção da glicose não conta com o uso de insulina, entretanto, o hormônio ainda efetua seu papel primordial nos rins de mesmo modo que o faria em outro tecido. A insulina é filtrada livremente e não tem carga elétrica, não sofre o efeito de Gibbs-Donnan, que é o equilíbrio de solutos que podem atravessar a membrana, logo, sua concentração no fluido dentro do túbulo é idêntica ao plasma, sendo a razão de fluido tubular (FT) e plasma (P) é igual a 1 no espaço de Bowman, não sendo ela reabsorvida nem secretada ao longo dos túbulos. Isso propicia que sua concentração vá aumentando no fluido tubular à medida que a água vai sendo reabsorvida nos segmentos tubulares. Se fizermos uma punção para verificar a concentração de fluido tubular, verificamos que a concentração de insulina aumenta quando mais longe da cápsula de Bowman a punção for feita. Podemos calcular a fração de água que é reabsorvida nos túbulos pela fórmula 1 − 1 𝐹𝑇 𝑃 de insulina. Assim, se na metade do túbulo proximal a razão 𝐹𝑇 𝑃 passa para 2, verificamos que 50% da água filtrada foi reabsorvida até o local da punção. Ainda, o rim pode degradar proteínas por reabsorção apical e digestão intracelular, em sua maioria, contudo, a insulina e outras proteínas bioativas como o ANP (peptídeo natriurético atrial) passam por um caminho alternativo. No túbulo proximal ela é parcialmente hidrolisada na membrana basolateral como forma de evitar maior ativação de seus receptores. Os fragmentos da hidrólise ainda caem na circulação peritubular posterior filtração glomerular e reabsorção tubular. Na figura 9, verificam-se os valores de concentração do fluido tubular e plasma de várias substâncias de acordo com sua posição no néfron. Figura 9. Valores de concentração do fluido tubular e plasma de várias substâncias de acordo com sua posição no néfron. Verifica-se que a glicose é absorvida em sua quase totalidade no túbulo contorcido proximal, representando-se o fato pela curva FT/P descendente. A insulina, como não é reabsorvida, tem sua curva ascendente, pois o líquido no lúmen tubular diminui de volume. 3) Papel do rim no equilíbrio ácido-básico incluindo os mecanismos de alcalinização e acidificação urinária. O equilíbrio ácido-básico é uma das funções essenciais do corpo, visto que uma pequena variação no pH pode levar a desnaturação de proteínas e impossibilitar, consequentemente, diversas funções vitais. Dessa forma - sabendo que o limite de pH compatível com a vida é de 6,8 a 8,0 - o organismo apresenta três sistemas primários que regulam a concentração de H+ nos líquidos corporais: (1) sistemas tampões químicos ácido- base dos líquidos corporais; (2) centro respiratório que regula a remoção de CO2; (3) rins que podem excretar urinas mais ácidas ou mais alcalinas, reajustando a concentração de H+. Entre esses sistemas de controle, apesar dos rins apresentarem uma resposta mais lenta, esses são, sem dúvida, os sistemas reguladores ácido-base mais potentes. Assim, sabe-se que, para a manutenção do pH corporal, o sistema renal faz uso de 3 mecanismos principais de acidificação da urina: (1) secreção de hidrogênio e reabsorção de bicarbonato, (2) eliminação de ácidos livres ou sais ácidos e (3) secreção de sais de amônia. Em virtude dessa capacidade do rim, o pH urinário varia fisiologicamente entre 5,5 a 7 e pode apresentar um pH mínimo de 4,5 e máximo de 8,5. Para que ocorra o processo de secreção de H+ e reabsorção de HCO3 -, é necessário, primeiramente, a geração desses íons, em que, a partir da reação em CO2 e H2O - catalisada pela enzima anidrase carbônica - o íon H+ é secretado. Por outro lado, com a hidratação de CO2, forma-se o H2CO3 que, instantaneamente, dissocia-se em H + e HCO3 -. Tal formação também pode acontecer através da dissociação intracelular da água em H+ e OH-, em que o H+ é secretado para o lúmen tubular e o OH- reage intracelularmente com o CO2, sob a ação da anidrase carbônica, originando HCO3 -. Em sequência, verifica-se a secreção tubular de H+, que se caracteriza por ocorrer em praticamente todas as