Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FARMACO1 Transmissão Adrenérgica As catecolaminas contêm um núcleo catecol (anel benzênico com dois grupos hidroxila adjacentes) e uma cadeia lateral amina. As catecolaminas mais importantes são: • Norepinefrina (noradrenalina), transmissor liberado pelas terminações nervosas simpáticas • Epinefrina (adrenalina), hormônio secretado pelas células cromafins na medula da suprarrenal • Dopamina, precursor metabólico da norepinefrina e epinefrina, e também transmissor/neuromodulador no sistema nervoso central (SNC) • Isoprenalina (isoproterenol), derivado sintético da norepinefrina e ferramenta farmacológica. SÍNTESE, ARMAZENAMENTO, LIBERAÇÃO E RECAPTAÇÃO DAS CATECOLAMINAS RECEPTORES ADRENÉRGICOS Os receptores adrenérgicos são os receptores de catecolaminas. Eles são classificados em dois subtipos α e β, definidos em termos da potência dos agonistas, como se segue: 75% da NE liberada pelos neurônios simpáticos são capturados e reempacotados dentro de vesículas. Esse processo serve para encurtar a ação da norepinefrina liberada, assim como para reciclá-la. Os 25% restantes são capturados por células não neuronais nas proximidades, limitando sua disseminação local. Esses dois mecanismos dependem de moléculas transportadoras distintas. A captura neuronal é realizada pelos transportadores de NE presentes na membrana plasmática (NET, transportador de norepinefrina). Tais transportadores atuam como cotransportadores de Na+, Cl− e a amina em questão. O empacotamento dentro de vesículas ocorre por intermédio do VMAT. A captura extraneuronal é realizada pelo transportador extraneuronal de monoaminas (EMT). O NET é relativamente seletivo para norepinefrina, com alta afinidade e velocidade máxima de captura pequena, e é importante na manutenção dos estoques liberáveis de norepinefrina. O EMT tem menor afinidade e maior capacidade de transporte que o NET, e transporta epinefrina e isoprenalina, bem como norepinefrina. α: norepinefrina > epinefrina > isoprenalina β: isoprenalina > epinefrina > norepinefrina Subtipos dos receptores adrenérgicos • dois principais subtipos de receptor α, α1 e α2, divididos cada um deles em três subtipos adicionais (α1A, α1B, α1D e α2A, α2B, α2C); • três subtipos de receptores β-adrenérgicos (β1, β2, β3); • todos pertencem à superfamília de receptores acoplados à proteína G. Todos os receptores adrenérgicos são do tipo acoplados à proteína G e cada um dos tipos tem uma preferência por uma classe de proteína G e os efeitos que se seguem decorrem da ação de segundos mensageiros e atividade de canais iônicos. A ligação de um agonista para o adrenorrecetor α1 ativa a proteína acoplada Gq, que leva à formação de IP3 e DAG e a um aumento no Ca2+ intracelular → ativa miosina quinase → contração. A ligação a um agonista para o adrenorrecetor α2 leva à dissociação da proteína G inibitória, inibe a adenilato- ciclase e diminuindo os niveis de AMPc. Os receptores α2 são encontrados tanto em neurônios pré-sinápticos quanto nas células pós-sinápticas. Os receptores α2 pré-sinápticos atuam como autorreceptores para mediar a inibição da transmissão simpática por retroalimentação. A ligação de um agonista para o adrenorreceptor β estimula a proteína acoplada Gs a ativar a adenilato-ciclase e a aumentar o AMPc. OBS: a natureza das diferenças de sinalização entre os subtipos de receptores β-adrenérgicos não está bem esclarecida, visto que todos parecem acoplar-se de modo eficiente à Gs. Por conseguinte, a seletividade farmacológica parece residir na distribuição tecidual específica de cada subtipo de receptor β-adrenérgico e, possivelmente, na ativação de vias de sinalização distais específicas de cada tecido. Os principais efeitos da ativação dos receptores são os seguintes: Receptores α1: vasoconstrição, relaxamento da musculatura lisa gastrintestinal, secreção salivar e glicogenólise hepática Receptores α2: inibição da liberação de transmissores (incluindo a liberação de norepinefrina e acetilcolina pelos nervos autônomos), causada pela abertura dos canais de K+ e inibição dos canais de Ca2+, agregação plaquetária, contração do músculo liso vascular, inibição da liberação de insulina Receptores β1: aumento da frequência e da força de contração cardíacas, hipertrofia cardíaca tardia Receptores β2: broncodilatação, vasodilatação, relaxamento da musculatura lisa visceral, glicogenólise hepática e tremores musculares Receptores β3: lipólise e termogênese; relaxamento do músculo detrusor da bexiga. DEGRADAÇÃO DE CATECOLAMINAS As catecolaminas endógenas e exógenas são metabolizadas principalmente por duas enzimas intracelulares: monoamina oxidase (MAO) e catecol-O-metil transferase (COMT). MAO: • liga-se à membrana externa de mitocôndrias; • apresenta duas isoformas distintas, MAO-A e MAO-B; • é abundante em terminações nervosas noradrenérgicas; • também é encontrada no fígado, epitélio intestinal e outros tecidos; • converte catecolaminas em aldeídos para a sua metabolização pela enzima aldeído desidrogenase; • MAO-A degrada preferencialmente serotonina, norepinefrina e dopamina; • MAO-B degrada dopamina mais rapidamente do que serotonina e norepinefrina. COMT: • está ausente nos neurônios noradrenérgicos; • é encontrada na medula suprarrenal e em outros tecidos; • realiza a metilação de um dos grupos hidroxila do catecol. Na periferia, nem MAO nem COMT são primariamente responsáveis pelo término da ação do transmissor, e a maior parte da norepinefrina liberada é rapidamente recaptada pelo NET. As catecolaminas circulantes são sequestradas e inativadas por uma combinação de NET, EMT e COMT, e a importância relativa de cada processo varia de acordo com o agente envolvido. Assim, a norepinefrina circulante é removida principalmente pelo NET, enquanto a epinefrina é mais dependente do EMT. Entretanto, a isoprenalina não é substrato para o NET, sendo removida por uma combinação de EMT e COMT. No SNC, a MAO é mais importante como mecanismo de término da ação do transmissor do que na periferia. EFEITOS FISIOLÓGICOS E FARMACOLÓGICOS DAS CATECOLAMINAS ENDÓGENAS As catecolaminas endógenas, epinefrina e norepinefrina, atuam como agonistas nos receptores α e β-adrenérgicos. Em concentrações suprafisiológicas, a dopamina também pode atuar como agonista nesses receptores α e β. Epinefrina – afinidade relativa: α1 = α2; β1 = β2 A epinefrina é um agonista nos receptores α e β-adrenérgicos. Em baixas concentrações, apresenta efeitos predominantemente b1 e b2, ao passo que, em concentrações mais altas, seus efeitos α1 tornam-se mais pronunciados. Vale ressaltar que a administração de epinefrina via oral é ineficaz devido a metabolização no fígado pela MAO e pela COMT (extenso metabolismo de primeira passagem). Usos clínicos: • choque anafilático: vasopressoras mais potente; • + Anestésicos locais: vasoconstrição prolonga efeito; • asma (emergência): relaxamento ML brônquico; • parada cardíaca: força de contração, DC, PA sistólica. Efeitos adversos: • hipertensão; • vasoconstrição; • taquicardia/arritmias; • tremor; • cefaléia pulsatil. Noraepinefrina – afinidade relativa: α1 = α2; β1 >> β2 A norepinefrina é um agonista nos receptores α1 e β1, porém exerce relativamente pouco efeito nos receptores β2. • ↑ PA, Resistência Periférica Total (RPT), por conta de muita ação em α1 e β1 • ↑ FC: efeito superado pela atividade vagal Usos clínicos: • choque cardiogênico/séptico; • ↑ ou mantém a PA em UTIs; • + anestésicos locais. Efeitos adversos: • hipertensão; • vasoconstrição; • taquicardia. Dopamina – afinidade relativa: D1 = D2 >> β >> α Em baixas doses atua nos receptores dopaminérgicos D1. Em doses maiores ativa os receptores b1 adrenérgicos e em dosesainda maiores atua sobre os a1 adrenérgicos. Efeitos adversos durante a infusão: • vômitos; • náuseas; • arritmias; • vasoconstrição periférica (↑ [DA]). Vale ressaltar que a administração de dopamina é ineficaz via oral (metabolizada) e que ela ocorre através da via intravenosa: bomba de infusão (lentamente). Isoprenalina (isoproterenol) – afinidade relativa: β1 = β2 > > >> α Sua falta de seletividade é uma de suas desvantagens e o motivo pelo qual raras vezes é usado terapeuticamente. Sua ação em receptores α é insignificante. O isoproterenol produz intensa estimulação cardíaca, aumentando a frequência, a contratilidade e o débito e é um potente Devido à ausência de ação β2 nestes, a administração sistêmica de norepinefrina aumenta não apenas a pressão arterial sistólica (efeito β1), como também a diastólica e a resistência periférica total. A norepinefrina é usada no tratamento farmacológico da hipotensão em pacientes com choque distributivo, mais frequentemente devido a sepse. • precursor metabólico da NE; • doses <2 µg/kg/min: D1 vasculares renais, mesentéricos e coronarianos = ↑ AMPc = vasodilatação; • doses 2-10 µg/kg/min: inotropismo positivo; • doses > 10 µg/kg/min: vasoconstrição. Usos clínicos: • insuficiência renal; • insuficiência cardíaca congestiva (ICC) grave; • choque cardiogênico/séptico. broncodilatador, mas seu uso foi substituido por b2 seletivos. Sua infusão é intravenosa, lenta e continua. Usos clínicos: hospitalar • ↑ força e frequência de contração, DC, PA (compensada com vasodilatação/β2 (↓ RPT); • emergências bradicárdicas; • pacientes com arritmia ventricular. Efeitos adversos: • taquicardia; • arritmias. Referências GOLAN, David E.; Princípios de Farmacologia - A Base Fisiopatológica da Farmacologia, 3ed. Capítulo 10 – Farmacologia Adrenérgica. LÜLLMANN, Heinz, et al. Farmacologia, 7ed. Capítulo 12 – Sistema nervoso simpático. RITTER, James M. et al. Rang & Dale Farmacologia, 9ed. Capítulo 15 – Transmissão Noradrenérgica. WHALEN, K.; FINKELL, R.; PANAVELIL, T. A. Farmacologia Ilustrada, 6ed. Capítulo 3 – O sistema nervoso autônomo.
Compartilhar