partes dos túbulos, exceto nas porções finas ascendentes e descendentes da alça de Henle. Além disso, sabe-se que aproximadamente 80 a 90% de toda secreção de H+ (e reabsorção de HCO3 -) é nos túbulos contorcidos proximais (TCP). No entanto, ao analisar o pH intratubular no final do TCP, percebe-se que há um pequeno gradiente transepitelial de H+, comparado com o pH plasmático peritubular. Logo, nota-se que a secreção de H+ no TCP, apesar de ser de alta capacidade, é de baixo gradiente. Já, nas porções finais do néfron, o nível de secreção de H+ é menor, no entanto o pH intraluminal pode atingir a valor mínimo de 4,4 - caracterizando um sistema de baixa capacidade, mas de alto gradiente. Para a promoção da secreção celular de H+ pela membrana apical das células tubulares renais, são utilizados pelo menos 3 tipos de transportadores. O trocador Na+/H+ - mecanismo de transporte ativo secundário - responsável pela maior fração de secreção tubular renal de H+ e localizado, preferencialmente, nos túbulos proximais, no ramo ascendente grosso da alça de Henle e no túbulo distal convoluto. (Figura 10) Esse transportador ativo de H+ é acoplado ao transporte de Na+ para a célula, pela proteína trocadora sódio-hidrogênio, em que a energia da secreção de H+ contra seu gradiente de concentração é derivada da energia do gradiente de sódio dissipada durante o movimento de Na+ para a célula a favor do gradiente de concentração, estabelecido pela bomba de sódio e potássio ATPase na membrana basolateral. O HCO3 -, por sua vez, gerado na célula (quando H2CO3 é dissociado em H + e HCO3 -), move-se a favor do gradiente através da membrana basolateral para o líquido intersticial renal e para o sangue capilar peritubular. O resultado efetivo é a reabsorção de um íon HCO- para cada H+ secretado. Outro mecanismo de transporte é a H+ATPase do tipovacuolar - processo ativo primário - que se localiza, preferencialmente, nas células intercalares tipo α do túbulo coletor cortical e do ducto coletor da medula externa e interna. Nesse transportador, é estabelecido um elevado gradiente transepitelial de concentração de H+, uma vez que o H+ é transportado diretamente por proteínas específicas, as ATPases transportadoras de hidrogênio, e a energia necessária para bombear o íon deriva diretamente da degradação de ATP em ADP - característica de extrema importância para a possibilidade de formação de urinas muito ácidas. (Figura 9) Em comparação com o primeiro mecanismo, os dois se assemelham pelo fato de que para cada H+ secretado, um HCO3 - é reabsorvido; no entanto, diferem-se principalmente pela origem da energia que move o H+. Por último, existem também o H+/K+-ATPase - transportador ativo primário - presente no túbulo coletor inicial, túbulo coletor cortical e ducto coletor da medula externa, que agem de forma semelhante ao H+ ATPase. Figura 9. Mecanismo de transporte ativo primário de H+ (Berne e Levy, 2015) À medida que ocorre a secreção de H+, há também a reabsorção de HCO3 -. O íon bicarbonato não é permeável diretamente pelas membranas luminais, assim, precisa ser reabsorvido por processo especial no qual se combina primeiro com H+ para formar H2CO3 que dissocia-se em CO2 e H2O; o CO2 consegue se difundir pela membrana tubular, entrando na célula tubular, recombina-se com H2O, por ação da enzima anidrase carbônica, formando uma nova molécula de H2CO3 que se dissocia novamente em HCO3 - e H+; o HCO3 - se difunde através da membrana basolateral para o líquido intersticial e é captado pelos capilares peritubulares. Dessa forma, entende-se que a reabsorção de HCO3 - é indireta, uma vez que o HCO3 - que chega ao líquido intersticial não é o mesmo que foi filtrado nos túbulos. (Figura 10) Além disso, tal transporte é também facilitado através de dois principais mecanismos: (1) cotransporte Na+-HCO3 -, eletrogênico, transportando 1Na+ para 3 HCO3 - , que é localizado principalmente no túbulo proximal - onde ocorre cerca de 80% da reabsorção; e (2) trocador Cl--HCO3 -, presente nos últimos segmentos do túbulo proximal, no segmento ascendente espesso da alça de Henle e nos túbulos e ductos coletores. Figura 10. Reabsorção de bicarbonato na célula tubular proximal e transporte ativo secundário de H+ (Berne e Levy, 2015) Assim, a partir da secreção de H+ e da filtração de HCO3 -, os dois íons entram nos túbulos e se combinam para formar CO2 e H2O. Esse processo de titulação, entretanto, não é bem exato, visto que existe um pequeno excesso de H+ nos túbulos a ser excretado na urina, o que corresponde aos ácidos não voláteis eliminados. Para isso, existe o 2º mecanismo de manutenção do equilíbrio ácido-básico: a eliminação de ácidos livres ou sais ácidos, por meio de tampões urinários como fosfato, creatinina, amônia, urato e citrato. Entre esses, o sistema de tampão fosfato, composto por HPO4 2- e H2PO4 -, é um eficiente tampão tubular, uma vez que a água é reabsorvida em maior grau que o fosfato - tornando-o mais concentrado no líquido tubular -, e a pK do sistema tampão fosfato é mais próxima ao pH da urina sob condições normais. Os mecanismos de tamponamento do sistema se dão a partir da existência de excessos de H+ que não podem ser tamponados por HCO3 -. Logo, qualquer excesso de H+ pode se combinar com HPO4 2-, formando H2PO4 -, e ser excretado como um sal ácido, NaH2PO4. Além disso, sabe-se que a cada H+ secretado no lúmen tubular que se combina com um tampão não HCO3 -, um novo HCO3 - é adicionado ao sangue. (Figura 11) Figura 11. Tamponamento dos H+ secretados pelo fosfato filtrado (Guyton, 2017) Por fim, mas não menos relevante, há o mecanismo de secreção dos sais de amônia, responsáveis por 50% da excreção dos sais provenientes de metabolismos diários na forma de sal de amônio, principalmente cloreto de amônio (NH4Cl). Como forma de tampão, a amônia oferece várias vantagens, visto que é metabolicamente menos dispendiosa que o fosfato, que é retirado das reservas celulares ou ósseas às custas de um componente funcional ou estrutural, enquanto a amônia se constitui de nitrogênio que são excretados na forma do catabólico uréia; energeticamente menos dispendiosa, pois a síntese do seu precursor glutamina envolve apenas um ATP por molécula, além da utilização dela sem gasto de energia; e fisiologicamente mais vantajosa, já que a secreção de amônia é proporcional à secreção de H+, o que mantém a concentração luminal baixa e favorece a secreção de ácidos. Para melhor entendimento da ação do tampão amônia, composto por amônia (NH3) e íon amônio (NH4 +), deve-se saber que o NH4 + excretado pelos rins é produzido nas células renais - principalmente nos túbulos proximais - a partir de aminoácidos - especialmente glutamina. Esse aminoácido é liberado para os rins e transportado - via cotransporte com Na+, pelas células epiteliais dos túbulos proximais - do segmento ascendente espesso da alça de Henle e dos túbulos distais. Dentro da célula, cada molécula de glutamina é metabolizada, no interior da mitocôndria, formando NH3, H + e α-cetoglutarato. Parte da NH3 formada difunde- se para o lúmen, todavia a maior parte combina-se com H+, formando NH4 +, que é secretado para o lúmen tubular via trocador Na+/H+, em que o H+ é substituído pelo NH4 +. O α- cetoglutarato, por sua vez, é metabolizado a CO2, glicose e HCO3 -, o qual é reabsorvido pela membrana basolateral. Dessa forma, para cada íon H+ secretado na forma de NH4 +, um novo íon HCO3 - é transferido para o sangue. Além disso, percebe-se que a concentração de amônia no interior dos túbulos não é contínua ao longo do trajeto, já que uma porção significativa de NH3 e NH4 +, secretada pelos túbulos contorcidos proximais, é reabsorvida pela alça de Henle. No segmento ascendente espesso, a reabsorção ocorre não só por meio de transporte ativo secundário, substituído o K+ no cotransportador 1Na+/1K+/2Cl-, assim como pelo transporte passivo paracelular, em função da voltagem transepitelial do lúmen positiva nesse segmento. O NH4 + reabsorvido pelo segmento ascendente da alça de Henle acumula-se no interstício medular, gerando um gradiente corticomedular. Essa elevada concentração intersticial de NH3 e NH4 +, juntamente com o gradiente de pH nos ductos coletores, prevê a força motriz para a secreção de NH3 no lúmen do ducto coletor. Dois mecanismos para a secreção do NH4 + foram identificados. No primeiro, difusão não iônica, o NH3 se difunde do interstício medular para o lúmen do ducto coletor e é protonado em NH4 + pela acidez do fluido tubular. Como o ducto coletor é menos permeável ao NH4 + que ao NH3, o íon é retido no lúmen tubular e eliminado do corpo na urina. Já no segundo, o mecanismo envolve antiporters NH4 +-H+, localizados nas membranas basolateral e apical das células do ducto coletor. Sabe-se também, que uma das características importantes do sistema renal do NH4 +, é que a quantidade de amônia produzida pelo rim é influenciada por pelo menos 3 fatores: (1) pH do fluido intratubular, pela relação inversa entre o pH do fluido intratubular e a quantidade total de amônia; (2) equilíbrio ácido- básico sistêmico, pelo controle das enzimas responsáveis pelo metabolismo celular da glutamina no túbulo proximal e (3) concentração plasmática de K+. (Figura 12) Figura 12. Tampão amônia e mecanismos de transporte (Berne e Levy, 2015) Portanto, conclui-se que são a partir desses 3 principais mecanismos que o corpo faz a manutenção do seu equilíbrio ácido-básico. Todavia, deve-se lembrar também que existem fatores que podem afetar na secreção de H+ e na reabsorção de HCO3 -, como: (1) pH do sangue arterial, (2) volume circulatório efetivo, (3) carga filtrada de bicarbonato, (4) concentraçãoplasmática de K+, glicocorticóides, mineralocorticóides e angiotensina. Entre esses, há o pH do sangue arterial, em que na acidose, há elevação da disponibilidade intracelular de íons H+, aumentando não só a sua secreção para o lúmen tubular, assim como o pH sanguíneo pela adição do íon HCO3 - no plasma. Na alcalose, por outro lado, a excreção renal de H+ é diminuída. O mecanismo regulador, em sua realidade, é muito mais complexo que esse simples resumo, uma vez que quatro fundamentais distúrbios podem alterar o pH do sangue: as acidoses e alcaloses respiratórias, além das acidoses e alcaloses metabólicas. Tanto a acidose respiratória quanto a metabólica provocam uma diminuição na proporção de HCO3 -/H+ no líquido tubular renal. Na acidose respiratória, o excesso de H+ deve- se ao aumento da PCO2 no LEC, que estimula a secreção de H + e a resposta compensatória renal se dá pela elevação da secreção renal de H+, com consequente crescimento da produção de novo HCO3 - do plasma, via excreção renal de NH4 +. Essa secreção pode ser por 2 vias: (1) elevação aguda da Pco2 que estimula diretamente a célula proximal para secretar H + e (2) a estimulação do trocador Na+/H+ luminal e do cotransportador Na+-HCO3 - basolateral. Na acidose metabólica, por outro lado, também ocorre diminuição de pH e aumento da concentração de H+. Entretanto, nesse caso, a anormalidade primária é pela diminuição do HCO3 - plasmático e a compensação é dada pelo rim através do acréscimo de novo HCO3 - no LEC e pela hipoventilação. (Figura 13) As alcaloses, por sua vez, independentemente de ser causada por anormalidades metabólicas ou respiratórias, ocorrem por aumento da proporção de HCO3 -/H+, sendo o resultado final o excesso de HCO3 - que não pode ser reabsorvido pelos túbulos e, assim, são excretados na urina. Na alcalose respiratória, há aumento no pH do LEC e queda da concentração de H+ em função da diminuição da PCO2 plasmática provocada por hiperventilação. Essa redução de PCO2 gera queda da secreção de H + pelos túbulos renais, o que leva à insuficiência de íons H+, os quais reagiriam com o HCO3 - a ser secretado. Dessa forma, a resposta compensatória se dá pela maior excreção de HCO3 -, reduzindo a concentração plasmática de bicarbonato e corrigindo a alcalose. Diferentemente da respiratória, a alcalose metabólica ocorre com a diminuição da concentração de H+ e aumento do pH, pela elevação da concentração de HCO3 - no LEC. Assim, as compensações primárias são diminuição da ventilação, o que eleva a Pco2, e maior excreção renal de HCO3 -, que contribui para compensar o aumento inicial da concentração de HCO3 - no LEC. (Figura 13) Figura 13. Comparação dos distúrbios ácido-básicos. (Berne e Levy, 2015) Assim como o pH arterial pode afetar na reabsorção e secreção de HCO3 - e Na+, sabe- se que a quantidade do volume circulatório efetivo também pode afetar, uma vez que na sua queda, há a estimulação da reabsorção renal de Na+ por sistemas como renina-angiotensina ou inervação simpática. Tanto a angiotensina II quanto a aldosterona e a norepinefrina estimulam o trocador Na+/H+ no túbulo proximal. Dessa forma, como a reabsorção de Na+ está acoplada à secreção de H+, a contração do volume não só aumenta a reabsorção de Na+, mas também eleva a secreção de H+ (e secreção de HCO3 -). A longo prazo, a depleção de volume também eleva os níveis plasmáticos de aldosterona, a qual estimula a secreção de H+ nos túbulos proximais, coletores corticais e medulares. Assim, é sabido que a hipovolemia pode levar o indivíduo à alcalose de contração. Todavia, a regulação do volume circulatório efetivo tem precedência sobre a regulação do pH plasmático. Há também uma relação recíproca entre o nível de K+ no plasma e a secreção de H+. De modo geral, a hipopotassemia leva à alcalose e a hiperpotassemia à acidose. Na hipopotassemia, são estimulados o trocador Na+/H+apical e o contransportador Na+-HCO3 - basolateral, uma vez que durante a depleção de K+, o pH das células tubulares cai, resultando em uma acidose intracelular crônica. Essa depleção estimula a secreção de H+, síntese de NH3 e excreção de NH4 +, aumentando a eliminação renal de H+ e NH4 +. Já na hiperpotassemia, ocorre a queda da excreção de NH4 +, não só pela queda da síntese de NH4 +, mas também pela diminuição de seu acúmulo no interstício medular. A elevação da concentração de K+ no lúmen no ramo ascendente grosso da alça de Henle pode comprometer a reabsorção de NH4 +, visto que o K+ compete com o NH4 + no transportador Na+/K+/2Cl- e no canal de K+. A redução de NH4 + no interstício medular disponibiliza menos NH3 a fim de ser difundido para o interior do lúmen do ducto coletor medular, levando à queda da excreção de NH4 + e, assim, à acidose. Além disso, por fim, os efeitos dos diuréticos na secreção renal de H+ podem promover a excreção de urina alcalina ou ácida. Os diuréticos que promovem a excreção de urina alcalinam incluem os diuréticos inibidores da anidrase carbônica e os poupadores de K+. Dentre esses, os inibidores da anidrase carbônica têm o seu maior efeito no túbulo proximal, onde impedem a secreção tubular de H+, inibindo também a reabsorção tubular proximal de HCO3 -. Os poupadores de K+, por sua vez, inibem os canais luminais de Na+ do túbulo coletor, o que leva a hiperpolarização da membrana luminal, dificultando a secreção de H+ pela H+-ATPase eletrogênica. Já os diuréticos que promovem a excreção de urina ácida promovem a acidificação da urina através de 3 mecanismos: (1) contração de volume extracelular, elevando os níveis plasmáticos de ANG II e de aldosterona, com consequente crescimento da secreção de H+; (2) aumento do aporte de Na+ no túbulo coletor, o que promove a reabsorção eletrogênica de Na+ nesse segmento, com consequente elevação da negatividade luminal, que estimula a secreção eletrogênica de H+ pela H+-ATPase luminal; (3) estímulo da secreção passiva de K+ por canais luminais das porções finais do néfron, provocando a depleção de K+, que faz a secreção de H+ crescer. REFERÊNCIAS: - BERNE & LEVY : Fisiologia / editores Bruce M. Koeppen, Bruce A. Stanton ; [tradução Adriana Pitella Sudré...[et al.]. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2015. - GUYTON, A. C. Tratado de Fisiologia Médica, Elsevier, 13ed, 2017; - MELLO AIRES, M. Fisiologia, 5ed., Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 2018; - SILVERTHORN, D.U. Fisiologia Humana, 7º Ed. Artmed, Porto Alegre, 2017;
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